A Ética Sexual no Islam e no Mundo Ocidental

Por: Murteza Mutahhari

Introdução da Versão em Língua Espanhola

Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso.

No prólogo de uma antologia de literatura islâmica se afirma: “Quase todos os leitores que falam inglês já leram partes “Das Mil e Uma Noites” e de “Rubaiyat” de Omar Khayam” . Isto produz duas impressões: uma é que os mencionados livros “islâmicos” tem sido populares entre aqueles que lêem inglês, especialmente no ocidente; a outra é que estes livros foram lidos em parte e não em sua totalidade.

No prólogo mencionado adverte-se que falta uma parte, a qual corresponde ao obscuro compilador das histórias “Das Mil e Uma Noites” . Em outro exemplo, se pode comprovar a ignorância ou forma típica de conhecimento do Islam dos ocidentais; diz-se que a pessoa mencionada tem uma educação superior à média. No entanto, sua resposta a uma pergunta formulada na escola Arabian-American Oil Company de Long Island, Nova Iorque, foi mais que uma “conjectura feita em tom de brincadeira”: o último profeta e o mais venerado entre os muçulmanos foi “o homem que escreveu “As Mil e Uma Noites”!!”

Não há dúvida que qualquer preconceito maligno contra o Islam no mundo não-islâmico deveria ser superado. Este é um requisito prévio para um melhor entendimento do Islam e o que o mesmo significa. O amplo impacto mundial da Revolução Islâmica no Irã realça este processo, graças ao efetivo ímpeto espiritual do Imam Ruhollah al-Khomeini (que Deus o abençoe).

Nesta era espacial, qualquer dogmatismo anti-religioso como o dos cientistas do século XIX, incluindo Darwin , não somente é inapropriado, como também é intelectualmente indesejável. Inclusive, há físicos e cosmonautas que estão encontrando um novo interesse na religião. Hoje em dia os cérebros científicos estão reconhecendo suas deficiências intelectuais. Isto está implícito na observação de um professor ocidental: “… nossos intelectuais ou gente de talento estão sem capacidade para a tarefa de levar a cabo todos os processos abstratos de raciocínio sem a assistência da intuição”.

Com respeito às sociedades permissivas ocidentais, as suas estatísticas publicadas a respeito dos problemas sexuais são “auto-incriminatórias”. Um observador dos acontecimentos nos Estados Unidos e na Europa ocidental têm se fundamentado em evidências estatísticas para mostrar uma progressão quase geométrica da ilegitimidade e imoralidade sexual . Citamos um novelista sueco dizendo: “Estamos no caminho para uma sociedade nunca antes experimentada”. Não é estranho que um grupo de 140 médicos suecos tenha exigido normas sexuais mais firmes .

Dificilmente pode entender-se uma agravação da situação “onde muitas das antigas certezas estão desmoronando-se, dando lugar para uma multidão de opiniões”. Aparentemente, quem descreveu a situação começa compreendendo-a e, em seguida, se perde “na selva do sexo” .

No contexto mencionado se pode saber que a maneira islâmica de vida não somente assegura certezas, mas também evita qualquer discordância entre os esforços individuais e coletivos. Porque o Islam enfatiza a indispensabilidade de uma organização socioeconômica e política apropriada para a conquista do que se espera de um indivíduo muçulmano. A preocupação pelos demais é mais do que uma teoria no Islam. É uma parte de um modo integral de vida.

A constatação de que inclusive pensadores ocidentais como Bertrand Russel, que escreveu “Matrimônio e Moral”, não tinham conhecimentos sobre o Islam, é algo que atormentou o sábio islâmico Murteza Mutahhari neste livro. As convicções islâmicas do Allamah Mutahhari, plasmadas em seus numerosos livros escritos em persa, são altamente esclarecedoras e efetivas. Iluminaram as mentes da juventude islâmica, especialmente no campus da universidade de Teerã. Sua profunda sabedoria levou à seu assassinato e martírio pelas mãos daqueles de entendimento estreito e com conceitos estrangeiros mal assimilados, como os discutidos neste livro.

Com respeito à tradução, teve o cuidado de manter tanto na letra como no espírito o sentido e significado intrínseco do texto persa. Ao mesmo tempo tem sido assegurada a coerência e fácil leitura em espanhol por meio de uma apropriada adaptação e redação. Os Louvores pertencem a Deus.

O Editor
Buenos Aires, Outubro de 1987.

Capítulo I
O Islam e as Éticas Sexuais Tradicionais

Para os muçulmanos, a instituição do matrimônio, baseada nos mútuos interesses naturais e na cordialidade entre os cônjuges, representa uma manifestação sublime da Vontade e Desígnio divinos. Isto é claro no seguinte versículo do Alcorão:

“Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos.” (C.30 – V.21)

De acordo com a tradição islâmica o matrimônio é considerado algo essencial . O celibato, ao contrário, é visto como uma condição malévola, carregada de efeitos nocivos.

O enfoque islâmico com respeito ao matrimônio e a moral difere de outras tradições moralistas que encaram o tema de forma negativa. Surpreendentemente, certas tradições moralistas consideraram a sexualidade como algo basicamente perverso. Viam a relação sexual, inclusive com a própria esposa, como impura, maligna, indesejável, destrutiva e passível de atribuir culpa.

Mas surpreendentemente ainda é o ponto de vista enraizado e generalizado no ocidente, por meio do qual se acreditava comumente e tradicionalmente na superstição que associava uma conotação perversa a todas as coisas que tivessem relação com o sexo.

O conhecido filósofo ocidental Bertrand Russel tem assinalado vários exemplos a respeito. Em seu livro “Matrimônio e Moral” diz que:

“… existem elementos anti-sexuais que venceram completamente a seus contrários, mesmo tento o cristianismo e o budismo prevalecido num âmbito geral. Westermarck dá muitos exemplos do que ele chama de “a curiosa noção de que há algo impuro e pecaminoso no matrimônio e, em geral, nas relações sexuais”. Nas mais diversas regiões, completamente afastadas de toda influência a cristã ou budista, há ordens de sacerdotes e sacerdotisas consagrados ao celibato. Entre os judeus, a seita dos essênios considerava impura toda relação sexual. Esta idéia parece ter ganhado terreno na antiguidade, ainda nos círculos mais hostis ao cristianismo. O Império Romano tinha indubitavelmente uma tendência ao ascetismo. Entre os gregos e romanos cultos, o epicurismo quase se extinguiu e foi substituído pelo estoicismo. Os neoplatônicos eram quase tão ascéticos como os cristãos. A doutrina de que a matéria é impura estendeu-se pelo ocidente desde a Pérsia. A doutrina da Igreja representa uma forma não extrema deste mesmo ponto de vista.”

As atitudes sexuais negativas continuaram afetando as massas do povo crédulo de uma maneira adversa e horrível através dos séculos, se manifestando como uma repugnância ao sexo. A alta incidência de desordens psicossomáticas e padecimentos espirituais são, por alguns psicanalistas, unicamente atribuídas a uma estendida prevalência de uma sexualidade negativa e profundamente enraizada.

Quais poderão ter sido os fatores que causaram a concepção equivocada com relação à sexualidade? Quais poderiam ser as razões pelas quais os homens negariam a satisfação natural e o bem-estar psicossomático associado ao saudável desejo sexual? Por que a pessoa deveria conduzir sua vida de tal maneira que virtualmente condena uma parte essencial dela? Estas são algumas das complexas questões para as quais o pensamento dos seres humanos deverá prover respostas convincentes e de sentido. No entanto, sabemos que podem haver inúmeras causas e razões para a aversão à sexualidade humana.

Aparentemente, as razões incluem compreensões preconceituosas sobre o desejo e as relações sexuais. O preconceito foi levado ao extremo entre os cristãos, na organização de suas igrejas e entre os clérigos. O celibato de Jesus os inspirou a considerar que o estado marital para os santos e pregadores fosse visto como desonra ou contaminação de sua pureza ou piedade.

Como conseqüência, os Papas passaram a ser eleitos dentre os sacerdotes solteiros. Em realidade, todos os membros do clero católico estão confinados a permanecer “virtuosos” sob seu juramento de celibato.

Disse Bertand Russell: “Duas ou três belas descrições desta instituição podem encontrar-se na imensa massa dos escritores patrísticos, porém, em geral, seria difícil conceber algo mais grosseiro e repulsivo do que a maneira com que a encaram. Os ascetas queriam atrair os homens a uma vida de virgindade, e, conseqüentemente, tratavam do matrimônio como um estado inferior. (…) “Cortar com o machado da virgindade a selva do matrimônio”, era, na linguagem enérgica de São Jerônimo , o fim do santo”.

A igreja aprova o matrimônio para o objetivo da procriação humana. A necessidade da propagação da espécie humana não é interpretada como algo adequado para afastar o estigma da impureza de qualquer ato sexual. Outra razão para permitir o matrimônio é que elimina a fornicação entre homens e mulheres. Novamente, para citar a Bertrand Russell: “O cristianismo, e particularmente São Paulo , introduziram uma idéia do matrimônio inteiramente nova: este existe, em primeiro lugar, não para procriar, mas sim para prevenir o pecado da fornicação”.

A igreja católica considera o matrimônio sacrossanto e perpétuo, isto é, ele dura até a morte. Em conseqüência, a dissolução do matrimônio, ou o divórcio, não é permitido. A proibição da anulação do matrimônio, ou divórcio, possivelmente tem uma relação com o desejo de reparar o pecado original , que resultou na expulsão de Adão e Eva sem estarem casados.

As atitudes irracionais para com as mulheres prevaleceram entre alguns dos povos antigos. Incluíam a idéia de que as mulheres não eram seres humanos completos e sua situação como criatura podia achar-se entre algum estágio entre o animal e o humano. A mulher estava desprovida de um espírito claro, de modo que, nunca ganharia o céu! Outras superstições similares eram bem comuns na Antigüidade.

Por sorte, as crenças mencionadas não foram levadas a todo o mundo, não foram universalizadas. Não se abusou dessas limitações da mulher no passado. Todo impacto das maneiras tradicionais de pensamento não iam além do cultivo de um sentimento de orgulho do homem por ser tal, e um sentimento de inferioridade entre as mulheres.

Aparentemente, a crença na perversidade inerente ao desejo e à relação sexual pôs frente aos homens e mulheres absoluta e parelha angústia em termos espirituais. De todas as maneiras, causou mais um conflito desmoralizador entre os impulsos naturais e a crença religiosa.

O padecimento espiritual e a infelicidade surgida dos conflitos mencionados incluem a falta de harmonia entre os genuínos desejos naturais e a aversão socialmente induzida contra sua concretização. O problema assumiu proporções extraordinárias, até o ponto de se tornar matéria de intensas investigações de psicólogos e psicanalistas.

No contexto mencionado, pode ser de interesse a lógica revolucionária do Islam. O Islam não dá o mínimo indício de que o desejo sexual é maligno em si ou que necessariamente está carregado de más conseqüências. Pelo contrário, o esforço islâmico nesse sentido se dirige a regular a sexualidade humana da maneira mais benigna possível.

Na perspectiva do Islam, as relações sexuais estão limitadas pelos genuínos interesses da presente sociedade, ou da posteridade. Nesse sentido, o enfoque islâmico segue uma orientação bem conhecida, não conduzindo nem a um sentido de privação ou frustração sexual, nem a um desejo sexual reprimido ou inibido. É uma pena que estudiosos como Bertrand Russel, que avaliaram as morais cristã e budista tenham-se privado de comentar a ética islâmica.

Em seu livro “Matrimônio e Moral” ele menciona sobre o Islam:

“Os grandes condutores religiosos, com exceção de Mohammad e Confúcio, se podemos chamar-lhe religioso, têm sido em geral muito indiferentes a considerações sociais e políticas, e ao invés disso priorizaram por buscar aperfeiçoar a alma através da meditação, da disciplina e da autonegação”.

Não obstante, é certo que de acordo com o ponto de vista islâmico o desejo sexual não só é compatível com a intelectualidade ou espiritualidade humana, mas também é evidenciado como parte da natureza e do temperamento dos profetas. De acordo com uma tradição (hadith), o carinho e o afeto para com as mulheres eram características da conduta e moral dos profetas.

Há várias tradições e narrações que indicam a consideração dos profetas para com as mulheres. De acordo com algumas delas, o Profeta do Islam (S.A.A.S.) e os Imames piedosos (A.S.) demonstravam explicitamente seu carinho e consideração por suas mulheres e as mulheres de seu povo. Ao mesmo tempo, desaprovavam duramente qualquer inclinação para o celibato e o estado monástico.

Um dos Companheiros do Profeta (S.A.A.S.), Uzman ibn Mad’un, se consagrava à adoração de Deus de tal maneira que praticamente jejuava todos os dias, e passava as noites em vigília. Sua mulher expôs esta questão ao Profeta (S.A.A.S.), que reagiu com visível aborrecimento e se dirigiu a onde estava o seu companheiro. Ao chegar lhe disse: “Uzman! Saiba que Deus não me enviou para que promova a vida monástica. Minhas leis (shariah) são meios para intensificar e facilitar aos humanos a realização de suas vidas. Pessoalmente, eu ofereço minhas orações, jejum e mantenho minhas relações conjugais. Consequentemente, seguir-me no Islam significa cumprir os costumes estabelecidos por mim, os quais incluem o fato de que os homens e mulheres devem casar-se e viver juntos em harmonia.”

A posição islâmica, como se explica acima, deixa claro que a sexualidade em si não representa uma perversidade inata nem significa que leve invariavelmente a más conseqüências. Além disso, deixa claro que essa perversidade tem sido tradicionalmente atribuída à sexualidade humana no processo de desenvolvimento da moralidade religiosa no mundo ocidental. Entretanto, hoje em dia o mundo ocidental deu um giro de 180 graus no que tange as suas tradições morais extremistas.

Atualmente o mundo ocidental crê no respeito da liberdade sexual e no seu desenvolvimento através da abdicação das restrições da moral tradicional. De fato, muitos ocidentais favorecem agora a licenciosidade e a permissividade sexual. Afirmam que qualquer moral que tenham herdado não contém nada mais que conotações religiosas. Asseguram que a moral de hoje em dia não se baseia somente em razões filosóficas, mas em razões científicas, também.

Infelizmente, a sexualidade tradicional negativa que recentemente foi desenvolvida no ocidente tem penetrado também na estrutura moral de nossa sociedade (Islâmica). Isto aconteceu quando se conseguiu superar as antigas dificuldades da comunicação internacional. Agora, com os aperfeiçoados meios de comunicação e os contatos internacionais regulares, as especulações ocidentais modernas estão inundando a nossa sociedade, como será explicado na continuação desta obra.

Capítulo II
Como os Pensadores Modernos concebem a Ética Sexual

A conduta sexual constitui uma parte integral do comportamento ético aplicável aos seres humanos. Na ética sexual estão incluídas algumas das distintas normas sociais, hábitos pessoais e modelos de comportamento que estão associados diretamente aos instintos sexuais. Especificamos alguns aspectos da ética e prática sexuais:

Recato feminino; sentido varonil de honra com relação aos membros femininos do lar; fidelidade da mulher a seu marido; inclinação da mulher a cobrir suas partes pudicas ou aversão a expor sua nudez em público; proibição do adultério; proibição de toda intimidade visual ou física do homem com outras mulheres que não sejam a(s) sua(s); proibição do incesto ou casamento entre pessoas com estreito parentesco; abstenção da relação sexual no período menstrual da mulher; proibição da pornografia ou obscenidades; tratar o celibato como uma atitude excessivamente pia ou indesejável.

O instinto sexual é realmente extraordinário por sua própria natureza, assim como poderoso em sua manifestação. Conseqüentemente, a conduta sexual é a de maior importância entre todas as éticas.

Em seu livro intitulado “Nossa Herança Oriental”, Will Durant destacou o fato de que se casar foi sempre considerado um dos deveres morais mais importantes para os seres humanos. Disse, além disso, que a natural capacidade humana para a procriação (e o instinto que a acompanha) envolvia dificuldades não somente no momento do matrimônio, senão também antes e depois do mesmo.

As dificuldades poderiam ver-se agravadas pela intensidade e veemência do instinto sexual, assim como por sua aversão às travas morais e legais (que limitam sua ação). Além disto, poderia inclusive chegar a desviar o instinto de seu curso natural. Tudo isso, e outras coisas, como o menciona Will Durant, assinalam uma grande confusão e desordens significativas, sempre e quando uma sociedade não possa prover as necessárias e efetivas salvaguardas.

Qualquer discussão científica ou filosófica sobre as condutas sexuais necessita em primeiro lugar considerar sua origem e evolução. Por exemplo, é necessário saber como se chegou à salvaguarda da castidade e o recato da mulher. O fato de que o homem tradicionalmente protegeu a sua mulher como parte de seu próprio sentido de honra deve ter sido por razões que podem ser identificadas e especificadas.

A atitude de possessão e proteção da mulher por parte do homem pode não ser necessariamente atribuível a um ciúme inato do mesmo. Pois o ciúme humano tem sido universalmente considerado uma emoção negativa. Existe uma exceção quanto ao ciúme para a salvaguarda da relação marido-mulher? E se é assim, por quê? Se existissem outras razões para que o homem proteja a honra de sua mulher ou mulheres, como são explicadas?

Da mesma forma, os desejos e as normas sociais que favorecem que a mulher cubra ou vista seu corpo, que freiam a promiscuidade sexual, que sustentam a proibição do casamento entre pessoas com estreitos laços de parentesco, assim como outros constrangimentos legais ou morais, necessitam ser explicados. Sua análise pode ser em termos de se eles estão ou não enraizados na natureza humana, psicologicamente e fisiologicamente falando.

Logo, se pode questionar também se as morais sexuais estão vinculadas ou não aos requerimentos naturais da vida comunitária. Ou fazem parte das tendências inatas, sentimentos e preocupações por uma apropriada sobrevivência no processo natural? Ou há alguma possibilidade de que causas históricas, distintas às naturais, tenham afetado e influenciado gradualmente a consciência e comportamento humano?

Se a origem da moralidade humana tem estado totalmente enraizada na natureza é difícil explicar como não somente os homens primitivos, mas também as isoladas tribos primitivas de hoje em dia, que vivem à maneira de seus ancestrais, eram e são realmente distintas aos povos civilizados.

A origem e a razão de ser da moral sexual podem ser diversas. Assim como as condições históricas da evolução social, com referência à ética sexual humana em particular. No entanto, a questão relevante para nós, agora, é se as morais tradicionais são válidas ou não para se alcançar o progresso humano nas condições modernas.

De forma específica, devemos perguntar-nos se conservamos ou não as tradições éticas sexuais ou as substituímos instituindo uma nova moral.

Will Durant não traça as origens da moral sexual humana na mãe natureza. Atribui a evolução moral a razões que surgem da experiência histórica, algumas das quais, ocasionalmente, infelizes ou cruéis. Ele é favorável à manutenção da essência das morais tradicionais, no entanto permite uma continuada evolução das formas, com o objetivo de selecionar a melhor através da prática.

Referindo-se à moralidade da virgindade, recato e modéstia das mulheres, Will Durant observa que os valores e costumes tradicionais evidenciam um processo natural de seleção, envolvendo acertos e erros através dos séculos. Segundo ele, a virgindade e o recato são qualidades relativamente vinculadas às condições do matrimônio e atribuíveis inclusive a uma situação do passado que requeria a compra ou a comercialização de mulheres.

Will Durant reconhece que a moral e a solicitação social de recato e castidade da mulher são de uma importância básica para qualquer sociedade, mesmo que essas qualidades possam às vezes dar lugar a desordens nervosas e psicossomáticas. De qualquer maneira, as relevantes regularizações sociais são essenciais para promover uma harmoniosa continuidade nas relações sexuais, no contexto do matrimônio e da vida familiar.

Freud e seus seguidores possuíam um ponto de vista diferente sobre a moral sexual. Buscavam prescindir da moral sexual tradicional ou substituí-la por algo totalmente novo. Na opinião de Freud e seus seguidores, a moral estava baseada em limitações e proibições ligadas à sexualidade humana. Eles asseguravam que as limitações e proibições causavam muitas aflições e davam lugar a perturbações emocionais, incluindo temores inconscientes e obsessões.

Basicamente, argumentos similares foram apresentados por Bertrand Russel. Este defende, à sua maneira, a posição de que nada deveria ser considerado tabu. Sua visão acerca do matrimônio e das morais é independente de qualquer tipo de consideração moral, tais como a castidade, a retidão, o recato, qualquer sentido de honra do homem com respeito à mulher (ele sugere que se trata, apenas, de ciúmes) e outras questões similares.

Tal proposta de liberação da sexualidade humana do constrangimento moral tradicional é equivalente a assegurar que nada indecoroso, mal ou desgraçado possa provir disto. A impressão que se passa é a de não se apoiar em outra coisa além do intelecto humano e sua racionalização. A proposta não reconhece nenhum outro constrangimento sobre o sexo mais que o que poderia existir numa limitação natural para ingerir alimentos.

Além disso, Bertrand Russel tentou responder a pergunta sobre se tinha ou não que dar algum conselho àqueles que queriam seguir um caminho correto e sensato em matéria de sexo. Sua resposta era que, depois de tudo, se deveria analisar a questão da moral sexual da mesma maneira analítica como no caso de qualquer outro problema. Se, como resultado de uma análise adequada, descobria-se que os demais não seriam prejudicados devido à determinada conduta sexual, não haveria razões para condenar nenhuma racionalização e prática individual do caso.

Bertrand Russel respondeu negativamente a uma segunda questão: a se, de acordo com sua visão, qualquer violação da castidade feminina poderia ser vista como uma exceção à sua afirmação de que ações que não causam nenhum dano ou prejuízo a outros não deveriam ser condenadas. Ele explicou que a perda da virgindade podia ser um ato consentido por ambos os indivíduos. No entanto, se era interpretado como um ato de violação da castidade de uma mulher virgem deveria haver evidências disto antes que tal ato pudesse ser condenado como violação.

Por agora não podemos entrar em um exame detalhado sobre se qualidades humanas como o recato e a castidade sexual, estão enraizadas ou não na mãe natureza, pois a questão é de uma extensão muito ampla. Dificilmente se pode dar uma resposta completamente científica. Entretanto, qualquer coisa que tenha sido indicada a respeito, não pode ser nem suposta nem aproximada. Porque se entende que aqueles que baseiam suas opiniões em meras suposições carecem, freqüentemente, de consenso.

Por exemplo, inclinações sexuais, como o recato, são vistas de uma maneira distinta por Freud, Will Durant e Bertrand Russell. A natureza e o conteúdo de suas diferenças não necessitam ser detalhados aqui. É suficiente mencionar que tais escritores baseiam seus pontos de vista na suposição de que certas qualidades humanas, como o recato feminino, não são inatas, e de modo algum, específicas da natureza humana. Sendo assim, seu entendimento das características humanas mostra o que parece ser uma aversão a buscar uma justificativa correta ou um enfoque aguçado.

De qualquer maneira, na verdade podemos fazer duas suposições com respeito aos hábitos e inclinações sexuais. Em primeiro lugar podemos supor que as qualidades do comportamento sexual não têm relação com a natureza do ser humano. Em segundo lugar, podemos supor que os “hábitos” se inculcam como parte da prática e normas de outros seres humanos, sob um tipo de contrato social, desenhado para harmonizar os interesses sociais e individuais, assim como para assegurar a paz e o bem-estar da humanidade.

Agora perguntemo-nos se a lógica e o raciocínio exigem ou não valores intrínsecos para assegurar uma completa harmonia psicológica e maximizar o bem-estar humano e a paz. Além disso, podemos perguntar-nos se a eliminação de todos os constrangimentos e limites morais e sociais nos conduzirá ou não à conquista da completa harmonia psicossomática dos indivíduos e ao engrandecer do bem-estar social.

Então, devemos reconhecer que a lógica e o raciocínio julgam aconselhável a oposição a todos os costumes e hábitos supersticiosos, os quais implicitamente tratam a sexualidade humana como perniciosa e impura. Ao mesmo tempo, consideramos necessário conter a promoção da liberdade sexual desenfreada, que leva à excessos, transgressões e aflições.

Os seguidores da nova liberdade sexual baseiam seus argumentos em três premissas:

(1) A liberdade dever ser assegurada a todos os indivíduos, enquanto não interferir na liberdade dos outros.

(2) Todos os desejos e propensões sexuais inatas deveriam ser promovidos livremente, e levados a cabo sem inibição ou constrangimento algum, dado que sua proibição ou frustração leva à desordens psíquicas.

(3) Qualquer desejo natural decai quando é cumprido, porém retorna com insistência e excesso quando é submetido a uma restrição moral negativa ou a uma proibição mal concebida.

Os liberacionistas sexuais argumentam que a instabilidade emocional surge da discriminação entre os desejos e instintos naturais, de modo que somente parte destes são satisfeitos enquanto os outros continuam frustrados. Assim, eles dizem que a igual elevação e desenvolvimento de todas as inclinações humanas se fazem necessárias para o bem-estar pessoal e social.

Além disso, sugerem que para evitar constante preocupação com o sexo o único meio é abandonar todas as restrições e proibições sociais. Asseguram que a liberação do processo natural do cumprimento sexual também evitará prejuízos, tais como a malícia e vingança características de uma situação que envolve restrições morais.

Tais argumentos constituem a base sobre a qual se propõe a nova moralidade. Se Deus permitir, seremos capazes de esclarecer que estes argumentos são insustentáveis, através de uma investigação adequada e através da avaliação das três premissas básicas mencionadas antes.

Capítulo III
A Nova Liberdade Sexual Proposta

No capítulo anterior, uma análise crítica dos princípios básicos da nova liberdade sexual proposta foi assinalada. Neste capítulo nos concentraremos no exame dos traços relevantes da nova liberação sexual proposta, especialmente em seu conteúdo de reformas em relação à moral convencional. Isto nos conduzirá a uma análise detalhada, o que não seria apropriada ser feito de outra maneira.

Temos que reconhecer que existem pessoas que já estão convencidas do conteúdo reformista da nova proposta de conduta sexual. Ao mesmo tempo, vale a pena (e inclusive é necessário) que os problemas sociais, incluindo os da moralidade sexual, sejam discutidos a partir de ângulos distintos, pois a questão da ética sexual tem recebido a atenção de conhecidos pensadores de nossa época. Sobre tudo, é notável que o novo enfoque proposto à sexualidade humana tenha sido aceito rapidamente pelos jovens, sem evidência de qualquer ceticismo. Os pontos de vista de personalidades conhecidas do nosso mundo moderno aparentemente são considerados praticamente infalíveis.

Em nossa opinião, é necessário que os estimados leitores estejam conscientes das implicações da assimilação, (ainda mais por não serem questões rudimentares) das novas idéias do ocidente, incluindo qualificações ingênuas tais como “liberdade” e “igualdade”, por parte de nossa juventude. Isto se dá porque nós devemos saber para onde dirigimos nossos pensamentos, com que propósito e para que fim. Se acreditarmos que qualquer coisa que pensarmos e fizermos é correta sem verificá-las, isto necessariamente capacitará ao gênero humano continuar progredindo?

Outro ponto: a penetração cultural e intelectual do ocidente em nossa sociedade (islâmica), não representaria uma estratégia propagandista mal intencionada que se a deixarmos se estender dirigirá o gênero humano à autodestruição?

As perguntas estabelecidas aqui são para serem discutidas de uma maneira breve. Uma discussão mais elaborada das mesmas se encontrará em meu livro “Os Direitos da Mulher no Islam”.

Com respeito à reforma moderna das condutas sexuais tradicionais, os reformadores teóricos asseguram que os próprios fundamentos destas condutas já não existem, ou que estão em processo de extinção. Dado que as razões, os fatores causadores e as condições originais mudaram ou estão mudando, dizem que já não temos nenhuma justificativa para continuar praticando a velha moralidade, cuja gravidade já foi evidenciada.

Por outra parte, assinalam que, além das condições que mudaram ou estão mudando, no passado histórico houve fatos que se relacionaram a velha moralidade através de formas cruéis e ignorantes. Estas pessoas crêem que as experiências passadas são contraditórias em relação aos conceitos de liberdade, justiça e dignidade humana. Assim, por consideração à justiça e ao humanismo, apelam a que nos oponhamos a todas as restrições morais a respeito do sexo.

Os oponentes às condutas sexuais tradicionais dizem que os velhos conceitos dão lugar à aparição de:

(1) Sentido machista de possessão da mulher.

(2) Ciúmes do homem.

(3) Preocupação do homem em estabelecer a paternidade do filho.

(4) Ascetismo e vida monástica baseados no pecado e no mal que as relações sexuais carregam consigo.

(5) Sentido feminino de impureza surgido da menstruação.

(6) Abstinência de relações sexuais com a mulher no período menstrual.

(7) Severos castigos às mulheres por parte dos homens, como os registra a história.

(8) Manutenção de uma dependência econômica das mulheres em relação aos homens.

Asseguram que o expressado é atribuível à moral sexual convencional, indicativa da crueldade e superstição dos indivíduos e das restrições sociais aplicadas sob condições primitivas. Buscam substituir os velhos valores pela moderna permissividade, e assinalam que as esposas modernas não serão tratadas como utensílios ou objetos.

No mesmo sentido, proclamam que os anticoncepcionais eliminam a necessidade de assegurar a paternidade dos filhos da mesma maneira como estava expresso na antiga prescrição moral da castidade feminina.

Os sustentadores da nova liberdade sexual proposta afirmam, além disso, que as antigas ordens monásticas e ascéticas e suas crenças estão morrendo. Dizem que o conhecimento e os meios sanitários de higiene pessoal liberaram a mulher de abrigar qualquer sentido de impureza quanto ao período menstrual. Estão convencidos de que os dias em que o homem se comportava opressiva e cruelmente, se foram para sempre.

Concluem que escravizar, maltratar a mulher e fazê-la dependente dos homens são agora coisas do passado e que ela está recuperando a liberdade sócio-econômica. Além disso, os governos modernos estão encarregando-se das responsabilidades sócio-econômicas dos esposos e pais, incluindo tanto o cuidado da mãe como dos filhos. Por outro lado, o ciúme humano está em declive com a expansão das novas atitudes sexuais e normas de comportamento. Conseqüentemente, sugerem que não deveríamos mais aderir aos antigos sistemas morais.

A mencionada crítica da antiga moral é oferecida pelos liberalistas sexuais como base de suas novas condutas propostas. Evidentemente, isto deve ser esperado daqueles que se opõem às condutas convencionais.

Examinemos agora o conteúdo das reformas propostas pelas novas condutas. Reconhecemos em princípio o fato de que o intento de abrir mão das restrições morais tradicionais referentes à sexualidade humana constitui o eixo ao redor do qual giram as novas condutas propostas. Em conseqüência, a primeira coisa em que eles provavelmente se fixarão é o que consideram necessário para assegurar a liberdade da ação individual no que diz respeito à sexualidade de cada um, ou a alcançar as condições do amor sexual livre.

Em busca da liberdade sexual afirmam o irrestrito gozo, não somente das experiências pré-maritais, como das pós-maritais. Assinalam que, através dos meios mais seguros e menos custosos de anticoncepção, o gozo sexual pode diversificar-se sem que envolva nenhum risco de gravidez, questionamento de legitimidade ou outro risco qualquer. Assim, asseguram que o esposo ou a esposa podem dedicar-se com segurança a seus assuntos amorosos sem necessidade de minar ou destruir o matrimônio. Isto implica que não somente se pode evitar a gravidez ilegítima senão que também pode se escolher quando ter um filho legítimo, sem preocupar-se com assuntos amorosos extra matrimoniais.

Obviamente, se quisermos assegurar a paternidade do filho qualquer tipo de “comunismo” sexual é indesejável, assim como, impraticável. Mesmo aqueles que propõem a nova liberdade sexual buscam reter a legitimidade do filho ou salvaguardar a paternidade como algo que não deve ser eliminado. Depois de tudo, a relação consangüínea de um pai com seu filho e a obrigação filial e afinidade do último com o primeiro, são sempre reconhecíveis. Esta é a filosofia que respalda a seleção de uma esposa em particular e o compromisso marital de voluntariamente confinar as relações sexuais à mesma. Em realidade, a moral convencional não enfatiza outra coisa, ou algo maior, que a necessidade de que o casal tenha relações sexuais somente entre ambos.

As novas condutas propostas por Bertrand Russell dizem:

“Os contraceptivos fizeram que a paternidade deixasse de ser o resultado automático da relação sexual e se convertesse em algo voluntário. Em capítulos anteriores vimos como, por diversos motivos econômicos, parece provável que no futuro o pai tenha menos importância do que antes no que se refere à educação e mantimento dos filhos. Não haverá, por tanto, razões para que uma mulher eleja como pai de seu filho um homem que ela prefira como amante ou companheiro. É possível que no futuro chegue a ser muito fácil para as mulheres selecionar os pais de seus filhos de acordo com considerações eugênicas. Aos homens, também lhes resultará ser mais fácil selecionar mães para seus filhos ao desejarem ser pais. Os que sustentam, como eu, que o comportamento sexual concerne à comunidade só enquanto está relacionado à filhos, devem inferir desta premissa uma conclusão dupla a respeito da moral do futuro. Por um lado, que o amor sem filhos deve ser livre, porém, por outro lado, que a procriação dos filhos deverá estar regularizada por considerações morais muito mais cuidadosamente que na atualidade.”

Mais adiante Bertrand Russell desenvolve o seguinte:

“Quando a ciência for capaz de pronunciar-se nesta questão com maior segurança que agora, é possível que, a partir do ponto de vista eugênico, o sentido moral da comunidade chegue a ser mais exigente. Pode ocorrer que os homens com melhores genes sejam muito procurados como pais, enquanto que os outros, mesmo que sejam aceitos como amantes, se vejam rejeitados quando aspirarem à paternidade”.

Algumas vezes, as expressões e propostas de Bertrand Russell também evidenciam um ângulo moral. Por exemplo, ele crê que a moral tradicional tem sido desenhada para lidar com as perturbações das emoções humanas mais fortes e potentes, como é os ciúmes, que ele aconselha tanto a homens como a mulheres a superá-lo. De fato, disse o seguinte:

“De acordo com o sistema moral que proponho, somente é correto que o casal valorize a mútua fidelidade. No entanto, recomendo que vençam os ciúmes. Uma maneira moderada de vida não é possível sem autocontrole. Logo, é melhor disciplinar potencialmente forte perturbação do ciúme, e não permitir que isto evite o crescimento dos sentimentos de carinho e afeto. Qualquer defeito da moral convencional não é atribuível ao autocontrole, mas à maneira de exercê-lo”.

Em outras palavras, Russell recomenda o mesmo controle prescrito pelos antigos moralistas. No entanto, ele encara o autocontrole não em termos convencionais para assegurar o auto-respeito e a retidão, mas como um meio para a superação do ciúme. E sustenta que os antigos procuravam limitar a sexualidade humana indevidamente.

A moral convencional estipulada pela honra pessoal, assim como a reivindicação do recato individual e auto-respeito são considerados obsoletos. Parece que Russel gostaria ver maridos menos ciumentos em relação à intimidade de suas esposas com outros homens, e que, inclusive, até mesmo fossem mais agradecidos à permissividade social que admite relações extra-matrimoniais com terceiros.

Ao mesmo tempo, Russell advoga que as crianças somente deveriam nascer de parceiros casados. Ele pretenderia assegurar isto através de diversos meios contraceptivos para qualquer relação sexual pré ou pós-marital. Portanto recomendava que:

“Tampouco é impossível que os ciúmes dos maridos, por uma nova convenção, se adapte à nova situação e surja somente quando as mulheres resolvam eleger outro homem como pai de seus filhos. No oriente, os homens sempre toleraram aos eunucos e suas liberdades, o que seria um insulto para a maioria dos maridos europeus. Eram toleravam porque não levantavam dúvidas com respeito à paternidade. O mesmo tipo de tolerância poderia estender-se facilmente à liberdades conquistadas com o uso de contraceptivos.”

O expressado tipifica uma reforma da ética sexual existente, o que, com todas as probabilidades, envolve um processo sem fim. Sem dúvida, também significará mudanças radicais em outras normas éticas, incluindo a salvaguarda do recato feminino, o incesto, a pornografia, a homossexualidade, o aborto, as relações sexuais durante a menstruação e outras questões similares. Algumas destas normas, como a proteção do recato feminino e a proibição da pornografia, são às vezes defendidas. Outras questões, como a homossexualidade, têm sido tratadas ocasionalmente como algo exterior ao campo da ética sexual, de uma maneira clínica, de modo que razões médicas, e não necessariamente as restrições morais, podem prevenir qualquer comportamento desviado.

A ética sexual moderna descrita requer ser examinada totalmente antes de qualquer aceitação apressada. No presente contexto apenas seus elementos básicos serão discutidos e avaliados. Então, a filosofia subjacente da moral islâmica será explicada, uma filosofia que é distinta das tradições do ocidente como também da moral moderna. Isto destacará a posição do Islam:

“A única escola de pensamento capaz de guiar a humanidade através dos efeitos insanos e das conseqüências inconvenientes e indecorosas das especulações ocidentais concernentes à dinâmica da filosofia da vida humana e a evolução sociológica, é o Islam. Já é hora das sociedades ocidentalizadas, com todas suas vantagens cientificas e industriais, comprovarem sua necessidade de voltar-se para o oriente e assimilar uma filosofia saudável, como em realidade já fizeram em épocas passadas”.

Capítulo IV
Exame Crítico das Bases Teóricas da Nova Liberdade Sexual Proposta

Nos capítulos anteriores discutimos os traços característicos da nova moral sexual proposta. Agora tentaremos avaliar seus princípios básicos, que em resumo seriam:

(1) A liberdade pessoal de cada um deveria ser respeitada e protegida invariavelmente na medida em que não interferisse na dos outros. Em outras palavras, a liberdade pessoal não fica limitada por nenhuma outra consideração fora a liberdade dos demais indivíduos.

(2) O bem-estar humano jaz na realização de suas aptidões e desejos inatos. Se se interfere nessas inclinações naturais, isto conduzirá a distúrbios na personalidade, que, em particular, surgem da frustração sexual. E caso não sejam satisfeitos, os instintos e desejos naturais estão confinados a se torcer ou se desencaminhar.

(3) As limitações e restrições dos instintos naturais e dos desejos dos seres humanos tendem a intensificar as ânsias e a inflamar as paixões. Sua realização sem inibições provoca satisfação, capacitando a pessoa a superar qualquer preocupação excessiva por um impulso natural, como o sexual.

Os três princípios assinalados dizem respeito, respectivamente, à filosofia, à educação e à psicologia. São representados como a justificação daquilo que os novos moralistas consideram o caminho correto, ou seja, descartando as convenções morais, restrições e limitações a fim de assegurar a liberdade individual e promover, e não frustrar, a gratificação sexual.

Em primeiro lugar, examinemos os princípios mencionados com base nos pontos de vista dos defensores do novo sistema moral proposto. Pois parece que nenhum deles identificou completamente os princípios que subjazem suas contribuições à nova moral proposta.

O princípio da liberdade individual é realmente algo básico para a compreensão sociológica dos direitos humanos. No entanto, aqueles que buscam promover os novos conceitos de moral, evidentemente – e erroneamente – assumem que a liberdade sexual individualizada não tem implicação social alguma. Isto devido a sua óbvia presunção de que quando os indivíduos são livres para se dedicarem às suas necessidades sexuais deve esperar-se que observem privacidade em seus atos para não afetar, adversamente, os direitos de outras pessoas.

Ao mesmo tempo, eles recomendam a proteção dos interesses da sociedade, até o ponto de assegurar a paternidade e o cuidado dos filhos. De acordo com sua nova proposta, uma mulher somente deve cuidar dos filhos de seu marido. No entanto, é livre para seguir seus impulsos sexuais, usando contraceptivos, que não somente impedem que fique grávida, como lhe possibilitam ignorar as restrições morais de castidade e fidelidade vigentes, se o desejar.

No contexto em questão, duas implicações referentes à liberdade individual requerem um exame detalhado. A primeira consiste na afirmação moderna de que a liberdade pessoal não pode ser limitada, exceto pela de outros indivíduos e a necessidade de respeitá-la. A segunda se refere à afirmação de que as relações sexuais requerem a segurança ou certeza de que a paternidade e afinidade filial de um possível filho não envolvam nenhuma relação ulterior com a sociedade, a vida pública e as prerrogativas sociais.

Consideremos aqui a filosofia implicada a respeito da liberdade individual. A questão essencial no manejo da liberdade individual e seu direito a protegê-la, é sua necessidade qualitativa de gradualmente se desenvolver de uma maneira harmoniosa e respeitável, rumo à faculdades mais elevadas. Mas é notável, porém, que não se encontre a devida ênfase sobre a necessidade mencionada nas distintas interpretações ou aplicações do conceito de liberdade pessoal por parte dos ocidentais. De qualquer maneira, a liberdade individual não deveria conduzir à permissividade sexual, servindo como meio de permitir a atuação de um rufião impulsivo guiado por desejos egocêntricos. Pois, qualquer má interpretação da liberdade pessoal não pode ser encorajada ou respeitada por aqueles que podem (ou deveriam) compreender suas horríveis conseqüências.

O fato que a liberdade pessoal de todos os indivíduos, nascidos livres e com desejos e vontades inatas, deveria ser cultivada ou fomentada, à medida que os mesmos respeitem os direitos dos demais, pode induzir ao erro. Pois, além da necessidade de evitar qualquer exposição a conflitos interpessoais, é necessário, para qualquer sociedade, compreender que quanto mais elevados os interesses de uma pessoa, esta deveria limitar conscientemente sua liberdade individual. Toda negligência em relação aos requerimentos morais mencionados pode agravar ainda mais o dano já feito ao próprio conceito de moral e os erros cometidos com respeito ao entendimento da liberdade pessoal.

Uma vez foi perguntado a Bertrand Russell se ele se considerava confinado ou não a um sistema moral em particular. Ele respondeu afirmativamente e explicou dando um exemplo hipotético de como a moral individual pode ser vista no contexto social. A cena que mencionou foi mais ou menos a seguinte:

“Suponhamos que o senhor X quer fazer algo que lhe resulte proveitoso, porém, prejudicial aos seus vizinhos. Ele leva a cabo sua intenção, prejudicando aos seus vizinhos. Estes decidem entre eles: ‘Não podemos fazer nada que ele não possa vir a tirar vantagem’. Uma situação como esta é bem sugestiva de implicações criminais…”

Bertrand Russell enfatizou o juízo intelectual e o raciocínio no caso citado. Então, assinalou que a moral significa a necessidade de harmonizar os aspectos pessoais e públicos da conduta do indivíduo.

De um ponto de vista prático, o caso de nova moralidade citado dificilmente sugere qualquer utopia platônica. A interpretação da moral por parte de Russell não evidencia a precedência de nenhum valor inexorável da vida sobre as coisas intrinsecamente ou potencialmente perniciosas. Suas sugestões não têm vestígios de nada que faça os seres humanos submeterem-se, eles mesmos e seus interesses materiais, a considerações intelectuais ou espirituais superiores.

Pelo contrário, códigos morais e condutas indicativas de um sentido compreensível e importante são denominados por ele como “tabus”. A única coisa que ele considera sagrada e inviolável é levar a cabo as inclinações e desejos pessoais sem inibição. A única restrição aprovada por ele é o fato que toda manifestação de livre vontade pessoal seja compatível com as das demais pessoas. Inclusive, deixa sem resposta que faculdade ou poder deveria ser crucial para manter a liberdade pessoal dentro dos limites da razão, da prudência e da decência, harmonizando-a com a dos demais. De todo modo, a hipótese de Russell é proveitosa para tentar uma possível resposta à questão dos limites da liberdade pessoal entre os distintos seres humanos. Por conseguinte, podemos fazer a seguinte adaptação:

“Os vizinhos do senhor X podem restringir ou por fim ao prejuízo de seus interesses, enquanto servem aos dele, concomitantemente. O senhor X se convence de que seus vizinhos, em seus próprios interesses, concordarão em se anteciparem ao que ele possa fazer. Conseqüentemente, se convence, frente à realidade de sua impotência de fazer algo sem que isto seja coordenado com os interesses de seus vizinhos”.

Isto é ilustrativo da esterilidade da filosofia moral de Bertrand Russell, baseada na estipulação de que um indivíduo pode (ou deveria) servir a seus próprios interesses, e ao mesmo tempo, salvaguardar os direitos e interesses públicos gerais. Isto se dá pois devemos considerar o fato que nenhuma das normas de conduta coletiva ou individual podem ser idênticas.

Certas afirmações hipotéticas são a base da nova moralidade proposta por Russell; em primeiro lugar, ele dá a atender que em uma sociedade os indivíduos e os grupos podem sempre empregar suas melhores faculdades sob a nova moral proposta; em segundo lugar, assume que a unidade de grupo e interpessoal e o consenso estão sempre dispostos a enfrentar as transgressões individuais. Logo, ele tem como garantido que um indivíduo, que está sozinho e fraco, pode, no entanto, a qualquer momento decidir a iniciar uma ação contra algo que é de interesse da maioria.

De todo modo, as faculdades coletivas e individuais de pensamento e ação podem variar. As pessoas afetadas negativamente por uma transgressão individual raras vezes estão preparadas para obter a unanimidade e a unidade. Além disso, uma pessoa nem sempre se decide a atuar contra algum interesse da maioria, especialmente sem que confie em sua própria força.

A ética proposta por Bertrand Russell pode ser bastante convincente para que seja recomendada aos membros fracos da sociedade. Porque o fraco já pode estar acovardado pela força absoluta dos mais firmes e influentes, cujas leis deve obrigatoriamente respeitar. No entanto, quando se intenta evitar qualquer transgressão do forte e poderoso contra o fraco, a ética proposta provavelmente fracassará e não surtirá efeito. Porque os fortes podem se unir para afogar qualquer protesto ou esmagar qualquer sinal de resistência que apareça entre os fracos. E o que é pior, o forte sempre pode dizer que a filosofia de seu comportamento não está contra a nova ética recomendada! Na prática real, inclusive, pode considerar desnecessário harmonizar seus interesses com os dos demais.

Conseqüentemente, a filosofia moral de Russell pode ser interpretada como um dos meios mais efetivos de perpetuar o conceito ditatorial “a força é o direito”. Não resta dúvida de que Bertrand Russell dedicou sua vida à defesa da liberdade, enquanto defendia, também, o direito dos fracos. Não obstante, ironicamente, sua filosofia moral serviu para consolidar os interesses e as tendências ditatoriais na sociedade. Este tipo de contradição é às vezes visível na filosofia ocidental, o que dá a entender que o que é dito é diferente do que se pratica.

Uma segunda implicação corresponde ao matrimônio e à vida familiar, dado que seus aspectos públicos (ou social) e íntimos devem ser determinados. Sem dúvida, a felicidade individual e o gozo mútuo são procurados pelas pessoas que vão se casar. Surgem então duas questões com respeito ao que serve melhor para intensificar o interesse do casal para conquistar e manter uma vida feliz no matrimônio. Em primeiro lugar, se pode perguntar se algum prazer da vida é melhor conquistado dentro da intimidade da vida familiar ou não. Por outro lado, deveria toda pretensão de felicidade sexual estender-se além da vida familiar privada, como a lugares de reuniões públicas, incluindo o lugar de trabalho, lugares de reuniões sociais, áreas de entretenimento no centro de uma cidade, etc., fora da família, onde a pessoa normalmente procura complementar prazeres sensuais?

O Islam recomenda que o prazer mútuo do casal deva estar confinado à vida familiar privada, para que ambos permaneçam inteiramente orientados um ao outro. O Islam determina que qualquer pretensão de gozo sexual em público deve ser evitada. Por conseguinte, qualquer satisfação substituta advinda de uma sociedade sexualmente permissiva, incluindo o exibicionismo de mulheres em público, não está permitida no Islam.

As sociedades ocidentais, que parecem fascinar a alguns de nós de uma maneira mais ou menos cega, evidentemente favorecem a proposição alternativa na segunda questão mencionada. Elas têm mudado o foco, do sexo da vida familiar privada para uma satisfação substituta em público. Elas, porém, pagaram bastante caro por este lapso moral. Alguns de seus pensadores expressam uma preocupação sobre a deterioração da moral individual e social em um ambiente sexualmente obsessivo. Ficam, também, aturdidos ao ver como algumas sociedades comunistas tem tirado a questão sexual da arena pública com êxito, salvando a juventude neste processo .

Os gozos da vida mundana não podem ser igualados à vida luxuriosa ou sensual.

A felicidade individual não está em maximizar os prazeres do sexo, da alimentação e do dormir. Por outro lado, alguém pode supor que a propensão humana ao prazer sexual, e o sofrimento oriundo de sua não satisfação, pode ser tão instintivamente limitada quanto a dos animais. No entanto, esta afirmação pode ser errônea, dado que a busca humana de satisfação psicológica é suscetível de ser levada além do matrimônio e da vida familiar, à sociedade em geral.

Contudo, as pessoas de sexos opostos cujas almas, ao invés de seus corpos, atraíram-se uma à outra, podem ser realmente sinceras em seu afeto mútuo, depois que concordem em se converterem em marido e mulher. Sua felicidade marital pode estender-se além da juventude passional, para o cultivo do companheirismo, inclusive até a idade avançada.

Da mesma forma, é concebível que um homem acostumado à mais íntima e satisfatória relação com sua legítima e fiel esposa, venha a opor-se ao prazer físico animalesco, como o obtido com uma prostituta. Consequentemente, uma pessoa não deveria afastar-se, o mínimo que seja, do que é mais desejável e saudável rumo ao que é sensualmente agradável e transitório.

De forma clara, é essencial que as atividades que envolvem a sexualidade humana se limitem ao casal legalmente casado e à intimidade de sua vida familiar. É por isso que é necessário salvaguardar a integridade funcional e a mútua compatibilidade da família e seu meio social.

O matrimônio e a vida familiar são aspectos funcionais muito importantes de uma sociedade. Ele são os aspectos institucionais que beneficiam a posteridade. A criação dos filhos em família determina a qualidade das futuras gerações. Neste contexto, as mútuas capacidades individuais do marido e da mulher para a criação apropriada dos filhos é um fator crucial. Da mesma forma, um pai preocupado com o nascimento de seu filho é mais propenso a conduzir-se positivamente em relação à sua educação.

A afinidade humana, tanto no contexto individual como social, se desenvolve de melhor forma em uma atmosfera familiar harmoniosa. O espírito exuberante e o temperamento natural do filho são substancialmente condicionados e educados pelos pais.

Quando apelamos ao bom senso e ao interesse comum de duas pessoas, invocamos sua afinidade com a comunidade à que pertencem ou à possibilidade de considerarem-se uns aos outros como irmãos. Quanto a isto, podemos inclusive enfatizar a fraternidade do gênero humano. A mútua devoção e fidelidade dos crentes piedosos (muminin) são comparadas no Alcorão com a sincera estima que os irmãos têm entre si. Diz o Alcorão:

“Sabe que os fiéis são irmãos uns dos outros; reconciliai, pois, os vossos irmãos, e temei a Deus, para vos mostrar misericórdia”. (C.49 – V.10)

A fraternidade entre os seres humanos não é simplesmente uma afinidade racial ou sanguínea. Quando falamos de fraternidade queremos dar a entender que a afinidade de dois irmãos sanguíneos pode ser também refletida entre os indivíduos de uma sociedade. Se a irmandade e afeto que podem estar imbuídas numa família se eliminam, é duvidoso que as pessoas possam exibir uma consideração genuína entre si em uma sociedade.

Dizem que na Europa há um considerável senso de justiça, ainda que o senso de solidariedade seja muito limitado. Inclusive irmãos, assim como pais e filhos, mostram muito pouco afeto um pelo outro. Isto está realmente em contraste com a tendência das pessoas e família do oriente.

Porque isso é assim? A resposta gira em torno do fato de que o amor e a simpatia humana são qualidades atribuíveis à criação saudável dos filhos por meio de um afeto real e da unidade familiar. Evidentemente, as famílias na Europa já não são capazes de cultivar essas qualidades. A solidariedade entre marido e mulher, digna de atenção no oriente, está comumente perdida no ocidente. Uma provável razão pode ser que os ocidentais têm chegado a crer no sexo sem amor e sem restrição. A experimentação e diversificação sexual não permitem que se desenvolva nenhum afeto interpessoal. A pessoa, dessa forma, tende a buscar indiscriminadamente o gozo sexual.

Capítulo V
A Necessidade Básica de Condicionar os Instintos e Desejos Humanos Naturais

A necessidade de refinar e condicionar os instintos e desejos naturais dos indivíduos de uma maneira branda é uma necessidade básica. O crescimento pessoal harmonioso leva a uma interação sã com o próximo, o que por sua vez conduz a um impacto saudável sobre a humanidade em geral.

Um treinamento adequado das potencialidades naturais do indivíduo também nos traz prêmios espirituais. Isto inclui uma perspectiva pessoal equilibrada e uma serenidade intelectual e espiritual necessárias para o esforço sensato e benéfico. As pessoas psicossomaticamente equilibradas são estáveis emocionalmente e competentes para alcançar harmonia e paz social.

Por outro lado, qualquer desenvolvimento inibido ou desequilibrado da personalidade é realmente indesejável. Da mesma forma o são qualquer influência adversa de influências, pressões ou bloqueios externos negativos. Porque as pessoas condicionadas negativamente se tornam suscetíveis a produzir excessos e crueldades não só a elas mesmas como a outras.

As morais tradicionais não-islâmicas consideram o sexo e o amor como manifestação de um mal a ser evitado ou afastado. Em contraste, as sociedades modernas tendem a considerar o amor livre não somente desejável como também respeitável. Sem dúvida, o conceito de amor livre começou a receber um trato e estímulo muito preferencial para que sua ampla expansão mundial.

Com respeito às condutas islâmicas, estas podem ser compreendidas apropriadamente com referência aos seguintes pontos:

1. As condutas morais islâmicas e a compatibilidade das mesmas com os requerimentos objetivos para o desenvolvimento natural da sexualidade como parte dos instintos e potencialidades humanas inatas.

2. Supressão da concupiscência humana.

3. A permissividade sexual moderna como causa principal das aberrações sexuais ou desvios do comportamento humano, que impede o crescimento harmonioso dos instintos e potencialidades naturais do indivíduo.

4. Atitudes democráticas frente o comportamento sexual.

5. Moralidade sexual comparada à conduta ética geral nos campos econômico e político.

6. O amor e a condição de abandono ou desamparo e a nostalgia delas (saudades).

7. O amor e o crescimento harmonioso da personalidade humana.

Para começar, deve compreender-se ou reconhecer-se que os instintos humanos devem ser cuidados e não afogados ou reprimidos. Ao mesmo tempo, é necessário conceituar mais além de qualquer determinação simplista em termos de bom ou mau.

O enfoque islâmico leva em conta a completa necessidade de promover um crescimento saudável da personalidade humana como um requerimento prioritário, baseando-se na lógica dedutiva. As premissas islâmicas correspondem à realidade e mostram que todas as partes constituintes do corpo humano têm uma função ou propósito especifico. As funções e propósitos biológicos são experimentados pela vontade de uma pessoa ao nutrir-se, que vão além das motivações instintivas. Por conseguinte, a vontade humana, as capacidades intelectuais e outros aspectos similares de natureza espiritual, também devem ser intensificados.

Poderíamos imaginar-nos numa situação onde não é permitida nenhuma evolução tradicional da moral. Isto significaria que as potencialidades humanas inatas estão cultivadas harmoniosamente ou então estão impedidas de tal desenvolvimento. Em todo caso, é razoável que a faculdade humana para discernir as coisas e compreender a ordem natural das coisas teria induzido o processo de harmonização necessário.

Há cem anos atrás os estudiosos e cientistas sociais reconheceram a necessidade do desenvolvimento psicossomático equilibrado para a pessoa humana. As sociedades de então careciam de uma correta perspectiva do homem como um todo. Tinham uma compreensão marcadamente deficiente das tradições morais. As tendências negativas afetavam o desenvolvimento humano geral.

Em realidade nunca existiu dúvida alguma da promoção do crescimento total da personalidade humana. Isto está implícito na própria palavra “educação”, que sempre tem sido usada para indicar o desenvolvimento humano.

Qualquer enfoque efetivo e correto na educação dos seres humanos deve dirigir-se a superar as tendências conducentes aos distúrbios da personalidade e as condições de desordem e indisciplina que afetam o corpo, a mente e o espírito. Um desenvolvimento humano naturalmente harmonioso e espiritualmente equilibrado inclui a educação do instinto sexual em particular.

No contexto mencionado, o Islam oferece a orientação mais apropriada. Tentaremos esclarecer essa posição na discussão seguinte.

Antes de tudo devemos estipular que qualquer idéia pré-concebida ou mal concebida a respeito da ética Islâmica deve ser evitada.

Algumas pessoas, por exemplo, parecem abrigar a idéia de que a moral islâmica, ao invés de promover, inibe o livre crescimento das faculdades humanas. Crêem erroneamente que os esclarecimentos islâmicos não têm nenhum significado intrínseco no que diz respeito ao refinamento e melhoramento dos instintos humanos naturais.

Na verdade, o Alcorão está repleto de exemplos que dão ênfase ao refinamento humano, como quando assegura que uma pessoa corretamente consciente é aquela que tem sido capaz de refinar, disciplinar e purificar seus instintos e desejos naturais (“que será venturoso quem a purificar”, C.91 – V.9).

Isto significa que a consciência humana está exposta à contaminação. Ao mesmo tempo, sugere que os seres humanos podem melhorar sua consciência individual superando todos os estados impuros que lhe afetem. O Alcorão considera que uma consciência pura é indispensável para a conquista da retidão e da felicidade.

Não se pode negar o sentido e o significado intrínseco dos valores morais ensinados pelo Alcorão. Os ensinamentos mencionados e sua explicação mostram um enfoque do problema do refinamento, ou aperfeiçoamento, humano. Nenhuma escola de pensamento ou de ética exclui a susceptibilidade humana às impurezas da consciência ou da psique, e a conseqüente necessidade de melhorar uma situação indesejável. A psique humana é vulnerável aos desejos lascivos, a aberrações morais e a desordens psíquicas, da mesma maneira que o corpo humano está exposto a enfermidades.

Um indivíduo pode perceber internamente o sintoma e o grau de qualquer doença fisiológica ou psicológica que possua. E este consegue fazê-lo de uma maneira muito mais real e completa com respeito a si mesmo do que com respeito a outras pessoas ou inclusive com respeito à contaminação do todo à sua volta. Assim, é possível e necessário assegurar a retidão em uma base de análise individual por meio de um desenvolvimento pessoal psicossomático e espiritualmente harmonioso. O Alcorão deixa este ponto inteiramente claro.

Há outra descrição do Alcorão, do “eu” natural, não educado (“… o ser é propenso ao mal.” C.12 – V.53). De acordo com isso, uma pessoa indócil ou inapropriadamente educada é considerada como incentivadora (ordenadora) do mal (em pensamentos e em obras). Isto significa que de acordo ao Alcorão um “eu” não disciplinado pode ser mal por natureza?

A resposta deste questionamento não pode ser afirmativa porque, teoricamente falando, um ser humano, se nasce mal, não se pode esperar dele que seja dócil a qualquer educação que procure metamorfoseá-lo para que se torne naturalmente bom. Pelo contrário, a própria existência de seres naturalmente perversos merece ser tratada como indesejável, dado que eles são potencialmente danosos. Deveria evitar-se que eles se desenvolvam e assumam proporções ameaçadoras. Seu impacto malévolo requereria que fossem reprimidos, e ocasionalmente, inclusive eliminados.

Assim, a resposta correta é que não há maldade alguma estruturada na natureza do ser humano. Somente em circunstâncias especificas um indivíduo pode tornar-se vulnerável à maldade e nutri-la, desenvolvendo uma disposição iníqua nesse processo.

Qualquer representação negativa da natureza básica da pessoa que a torne fonte de mal não se insinua na filosofia do Alcorão, como já mencionamos antes.

Podemos fazer outras duas perguntas: em primeiro lugar, quais podem ser as circunstâncias particulares ou causas especificas que conduzem os seres humanos à maldade e à corrupção; em segundo lugar, como pode o depravado e corrupto deixar de ser prejudicial e retornar ao caminho reto da prudência e da moderação?

As respostas a essas perguntas requerem um entendimento positivo e compreensivo dos ensinamentos islâmicos. Pois eles estão além de qualquer erro ou interpretações estreitas como as que surgem de qualquer literatura isolada ou compreensão negativa da descrição alcorânica do “eu” humano como “ordenador do mal”. De acordo com o Alcorão, o “eu” (ou ego) pode não ser somente “um ordenador do mal”, como pode ser também (em um estágio mais elevado de consciência) um “reprovador consciente” (“… alma que se reprova a si mesma”, mencionada em C.75 – V.2). Em outra parte, o Alcorão também se refere ao “eu” (em seu estágio mais elevado) como uma morada de paz e excelência humana:

“E tu, ó alma em paz, retorna ao teu Senhor, satisfeita (com Ele) e Ele satisfeito (contigo)! Entre no número dos Meus servos! E entra no Meu jardim!” (C.89 – V. 27 a 30)

A descrição alcorânica do “eu” (ego, ou alma) indica que a natureza humana pode ter distintos estágios de desenvolvimento e manifestação. Em um deles o “eu” pode estar inclinado à maldade e ao prejuízo, e perpetrar todas as coisas indesejáveis, condenando-se lastimavelmente. Porém, sobre tudo é capaz de alcançar o estágio mais desejável, o da excelência e serenidade humana, estando além da vulnerabilidade às coisas malignas.

O Islam não pressupõe nenhuma maldade inerente à natureza humana. Difere por tanto das filosofias especulativas e dos sistemas educacionais desenvolvidos na Índia, ou dos enunciados de alguns filosóficos cínicos da antiguidade. E também, difere dos ensinamentos de Manes , da Pérsia antiga. O enfoque islâmico também é distinto ao enfoque que se desenvolveu no cristianismo. O código de conduta moral islâmica não apóia qualquer negação ou rejeição dos instintos humanos, nem prescreve nada que seja ligado a uma servidão aos castigos com o intuito de derrotar os desejos carnais.

Os antigos puderam não ter compreendido claramente que, sob circunstancias específicas, em certas situações ou em algum estágio da educação, a natureza humana pode desviar-se e tornar-se vulnerável ao mal, sendo assim capaz de assumir proporções perigosas. De todo modo, nos tempos modernos, quando as bases ou fundamentos do desenvolvimento da personalidade humana têm sido investigados cientificamente, já não pode haver nenhuma dúvida sobre a necessidade de disciplinar o próprio “eu”.

O Alcorão significativamente revela e mostra distintos aspectos do desenvolvimento da personalidade humana. A identificação das tendências negativas da natureza humana está destinada a realçar os aspectos positivos que podem conduzir a um excelente florescimento da personalidade do homem.

Mesmo onde o “eu” tem sido descrito como “ordenador do mal”, a inferência do contexto (a história do Profeta José, capítulo (Surata) 12, que é tentado por sua patroa a cometer adultério) é que o “eu” humano, em realidade, é capaz de convidar (convocar) ao mal. Esta diferença é importante no sentido de fazer os seres humanos conscientes de que seus instintos são predominantemente grosseiros e sem refinamento, e a não ser que sejam aperfeiçoados e educados estes instintos esmagarão as qualidades que levam à elevação espiritual. Este parece ser um aspecto que ainda não foi identificado completamente por parte dos psicólogos modernos.

No entanto, hoje em dia é amplamente aceito que as desordens emocionais podem levar a enfermidades mentais. Isto pode acontecer de uma maneira obscura ou confusa, onde a faculdade de percepção consciente não atua. Conseqüentemente, a mente funciona de uma maneira aberrante, assim como leva a cabo os ditados ou impulsos de origem emocional.

Os fatores positivos e negativos no desenvolvimento da personalidade humana serão examinados mais adiante, no contexto da permissividade sexual moderna. Enquanto isso, uma explicação do sentido e conotação da repressão do desejo carnal se faz necessária.

Com respeito à supressão da concupiscência humana, o Islam de nenhuma maneira a enfrenta repressivamente Isto vale, também, para outros instintos. Então, o que se entende por repressão do desejo carnal? Significa a eliminação das causas que conduzem ao mesmo?

No contexto islâmico significa ter uma força suficientemente efetiva e moderada para lidar com a concupiscência humana. Isto também é enfatizado em muitas explanações da moral islâmica. O Islam ensina os seres humanos a se imporem frente às predisposições naturais da sensualidade que governam a sensibilidade do espírito. Em outras palavras, um indivíduo não deve ser conduzido por seus instintos naturais, mas dirigir os mesmos de uma maneira saudável. Como mencionamos no princípio, o Islam não louva nenhum tipo de repressão ascética da concupiscência ou dos desejos naturais.

Quanto a este ponto, se pode advertir que quando uma pessoa é dirigida por seus instintos ela evidencia manifestamente uma desordem de sua personalidade, algo sufocante e capaz de afetar a consciência humana. Não permitir que os instintos influenciem na consciência implica necessariamente em reprimir o desafogo do desejo carnal, ou em obter um contrapeso adequado da tentação manifesta, a qual leva às desordens emocionais e inclusive à promiscuidade sexual.

Evidentemente, eliminar a tentação significa amansar os instintos animais. Isto é possível quando a tentação é evitada de uma maneira harmoniosa e natural. O que necessita que as tendências conducentes aos males sociais e às enfermidades psicológicas sejam superadas. Dessa forma, eliminar a tentação não requer desprender-se das influências externas, humanas ou quaisquer outras, que possam ser a causa disto.

Pelo contrário, o que se requer é que as causas e tendências internas sejam eliminadas. É necessário evitar o desenvolvimento maligno da libido . Neste processo, também se supera a vulnerabilidade frente a qualquer influência externa indesejável. Um desenvolvimento saudável dos instintos humanos é um processo que requer uma complacência saudável ou a inibição moral de sua agitação negativa, a depender de sua natureza e conteúdo.

Incidentalmente, é notável que a expressão “matar o desejo carnal” não apareça em nenhum ensinamento islâmico especifico. Qualquer referência a isto é somente uma maneira de explicar a necessidade de um crescimento saudável da personalidade.

Para satisfazer os instintos e desejos naturais, qualquer enfoque unilateral envolve situações defeituosas difíceis de superar. Desde o século passado as conquistas da investigação psicológica a respeito ao sexo se concentraram em demonstrar que a repressão dos instintos e desejos naturais estavam carregadas com muitas conseqüências adversas para os indivíduos. As investigações e descobrimentos minuciosos provaram que são valiosos em si mesmos.

Entre outras coisas, a idéia tradicional de que quanto mais são reprimidos os baixos instintos em maior grau se exalta o campo das faculdades superiores (como a intelectual), tornou-se válida. Existe uma compreensão crescente de que conseqüências extraordinárias e vastamente estudadas, que afetam tanto ao indivíduo como a sua sociedade, advém de desejos ou instintos insatisfeitos ou reprimidos, os quais permanecem inconscientes.

Poderia deixar-se a questão da satisfação dos instintos carnais e dos desejos espontâneos ao juízo de cada um. Porque somente o intelecto humano pode evitar qualquer desenvolvimento instintivo inconveniente, pois o indivíduo pode dirigir intencionalmente os próprios impulsos naturais e assegurar que não sejam negativos, prejudiciais ou frustrantes.

Muitas desordens mentais e nervosas que afetam os indivíduos e, inclusive, a sociedade em seu conjunto, têm sido, para psicólogos e psiquiatras, indícios de privações, especialmente com respeito ao instinto sexual. Tem-se demonstrado que as privações emocionais dão lugar à aparição de complexos psicológicos. As aflições psicológicas podem assumir inclusive proporções perigosas que levam ao sadismo, à insolência mórbida, a ciúmes extremos, transformando à pessoa em solitária, cínica ou coisa parecida.

Estas descobertas acerca dos instintos e desejos humanos representam alguns dos significativos avanços e êxitos conquistados pelo gênero humano.

Uma consciência e interesse popular crescente pela natureza e conteúdo dos sentidos humanos podem levar à maiores pesquisas e descobertas. As descobertas provavelmente serão do tipo que se conformam às necessidades do progresso técnico e industrial. Podem conduzir à uma maior identificação e a um emprego superior das forças naturais, especialmente as inorgânicas. No entanto, os aspectos espirituais e psicológicos dos problemas podem não receber a atenção popular. Desta maneira, seu conhecimento pode ficar confinado aos homens instruídos e aos sábios.

A integridade psicossomática do desenvolvimento da personalidade humana tem sido enfatizada desde o início da história registrada. O Islam também tem assinalado sua necessidade significativamente. Os moralistas tradicionais, assim como os cientistas do comportamento, têm sempre tentado refletir o conhecimento e a sabedoria desenvolvida no passado, seja de uma maneira ou de outra. No entanto, o fato é que o enfoque psicossomático apenas tem sido estabelecido cientificamente nos últimos cem anos.

Vejamos agora a melhor maneira em que pode ser posto em prática o principio de bem-estar psicossomático. Evidentemente, isso não pode ser usado tão facilmente quanto a penicilina. É uma abstração que requer certa capacidade de compreensão. No entanto, é sugestivo da complexidade e diversidade dos problemas psicológicos, e de outros problemas, que tem sido investigados de uma maneira minuciosa. Ao mesmo tempo, considerações obscuras de moral e desenvolvimento do caráter pessoal têm se tornado a ordem do dia, o que aparentemente se ajusta a muitas pessoas das sociedades modernas.

E o que é ainda pior, a necessidade genuína de promover um cumprimento saudável dos instintos e desejos naturais, de uma maneira que não ocasione prejuízos, tem sido mal-interpretada ou mal aplicada na prática. Desta maneira, uma gratificação da sexualidade humana sem restrições tem chegado a ser recomendada, com o ostensivo objetivo de evitar frustrações indesejáveis. Consequentemente, os complexos e tensões psicológicas tendem a aumentar ao invés de recrudescer.

Com freqüência as estatísticas indicam um crescimento virulento das enfermidades psicológicas, das desordens mentais, dos suicídios, dos crimes passionais, da ansiedade, da desesperança, do pessimismo, dos ciúmes, da malícia e de outras manifestações psicossomáticas do desenvolvimento de uma personalidade humana insana. A evolução inumana de um número crescente de indivíduos tem-se explicado a partir da permissividade moderna com respeito aos instintos e desejos naturais, incluindo a falta de inibição e restrição sexual.

Durante séculos houve uma ampla e insistente oposição a qualquer permissividade relativa à concupiscência e à sensualidade. Isto acontecia principalmente com o objetivo de evitar os efeitos negativos sobre a moral individual, as atividades espirituais, a paz e integridade da sociedade. Tudo isto foi mudado de maneira repentina e arbitrária pelos protagonistas da sociedade permissiva moderna.

Esta inversão ou mudança foi buscada pensando que parar a concupiscência e submeter-se à retidão, ao recato, à paciência, às restrições morais e sociais, perturbaria ou alteraria o bem estar espiritual da pessoa e a paz da sociedade. Essa mudança foi buscada como se a moralidade e o controle da concupiscência e sensualidade fossem realmente irrelevantes para a conquista de uma conduta pessoal afável ou para um desenvolvimento positivo da personalidade humana.

A meia volta produziu-se como se sempre tivesse existido uma grande e insistente demanda por abandonar as restrições morais. A mudança social foi buscada como se fosse realmente necessário absolver a pessoa de seus escrúpulos morais, deveres e obrigações, liberando-a assim de um suposto mal.

As motivações da reforma pareciam estar dirigidas a uma necessidade imaginária que permitia à pessoa o gozo de seus sentimentos, independentemente de toda restrição moral ou compromisso consciente de recato ou retidão. Supõe-se que tudo isto leva a manter a paz em qualquer ordem social que prevaleça, e que liberta a pessoa das desordens psicológicas!

Evidentemente, o conceito sedutor de livre gozo dos instintos e desejos naturais tem sido oferecido como uma salvaguarda reformista frente às restrições morais e sociais, como se estas tivessem um impacto corruptor! Além disso, o conceito tem atraído rapidamente muitos jovens e algumas outras pessoas, incluindo um número substancial em nosso país (Irã, antes da revolução de 11/02/79).

Pelo que temos percebido, os sustentadores de uma sociedade do tipo permissiva têm uma maneira de pensar peculiar. Parecem crer que não existe nada melhor do que se colocar a disposição dos doces ditados do coração, no entanto, permitem que este próprio seja dominado pela concupiscência.

Ao mesmo tempo, aparentemente imaginam que as ações resultantes de sua maneira de pensar podem ser explicadas tanto humana como moralmente, ao ponto que são aceitos como experts em comportamento sociais sofisticados. Aparentemente sugerem que sua forma de pensar augura o bem, mesmo que represente um motivo de ridicularização para outros. Além disso, declaram que buscam tanto a gratificação como o serviço, à sua maneira. Pensam que asseguram a satisfação de todos os impulsos corporais, assim como das necessidades espirituais.

Em outras palavras, parece que igualam as condutas boas ou normais com a sensualidade. Sua imaginação não é praticamente distinta à dos místicos no uso metafórico do “amor”, à maneira dos Sufis . Aparentemente procuram a comunhão com qualquer imagem de amor e beleza feminina que possam visualizar, inclusive em termos divinos!

Consequentemente, o livre gozo dos instintos e desejos naturais fracassou em substituir as enfermidades psicossomáticas ou as desordens neuróticas pela alegria espiritual. As aflições humanas continuaram estendendo-se e trazendo desgraças, uma atrás outra, de uma maneira perniciosa e crescente. Não é de se estranhar que alguns promovedores do desenvolvimento sexual sem inibições, como Freud, fossem bastante sensíveis para retratar-se de suas afirmações originais, ou para modificá-las ou esclarecê-las posteriormente.

Reiteraram a posição de que não havia nenhuma saída fácil das normas e restrições sociais desenvolvidas tradicionalmente. Esclareceram que a concupiscência sexual humana não é uma quantidade programável ou energia capaz de reprimir-se para a conquista de uma satisfação completa. Também se referiram à necessidade de sublimá-la, assim como canalizar as energias humanas diretamente ao acrescentamento intelectual, para resolver os problemas educativos, científicos, culturais, socioeconômicos e tecnológicos.

A nova moral defendida por Bertrand Russell se supõe conducente a um desenvolvimento positivo da personalidade humana. Ao mesmo tempo, afirma que a moral tradicional inibe o desenvolvimento humano. O fato de que no amanhecer da nova moral as aflições humanas se agravaram, desaprova as afirmações mencionadas, a ponto que merecem ser submetidas às mesmas afirmações que fizeram contra as condutas tradicionais.

Hoje em dia os cientistas do campo social estão esforçando-se para fazer frente à manifestações particulares como também às dificuldades especificas encontradas em suas sociedades. Nas condições sociais presentes, os jovens estão evitando o matrimônio conscientemente. A gravidez e a criação dos filhos estão se tornando aborrecimento para as mulheres, parece que, inclusive, estão perdendo o interesse nos afazeres domésticos.

O matrimônio é mais freqüente nas sociedades tradicionais e nas famílias conservadoras do que nas sociedades e famílias modernas. Por outro lado, os conflitos neuróticos em pessoas de ambos os sexos são crescentes, evidenciando doenças psicossomáticas e espirituais.

Alguns cientistas sociais opinam que os valores tradicionais foram fundamentalmente superados e sobrepujados pelos requerimentos da revolução industrial moderna. Realmente, no entanto, a moral, tradicional ou não, deveria permanecer igual em termo de valores e conotações intrínsecas. Ela não é afetada pelas formas mutáveis da vida humana, do meio agrícola ao industrial.

As mudanças nos modelos familiares da vida humana e na interação social são tratadas como fundamentais somente em algumas formas intelectuais revolucionárias. O pensamento aparentemente revolucionário é atribuível a alguns indivíduos que são incumbidos de uma grave responsabilidade por todas as conseqüentes desgraças que recaem sobre a humanidade.

Até mesmo Bertrand Russell fala das armadilhas ou perigos que envolvem o pensamento especulativo, incluindo o seu. Por exemplo, quanto ao favorecimento da gratificação sem limites do instinto sexual, Bertrand Russell reconhece a necessidade de aderir a um sistema comprovado de auto-regularização ou restrição. Contudo, não temos a intenção, nesta etapa, de estendermos-nos mais sobre os prós e os contras do pensamento moderno concernente à sexualidade humana.

Na realidade, toda conformidade apropriada aos instintos naturais, ao invés de repressão aos mesmos, não é o mesmo que o liberalismo sexual que denuncia as antigas restrições morais. Os instintos e desejos naturais não são incompatíveis com o recato e a virtude. Em realidade, somente são adequadamente satisfeitos dentro de uma estrutura virtuosa e regularizada, que evita os males das condutas promiscuas, assim como o celibato ou a abnegação sexual e as perturbações emocionais resultantes.

Em outras palavras, a atenção apropriada aos instintos humanos não significa nada mais do que a superação das inclinações luxuriosas. A distinção básica entre os seres humanos e os animais é que os primeiros são capazes de ter dois tipos de desejos: um que é um impulso genuinamente natural e outro que é um pseudo-desejo.

Os desejos genuínos estão em conformidade com as necessidades naturalmente essenciais, como o desejo pelo alimento, a proteção, a exigência sexual, a inclinação à agressão e à dominação, e outros parecidos. Cada um dos desejos naturais genuínos tem uma função especifica, cumprindo um propósito definido. Além do fato de que estão limitados às suas funções e propósitos específicos, todos são individualmente capazes de formar a base para um pseudo-desejo, como o bem conhecido falso apetite.

Os desejos mais naturais estão sujeitos a uma satisfação completa. As satisfações dos demais, incluindo os impulsos sexuais, envolvem complicações psicológicas. Porque a mente e o espírito humano, às vezes, são capazes de experimentar desejos corporais além dos limites naturais da satisfação fisiológica. Algumas aspirações intelectualmente sustentadas nunca alcançam um ponto de saturação!

Consequentemente, realmente é uma indução ao engano sugerir uma gratificação sem limites dos desejos carnais, promovendo a deliberação das restrições e contenções morais dos instintos naturais. Aqueles que a prescrevem erram em distinguir entre as qualidades dos seres humanos e a dos animais. Ignoram o fato de que pode haver desejos ou ânsias sem fim no ser humano.

Os seres humanos são propensos a aproveitar de todas as oportunidades rumo a auto-satisfação. Incessantemente aproveitam de todas as ocasiões para antecipar seus interesses próprios. Isto é igualmente certo no que concerne ao poder econômico e político, como na procura do domínio sobre o próximo ou na intensificação dos prazeres sexuais.

Sugerir que o desafogo dos prazeres sexuais é como atender ao chamado da natureza para urinar ou defecar é realmente induzir ao engano. A questão de esvaziar os próprios escrúpulos morais não surge no processo de obter um alívio sexual instantâneo. Salvaguardar a moralidade própria não pode significar o mesmo que reter a urina. Porque, diferentemente da continência moral, a retenção da urina irá causar enfermidades e moléstias corporais.

Para uma melhor apreciação do assinalado, suponhamos que uma pessoa encontre nas ruas e avenidas que ela freqüenta vários mictórios públicos, gratuitos e limpos. Mesmo assim, a pessoa não poderia vir a usá-los, por mais desejo que tenha, além do que sua bexiga lhe permita! Em conseqüência, estes belos mictórios não poderiam (ou não deveriam) atrair indevidamente a pessoa para que a mesma urine sem necessidade.

Algumas pessoas modernas assumem que todas as inclinações humanas, independentemente se concernem ou não ao sexo, à agressão, à dominação ou qualquer outra coisa, deveriam ser permitidas para a satisfação livre. Supõe-se que a pessoa é capaz de eliminar as frustrações ou insatisfações no processo de satisfação de seus desejos. Este argumento se baseia em uma conjectura falsa. Porque, como assinalamos anteriormente, não é possível alcançar a gratificação de todos os desejos humanos.

A capacidade humana para buscar a gratificação de todos os desejos naturais e adquiridos não se limita ao instinto, como no caso dos animais. Se não tivesse sido este o caso, não haveria necessidade de nenhuma regularização humana, não apenas para as relações sexuais, assim como também como para as interações socioeconômicas e políticas. Inclusive, até restrições morais teriam sido desnecessárias já que as restrições naturais tornariam impossível que alguém procurasse a satisfação em excesso. A própria limitação da capacidade natural (para cometer excessos) teria servido a este propósito, como no caso dos animais.

No entanto, os limites éticos e os procedimentos regularizadores são necessários para promover as práticas apropriadas e as transações justas nos campos sócio-econômico e político.

Da mesma forma, as limitações e regularizações do comportamento sexual e das atividades relacionadas, coerentes com a necessidade de retidão e recato, deveriam ser aceitáveis para todos.

Capítulo VI
Amor, Disciplina Sexual e Recato (Moralidade Democrática e Amor no Desenvolvimento Pessoal).

O fato que os princípios da liberdade e democracia humana deveriam governar as condutas morais também é visto como justo e correto, como no caso da política. O sentido intrínseco disso é que os seres humanos deveriam fazer frente a seus instintos inatos e desejos naturais, da mesma maneira como um governo justo e democrático o faz com respeito ao povo.

O Islam trata as questões do comportamento sexual a partir da mesma base ética que é comumente reconhecida hoje em dia na regularização das atividades econômicas e políticas. Pois, os indivíduos são propensos a cometer verdadeiros erros em função de suas vidas sexuais serem regidas com base em seus próprios juízos morais. Podem, por meio de uma concepção equivocada ou por capricho, ignorar a necessidade de manter uma preocupação democrática pelos princípios éticos frente a seus problemas individuais, que surgem em circunstâncias que evidenciam a falta de toda restrição ou reserva pessoal e um completo caos.

Em principio, toda regularização social das atividades políticas e econômicas deveria reconhecer os instintos humanos relevantes. Porque o instinto de agressão e a tendência de dominar a outros pode contribuir na política. As atividades econômicas podem ser impulsionadas por um desejo de acumular riquezas. Igualmente, a propensão sexual pode levar à indulgência nas atividades sensuais. No entanto, não se sabe por que os defensores da nova liberdade sexual proposta consideram uma política de “laissez faire” (deixar fazer, deixar passar) adequada somente para os assuntos sexuais, enquanto que aparentemente aceitam o controle das atividades econômicas e políticas.

Um dos aspectos importantes da ética sexual concerne ao amor. Desde os tempos antigos deu-se uma atenção especial à essência do amor na filosofia. Ibn Sina (Avicena) publicou um tratado sobre o amor. Comumente, o amor humano tem sido reconhecido como uma realidade saudável, em função de tudo o que abarca e de sua natureza sublime. Na literatura, especialmente a poética, o amor não tem sido somente entoado com um sentido de orgulho (ao grau de proclamar a superioridade dos sentimentos ou do coração sobre a mente), mas também tem sido contrastado com a desonra ou a degradação da luxúria, que é considerada como algo de natureza animal.

Em contraste, outros preferiram igualar o amor com a libido ou com qualquer intensificação metabólica do instinto sexual. Evidentemente, tenderam a assumir que o amor é dificilmente capaz de sublimar-se, inclusive, em termos divinos. Trataram o amor como se não tivesse nenhuma origem espiritual, como não fosse (ou devesse ser) uma qualidade humana ou não pudesse ter um propósito humanitário.

Em contraste, outros preferiram igualar o amor com a libido ou com qualquer intensificação metabólica do instinto sexual. Evidentemente, tendem a assumir que o amor é dificilmente capaz de sublimar-se, inclusive, em termos divinos. Tratam o amor como se não tivesse nenhuma origem espiritual, como se não fosse uma qualidade humana ou não pudesse ter um propósito humanitário.

Aqueles que consideram o amor como algo essencialmente humano, diferenciam entre as manifestações de tipo animal e a conquista ou execução humana do amor. Os demais não fazem nenhuma discriminação, de modo que o amor e a luxúria tornam-se sinônimos.

Hoje em dia, se faz evidente uma terceira categoria de pensadores. Estes crêem que todos os tipos de amor são inclinados ao fator sexual, e que logo, gradualmente e sob condições especificas, a motivação carnal assume um aspecto espiritual ou contemplativo. Para eles, o amor é primariamente sexual, com ocasionais manifestações platônicas. No entanto, esta qualidade dual do amor é afirmada por eles somente em termos de seu desígnio, meta ou efeito. Ou seja, não existe nenhuma dualidade na sua origem ou causa.

Com respeito à última categoria de pensadores mencionados, não é de se surpreender que eles acreditem na base material da espiritualidade humana. Eles não vêem nenhuma dificuldade insuperável na transformação mútua dos aspectos espirituais e materiais do comportamento humano. Em realidade, um deles afirma que toda questão espiritual tem uma base natural e toda coisa natural tem uma extensão espiritual .

Seja como for, não precisamos discutir o assunto mencionado em uma grande profundidade psicológica ou filosófica. Assim podemos evitar entrar nos prós e contras das muitas interpretações antigas e atuais dos diversos fundamentos do amor. Neste caso, seria suficiente sugerir que o amor, em efeito pode gerar a criatividade do intelecto e espírito humano, assim como induzir a um refinamento artístico e cultural de importância sociológica.

A sugestão feita é válida independentemente de que o amor se origine ou não do instinto sexual para depois se tornar capaz de expressar-se em termos físicos e espirituais de uma maneira intercambiável. Qualquer efeito sublime do amor é bem distinto de sua alegada instintividade ou da simples concupiscência de tipo animal, que não procura outra coisa além da gratificação fisiológica.

Entretanto, em algumas circunstâncias o amor se apresenta como luxúria, sendo considerado como uma simples ferramenta ou meio de gratificação. No entanto, quando os seres humanos vivem o amor como um afeto genuíno, já não são egocêntricos. Pelo contrário, expressam o espírito desejável de auto-sacrifício.

Em outras palavras, os indivíduos com um amor genuíno são capazes de sobreporem-se e superarem suas motivações egocêntricas por consideração aos demais.

A literatura mundial está repleta de qualidades esplêndidas do amor, incluídas as de catalisador, mestre e inspirador. Da literatura iraniana podemos citar uns versos de Sa‘adi :

“Alguém que se apaixone além de si mesmo;
entrega seu amor exceto a seu próprio eu,
Alguém que não se apaixonou, não despregou sua nobreza,
A prata sem fundir não dá brilho”.

Outro conhecido poeta iraniano, Hafiz , se refere ao amor das rosas e às inspirações do rouxinol:

“Por graça da rosa o rouxinol faz seu canto,
Todas essas canções e poemas tão agradáveis
Além do que seu bico pode improvisar!”

Sem dúvida, o amor tem sido exaltado de muitas maneiras, tanto no oriente como no ocidente. No entanto, há uma diferença entre os ocidentais e orientais na conceituação do amor. Para muitos ocidentais o amor pode chegar a valer a pena na medida em que corporifique a mútua doçura dos apaixonados. Os indivíduos de sexo oposto no ocidente preferem o convívio agradável ao constante fastio e aborrecimento de viverem sozinhos. Buscam, dessa maneira, a maximização do desfrute da vida.

No oriente o amor é considerado como algo desejado em si mesmo. Porque concede uma perspectiva geral à personalidade humana, além de enobrecer e inspirar o espírito. Não surpreende que o amor tenha sido descrito como um catalisador, purificador, e outras coisas parecidas. Evidentemente, em todos estes, assim como em outros atributos, dificilmente se pode discernir sugestão implícita no sentido de que o amor não seja mais que uma apresentação a doce união estável, ou um simples sentimento de desfrutar a vida em corpo e espírito.

Inclusive, para alguns orientais impressionáveis, o amor entre o casal pode significar somente algo preliminar aos prazeres subseqüentes da união e da convivência. No entanto, a experiência preliminar de amar um ao outro, pode (ou deveria) exaltar a humanidade de ambos. Não é algo parecido a um mero elemento condutor ao gozo antecipado das relações conjugais ou coabitação.

Em qualquer caso, se o amor é interpretado como uma introdução real à união do homem e da mulher, em termos de transformarem-se em um corpo e espírito, isto é o mais conducente às conquistas humanas saudáveis.

Em resumo, no amor, como em outras questões, ocidentais e orientais diferem em seu enfoque intelectual. Um ocidental típico, com freqüência, é incapaz de fomentar o amor dentro de uma estrutura abstrata que vai além de qualquer processo que faz frente aos problemas da vida cotidiana. Eventualmente, chega a distinguir o amor da luxúria, e também a crer na harmonia espiritual que isto é capaz de gerar.

De todo modo, o amor chega ao indivíduo, como um talento natural, conduzindo-lhe ao matrimônio ou ao coabitar, de acordo com os requerimentos sociais da vida. Por outro lado, um oriental típico procura cultivar ou fomentar o amor além dos requerimentos da vida rotineira.

Se o amor fosse sexual em sua origem, qualidade e efeito, provavelmente não haveria sido necessário um tratamento separado das condutas éticas sexuais. Tudo o que se discutiu no princípio com respeito aos prós e contras da ética sexual seriam suficientes. No entanto, a origem do amor, ou pelo menos sua qualidade psicológica e efeitos sociais, podem, com toda segurança, ser interpretados ou explicados independente dos instintos sexuais.

Consequentemente, as condutas que concernem ao fomento ou desenvolvimento das inclinações humanas para o amor, devem ser tratadas de uma maneira distinta das do instinto sexual. A gratificação do instinto sexual não é somente concomitante do amor. Porque a gratificação sexual não é suficiente para sustentar o amor, que necessita, também, de contentamento psicológico. De todo modo, toda negação do amor possivelmente pode levar a aflições, as quais não podem ser remediadas por nenhuma gratificação do instinto sexual de tipo animal, assumindo que as primeiras se derivam da última.

Bertrand Russell afirma a necessidade do amor da seguinte maneira:

“Aqueles que nunca conheceram a profunda intimidade e o intenso companheirismo do amor correspondido, perderam o melhor que a vida pode oferecer; inconscientemente, se não conscientemente, eles sentem isso, e a decepção resultante os inclina à inveja, à opressão e à crueldade”.

Algumas vezes se afirma que a religião é inimiga do amor. O raciocínio comum que respalda a afirmação se baseia em uma situação onde a religião fracassa em fazer a distinção entre amor e luxúria. Assim, a maldade da luxúria é atribuída ao amor. A alegação não é certa no caso do Islam.

No entanto, pode ser aplicável ao cristianismo. O Islam não trata a paixão humana como algo mal em si, não fala em considerar sua associação direta ou indireta com o amor como algo mal ou indesejável.

O amor mútuo e profundamente sincero entre o casal é altamente respeitado no Islam. Os ensinamentos islâmicos recomendam a efetivação do amor sobre bases firmes e duradouras.

No contexto geral da religião frente ao amor, há um ponto que com freqüência é ignorado. Concerne à tendência à mútua oposição entre o intelecto e o amor. Erroneamente, alguns moralistas têm ignorado isto, indiscriminadamente excluindo o amor dos princípios morais. Os mesmos consideravam o amor como algo cego e capaz de dominar o intelecto. Acreditavam que o amor não é dócil à razão, inferindo erroneamente que o mesmo também é pouco suscetível à disciplina legal ou moral. Em outras palavras, não viram no amor algo além de excessos anárquicos e rebeldia.

Consequentemente, as religiões ou sistemas sociais que baseiam suas condutas morais somente em considerações intelectuais, não eram conducentes a nenhum tratamento saudável do amor. O tratavam como algo além do campo de ação do conselho ou recomendação. Não obstante, o fato é que o que é meritório como conselho em matéria de amor pode muito bem corresponder à modalidade de resposta de alguém a qualquer manifestação casual do amor em circunstâncias de debilidade, onde, se supõe não haver nenhum controle. Isto com o intuito de maximizar os efeitos sublimes e benéficos do amor, no entanto, permanecendo imune às suas conseqüências daninhas, caso houvessem.

No contexto mencionado, a principal questão que se estabelece concerne à relação entre amor e castidade. Pode-se perguntar se o amor pode ou não pode, em seu sentido mais positivo, florescer em um entorno social permissivo. Ou simplesmente, se é uma questão de se o sentido do amor está ou não invariavelmente vinculado a alguma preferência social pela castidade, deixando as mulheres em um status banal?

Em seu livro “Os Prazeres da Filosofia” Will Durant reconhece que o amor é considerado o fenômeno mais fascinante no curso da vida humana. Ao mesmo tempo, lembrou com surpresa que muito raramente a atenção se centralizava na origem e desenvolvimento do amor, na aplicação poética e nos trabalhos filosóficos dos mais célebres poetas e escritores sobre a matéria do amor, nos mais diversos idiomas.

Além disso, Will Durant também assinalou que a parte analítica do material científico e literário concernente ao amor era extremamente limitada. O tratamento típico aborda desde a reprodução protozoária até o abnegado espírito de Dante , ou o êxtase poético de Petrarca , entre outros pontos similares. Em todos esses esforços, percebeu que faltava uma investigação completa da surpreendente realidade, da origem natural e dos fatores saudáveis no crescimento evolutivo do amor, e outros aspectos similares do mesmo.

No princípio identificamos três escolas distintas no pensamento antigo e moderno concernente à origem e desígnio do amor, assim como deduzimos sua interação simples ou dupla com o instinto sexual. Temos advertido que o amor, como é concebido tanto no oriente como no ocidente, é distinto da permissividade e avidez sexual. Ele é reconhecido universalmente, assim como louvado e respeitado, mesmo, como já explicamos, que as conceituações aplicadas a ele difiram. O que resta ser examinado agora é a questão do amor com respeito à castidade ou recato, com o objetivo especial de determinar as áreas e condições em que podem florescer.

Com respeito ao amor e ao recato, as regularizações sociais aplicáveis podem ser moralmente explícitas ou implícitas. Onde são regularizadas explicitamente as mulheres podem ter uma posição elevada na sociedade, de maneira que não são ordinariamente acessíveis para os homens. Em outra situação, onde o amor e a castidade se promovem implicitamente, porém não estão regularizados, a posição das mulheres está sujeita ao aborrecimento de estarem à disposição e sob a proteção de seus homens. Devemos nos perguntar qual destas duas posturas é apta a realçar o amor e o recato.

De tal modo, é notável que as assim chamadas sociedades abertas ou permissivas são de fato incapazes de promover as condições para qualquer tipo de relações intensas e profundas de amor. No processo de procurar desfrutes passageiros, suas condições levam ao capricho, ao que é licencioso ou lascivo. Não surpreende que a posição da mulher na assim chamada sociedade liberada continue sendo banalizada, enquanto homens e mulheres permanecem expostos a perder o amor e a sensibilidade mútua, genuína e sincera.

O entorno social permissivo promove a sensualidade e a vida licenciosa. Não leva ao amor benéfico que foi estimado por filósofos e sociólogos, em termos de seu desdobramento intenso, sensibilidade profunda e efeitos altruístas. Dadas as condições sociais apropriadas, o amor pode capacitar as pessoas amadurecidas nelas a concentrar as energias individuais em bons propósitos, dar transparência e perspicácia às suas percepções, induzir a intensificação do mesmo com a pessoa amada, como, também, promover conquistas excelentes e originais nos pensamentos.

As qualidades saudáveis genuínas do amor têm sido recomendadas não somente pelos escritores antigos, mas também pelos modernos, incluindo alguns que favoreceram a nova liberdade sexual proposta. Em sua obra batizada de “História da Civilização” Will Durant escreveu a respeito das conotações das relações homossexuais entre homens presentes na descrição de amor da Grécia tradicional incutida em suas canções e baladas, como também escreveu sobre os episódios de amor heterossexual da famosa obra “As Mil e Uma Noites”, que datam de muitos séculos antes da Idade Média. Durant indicou que o interesse nas histórias e contos orientais sobre o amor natural cresceu muito mais do que o interesse nas exortações rotineiras da Igreja sobre a elevação da virtude e da castidade.

Por outro lado, Durant considerava uma compilação literária como “As Mil e Uma Noites”, uma possível fonte de inspiração para subseqüentes composições líricas. Referia-se a uma notável observação de um escritor ocidental contemporâneo, normalmente sarcástico, que dizia que o “amor” estava para a carnalidade humana, como a vida estava para a espiritualidade humana.

Em realidade, como observara Will Durant, muitos começaram a se surpreender como a abstração da sensualidade humana no amor mais sensível poderia ser explicada. As pessoas tornavam-se curiosas acerca dos fatores intelectuais, e outros fatores mais, que transformavam um instinto animal faminto, tal como é evidenciado às vezes pela lascívia humana, em um amor sereno e afetuoso. A curiosidade girava em torno de como a paixão carnal podia tornar-se uma paixão espiritual.

Além disso, Durant examinou as sublimações introspectivas dos desejos carnais e as conseqüentes representações platônicas sobre o amado em distintos contextos intelectuais. Estabeleceu a questão a respeito de se a sublimação referida era ou não o resultado do desenvolvimento da civilização, progressivamente compreendendo ou abarcando os matrimônios.

Aparentemente, ele acreditava que a resposta à questão estabelecida podia encontrar-se na natureza humana. Assinalou que tudo o que alguém procurava e não encontrava podia tornar-se extraordinariamente valioso. Assim, a apreciação da beleza podia variar com a intensidade do desejo. E o desejo tenderia a intensificar-se quando inibido e a diminuir quando satisfeito.

Durant se referiu à afirmação de William James ,de que o recato da mulher não era instintivo senão inculcado por sucessivas gerações de mulheres, e que qualquer conduta contrária provocaria o desprezo de outros ou situações indesejáveis. Ele afirmava que a mulher que apresentava uma falta de castidade não podia ser de nenhum interesse para o homem. Somente as mulheres que se refreavam de qualquer comportamento exuberante, e que se privavam de chamar a atenção masculina estavam mais inclinadas a atrair aos homens.

De acordo com Will Durant, toda exposição das partes íntimas do corpo humano não podia evocar mais que um interesse momentâneo ou casual por parte de quem as via. Em qualquer caso, raramente levaria ao surgimento de um desejo carnal instantâneo. Inclusive, até mesmo os jovens prefeririam o recato nas jovens. Desse modo, talvez não podiam necessariamente compreender que a delicadeza da reserva feminina podia ser indicativa de um alto grau de prudência, como também de ternura.

O recato na mulher pode ser capaz de tornar os homens carinhosos e despertar um amor mútuo, anterior à consumação subseqüente. Assim, os homens poderiam ser induzidos a intensificar suas capacidades e sua resolução em função de conquistas significativas, atraindo sobre si mesmos energias orientadas que de outra maneira estariam atrofiadas.

Ao mesmo tempo, Will Durant mencionou o fato de que as jovens modernas pareciam estar desejosas demais por descartar a moral convencional, como se fossem roupas velhas e fora de moda. Observou que essas mulheres podiam ser audazes não somente em suas exibições, assim como em seus gostos com respeito à maneira de vestirem-se. Portanto, isto diminuía a atratividade feminina e resultava em um efeito adverso da mudança radical da conduta das mulheres. Opinava Durant que se não fosse pela imaginação residual dos homens, possivelmente não teria restado nada da imagem da beleza feminina.

Quanto ao amor romântico de Bertrand Russell, podemos citar suas próprias palavras:

“O essencial do amor romântico consiste em que ele considera o objeto amado muito difícil de possuir e muito precioso. (…) A crença no imenso valor da dama é um efeito psicológico da dificuldade de obtê-la, e creio que se pode afirmar que quando um homem não tem dificuldade em conseguir uma mulher, seus sentimentos com respeito a ela não tomarão a forma do amor romântico”.

Então, Bertrand Russell diz:

“A partir do ponto de vista das artes, é certamente lamentável que as mulheres sejam acessíveis demais; o mais conveniente é o acesso difícil, porém não impossível. (…) No outro extremo, temos um estado de completa liberdade, no que é provável que um homem capaz de criar uma grande poesia amorosa tenha tanto sucesso através de seu charme que raramente teria necessidade de apelar a seus melhores esforços imaginativos para conseguir uma conquista.”

E em outro contexto diz:

“Entre as pessoas modernas e emancipadas, o amor, no sentido sério que nos interessa, está exposto a um novo perigo. Quando as pessoas já não sentem que há qualquer barreira moral contrária às relações sexuais, e se deixam levar em qualquer ocasião, pelo motivo mais trivial para elas, caem no hábito de desagregar o sexo das emoções sérias e dos sentimentos afetuosos, e até podem associá-lo a sentimentos de ódio.”

Capítulo VII
Conclusões

É estranho que Bertrand Russell considere apropriado enfatizar a necessidade do amor com seriedade, quase que com uma veia moralista! Isso porque julgou desobrigada a virtude e o recato para todo propósito sexual, explicou que o matrimônio não era de nenhuma maneira uma obstrução ao livre amor sexual e implicitamente recomendou as relações sexuais livres com outras pessoas além de seu parceiro legal, a condição de que a legitimidade da concepção fosse assegurada. Em resumo, aprovou todos os tipos de relações sexuais que não causassem dano ou violência. Defendeu tudo isso porque não encontrava razão alguma para defender a moral sexual convencional, exceto no que corresponde aos interesses públicos e privados de cada um.

Com esta forma extrema de pensar, Bertrand Russell não podia esperar projetar nenhuma imagem correta de moral, a qual deveria regularizar a sexualidade humana, com o objetivo de fomentá-la sobre a base de ternos sentimentos de amor e afeto. Em todo caso, fica muito claro que Bertrand Russell, e outros como ele, tem procurado apresentar um tipo de sexualidade comunal. As sociedades onde prevalece o amor livre dificilmente podem promover algum amor genuíno.

Pelo menos, nas sociedades permissivas, o “amor” não significaria o mesmo que o interpretado pelos filósofos da antiguidade. Podemos lembrar que o amor tem sido representado como o zênite da vida e o entusiasmo que serve como mestre inspirador, preparador e catalisador. De fato, as pessoas que passam sua vida completa sem o beneficio do amor são consideradas muito desventuradas para sequer merecerem ser chamadas humanas.

No contexto mencionado devemos atentar para dois pontos essenciais. O primeiro concerne à posição do amor, desde o ponto de vista da sua qualidade e do propósito, como distinta à da concupiscência animal e da luxúria sexual. Além disso, pertence ao reino da espiritualidade, sendo seus aspectos incompatíveis com os princípios do materialismo. Isto é admitido por Bertrand Russell quando diz que: “o amor é algo muito maior que o desejo pela relação sexual”.

Além disso, Bertrand Russell reconhece o amor e a moral sexual (bastante ironicamente) quando diz:

“O amor tem ideais e normas morais intrínsecas próprias, ambas obscurecidas tanto na doutrina cristã como na revolta indiscriminada contra toda moral sexual que tem surgido em grupos considerados da geração jovem”

O segundo ponto trata do aspecto espiritual do amor. A espiritualidade do amor se evidencia em dois estágios. No principio se manifesta por um estado em que a intranqüilidade e a intensidade emocional se desenvolvem na ausência do ser amado. Em segundo lugar se manifesta como uma agitação sustentada pelo espírito individual. Isto leva à concentração intelectual e ao predomínio do controle e da virtude no espírito do apaixonado, o que ocasionalmente produz forças criadoras. Em todos os casos, o espírito humano sofre grandes mudanças.

No entanto, no espírito humano, as transformações mencionadas são somente possíveis em situações onde os amantes permanecem separados e/ou seus amores não são correspondidos. Possivelmente não se consegue nada sublime em uma situação onde os apaixonados não sintam a falta um do outro. No último caso, nem sequer o amor apaixonado pode alcançar a intensidade que é intrinsecamente capaz, para a conquista das significativas qualidades advertidas pelos filósofos.

Quando uma pessoa torna-se capaz de manifestar um grande amor, o espírito se agita e procura sossego na pessoa ou imagem amada. A imagem pode ser construída, inclusive, além de sua real representação. Desta maneira, a imagem assume um significado maior para o apaixonado que o da pessoa real, querida e distante.

Quando os apaixonados permanecem unidos, o afeto mútuo e benevolência, assim como a sinceridade e o sossego, podem manifestar-se neles. Um casal firme e esforçado enfrentará as vicissitudes da vida que apareçam em seu caminho. Suas capacidades combinadas podem muito bem ser elevadas, também, graças a sua compatibilidade espiritual ou intelectual. Ao mesmo tempo, devem ser capazes de manter sua integridade moral, mesmo se sua sociedade está corrupta e contaminada. Em outras palavras, não devem ser tentados por nenhuma perspectiva de liberdade sexual oferecida por sua sociedade.

Os esposos que são capazes de sustentar permanentemente o recato e a virtude o fazem confinando em primeiro lugar seu gozo sexual à sua relação conjugal. Então, na idade adulta, quando a paixão mingua, podem manter seu mútuo afeto através de um companheirismo estabelecido correta e virtuosamente. Não se pode esperar que um casal unido somente pelo interesse sexual desenvolva um modelo de família integrada e um companheirismo duradouro.

A autorização à mulher para o divórcio e o compartilhamento da riqueza de seu marido representa a previsão econômica e financeira mais significativa instituída para a vida familiar, pois existem em consideração da exclusividade da relação conjugal do casal. A ação recíproca genuína do casal, que se antecipa no matrimônio e na vida familiar, é considerada em termos de seus esforços individuais e coletivos, assim como em um contexto mais amplo de conservação apropriada de seu entorno social.

O afeto mútuo e sinceridade, como também a ternura e compaixão humana, são atributos altamente desejáveis no matrimônio, no contexto de suas interações mútuas e sociais. Estes se manifestam com freqüência nas sociedades governadas por uma moral islâmica e por compensações legais. Em outras, como a dos ocidentais, estas qualidades são raramente perceptíveis.

No caso dos apaixonados separados, provavelmente os espíritos individuais podem tornar-se mais sensíveis. Elevam-se e esquadrinham-se, assim como mantém a atração. Em outros casos onde os apaixonados estão unidos, manifestando um afeto mútuo, deleite e uma sinceridade profunda, sua própria união marital será capaz de produzir conquistas significativas. Pode-se ser bem mais cético com respeito ao primeiro caso. No entanto, com respeito ao último, possivelmente este será aceito com mais facilidade.

A criação divina da contraparte feminina do homem enfatizou seu companheirismo e afeto mútuo. Isto fica claro no Alcorão:

“Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos”. (C.30 – V.21).

A passagem mencionada contém duas palavras chaves que são indicativas da intenção divina na criação do casal. Essas palavras chaves são o amor e a piedade. O significado está muito claro, e indica que Deus não criou a mulher como simplesmente uma companheira para o homem, e também indica que o casal deve buscar a manifestação das qualidades humanas mencionadas.

É desnecessário dizer que as qualidades humanas sobre as quais falamos são realmente muito distintas da sensualidade humana ou libido, como interpretado por algumas sociedades modernas.

Maulaví Yalaluddín Rumi (ou Rumi, como é conhecido popularmente no ocidente) aborda o ponto mencionado na seguinte estrofe:

“O mundo deve a Deus seu encanto,
Que o que Ele forma retenha sua existência,
Dado que o fez como morada do homem
Como o amor de Adão por Eva pode corroê-lo?(…)
O amor humano não está decretado para a espécie animal,
Porque o amor puro e a compaixão são para o gênero humano,
O que a irritação e a luxúria são para a espécie animal”.

De acordo com Will Durant o amor alcança a perfeição quando se sustenta no amadurecimento. Então, proverá um efeito de suavização durante a solidão da senilidade e a aproximação da morte. Seu ponto de vista confirma o fato de que o amor se estende além da libido, dado que qualquer apoio na última é algo vão e superficial, baseado somente no instinto sexual.

De fato, Will Durant acreditava que o espírito do amor podia sobreviver além do último vestígio da adequação fisiológica. Na velhice, os corações apaixonados retêm fresca sua excelência espiritual, enquanto que as necessidades emocionais do corpo são satisfeitas perfeitamente, em uma base duradoura.

Resumindo, o amor se faz significativo quando suas qualidades intrínsecas são evidenciadas e fomentadas. Toda separação dos apaixonados acentua, ao invés de falsear, esta posição. Conquista-se o florescimento completo do amor com o recato e a retidão por partes dos apaixonados.

O amor genuíno é diferente dos caprichos ou improvisações das sociedades sexualmente permissivas, porque elas não provêm as condições necessárias para promover este amor, mesmo em contextos românticos ou poéticos. O matrimônio das sociedades modernas carece de uma perspectiva geral, como a do Islam, de maneira que permanecem incapazes de alcançar uma relação amorosa sincera e profunda.

Biografia do Autor

O mártir Ayatullah Murteza Mutahhari nasceu em 2 de fevereiro de 1919, em Farimán, uma cidade ao noroeste do Irã, na província de Khorasán. Seu pai, o Sheikh Mohammad Husain Mutahharí, foi um homem piedoso e, conseqüentemente, respeitado e amado pelos muçulmanos. Murteza Mutahharí iniciou seus estudos preliminares no Maktab Jana (escola primária tradicional) da localidade de Farimán, e desde cedo demonstrou um talento especial e uma grande devoção pelo conhecimento, assim como uma inteligência aguda e um grande entusiasmo para a compreensão da ideologia islâmica.

Em 1932 se mudou para a cidade santa de Mash-had, onde se encontra a tumba e o santuário de Ali Abul Hasan Al-Rida, o oitavo Imam dos muçulmanos, a paz esteja com ele, e lá se dedicou aos estudos islâmicos preliminares. Aos 17 anos viajou à cidade santa de Qom, e enquanto o amor pela filosofia islâmica firmava seu caráter, adquiria grandes benefícios dos ensinamentos de ulemas como o Sayyed Mohammad Hoyyat e o Ayatullah Sadruddín Al Sadr. Em 1940 participou das aulas de dois grandes professores como o Ayatullah Boruyerdí e o Ayatullah Ruhollah Musaui Al Khomeini, este último que mais tarde veio a se tornar o Imam (líder) da Revolução e fundador da República Islâmica do Irã.

Em 1950 começou a interessar-se pela vida e obras de Ibn Sina (Avicena) e junto a discípulos como o Imam Musa Sadr do Líbano e o Ayatullah Husain Alí Montazerí, participou das aulas do eminente filosofo e sábio islâmico Allamah Mohammad Husain Tabataba’i, do qual recebeu valiosos conhecimentos e inapreciáveis conselhos. Tabataba’i é o autor do monumental e profundo “Tafsír Al-Mizan” (O Equilíbrio na Interpretação do Alcorão), obra que consta de 22 tomos em língua árabe. Mais tarde, Mutahharí escreveria um notável comentário sobre outra obra de Tabataba’i chamada “Usul-i-Falsafah” (Fundamentos de Filosofia).

Mutaharí viajou a Teerã em 1952, e ali pôs todos seus esforços para reativar a educação islâmica dos estudantes universitários, ameaçada pela contaminação estrangeira propiciada pelo regime do Xá. Dessa forma, se tornou publicamente ativo, pronunciando discursos revolucionários em centros religiosos e intelectuais. Além disso, participou ativamente na organização das mobilizações dos muçulmanos contra a tirania do Xá, inclusive através da formação dos quadros revolucionários, e até os últimos momentos de sua vida não poupou esforços para vitalizar o movimento islâmico revolucionário.

O Ayatullah Mutahharí teve um papel preponderante na vitória da Revolução Islâmica de 11 de fevereiro de 1979, que destruiu a dinastia e o sistema criminal dos Pahlaví, e que sob a liderança do Imam Khomeini cortou as mãos sujas do imperialismo norte-americano.

Sua firmeza em evitar que os inimigos do Islam e da liberação dos oprimidos do mundo pudessem subverter a influência de suas idéias fez com que ele fosse alvo das balas de agentes contra-revolucionários a serviço da opressão mundial em 2 de maio de 1979, depois de três meses do triunfo da revolução, enquanto dirigia uma árdua sessão do Conselho Revolucionário Islâmico.

Que seja vital a sua lembrança e que seja eterno o seu caminho!

“Quais poderão ter sido os fatores causadores da concepção equivocada a respeito da sexualidade? No contexto mencionado, a lógica revolucionária do Islam pode ser de interesse extraordinário. O Islam não dá o mínimo indício de que o desejo sexual seja maligno em si mesmo, pelo contrário, o Islam tem como objetivo a direção e a regularização da sexualidade humana da maneira mais benigna possível”.

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