A Luta Ideológica contra o Islam

Em nome de Deus
Por: Ahmed Ismail

O cidadão médio, das grandes cidades do ocidente, tem uma visão bastante confusa sobre o Islam e os muçulmanos. A grande mídia tem considerável parcela de responsabilidade sobre isso. Complexas questões sócio-políticas transformadas em conflitos são apresentadas com superficialidade, associando o Islam e seus princípios com todas as ações dos muçulmanos e de todos os movimentos que erguem a bandeira do Islam. A esse respeito John Espósito, professor de relações internacionais e diretor do centro de entendimento Cristão-muçulmano na Universidade Georgetown (Washington) afirma: “As potências ocidentais sabem distinguir um atentado praticado por um judeu extremista ou por um grupo extremista cristão nos EUA. Quando o assunto é o mundo islâmico, a tendência é generalizar e considerar os movimentos iguais.”

A conseqüência dessa propaganda difamatória do Islam e dos muçulmanos é que, na mente do cidadão ocidental o Islam é quase um sinônimo de fanatismo religioso, atraso, intolerância e violência. A associação quase instantânea de expressões como “extremismo religioso” ou “fanatismo religioso” à “Islam” ou “muçulmanos”, mascara inclusive a existência de extremismo ou fanatismo religioso atuante em todas as outras tradições religiosas.

A grave situação enfrentada por populações islâmicas em várias partes do globo é minimizada por um discurso humanitário que nunca põe em pauta os direitos daquelas populações. Durante boa parte da ofensiva bestial dos sérvios, liderados pelo criminoso Milosevic, as nações ocidentais que podiam intervir se limitaram a permitir que ajuda humanitária fosse enviada aos sobreviventes (ajuda que na maioria das vezes ficava nas mãos dos sérvios). Oficiais da ONU foram obrigados a não intervir diante das atrocidades cometidas pelas forças sérvias invasoras. A mesma passividade e condescendência é verificada no atual conflito entre o Estado de Israel e o povo palestino, na intervenção russa na Chechênia e na violenta repressão do governo indiano sobre o povo da Cachemira. Sejam os bombardeios e os ataques aéreos de Israel sobre a população civil palestina, ou fossem os bombardeios americanos sobre o povo iraquiano, todos são noticiados com a mesma naturalidade que os resultados esportivos pelos órgãos da grande imprensa ocidental. O chamado mundo islâmico, e mais especificamente, o oriente médio, é entendido pela grande imprensa como “o problema oriente médio” que deve ser entendido como “o problema dos que se opõem ao poder hegemônico americano ou aos interesses das potências européias”.

Porém, existindo uma motivação ideológica e política nessa atitude, não devemos acreditar que tenha se originado de uma atual ou recente composição de forças políticas no quadro mundial. Um programa ideológico perfeitamente organizado tem sido adotado pelas potências ocidentais desde suas primeiras incursões por terras islâmicas, quando de sua expansão colonialista pela Ásia e África a partir do século XVII, e que prossegue por métodos indiretos em vigência.

A Estratégia Ideológica no Período Imperialista

O avanço e a dominação das potências européias pelo Pacífico e pelo Índico, sobre as nações asiáticas e africanas, sempre encontrou no Islam um obstáculo ideológico, cultural e em muitas ocasiões, um elemento de extrema resistência, o qual gerava revoltas e insurreições intermitentes.

Os Imperialistas, sendo eles ingleses, franceses, alemães ou holandeses concordavam todos num ponto comum: minar os traços culturais das populações islâmicas era a medida mais efetiva para consolidar o domínio.

Apesar das lamentáveis condições de pobreza e ignorância que grassavam entre as populações islamizadas (tanto quanto nas demais), a fé muçulmana possuía características especiais de insubmissão à opressão e à tirania, e um componente aglutinador que convocava etnias diferentes a um senso de união em torno da fraternidade muçulmana, características que ameaçavam constantemente a ordem estabelecida pelos invasores europeus. Estes, percebendo a ineficácia do uso da força militar (apesar de sua superioridade tecnológica) pura e simples, desde que a cada revolta ou conspiração sufocada outras surgiam, passaram a empregar métodos sistemáticos, com o fito de destruir a identidade cultural e a auto-estima dessas populações.

Assim, se alimentou a rivalidade entre as etnias, se estabelecendo alianças e concedendo certo grau de autonomia a algumas regiões, alistando forças formadas por elementos nativos para a repressão a revoltosos. Ao mesmo tempo, houve a dominação cultural, que seduzia as classes abastadas a adotarem os costumes e as línguas estrangeiras, e destruiu-se o sistema educacional tradicional, implantando-se um sistema europeu onde todos os valores culturais desses povos eram rejeitados como “costumes bárbaros”. Isso foi efetivo no plano de minar a identidade islâmica dessas populações, muito embora todas as tentativas para uma conversão ao cristianismo em larga escala provaram-se um fracasso em todas as colônias de maioria islâmica.

Quanto a essa questão, o sábio paquistanês Abu Ala Al Maudud escreve: “Neste subcontinente, tanto quanto em outros países muçulmanos, os governantes estrangeiros submeteram os povos a todos os tipos de opressão e iniqüidades. Destruíram os antigos impérios muçulmanos, privaram os muçulmanos de suas ricas terras, tomaram-lhes as fundações religiosas e menosprezaram suas vidas, dignidade e posses. Porém, o mais fatal para os muçulmanos que qualquer dessas iniqüidades, foi a destruição do velho sistema educacional e sua substituição por um novo sistema baseado em valores morais e padrões culturais totalmente diferentes. Por meio desse novo instrumento intelectual, eles procuraram alienar as futuras gerações do seu passado, fazendo com que passassem a se olhar com desprezo e tivessem vergonha de sua própria história e tradições, desdenharem sua própria cultura como ultrapassada e retrógrada e a rejeitarem como impraticável. Por outro lado, essa nova educação procurou incutir nas novas gerações de muçulmanos a ideia de que todo conhecimento, cultura e moralidade, pertenciam ao ocidente e que o conceito ideal de humanidade era o dos ocidentais.”

Pouco a pouco, formou-se uma nova classe distinta, educada em colégios europeus com uma mentalidade absolutamente diversa da cultura islâmica, que após as lutas de libertação que resultaram na fundação das nações islâmicas atuais, passaram a governar a sociedade em todos os níveis e de certa forma a dar continuidade ao processo de descaracterização religiosa e cultural. A forte resistência por parte das populações desses países tornou-se, daí por diante, o estopim de um constante conflito, que teve diferentes manifestações em várias terras islâmicas. Esse conflito atravessou o século XX e se encontra em virtual atividade, seja no Estado laico da Turquia, ou no estado islâmico do Irã, em maior ou menor intensidade em vários outros países de cultura ou de maioria islâmica.

A Ação dos Estados

Na maioria dos países islâmicos, o dilema tem sido o fato de que os governantes adotaram sistemas de governo alheios ao Islam. Não obstante, em quase todos, esses governantes tomam o dístico de nação islâmica, estado confessional muçulmano. Entretanto, é fora de questão a adoção do sistema da Shariah, contrariando a inclinação lógica da população. O populismo e a demagogia os leva a conclamar o povo sempre em nome do Islam, desde que esse se mantenha restrito às mesquitas e cemitérios, nunca transpondo os portões dos tribunais e dos palácios de governo.

Regimes autoritários e de princípios laicos se estabeleceram e se mantém com um discurso em que se auto-intitulam representantes da vontade de Deus, o que, naturalmente, põe seus opositores imediatamente na condição de traidores e inimigos de Deus. Regimes como o que atualmente dominam o Egito, travam uma batalha em todos os fronts contra o Islam. O país escancarou suas portas para todo programa anti-Islâmico promovido pelo ocidente. Essa ação criminosa encontra forte resistência nas cidades interioranas e nas províncias distantes da capital, e é, como em muitos outros pontos do mundo islâmico, a principal razão do surgimento de movimentos integristas, caracterizados pelo ódio e a rejeição absoluta ao ocidente e seus valores culturais.

Os movimentos integristas são tratados com a maior brutalidade nas cadeias, onde execuções e torturas se tornaram corriqueiras. Muito embora a repressão e o conflito aberto se destinem aos integristas, a ação ideológica claramente dirigida no sentido de desfigurar e minar o verdadeiro Islam, o pensamento, os costumes e as ações dos muçulmanos se evidencia no controle governamental sobre as instituições religiosas legalizadas. A insidiosa influência desses grupos seculares parece ser o elo entre os interesses do governo egípcio (zeladores dos interesses estrangeiros) e o enfraquecimento da identidade islâmica do país.

O regime turco que se estabeleceu como Estado Laico, atravessou o século XX implementando medidas drásticas e cruéis para a sociedade. Leis absurdamente restritivas como a proibição do uso do Hijáb pelas mulheres em repartições públicas são impostas, não sem a reação popular. O programa educacional desses dois países tomados como exemplo, segue os padrões europeus e a ação das instituições religiosas é restrita e vigiada, mantida circunscrita a limites estabelecidos pela censura governamental.

Essa conjuntura desfavorável se apresenta em maior ou menor intensidade em outras nações islâmicas, o que nos leva a concluir que, para os inimigos externos do Islam e dos muçulmanos é de decisiva importância para que prevaleçam seus interesses que exista um regime brutal a seu serviço. É fato conhecido que, após o 11 de setembro, com a chamada “guerra ao terrorismo”, potências ocidentais como os EUA e a França, têm se utilizado largamente dos órgãos policiais desses governos, para que seus prisioneiros sejam torturados, fugindo assim a leis de suas próprias instituições judiciais. É interessante notar que nos países em que esse elemento colaborador não existe, ocorre um súbito fortalecimento da identidade islâmica popular. As ex-repúblicas soviéticas são um claro exemplo disso, e nesses casos, a agressão militar torna-se o modus operandi.

A Estratégia da Subversão Cultural e Religiosa

Essa estratégia sutil tem por objetivo alcançar aquilo que as armas e os embargos econômicos não conseguem. Com a colaboração e a permissão de alguns governos, as potências ocidentais têm implementado um programa anti-islâmico em vários países islâmicos por meio de dois principais canais: os meios de comunicação e o proselitismo religioso por intermédio de várias instituições e seitas.

O continente africano tem sido desde muito tempo o alvo principal das organizações e seitas cristãs. As condições de extrema miséria predominantes em nações (condenadas a essa condição pelas nações ricas ocidentais) como Somália, Sudão, Libéria e Etiópia favorecem o que eles chamam de “trabalho assistencial”. O que deveria ser propriamente chamado de “comprar conversões com porções de comida e água”. Em países como a Líbia e o Sudão (que adotou a shariah muçulmana há cerca de uma década), a ação direta dessas seitas e organizações tornou-se muito difícil.

As tentativas de penetração em países como o Paquistão e a Indonésia têm se demonstrado desastrosas pela rejeição popular aos costumes ocidentais que esses grupos tentam impingir sobre os indivíduos, sem nenhum respeito a sua crença e seus costumes.

Se em nações como o Irã e a Arábia Saudita sua ação continue proibida, em outras como o Líbano, Egito, Síria e Turquia essas organizações gozam de relativa liberdade de proselitismo.

Diferentemente das igrejas tradicionais cristãs (ortodoxas, católica romana) há muito integradas nos países islâmicos, as organizações e seitas evangélicas adotam uma estratégia de proselitismo e desconsideração pela cultura e fé dos povos islâmicos, buscando a todo custo implantar a ideologia e a cultura ocidental.

Um estudo publicado recentemente pela Universidade de Al Azhar do Cairo aponta que mais de 27 estações de rádio estão trabalhando contra o Islam, operando da Alemanha, Suíça, Líbano, Zaire, Indonésia, Espanha, França, Chipre, Mônaco e Roma. E 14 delas em língua árabe, 1.500 horas por semana. Em suas transmissões ocorrem comentários depreciativos ao Islam, com a promoção e o envio de livros e souvenirs para os ouvintes.

Evidentemente, meios como a TV a cabo e a internet favorecem o alcance desse programa ideológico, especialmente nas grandes cidades do Maghreb, da África central, do oriente médio e do subcontinente asiático. Porém, se analisarmos os resultados práticos perceberemos que, apesar de tudo isso, o Islam continua em expansão na África numa proporção muito maior do que as seitas cristãs, e o que se torna mais preocupante para os seus opositores é o seu considerável crescimento na Europa e nos EUA. Se considerarmos as próprias características do intercâmbio cultural operado e favorecido nas últimas décadas, o ocidente está às voltas com um problema criado por seu próprio sistema: levas de imigrantes provindos dos países islâmicos têm se estabelecido nas grandes cidades ocidentais, e levado o Islam ao conhecimento do cidadão ocidental.

A cada dia torna-se mais difícil estabelecer critérios parciais e preconceituosos em relação ao Islam e os muçulmanos, que não dêem margem a dúvidas. A própria frieza dos noticiários, que anunciam massacres de populações civis muçulmanas sob a passiva e covarde reação dos que poderiam intervir, desperta a desconfiança na honestidade dos propósitos das potências mundiais. A criminosa ação do Estado sionista sobre a população palestina contribui para que cada vez menos a opinião pública mundial aceite que as atividades dos grupos de libertação sejam entendidas como meras manifestações de “fanáticos”.

Um contato direto com o Islam é um fato novo desde o fim da Idade Média, e o século XXI reserva um aprofundamento inevitável desse contato. Esperamos em Deus, que ao ser levado um diálogo ao campo da razão, a verdade sobre o Islam prevaleça sobre os argumentos dos que o combatem.

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