Conceitos Culturais

Por: Fundação Al-Balagha

Em nome de Allah, O Clemente, Misericordioso

Introdução

“Alif Lam Ra. Um Livro que temos revelado para que retires os humanos das trevas para a luz, com a anuência de teu Senhor, e os encaminhes até a senda do Poderoso, o Digno de Louvor.” (Alcorão Sagrado 14:1)

No Livro de Allah (Deus) há luz, orientação e paz, pois essa revelação divina foi enviada para salvar o homem, libertar sua mente da superstição e das garras dos opressores, construir a vida com base no intelecto e na ciência e desenvolver a terra por meio disso.

A Mensagem Islâmica foi revelada como um fenômeno cultural, que busca proteger a condição, a dignidade e a essência humana, de modo que o homem possa viver pacificamente na terra com a utilização da lógica e da orientação divina. Na atualidade, o homem enfrenta a questão da competição cultural, em que milhões estão vivendo sem qualquer orientação cultural que possa resolver seus problemas. Sem dúvida que os sofrimentos humanos se intensificam dia após dia. O homem tem esperança que o progresso científico e tecnológico venha a solucionar seus problemas e crises, e salvá-lo da injustiça, da miséria, da opressão, da ansiedade e do medo. Hoje, ele sofre o resultado desses mesmos avanços científicos.

De fato, os problemas do homem não são apenas esses, ele enfrenta mais problemas éticos e culturais do que econômicos e materiais. A humanidade experimentou diferentes sistemas civilizadores, porém, esse processo aumentou seu sofrimento em vez de resolvê-lo. Por fim, a experiência provou que não resta ao homem senão a tese da civilização islâmica.

Neste livro, buscamos apresentar uma resumida concepção das crises culturais da humanidade e suas soluções, e analisamos os mais importantes conceitos culturais na vida do homem tal como são apresentados pelo Islam em sua tese geral, para informar e beneficiar nossos leitores, abrindo diante deles o horizonte do pensamento nesse importante campo da vida humana. O que poderá capacitá-los a resolver os problemas culturais com a orientação islâmica, se Allah quiser.

Al Balagh Foundation

O Conceito Cultural

Antes de iniciarmos nosso exame dos termos dos conceitos culturais alcorânicos, será melhor esclarecermos o significado de conceito cultural. Devemos saber que o Alcorão Sagrado é uma mensagem de orientação e, também, um intérprete da vida humana. É um livro de instrução e de construção do bem-estar do homem, da mudança de seu modo de viver e de reforma de sua personalidade, sempre que ele tenha se afastado de sua essência e da ordem com a qual foi criado.

“Volta a tua face para a religião monoteísta. É a obra de Deus, sob cuja qualidade inata Deus criou a humanidade, a criação feita por Deus é imutável. Esta é a verdadeira religião, porém, a maioria dos humanos o ignora”. (Alcorão Sagrado 30:30)

“… convoca-os e persevera, tal como te tem sido ordenado, e não te entregues à concupiscência…” (Alcorão Sagrado 42:15)

“… aqueles dentre vós que, por ignorância, cometerem uma falta e logo se arrependerem e se encaminharem, saibam que Ele é Indulgente, Mui Misericordioso”. (Alcorão Sagrado 6:54)

Portanto, a perseverança é determinada para a natureza do homem, e o arrependimento e a reforma são dois fenômenos de reconstrução da personalidade humana. Em vista disso, a orientação alcorânica e seus conceitos educacionais estão em harmonia com a natureza; não há contradição entre a natureza humana e a orientação do Alcorão Sagrado.

O Alcorão Sagrado visa desenvolver a cultura do homem de acordo com o direito e o bem, de modo a orientar sua natureza segundo o sistema de sua criação e de seu aperfeiçoamento. A natureza humana não pode jamais tornar-se perfeita em razão da posse material, uma busca que é um direito humano. Mas, a perfeição do homem pode ser alcançada através da preservação do bem, da justiça, do direito e da clemência.

Esses são os conceitos de civilização que auxiliam o homem em seus assuntos pessoais e comunitários, e com esses mesmos conceitos o Alcorão Sagrado veio para moldar a vida do homem. Não há dúvida que o conceito cultural se aperfeiçoa quando o homem compreende a natureza, a lógica e a essência da vida, de acordo com a correta noção que reforça o exemplo e o papel do homem, como também a relação entre tudo isso e o Senhor da criação. Quando o homem entende a realidade deste mundo e de sua própria essência, quando entende a sua relação com o mundo e as demais criaturas, ele forma um conceito cultural que pode orientar suas potencialidades e sua atitude na vida.

Oratória e Diálogo

O que mostra a grandiosidade de Allah e a excelência de seus favores ao homem é a habilidade humana em criar palavras com significado. Ele pode explicar por meio de palavras o que pensa e sente. O que é o início da comunicação do homem civilizado.

O homem foi abençoado com marcos que o dirigem ao conhecimento da essência de seu ser e ao aprendizado da vida social. Os seres humanos compreendem uns aos outros por meio das palavras. O diálogo é, portanto, o meio de comunicação e aprendizado. Assim, o Alcorão Sagrado nos recorda desse grande favor, que muitos não conhecem o valor, o favor da expressão verbal:

“O Clemente. Ensinou o Alcorão Sagrado. Criou o homem e ensinou-lhe a eloqüência”. (Alcorão Sagrado 55:1 a 4)

Também é mediante a palavra e o intelecto que o Onipotente falou e se dirigiu ao homem, estabelecendo o método da oratória e do entendimento fundamentado na ciência e no intelecto. É através do intelecto e do diálogo que o homem se torna apto a elevar-se a posição de ser humano.

O Alcorão Sagrado apresentou esse método do diálogo, mesmo ao se referir ao maior dos arrogantes do mundo, o Faraó, empregando um método científico de se lidar com as opiniões contrárias. Exemplo que pode ser usado com o estabelecimento da prova e do raciocínio. O Onipotente diz ao se dirigir a Moisés (A.S.) e a Arão (A.S.):

“Ide ambos ao Faraó, porque ele transgrediu. Porém, falai a ele de modo delicado, a fim de que fique ciente ou tema”. (Alcorão Sagrado 20:43 e 44)

Nessa passagem, o Alcorão Sagrado trata de uma Ordem Divina endereçada a Moisés e Arão, para que fossem até o Faraó, e falassem a ele com delicadeza, esperando que acatasse o seu chamado. Eles eram capazes de trazê-lo ao diálogo, mas, o Faraó foi dominado por sua arrogância, somente quando presenciou um milagre, percebeu que estava derrotado.

O Alcorão Sagrado demonstra os métodos gerais do diálogo com aqueles que têm opiniões ou ideologias contrárias, ao falar com o Profeta (S.A.A.S.) com base no diálogo intelectual e moral:

“Convoca à senda de teu Senhor com sabedoria e uma bela exortação; dialoga com eles de maneira benevolente…” (Alcorão Sagrado 16:125)

Com esse método, podemos entender que a finalidade do diálogo é chegar à verdade, e levar a outra parte até ela. A meta não é triunfar sobre nosso interlocutor, nem destruí-lo tampouco demonstrar sua fraqueza ou inaptidão. Assim, o método alcorânico afirma o aspecto científico buscando revelar a verdade; e o aspecto moral, buscando respeitar o outro lado e levá-lo ao caminho correto.

Como esse método abre um caminho para o intelecto e a lógica desempenhando seu papel na área da pesquisa, também prepara um ambiente agradável retirando quaisquer obstáculos que possam existir entre os que discutem. Portanto, temos um método civilizado de diálogo e entendimento, quer seja no círculo islâmico ou fora dele.

Então, devemos começar a discussão de uma base comum, que seja aceita por ambos os lados, ou seja, dos fatos intelectualmente indiscutíveis. Em vista disso, o Alcorão Sagrado exorta o homem a empregar o bom senso e o intelecto (em todos os assuntos). E diz:

“Não refletem no fato de que seu companheiro (Mohammad) não padece de demência alguma?…” (Alcorão Sagrado 7:184)

E também:

“Não meditam, acaso, no Alcorão Sagrado, ou seus corações são insensíveis?” (Alcorão Sagrado 47:24)

“Dize: Ó povos do Livro, vinde, para chegarmos a um termo comum: Comprometamo-nos formalmente a não adorar senão a Deus, a não Lhe atribuir parceiros e não nos tomarmos uns aos outros por senhores, em vez de Deus…” (Alcorão Sagrado 3:64)

“ …mostrai a vossa prova se estiverdes certos”. (Alcorão Sagrado 2:111)

Em outra passagem, vemos que o Alcorão Sagrado convida a outra parte a buscar a verdade:

“Dize-lhes: Quem vos agracia, seja do céu ou da terra? Dize: Deus! Portanto, certamente, ou nós estamos ou vós estais orientados, ou em evidente erro. Dize-lhes mais: Não sereis responsáveis pelo que tenhamos feito, tampouco não seremos responsáveis pelo que tenhais feito. Dize-lhes: Nosso Senhor nos congregará e logo decidirá a questão entre nós com equidade, porque é o Árbitro por excelência, o Sapientíssimo”. (Alcorão Sagrado 34: 24 a 26)

O Alcorão Sagrado afirma o método do diálogo fundamentado na razão e nos fatos aceitos por ambas as partes, livre da arrogância e do dogmatismo. O Islam ordena aos muçulmanos que usem o intelecto para alcançarem a meta divina e o entendimento da sociedade. Diz Allah, o Onipotente:

“Dize: Esta é a minha senda. Eu convoco para Deus com lucidez, tanto eu como aqueles que me seguem. Glorificado seja Deus! E não sou um dos politeístas.” (Alcorão Sagrado 12:108)

O Alcorão Sagrado também ordena o uso da lógica, das boas palavras e dos melhores meios no debate:

“Convoca à senda de teu Senhor com sabedoria e uma bela exortação; dialoga com eles de maneira benevolente…” (Alcorão Sagrado 16:125)

O método alcorânico respeita e dá muita importância a aceitação por parte daquele que ouve, de modo a se criar o clima necessário para a reflexão. O Santo Profeta (S.A.A.S.) disse: “Nós, os profetas fomos ordenados a falar com as pessoas de acordo com os seus intelectos.”

Portanto, o Alcorão Sagrado nos deu um método civilizado e científico de convocar as pessoas para a senda reta, o qual se baseia no intelecto e na boa educação. Trata-se da melhor prova da solidez desse método, pois, quando uma pessoa chama para o diálogo, sabe que conta com a razão e a prova, o que fará a discussão mais aberta à troca de idéias, à correção de equívocos de uma parte ou de outra.

É bom que saibamos que o mundo atual é amplo (no campo das idéias) e que nem bloqueios políticos tampouco a repressão policial ou governamental podem impedir que alguém conheça a opinião de seu semelhante, qualquer que seja. Os meios de comunicação estão em todos os lugares, podem alcançar a qualquer pessoa num segundo; assim, nesta época não há como impedir que a civilização chegue às outras partes do mundo.

No Islam, com todos esses meios modernos de comunicação, temos um método de dialogar e respeitar a quem nos ouve. Em outras palavras, o modo islâmico de pensamento abriu uma ampla via de atividades intelectuais e discussão com o mundo. De fato, meios de comunicação oficiais têm impedido (a informação) às pessoas que vivem no ocidente e denegrido a imagem do Islam e dos muçulmanos. Esses governos criaram métodos de difamação (do Islam) em suas escolas. Enquanto que, infelizmente, os muçulmanos não contam com meios de comunicação suficientemente fortes para enfrentar essa situação. Apesar de tudo isso, se o método islâmico de pensamento for seguido pelos próprios muçulmanos, fará milagres.

Tal situação tornou um dever para os autores e intelectuais islâmicos: a propagação da ideologia islâmica a todas as partes do globo. Sendo seu dever apresentar a civilização islâmica, também é um dever debater com as outras civilizações, pois a natureza da civilização é de dar e receber. Quando damos, também recebemos dos outros, naturalmente, coisas que não são contrárias aos ensinamentos islâmicos.

O Islam é a verdadeira palavra que Allah o Onipotente enviou para a orientação do homem, o que pode ser provado através do diálogo científico e intelectual.

O Valor do Homem

A questão principal do método alcorânico é a natureza humana é o respeito a ela, o ensino ao homem de seus deveres e direitos para com seu Senhor e a humanidade, a proteção dos direitos e deveres através da relação com Deus e a sociedade. Aquele que não compreende o valor de sua condição humana jamais poderá adquirir respeito de seus semelhantes.

O Alcorão Sagrado enfatiza esse valor ao falar da relação entre Deus e o homem: “Enobrecemos os filhos de Adão e os conduzimos pela terra e pelo mar; agraciamo-los com todo o bem, e os preferimos enormemente à maior parte de tudo o que criamos.” (Alcorão Sagrado 17:70)

O Alcorão Sagrado, ao falar sobre o homem, fala de seu valor humano, não como um ser material que desempenha suas atividades por meios biológicos ou fisiológicos, ainda que o Alcorão Sagrado considere devidamente esses aspectos. O Alcorão Sagrado trata do homem por sua condição humana, um ser capaz de perceber as coisas, um ser livre que pode escolher o que é bom para si mesmo, dotado de moral, que ama o belo e o bem e que sente aversão ao mal, em sua vida diária. Sempre que o homem usa sua percepção e seus sentimentos, orientando-se para o que é bom e justo, se encaminha para sua “humanidade”. Pode, então, entender que é um ser humano, ao ser capaz de provar o que é justo e por fim ao que é injusto; quando está apto a rejeitar a opressão e a tirania, discernir a justiça, auxiliar o oprimido e humilhar o opressor. Pode entender que é um ser humano quando é capaz de usar sua percepção em seus assuntos, de resolver os problemas dos outros e sentir o que sentem numa situação de dificuldade, quando domina sua vontade ao ponto de usá-la quando se vê diante de uma tentação.

Sempre que um homem perder seu senso de humanidade, seu bom senso e vontade, não poderá discernir o certo do errado e o bem do mal. Não será capaz de tomar posição ao lado do oprimido ou do necessitado. Não terá clemência com o pobre e o necessitado, nem desejará o bem deles. Não poderá pagar o bem com o bem. Se transformará num animal, não poderá ser chamado de ser humano.

“Ou pensas que a maioria deles ouve ou compreende? Qual! São como o gado; mais irracionais ainda!” (Alcorão Sagrado 25:44)

“Temos criado para o inferno numerosos gênios e humanos com corações com os quais não compreendem, olhos com os quais não vêem, e ouvidos com os quais não ouvem. São como as bestas, quiçá pior, porque são displicentes. Os mais sublimes atributos pertencem a Deus, invocai-O; e evitai aqueles que profanam os Seus atributos, porque serão castigados pelo que tiverem cometido.” (Alcorão Sagrado 7:179,180)

Nesses versículos, o Alcorão Sagrado nos fala que a integridade da condição humana só pode ser alcançada quando o homem crê em alguns dos Nomes (ou Atributos) de Allah, tais como Haqq (Verdade), ‘Adl(Justiça), Afwu (Perdão), Rahmah (Clemência), Ihsan (Bondade), Hub (Amor), Khair (Excelência) e Jamal (Beleza).

O Onipotente cria e designa a vida com os seus valores, é por isso que a própria essência do homem se move para a divindade. Em vista desse fato, o Profeta (S.A.A.S.) nos convoca para o aperfeiçoamento por meio da prática desses atos, que o Alcorão Sagrado denomina de “excelência”. Ele (S.A.A.S.) diz: “Praticai os princípios de Allah.” O hadith profético também enfatiza a relação entre a crença e a prática do bem. O Profeta (S.A.A.S.) diz: “Os mais piedosos dentre vós são os de melhor moral.”

Quando o amor e a afeição se manifestam, e a luz da justiça brilha no mundo; quando o homem respeita os valores da justiça e do direito, e as pessoas se tratam com honestidade e bondade, o homem pode chamar a si mesmo de humano.

As armas químicas e biológicas e todos os demais aparatos de opressão e tirania aproximam o homem do mal e o tornam semelhante a um animal selvagem.

“… são como o gado; mais irracionais ainda!” (Alcorão Sagrado 25:44)

O versículo demonstra características distintas: a do homem mais selvagem do que um animal, que pratica a injustiça, a corrupção e o mal; e a do homem que pratica o bem e a justiça. Portanto, o homem civilizado, a quem o Alcorão Sagrado busca construir, é o homem da justiça, do amor e da bondade.

Com freqüência o Alcorão Sagrado visa proteger o homem da corrupção e do modo de vida que se assemelha aos dos animais selvagens, orientando-o para a boa moral e os valores elevados. Allah considera importante que o homem viva esta vida no esforço para a paz e os bons princípios. O Onipotente está ao lado do homem em sua luta contra Xaitan, uma vez que este é o maior inimigo do gênero humano desde o princípio.

O Alcorão Sagrado menciona o homem como o representante de Allah na terra. Explica a criação, o conflito e a submissão de todas as forças, com exceção do mal, ao homem; aborda os erros e o arrependimento, a vida na terra, a orientação e a mensagem (do Islam).

“…de quando teu Senhor disse aos anjos: Vou instituir um legatário na terra? Perguntaram-Lhe: Estabelecerás nela quem ali fará corrupção, derramando sangue, enquanto nós celebramos os Teus louvores, glorificando-Te? (Disse): Eu sei o que não sabeis”. (Alcorão Sagrado 2:30)

Nesse versículo, está evidente a ação do homem maligno neste mundo; espalhando a corrupção e o derramamento de sangue, se negando a cumprir suas promessas, e em seguida, menciona os anjos, o mundo da pureza e do bem. As criaturas na terra estão glorificando ao Senhor dos mundos, efetivando a paz e o bem. Por isso, a vinda de uma nova criatura levanta dúvidas. De fato, essa curta conversação mostra que a visão alcorânica a respeito da vida neste mundo é a visão do bem e da paz, da oposição ao mal, ao crime e à corrupção. O homem foi criado para pôr em prática o desenvolvimento do mundo com um bom comportamento.

“E ao povo de Çamud enviamos seu irmão Saleh, que lhes disse: Ó povo meu, adorai a Deus, pois, não tereis outra divindade além Dele. Ele foi quem vos criou da terra e vos enraizou. Implorai, então, Seu perdão, voltai a Ele arrependidos, porque meu Senhor está próximo e é Exorável.” (Alcorão Sagrado 11:61)

Nessa passagem, o Alcorão Sagrado fala da representação do homem na terra. O homem que assume todas essas responsabilidades, detém uma grandiosa missão (que lhe é confiada).

“Por certo que apresentamos a custódia aos céus, à terra e às montanhas, que se negaram, e temeram recebê-la, porém, o homem se encarregou disso, mas provou ser injusto e insipiente”. (Alcorão Sagrado 33:72)

E ele também assume obrigações e responsabilidades:

“Havíamos firmado o pacto com Adão, porém, esqueceu-se dele, e não vimos nele firme resolução.” (Alcorão Sagrado 20:115)

“Inquiriremos aqueles para quem foi enviada a Nossa Mensagem, assim como interrogaremos os mensageiros.” (Alcorão Sagrado 7:6)

Todos esses valores tornam o homem uma criatura civilizada, orientada pelos princípios do bem na direção da paz e da bem-aventurança.

Liberdade

A liberdade ou livre-arbítrio é um grande valor na essência do homem, significa o estado de ser livre em relação aos demais. A liberdade é a virtude de agir com vontade absoluta, isento da influência exterior.

Um exame profundo do Alcorão Sagrado nos fará entender que uma de suas finalidades é libertar o homem da servidão; para que seja livre em suas ações e em sua relação com Deus, podendo assim ordenar sua relação com si mesmo e com as outras criaturas.

Ao nos tornamos cientes do método islâmico de exortação à liberdade, aprendemos o fenômeno mais elementar, que o Alcorão Sagrado veio para libertar o homem. (Os principais pontos) desse método são:

1. Consistência Intelectual

2. Poder e Liberdade

3. Libertação do Dogmatismo Social

4. Liberdade Pessoal

1. Liberdade Intelectual

O ponto de partida para a liberdade humana é o intelecto, pois quando o intelecto se liberta do dogmatismo, atinge maturidade e se ilumina com a luz da compreensão e dos bons princípios, o homem passa a contar com os recursos práticos para ser livre e alcançar respeito. Entretanto, nada disso é possível sem o respeito à liberdade e os direitos alheios. O Alcorão Sagrado exortou o homem a libertar seu intelecto da superstição e da ignorância, a buscar o conhecimento e a instrução. Mediante esse processo podemos progredir e alcançar a liberdade. Verificamos essas exortações em alguns versículos sagrados e nas tradições proféticas.

Allah o Onipotente diz:

“Deus vos elucida os Seus versículos a fim de que mediteis.” (Alcorão Sagrado 2:219)

“… temos elucidado os versículos para os sensatos.” (Alcorão Sagrado 6:98)

“… na mudança dos ventos, nas nuvens submetidas entre o céu e a terra (nisso tudo) há sinais para os sensatos”. (Alcorão Sagrado 2:164)

“… e dize: Ó meu Senhor, aumenta-me em sabedoria.” (Alcorão Sagrado 20:114)

“… Deus dignificará os crentes dentre vós, assim como os sábios…” (Alcorão Sagrado 58:11)

Desse modo o Alcorão Sagrado exorta os humanos ao raciocínio, à boa compreensão e à busca do conhecimento. Os muçulmanos entenderam esse chamado e o tornaram a base para o conhecimento e o entendimento, sendo então, capazes de desenvolver métodos científicos de pesquisa.

Nas tradições proféticas também encontramos a exortação a respeito do intelecto e de sua utilização na orientação do homem para a senda reta. Relata-se que o Imam Al Báqir (A.S.) tenha dito: “Quando Allah o Poderoso criou o intelecto, Ele deu a ordem para que falasse, e disse a ele: “Adianta-te”. Então, o intelecto adiantou-se. Em seguida, Ele disse: “Pensa” e o intelecto pensou; em seguida, Ele disse: Eu juro por minha majestade e grandeza, amo-te mais do que a todas as criaturas que criei, e Eu te aperfeiçoei com aquilo que desejei. Assim, Eu sou Quem te comanda (no que fazer ou não fazer); e Eu o punirei (se negligenciares o teu dever) e Te recompensarei (se obedeceres ao Meu comando).”

Esse hadith demonstra que o intelecto é a melhor e mais valiosa das criaturas, na visão do Criador. No hadith, a mensagem é dirigida ao intelecto, que é, a potencialidade humana de orientação para o bem e a vida celestial. Na verdade, quando todos os obstáculos são removidos do caminho do intelecto, é capaz de refletir sobre o mundo social, descobrir as leis, dar solução aos problemas e fazer descobertas científicas, já que pode entender o conceito da Mensagem Divina baseado na compreensão sólida, tal como foi designado pela própria mensagem, o que dá ao homem o poder singular de compreender e inferir leis a partir disso. Allah o Poderoso diz: “Não meditam, acaso, no Alcorão Sagrado, ou seus corações são insensíveis?” (Alcorão Sagrado 47:24)

Ele exorta o homem a refletir sobre os versículos do Alcorão Sagrado e sobre a compreensão científica. Com esse objetivo, concedeu ao homem a capacidade de raciocínio e entendimento do significado da Mensagem do Livro.

Allah liberta o conhecimento do Alcorão Sagrado (a fonte de todas as ciências islâmicas) do dogmatismo, do obscurantismo e das superstições. Mas, devemos saber que o sentido de intelecto aqui frisado, é o do intelecto natural ou científico, que é íntegro, por seguir as leis da lógica.

2. Poder e Liberdade

Se o homem for deixado com a natureza, sem nenhum poder externo para governá-lo, será livre como os pássaros do céu ou os peixes do mar. Contudo, a presença do poder ou de governos despóticos, ou ainda, a opressão dos mais fortes sobre os fracos, são fatores que privam o homem de sua liberdade e vontade.

Poder, em seu sentido legal ou intelectual, é uma autoridade que possui a competência para o uso da força, para governar a sociedade contra o caos ou outros fenômenos que ameacem a segurança social. É a autoridade investida de responsabilidade na direção do homem para o direito, para proteger sua vontade e liberdade na realização de seu interesse legal. Portanto, é o poder que representa a vontade humana, seus interesses pessoais e sociais.

“Deus manda restituir a seu dono o que vos foi confiado; quando julgardes vossos semelhantes, fazei-o com equidade…” (Alcorão Sagrado 4:58)

“Destinamos a morada no outro mundo àqueles que não se envaidecem nem fazem corrupção na terra; e a recompensa será dos tementes.” (Alcorão Sagrado 28:83)

Do ponto de vista islâmico, a autoridade deve ser baseada no direito e na justiça, ordenar o bem e coibir o mal, livre de corrupção, injustiça e opressão.

Quando fala de governos despóticos, que suprimem a liberdade e a vontade, praticando a opressão, o Alcorão Sagrado toma o Faraó como exemplo:

“É certo que o Faraó se envaideceu na terra (do Egito) e dividiu em castas o seu povo; subjugou um grupo deles, sacrificando seus filhos e deixando com vida suas mulheres. Ele era um dos corruptores.” (Alcorão Sagrado 28:4)

Nesse versículo, vemos que a crítica e a condenação da injustiça e da tirania se devem ao modo de pensar e a linguagem. Essa injustiça impede a liberdade e os direitos do homem. Por essa razão, o Alcorão Sagrado formulou a teoria da justiça política ao tratar do exercício do governo. Abre, pois, um caminho para a política da liberdade, impedindo a tirania governamental. As leis alcorânicas retiram o poder de um governante injusto, considerando-o indigno de liderar o povo. Podemos verificar isso no diálogo de Allah com o Profeta Abraão (A.S.): “Ele disse: Designar-te-ei Imam dos homens. Abraão perguntou: E também o serão os meus descendentes? Respondeu-lhe: Minha promessa não alcançará os iníquos”. (Alcorão Sagrado 2:124)

Em outro versículo, Allah o Poderoso diz: “E não vos inclineis para os iníquos, porque o fogo se apoderará de vós, e não tereis, fora de Deus, protetores, nem sereis socorridos”. (Alcorão Sagrado 11:113)

Portanto, um opressor não está apto a ser um imam (líder temente) já que governar o povo é um de suas principais obrigações. Aproximar-se de um opressor é colaborar com ele ou acatar sua crueldade. O Santo Profeta (S.A.A.S.) disse: “O melhor jihad é dizer a verdade diante de um líder injusto.” E o Imam As Sadiq (A.S.) disse: “Um opressor, aquele que o apóia, e aquele que se sente bem com ele, são parceiros”. O que demonstra a ilegitimidade de um governo injusto, sendo, pois, necessária a luta contra ele. Em muitas passagens, o Alcorão Sagrado condena um governo injusto e denomina um líder desse gênero de “taghut” (ídolo).

“Adorai a Deus e afastai-vos do sedutor!…” (Alcorão Sagrado 16:36)

“Quem renegar o sedutor e crer em Deus, ter-se-á apegado a um firme e inquebrantável sustentáculo, porque Deus é O que tudo ouve, Sapientíssimo”. (Alcorão Sagrado 2:256)

Na visão do Alcorão Sagrado, a opressão possui um sentido muito amplo; infidelidade (descrença), politeísmo, impedir a liberdade, os crimes e a degradação moral são formas de opressão. Assim, o sentido de opressão abrange diferentes ações no âmbito social. Por essa razão, os Imames da orientação (A.S.) e os juristas islâmicos baseiam seus veredictos na proibição da ajuda ao opressor e na ilegitimidade de um governo desse gênero.

3. Libertação do Dogmatismo Social

O homem é criado num ambiente social, assim, é influenciado por sua cultura e crenças. Ele se encontra como parte de um ambiente particular no que se refere ao seu pensamento e comportamento. Porém, nem tudo que o homem herda da sociedade é bom ou racional, e o ambiente em que vive nem sempre é conveniente. A força social também busca impedir a vontade humana por reforma ou liberdade, condenando a ação de um indivíduo que se oponha, sancionado ações (e mesmo financiando) que possam por em risco sua segurança; assim, tal indivíduo se vê moral e espiritualmente oprimido. Muitas vezes, o Alcorão Sagrado exorta o homem a libertar-se da má herança social, pelo emprego da liberdade na busca de uma renovação da sociedade, que seja adequada a sua época.

O Alcorão Sagrado condena aqueles que abandonam seu intelecto e vontade, imitando o que herdaram de atraso social. Ao falar de tal comportamento, Allah o Poderoso diz: “… dizem: Qual! Só seguiremos os passos de nossos pais! Os seguiriam ainda que seus pais fossem destituídos de compreensão e orientação?” (Alcorão Sagrado 2: 170) “Responderam: Não, porém, assim encontramos a fazer os nossos pais.” (Alcorão Sagrado 26:74)

De fato, entre os principais fatores dessa exortação está a libertação das heranças sociais infundadas e do comportamento corrupto, que servem de base para o obstáculo à liberdade e a livre vontade do homem.

4. Liberdade Pessoal

Significa a liberdade de ação e vontade. Na visão do Alcorão Sagrado, o homem é uma criatura dotada de uma posição digna. Possui sua própria vontade, seus próprios direitos, suas necessidades, sentimentos, esperanças e idéias. Na verdade, o homem não é capaz de chegar à totalidade de sua posição a menos que compreenda a si mesmo.

Quando o homem se encontra num estado de opressão e injustiça, vivencia a privação e o sofrimento. Comumente, o homem sofre angústias espirituais e físicas em razão de descabidas restrições ou limitações (a ele impostas). O Alcorão Sagrado qualifica o homem como um ser dotado de aspirações e sentimentos, que são, em si, dádivas de Allah. Assim sendo, permitir sua liberdade de expressão é justiça, o que corresponde à justiça e a sabedoria de Allah em Suas criaturas, pois Allah criou os sentimentos e as aspirações no homem para que fossem atendidos. Em vista disso, as leis islâmicas visam atender a todas as necessidades humanas. Essas leis correspondem à natureza e dão ao homem a liberdade de expressão, porém, ele é responsável e terá que responder por tudo que fizer. Devemos, entretanto, entender que essa responsabilidade jamais será um obstáculo à vontade e a liberdade humana. O propósito essencial dessa responsabilidade é ordenar as fontes de expressão para preservar os interesses pessoais e sociais, porque a corrupção e a prática do mal não são expressões de liberdade. A finalidade da liberdade é expressar as motivações naturais do ser, como a necessidade sexual, a necessidade de segurança, o amor à beleza e a relação com os semelhantes.

Não há dúvida que, o ser natural do homem nunca estará inteiramente livre dos desejos e motivações da corrupção que têm origem na sociedade e em outras fontes. Em razão disso, a lei divina veio para purificar a ele e a sociedade de todas as formas de corrupção.

A mensagem islâmica organizou um método completo e científico para a proteção da sociedade em relação à corrupção.

A ação do homem se divide em três principais grupos:

1- Mubah (permissível): Qualquer coisa (ou ação) é lícita a menos que seja declarada ilícita. Isto é, a base de toda coisa é a licitude, como é mencionado pelos juristas.

O Imam As Sadiq (A.S.) disse: “Em tudo, há o halal (lícito) e o haram (ilícito). Porém, uma coisa é halal até que fique claro para ti que seja haram (ilícita).” Essa lei mostra que o homem é livre para usar qualquer coisa, exceto aquilo que seja declarado ilícito.

Além disso, o Alcorão Sagrado refutou qualquer coisa que seja um obstáculo à liberdade humana, impedindo seu caminho para as boas coisas da vida. Allah o Onipotente diz: “Ó crentes, não proibais as coisas boas que Deus permitiu …” (Alcorão Sagrado 5:87)

2 – Haram (proibido): Trata-se do limite nas coisas, o qual o homem não pode transgredir. Essa proibição foi prescrita para o benefício e a proteção do próprio homem, para a preservação de seus próprios interesses, como é o caso da proibição da cobrança de juros, do monopólio e da manipulação dos preços no comércio. A proibição funciona como uma proteção contra o abuso da liberdade e a ganância. Sem dúvida, a lei da liberdade de posse e a proibição do lucro a todo custo protege a sociedade do egoísmo e do caos econômico.

De modo idêntico, a proibição do consumo de bebidas alcoólicas, do adultério e dos crimes também garantem o bem-estar social, protegendo-a das graves conseqüências de tais práticas.

O Alcorão Sagrado explica a essência da proibição da seguinte forma: “Meu Senhor vedou as obscenidades, manifestas ou íntimas…” (Alcorão Sagrado 7:33) “(Mensageiro que) lhes recomenda o bem e lhes proíbe o ilícito…” (Alcorão Sagrado 7:157)

Assim, a proibição se justifica pela proteção e não é um meio de impedir a liberdade humana.

3 – Wajib (Obrigatório): Pela obrigatoriedade, a lei islâmica especifica a responsabilidade do homem consigo mesmo, com Deus, a família, a sociedade e a humanidade. Especifica sua responsabilidade nesta vida e na outra, para proteger o interesse do homem e repelir a corrupção. Em vista disso, os juristas resumem a essência da lei islâmica dizendo: “O Islam é para proteger o interesse humano e repelir a corrupção”. Estudam os princípios da lei e concluem que há um caráter fundamental em toda norma obrigatória ou proibitiva, ou seja, que foi prescrita em razão da existência de um interesse ou de uma (possível) corrupção nela. Por isso é que os xiitas imamitas e os mu’utazilitas afirmam que o bem e o mal, nas coisas e nas ações humanas, são subjetivos.

O Supremo Legislador (Allah) prescreveu a Lei de acordo com a natureza. Determinou qualquer coisa prejudicial como “haram” (proibida) e qualquer coisa útil, que possa afastar o que seja prejudicial, como “wajib” (obrigatória).

Desse modo, na legislação islâmica, haram e wajib se tornaram as fontes para a especificação da ação do homem. Não se trata de uma questão dogmática fora do âmbito da ciência. Na verdade, as pesquisas científicas e as estatísticas fundamentadas comprovam esse método de análise. A partir desse método, o sentido de liberdade no Islam se torna evidente tanto quanto o sentido da proibição: a proteção do interesse humano e o afastamento do que é prejudicial. Seu objetivo não é impedir a liberdade ou os direitos naturais do homem.

Amor

Como o homem possui uma mente e uma vontade própria, também possui sentimentos. Possui uma alma e também um corpo dotado de vários atributos. Todos esses aspectos funcionam segundo leis psicológicas e biológicas.

O amor é um estado espiritual que surge no íntimo do homem para proporcionar-lhe respeito e bem-estar. Unindo-o aos seus entes queridos de tal maneira que se “tornem um só ser”. O amor é uma relação espiritual e um sentimento que vive dentro do homem. Se manifesta de formas variadas, tais como a gratidão, o beijo, a saudação, o aperto de mão, o aconselhamento, o afastamento do que é prejudicial, o presente dado, a visita, a troca de fotografias ou a opção de morar junto a pessoa amada.

Verificamos o amor em dois campos: no campo material (em que se manifesta pelas coisas do mundo) e no campo espiritual, que é o amor a Allah e aos valores espirituais, como à retidão e à justiça.

Em virtude da importância e contribuição do amor para o indivíduo e a sociedade, o Islam o tem em alta conta, considerando-o uma de suas metas, a qual pode ser alcançada de maneiras diversas. Podemos compreender o valor dado ao amor no Islam mediante a definição a ele dada: O Islam se define como amor. Assim, o amor é ideal prioritário no Islam; o amor a Allah, o amor ao bem e aos seres humanos. O Profeta (S.A.A.S) disse: “Juro por aquele que tem minha vida em Suas mãos, nenhum de vós poderá entrar no Paraíso a menos que creia, e nunca será um crente a menos que ame ao próximo. Posso vos instruir sobre algo que, se praticardes amareis uns aos outros? Saudai-vos mutuamente.”

No “Kitab Al Mahasin” relata-se de Abu Ja’far (A.S.) que certo dia ele disse a Ziyad: “Ai de ti! Há, acaso, algo na religião além do amor? Não viste o que disse Allah o Poderoso: “Se amais a Allah, segui-me! Allah vos amará e vos perdoará os pecados.” Não viste o que disse Allah o Poderoso a Mohammad (sobre o Profeta): “Ele tornou a fé querida para ti e a adornou em teu coração.” E também disse: “Assim, a religião é amor e amor é religião”.

Essa definição de religião e amor no mundo dos homens demonstra a extensão do amor na religião, uma vez que a religião é amor por Allah, pelos seres humanos e pelo bem; e o amor é sagrado quando é destinado a Allah.

Atentando para a definição de amor no hadith, e contemplando sua abrangência cultural e grande valor na vida humana, podemos entender o quanto precisamos de seu valor cultural e de sua influência em nossa vida.

Muitas vezes, o homem, cuja civilização material é cheia de hostilidade, o que provoca guerras, massacres, estupros, destruições de cidades e todas as outras formas de violência em razão da vingança, precisa do amor. Quase todos os dias uma longa lista de ações desumanas e crimes, que parecem ter sido cometidos por animais selvagens, são registrados. O medo e a desgraça dominam a maior parte da humanidade por causa da falta de amor, e com isso, os relacionamentos se transformam em afastamento, desarmonia, hostilidade e ódio. De fato, a humanidade precisa do amor islâmico, o amor que é livre de qualquer interesse material, o verdadeiro amor espiritual.

O conceito de amor não é um mero valor filosófico. O Islam o torna um método prático que preenche o coração, a mente e o espírito humano. O amor no Islam é: o Amor a Allah, o amor aos pais, o amor a esposa, o amor aos filhos, o amor ao governante justo, o amor a terra e ao país, o amor de um governante por seu povo, o amor aos parentes, o amor as pessoas, o amor a beleza, o amor a natureza, o amor ao conhecimento, o amor ao bem.

Aquele que ama a Allah, ama o Islam. O Alcorão Sagrado explica isso dizendo: “Dize: Se amais a Allah, segui-me! Allah vos amará…” (Alcorão Sagrado 3:31)

No Islam, o amor a Allah significa amar aos demais crentes por Allah, desejar o bem para o gênero humano e desejar o bem e a perfeição no que se faz, no que se diz e no modo em que se vive. Amar a Allah é amá-Lo por Seus Nomes mais belos: o Clemente, o Misericordioso, o Remissório, o Bondoso, o Paciente, o Grato, o Justo, o Que responde ao chamado dos aflitos. A filosofia do amor divino é a filosofia do amor e da afeição, que preenche o mundo dos seres viventes e que os encoraja a buscar a perfeição. (O amor) cria no espírito humano a busca pela beleza no mundo material e no mundo dos valores imateriais. Assim sendo, o crente vê a existência de Allah e o Alcorão Sagrado por todos os Seus Nomes mais belos e em todas as coisas que o rodeiam. O Alcorão Sagrado chama a Allah, o Altíssimo, de ‘Ilah’ (divindade). O termo árabe “ilah” é derivado de “al walah”, amor ou contemplação da qualidade de amado. O relacionamento entre Allah e Suas criaturas se baseia no amor e no carinho, assim, Ele chama a Si mesmo de “O Clemente”.

Relata-se em algumas tradições que Allah o Poderoso não odeia Suas criaturas, mesmo que se afastem Dele, na verdade, Seu desagrado é por suas más características e ações. O Alcorão Sagrado explica o amor de Deus ao homem, apresentando-O como um amante que ama qualquer pessoa que possua qualidades nobres:

“Deus ama os benfeitores”. (Alcorão Sagrado 2:195)

“… Deus ama os que se arrependem e se purificam.” (Alcorão Sagrado 2:222)

“… Deus ama os tementes”. (Alcorão Sagrado 3:76)

“… Deus ama os perseverantes.” (Alcorão Sagrado 3:145)

“Deus ama os que agem com justiça.” (Alcorão Sagrado 5:42)

Em muitas passagens o Alcorão Sagrado admoesta os que não conhecem o valor do amor divino, dizendo que se derem as costas a Deus Ele criará outras pessoas que o amarão e Ele as amará. Allah o Onipotente quer construir a vida com base no amor entre Ele e Suas criaturas, e no amor delas por seus semelhantes, portanto, Ele alerta o homem acerca do amor dirigido a outros (politeísmo) em lugar do amor a Ele: “Entre os humanos há aqueles que adotam, em vez de Deus, parceiros (com ele) para os quais professam igual amor que a Ele…” (Alcorão Sagrado 2:165)

Dessa forma o Alcorão Sagrado descreve o fundamento do amor divino, uma vida repleta de amor e carinho. O amor de Allah protege a alma humana das divergências, purificando-a da hostilidade e do ódio. O Profeta (S.A.A.S.) orienta seus seguidores tomando por base o amor e a submissão a Allah. Relata-se que tenha dito: “O amor de um crente por outro, pelo aprazimento de Allah, está entre os principais ramos da fé. Aquele que ama por causa de Allah, odeia por causa de Allah, é generoso por causa de Allah e que retém a dádiva por causa de Allah, está entre os puros.”

Numa outra tradição há a tentativa de semear o amor nos corações dos crentes e impedir a hostilidade e o ódio. O Profeta (S.A.A.S.) diz: “Aquele que ama a seu irmão, deve instruí-lo.”

O Alcorão Sagrado ensina aos muçulmanos como purificar seus corações da hostilidade e da inveja, de modo a revestirem-se de amor. E diz: “… e não inspires em nossos corações rancor aos fiéis. Ó Senhor nosso, certamente És Compassivo, Mui Misericordioso.” (Alcorão Sagrado 59:10)

O Profeta (S.A.A.S.) não predicava somente em teoria, ensinava na prática a formação do homem. Assim, verificamos como ele expressava o valor do amor ao pregar a fraternidade entre os muçulmanos. Certa feita, uniu de modo fraterno a todos os seus companheiros e ele próprio declarou sua união fraterna a Ali Bin Abi Talib(as). Depois desse acontecimento, a comunidade muçulmana se tornou um símbolo de amor e fraternidade e esta se tornou uma expressão de sacrifício. Muitas vezes, um Ansar (habitante de Medina) partilhava seus bens com um irmão Muhajirin (imigrante de Makka). Allah o Poderoso elogiou essa nobre prática dizendo:

“Os que antes deles residiam (em Medina) e haviam abraçado a fé, mostram afeição por aqueles que migraram para junto deles e não nutrem inveja em seus corações, pelo que (os migrantes) receberam (dos despojos); antes, preferem-nos em detrimento de si mesmos. Sabei que aqueles que se preservarem da avareza serão os bem-aventurados.” (Alcorão Sagrado 59:9)

“E aqueles que os seguiram dizem: Ó Senhor nosso, perdoa-nos, assim como também aos nossos irmãos, que nos precederam na fé, e não inspires em nossos corações rancor pelos fiéis. Ó Senhor nosso, certamente És Compassivo, Mui Misericordioso.” (Alcorão Sagrado 59:10)

Em virtude desses sacrifícios, a geração precedente continuou esse processo de amor e fraternidade, herdou esse senso de irmandade, e não hostilidade ou ódio.

O Alcorão Sagrado expressou esse costume social inédito na história humana, dizendo:

“E aqueles que os seguiram dizem: Ó Senhor nosso, perdoa-nos, assim como também aos nossos irmãos que nos precederam na fé, e não inspires em nossos corações rancor aos fiéis. Ó Senhor nosso, és Compassivo, Mui Misericordioso.” (Alcorão Sagrado 59:10)

A súplica nesse versículo e em outros semelhantes é a verdadeira e pura expressão do amor entre os crentes, porque uma pessoa ora pelo bem de quem ama. Com base no amor o Islam constrói a família, a relação entre os cônjuges os pais e os filhos.

O Imam As Sadiq (A.S.) ao falar sobre o amor a mulher no Islam, disse: “Eu não creio que um homem se elevará na fé a menos que aumente o seu amor pelas mulheres.”

O Profeta (S.A.A.S.) ordenou aos homens que demonstrassem seu amor por suas esposas a fim de infundir o carinho no coração delas. Ele disse: “O ato de um homem dizer a sua esposa: “eu te amo”, nunca se dissipará no coração dela.”

O amor circula no centro da família, e com isso, preenche o coração dos filhos e dos pais. O Islam ordenou que os pais educassem seus filhos acerca do amor e do respeito entre eles e as outras pessoas. Assim, o amor é uma necessidade espiritual que, se não for atendida, provocará distúrbios graves. Por isso, o Islam ordenou aos pais que tratassem os filhos com o espírito de amor e bondade, para que estes vivessem sob a proteção do amor de seus pais.

O Profeta (S.A.A.S.) também encoraja o amor aos filhos, de modo a edificar essa atitude amorosa no coração dos jovens. Imam As Sadiq (A.S.) relatou dele, o seguinte: “Amem aos vossos filhos e sede bondosos com eles. Se prometerdes algo a algum deles, cumprais a promessa, pois eles vos consideram seus provedores.”

O Imam As Sadiq (A.S.) também disse: “Allah o Poderoso terá misericórdia e perdoará a pessoa pelo amor que tiver por seu filho”.

Com o intuito de formar um relacionamento sólido entre pais e filhos, o Profeta (S.A.A.S.) incentiva os pais a beijarem seus filhos, pois isto é um sinal de amor e de bom relacionamento. O Profeta (S.A.A.S.) disse: “Aquele que beija seu filho, Allah o recompensará com algo bom.”

O Alcorão Sagrado também enfatiza que o direito dos pais está acima dos outros direitos. Eis alguns exemplos:

“Agradece a mim e a teus pais porque o retorno será a Mim.” (Alcorão Sagrado 31:14)

“O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele; que sejais indulgentes com vossos pais, mesmo que a velhice alcance um deles ou ambos, em vossa companhia; não os reproveis nem os repilais, mas, dirigi-lhes palavras bondosas.” (Alcorão Sagrado 17:23)

“… comporta-te com eles bondosamente neste mundo…” (Alcorão Sagrado 31:15)

“E estende sobre eles a asa da humildade e dize: Ó Senhor meu, tem misericórdia de ambos, como eles tiveram misericórdia de mim, criando-me desde pequenino.” (Alcorão Sagrado 17:24)

Na realidade, o amor aos pais alcançou um status similar ao do ‘ibadah (adoração). A respeito disso o Profeta (S.A.A.S.) disse: “O olhar amoroso de um filho para o seu pai, é uma forma de adoração (a Deus).”

O amor aos pais é um fenômeno moral que o homem sente profundamente em seu ser. Os pais são a fonte do bem e do amor para o homem neste mundo. É direito deles serem tratados com bondade, como o Alcorão Sagrado destacou ao dizer: “Há recompensa devida ao bem, senão o bem?” (Alcorão Sagrado :55:60)

O Imam Al Sadiq (A.S.) foi perguntado: “Quais são as melhores ações?” Ele respondeu: “Praticar a prece em seu tempo devido, obedecer os pais e o Jihad na causa de Allah.”

O Islam persiste na formação da vida com base no amor, no relacionamento com Allah o Poderoso, entre os familiares e com um governante justo; isto é, num governo fundamentado na bondade para com a comunidade.

O Profeta (S.A.A.S.), ao definir esse conceito, disse: “O melhor de vossos líderes é aquele que vos ama e é amado por vós.”

O amor no Islam não é apenas um sentimento que liga o homem a Deus, ou com seus semelhantes; mas é uma relação espiritual do homem com a natureza e com tudo que o rodeia. Que bela expressão disso, está no dizer do Profeta (S.A.A.S.) ao descrever Allah o Onipotente: “Allah é belo é ama a beleza.” De beleza similar é a expressão do Profeta (S.A.A.S.) sobre si mesmo e seu sentimento de amor a natureza, em seu esforço em fazer com que os homens amassem a natureza. Relata-se que, certa vez, quando ele e seus companheiros passaram perto da montanha de Uhud, ele disse: “Nós amamos esta montanha e ela também nos ama.”

Sem dúvida, da mesma maneira que o amor possui um papel positivo na vida humana, também tem um lado negativo quando não é usado da maneira apropriada, como amor aos filhos, à esposa ou aos amigos, de modo exagerado. O excesso de amor pelos filhos faz com os pais os atendam de maneira ilimitada, sem orientá-los ao que é certo e sem afastá-los do que possa ser prejudicial. O excesso de amor por uma esposa ou um esposo pode resultar em muitas crises familiares e em prejuízo aos outros parentes ou ao próprio relacionamento. O Profeta (S.A.A.S.) disse: “Ama a teu amigo moderadamente, pois algum dia ele pode se tornar seu inimigo; odeia a teu inimigo moderadamente, pois algum dia ele pode se tornar seu amigo.”

Freqüentemente vemos que o amor leva um homem à parcialidade e ao preconceito, ou o leva a infringir os direitos alheios. Esse é o gênero de amor que o Islam proíbe. O Imam As Sadiq (A.S.) disse: “Um crente é aquele que quando é agraciado com alguma coisa, não a utiliza para o mal, e que, quando é ofendido, isso não o impede de dizer a verdade; e que, quando é investido de poder, isso não o faz trair aos outros.”

Arte e Beleza

O sentimento de beleza ou a inclinação natural para ela expressa o que existe no ponto mais profundo da alma humana. A essência humana se inclina à beleza e também possui uma aversão natural pelo que é mal.

O sentimento de beleza e o amor por aquilo que é bom, purificam e refinam o comportamento e os hábitos do homem. Quanto mais esse sentimento cresce no ser humano, mais sua humanidade se desenvolve. O valor da beleza, a criação e a relação com a beleza desempenham um papel vital na cultura e na civilização humana. Portanto, toda civilização que seja desprovida de beleza ou de meios para vivenciá-la, não está em harmonia com a natureza humana e não é capaz de atender as necessidades do homem.

A base da beleza pode ser vista no mundo natural, o que nos atrai para ele. Podemos ver a beleza no mundo vegetal e nos pássaros, nas montanhas, nos rios e cataratas, e também nas formas harmoniosas do homem, no céu, nas estrelas e na lua, nas nuvens, no arco-íris e na chuva. Podemos ver a beleza nas fontes, no sorriso de uma criança, na variedade de peixes ou de frutos e no oceano. Também vemos a beleza nas coisas inventadas pelo homem, nos edifícios, auto-estradas, nas belas confecções, na arte, nas estantes, nos poemas, nos tapetes, etc.

A beleza natural atrai o homem, e inspirado na natureza ele expressa seus sentimentos e cria coisas novas. Sem dúvida, a contemplação da beleza é uma necessidade espiritual. Arte, literatura, sons melodiosos e outras modalidades de expressão artística expressam a beleza e os sentimentos. Portanto, a abordagem islâmica da arte e da beleza é positiva. O Islam considera o homem uma criatura que (por natureza) ama a beleza, e promete a ele a beleza na vida futura. A descrição do Paraíso com seus palácios, jardins, rios, fontes, jovens, etc, indicam a beleza. A arte se desenvolveu sob o Islam e os muçulmanos testemunharam a mais sublime beleza na eloqüência do Alcorão Sagrado, que em si mesmo é um milagre.

O próprio Alcorão Sagrado exorta os crentes a lê-lo de uma forma melodiosa. Com esse fito, foram criadas normas de leitura do Alcorão Sagrado com a máxima precisão de pronúncia do idioma árabe clássico. Na atualidade, a leitura do Alcorão Sagrado com a observância de suas normas se tornou uma ciência.

“… e recita fervorosamente o Alcorão Sagrado.” (Alcorão Sagrado 73:4)

Hudhaifa (que Allah se compraza com ele) disse: “Uma noite, eu visitei o Profeta (S.A.A.S.) e orei com ele. O Profeta (S.A.A.S.) começou recitando com uma voz intermediária (nem alta, nem baixa demais).”

Na arte e na cultura muçulmana encontramos uma grande quantidade de exemplos do patrimônio cultural em gravuras e outras obras valiosas. Nas mesquitas, nas paredes e nas pinturas observamos a importância dada à beleza e a arte no Islam, e a capacidade artística dos muçulmanos.

As edificações, os utensílios e as pinturas que chegaram até nós são expressões das grandes civilizações do mundo islâmico nos séculos passados. Todas essas manifestações artísticas se baseiam nas leis da jurisprudência islâmica. Podemos encontrar no Alcorão Sagrado e nos ahadith o incentivo a beleza e a excelência.

O Alcorão Sagrado exorta os muçulmanos à beleza e à excelência, ao mesmo tempo que, condena as coisas impuras e más. Diz Allah o Poderoso:

“Quem pode proibir as galas de Deus e o desfrutar dos bons alimentos que Ele preparou para Seus servos? Dize-lhes ainda: Essas coisas pertencem aos que crêem, durante a vida neste mundo; porém, serão exclusivas dos crentes no Dia da Ressurreição…” (Alcorão Sagrado 7:32)

“Ó Filhos de Adão, revesti-vos de vosso melhor atavio quando fordes às mesquitas…” (Alcorão Sagrado 7:31)

“Tudo o que existe sobre a terra, criamo-lo para ornamentá-la a fim de testá-los e vermos aqueles, dentre eles, que melhor se comportam”. (Alcorão Sagrado 18:7)

O Profeta (S.A.A.S.) disse: “Deus é belo e ama a beleza.” E também disse: “nenhum homem entrará no Paraíso enquanto houver em seu coração um átomo de arrogância ou orgulho.”

Certamente que Deus é belo e ama a beleza, e isso não é arrogância. Arrogante é aquele que fecha seus olhos para a verdade e desrespeita as pessoas.

No Islam, o conceito de beleza é sublime. Abrange o modo de pensar e agir, não está apenas no sentido da palavra, mas também na sonoridade e em outros aspectos. Assim, as ações humanas se dividem em boas e más. Os teólogos discutiram longamente esse tópico. Os Mu’utazilitas e os Xiitas Duodecimanos dizem que o bem e o mal são princípios racionais, não legislativos, ou seja, a ação do homem é boa em si mesma ou é má em si mesma. Somente a lei islâmica define o tópico da ação. Portanto, a proibição de alguma coisa pela shari’ah revela o mal que há nela, o mesmo ocorre no procedimento de tornar algo compulsório, nesse caso, a lei revela o benefício que há nisso. De modo que, a permissão de alguma coisa demonstra a não existência de algum mal nela. Essas definições mostram a dimensão alcançada pela civilização islâmica no trato das atividades humanas.

Bondade e Simpatia

Quase a todo instante vemos na mídia a maldade humana e os seus crimes contra os próprios seres humanos. Todo dia testemunhamos a opressão, os assassinatos em massa, a tortura e outras práticas cruéis veiculadas na imprensa. Também vemos a descoberta de corpos de vítimas dessas atrocidades praticadas; as prisões e os campos de concentração que são equipados para torturas e mutilações, os massacres, o choro dos que são torturados e dos que buscam socorro, as filas de órfãos e desabrigados. Recebemos essas notícias de diferentes partes do mundo, em nossos lares e locais de trabalho. Todos esses exemplos da maldade humana nos são narrados. Infelizmente, todas essas crueldades não são suficientes, uma vez que o homem considera esses atos provas de sua bravura ou um modo de defender sua ideologia. Para cobrir seus crimes cria novos termos: nacionalismo, separatismo, interesses legítimos, lei, etc. Entretanto, o que o homem esquece é que todos esses pretextos, ainda que comprovadamente se justifiquem para a defesa ou proteção, representam ações criminosas e cruéis, que privam o homem de sua humanidade.

O problema principal na cultura humana é a ausência de consciência e sentimento. De fato, se o homem não tiver misericórdia, também estará desprovido de boa parte de sua condição humana. A falta de consciência ou sentimento é natural num indivíduo mau, que não crê em valores morais, em Deus ou na vida no Além. Tais problemas não podem ser evitados a menos que se retorne aos valores morais e a Deus Onipotente, Que criou todos os seres e atende todas as suas necessidades por Sua misericórdia.

“O Clemente. Ensinou o Alcorão Sagrado. Criou o homem e ensinou-lhe a eloquência.” (Alcorão Sagrado 55:1 a 4)

“Ó Senhor nosso, Tu que envolves todas as coisas com a Tua misericórdia e o Teu conhecimento…” (Alcorão Sagrado 40:7)

Se a lei de Allah se tornar a orientação do homem, então, este definitivamente mudará da condição de vítima para a de verdadeiro servo de Allah.

Em toda religião divinamente revelada, vemos que Deus Onipotente trata o homem com clemência e carinho, e chama a Si mesmo de o Clemente, o Misericordioso. Também verificamos que, no Alcorão Sagrado, cada capítulo se inicia com a frase “Em Nome de Deus o Clemente o Misericordioso”, de modo a fortalecer no íntimo do homem a imagem da bondade de Deus.

O Alcorão Sagrado chama o Profeta (S.A.A.S.) de “o mais bondoso e compassivo”: “Chegou-vos um Mensageiro de vossa raça, que se apieda de vosso infortúnio, anseia por proteger-vos, e é compassivo e misericordioso com os fiéis.” (Alcorão Sagrado 9:128)

E afirma que ele foi enviado como misericórdia a toda humanidade: “Não te enviamos (ó Mohammad) senão como misericórdia para com os mundos.” (Alcorão Sagrado 21:107)

O Profeta (S.A.A.S.) demonstrou misericórdia e bondade em todas as suas características morais e em sua conduta, ao ponto de se preocupar enquanto orava, quando ouvia uma criança chorando. Ele demonstrava clemência e bondade mesmo com os seus inimigos, e também com os animais.

Relatou-se que certa vez o Profeta (S.A.A.S.) e seus companheiros caminhavam juntos durante uma das guerras em que combateram, quando encontraram o ninho de uma ave. Alguns companheiros pegaram os pintinhos no ninho e a mãe começou a sobrevoar e a emitir um som alto, como a pedir que devolvessem seus filhotes. Então, o Profeta (S.A.A.S.) olhou para ela com bondade e ordenou aos seus companheiros que devolvessem os pintinhos ao ninho.

A clemência e a bondade do Profeta (S.A.A.S.) com os seus inimigos pode ser verificada em sua biografia. Os historiadores registraram como ele ficou irritado com Sa’ad bin Ubadah, quando chegaram às portas de Makka. Relatou-se que Sa’ad estava gritando: “Hoje é o dia do massacre, hoje é o dia do sacrilégio”. Ao ouvir aquilo, o Profeta (S.A.A.S.) aborreceu-se e disse a ele: “Hoje é o dia do perdão”.

Observamos ainda a clemência no coração do Profeta (S.A.A.S.) no que foi narrado pelos historiadores sobre algumas mulheres que costumavam ir a mesquita para cumprir suas preces levando seus filhos pequenos. Um dia, uma delas deixou seu filho por perto e iniciou a prece. A criança começou a chorar alto. Quando o Profeta (S.A.A.S.) ouviu a criança chorando, ficou preocupado, então, concluiu a prece rapidamente, para que a mulher atendesse a criança. Relatou-se que ele tenha dito: “Às vezes começo a prece com a intenção de prolongá-la, mas quando ouço uma criança chorando, eu reduzo a recitação na prece, pois conheço o amor de uma mãe por seu filho”.

Consta também o relato de que uma mulher de Quraish disse ao Profeta (S.A.A.S.): “Ora a teu Senhor para que nos dê ouro, e nós te seguiremos.” Ele perguntou: “Fareis isso?” Ela respondeu: “Sim.” Então, ele orou, e o Arcanjo Gabriel (A.S.) veio até ele e disse: “Teu Senhor te saúda com a paz e diz, “Se quiseres que Eu agracie a eles com ouro, Eu o farei, mas, aquele que descrer depois disso será punido de uma maneira que Eu jamais puni a alguém entre os humanos, mas, se quiseres Eu abrirei a porta do arrependimento e do perdão para eles”. O Profeta (S.A.A.S.) respondeu: “Abre a porta do arrependimento e do perdão para eles.” Perdão, não ouro ou prata. Porque o homem necessita do perdão de Deus, necessita da clemência. Ele pode passar sem ouro ou prata, mas não pode prescindir do perdão de Deus e da oportunidade de se arrepender.

O Profeta (S.A.A.S.) não apenas pôs em prática o perdão e a bondade, também exortou seus seguidores para essa prática. Ele nos ensinou esse princípio moral, de maneira que se arraigasse em nosso íntimo.

Relatou-se que ele (S.A.A.S.) tenha dito: “A misericórdia não é retirada de uma pessoa a menos que ela caia em desgraça.”

E também disse: “Allah o Poderoso é Misericordioso para os Seus servos que são misericordiosos.”

O Profeta (S.A.A.S.) proibiu a dureza de coração e a crueldade, e considerou que tais sentimentos podem afastar o homem de Deus e das bênçãos. O Profeta (S.A.A.S.) disse: “vossos corações se endurecerão, e na verdade, um coração duro estará muito distante de Allah o Poderoso…”

Essa exortação ao perdão, orientando a consciência e o sentimento para os problemas dos semelhantes, é um chamado à união entre os seres humanos. Encoraja o homem a tratar seu semelhante do modo que ele gosta de ser tratado. Os valores islâmicos se formam com base no perdão, na bondade e na solidariedade. Por outro lado, o materialismo leva ao terrorismo, à maldade e à hostilidade. Valores materialistas não formarão senão pessoas indesejáveis. Existem muitos exemplos de atos de barbarismo praticados por pessoas assim. O que demonstra suas más características e o prazer que sentem com os problemas de seus semelhantes. Eis aqui alguns exemplos desses atos, que mostram como a cultura materialista é:

A UNICEF relatou que a cada 92 minutos uma criança é morta a tiros nos EUA.

Um famoso jornal semanal russo publicou um artigo no qual dava conta de que 14 milhões de crianças eram feridas em agressões e maus tratos de seus pais, sendo que, um grande número delas, com idade entre um e quatro anos, teriam morrido em consequência dessas agressões.

Em 29 de junho de 1995, o corpo de um menino de cinco anos foi encontrado. Ele tinha sido asfixiado por sua mãe e sofrido golpes de martelo.

No dia treze desse mesmo mês, uma menina de dois anos de idade foi encontrada inconsciente e veio a morrer no hospital quatro dias mais tarde. A criança sofrera violência sexual antes de ser espancada até a morte por seus pais.

O periódico italiano “Panorama” ao falar sobre a crueldade com as mulheres e crianças, escreveu: “é de surpreender a violência e a agressão verificada num país desenvolvido como a Itália.”

No final de 1994, a televisão italiana passou semanas mostrando mulheres grávidas assassinadas ou mulheres que foram assassinadas diante de seus filhos.

No dia 11 de junho de 1995, um homem de 38 anos matou a tiros sua filha de dez anos e em seguida, praticou suicídio.

Uma reportagem deu conta de um terrível incidente ocorrido nos EUA, que não será esquecido. Tratava-se da história de uma pequena e bela garota chamada “Yon”. Ela era tão bela que sua professora costumava chamá-la de “Shining Queen” (Rainha Brilhante), a comparando a uma filha de uma ex-rainha da beleza de West Virginia em 1977. No segundo dia do Natal, seu pai a encontrou morta debaixo de uma laje. Ela tinha sido barbaramente assassinada. Tendo uma fita adesiva em sua boca, fora torturada e estuprada e por fim, enforcada. A reportagem também dizia que 1,5 milhão de crianças foram assassinadas nas guerras pelo mundo nos últimos dez anos. Doze milhões de crianças ficaram órfãs devido às guerras e conflitos.

Uma fonte do departamento de justiça de Chicago afirmou que uma mãe e um pai, no estado, foram encontrados abusando sexualmente de seus filhos, drogando-os e também fazendo com que se alimentassem com ratazanas e baratas cozidas.

O Chicago Tribune noticiou o seguinte relato de um juiz do estado: um menino de cinco anos e suas três irmãs, de dez, onze e doze anos, mantinham relações sexuais com seus pais (Gerald e Barbara Hail). Os pais costumavam drogá-los com injeções de cocaína. Tempos depois, os pais foram levados à julgamento.

Outro crime contra a humanidade são os atos de terrorismo cometidos pelos sionistas, como o massacre do vilarejo de Deir Yasin, nas proximidades de Jerusalém. A organização paramilitar sionista Hagana assumiu a responsabilidade (quando da criação do estado de Israel) de expulsar a população palestina de seus vilarejos e cidades. Outros grupos terroristas (Irgun e Sitrin) cooperaram com o Hagana, atacando o vilarejo de Deir Yasin. Um dos sobreviventes, Abu Mahmud, relatou que repentinamente o fogo irrompeu em todas as partes do vilarejo. Ben Shayun Cohen, comandante do ataque, relatou que começaram o ataque casa por casa, depois que os habitantes abriram fogo contra eles, matando seis pessoas e ferindo quarenta e duas, como não fosse de se esperar que a população defendesse a terra de seus pais e avós! Ben Sahyun Cohen confessou ter ordenado que seus soldados terroristas arremessassem granadas dentro das casas antes de entrarem, o que causou a morte de homens, mulheres e crianças. Itzra Yakhin, o líder do Sitrin, afirmou sem rodeios que não era possível atacar o inimigo sem aterrorizar a população civil. Dessa maneira, mais de cem homens, mulheres e crianças foram assassinados. Somente uma pequena parte da população conseguiu fugir para Jerusalém.

Em Ruanda, houve o conflito entre os Hutu e os Tutsi. No período de colonização, os Tutsis governaram o país colaborando com os belgas. Depois da independência em 1962, os Hutus tomaram gradualmente o controle de posições estratégicas até 1993. Um acordo de paz foi celebrado naquele ano, porém, não foi cumprido. Uma nova guerra civil irrompeu no país. Milhões de vidas foram perdidas em massacres desumanos que ocorreram.

Um relatório anual de uma organização médica estima que o número de vítimas nas guerras está crescendo. O número de vítimas civis no início do século XX que era de dez por cento, na atualidade, chega a noventa por cento.

Sobre os crimes cometidos pelos sérvios: “Quando testemunhas oculares denunciaram assassinatos em massa perpetrados pelas forças sérvias na Bósnia, sobretudo em Sribrinitka, uma cidade muçulmana invadida, algumas pessoas não acreditaram. Diziam se tratar de exagero. Até que imensas covas coletivas foram encontradas na região, após o acordo de cessar-fogo entre os sérvios e os croatas muçulmanos. As testemunhas narraram que os soldados sérvios mataram aproximadamente 2.500 civis de Bratonats, depois de sua rendição diante da garantia dos sérvios de que estariam seguros caso se rendessem. As testemunhas escaparam se ocultando sob os cadáveres até a partida das forças sérvias. Em seguida, fugiram para a cidade de Tuzla, se alimentando de frutas pelo caminho. Depois disso, as organizações humanitárias encontraram 200 covas coletivas com um número entre 100 e 1000 corpos em cada uma delas. Após todas essas revelações, a mídia ocidental também descobriu dezenas de milhares de mortos em covas coletivas. As autoridades bósnias afirmaram que cerca de 20.000 cadáveres foram localizados em covas clandestinas. Além disso, há um grande número de mulheres, jovens e idosas, casadas e solteiras que foram violadas pelos sérvios. Algumas delas engravidaram e deram a luz nessa terrível situação, enquanto eram torturadas ou assassinadas.

O Intelecto e a Convicção Científica são Meios para se chegar a Fé

Como já mencionamos antes sobre a racionalidade do Islam, trata-se de uma ideologia fundamentada na convicção científica e no conhecimento; não há nenhum valor na crença a menos que se baseie no conhecimento e na compreensão.

O Alcorão Sagrado exorta à reflexão sobre a natureza, a vida e sobre nós mesmos, para que conheçamos a Allah e a Mensagem Divina. Diz que não há valor em impor uma crença ou pensamento: “Não há imposição na religião, porque já se destacou a verdade do erro. Quem renegar o sedutor e crer em Deus, ter-se-á apegado a um firme e inquebrantável sustentáculo, porque Deus tudo ouve e é Sapientíssimo.” (Alcorão Sagrado 2:256)

Allah o Poderoso, disse a Seu Profeta (S.A.A.S.):

“Se o teu Senhor quisesse, aqueles que estão na terra teriam acreditado unanimemente. Poderias compelir os humanos a que fossem fiéis?” (Alcorão Sagrado 10:99)

“Não és de modo algum guardião deles.” (Alcorão Sagrado 88:22)

“Dize-lhes: A verdade emana de vosso Senhor; assim, que creia quem desejar e descreia quem desejar. Preparamos para os iníquos o fogo, cuja labareda os envolverá…” (Alcorão Sagrado 18:29)

Nos versículos acima mencionados, o Alcorão Sagrado deseja demonstrar que uma crença real jamais será sob coação. Deve se basear na razão e na prova científica; e que o homem é quem escolhe seu próprio caminho e é responsável por isso, uma vez que a escolha será uma fonte de bem-aventurança ou de punição para ele. Com isso, entendemos que o Islam, como uma ideologia, não se fundamenta na força da espada, como seus opositores tentam descrevê-lo. O Islam utiliza a força para defender sua ideologia e remover os obstáculos impostos pelos tiranos que tencionam impedir o raciocínio e que o homem comum se oriente para a felicidade eterna.

Os sábios islâmicos afirmaram três principais conceitos a respeito dessa idéia científica, baseando seu argumento no Alcorão Sagrado, no hadith e no intelecto, que são:

1 – A necessidade de reflexão e de um raciocínio científico que conduza ao conhecimento de Deus.

2 – Que não há, nesse assunto, “taqlid” (imitação), ou seja, é necessário ter convicção da crença em Deus e no que o Profeta (S.A.A.S.) comunicou.

3 – A fonte da crença na Mensagem Divina é o intelecto.

O eminente sábio Al Hilli disse, ao tratar desses conceitos: “É entendimento unânime entre os sábios islâmicos a necessidade do conhecimento de Deus, de Seus atributos positivos e negativos, do que é Seu direito e do que não é da Profecia, do Imamato e do Dia do Julgamento pelas provas e não por imitação.”

O comentador acrescenta ao que disse Allamah al Hilli o seguinte: “quando a necessidade se torna evidente, isso ocorre através da reflexão e da prova.” Em seguida, definiu a reflexão assim: “Reflexão é ordenar os fatos conhecidos para avançar a outros aspectos.” Então, disse: “Não é lícito reconhecer a Allah por imitação; imitação é aceitar o que alguém diz sem nenhuma prova”.

Em muitas passagens, o Alcorão Sagrado fala do valor do conhecimento e da necessidade de se fundamentar a crença no conhecimento. Allah o Onipotente diz:

“Os sábios, entre os servos de Deus, só a Ele temem…” (Alcorão Sagrado 35:28)

“E ao escutarem o que foi revelado ao mensageiro, vês lágrimas em seus olhos; reconhecem naquilo a verdade…” (Alcorão Sagrado 5:83)

O Alcorão Sagrado discorda do ignorante, cuja crença é instável:

“Entre os humanos há também quem adora a Deus com restrições; se lhe ocorre um bem, satisfaz-se com isso. Porém, se o atinge a adversidade, renega e perde este mundo e o outro.” (Alcorão Sagrado 22:11)

O Alcorão Sagrado também menciona a crença como a dos beduínos, baseada na ignorância, ao dizer:

‘Os beduínos dizem: Cremos! Dize-lhes: Qual! ainda não credes; deveis dizer: Nos submetemos, posto que a fé ainda não penetrou em vossos corações…” (Alcorão Sagrado 49:14)

É um fato histórico que o homem acatou o Islam com base no intelecto e na convicção. O século XX testemunhou uma aceitação do Islam nos cinco continentes, pelo conhecimento e a convicção. Não há dúvida de que, no futuro, o mundo assistirá a uma aceitação em massa do Islam, depois de se comprovar a inaptidão da civilização materialista para resolver os problemas. No último século, milhões de pessoas de todos os continentes aceitaram o Islam pelo raciocínio e a convicção científica. É de grande importância conhecer as personalidades dos mundos político e científico que compreenderam e abraçaram o Islam, ou aquelas que exortam os demais a fazê-lo e que respeitam o Islamismo. As verdades do cotidiano confirmam o fato de que o Islam é a religião do mundo futuro; e que sempre que o homem usa de seu intelecto, está mais próximo da aceitação do Islam. É o que está acontecendo no mundo ocidental.

Entenderemos essa realidade ao refletirmos sobre o discurso do chanceler alemão Roman Hotsug, proferido na ocasião da homenagem à senhora Anna Mary Chimil, orientalista alemã, em 10 de janeiro de 1995, quando ela recebeu um premio da Associação dos Escritores Alemães.

Ao refutar aqueles que se opunham a que o prêmio fosse entregue a Senhora Chimil, o chanceler disse: “Essa oposição se deve ao fato de que ela apóia o pensamento islâmico e o trata com justiça, exortando para a compreensão do Islam e para a mudança da imagem negativa atribuída aos muçulmanos e à fé islâmica por parte da mídia ocidental. Há uma evidência em nossas relações com o Islam na atualidade. Não devemos esconder a opinião geral dos alemães, mas dizer exatamente o que está em nossa mente quando o nome “Islam” é mencionado, isto é, nada além do que “leis desumanas” ou “intolerância religiosa”, “mulheres oprimidas” ou ainda “fundamentalismo agressivo”. Porém, devemos mudar todas essas visões medíocres. Por outro lado, devemos lembrar que foi a luz do Islam que preservou o mundo ocidental nos últimos seis ou sete séculos…”

Em outra parte de seu discurso, ele destacou as razões subjacentes da inimizade ocidental para com o Islam atribuindo-as à ignorância. O chanceler ainda apresentou as seguintes questões:

“Não podemos dizer que a nossa falta de compreensão do Islam se baseia na piedade ou na religiosidade. Como, se somos, num sentido amplo, uma sociedade secular? E, se isso é verdade, como poderemos tratar desses problemas? É correto associar pessoas tementes a Deus com terroristas, apenas porque nos falta sentimento de respeito aos que professam outras religiões, ou porque nos falta capacidade de expressar tal sentimento?”

Continuando seu discurso, ele reconheceu sua incompreensão sobre o Islam até que lesse as obras de Madame Chimil. Ele disse:

“Meu conhecimento sobre as várias idéias e o conhecimento encontrado no Islam era pequeno até que li os livros de Anna Mary Chimil, e é possível que outras pessoas tiveram a mesma experiência. Na verdade, precisamos recuperar o que perdemos, através do entendimento mútuo. Repito que não temos outra escolha senão buscar mais conhecimento sobre o mundo islâmico, se quisermos atuar em benefício dos direitos humanos e da democracia.”

Ele concluiu seu discurso dizendo:

“A principal razão para a necessidade de conhecer e compreender o Islam e sua rica civilização, é que estávamos inclinados a uma ideologia contrária a do Islam. Na verdade, a Senhora Chimil despertou esse desejo em mim, e espero que eu consiga o mesmo em outras pessoas. Ela preparou o caminho para que entrássemos em contato com o Islam.”

A premiação de Madame Chimil na Alemanha em 1995, o consenso de opinião entre os intelectuais naquele país e o sucesso dos que adotaram o pensamento de Anna Chimil, revelam a grandeza do Islam e o fato de que qualquer pessoa, não importa qual posição ocupe, é capaz de compreender e aceitar o Islam.

Um outro exemplo disso foi a confissão de um professor indiano, Mohammad Izzudin Nashkanta Babhiyaya, ao falar sobre sua conversão ao Islam após uma aprofundada pesquisa e um estudo comparativo das religiões. Ele disse:

“Muito embora eu entendesse a nobreza e a justiça do Islam, certas condições e fatores externos me impediam de declarar a minha aceitação do Islam, até que eu fiz isso numa reunião pública em que ministrei uma palestra sobre o tema “Por que eu aceitei o Islam”. Ali, destaquei que três fatores foram decisivos em minha aceitação do Islam: 1) A autenticidade e a clareza da história islâmica, pois é a única religião que possui esses atributos. 2) A harmonia e a conformidade do Islam à sabedoria e ao conhecimento. 3) O Islam é a religião da ação, não da estagnação. Acrescento a isso o fato de que o Islam está em harmonia com as necessidades humanas e com a cultura e o conhecimento humano em todas as épocas.”

Outra pessoa que abraçou o Islam depois de pesquisa e compreensão foi a Sra. Philma William, natural da Austrália, após ter sido cristã por 15 anos. Ela disse:

“Existem muitas idéias em minha mente que me fizeram duvidar sobre a minha ideologia e religião, e aquelas pessoas na missão não estão fazendo outra coisa senão explorar o ser humano a fim de alcançar seu interesse pessoal. Como pode Allah ter um filho? Como podemos ser responsabilizados pelo erro de nosso pai, Adão? Por que nossas más ações requerem que outra pessoa as perdoe, e isto pelo envio do “filho de Deus” para o resgate do homem? Qual a razão da idéia de que o homem branco é melhor do que o homem negro? Por que há racismo contra os palestinos em sua própria terra? Me surpreendem os erros no Velho Testamento, sobretudo o dizer que Caim matou Abel por causa de sua tez escura, assim, seria obrigatório que os negros pagassem pelo crime de Caim por toda a vida?”

Em seguida, ela contou como encontrou o Islam:

“Isso aconteceu durante uma de minhas jornadas, quando eu visitei uma família palestina que estava estabelecida na Austrália, e falei a eles sobre o cristianismo. Então, começaram a ler em inglês o capítulo do Alcorão Sagrado intitulado “Mariam”. Eu não pude conter minhas lágrimas. Daquele momento em diante o Islam se tornou parte do meu coração. Assim, eu fui até a igreja para anunciar minha conversão ao Islam. Minha família boicotou-me por quase dois anos, mas, eu não me importei. Comecei a aprender o conhecimento islâmico e a leitura do Alcorão Sagrado. Entrei na universidade onde li sobre as ideologias, e em seguida, fui a um centro islâmico há oitenta quilômetros de onde estava, onde adotei o hijab, aprendi as leis e as práticas obrigatórias do Islam, mais tarde iniciei a propagação da mensagem islâmica.”

Um advogado italiano também contou sobre sua conversão ao Islam:

“Meu nome é Rozayo Baskoini, tenho cinqüenta e três anos. Eu exerci a profissão jurídica por dez anos, até 1957. Primeiro, comecei na política, em seguida, me dediquei aos estudos religiosos com o intuito de buscar a verdade, isso foi em 1970. Em 1973 encontrei um egípcio com quem aprendi alguns conceitos islâmicos e iniciei longos e sérios debates, em seguida, tive estudos abrangentes que me abriram o caminho para a aceitação do Islam. Eu vivia como a maioria dos ocidentais, sem uma ideologia. Antes, eu era católico, porém, sem dar muita atenção aos seus ensinamentos. Então, aderi ao Partido Democrático Cristão. Algum tempo depois, saí e ingressei no Partido Comunista. Contudo, não pude me beneficiar muito com esses dois direcionamentos políticos. A diferença está somente em seus nomes, na verdade, ambos visam explorar o homem, não estão fazendo nada de positivo para solucionar os problemas humanos. Uma grande revolução ocorreu em minha vida. Minha vida se moveu na direção da fé e eu passei a sentir paz de espírito. Parei de beber e de fumar. Então, percebi que tinha conseguido dominar meus instintos e desejos. Encontrei a maneira de enfrentar o problema da vida ocidental e seus males. Como minha visão da vida mudou, realizei a peregrinação naquele ano. Até o dia de hoje, comuniquei a mensagem do Islam para quatrocentas pessoas. Elas abraçaram a fé e estão praticando o Islam. Continuo em meu jihad pela propagação do Islam e busco o auxílio de Allah para isso. Envio, pois, um convite aos italianos para que visitem o centro, todo domingo, para que conheçam o Islam por meio do diálogo. Louvado seja Deus, esse meio comprovou seu sucesso e efetividade e quase todos os dias pessoas têm vindo até nós em sua busca pela verdade. Até agora, entre três e quatro mil italianos se converteram ao Islam. Compreendo que esse número é pequeno em comparação, por exemplo, com o da França, onde, aproximadamente duzentas mil pessoas abraçaram o Islam.”

Recyfeel, um professor americano, ao contar sobre sua conversão ao Islam, disse:

“A simplicidade do Islam e a grandeza de Mohammad (S.A.A.S.) foram as duas razões para a minha orientação. Uma grande quantidade de coisas me atraiu para o Islam, algumas delas são fáceis de explicar, outras, requerem pesquisa e discussão. Quando eu me voltei ao Alcorão Sagrado e à história do Profeta Mohammad Bin Abdullah (S.A.A.S.), para aprender por meio de ambos, os seguintes assuntos chamaram minha atenção: A simplicidade, a bondade e a praticidade do Islam. Esta não é uma religião complexa; pode ser compreendida através do intelecto e da reflexão sobre as criaturas. Quando o homem compreende a seu Senhor e crê em Sua existência, o Islam o ensina:

“… porque estamos mais próximo dele do que sua artéria jugular.” (Alcorão Sagrado 50:16)

Eis o que o Alcorão Sagrado nos diz sobre Allah o Poderoso:

“Quando Meus servos te perguntarem de Mim, dize-lhes que estou próximo e ouvirei o apelo do suplicante quando a Mim se dirigir…” (Alcorão Sagrado 2:186)

Em vista disso e no fundamento do espírito do Islam, não há necessidade de nenhum intermediário entre Allah e Seus servos, como não há também necessidade da existência de um sacerdote ou algo semelhante para que o arrependimento seja aceito ou para que as preces sejam praticadas:

“Tanto o levante como o poente pertencem a Deus, e onde quer que vos dirijais, vereis a Sua face…” (Alcorão Sagrado 2:115)

A atitude islâmica para com seus oponentes ou inimigos, seja em tempos de paz ou de guerra, sejam eles cristãos ou judeus; e também a tolerância com eles. São os fatores que me fizeram sentir atraído para o Islam. Na verdade, as características humanas em todas as leis e ensinamentos islâmicos são claras e bem consideradas. Todas as pessoas são iguais aos olhos de Allah, a despeito de todas as diferenças que as separam. Ninguém está acima de seu semelhante, seja por sua identidade, riqueza ou cor. Somente a moral e o temor conferem superioridade ou preferência. Os ricos são obrigados a pagar o zakat de seus bens aos pobres e necessitados. O Islam não impede aos seus seguidores o progresso material ou o avanço civilizatório, ao contrário, ordena que busquem a civilização e o desenvolvimento de uma maneira racional. O Islam não proíbe o beneficiar-se com as coisas da vida:

“Mas procura com aquilo que Deus tem te agraciado, a morada do outro mundo, e não te esqueças de tua porção neste mundo…” (Alcorão Sagrado 28:77)

“Quem pode proibir as galas de Deus e o desfrutar dos bons alimentos que Ele preparou para Seus servos? Dize-lhes ainda: Essas coisas pertencem aos que creem, durante a vida neste mundo; porém, serão exclusivas dos crentes no Dia da Ressurreição…” (Alcorão Sagrado 7:32)

O famoso jornalista francês Terry Du Bomon recorda a história de sua conversão ao Islam:

“Meu cunhado, Elkonet Du, que para mim, simboliza a herança francesa, ou num sentido preciso, a monarquia francesa com seu palácio real e clerical. Ele estava encarregado da Direção do Escritório do Santo Ofício do Papa Paulo VI, e era conhecido por seu amor pelo estudo religioso e da metafísica, como também pelo grande interesse nas obras de arte. Em reuniões familiares ele costumava falar sobre os detalhes das famosas pinturas nas paredes das igrejas, especialmente sobre as figuras da Virgem Maria. Narrava as histórias do passado acerca dos santos e dos presbíteros. Uma grande surpresa ocorreu num desses encontros em que ele se levantou e falou em voz alta: “Jesus, o filho de Deus, Maria a mãe de Deus. Não podemos tolerar mais uma afirmação tão estúpida. Deus não tem mãe nem filho. É irracional supor que Deus Onipotente desça e ande pelas ruas demonstrando seus milagres ao povo”. Os presentes ficaram confusos e tinham a surpresa estampada em seus rostos. Inesperadamente, o Sr. Elkonet Du anunciou que havia abandonado o Cristianismo e abraçado o Islam. Outros se juntaram a grande caravana, entre eles: O Comandante Costeau, Maurice Bejar, Roger Garaudy, Dawaran Sofalan, Fansan Monteel, se convertendo ao Islam. Eu estava ciente que logo o faria também. Intelectuais e artistas estavam se convertendo às dezenas e também jovens, às centenas. Um dia, visitei o Sr. Elkonet. Sua residência parecia um museu com velhas pinturas e obras clássicas do século XVIII. Fiquei bastante impressionado. Ele me convidou a conhecer sua sala de oração. Eu o segui até lá. Quando ele abriu a porta, vi uma cadeira e um tapete de oração. As paredes do recinto estavam decoradas com fotos de alguns sábios e renomados eruditos muçulmanos. Elkonet abriu seu Alcorão Sagrado e disse: “O Islam é a última religião revelada. Reconhece o Cristianismo e o Judaísmo como mensagens divinas e respeita os seus profetas”. Em seguida, começou a falar sobre o Islam e disse acreditar integralmente em sua mensagem. Pus-me a pensar que talvez o Islam fosse a resposta para todos os problemas ideológicos que encontrara depois de deixar o Cristianismo. Mesmo antes disso, não acreditava na Bíblia em sua forma moderna, na divindade de Jesus e em outras práticas, que nos foram impostas pelos sacerdotes. Há muitos anos procurava pela verdade, e naquele momento, sentia que a tinha encontrado. Eu abominava alguns ensinamentos e práticas da igreja; a adoração às imagens dos santos e da crucificação, o sistema de classe clerical e os milagres da superstição. Por tudo isso, conclui que devia começar a estudar o Islam. Antes, tinha algum receio acerca do Islamismo, porém, isso se desfez diante da honestidade daqueles muçulmanos. Desse modo, eu me via me encaminhando para o Islam.
O que me fez lembrar Ayyub, que se divorciou de sua esposa em nome de sua fé. De fato, fiquei surpreso com essa atitude e sua crença convicta. Sentia felicidade e conforto em mim. Logo em seguida, comecei a aprender o Alcorão Sagrado e os detalhes da prática da oração. Percebi que era capaz de ser livre de qualquer ato ou compulsão na vida ou do condicionamento de me curvar às coisas materiais. Em suma, eu estava inteiramente submisso a Allah. Um dia, sintonizei meu rádio numa estação que transmitia ocasionalmente programas em árabe. Ouvi um debate entre o apresentador e uma mulher chamada Taqiyyah. Ela representava uma nova sociedade (amis de ‘l Islam). O debate era sobre o amor, o casamento no Islam e as práticas islâmicas na vida marital. De repente, fui até o telefone e liguei para a diretoria da estação com a intenção de marcar um encontro com Taqiyyah.O que me surpreendia, desde o momento em que havia começado a pesquisar sobre o Islam, era a aceitação daquela religião pelas mulheres francesas, especialmente que seu número chegava a algo entre 75 e 100 mil. Sempre me perguntava como poderia uma francesa, que está prestes a alcançar seu objetivo de liberação, desde algumas décadas atrás, abraçar uma religião que “viola os direitos das mulheres”, como elas pensam? Eu me encontrei com Taqiyyah em sua casa e descobri que ela estava vivendo como “Ayyub”. Vivendo como os demais muçulmanos em sua vestimenta e em sua conduta moral e que havia um quadro em sua sala com versículos do Alcorão Sagrado escritos em letras pequenas. Ela narrou-me a história de sua conversão durante uma viagem de trabalho à Nigéria, sua volta a Paris e seu casamento com um muçulmano nigeriano. Meu diálogo com ela chegou ao fim e saí dali impressionado por sua convicção. A minha própria convicção aumentou e senti que deveria abraçar a religião.”

De fato, ao lermos este e milhares de outros exemplos das pessoas que abraçaram o Islam com base na convicção e no conhecimento, com suas diferentes opiniões a respeito da civilização ocidental, fica evidente que o Islam é uma religião do intelecto, do conhecimento e da civilização. É um ponto de mutação para o homem e uma fonte para a sua bem-aventurança.

Louvado seja Allah, O Senhor dos Mundos.

Conclusão

Neste livreto, apresentamos alguns conceitos da civilização islâmica bem como alguns exemplos dos problemas enfrentados pelo ser humano, sobretudo pelos muçulmanos. Esses problemas foram causados pela civilização materialista, a civilização capitalista ocidental, que viola os direitos e a liberdade e escraviza o homem. Assim, tratamos dessas questões para promover o entendimento da civilização à sombra do Islam, para dirigir o homem, seja ele muçulmano ou não, para a compreensão do Islam e da natureza da civilização materialista. Tornando possível uma comparação fundamentada no raciocínio científico e intelectual, e a conseqüente opção pelo melhor caminho.

«
»