Conhecendo o Islam – Parte 1

Em Nome de Allah o Clemente o Misericordioso

“Islam” é uma Mensagem Celestial. Um código de vida, fé e prática que Deus, o Criador do Universo, revelou a seus profetas para a orientação e salvação da humanidade.

Para a sobrevivência humana neste planeta essencialmente duas coisas são necessárias:

1. Os recursos materiais para o atendimento de nossas necessidades.

2. As diretrizes e os princípios para que possamos dirigir nossa vida e a sociedade humana para o bem estar, a paz e a justiça.

Deus Altíssimo atendeu essas duas necessidades na medida perfeita. Para a primeira dispôs recursos naturais e todas as condições para a manutenção da vida de todas as criaturas da terra. Para a segunda, escolheu profetas e mensageiros dentre os humanos, a quem revelou a Orientação Divina para guiar o homem na senda correta, para sua felicidade nesta vida e na vida eterna. Esta orientação é chamada de “Islam” (Submissão a Deus), a essência da Mensagem revelada a Noé, Abraão, Moisés, Jesus, Mohammad e a todos os demais profetas e mensageiros enviados ao mundo.

A palavra “Islam” possui o sentido de “submissão, rendição ou obediência a Deus”; também tem o significado de “Paz”, porque o ser humano somente encontra a verdadeira paz através da submissão voluntária a Deus, aceitando a orientação Divina. O sentido de “paz” também nos diz que essa Orientação é uma graça concedida à humanidade e pode promover a paz em toda sociedade humana.

Essa Mensagem foi trazida e anunciada por todos os profetas e mensageiros enviados por Deus. Contudo, o homem não apenas abandonou a senda correta, como também perdeu ou distorceu a orientação revelada. Por esta razão, durante milênios os profetas foram enviados aos povos antigos para restabelecer a verdade. O último deles foi Mohammad, a quem foi revelada a Orientação em sua forma completa e definitiva: o Alcorão Sagrado.

O princípio fundamental da Mensagem trazida por todos os profetas é o Tawhid – Unicidade Divina (a realidade de que Deus é Um e Único) e de que Ele é o Criador e Senhor do Universo. Assim nos diz o Alcorão Sagrado: “Jamais enviamos mensageiro algum antes de tí (ó Mohammad) sem que lhe tivéssemos revelado que: Não há outra divindade além de Mim. Adora-me e serve-me.” (21:25)

Deus, Exaltado Seja, prescreveu ao homem a Orientação e conferiu a ele a absoluta liberdade de escolha quanto a seguí-la ou não. Aquele que voluntariamente reconhece a Unicidade de Deus e aceita a Orientação Divina em sua vida, se torna “muçulmano” (submisso a Deus). Aquele que não reconhece o tawhid e não adota a Orientação Divina, se torna um “káfir” (descrente, infiel).

As fiéis tradições do Último Profeta afirmam que todas as criaturas (humanas ou não), possuem uma natureza original “submissa a Deus”. Das criaturas deste mundo, apenas o ser humano pode se afastar dessa natureza e abandonar sua condição original de “muçulmano”, dependendo da educação, dos costumes e crenças do ambiente a que pertença. Uma pessoa retoma sua condição original de “muçulmano” (submisso a Deus) quando voluntária e sinceramente reconhece a Unicidade Divina e a realidade profética, e testemunha sua fé dizendo o kalima sagrado: “Axhadu an la ilaha illallah ua axhadu anna Mohammadan Rasululllah” (trad. Testemunho que não há divindade senão Deus e testemunho que Mohammad é o Mensageiro de Deus).

A primeira parte deste testemunho apresenta o conceito do Tawhid. O conceito fundamental do Islam de que Deus, Senhor do universo, criou todas as coisas com sua vontade e poder, sustenta e provê todas as criaturas sem o auxílio de nenhuma delas e, portanto, não tem semelhante ou parceiro em seu Reino. Que Ele (Deus) é Eterno, não foi gerado por criatura alguma e não gerou criatura alguma. Sua soberania e Poder são exclusivos Dele. Assim diz o Alcorão Sagrado: “Tal é Deus. Vosso Senhor. Não há mais divindade além Dele! Criador de tudo. Adorai-o pois, porque é o Senhor de todas as coisas”. (6:102)

Esta fé monoteísta implica na aceitação de que:

– Deus é único, Onipotente, Onisciente e Onipresente
– Que tudo pertence a Ele
– Que a vida de todas as criaturas está nas mãos de Deus.
– Que Ele é o Supremo Legislador do Universo
– Que Ele detém em suas mãos todas as bênçãos, a recompensa e o castigo e somente a Ele as preces devem ser dirigidas.
– Que somente a Ele pertence a adoração e o culto.

A segunda parte do testemunho significa crer no fundamento da profecia, reconhecer que Deus não deixou o homem sem uma orientação para conduzir sua vida; que revelou aos profetas gradualmente suas diretrizes e leis e que completou a Mensagem com o envio de Mohammad. Reconhecer significa crer no que foi revelado a todos os profetas e acatar a Lei Divina trazida com o Último Mensageiro.

A aceitação desse Kalima (testemunho) é a condição básica para que nossa fé e nossas obras sejam aceitas por Deus no Dia do Juízo.

A Dimensão da Fé no Islam

A fé, tal como é definida no Islam, não se resume numa aceitação puramente racional ou verbal da verdade, tampouco no cumprimento de rituais externos. O Islam nos ensina que a fé é a própria fonte e essência da vida. A Fé é a Conduta, e a Conduta é a Fé, o Profeta Mohammad a definiu dizendo: “Deus não aceita a fé que não se expressa em ações e não aceita as ações que não sejam consoantes com a fé.”

Portanto, crer, segundo o Islam, é conformar nossos conceitos e padrões aos conceitos e padrões de Deus; buscar sinceramente seguir o que Deus ordena e se afastar do que Deus proíbe. A medida de nossa fé é a medida de nossa obediência.

Um segundo ponto relacionado à fé, é que ela não pode ser cega ou inconsciente, baseada nas imitação de outros ou na adoção sem convicção. A convicção é fruto do conhecimento correto. Por conseguinte, a fé deve ser guiada por esse conhecimento. Do mesmo modo que não se ama o que não se conhece, não há fé sem o conhecimento correto do que se crê. A fé cega poder ser levada ao erro e, no entanto, por mais que se creia em algo absurdo ou infundado, tal coisa continuará absurda e infundada. Assim, o Islam considera “fé” aquela que é orientada e iluminada pela verdade.

Um terceiro ponto que diz respeito a fé, é que para o Islam os que a possuem são os que crêem no que está oculto à percepção humana. Isto é, a fé deve ser incondicional nos fundamentos da religião e na Lei Divina revelada, no que Deus revelou sobre Ele próprio, sobre a realidade do além, a ressurreição, etc. Não se exige provas ou sinais para se crer. Quem assim o fizer, assume sua dúvida e anula sua fé. O Islam nos ensina que somos nós que precisamos de Deus enquanto Ele não precisa de nossa fé ou devoção. Ensina também que Ele agracia a quem quer e não pode ser constrangido por criatura alguma no que quer que seja.

Para o muçulmano, as provas e sinais do Poder e da Bondade de Deus estão em toda criação e são inquestionáveis. Diz o Alcorão Sagrado: “E na terra há sinais para os que estão seguros na fé. E também (os há) em vós mesmos. Não vedes, acaso?” (51:20,21)

O Islam responde às formas de crença vulgares e irracionais que dizem “veja para crer”, dizendo: “Creia e verás (com os olhos espirituais).”

A crença no tawhid e no fundamento da profecia implica na crença em três outros fundamentos:

– A Justiça Divina
– O Imamato (liderança espiritual)
– O Ma’ad ( realidade do além)

A crença na justiça divina significa crer que:

– Deus é justo e infalível em todos seus atos
– Que toda criação está baseada na justiça e na prudência divina
– Que Deus não oprime criatura alguma
– Que a justiça divina prevalecerá no Último Dia, recompensando os que creram e foram fiéis em suas obras e castigando os descrentes e os infiéis.

A crença no Imamato (liderança espiritual) é a crença de que a pureza e a preservação da mensagem revelada e de sua correta aplicação foram legadas aos Imames (autoridades fundamentais) escolhidos por Deus e anunciados pelo Último Profeta. Uma vez que Deus não descuidou da Orientação Revelada nem a deixou à mercê dos caprichos e dos desvios do homem, ao fim do ciclo da profecia, escolheu guardiões a quem investiu de todas as qualidades dos profetas (com exceção do grau de profecia). De maneira que a Lei Revelada fosse perfeitamente preservada em todas as épocas, até o Último Dia.

A crença na realidade do além se refere especialmente à Ressurreição, o Julgamento de Deus, a existência real do paraíso e do Inferno. Todos esses fenômenos pertencem a uma realidade oculta e transcendente, ou seja, que está além dos sentidos, e conferem um sentido absolutamente lógico ao propósito divino e a Mensagem Revelada. Sua veracidade foi revelada a todos os profetas e mensageiros de Deus.

Particularidades do Islam

O Islam possui algumas características que o distingue de todas as demais religiões e que podem até certo ponto, explicar sua vitalidade e rápida expansão no mundo. Eis algumas delas:

A Simplicidade e a Racionalidade

O Islam é uma crença simples e é perfeitamente compreensível a qualquer pessoa. Seus princípios e práticas são livres de superstições ou crenças irracionais. A relação direta do fiel com Deus, liberta de convenções ou dogmas, permite uma perspectiva espiritual em que a vida diária se torna a arena da fé e da religião. O Islam não possui a figura do sacerdote, do padre ou pastor que de algum modo cumpriria uma função intermediária entre o fiel e Deus. A figura do sábio muçulmano não detém “autoridade” sobre os fiéis, de maneira que estes são no Islam, realmente responsáveis sobre si mesmos e sobre como conduzem sua fé e sua religiosidade.

Assim, o Islam liberta o fiel do jugo sacerdotal. Ainda que recomende o recorrer aos mais sábios, não impõe a ninguém a abdicação da própria capacidade de raciocínio e decisão. De acordo com o Islam, o muçulmano tem a obrigação de seguir o mais sábio no conhecimento indiscutivelmente correto, na orientação plenamente comprovada, respaldada pelo Livro de Deus ou pela Tradição fiel. Por outro lado, proíbe a imitação

cega nos fundamentos da fé e afirma que os que abdicam de seu raciocínio e abandonam a busca do conhecimento, seguindo cegamente os que julgam ser mais sábios, se tornam “idólatras” pois fazem deles seus “ídolos.”

Num sentido mais amplo, a busca do conhecimento em todas as áreas, segundo o dizer do Profeta, “É um dever de todo muçulmano e muçulmana.” O obscurantismo religioso que se opõe por princípio à ciência e ao conhecimento nunca teve no lugar no Islam. O intelecto humano é considerado uma das bênçãos divinas e como tal, é um dever do homem desenvolvê-lo e utilizá-lo em todos os campos e atividades de sua vida.

Uma Orientação Integral

O Islam é uma orientação para todos os aspectos da vida humana, o individual e o coletivo, o material e o espiritual, o político e o econômico, o jurídico e o cultural. Não é uma religião no sentido vulgar e equivocado da palavra, no qual se imagina que a religião deve se limitar ao campo pessoal ou às questões espirituais e místicas. A missão dos profetas foi uma missão integral com o intuito de orientar o homem para a verdadeira felicidade, libertando-o das amarras da ignorância, da opressão, da injustiça, guiando-o para o melhor deste mundo e da vida eterna. Jamais foi uma orientação dissociada da transformação social.

O Alcorão Sagrado nos diz: “Enviamos nossos mensageiros com os sinais, enviamos com eles o Livro e a balança para que os humanos observem a justiça..”.(57:25) Portanto, a Orientação Divina possui uma dimensão integral para a construção do reino de Deus na terra, não é uma abstração mística a ser confinada nos templos, em rituais, pregações e devoções pessoais. O Alcorão Sagrado nos ordena a orar, meditar, aprimorar nossa fé e agir, participar ativamente na transformação da sociedade. O Islam não separa o campo espiritual do material, o transcendente do mundano, o individual do social, a religião da política, a ação religiosa, ética e moral deve se refletir no aspecto mundano e transformá-lo.

A Fidelidade Histórica

É plenamente reconhecida, por estudiosos não-muçulmanos, a preservação de modo fiel e completo do texto do Alcorão Sagrado, no idioma original da Revelação. Um grande número de eruditos imparciais atesta que esta preservação é um fenômeno único na história das religiões, uma vez que é um fato indiscutível que todas as demais escrituras divinas sofreram perdas parciais ou totais, distorções ou acréscimos posteriores. Também constitui um importante elemento dessa fidelidade histórica a abundante documentação biográfica e de tradição oral recolhida desde os primeiros tempos por fontes conhecidas e confiáveis, que relatam os atos e muito dos ensinamentos do Profeta do Islam.

A Universalidade da Mensagem

O Islam é uma mensagem universal. A lei divina e os princípios constantes no Sagrado Alcorão destinam-se a toda humanidade em todas as épocas até o Dia do Juízo. Enquanto todos os profetas anteriores foram enviados a povos específicos, e as escrituras divinas a alguns deles reveladas apresentavam um código temporal, a ser abrogado pelo seguinte (como no caso da Torá revelada a Moisés e o Evangelho revelado a Jesus), o Último Profeta foi enviado não apenas ao povo árabe, mas a toda humanidade, como nos diz o Alcorão Sagrado: “E não te enviamos (ó Mohammad) senão como misericórdia a toda humanidade.” (21:102)

E o próprio Alcorão é a escritura que confirma, sela e abroga todas as escrituras anteriores. Com isso, a misericórdia e a Orientação Divina estão ao alcance de todos os povos e de todos os seres humanos.

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