O significado da Wilayah (Tutela) e a importância do Eid Al-Ghadir – Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – 31/08/2018

Sermão de Sexta-feira – 31/08/2018
Seyyed Bilal Wehbi – Imam da Mesquita Mohammad Mensageiro de Deus (Mesquita do Brás)
Assunto: O significado da Wilayah (Tutela) e a importância do Eid Al-Ghadir

Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso!

Louvado seja Deus, o senhor do universo. Que a paz e as bênçãos de Deus estejam sobre o Profeta Mohammad (A.S.) e seus purificados Ahlul Bait (A.S.).

Deus disse em seu livro sagrado, o Alcorão: “…Aceitai, pois, o que vos der o Mensageiro, e abstende-vos de tudo quanto ele vos proíba…”. (C. 59 – V.7)

Ó servos de Deus recomendo a todos o temor a Deus, o que recomendo a mim mesmo também.

Parabenizo a todos pela grandiosa celebração do Eid Ghadir. Neste dia o Imam Ali (A.S.) foi nomeado tutor (Wali) e senhor sobre todo crente, seja homem ou mulher. Uma menção evidente feita pelo Mensageiro de Deus (S.A.A.S.), ao mesmo tempo em que todos os Imames (A.S.) também foram nomeados neste evento.

Esse acontecimento é considerado um dia grandioso, abençoado e glorioso. Um dia de extrema importância para todos, e no qual a felicidade toma conta de todos nós. Por que essa felicidade não tomaria conta de nós? Esse dia é considerado o grandioso dia de Deus, Exaltado seja, no qual completou a sua religião e suas bênçãos sobre a humanidade.

Neste dia a continuidade da Mensagem de Deus revelada ao Profeta Mohammad (S.A.A.S.) foi garantida até o dia do juízo final, e sobre esse fato irei falar duas questões:

A primeira é a evidente discordância após o falecimento do Profeta Mohammad (S.A.A.S.), que implicou na sucessão dele levando a outras transgressões, sejam elas na teologia ou nas práticas.

Sabemos das discordâncias e conflitos que foram direcionadas a grupos com opiniões contrárias à esta questão. As diferenças sobre a questão da sucessão continuam até os dias de hoje. Tais diferenças são oriundas de como entendemos o Imamato e a tutela (Wilaya) em primeiro lugar.

A segunda, é quem seria essa a pessoa designada? A origem dessas diferenças são duas: A interpretação do Imamato e a tutela (Wilayat), segundo quem seria o tutor, o sucessor do profeta (S.A.A.S.) depois de sua morte. São assuntos complexos que envolvem o poder, a política e também questões de origem teológicas, pois o Imamato é um questão que tem como base as crenças islâmicas.

Hoje nós iremos saber qual é a posição da religião frente a essas duas questões, mas antes gostaria de relatar uma história sobre o Imam Ali (A.S.). Após a morte do profeta Mohammad (S.A.A.S.) e dos fatos ocorridos, um judeu, morador de Medina, encontrou-se com o Imam Ali (A.S.) e lhe disse: “O Profeta acabou de falecer e vocês muçulmanos estão em discordância?!”. O Imam Ali (A.S.) negou essa ideia apresentada pelo judeu e logo disse: “Vocês, filhos de Israel, atravessaram o mar e seus pés nem tinham se secado mas pediram ao seu profeta Moisés para criar um deus para que pudessem adorar, e então Moisés lhes respondeu que vocês são um povo ignorante”.

Os muçulmanos se entendem sobre a profecia de Mohammad (S.A.A.S.) e o Alcorão Sagrado, a única diferença está no que tange as narrações do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e também a sua sucessão e o Imamato.

A palavra árabe “Imam” significa qualquer líder, guia ou pessoa que seja obedecido. Uma pessoa que seja líder, guia e é obedecida por um grupo pode ser líder, seja do bem ou do mal.

No Alcorão Sagrado a palavra Imam foi mencionada diversas vezes, em algumas foi citada como referência das ações das pessoas que foram colocadas como Imam, ou seja, um líder ou guia. E outras vezes foi citada da seguinte maneira: “E designamos líderes dentre eles, os quais encaminham os demais segundo a Nossa ordem, porque perseveraram e se persuadiram dos Nossos versículos.” (C. 32 – V. 24)

Portanto, o Imam é considerado um guia orientador sendo a pessoa do bem que guiará as pessoas para o caminho de Deus. Sendo que um Imam do mal guiará as pessoas para o caminho de Satanás. O Alcorão cita como exemplo o faraó, que era líder e guiava o seu povo para o inferno.

Uma curiosidade é que a palavra Imam foi citada no Alcorão Sagrado exatas doze vezes, o mesmo número de Imames sucessores do Profeta Mohammad (S.A.A.S.).

Todos os muçulmanos acreditam que devem ter e seguir um Imam, que a nação deve ter um líder e que se deve obedecê-lo. Um líder que organiza e administra seus assuntos nas esferas da política, economia e outras esferas sociais. Nenhum muçulmano, sunita ou xiita, discorda a respeito deste princípio. E então, onde está a discordância? Onde ocorreu?

A discordância ocorreu após o falecimento do Profeta Mohammad (S.A.A.S.), pois um grupo de companheiros (formado por imigrantes de Meca e os moradores de Medina) se reuniu numa localidade de nome Saqifa. Neste momento o corpo do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) ainda não tinha sido sepultado e o Imam Ali (A.S.) e familiares do Profeta da tribo de Hashem estavam cuidando de seu funeral.

Esse grupo de companheiros reunido em Saqifa elegeram Abu Bakr como sucessor do Profeta Mohammad (S.A.A.S), e forçaram todos os demais membros da reunião a votar fidelidade a ele. Nesse momento os muçulmanos se dividiram em dois grupos.

O primeiro foi daqueles que acreditavam que a sucessão e a liderança da nação islâmica não se daria por meio de uma eleição humana ou no sistema de conselho, já que a designação seria divina, ou seja, por ordem de Deus. Foi com esse argumento que o Imam Ali (A.S.) se justificou para legitimar o seu direito à sucessão do Profeta (S.A.A.S.), fundamentando-se em fatos históricos inclusive. Um desses fatos foi o evento de Ghadir Khum, no qual o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) recebeu a revelação da mensagem divina através do anjo Gabriel que dizia: “Ó Mensageiro, proclama o que te foi revelado por teu Senhor, porque se não o fizeres, não terás cumprido a Sua Missão. Deus te protegerá dos homens, porque Deus não ilumina os incrédulos” (C. 5 – V. 67).

Naquele momento o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) reuniu os muçulmanos e solicitou que preparassem um palanque. O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) e Ali (A.S.) subiram nesse palanque e o Profeta (S.A.A.S.) fez um discurso finalizando com a seguinte frase: “Ó povo, não sou vosso tutor (Mawla)?” Os mulçumanos disseram: “Sim”. Então, o profeta disse: “De quem sou seu tutor (Mawla), desse Ali também é seu tutor (Mawla)!”

Essa tradição é confirmada por todas as fontes islâmicas, seja por historiadores sunitas ou xiitas. Alguns podem discutir e conjecturar sobre quem seria esse tutor ou o significado do termo Mawla (tutor, senhor, amigo).

Aqueles que não reconhecem a sucessão do Imam Ali (A.S.) argumentam que esse ditado é uma referência da virtude e da sua elevada posição.

A escola islâmica dos Ahlul Bait afirma que o cargo do Imamato é uma escolha exclusivamente divina. Outras escolas islâmicas com justificativas e argumentações frágeis explicam a conduta de alguns companheiros do Profeta (S.A.A.S.) em escolher um sucessor para o profeta, pois eles acreditam que tal escolha é uma decisão humana para governar a nação islâmica. Eles alegam que o cargo da sucessão do profeta é um assunto dos muçulmanos e não necessariamente deva ser de alguém que possua as mesmas qualidades e características do profeta (S.A.A.S.).

O significado do cargo do Imamato está além das questões de liderança política, social econômica, militar ou da escolha humana, pois, o Imamato é a extensão, a continuação da tutela do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) sobre a nação islâmica.

A obediência de Deus se entende aos Imames (A.S.) por isso o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) disse que ele é o tutor dos muçulmanos, e assim, Ali (A.S.) é também o tutor dos muçulmanos, confirmando a verso do Alcorão Sagrado que diz: “Vossos reais confidentes são: Deus, Seu Mensageiro e os fiéis que observam a oração e pagam o zakat, genuflectindo-se ante Deus (55) Quanto àqueles que se voltam (em companheirismo) para Deus, Seu Mensageiro e os fiéis, saibam que os partidos de Deus serão os vencedores (56)” (C. 5). Esse é o papel do Imamato na liderança da nação islâmica.

Outra interpretação do Imamato é que os Imames (A.S.) representam uma liderança religiosa espiritual para com todos os muçulmanos, eles são os guardiões e protetores dos ensinamentos islâmicos contra aqueles que intencionalmente ou não desejam desviar os ensinamentos da doutrina islâmica.

Os deveres dos Imames (A.S.) eram esclarecer e explicar tudo aquilo que o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) não teve tempo ou condições de explicar aos muçulmanos. Os Imames (A.S.) dão continuidade a esta missão Profética. O profeta Mohammad (S.A.A.S.) não chegou a passar essa missão a todos os muçulmanos, ele a divulgou para pessoas muito próximas. O Imam Ali (A.S.) possuía as qualidades e a capacidade para dar continuidade à missão Profética, e as tradições e versos do Alcorão confirmam essa questão.

Temos exemplos numa passagem no livro Nahjul Balagh onde o Imam Ali (A.S.) informa ao profeta que escutava os gemidos e choros do diabo. O profeta explica ao Imam Ali (A.S.) que essas lamentações do diabo são por ele estar ciente de que não conseguirá manipular sua pessoa.

A prova de que não houve tempo hábil para que o profeta (S.A.A.S.) esclarecesse tudo durante sua vida é que as demais escolas islâmicas adotaram o método e o conceito da comparação. O princípio da comparação foi negado na doutrina islâmica pois, nada deve ser comparado em termos de jurisprudência. Essas escolas islâmicas caíram nesse problema, já que a vida é repleta de novas questões e situações, principalmente quando o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) faleceu. Os adeptos das escolas islâmicas ficaram sem soluções para novas situações e problemas, e uma forma mais fácil de chegar a uma solução razoável foi adotar o princípio da comparação.

O debate entre um dos maiores líderes das quatro escolas islâmicas, Abu Hanifa, e o jovem Imam Sadeq (A.S.), o 6°Imam, foi o seguinte. O Imam Sadeq (A.S.) perguntou a Abu Hanifa se a oração era mais importante para Deus do que o jejum. Abu Hanifa respondeu e disse que: “Obviamente seria a oração mais importante. A oração é a coluna da religião, se for aceita as demais questões serão aceitas, e se for negada as demais questões serão negadas”. Então, o Imam Sadeq (A.S.) questionou a resposta de Abu Hanifa perguntado: “Por que então a mulher que está no período menstrual deve repor o jejum e a oração não é obrigatória?”. Outra questão foi em relação a morte. Imam Sadeq (A.S.) perguntou a Abu Hanifa se o assassinato era mais grave que o adultério (Zina). Abu Hanifa alegou que: “Logicamente o assassinato era mais grave pois quem matar alguém será como se tivesse matado toda a humanidade, e quem salvar alguém será como como salvasse a humanidade”. Imam Sadeq (A.S.) questionou novamente Abu Hanifa e disse: “Por que então se exige duas testemunhas no assassinato e no caso do adultério exige quatro testemunhas?”. Imam Sadeq (A.S.) questionou a forma de comparação que Abu Hanifa praticava.

Um Imam (A.S.) é o sucessor do Profeta (S.A.A.S.) na explicação, na interpretação das jurisprudências, na defesa da doutrina, na luta contra a manipulação e desvio que a nação islâmica possa sofrer.

Todos os muçulmanos no mundo admitem que há grupos e práticas de manipulação, e um fato é que tradições e histórias foram consideradas falsificadas por judeus e pelos inimigos do Islam, para lograrem um efeito negativo de longo prazo no Islam genuíno.

Se levarmos em consideração a crença que o Imam é um sucessor do Profeta (S.A.A.S.) e um guardião da doutrina islâmica esse Imam deve ser infalível, pois já que ele é a continuação do papel e missão do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.), que é infalível, portanto ele também deve ser.

O Imam infalível não esquece, não erra, não comete equívocos, e sabe o que as pessoas precisam entender e interpretar corretamente a doutrina.

O Imam tem que possuir conhecimento detalhado e profundo dos versos do Alcorão Sagrado. Sabemos que o cargo do Imam (A.S.) é a sucessão do profeta, e os Imames possuem qualidades de infalibilidade ficando evidente a questão da tutela e sucessão do profeta Mohammad (S.A.A.S.), que é designado por Deus e não por intervenção humana.

Sabemos que nações e milhares de pessoas no mundo podem seguir uma certa escola de pensamento ou seita, e elas estão equivocadas. Uma evidência disso é que essas pessoas são orientadas pela mídia. Se somos livres nas nossas escolhas no século vinte e um observamos que as pessoas são guiadas pela mídia em muitas ocasiões. As pessoas escolhem um presidente e ao logo do tempo esse presidente perde a popularidade, e as pessoas ficam arrependidas de ter votado nele.

O princípio da escolha não cabe à sucessão do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e sim apenas à administração dos assuntos da vida. Outra questão é a posição do tutor (Wali), um ser humano perfeito e infalível, e a Terra jamais passará um período sem sua presença.

Se falarmos somente sobre a questão de liderança política e social então estamos sendo guiados, teremos sempre um tutor, um representante, uma prova, um curador sobre a Terra. Essa prova seria o argumento de Deus sobre suas criaturas. Se perguntarmos sobre alguém mais completo em seu nível espiritual e mental esse ser humano é representado pelo Imam Mahdi (A.F.), que Deus apresse sua vinda.

O Alcorão Sagrado confirma com esse verso que em verdade vossos tutores são Deus, Seu mensageiro e os crentes. Temos que conhecer esse significado do Imamato. O Eid Ghadir é o grande evento de Deus, o grande dia de Deus, no qual Deus nomeou e escolheu o tutor na Terra depois de seu Mensageiro (S.A.A.S.).

Parabenizo todos os fiéis por serem guiados por Deus e seu Mensageiro (S.A.A.S.), e pelos Imames (A.S.) sucessores.

Que Deus possa abençoar e nos julgar junto com eles. Que possamos ser daqueles bem guiados que praticam os métodos e tradições de uma forma correta. Que possamos ser guiados por esses homens cada vez que pedirmos para sermos guiados à senda reta.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e as bênçãos de Deus estejam sobre o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e sua purificada linhagem.

 

 

 

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