O que é o Arbaeen do Imam al-Hussein

Arbaeen, você pode ter ouvido esta palavra alguma vez. Mas o que ela significa? Literalmente significa quadragésimo, ou seja, o quadragésimo dia após um evento.

Para os seguidores da escola dos Ahlul Bait (A.S.), mais conhecida como “Xiitas”, o Arbaeen representa o quadragésimo dia após o martírio do Imam Hussein (A.S.) em Karbala. Também marca o dia em que as cabeças dos Mártires de Karbala foram trazidas até o local em que foram sepultados os seus corpos, e dessa forma enterradas junto com os mesmos. A primeira pessoa a realizar esta celebração foi o filho do Imam Hussein (A.S.), o Imam Ali ibn Hussein (A.S.). Mas porque a celebração deste evento?

Alguns criticam dizendo que o Imam Hussein (A.S.) serve apenas como um pretexto para as lágrimas e lamentações dos xiitas. Mas, afinal de contas, as tragédias que caíram sobre o Imam Hussein (A.S.) e sua família em Karbala, acompanhado do seu pequeno exército de 70 companheiros, foram dramáticas e cruéis, um evento como jamais ocorrido na história da humanidade. Para começar, o acesso à água foi cortado da família do Imam Hussein (A.S.), a fim de pressioná-lo a se render e prestar lealdade ao governante da época, Yazid ibn Mu´awiyah (que Deus o amaldiçoe). Mas este fato não fez o Imam Hussein (A.S.) recuar nem um pouco de sua posição, pois estava totalmente determinado e certo da mesma. A tirania e o desvio dos princípios do Islam na época representados pelo governante opressor Yazid chegaram ao extremo, ele e seus súditos leais até mesmo consumiam bebidas alcoólicas a alguns metros do túmulo sagrado do Profeta Mohammad (S.A.A.S.), em Medina. Isto ocorria no ano 61 Hejrita, ou seja, cerca de 50 anos após o falecimento do Profeta Mohammad (S.A.A.S.).

Como a nação chegou a esta decadência moral tão rápido, imersa na total insolência de cometer estes atos ilícitos contrários aos valores e mensagem do Islam? Claro que isso ocorria por culpa dos guardiões do estado na época, ou como são chamados, os CALIFAS, pois eles viviam e eram assim, e isso tornou as pessoas mais indolentes ainda para cometer as infrações e delitos, mesmo vivendo na primeira capital do Islam, ou em qualquer outra cidade ou província islâmica. Não havia nenhum interesse por parte do estado e de seus governantes para que prevalecessem os ensinamentos verdadeiros do Islam, o que interessava era apenas a proteção dos seus cargos e o recolhimento dos impostos para a ostentação de uma vida de luxúria nas posições de governo.

Neste momento o Imam Hussein (A.S.) chegou à total convicção de que o único meio para salvar a mensagem verdadeira do Islam era se voltar contra este tirano, pois não havia mais condições de negociar ou mantê-lo naquele estado em que exaltava e propagava uma versão mentirosa e desviada do Islam. O Imam (A.S.) saiu de Medina acompanhado de sua família e centenas de homens rumo à Meca, para praticar o Haj, e de lá à Kufa, onde era esperado por um tanto de milhares de seguidores, os quais tinham escrito a ele para convida-lo à Kufa e se juntar a eles para liderar o combate contra Yazid. Mas infelizmente não foi isso que ocorreu. As paixões do ego e o apego à vida terrena que se enraizou na alma de grande parte da sociedade islâmica foram os principais motivos fizeram com que vendessem suas almas à Yazid, e dessa forma traíram o Imam Hussein (A.S.) e lutarem contra ele.

O Imam Hussein (A.S.), ao chegar em Meca, soube que Yazid enviou mercenários a fim de, nas próprias palavras do vil Yazid, “mata-lo, mesmo se estivesse agarrado nas cortinas da Caaba”, e este foi o principal motivo do Imam Hussein (A.S.) ter decidido sair às pressas de Meca mesmo sem ter finalizado o ritual do Hajj (Peregrinação), pois como sabemos não se deve derramar sangue nenhum num perímetro de 15 km ao redor da Caaba. E o Imam (A.S.) queria respeitar a Caaba e este local sagrado, pois para Yazid não faria diferença nenhuma onde matar o Imam Hussein (A.S.).

Durante a trajetória até Karbala, o Imam Hussein (A.S.) olhou para sua caravana, lamentou e disse: “Ina lillah wa ina ilaihi rajiun (Somos de Deus e a Ele retornamos)”, um versículo do Alcorão Sagrado que a pessoa recita quando há alguma tragédia caindo sobre ela. Quando seu filho Ali Al-Akbar ouviu seu pai dizendo isso, o perguntou o porquê daquelas palavras, e o Imam (A.S.) respondeu: “Olho para minha caravana e vejo a morte a acompanhando”. Ele (A.S.) queria dizer que a morte seria certa sobre todos dentro de alguns dias. Então, seu filho perguntou: “Ó pai, mas nós estamos com a verdade?” O Imam Hussein (A.S.) respondeu que sim, e então o seu filho disse: “Então, já que estamos com a verdade não importa se vencermos a morte ou a morte nos vencer”. Certamente que o Imam Hussein (A.S.) já sabia o que ocorreria com ele (A.S.) e sua família, e conduziu sua família para que eles pudessem assistir e relatar o ocorrido ao mundo, para que contassem o que ocorreu em Karbala, e denunciassem a injustiça e a corrupção dos princípios e valores que o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) tinha transmitido para a sua nação.

Logo, os fatos que ocorreram em Karbala não somente tocam o coração dos homens, mas eles também levam às lágrimas pelos episódios trágicos, cruéis e violentos que ocorreram com a mais pura geração do Profeta Mohammad (S.A.A.S.), episódios que atingiram aquele que foi chamado de “O Senhor dos jovens do paraíso” pelo próprio Profeta Mohammad (S.A.A.S.). E o Profeta (S.A.A.S.) também disse: “Hussein é de mim e eu sou de Hussein, Deus amará aquele que amar Hussein”.

Mas não é apenas isso que aprendemos com a história de Hussein (A.S.) em Karbala.

O que aprendemos com o Imam Hussein (A.S.)?

A não temer a morte…

A sacrificar tudo que temos pelos princípios e valores da nossa religião…

A rejeitar a injustiça e a opressão dos tiranos…

A viver com honra e sem humilhação…

A recomendar o bem e rejeitar o mal…

A vivermos livres sem ter que sermos servos dos outros…

A sermos membros ativos e construtivos da sociedade, não seus destruidores ou corruptores…

A sempre estarmos ao lado dos oprimidos, contra os opressores…

No Arbaeen os fiéis se dirigem até Karbala para renovar seus votos com o grande salvador dos princípios do Islam, este homem foi o Imam Hussein (A.S.). Os muçulmanos de todas as escolas devem a este grandioso senhor dos mártires tudo que possuem de bem do Islam, pois até mesmo o Alcorão que carregamos, a Caaba na direção da qual oramos e o Haj que praticamos estavam em risco de ser condenados e desviados se não fosse pelo sangue e sacrifício deste grandioso Imam (A.S.), que também sacrificou seus irmãos, sobrinhos, companheiros, e até mesmo seu bebê recém-nascido, pela grande mensagem do Islam.

 

 

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