O que o Alcorão Sagrado conta sobre Jesus (A.S.) e Mohammad (S.A.A.S.)

Por: Ahmad Ismail

Num texto que circula na internet, de nome “Oito coisas que todo cristão deve saber sobre Jesus no Alcorão”, pregadores cristãos tencionam provar citando algumas passagens do Alcorão que Jesus (A.S.) seria, ao contrário do que creem os muçulmanos, mais do que um profeta, e que como tal, estaria acima de Mohammad (S.A.A.S.), o que segundo eles, poria em dúvida a autoridade do mesmo.

O texto omite muitas informações e versículos alcorânicos importantes sobre o assunto, e na verdade, nenhum muçulmano razoavelmente conhecedor do Alcorão concordaria com as conclusões equivocadas constantes nele. Basta uma breve e superficial análise do texto alcorânico para desmenti-las.

Sobre os Profetas e Mensageiros de Deus

O que o autor do texto omite ou desconhece é que o Alcorão Sagrado não propõe uma disputa entre os profetas de Deus – a figura central do Alcorão é Deus Altíssimo, o Deus Único, de Abraão (A.S.), Noé (A.S.), Moisés (A.S.), Jesus (A.S.) e Mohammad (S.A.A.S.) e nenhuma criatura, homem ou anjo, tem qualquer mérito senão naquilo que Deus lhe confere. Por esta razão, o número de vezes que os profetas são citados não serve de indício para que alguém conclua que Jesus (A.S.) seja superior a Mohammad (S.A.A.S.) ou aos demais profetas. Mohammad (S.A.A.S.) é citado cinco vezes no texto, Jesus (A.S.) é citado 25 vezes; porém Moisés (A.S.) é citado 130 vezes! Se o número de vezes que um profeta é mencionado fosse uma prova de superioridade, teríamos que admitir que Moisés (A.S.) ocuparia uma posição mais elevada.

Além disso, o próprio Alcorão não deixa dúvida que os profetas e mensageiros ocupam perante Deus posições sublimes, e que, segundo suas atribuições, Deus lhes conferiu sinais, e que eles tiveram missões diferentes numa escala definida por Deus, somente por isso Deus diz no Alcorão: “Desses mensageiros preferimos uns aos outros. Entre eles, houve alguns a quem Deus falou, e outros que elevou em dignidade…” (2:253)

Segundo a tradição essa hierarquia (que pertence a Deus) se deve à missão específica de cada um deles. E a tradição autêntica nos diz que cinco profetas possuíram todos os graus da profecia: Noé (A.S.), Abraão (A.S.), Moisés (A.S.), Jesus (A.S.) e Mohammad (S.A.A.S.).

Mas que para os muçulmanos não deve existir uma distinção entre eles (alguma hierarquia de valor): “Dizei: Cremos em Deus, no que nos tem sido revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac, a Jacó e às tribos; no que foi concedido a Moisés e a Jesus e no que foi dado aos profetas por seu Senhor. Não fazemos distinção entre eles, e a Ele (Deus) nos submetemos”. (2:136)

Assim, as diferenças entre Mohammad (S.A.A.S.) e Jesus (A.S.) à luz do Alcorão não são qualificativas, foram enviados com missões diferentes e com atribuições diferentes. As pessoas que, movidas por seus caprichos ou crenças equivocadas pretenderem fazer disso “uma prova de superioridade de Jesus (A.S.)” não encontram qualquer base alcorânica para isso – estão se enganando e enganando a outros.

O Alcorão em nenhuma parte diz que Jesus (A.S.) possuía onisciência (o que a própria Bíblia também nega) – o que o Alcorão diz no ayat 49 da sura 3 é: “… e vos revelarei o que consumis e o que entesourais em vossas casas…” Isto é, o dom da profecia. Ademais, o Alcorão não permite a interpretação equivocada nesse assunto quando diz: “E quando Deus disser: Ó Jesus, filho de Maria! Foste tu que disseste aos homens: Tomai a mim e a minha mãe por duas divindades, além de Deus? Responderá: “Glorificado sejas! Não é admissível que eu diga o que não é do meu direito dizer. Se tivesse dito, Tu o terias sabido, porque Tu sabes o que há em mim enquanto que eu não sei o que há em Ti.  Tu és o Conhecedor de tudo o que está oculto”. (5:116)

Onisciência é um Atributo exclusivo de Deus, nenhuma criatura a possui, de acordo com o Alcorão.

Sobre os sinais (milagres)

O Alcorão deixa claro que tudo o que Jesus (A.S.) fez, o fez com a permissão de Deus e com o poder que Deus lhe conferiu para sua missão, então Deus é o autor verdadeiro de seus sinais. Em nenhuma passagem o Alcorão sequer insinua que Jesus (A.S.) tenha sido Deus ou filho de Deus, ao contrário nega terminantemente esse dogma cristão.

Sobre o nascimento milagroso de Jesus(A.S.), o Alcorão diz: “O exemplo de Jesus perante Deus é idêntico ao de Adão, a quem Ele criou do pó, então lhe disse: Sê!  E foi”. Evidenciando que Deus criou um homem sem pai da mesma maneira que criou um homem do barro; não havendo nisso qualquer prova de uma suposta natureza divina de criatura alguma.

O texto omite que o Alcorão afirma de forma peremptória que Jesus não foi senão um Mensageiro e que em seguida nega qualquer forma de Trindade: “Ó adeptos do Livro, não exagereis em vossa religião e não digais de Deus senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, não foi senão um mensageiro de Deus e Seu Verbo, lançado em Maria, e um Espírito Dele. Crede, pois, em Deus e em Seus mensageiros e não digais: Trindade! Abandonai (essa crença) que será melhor para vós; sabei que Deus é Uno, Glorificado seja! Como teria um filho se a Ele pertence tudo o que há nos céus e na terra? E Deus é suficiente Guardião”. (4:171)

O Alcorão Sagrado também evidencia que nem Jesus (A.S.) nem criatura alguma tem participação na Natureza Divina ou no Reino (na Autoridade de Deus) no universo, quando diz: “E quando Deus disser: Ó Jesus, filho de Maria! Foste tu que disseste aos homens: Tomai a mim e a minha mãe por duas divindades, além de Deus? Responderá: “Glorificado sejas! Não é admissível que eu diga o que não é do meu direito dizer. Se tivesse dito, Tu o terias sabido, porque Tu sabes o que há em mim enquanto que eu não sei o que há em Ti. Tu és o Conhecedor de tudo o que está oculto”. Não lhes falei senão o que me ordenaste: “Adorai a Deus, meu Senhor e vosso!” E enquanto permaneci entre eles, fui testemunha deles; e quando quiseste encerrar os meus dias na terra, foste o Observador sobre eles, porque és Testemunha de todas as coisas.” (5:116 e 117)

Em suma, o Alcorão atesta que Jesus (A.S.) nasceu como o Verbo (Palavra de Deus) soprada em Maria (A.S.), notemos que o termo Verbo também é usado para o próprio Alcorão com o sentido de palavra de Deus.

Atesta também que ele era o Messias (Ungido) enviado aos filhos de Israel, mas em parte alguma insinua ou diz que os sinais conferidos a Jesus (A.S.) seriam algum tipo de prova de sua divindade ou superioridade perante os demais profetas, essa conclusão é humana e não tem base no Alcorão, como os versículos supramencionados deixam claro.

Nada no Alcorão nos autoriza a especular sobre a razão precisa de profetas terem tido menos ou mais sinais e dons. O que sabemos, pelo estudo mais abrangente das matérias relativas ao Alcorão, é que cada profeta recebeu de Deus dons e sinais de acordo com o povo a quem foi enviado, a época em que viveu e sobretudo, a natureza de sua missão. Os sinais e dons eram justificados por esses fatores. Por exemplo, Moisés (A.S.) foi enviado ao Faraó com a missão de libertar o povo de Israel, não poderia conseguir isso apenas com palavras, de modo que Deus lhe conferiu sinais para derrotar o orgulho e a força material do Faraó. Pela mesma razão Jesus (A.S.) foi enviado com seus sinais a um povo que utilizaria de Escrituras recebidas para confrontá-lo. No caso de Mohammad (S.A.A.S.), teria diante de si a violência, a ignorância e a arrogância de um povo idólatra, por isso recebeu o sinal da Palavra Revelada (o Alcorão) para vencer a ignorância, as nobres qualidades para converter os corações e a engenhosidade e liderança militar para sobrepujar a agressão dos inimigos de Deus.

No texto, o autor diz de maneira bastante simplória “Os muçulmanos, inclusive os poucos letrados, acreditam conhecer Jesus o suficiente, eles o tem integrado em sua cosmovisão, como um profeta a mais…” Ora, é o próprio Alcorão que afirma: “O Messias, filho de Maria, não é senão um mensageiro, outros mensageiros o precederam e sua mãe era uma fiel.  Ambos se sustentavam de alimentos terrenos. Observa como lhes elucidamos os versículos e observa como se desviam.” (5:75)

Sobre o status e a autoridade de Mohammad (S.A.A.S.) e de Sua Profecia

O mesmo Alcorão diz: “ele (Mohammad) é o Mensageiro de Deus e o Selo dos Profetas…” ou seja, aquele que sela todas as mensagens anteriores, e portanto é enviado a toda humanidade – e aquele que crer nele e no que lhe foi revelado obedece a Deus.

Por isso diz ainda: “Dize: Obedecei a Deus e ao Mensageiro. Mas se recusarem a fazê-lo saiba que Deus não ama os descrentes”. (3:32) “Ó fiéis, obedecei a Deus, ao Mensageiro e aos investidos de autoridade dentre vós! Se disputardes sobre qualquer questão, recorrei a Deus e ao Mensageiro, se crerdes em Deus e no Último Dia, porque isso será melhor e de bom resultado.” (4:59) “Ó fiéis, obedecei a Deus e ao Mensageiro, e não provoqueis a anulação de vossas obras.” (48:33) “Deus e Seus anjos abençoam o Profeta. Ó vós que credes invocai a bênção sobre ele e saudai-o dignamente.” (33:56)

Essa ordem inequívoca de obedecer a Mohammad (S.A.A.S.) é dada em mais uma dezena de versículos. Por outro lado o Alcorão alerta contra a desobediência a Deus e a Seu Profeta (Mohammad): “E quem desobedecer a Deus e a Seu Mensageiro, transgredindo os Seus limites, Ele (Deus) o introduzirá no fogo infernal, onde permanecerá, e sofrerá um aviltante castigo.” (4:14)

O Alcorão confere a Mohammad (S.A.A.S.) a mesma autoridade que foi dada a todos os mensageiros e profetas que o antecederam, cada um em sua época e perante seu povo; com a diferença que no caso do Selo dos Profetas (S.A.A.S.) essa autoridade é perante todo o gênero humano até o Dia do Juízo.

O Alcorão afirma que Jesus (A.S.) anunciou a vinda de Mohammad (S.A.A.S.) dizendo: “E quando Jesus, filho de Maria, disse: “Ó Filhos de Israel! Sou o Mensageiro de Deus enviado a vós, para confirmar o que me precedeu da Torah, e para anunciar a boa nova de um mensageiro que virá depois de mim, cujo nome será Ahmad…””  (61:6)

Ora, nenhum profeta ou Mensageiro, segundo o Alcorão foi enviado para que não fosse obedecido. Como Jesus (A.S.) anunciaria a vinda de um Mensageiro para que os seres humanos não o seguissem, o obedecessem ou não acatassem o que lhe fosse revelado? De modo que, a autoridade de Mohammad (S.A.A.S.) é conferida por Deus – e o Livro Sagrado a ele revelado é a lei até o dia do juízo.

A Autoridade Mohammad (S.A.A.S.) pelo Livro Revelado e a Mensagem Nele contida

Por fim, o Alcorão declara que a Mensagem anunciada (revelada) a Mohammad (S.A.A.S.) era definitiva e selava todas as anteriores. E diz: “E quem seguir outra religião, que não seja o Islam, nunca será aceita, e no outro, mundo, ele estará entre os derrotados.” (3:85) “Hoje aperfeiçoei a vossa religião, concluí Minha graça para convosco; e vos aprovei o Islam como religião”. (5:3) “Foi Ele (Deus) que enviou Seu Mensageiro com a Orientação e a religião da verdade, para fazê-la prevalecer sobre todas as outras, embora isso contrarie os politeístas”. (9:33)

Conclusão

Não há como se fundamentar no Alcorão para negar o Alcorão; e o Alcorão não deixa lugar a contradições, distorções ou interpretações confusas como estas que o texto pretende. A retórica do autor pode servir para ludibriar muçulmanos e cristãos ignorantes, mas não possui provas aceitáveis em seus argumentos.

 

 

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