Palavra do Sheikh Ramil Sadikov (Imam da Mesquita Histórica de Moscou) no Encontro Islâmico no Brasil

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, que iluminou o mundo com a vinda do Senhor dos Mensageiros, o responsável por expandir a mensagem de paz para toda a humanidade. Que a paz e as bênçãos de Deus estejam sobre o Senhor dos Profetas e Mensageiros, Mohammad, sobre seus Ahlul Bait (A.S.) e sobre seus bons companheiros e todos que o seguirem verdadeiramente até o dia do juízo final.

Senhoras e senhores, líderes religiosos, Imames e queridos participantes.

Permitam-me no início agradecer aos organizadores deste encontro e agradecer pelos esforços empreendidos na realização deste importante evento. Como também quero agradecer pelo convite e pelo espaço oferecido para a minha participação e palavra.

No início gostaria de transmitir as saudações de Sua Eminência, o Mufti Sheikh Rawi Ain El-Din, presidente do Conselho dos Muftis da Federação Russa e presidente da Organização Religiosa Islâmica da Federação Russa, saudações vinculadas aos desejos de sucesso ao evento, para que alcancemos seus objetivos.

Irmãos,

Não há nenhuma dúvida que vivemos tempos difíceis, onde se espalham as guerras e os conflitos entre as sociedades. Assim como guerras civis e ações terroristas de grupos armados radicais que praticam o terror fazendo milhares de vítimas e tirando a vida de milhares de pessoas inocentes no mundo inteiro. Ao mesmo tempo observamos a interferência internacional sobre a soberania de países islâmicos e a violação de suas fronteiras, bens e até mesmo a quebra de acordos e pactos firmados com estes próprios países.

A comunidade muçulmana da Rússia, com base em sua experiência adquirida ao longo de décadas, está totalmente ciente que há forças externas que visam seus próprios interesses através de graves interferências, e sem dúvida alguma isto terá consequências devastadoras sobre o futuro da sociedade muçulmana russa, causando conflitos internos, divergências e desunião entre as comunidades muçulmanos do país.

Aprendemos muito sobre os aspectos religiosos da vida na Rússia no decorrer dos últimos 20 anos. Aprendemos com nossos próprios erros, e como cidadãos fortalecemos nossos laços com o estado e trabalhamos para fortalecer a posição dos seguidores do Islam tradicional, que chegou ao país muito antes do cristianismo. Hoje, trabalhamos para assegurar uma convivência social harmoniosa, fortalecendo laços com todos os cidadãos, de todas etnias, culturas e religiões.

Na Rússia lamentavelmente já testemunhamos e vivemos o pesadelo do terrorismo e dos conflitos civis amargos, e devido a isso compreendemos muito bem o grau das dificuldades pelas quais passam as sociedades e países islâmicos que hoje vivem estes problemas.

Acreditamos que a nação islâmica contemporânea necessita passar por transformações importantes, e deve dar conta da importância do enfrentamento das ações terroristas praticadas por grupos e organizações radicais e criminosas. Esta transformação deve ocorrer levando em conta a experiência das lideranças islâmicas dos séculos passados visando assegurar a preservação da tradição e essência da cultura islâmica.

Portanto, há alguns temas que, de acordo com nossa humilde opinião, necessitam ser discutidos e levados em consideração. Estas questões podem servir como ponte a fim de executarmos as transformações necessárias para termos uma sociedade islâmica harmoniosa e íntegra.

1) A importância da criação de um conselho unificado, formado por grandes sábios e religiosos contemporâneos, que com firmeza e sabedoria decrete sobre questões importantes como a condenação dos conflitos e guerras entre os muçulmanos. Infelizmente a voz e os decretos dos grandes sábios e líderes de diversos países islâmicos não vêm tendo reflexo no mundo por falta desta instituição que deve atuar com rigor no aspecto religioso e legal, de forma internacional e gozando de poder e influência para que seus decretos sejam reconhecidos pelo menos por grande maioria da comunidade muçulmana internacional.

2) Alguns países islâmicos, até mesmo os mais influentes e poderosos, muitas vezes abrem espaço para uma dependência econômica, militar e até mesmo política de grandes potências, inclusive as não islâmicas. Este defeito contradiz com as passagens do Alcorão Sagrados e da tradição profética. As políticas colonizadoras de países não islâmicos que claramente visam dominar as riquezas naturais e controlar a geopolítica da região fazem com que os países islâmicos caminhem contra os interesses da nação islâmica, e isso é um grande obstáculo para o estabelecimento da união entre toda a nação islâmica. A falta de combate aos grandes desafios e obstáculos, internos ou externos, dá espaço para a divulgação do pensamento radical e recrutamento de soldados para organizações extremistas e terroristas espalhadas pelo mundo. Para destruir este plano devemos elevar a voz da cooperação e empreender uma parceria entre os países islâmicos em todas as áreas. Como também é de extrema importância aumentar o poder das organizações que representam as nações islâmicas, como a “Organização de Cooperação Islâmica”, uma instituição que representa os mais de 60 países islâmicos do mundo, com forte presença em organismos internacionais como a ONU.

3) Os sábios e líderes religiosos islâmicos devem reconhecer a existência de diversas escolas de teologia e pensamento islâmico, sendo que esta diversidade faz parte da nossa herança cultural, e deve ser vista como natural e fonte de riqueza, e não como um motivo para a escalada de conflitos e intrigas entre os irmãos.

4) Com a espantosa evolução das estratégias de conflito e a existência de armas de destruição em massa, os sábios e líderes religiosos devem reformular e repensar o significado de “Jihad” e suas condições, pois as guerras de hoje podem levar à uma devastação em massa quando decretadas.

5) A nação islâmica, mesmo sendo a segunda maior do mundo, e presente em todos os países e continentes, infelizmente vive o isolamento e fragmentação, ocupada em conflitos internos e sem observar a importância da cooperação ativa com as demais comunidades mundiais.

Por fim, gostaria de ressaltar que infelizmente todos nós estamos enfermos, com a doença do apego à vida terrena, e isso faz com que enxerguemos apenas os nossos interesses e satisfações pessoais. Já esta na hora de todos nós sermos verdadeiros cidadãos, sejamos nós estudiosos, líderes ou de qualquer outra esfera da vida social, devemos refletir sobre nosso papel na sociedade e sobre como podemos ajudar a melhorar o futuro da humanidade. Cada um de nós deve cumprir o seu papel no estabelecimento da união e fortalecimento de seus laços, dando vida à força espiritual e material do mundo islâmico.

Sabemos que os objetivos que almejamos são difíceis, mas com a ajuda de todos podemos dar um fim às intrigas que causam tanta dor e derramamento de sangue.

Agradeço a atenção de todos.

Que a paz e a bênçãos de Deus estejam com todos vocês.

Sheikh Ramil Sadikov – Imam da Mesquita Histórica de Moscou
Encontro Islâmico no Brasil – São Paulo, 29 de julho de 2017.

 

 

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