Sermão de Sexta-feira da Mesquita do Brás – Laços de parentesco e a conduta nos negócios – Sheikh Wissam Issam – 11/10/2019

Primeiro Sermão – Mesquita do Brás
Sexta-feira – 11/10/2019
Sheikh Wissam Issam

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, na altura de Sua majestade e como Ele merece. Louvado seja o Senhor do Universo, que a paz e as benções de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e seus purificados, Ahl el Bait (A.S.) e sobre todos os profetas e mensageiros, seus bons companheiros e os servos virtuosos.

Deus, peço-lhe perdão por mim e a todos os fiéis, estejam eles vivos ou falecidos. Servos de Deus, recomendo a vocês e a mim mesmo o temor a Deus, o temor o qual Deus determina o tamanho do crédito do ser humano nesta e em outra vida.

Servos de Deus, temam a Deus. Uma das questões que está ligada de uma forma direta com o temor são os laços familiares, sendo que Deus o Altíssimo falou sobre a importância de estreitar laços e de se conectar com os familiares. Deus proibiu firmemente o rompimento de laços familiares. Às vezes não há um contato entre eles, nem uma ligação, nem uma visita, presente, mensagem, ou qualquer outro meio de contato ou laço, sendo que essa falta de contato não é por uma inimizade e sim por conta da correria do dia a dia bem como as responsabilidades de cada um. Esse ato é pecado e o pecado dobra quando a falta de contato é por uma inimizade, ou um problema, ou ainda falta de consideração e de respeito.

Deus o Altíssimo disse no Alcorão Sagrado: “É possível que causeis corrupção na terra e que rompais os vínculos consangüíneos, quando assumirdes o comando” (47:22). Numa outra passagem Deus disse: “Que violam o pacto com Deus, depois de o terem concluído; separam o que Deus tem ordenado manter unido e fazem corrupção na terra. Estes serão desventurados”. (2:27). No primeiro versículo, cita-se, de uma forma direta, o rompimento dos laços familiares e no segundo, fala-se sobre aqueles que violam os pactos de Deus e rompem o que Deus os ordenou, entre essas orientações, está o pacto dos laços familiares.

Imam Al-Baquir (A.S.), o quinto Imam, narrou sobre o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) que dizia: “Avisem os presentes e os ausentes, e a todos aqueles que irão nascer no futuro, que mantenham laços familiares mesmo se for necessária a caminhada de um ano. Façam isso até o dia do juízo final, pois isto faz parte dos ensinamentos da religião”.

O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) ao deixar uma mensagem aos “presentes e aos ausentes e a todos aqueles que irão nascer futuramente” significa o quanto essa mensagem e ensinamento são importantes. O Profeta, ao pedir a transmissão dessa mensagem a todos aqueles que não estavam ali naquele evento, que assim o façam. Eles têm a obrigação de cumprir.

Mais um detalhe, além do próprio laço que deve ser mantido por todos, o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) nos orienta que para manter um laço, se for necessário fazer uma viagem, ou uma caminhada de um ano, que façamos, pois o princípio de manter laço é um princípio muito sagrado.

Uma observação que faço é a seguinte: às vezes a pessoa pode fazer uma ligação, ou se o parente morar longe pode mandar um presente ou um cartão postal, por exemplo. Nesse caso, o princípio de preservação de laços familiares será cumprido, mas tudo isso não corresponde e não está ao nível de ver um parente, visitá-lo, sentar e conversar com ele ou abraçá-lo. Uma tia, um tio, um primo, avô ou avó, pai ou mãe. Com certeza o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) está nos mostrando que a visita física, mesmo se for por uma caminhada longa e por meios de muitos esforços, vale mais que manter um laço de longe.

O Imam Ali ibn el Hussein (A.S.) narrou que seu avô, o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) disse: “Aquele que deseja que Deus prolongue sua vida e o enriqueça na vida então que mantenha e estreite seus laços familiares pois o laço familiar irá se pronunciar no dia do juízo final e dizer: ó meu Deus, cuide de quem me manteve e rompa com quem me rompeu”.

Às vezes, o rompimento ocorre, mas Deus não gosta que esse rompimento aconteça. Às vezes, um irmão rompe com seu irmão, ou com tio, ou com o próprio pai ou mãe. Há motivos por trás desse rompimento que iremos citar aqui:

Discordâncias materiais

Pode haver, por exemplo, uma discordância entre cada uma das partes por um motivo mundano como herança por exemplo. Ou pode ser por questões comerciais. A briga começou desta forma e houve um rompimento entre os dois lados e por isso eles param de se falar. Às vezes, é uma questão familiar, como por exemplo o matrimônio entre um casal em família. Após o divórcio as duas famílias rompem o elo e não se falam e nem se conectem mais.

Estes problemas acima citados, tem soluções? Claro que sim. Eu como muçulmano, devo ser fiel àquilo que creio e minha conduta deve ser compatível às minhas crenças. Minha conduta não deve ser artificial e sim profundamente firme e com muita fé na minha doutrina e religião. Se o problema for financeiro, por exemplo, então tenho que procurar um juiz religioso, apresentar o caso, submetendo a situação à sua decisão e desta forma dar um fim a este rompimento e briga. Infelizmente, alguns quando vão ao juiz religioso e apresentam seu problema com o fulano e o juiz em seguida dá o veredicto, se a decisão do juiz não for favorável ao que apresentou a causa, ele não aceita, não acata e acumula mais um novo inimigo: o juiz. Isso está errado irmãos.

Ou por exemplo questões familiares e ligadas ao divórcio. A pessoa não deve e não pode falar ou dar opinião exceto se for para reconciliar. Quando um casamento chega a um nível desgastante entre o casal, o divórcio se torna uma benção e uma salvação para os filhos que não precisa conviver com discussões.

Inveja

Às vezes um parente tem sucesso em certo aspecto de sua vida. Seja formação acadêmica, ou financeira, ou mesmo posição social. Esse sucesso que ele alcançou faz um dos parentes invejá-lo e logo iniciam-se comentários maldosos a seu respeito. Também pode procurar pretextos para diminuir sua posição e sucesso. E por fim ele pode tomar a decisão de rompimento com seu parente bem-sucedido. Ou seja, para não dizer que está com inveja, ele prefere criar vários campos imaginários falsos e os usa para justificar o seu rompimento com seus parentes.

Esse caso também tem solução: procurar um médico que se chama RELIGIÃO, que apontará a cura desta doença. Os invejosos devem se conscientizar e devem se entregar à vontade de Deus naquilo que ele determinou para um de seus servos, seja ele um sucesso financeiro, ou social, ou seja, lá qual for esse sucesso.

Uma certa posição

Às vezes, duas pessoas podem ter uma discussão ou uma briga no comércio e uma delas que tem um parente trabalhando com o outro pode achar que esse deveria ter se posicionado a seu favor. A consequência pode ser desastrosa, como uma mágoa de seu parente que o faz romper os laços. Essas mágoas costumam surgir muito nos anos de eleições. Às vezes, um parente, irmão, filho ou uma esposa, ao escolher outro candidato, pode ir contra alguém da família e o resultado pode ser também ruim. Esse é um grande sinal de ignorância e é o maior sinal de que não somos compatíveis e seguidores verdadeiros dos ensinamentos da nossa religião. Parece que as vontades pessoais são prioritárias aos pareceres da religião.

Opiniões diferentes não devem ser usadas como pretexto para o rompimento familiar. Esse é um grande pecado. Temos que saber que cada um tem sua opinião, sua personalidade, sua visão e análise e, sendo assim, devemos dialogar e manter essas discussões em seus devidos campos e não trazê-las para casa.

O mesmo vale para aqueles parentes que seguem outras religiões. Jamais deve-se romper o laço de um familiar porque é seguidor de uma outra religião. O Imam Assadiq (A.S.) foi perguntado sobre um homem que rompeu seu laço com um parente que não seguia o Islam. O Imam (A.S.) disse: “Ele não pode romper o laço com este familiar”. O próprio Imam Assadiq (A.S.) foi perguntado sobre um parente que não era muçulmano. Ele possui um direito sobre o parente muçulmano? O Imam Assadiq (A.S.) disse: “Sim. Ele não merece ser rompido, sendo que se ele for muçulmano ele tem dois direitos: o direito como parente e o direito como muçulmano”.

Rogamos a Deus que nos perdoe, e que possamos nos refugiar Nele quando de sua ira. Refugiamos-nos em Deus por nossa arrogância. Ó Deus, seja misericordioso conosco e perdoa-nos. Deus nosso! Faça nos sermos felizes como aqueles que se encontrarão contigo no dia do juízo final.

Que a paz e a benção de Deus esteja com todos.

Segundo Sermão – Mesquita do Brás
Sexta-feira – 11/10/2019
Sheikh Wissam Issam

Peço perdão a Deus e a todos vocês e a todos os fiéis. Servos de Deus oriento a todos e a mim mesmo o temor a Deus e a obediência a Ele.

Vamos procurar falar a respeito de alguns problemas que encontramos no comércio. Problemas ligados às relações entre os muçulmanos e apresentar algumas soluções sobre essas questões.

É certo que o ser humano não pode viver solitário e sozinho. Sua vida depende de uma relação com as demais pessoas. Ele precisa vender, comprar, alugar, casar, herdar, hipotecar, emprestar, e etc  Tudo isso e muito mais, são questões importantes do ser humano e que ao longo da vida tem o desejo de concretizá-las.

Tudo isso e muito mais se dividem em duas categorias: o HALAL e o HARAM. O HALAL são coisas que atraem a satisfação divina e o HARAM são as que atraem a ira de Deus.

É natural que haja discordância entre as pessoas e como consequência, os problemas surgem, criando assim inúmeras discussões e discordâncias, em especial as comerciais.

Antes de falarmos a respeito de alguns exemplos sobre os problemas comerciais que podem surgir entre as pessoas é bom fazer a seguinte pergunta: “Se está tudo claro na doutrina islâmica, o que é Halal e o que é Haram, por que então há discordância entre as pessoas fazendo surgir problemas ou desentendimentos entre eles?”

A resposta dessa pergunta é a seguinte:

Primeiro: Nem todos têm o conhecimento das coisas que são Halal e Haram no Islam e, por isso, o Islam afirma sobre a importância da busca pelo conhecimento e não pratiquemos um ato ilícito sem querer.

Segundo: O ser humano pode ter alguns problemas ou doenças internas que levam ele a ignorar o que é Halal e o que é Haram mesmo sabendo quais são. São problemas como Inveja, Ambição, Poder, Má intenção, e etc…. Todos estes atributos negativos podem fazer a pessoa seguir o caminho desviado infelizmente. Por exemplo: o invejoso pode, infelizmente, acusar ou mentir, ou fazer qualquer coisa contra alguém. Ou por exemplo: Aquele que tem ambição pode fazer a pessoa seguir caminhos para obter ganhos ilícitos.

Terceiro: Às vezes não é nem a questão do conhecimento e nem um atributo maligno e sim causas naturais humanas. Às vezes, a pessoa simplesmente esquece que pagou a última parcela de um pagamento, por exemplo. Ela não tem má intenção, apenas se esqueceu.

Vamos falar sobre alguns dos problemas que podem ocorrer entre as pessoas.

Os tratos obscuros

Problema: Alguém vai comprar um produto e daí quando pergunta o seu preço a pessoa não diz e simplesmente fala: “Leva e não vamos discordar no seu preço”. Este jeito de fazer negócios muitas vezes pode levar a futuros problemas e discordâncias. Então, só o fato das coisas estarem obscuras, já é o início de discordâncias.

Solução: Tentar ser direto e formalizar o preço ou todas as condições de uma transação ou trabalho, sendo claro e explícito para evitar qualquer tipo de problema.

Acordos verbais

Problema: Alguém fecha acordos com outro verbalmente sem haver um papel ou até mesmo testemunhas.

Solução: Escrever tudo em um papel e definir as obrigações e deveres de cada uma das partes em qualquer transição. Se houver testemunhas é bem melhor.

Definir a moeda

Problema: Vender ou comprar uma mercadoria sem escolher a moeda para esta transação comercial.

Solução: A pessoa precisa definir o tipo de moeda de compra e venda.

Definir o prazo

Problema: Impor a venda de uma mercadoria para alguém e falar que não precisa pagar agora e sim quando vender aquela mercadoria.

Solução: Não se deve impor nada a alguém pela força, pois estará trazendo um problema para si mesmo.  Ao impor uma mercadoria que alguém não quer e ainda pede para ele te pagar só quando ela vendê-la se deve evitar isso. Entregar apenas o que a pessoa quer.

Definir o tipo

Problema: Não definir a categoria ou o tipo da mercadoria que está sendo comprada. Por exemplo: Comprei 100 baterias da Samsung. Mas de que tipo??!!

Solução: Definir detalhadamente o tipo, a marca e a voltagem ou cor ou acabamento ou qualquer outro detalhe da mercadoria vendida e comprada para evitar discordâncias e desentendimentos.

Falta de registro

Problema: Pagar ou receber sem registrar aquilo, pegar um recibo, anotar ou ter alguma testemunha.

Solução: Sempre registrar os pagamentos ou recebimentos para não haver discordâncias.

Carência

Problema: Locar um imóvel para alguém que está sem trabalho e falar pra ele “Fica três meses e me paga” ou “Quando puder”. Daqui a pouco o dono da loja vai e cobra o aluguel, mas ele cobra até mesmo aquele período que ele tinha imposto sobre o amigo desempregado.

Solução: Definir todo tipo de detalhe das locações ou contratos.

Garantia ou Hipotecas

Problema: Às vezes alguém não tem um dinheiro para comprar mercadoria e deixa algo como garantia. Seu imóvel, carro ou uma joia. O devedor não paga o fornecedor o então ele toma aquilo que estava em sua posse como garantia. Daí o proprietário daquela garantia fica magoado ou discorda com aquilo.

Solução: Definir prazos e como agir com as garantias e ambos cumprirem e respeitarem, pois o fornecedor precisa do seu dinheiro e o devedor também não quer perder aquela garantia que tinha deixado.

Adiar a reclamação

Problema: Compro uma mercadoria e o meu fornecedor me entrega com especificações e descrições diferentes do que eu tinha pedido. O certo seria ligar na hora e pedir a devolução ou a troca da mercadoria, mas eu não faço isso. Eu penso: “Vou tentar vender esta mercadoria”. Quando vejo que o produto não sai e não consigo vender, então eu ligo para o fornecedor, reclamo e peço a sua troca sendo que eu deveria ter feito isso logo quando recebi a mercadoria e não agora.

Solução: Se o produto não for aquilo que foi solicitado então deve-se ligar e notificar o caso imediatamente. Isso porque agora eu estou com a razão só que daqui a 6 meses não sei se estarei com a razão ou não.

O assunto terá continuidade na próxima semana, Inshallah.

Que a paz e a benção de Deus estejam com todos.

 

 

 

 

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