Sermão de Sexta-feira da Mesquita do Brás – Os boatos, suas consequências e como acabar com eles – Sheikh Ali Tormos – 13/09/2019

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvor a Deus, o qual tem louvor eterno, e jamais podemos pagar por seus direitos, suas abundâncias nunca acabam e nunca acabam seus louvores.

Testemunho que não há divindade além de Deus, o único, o onipotente. Testemunho que Mohammad é seu servo e Mensageiro, o melhor que aconselhou a nação, o qual convocou pela palavra gentil e pela sabedoria. Saudações sobre ele e sobre seus Ahlul Bait (A.S.).

Recomendo a todos e a mim mesmo a temência a Deus e o distanciamento dos pecados e dos ilícitos de Deus. Fiquem alertas das vossas paixões e desejos, e das tentações do diabo, pois ele jurou que iria desorientá-los e desviá-los do caminho da verdade de Deus.

Se apeguem todos pelo cordão de Deus, o altíssimo, e serão protegidos das tentações de Satã, e serão salvos.

Queridos irmãos e irmãs, que a paz e as bênçãos de Deus estejam com todos vocês.

Deus o Altíssimo disse no Alcorão Sagrado: “Ó fiéis, quando um ímpio vos trouxer uma notícia, examinai-a prudentemente, para não prejudicardes ninguém, por ignorância, e não vos arrependerdes depois”. (49:6)

Este abençoado versículo nos relata sobre um fenômeno desastroso que ataca nossas sociedades e que possui consequências negativas e devastadoras sobre o progresso e a evolução da sociedade como um todo. Este desastroso fenômeno é o que é chamado na sociedade como Sha´iah, ou seja, boatos.

Infelizmente muitos de nós sem ao menos perceber ou às vezes ajudamos a espalhar ou relatar os boatos na sociedade, e isso é algo que merece nossa observação e atenção.

Primeiro temos que saber qual o significado do termo Sha´iah (Boatos). Sha´iah literalmente significa espalhar algo entre as pessoas, seja aquilo que é espalhado verdadeiro ou falso. Em outras palavras Sha´iah é espalhar notícias que não devem ser espalhadas. Pois às vezes a Sha´iah que é espalhada entre as pessoas é verdadeira, só que não há razão para que ela se espalhe e nem se interesse nisso.

Estes boatos tem vários formatos e meios, e hoje iremos falar sobre tais.

Primeiro: Os boatos de medo

Por exemplo os boatos que surgem afirmando que irá ter uma guerra ou um grande meteoro irá atingir a Terra, ou por exemplo que irá acontecer uma grande praga e que metade da população mundial irá morrer. O que nós dizemos que mesmo se estes boatos forem verdadeiros, há um interesse em espalhar boatos entre as pessoas? Nós dizemos que não há interesse em espalhar este tipo de notícias ou boatos, pois o transtorno causado por eles é muito grande e deve ser evitado.

Segundo: Os boatos de ódio

Normalmente estes boatos são relatados entre as pessoas para privilegiar uma nação sobre a outra, seguidores de uma religião sobre a outra, etnia sobre a outra, enfim, tudo que pode levar a preconceito entre os povos e as nações, e sendo assim são boatos rejeitados no Islam. Nós temos que espalhar o amor, a aproximação a paz e a segurança.

Terceiro: Os boatos sobre a honra

São aqueles que atingem a honra das pessoas. Este tipo de boatos são os piores e mais perigosos, pois atingem a honra das pessoas, a dignidade das pessoas. Às vezes estes boatos podem acarretar consequências muito graves e talvez levem à morte de inocentes. Sendo que às vezes as pessoas são ingênuas e relatam boatos de uma forma não intencional, mas é muito importante que o fiel fique atento a estas questões, pois há tradições do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) que afirmam que: “O crente é uma pessoa cautelosa e prevenida”. Um crente deve analisar e pesquisar antes de falar ou divulgar qualquer coisa. Ele deve analisar e ter a certeza antes de tudo. Para terem uma ideia, na nossa religião se alguém acusar um outro em sua honra deve trazer quatro testemunhas que confirmam a acusação. Caso não traga o acusador será punido com oitenta chibatadas.

Portanto, queridos irmãos, os piores tipos de boatos são aqueles ligados à honra e dignidade das pessoas. O Imam Assadeq (A.S.) narra: “O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) dizia: “Deus castigará a língua com o pior dos castigos, então ela perguntará para seu senhor porque a castigou de forma pior que aos outros órgãos. Então será dito: “De tu partiu uma palavra que ultrapassou o leste e o oeste da Terra, e então causou a morte de um inocente, a tomada de uma riqueza e a violação da honra. Por minha majestade e honra, irei te castigar como nenhum outro órgão foi castigado”.”

Numa passagem narra-se que Mohammad ibn Al-Fudhail perguntou ao Imam Al-Kadhem (A.S.): “Me falaram algo de ruim sobre um irmão e eu fui até ele e perguntei sobre aquilo que ouvi, e ele nega a acusação, sendo que aqueles que me falaram aquilo eram confiáveis. O que eu faço?”. O Imam Al-Kadhem (A.S.) então diz: “Minta aos seus ouvidos e a sua visão sobre os seus irmãos, pois mesmo se cinquenta pessoas juraram para você algo sobre alguém desacredite e acredite nele. Jamais divulgue algo sobre ele, um boato que desvaloriza ou rebaixa sua imagem, pois será incluído entre aquele sobre os quais Deus diz: “Sabei que aqueles que se comprazem em que a obscenidade se difunda entre os fiéis, sofrerão um doloroso castigo, neste mundo e no outro; Deus sabe e vós ignorais” (24:19).

A questão é de extrema importância e delicadeza. Quando repassamos uma informação ou uma notícia na verdade estaremos ajudando a divulgá-la sem saber que estamos fazendo parte das peças e meios de sua divulgação. Normalmente o lugar de onde parte o boato ou a notícia sempre acaba sendo repassado, de uma geração para outra ou de uma época para a outra, de forma que não corresponda a sua realidade, e isto é um erro muito grave para a nossa sociedade.

Como reagimos perante os boatos?

É certo que o Alcorão Sagrado nos deu uma solução e um método muito claro e fácil para que não caiamos neste tipo de problema, e o versículo que citamos no início do discurso nos orienta que jamais divulguemos algo ou repassemos uma informação sem que antes tenhamos certeza ou pesquisemos sobre tal. Portanto seguem algumas soluções para não cairmos neste tipo de problema:

Primeira: Examinar

Toda e qualquer informação deve ser examinada e analisada. Deve-se procurar obter a notícia de sua verdadeira fonte.

Segunda: Não divulgar

Nem tudo que sabemos ou qualquer notícia precisa ser divulgada. Por exemplo: alguém fez uma caridade e você ficou sabendo, daí você divulga para fulano e assim por diante. Mesmo sendo esta informação boa, talvez aquele que fez a caridade não goste que as pessoas saibam. O Imam Assadeq (A.S.) dizia: “Jamais persigam os defeitos dos crentes, pois aquele que perseguir os defeitos dos crentes será desmascarado por Deus,  mesmo se estiver em sua casa”.

Terceira: Expor o inimigo e seus meios

Os boatos às vezes nem sempre são com palavras. Às vezes é uma mensagem, uma gravação ou um vídeo. Às vezes eu recebo uma mensagem, vejo que aparentemente ela é bonita e divulgo. Às vezes esta mensagem é uma mensagem cujo o próprio inimigo começou a divulgá-la, e assim foi chegando até as pessoas, de um a um. Não tenho que repassar para frente, e sim devo desmascarar e fazer de tudo para expor o inimigo e expor os meios que ele vem usando para divulgar as falsas notícias. Deus disse no Alcorão sagrado: “Pretendem enganar Deus e os fiéis, quando só enganam a si mesmos, sem se aperceberem disso (9) Em seus corações há morbidez, e Deus os aumentou em morbidez, e sofrerão um castigo doloroso por suas mentiras (10) Se lhes é dito: Não causeis corrupção na terra, afirmaram: Ao contrário, somos conciliadores (11) Acaso, não são eles os corruptores? Mas não o sentem (12) Se lhes é dito: Crede, como crêem os demais humanos, dizem: Temos de crer como crêem os néscios? Em verdade, eles sãos os néscios, porém não o sabem (13)” (2).

Quarta: Imunizar-se contra os boatos

Como isso é feito? Através do conhecimento e da sabedoria. Fortalecer o grau de sabedoria entre as pessoas de maneira que tudo que as pessoas recebam de informação elas analisem antes de espalhar ou adotar. Toda e qualquer informação deve ser compatível com Alcorão, a Sunnah e a razão, caso contrário não podemos adotar e nem acreditar.

Quinta: Desconcertar o boato e não se importar com ele

Muitas vezes desconsiderar, não se importar e não relatar os boatos já faz que sejam apagados e excluídos pouco a pouco da sociedade. Deus disse no Alcorão Sagrado: “E quando ouvem futilidades, afastam-se delas …” (28:55). Quanto mais as pessoas relatam os boatos, repassam e falam sobre eles, pouco a pouco eles se afirmam e ganham credibilidade. Tem aquele famoso ditado que diz: “Minta e minta até acreditar em si mesmo”. Ou seja, só o fato de não falar a respeito de um certo boato já o torna descartável na sociedade.

Sexta: Pacificação

Também é um dos meios para podemos nos proteger mediante o mal dos boatos. Pacificar o diálogo e o discurso mediante a este tipo de boatos e notícias. Por exemplo, ao ouvir é bom mantermos a calma e sempre recomendar que as pessoas mantenham a sabedoria em suas ações. O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) disse: “ A minha missão de cuidar das pessoas é tão importante quanto divulgar a mensagem”. Cuidar e manter acalma, amor, paz e harmonia entre as pessoas é uma das mensagens e missões de todo muçulmano. Deus o Altíssimo disse no Alcorão Sagrado: “Jamais poderão equiparar-se a bondade e a maldade! Retribui (ó Mohammad) o mal da melhor forma possível, e eis que aquele que nutria inimizade por ti converter-se-á em íntimo amigo!” (41:34).

Enfim, queridos irmãos ou irmãs, muitos dos nossos problemas cotidianos podem causar danos e problemas diretos em nossa sociedade e família. Eu falo isso de coração partido, mas infelizmente foram estes mesmos boatos que causaram danos a nossas famílias, separaram casais, desabrigaram filhos e tomaram riquezas. Tudo isso por causa de um boato de um hipócrita ou mentiroso que foi passando de boca em boca ou de pessoa em pessoa, sendo que um dos principais valores do Islam é o amor e o respeito ao próximo, pois o muçulmano é o irmão do muçulmano. Ele é seu espelho, seu irmão, seu guia, não o trai e nem o engana, e nem o oprime, mente ou fala por suas costas.

Os boatos e suas consequências na tragédia de Karbala

Uma das questões cujo o mal dos boatos registra é o que ocorreu na tragédia de Karbala. Primeiro os habitantes de Cufa enviaram suas cartas ao Imam Al-Hussein (A.S.) chamando-o para Kufa para liderá-los contra o governo opressor da época de Yazid. Então, o Imam Al-Hussein (A.S.) decidiu enviar seu primo e embaixador e confiável Muslim ibn Aquil para averiguar a situação de Kufa e quando ele chegou lá enviou uma mensagem ao seu primo Hussein (A.S.) e o informou que era verdade, e que haviam 18 mil soldados que se comprometeram a lutar ao seu lado contra Yazid. Mas quando o então governante de Cufa, Nu´man ibn Al-Bashir foi exonerado de seu cargo e em seu lugar foi nomeado Ubaidillah ibn Ziyad, a primeira coisa que este fez foi fortalecer a questão dos boatos e as falsas notícias, e entre elas a pior de todas, a que estaria aguardando a vinda de um exército devastador vindo de Sham. Este boato começou a correr a cidade de Cufa rapidamente, e foi esta notícia que causou o medo entre os habitantes de Cufa, de modo que um ficou contra o outro e todos abandonaram Muslim ibn Aquil, mas por fim nenhum exército chegou de Sham. Então, vejam o quanto os boatos podem causar danos contra a sociedade.

Temos que ficar bem atentos a estas notícias e boatos falsos que podem levar a graves consequências.

Que a paz e a bênção de Deus estejam com todos vocês.

 

 

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