(Quando soube que pesoas de Basra haviam convidado Othan Ibn Hunaif , governador do local, para um banquete e ele aceitara , escreveu-lhe).
“Ó Ibn Hunaif, vim a saber que um jovem de Basra te convidou a uma festa e tu mais que depressa a ela foste. Comidas de diferentes espécies foram selecionadas para ti e terrinas e mais terrinas te foram apresentadas. Jamais pensei que poderias aceitar (comparecer) a festa de uma pessoa que vira as costas aos pedintes e convida os ricos. Olha para os bocados que comes. Deixa de lado aquilo sobre o que está sem dúvida e como aquilo sobre o que há certeza de ser lícito.
Lembra-te de que todo seguidor tem um líder ao qual segue e o fulgor de cujo conhecimento deriva a luz. Conscientiza-te de que o teu imam se contenta com duas peças surradas de roupa, para o mundo, e dois pães como refeição.
Certamente tu não podes fazer isso, mas pelo menos podes apoiar-me na piedade , esforço, castidade e probidade , porque por Deus , não entesourei ouro algum deste mundo, não acumulei bastante riqueza , tampouco colecionei roupas a não ser duas peças surradas. ora, tudo que tinhamos de nosso , sob este céu, era um fadak (área agrícola), sendo que as pessoas se sentiram ávidas por ela e outras a retiraram.
Deus é, no final das contas, o melhor juiz.
Que acontecerá comigo; com fadak ou sem fadak, amanhã este corpo deverá baixar sepultura em cuja escuridão seus traços serão destruídos, e suas notícias desaparecerão. É uma pena que mesmo essa cavidade seja alargada ou as mãos do coviro a façam ancha, as pedras e os torrões a tornarão estreita e a terra jogada por cima lhe cobrirá a abertura. Estou sempre tentando conservar -me engakado na piedade para que no dia do grande temor eu permaneça em paz e firme, (mesmo) em lugares escorregadios. Se eu quisesse, teria tomado o caminho que me levaria aos (prazeres do mundo como) o mel, bons trigos e roupas de seda , mas não é possível que munha paixão me leve a essas coisas e que minha gula me leve a escolher boas comdas enquanto que em Hijaz ou em Yamama talvez haja pesoas que não têm esperanças de obter um pão, ou qu e não têm uma refeição completa. Deveria eu deitar-me saciado enquanto ao meu redor houvesse estômagos famintos e sedentos ? ou deveria ser como dizia o poeta : “Constitui também uma doença que deites com a barriga cheia enquanto que em torno de ti há pessoas que anseiam por uma tãmara , ou meia.”
Deveria eu ficar contente em ser denominado Amirul muminin se não compartilhasse com o povo as dificuldades do mundo ? Ou deverei eu servir de exemlo nas agruras da vida ? Não fui criado para que me mantivesse ocupado em deglutir boas comidas como um animal amarrado cuja única preocupação é com a alimentação, ou como uma ave sota cuja única preocupação é encher o papo. Estes enchem sua barriga e seu papo com alimentos e não sabem do propósito disso.
Deveria eu deixar que a falta de controle dirigisse ou que agisse livremente ? Ou deveria eu agarrar-me à corda do extravio ou divagar a esmo pela senda da perplexidade ?
Veja que é ( como se ) alguns de vós dirieis , se é isto que Ibn Abu Talib come, então a fraqueza o torna inadequado para combater o seu inimigo e se defrontar com os bavos. Lembrai-vos de que a árvore da floresta é a melhor para a madeira enquanto que os galhos verdes têm a casca mole, e de que as touceiras selvagens são muito fortes para se queimar e demoram a se apagar. Minha relação com o Profeta é aquela do tronco em relação ao galho, ou do antebraço em relação ao pulso. Por Deus que se os árabes se juntarem a mim no combate eu não me desvencilharei deles e se tiver oportunidade, apressar-me-ei em os pegar pelos pescoços. Decerto que porfiarei no sentido de livrar a terra do homem de mentalidade recalcitrante e de corpo revolto até que as partículas de barro sejam retiradas do grão.
Afasta-te de mim, ó mundo ! Tuas rédeas estão sobre os teus próprios ombros, uma vez que me livrei dos teus fossos, deixei de lado teu quinhão e evitei andar nos teus locais escorregadios. Onde estão aqueles que tu enganaste por meio das tuas pilhérias ? onde estão aquelas comunidades que tu seduziste com teus adornos ? Estão todos
confinados nos túmulos e escondidos em locais soterrados. Por Deus que se fosses uma personalidade palpável e um corpo capaz de sentimento eu o teria dado uma penalidade fixada por Deus, por causa das pessoas que enganaste por meio dos desejos, das comunidades que lançaste na destruição e dos bons governantes aos quais causaste a ruína levando-os aos lugares de tristeza de onde não mais votarão. Como de fato, aquele que atravessou suas vagas se afogou e aquele que evitou as tuas armadilhas se apoiou. Aquele que se mantém a salvo de ti não tem preocupações, mesmo que os seus assuntos sejam endireitados, sendo que o mundo, para ele, é como um dia que está expirando.
afasta-te de mim porque, por Deus, eu não me curvo perante ti para que não me humilhes , tampouco deixarei soltas as rédeas para ti, para que não me dirijas para longe ( do que desejo).
Juro por Deus, uma jura que, espero, seja da vontade dele, que eu me sinta contente com um pão para comer e com um pouco de sal para o temperar. Deixarei que os meus olhos se esvaziem de lágrimas , como um arroio em que as águas secaram. Que Ali coma o que tenha e que durma como uma rês que encheu seu estômago na pastagem ou que regurgite como as cabras que comem as ervas verdes e entram em seus cercados. Que seus olhos morram se, depois de longos anos, seguir o gado solto e os animais de pastagem.
Abençoado seja aquele que se desincumbir das suas obrigações para com Deus, e se resignar das suas penúrias , não se der ao luxo de dormir à noite, e que, quando o sono o vence , deita-se no chão e usa sua mão como travesseiro, em companhia dos que mantêm os olhos abertos em temor ao dia do julgamento, cujos corpos estão sempre afastados das camas , cujos lábios estão sempre murmurando recordações de Deus e cujos pecados foram extintos por causa da sua prolongada procura por perdão. “ESTES FORMAM O PARTIDO DE DEUS. ACASO, NÃO É CERTO QUE OS QUE FORMAM O PARTIDO DE DEUS SERÃO OS BEM AVENTURADOS ? (58:22)
Portanto, ó Ibn Hunaif , teme a Deus e contenta-te com os teus próprios pães para que escapes do inferno.”