Este é um dos sermões sobre as vicissitudes da época.
Louvado seja Deus, que está manifesto perante suas criaturas, por causa delas mesmas. Que está presente em seus corações por causa das claras provas; que criou sem meditar, uma vez que meditar não lhe diz respeito; só diz respeito ao que possua órgãos de reflexão, e Ele não os possui. Seu conhecimento brotou do interior dos segredos incognoscíveis e compreendeu o âmago das profundas crenças.
Sobre o Profeta (S.A.A.S.)
Deus o escolheu, tirado da árvore genealógica dos profetas, da resplandecência da chama, do cume da grandeza, da melhor parte do vale de Basra, das candeias da escuridão e das fontes da sabedoria.
(Do mesmo Sermão)
O Profeta era como um médico itinerante que têm prontos os seus ungüentos e esterilizados os seus instrumentos. Ele os utilizava sempre que surgisse a necessidade de curar olhos cegos, ouvidos surdos e línguas mudas. Lá ia ele com seus medicamentos aos pontos de negligência, aos locais de perplexidade, mas as pessoas não extraiam luz da luminosidade da sua sabedoria, tampouco produziam chama do sílex do seu conhecimento faiscante. Assim sendo, quanto a esse assunto, elas eram como gado pastando e pedras duras. Não obstante, coisas ocultas se tornaram evidentes, a face do que é certo se tornou clara para os conjecturadores, o momento que se aproximava ergueu-lhes o véu do rosto e os sinais apareceram para aqueles que os procuravam. Que será que se passa comigo? Vejo-vos como corpos sem espíritos, como espíritos sem corpos, devotos sem Deus, comerciantes sem lucros, acordados, mas dormindo, presentes, mas invisíveis, vendo, mas cegos, ouvindo, mas surdos, falando, mas mudos. Eu noto que o extravio tem estado no seu centro e se tem espalhado por todos os lados através dos seus disparos. Ele vos pressiona com seu peso e vos confunde com suas medidas. Seu líder é um proscrito da comunidade. Ele persiste no extravio. De sorte que neste dia ninguém dentre vós permanecerá, a não ser como o restolho de uma panela, ou o pó deixado numa trouxa de roupa. Sereis raspados como é o couro, pisoteados como é a colheita e recolhidos dentre os crentes como o pássaro recolhe os grãos maiores dentre os menores. Como é que esses expedientes vos estão apanhando, as melancolias vos desviando e as falsidades vos enganando? Donde fostes trazidos e para onde estais sendo levados? Para cada período há um documento escrito e todo aquele que está ausente tem de retornar. Assim sendo, ouvi o vosso divino líder e conservai vossos corações presentes. Se ele vos falar, ficais despertos. O precursor deve falar a verdade ao seu povo, deverá ter presente a sua argúcia e manter a presença de espírito. Ele tem esclarecido o assunto para vós como o buraco do tricô é clarificado, repisado o mesmo, assim como a resina é espremida dos ramos. Todavia, o erro se estabeleceu nos seus lugares e a ignorância tem cavalgado seus animais de montaria. O desgoverno tem aumentado, ao passo que a conclamação para a virtude foi suprimida. O tempo tem se mostrado como um animal carnívoro e voraz, e o erro está berrando como um camelo após ter permanecido em silêncio. As pessoas se têm irmanado nos malfeitos, têm se esquecido da religião, têm se unido no propalar de mentiras e nutrido ódios mútuos quanto à verdade. Quando isso acontece, o filho torna-se uma fonte de ira em vez de colírio para os olhos para os pais, e desencadeia a incitação dos ânimos, os corruptos passam a abundar e os virtuosos a diminuir. Os indivíduos desse tempo passam a ser lobos, seus governantes, animais, os da classe média, glutões, e os pobres, quase mortos. A verdade afunda, a falsidade flutua, a afeição é decantada com as línguas, mas as intrigas grassam nos corações. O adultério torna-se sinônimo de linhagem, ao passo que a castidade é objeto de escárnio e o Islam é inteiramente confundido.