Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – O discurso do Imam revolucionário – Sheikh Youssef Ajordi – 03/09/2021

Primeiro sermão

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a bênção de Deus estejam com o profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e todos os seus profetas e mensageiros.

Primeiramente nossas condolências pelo falecimento do grande Marja da nação o Seyed Mohammad Saíd Al-Hakim (K.S.), que Deus tenha sua alma e a ressuscite com seus ancestrais purificados, os Ahlul Bait (A.S.) e o Profeta Mohammad (S.A.A.S.).

Deus disse no Alcorão Sagrado: “E designamos líderes dentre eles, os quais encaminham os demais segundo a Nossa ordem, porque perseveraram e se persuadiram dos Nossos versículos”. (24:32)

Hoje, 25 de Moharram, recordamos uma lembrança triste para os seguidores dos Ahlul Bait (A.S.) que é o martírio do Imam Assajad (A.S.), o 4º Imam. Enquanto isso, lembramos como ele foi paciente durante todas as tragédias de Karbala. Ele estava doente e não pôde participar da batalha física, mas testemunhou com seus olhos o martírio do seu pai, seus irmãos, seus primos e companheiros. Ele viu como eles foram sacrificados e jogados sobre Karbala.

Hoje iremos focar sobre o discurso do Imam Assajad (A.S.), que concedeu perante o amaldiçoado Yazid ibn Mu´awiyah. Este discurso virou o feitiço contra o feiticeiro. Alguns dizem que o Imam era um homem passivo, que ele não reagiu e não lutou. Isso está errado. O Imam foi corajoso e revolucionário, mas com suas palavras sábias, sem utilizar a violência.

Como foi o discurso perante o tirano?

Narra-se que Yazid ordenou que fosse providenciado um púlpito e um orador para informar as pessoas sobre os malefícios e maldades de Hussein e de Ali (A.S.) E vocês sabem quantos e quantos anos o Imam Ali tinha sido insultado sobre os púlpitos por ordens de Mu´awiyah em Sham! Então, o orador subiu sobre o púlpito, louvou a Deus e O glorificou, começou a exaltar Yazid e Mu´awiyah e insultar Ali (A.S.). Imaginem a cena, o Imam (A.S.) acorrentando, junto com os aprisionados e as mulheres dos Ahlul Bait (A.S.), todos ali exibidos como troféus perante Yazid e seus convidados, enquanto Yazid queria tirar o maior proveito desta situação insultando a família do profeta. Neste momento, Ali ibnol Hussein (A.S.) levantou a voz e disse: “Ó, pobre de ti! Trocastes a satisfação do Criador pela satisfação da criatura Yazid, garantindo assim teu lugar no inferno.” Então, o Imam (A.S.) voltou seu luminoso rosto para o amaldiçoado Yazid e disse: “Permita que eu suba ao altar e diga algumas palavras que agradem a Deus, e as quais também serão prêmio e recompensa aos presentes!” Yazid ibn Moáwiya se opôs, mas a multidão insistia que aceitasse, e sem ter alternativa, declarou em silêncio: “Se ele subir ao altar, só descerá quando me expor e desonrar a mim e a família de Abu Sufián”. Perguntaram-lhe: “O que é que ele pode dizer?” Contestou Yazid: “Ele é de uma família que foi inspirada com o conhecimento.” Este foi um reconhecimento velado de Yazid diante da posição nobre do Imam Assajad e dos Ahlul Bait.

As pessoas insistiam e perguntavam o que mais aquele jovem doente e fraco poderia dizer. Yazid se viu obrigado a aceitar e deixou que o Imam Ali ibnol Hussein (A.S.) subisse ao altar, e depois de exaltar a Deus, o Todo Poderoso, o Imam disse: “Ele não tem início e Sua essência é eterna e imortal, o Primeiro, sem princípio, e o Último, sem final, e depois que tenha se extinguido toda a criação Ele permanecerá e continuará eternamente… Ó, povo! Fomos agraciados com seis virtudes, sabedoria, paciência, generosidade, eloquência, valentia e com o afeto do coração dos fiéis de amor por nós… E somos ainda mais virtuosos por sete motivos: O Profeta (S.A.A.S.) é um de nós, o Verdadeiro é um de nós (Imam Ali), o Tayar é um de nós (Já´far ibn AbuTaleb), o Leão de Deus e do Mensageiro é um de nós (Hamzah, tio do Profeta Mohammad), os dois netos do Mensageiro de Deus são de nós (Hassan e Hussein), e também a senhora das mulheres do universo, Fátima Azzahra (A.S.) é uma de nós. Então, quem já sabe quem sou eu, me conhece, mas quem ainda não me conhece, então irei me apresentar. Ó povo. Eu sou filho da Meca e de Mena. Eu sou filho de Zam Zam e Safá. Eu sou filho daquele que levantou a Pedra Negra com sua capa. Eu sou filho do melhor peregrino. Sou o filho daquele que realizou os ritos da peregrinação da melhor forma. Eu sou filho daquele que, numa noite, foi levado da Mesquita de Haram (em Meca) até a Mesquita de Aqsa (Jerusalém). Eu sou o filho do que melhor caminhou (entre Safa e Marwa) e filho do melhor que fez o Tawaf (em volta da Caaba). Eu sou o filho daquele que foi levado sobre o Burqa no espaço… Eu sou o filho daquele cujo passou o anjo Gabriel em sua ascensão. Eu sou o filho daquele que chegou próximo ao trono de Deus. Eu sou o filho daquele que orou perante os anjos do céu. Eu sou filho daquele a quem Deus lhe fez as revelações. Eu sou o filho de Mohammad, Al-Mustafa. Eu sou o filho de Ali Al-Murtadha. Eu sou o filho de quem atacou os incrédulos com sua coragem. Eu sou o filho de quem atacou ao lado do Mensageiro de Deus com sua espada… Eu sou filho do virtuoso dos fiéis, o herdeiro dos profetas, o inimigo dos incrédulos, a luz dos combatentes, o melhor dos devotos, o mais paciente dos pacientes e o melhor entre a família de Yasin (Mohammad).

A multidão olhava para o Imam (A.S.) naquele momento com excitação. Ele havia conquistado eles com suas palavras. A cada frase eles sabiam e conheciam quem ele era e que a fraude havia tomado conta do estado com as propagandas de Yazid. Eles não imaginavam que ele era o Imam da geração do Profeta (S.A.A.S.). Em seguida o Imam continuou dizendo: “Eu sou o filho de Fátima Azzahra, a senhora das mulheres do mundo. Eu sou o filho de Khadijah Al-Kubra. Eu sou o filho de Hussein, que foi martirizado em Karbala. Eu sou filho daquele que foi afogado em seu próprio sangue”.

A multidão não conseguiu se segurar. Todos começaram a chorar pela intensidade da cena que testemunharam na frente deles. Um Imam com toda esta descendência, doente, fraco, aprisionado, acorrentado junto com sua família e mulheres e crianças. Todos se solidarizaram e começaram a chorar e chorar até que Yazid ibn Moáwiya sentiu medo da situação, pois tudo estava se voltando contra ele. Para contornar a situação e acalmar as pessoas e evitar que o Imam (A.S.) continuasse falando, ordenou a um de seus súditos que fizesse o chamado da oração. O homem então começou o chamado e disse: “Allahu Akbar, Allahu Akbar… Deus é o Maior”. O Imam (A.S.), que ainda se encontrava sobre o altar exclamou: “Assim é, Deus é o Maior e nada é maior que ele…” O homem então disse: “Ash-hado an la ilaha illah-Allah.. Testemunho que não há divindade além de Deus.” O Imam (A.S.) exclamou mais uma vez e disse: “Assim é! Foi o que testemunhou meu cabelo, pele, carne, sangue, ossos e minha mente.” O homem então disse: “Ash-hado anna Muhammadan Rasull-Alllah… Testemunho que Mohammad é o Mensageiro de Deus.” Neste momento o Imam (A.S.) olhou para Yazid e perguntou: “Mohammad, este, ó Yazid, é meu avô ou seu?! Se alegar que é seu avô então tu és mentiroso e um incrédulo. E se reconhecer que é meu avô então porque mataste a sua família?”

Yazid acabou sendo desmascarado com suas próprias mãos. Todos souberam a realidade do grande crime e do cruel massacre que Yazid havia cometido contra a nobre família do Profeta (S.A.A.S.). Portanto, o Imam Assajad (A.S.) foi um revolucionário com certeza por meio de suas palavras e dentro de suas condições. Naquele momento era mais adequado o uso das palavras e não da espada, sendo que ele estava doente no dia de Karbala e esta doença foi por meio da sabedoria divina, pois o plano de Yazid era exterminar e extinguir a geração e a família do nobre profeta, mas o Imam Assajad (A.S.) permaneceu vivo pois estava doente e não participou na luta. Ele se salvou e deu continuidade à geração do Profeta (S.A.A.S.) e dos Ahlul Bait (A.S.).

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a bênção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e sua purificada linhagem.

Segundo sermão

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a bênção de Deus estejam com o profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e todos os seus profetas e mensageiros.

Recomendo a todos, e a mim mesmo, o temor a Deus, ficar ao lado da verdade, e ao lado dos oprimidos perante os opressores. O Imam Assajad (A.S.) deu o melhor exemplo disso. Ele sabia que no objetivo pelo qual seu pai se rebelou era necessário que fosse sacrificado com sangue. Ele teria que aguentar e ser paciente, pois o sacrifício era grande e o plano contrário era diabólico, apagar a mensagem do Islam. O sacrifício era necessário para trazer o espírito de volta à nação.

Não haveria Islam nem religião se Hussein (A.S.) não tivesse sido martirizado. A fé na época era um simples disfarce para as pessoas e por isso ele tomou a decisão de se sacrificar. Por isso, Imam Assajad (A.S.) tinha decidido que depois de Karbala não era hora de chorar e sim de declarar e proclamar a mensagem do Imam Al-Hussein (A.S.). Estas declarações não eram meras palavras, e sim verdades que eram ocultas para a nação. Os Omíadas queriam apagar a mensagem do Profeta e extinguir a sua geração, mas Imam Hussein (A.S.) evitou isso com seu sangue. Além disso, o Imam Assajad (A.S.) usou as palavras para liderar uma revolução por outros meios. Por meio das orações e das súplicas. Isso porque o Imam Assajad (A.S.) era proibido de frequentar os encontros públicos. Ele era proibido de proclamar ou discursar em público. Como ele transmitiria suas mensagens e sua sabedoria por um meio que não pudesse ser interrompido ou barrado pelas autoridades tiranas da época?

O Imam Assajad (A.S.) identificou o problema da nação na época. Na época o problema estava na fé da nação e dentro do seu coração. Então ela deve se resolver com Deus primeiro e foi por este motivo que traíram o Imam Al-Hussein (A.S.) e o abandonaram em Karbala. O problema da nação era sua fé e seu contato com Deus. Por isso, o meio que o Imam Assajad (A.S.) usou foi a súplica e a oração. Ele dizia em suas orações como o indivíduo deve ser paciente perante as perseguições políticas e econômicas, e que a solução de todas as coisas era Deus e ninguém mais.

Em uma de suas súplicas ele dizia: “Ó Deus, há três assuntos que me impedem de implorar-Te, enquanto um me impulsiona a fazê-lo. Impedem-me de implorar-Te: uma ordem que Tu me tens ordenado, mas eu atrasei-me voluntariamente. E sendo uma proibição que Tu me tens interditado para a qual, pois eu me dirigi rapidamente a ela. E uma graça que Tu me tens agraciado, pois eu, pela minha negligência fui ingrato. E impulsiona-me a implorar-Te, o favor que Tu tens para com quem se dirige para Ti com seu coração e sua intenção, crendo firmemente que Tu não recusas a ninguém. Porque todas Tuas benfeitorias são procedentes de Tua bondade, e todas Tuas graças são espontâneas e iniciativas (que não precisam requisitos prévios para serem concedidas). Eis me aqui ó meu Deus, encontro-me parado perante a porta de Teu orgulho como um submisso, humilde, e Te peço com extremo pudor, como um miserável, necessitado. Reconheço Tua beneficência a não ser que me afaste da desobediência para Ti, e desse modo e em todos os estados desfrutarei e aproveitarei de Tuas munificências. Ó meu Deus, será que a minha confissão (de todas as más ações que cometi) será útil perante Ti? Ou será que minha confissão (das minhas transgressões) me deixa salvo perante Ti? Ou talvez decretastes Tua ira neste meu estado? Ou talvez me acompanhasse Tua raiva quando Te invoco?” (13ª súplica do livro “Os Salmos Islâmicos”).

Nesta passagem acima eu faço uma simples coloração: aqueles que lutaram contra Hussein, como Omar ibn Sa´ad, entre outros, conseguiram alcançar o que almejavam? Conquistaram e chegaram ao que desejavam e lhes tinha sido prometido? Claro que não. Isso porque quem se apoia e almeja receber algo de alguém senão de Deus estará sempre iludido.

Numa outra passagem o Imam (A.S.) dizia: “… Ó Meu Deus, quantas vezes eu vi, pessoas buscam a glória dos outros em vez de Ti, e assim tornaram-se humilhados. E procuram a riqueza dos outros em vez da Tua e assim ficaram empobrecidos. Tentam a exaltação e terminaram inferiores. Por isso o homem cauteloso reforma a si mesmo, observando seus exemplos que lhe outorgou benefício, e a sua prova o guiou pelo bom caminho da retidão. Então, ó meu Protetor! Tu és além dos outros o destino de meu rogo, e Tu és responsável pela minha necessidade, sem ter outro a quem lhe pedir. E minha súplica exclusivamente se dirige a Ti ante qualquer coisa, e não a outro. Ninguém se associa Contigo em minha esperança e ninguém se une a Ti em meu rogo, e ninguém além de Ti acompanha meu apelo…” (28ª súplica do livro “Os Salmos Islâmicos”).

Numa outra súplica o Imam aponta uma realidade onde os tiranos e os desonestos ocuparam o poder ao invés dos legítimos e honestos e eleitos por Deus. Ele dizia: “Ó Deus, este estado é exclusivo de Teus legatários e Teus eleitos, e este local de Teus fiéis com graduações elevadas com que os distinguiste, foram arrebatados (pelos usurpadores) e Tu és Quem tem decretado isto. Tua ordem não pode ser revogada e é impossível ultrapassar os limites de Tua decidida determinação, como Tu quiseres e quando Tu queres. E Tu decretaste isto sobre Tuas criaturas, por razão que Tu melhor conheces. Então, Tu, em Tua vontade, não podes ser acusado no tratar de Tua criação nem acusado em Tua decisão. Até que Teus escolhidos e Teus sucessores foram derrotados, submetidos, humilhados, e eles observam que Teus mandatos sendo (foram) modificados (pelos hipócritas), Teu livro abandonado, Tuas obrigações alteradas e dos rumos de Tuas leis, e a Tradição de Teu Profeta deixada de lado.” (48ª súplica do livro “Os Salmos Islâmicos”).

Há outras dezenas de ocasiões onde ele se opôs aos tiranos de sua época, tanto por meio das palavras ou por meio de gestos. Aqui cito uma nobre tradição que afirma que Abdel Malek ibn Marwam, o governante tirano Omíada da época do Imam, lhe enviou uma mensagem solicitando que ele lhe entregasse a espada do Profeta Mohammad (S.A.A.S.). Este gesto daria reconhecimento legal ao estado tirano dos opressores e por isso o Imam não a entregou de forma alguma mesmo sendo ameaçado, perseguido e cercado. Ele enviou uma carta de resposta ao Abdel Malek ibn Marwan e lhe disse: “Deus garantiu aos tementes o êxito e o sucesso e a riqueza de onde eles não percebem. “… Mas, a quem temer a Deus, Ele lhe apontará uma saída (2) E o agraciará, de onde menos esperar. Quanto àquele que se encomendar a Deus, saiba que Ele será Suficiente, porque Deus cumpre o que promete…””

Nosso dever

Os Ahlul Bait (A.S.) cumpriram seu dever e pagaram com seu sangue. Mas qual o nosso dever? É só desejar que estivéssemos com eles? É só dizer que os amamos? Claro que não. Nosso dever vai muito além disso. O que deve mudar é a nossa atitude, nossas emoções, nossas palavras, que devem ser iguais aos Ahlul Bait (A.S.), este é o nosso dever. É assim que devemos ser leais e fiéis aos Imames.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a bênção de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e sua purificada linhagem.

 

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