Por Kamal al-Sayyd
Traduzido por Ismail Ahmed Barbosa Júnior
Então a vida se desenvolveu gradativamente. Animais como os répteis e anfíbios surgiram na superfície terrestre. Dinossauros de várias espécies apareceram também. De tempos em tempos o gelo cobria a terra. Assim, plantas e animais morriam. Novas espécies os substituíam. Quando o gelo derretia a vida retornava a terra. Muito tempo atrás, a terra era instável em virtude dos vulcões, terremotos, fortes ventos e imensas ondas. O gelo não tinha se derretido ainda. Deus retirou terra das partes mais altas, das planícies, dos pântanos salgados e das terras férteis. Misturou a terra com a água, assim a terra tornou-se barro com sólidas moléculas. Deste barro, Deus, o Glorioso, criou uma forma semelhante a humana. Ele então modelou a cabeça, os olhos, a língua, os lábios, o nariz, as orelhas, as mãos, o tronco e as pernas. A água evaporou. A aparência humana se solidificou como uma pedra. O vento ressoava através dela. Aquela forma permaneceu inanimada por um longo tempo. Ninguém, exceto Deus, sabe por quanto tempo.
A Terra
Durante este período, as ondas do mar e as tempestades se acalmaram. Muitos vulcões se extinguiram. As florestas se tornaram densas. Estavam cheias de animais e de pássaros. Água pura jorrava das fontes. Os rios corriam. Bons ventos carregavam nuvens para os desertos. A chuva caía para enchê-los de vida.
Quando o homem viajou pelo espaço sideral, viu a terra girando em torno do sol, fazendo as quatro estações. O Outono que segue o verão. O inverno que segue o outono. A primavera que segue o inverno.
A terra tornou-se verde. Plantas e florestas se tornaram fascinantes. Água pura fluía nos rios. Fresca e pura água jorrando das fontes.
A terra girava em torno de si mesma fazendo o dia e a noite. Os pássaros despertavam ao amanhecer e levantavam vôo à procura de alimento. Os animais despertavam também com o dia e seguiam em busca de comida. Cervos corriam nas florestas. Os caprinos selvagens corriam nos sopés das montanhas. Borboletas voavam pelas áreas floridas buscando o néctar das flores. As feras rugiam nas selvas. Cada coisa na terra crescia e se reproduzia, de modo que esta estava plena de vida e de beleza. As árvores produziam frutos. As ovelhas e as cabras se abrigavam nas grutas para escapar das feras. Tudo seguia o caminho de Deus, o Grandioso, o Magnificente. A terra era muito bela e colorida. Os oceanos eram azuis e as florestas verdejantes. As colinas estavam cobertas de vegetação. Os Desertos eram acastanhados e o gelo era branco. Os raios do sol eram vermelhos no levante, mas o homem não existia ainda.
Adão, o Primeiro homem.
Num momento de divino favor e misericórdia, Deus soprou a vida na forma de barro. A forma espirrou e disse: Al Hamdu li Llah (O louvor pertence a Deus). O Espírito se moveu lentamente para dentro de Adão. Ele respirou, abriu seus olhos e mexeu suas mãos e pernas. Tornou-se um homem normal. Em seguida ele se ergueu e caminhou. Começou a pensar e a raciocinar. Ele conheceu a beleza e a feiúra. Reconheceu a verdade e a falsidade, o bem e o al, a felicidade e a infelicidade.
Deus ordenou aos anjos que se prostrassem perante Adão. Ordenou que se prostrassem diante do que havia criado com suas mãos. Todos os anjos se prostraram diante de Adão. Os anos nada sabiam senão obedecer a Deus. Eles sempre o glorificaram. Sempre se submeteram a Ele. Prostraram-se a Adão, pois Deus o designou como um Califa (representante) na terra. Deus nomeou Adão seu Califa na terra, por seu status superior ao dos anjos.
Contudo, havia outra criatura. Esta criatura não se prostrou diante de Adão. Esta era um Jinn (gênio). Deus criou os gênios seis mil anos antes de criar a nosso pai, Adão. Ninguém sabe se esses anos foram passados na terra ou em outros astros. Deus criou os gênios do fogo. Iblis não se prostrou perante Adão. Ele não obedeceu a Deus e falou consigo mesmo: “Eu sou melhor do que Adão, pois eu fui criado do fogo.” Iblis era arrogante. Ele se recusou a prostrar-se diante de Adão, que tinha sido criado do barro.
Todos os anjos se prostraram a Adão. Obedeciam a Deus, glorificavam seu Nome e o circundavam. Iblis pertencia aos gênios. Ele desobedeceu a ordem de Deus quando não se prostrou a Adão. Deus, o Glorioso, perguntou : “Iblis, por que não se prostra diante de Adão? “ Iblis respondeu: “Eu sou melhor do que ele. Tu me criaste do fogo e o criou do barro. O fogo é melhor do que o barro.” Deus ordenou que Iblis saísse de sua presença. Ele o privou de sua misericórdia. Iblis passou a nutrir ódio a Adão desde então. Iblis devotaria todo seu tempo para desviar Adão.
Deus privou Iblis de sua misericórdia e disse a ele:“Saia daqui ! Tu és maldito ! Minha maldição estará sobre ti até o Dia do Julgamento !” Iblis disse: “Meu Senhor, dê-me tempo até o Dia do Julgamento.” Deus, o Glorioso, disse: “És um dos tolerados até o Dia do Julgamento.” Iblis disse : “Senhor meu, por teres me amaldiçoado para que eu permaneça desventurado, eu extraviarei a todos da tua senda reta”.
Quão amaldiçoado foi Iblis! Quão renitente e enganoso! Disse que Deus, o Glorioso, tentou-o. Não culpou a si próprio por sua desobediência a Deus. Não disse que invejava Adão e nutria ódio a ele. Não disse que era orgulhoso, pois não se prostrou a Adão e não obedeceu a Deus. Iblis tornou-se um descrente. Tornou-se arrogante e em seguida um descrente. Pensava que era melhor do que Adão pois tinha sido criado do fogo enquanto Adão tinha sido criado do barro. Iblis foi egocêntrico. Esqueceu que Deus o criou. Deus o ordenou a cumprir suas ordens. E, no entanto, ele o desobedeceu.
Eva
Deus criou Adão sozinho. Posteriormente, Deus criou Eva para ele. Adão regojizou-se com Eva e ela também ficou contente ao encontrá-lo. Deus, O Magnificente, fez com que Adão, nosso pai, e Eva, nossa mãe, vivessem no jardim. O jardim paradisíaco era um magnífico lugar. Possuía muitos rios e arvoredos imortais. Era uma eterna primavera ali. Não era muito quente, nem muito frio e tinha brisas refrescantes. Quando se enchia o peito com suas brisas, sentia-se felicidade.
Deus, Nosso Senhor, disse para Adão: “Vivei com tua companheira no jardim. Comei dele quando quiseres. Vivei onde quiseres. Sereis felizes no jardim, pois nele não existe aborrecimento, nem fome ou sede. Tenha cuidado para não te aproximares daquela árvore. Para que não dês ouvidos as palavras de Iblis, pois ele te enganará. Ele é teu inimigo e inimigo de tua esposa. Adão, ele te inveja e nutre a maldade contra ti.”
Adão e sua esposa Eva viviam no jardim paradisíaco. Eles aproveitavam de suas sombras e comiam de seus frutos. Eram felizes. Adão e Eva eram muito felizes, pois Deus tinha os criado com sua própria mão e dava a eles todas as coisas. Os anjos os amavam, pois Deus os tinha criado e os amava. Adão e Eva caminhavam pelo jardim, comiam de seus frutos e sentavam nas margens dos seus rios. As margens eram fascinantes. Os rios eram cheios de ágatas. Água pura e límpida banhava seus pés. Havia rios de mel e de leite. Pássaros e flores. Adão e Eva eram muito felizes no jardim, pois tudo pertencia a eles ali. Comiam de todos os frutos, que eram de várias formas, cores e fragrâncias, ainda que todos fossem deliciosos. Adão e Eva sempre passavam por uma árvore no centro do jardim. A árvore era muito bela e seus frutos pendiam. Eles apenas olhavam para a árvore, pois Deus tinha os prevenido para que não se aproximassem dela e que não comessem de seus frutos.
Iblis, o Inimigo do Homem
Deus privou Iblis do status dos anjos, já que suas intenções apareceram no primeiro teste. Seu egocentrismo e arrogância se manifestaram, assim ele foi repudiado e amaldiçoado e já não tinha lugar entre os anjos. Iblis demonstrou maldade e inveja para com Adão e sua esposa, portanto, não pouparia esforços para ludibriá-los e fazê-los sair do jardim paradisíaco. Ele disse para si próprio: “Eu sei como enganá-los, eles darão ouvidos a minhas palavras. Eu os seduzirei a comer do fruto daquela árvore, assim Adão será infeliz. Será tão infeliz quanto eu. Deus o privará do jardim, e Eva também será infeliz.”
A Árvore
Iblis veio até Adão e Eva para sussurrar o mal para eles. Disse: “Conhecestes todas as árvores do jardim?” Adão respondeu: “Sim, vimos todas elas e comemos de seus frutos.” Iblis continuou: “Isto é inútil, pois não comestes da árvore da imortalidade. Deveras, é a árvore da vida eterna. Quando comeres algum de seus frutos, sereis como dois anjos no jardim paradisíaco”. Eva disse: “Adão, venha! Vamos comer da árvore da imortalidade!” Adão disse: “Eva, Nosso Senhor proibiu que nos aproximássemos da árvore.” Para tentar Adão e Eva, Iblis disse: “Deus vos preveniu para que não vos aproximásseis daquela árvore porque é a árvore da imortalidade. Ele não quer que sejais como dois soberanos. Portanto, disse : “Não vos aproximeis daquela árvore.” Eu vos aconselho a comer dela, pois sereis dois anjos e jamais morrereis. Sereis eternos e felizes para sempre neste jardim. Adão disse para sua esposa: “Eu jamais desobedecerei meu Senhor!” Iblis disse: “Deixeis que vos mostre a árvore! Está bem ali, no centro do jardim!” Iblis saiu. Adão e Eva o seguiram. Ele caminhava de modo arrogante. Referindo-se a árvore, Iblis disse: “Eis a árvore. Quão bela é. Como seus frutos são deliciosos!” Adão e Eva olharam para a árvore e disseram: “Decerto que é fascinante. Seus frutos (devem) ser deliciosos. Parece-se com a planta do trigo , mas possui variados frutos, como maças e uvas.” Iblis perguntou : “Porque não comem deles ? Juro por Deus que desejo aconselhar-vos. Eu vos aconselho à comerdes destes frutos.” Iblis jurou diante de Adão e Eva que queria fazer o bem deles e lhes oferecer a imortalidade. Naquele momento difícil, Adão esqueceu de seu Senhor. Esqueceu das palavras de Deus. Pensou que adoraria a Deus e que levaria uma vida imortal. Nisso, Eva esticou a mão e pegou nos frutos da árvore. Ela colheu alguns e comeu-os. “Deliciosos !” exclamou. Em seguida ela deu alguns a Adão. Adão se esqueceu das palavras de Deus, então comeu os frutos. Iblis ficou feliz. Riu de uma maneira maligna, pois tinha conseguido seduzir Adão e Eva.
A Descida à Terra
Adão e Eva comeram do fruto da árvore. Naquele momento, uma coisa estranha aconteceu. Suas vestes desapareceram e eles ficaram nus, assim viram suas partes íntimas. Havia ali figueiras e bananeiras com folhas grandes. Adão e Eva se ocultaram nelas. Eles estavam envergonhados de sua nudez, assim usaram aquelas folhas largas para cobrir suas partes íntimas. Sentiam remorso, medo e vergonha. Cometeram o pecado, pois não seguiram a ordem de Deus. Ao contrário, seguiram as palavras de Satã. Satã saiu dali rápido deixando-os sozinhos.
Adão e Eva ouviram uma voz chamando-os. A voz era de Deus, o Glorioso, que perguntava a eles:
“Não tinha vos prevenido para que não vos aproximásseis daquela árvore? Não disse a vós que Satã era vosso inimigo e que não devíeis permitir que ele vos enganasse? “
Adão e Eva choravam por seu pecado. Eles queriam não ter dado ouvidos às palavras de Satã. Eles se prostraram diante de Deus em remorso e disseram:
“Senhor Nosso, voltamos a Ti arrependidos! Aceita nosso arrependimento! Perdoa-nos pelo nosso pecado! Nós fomos injustos! Se Tu não nos perdoar e não ter misericórdia de nós, estaremos entre os derrotados!”
Adão tinha aprendido que Deus perdoaria seus pecados através do pedido de perdão, do arrependimento e dos remorsos, portanto ele, sentindo remorso, recorreu a Deus com arrependimento.
Deus, Nosso Senhor, teve misericórdia de Adão e Eva. Assim, Ele os perdoou de seu pecado. Contudo, Adão e Eva tinham comido do fruto daquela árvore. Tinham desobedecido a Deus. Portanto, teriam que deixar o jardim paradisíaco para se purificarem de seu pecado.
Deus, o Altíssimo, disse: “Iblis, descei à terra.” Em seguida, disse a Adão e Eva : “Descei ambos (à terra) . A inimizade entre vós e Iblis permanecerá. Ele continuará vos enganando. Porém, Eu sou Misericordioso. Se seguirdes minhas palavras e ordens , eu permitirei que retornem ao Paraíso. Se tornar-vos mentirosos e descrentes (em mim) . Eu vos castigarei como castigarei Satã.”
Disse Deus: “Descei! Serão inimigos um do outro. Na terra tereis morada e prazeres transitórios . Nela vivereis e morrereis, e nela sereis ressuscitados.”
E acrescentou: “Descei ambos do Paraíso! Serão inimigos uns dos outros. Logo vos chegará a Minha Orientação e quem seguir a Minha Orientação, jamais se desviará nem será desventurado. E aquele que desprezar a Minha Mensagem, levará uma vida de miséria, e cego o congregaremos no Dia da Ressurreição.”
Adão e Eva tornaram-se qualificados a viverem na terra. Adão confessou seu pecado, assim, estava pronto para ser o Califa de Deus na Terra. Ele se decidiu a viver bem na Terra e a não corrompê-la.
Os anjos haviam se prostrado diante de Adão. Todavia, achavam que ele causaria corrupção e derramamento de sangue na terra, pois Adão conhecia os nomes (das coisas) que os anjos não conheciam. Ele sabia todos os nomes. Os anjos não conheciam nem a liberdade, nem a vontade própria, o pecado e o arrependimento. Não sabiam que alguém podia ser capaz de corrigir seu pecado através do arrependimento. Por esta razão Deus criou Adão. Ele queria que este fosse seu Califa na Terra.
De repente, por meio do poder absoluto de Deus, Adão, Eva e Iblis desceram à Terra. Cada um deles desceu num lugar da Terra. Adão desceu no cume de um monte em Sarandib (atual Sri Lanka). Eva desceu na montanha al-Marwa em Meca. Iblis desceu na região mais baixa da terra, um vale em Basrah, perto das águas do golfo Pérsico.
Assim, a vida humana se iniciou na Terra. O conflito entre o homem e Satã começou.
Muitos animais tinham vivido antes que nosso pai Adão e nossa mãe, Eva descessem a terra. Entretanto, esses animais não foram capazes de resistir ao gelo que tinha se acumulado por milhares de anos. Assim, eles morreram e se tornaram extintos. Havia um animal chamado mamute, ele era parecido com o elefante, porém era coberto de lã. Este animal viveu na Sibéria. Havia um outro animal semelhante ao rinoceronte que também era coberto de pelos. Este animal também não pôde resistir ao gelo e ao frio severo, assim, se extinguiu. Havia pássaros imensos que também morrerem e se tornaram extintos. Então, o gelo derreteu e o frio extremo passou. O calor retornou pouco a pouco ao planeta.
Deus ordenou a descida de Adão e Eva. Ele queria que Adão fosse seu Califa na Terra. Queria que ele cultivasse, construísse e habitasse neste belo planeta.
O Encontro
Os anjos amavam Adão. Eles o amavam porque Deus o tinha criado com suas próprias mãos. O amavam porque Deus o tinha criado numa posição superior a deles. Os anjos se prostraram diante a Adão porque Deus lhes ordenou fazê-lo. Quando Adão desobedeceu a seu Senhor comendo do fruto da árvore proibida, ele lamentou e se voltou para Deus, arrependido. Deus, Nosso Senhor, teve misericórdia de Adão. Aceitou seu arrependimento e o fez descer à Terra como seu Califa.
Deus enviou Adão à terra para testá-lo. Queria saber se Adão o adoraria ou seguiria a Satã. Os anjos amavam Adão. Desejavam que ele levasse uma vida cheia de benefícios e felicidade. Desejavam que ele retornasse ao Paraíso. Porém, Satã o odiava. Nutria a maldade contra ele. Invejou-o e não se prostrou a ele. Satã tinha demonstrado arrogância diante de Deus.
Satã tentou e enganou Adão. Induziu-o a comer do fruto da árvore. Satã o odiava e desejava que ele fosse desventurado. Desejou que seu destino fosse o fogo no Dia do Julgamento.
Adão desceu à Terra. Ele prostrou-se diante de Deus. Lamentou profundamente seu pecado. Contudo, Deus o perdoou. Ele o escolheu para ser seu Califa. Adão foi purificado de seu pecado. Adão lembrou de sua esposa, Eva, pois ele a amava muito. Era feliz com ela. Porém, não sabia onde ela estava. Ele tinha que procurá-la.
Adão caminhava pela terra, sozinho. Estava tentando encontrar sua esposa, Eva. Um anjo veio até ele e disse: “Eva está num lugar distante. Está esperando por ti. Está solitária. Está a tua procura. Se tu seguires este caminho, a encontrarás.”
Adão se tornou esperançoso. Ele partiu para procurá-la. Caminhou descalço por milhas e milhas. Quando Adão tinha fome, comia algumas ervas silvestres. Quando a noite caía, ele sentia solidão. Ouvia o som dos animais à distância, assim, dormia num lugar seguro. Adão caminhou por dias e noites. Finalmente ele alcançou Meca e em seu coração sentiu que encontraria Eva neste lugar ou além de um dos montes.
Eva estava esperando por ele. Ela subia no topo de um monte. Olhava no horizonte, mas não via nada. Ela caminhava de um monte a outro procurando por Adão. Um dia, Eva estava no topo de um monte olhando para um lado e para o outro. Ela viu um homem vindo em sua direção à distância. Ela sabia que era Adão. Assim, desceu do monte e correu para ele. Ela se sentiu feliz e esperançosa. Adão também a viu e correu para ela.
Adão e Eva correram um para outro. O Encontro aconteceu à sombra de um monte. Eles choraram de alegria. Ambos olharam para o céu e agradeceram a Deus, o Exaltado, por reuni-los outra vez.
O Trabalho e a Vida
A vida na Terra não era fácil como no Jardim do Paraíso. A Terra era um planeta girando no espaço. As estações mudavam. O Inverno era frio e a neve caia severamente, cobria as planícies e os montes. O verão era quente. As folhas das árvores caiam no outono e as árvores se tornavam galhos secos. Então, a primavera vinha, de maneira que a Terra se tornava verde. Adão lembrava da boa vida no Jardim e chorava. Tinha saudade do jardim e de sua boa vida lá.
Adão e sua esposa Eva escolheram uma bela região da Terra para viver. Plantas silvestres e árvores de várias formas e frutos cresciam naquela área. Os dias de felicidade no Jardim do paraíso tinham terminado. Onde não havia frio, calor, fome ou cansaço. Agora, Adão e Eva tinham que trabalhar. Tinham que estar prontos para a chegada do inverno e do vento frio. Tinham que dormir numa gruta antes de construir uma cabana de madeira. Adão trabalhava até ficar exausto. O trabalho árduo o fazia suar. Para não morrerem, Adão e Eva tinham que semear, colher, ordenhar, amassar e cozinhar pães. Adão e Eva se lembravam dos dias de felicidade no Jardim e ansiavam pelo retorno ao paraíso, próximos de Deus, seu Criador.
Lembravam de seu pecado. Então choravam e pediam perdão a Deus. Eles terminaram seus dias na Terra no trabalho, na adoração e no pensamento sobre o futuro de sua prole.
Muitos dias se passaram e Eva deu a luz a um menino e a uma menina. Em seguida ela deu a luz novamente a um menino e a uma menina. Então, a população da terra consistia nesse tempo de seis pessoas. Adão e Eva estavam felizes com seus filhos. As crianças cresciam dia após dia. Eles se tornaram jovens. Abel e Caim saiam com seu pai para aprenderem com ele. Aprenderam como arar o solo como pastorear o gado. Iqlima e Loza, as filhas de Adão, auxiliavam sua mãe com os trabalhos domésticos, como o preparo dos alimentos, a limpeza, a tecelagem, etc. Suas vidas exigiam trabalho, atividade e esforço. Os dias e os anos se passaram.
Abel e Caim
Caim era rude e briguento, Abel era calmo e pacífico. Caim magoava seu irmão Abel. Queria que ele fosse seu escravo para servi-lo de manhã à tarde. Caim queria que Abel arasse a terra e pastoreasse o gado, pois seu desejo era passar seu tempo em diversão. Assim ele espancava seu irmão. Apesar disso, Abel era paciente, pois Caim era seu irmão mais velho. Abel orava a Deus para que guiasse seu irmão para que se tornasse bom.
Adão estava descontente com Caim. Ele ordenava para que não fosse mal. Um dia ele disse: “Caim, sejas bom como teu irmão.” Outro dia disse: “Caim , não sejas mal. Deus não ama os maus.” Todavia, Caim não dava ouvidos aos conselhos de seu pai. Ele achava que era melhor do que Abel porque era mais forte (fisicamente) e mais alto que ele. Seus músculos eram mais fortes e sua cabeça maior. Adão disse para seu filho Caim: “O mais piedoso é o melhor, Caim, Deus olha para os corações. O melhor é o mais piedoso.” Mas Caim era teimoso e gritava: “Não! Não! Não! Eu sou melhor do que Abel, sou maior e mais forte do que ele.”
Um dia, Caim bateu severamente em seu irmão Abel. Porém, Abel nada fez. Tolerou seu irmão, pois seu coração era bom. Ele o amava. Sabia que Caim era ignorante. Ele temia Deus e não queria ser tão mal quanto seu irmão.
Adão queria por um fim a maldade de Caim. Queria dizer a ele que Deus amava o bom, não o mal. Adão disse para os seus filhos:
“Cada um de vós deveis sacrificar um carneiro para Deus, aquele que Deus aceitar o sacrifício é o melhor, pois Deus aceita as ações dos piedosos.”
Caim seguiu para os campos de trigo. Ele colheu alguns pés ainda não maduros. Abel foi até o gado. Escolheu um carneiro sadio, gordo e bonito, pois queria sacrificá-lo para seu Senhor.
Adão disse a seus filhos:
“Encaminhai-vos para aquelas colinas .”
Caim pôs o trigo que havia colhido debaixo do braço e foi para as colinas. Abel pegou seu belo carneiro e também seguiu para lá. Ele deixou seu carneiro sobre a colina. Caim pôs o trigo colhido junto ao carneiro. Abel prostrou-se a Deus e chorou de temor a Ele. Em seguida olhou para o céu claro e pediu que Deus aceitasse seu sacrifício. Caim estava muito irrequieto. Ele olhou para um lado e para o outro. Queria ver Deus diretamente. Muitas horas se passaram, mas nada aconteceu.
Abel estava sentado calmamente olhando para o céu. Algumas nuvens surgiram no céu e em seguida o céu se encheu de nuvens. O vento se acalmou. Porém, Abel estava parado orando para seu Senhor e Caim estava agitado, pegou uma pedra e atirou-a. Ela se fez em pedaços. Caim estava confuso, não sabia o que fazer. De repente, um raio cruzou o céu. Então o trovão ressoou. Caim ficou assustado. Abel ainda estava orando para Seu Senhor. Chovia forte. A chuva lavou a face de Abel e removeu as lágrimas. Caim se escondeu atrás das pedras. Relâmpagos brilharam no céu de novo. Subitamente, um raio atingiu o carneiro para o sacrifício e o matou. Abel ficou feliz, chorou de felicidade, pois Deus tinha aceito seu sacrifício. Deus amava Abel, pois Abel amava Deus.
O vento espalhou o monte de trigo de Caim. Seu coração se encheu de despeito e inveja. Ele pegou uma pedra e gritou para seu irmão: “Eu te matarei!” Abel disse calmamente: “Caim, meu irmão, Deus aceita as ações dos piedosos.” De novo, Caim gritou bem alto :” Eu te matarei! Eu te odeio!” Abel ficou triste e disse consigo: “Por que meu irmão me odeia ? Fiz alguma coisa para que me desejasse o mal?” Então, ele disse a Caim com amargura e dor: “Ainda que erguesses a mão para matar-me, jamais levantaria a minha para matar-te”. E acrescentou: “Caim, deseja ser injusto comigo? Se me matares, tu entrarás no fogo!”
Caim comportou-se rudemente. Ele sentia que era mais forte fisicamente que seu irmão. Queria escravizá-lo e usá-lo como se fosse um animal. Abel juntou o rebanho e foi embora. Ele esqueceu das ameaças de seu irmão. Abel pastoreava seu rebanho nas colinas e nos vastos vales verdejantes. Ele cuidava com atenção e amor das coisas a seu redor. A fé preenchia seu coração com paz. Ele estava a olhar para as ovelhas pastando nos prados.
Tudo estava quieto e belo. O sol brilhava. O horizonte estava claro e azulado. Os riachos corriam no vasto vale. Pássaros brancos estavam a voar no céu límpido. Além das colinas, Caim estava correndo em direção a sua terra. Estava nervoso, pois estava faminto. Ele viu uma lebre à distância e a perseguiu. Então, ele lançou uma pedra, que atingiu a presa na pata, quebrando-a. A lebre não podia escapar e Caim pegou-a, a matou e a comeu. Em seguida ele atirou os restos fora. Algumas aves de rapina caíram sobre os restos e comeram. Caim disse consigo: Se eu fosse fraco, essas aves me devorariam. Porque esses pássaros não me devoram? Em verdade eu sou mais forte. Os fortes são dignos de viver. Os fracos devem morrer.
Novamente, Caim raciocinava de modo selvagem. Ele nem conhecia a verdade tampouco a falsidade. Não queria ser uma boa pessoa, ao contrário, queria ser mal. Ele estava cheio de despeito e inveja em relação a seu irmão. Caim saiu de sua terra e de seus campos e se dirigiu às colinas. Ele viu seu irmão Abel nas planícies verdes. Viu o rebanho pastando calmamente. Abel estava deitado na grama. “Ele está dormindo”, pensou Caim. A malícia e a traição de Caim cresceram. Ele se inclinou e pegou uma pedra pontiaguda. “Esta é uma boa oportunidade. Eu matarei Abel e me livrarei dele para sempre.” Caim falou consigo mesmo. Caim desceu da colina e se aproximou de seu irmão, foi tão cuidadoso quanto um tigre. Seus olhos brilhavam de violência.
Abel caminhava pelos campos de pastagem muitas vezes. Estava cansado. Ele deitou sua cabeça numa pedra lisa. Relaxou sobre a grama e adormeceu. Havia um sorriso e um traço de esperança em sua face. Ele sabia que nem lobos ou porcos selvagens vinham àquele vale. Assim, deixou seu rebanho pastando em segurança e adormeceu profundamente. Ele achava que não existia nenhuma criatura mais perigosa do que o lobo, e que Caim era seu único irmão no mundo inteiro. Porém, Caim se aproximou mais de seu irmão Abel. Sua sombra caiu sobre a face de seu irmão adormecido. Abel abriu os olhos e sorriu para seu irmão. Contudo, Caim se tornou selvagem. Ele era como um lobo, ou melhor, era mais selvagem do que um lobo. Caim atacou seu irmão com a pedra, golpeou sua fronte. O sangue cobriu os olhos de Abel o qual desmaiou, mas Caim continuou golpeando-o. Abel ficou completamente imóvel.
Abel não podia mais se mover. Não podia mais abrir os olhos. Não podia mais falar ou sorrir. Não voltou para sua cabana, e seu rebanho ficou sem pastor. As ovelhas se perderam nas colinas e nos vales, e os lobos as atacaram. O sangue jorrava da fronte de Abel e Caim olhava aquilo. O sangue por fim, cessou. Algumas águias surgiram no céu. Estavam pairando sobre Abel. Caim estava confuso, não sabia o que fazer. Ele ergueu o corpo de seu irmão e começou a caminhar. Não sabia onde o ocultaria daquelas vorazes aves de rapina. Caim se cansou de caminhar. O sol estava prestes a se pôr. Ele deitou o cadáver no solo. Em seguida sentou-se para descansar. De repente, um corvo pousou perto de Caim. O corvo começou a crocitar alto. Talvez quisesse perguntar a Caim: “Caim, por que matou Abel, teu irmão?” Caim ficou observando os movimentos daquela ave. O corvo cavou um buraco no chão com suas garras. Em seguida pegou um fruto seco com seu bico. A ave lançou o fruto dentro do buraco e cobriu com a terra.
Caim descobriu algo importante. Ele poderia enterrar o corpo de seu irmão para protegê-lo das águias e dos lobos. Caim pegou um osso seco e se pôs a cavar o chão. O trabalho árduo de cavar o fez suar. Finalmente, ele cavou uma cova funda. Pôs o cadáver de seu irmão dentro e o cobriu de terra. Assim, as aves de rapina e os lobos não poderiam devorá-lo. Caim chorou muito, chorou porque tinha assassinado seu irmão, chorou pois não podia fazer nada. O corvo foi quem o ensinou a enterrar Abel. Caim era uma criatura ignorante, não sabia coisa alguma. Ele aprendeu com o corvo como enterrar o corpo de seu irmão.
Caim olhou para sua mão. Sacudiu para tirar a terra dela e então perguntou para si próprio: “Caim, o que tu fizeste?” E continuou: “Por que matei meu irmão?” “O que eu tenho? Não tenho nada senão remorso e dor.”
O sol sumiu no horizonte. Anoiteceu e a escuridão cobriu o vale. Caim retornou para sua cabana e antes de chegar em sua cabana viu um fogo ao longe. O fogo tinha labaredas. Caim ficou com medo daquele fogo. Estava com medo do fogo que aceitara o sacrifício de seu irmão e rejeitara o seu. Caim tentava escapar, mas não encontrava nenhum lugar para fugir. Ele viu seu pai Adão esperando por eles. Adão estava esperando por seu dois filhos. Porém, Caim voltou sozinho.
Adão estava triste e ansioso. Ele perguntou a Caim, seu filho: “Onde está teu irmão?” Caim respondeu irritado: “Eu não sei” Adão compreendeu que algo tinha acontecido. Ele perguntou a Caim: “Onde tu o deixaste?” “Lá, entre as colinas.” respondeu Caim. Adão ordenou: “Levai-me até este lugar!” Caim apontou em direção do lugar. Ele começou a caminhar e seu pai o seguiu. Eles ouviram os balidos das ovelhas e das cabras ao longe. Adão viu o rebanho dormindo espalhado no vale. Adão gritou: “Abel, onde estás?” Entretanto, ninguém respondeu. Ao luar, Adão viu algo brilhando sobre as pedras, no solo. Ele percebeu algo estranho. Compreendeu o que tinha acontecido. Sentiu que Caim tinha assassinado seu irmão.
Adão gritou, cheio de ira: “Caim, que Deus te amaldiçoe! Por que mataste a teu irmão? Por que criaste corrupção e derramaste sangue sobre a terra? Deus não te criou para isso! Que Deus te amaldiçoe!”
Caim fugiu e se perdeu na terra. Correu enlouquecido. Dormia nas cavernas. Ele se curvava e se prostrava para o fogo porque tinha medo dele. Sua vida foi cheia de sofrimento e remorso. Adão voltou para sua cabana e chorou por seu filho, Abel. Abel era bondoso. E foi oprimido. Adão chorou por quarenta dias. Eva também chorava por seu filho. Deus inspirou Adão avisando-o que lhe daria um outro filho. O filho seria tão bondoso quanto Abel.
Nove meses tinham se passado. Eva deu a luz a um menino. A criança era muito bonita. Sua face era brilhante como o luar. Adão ficou feliz. Seu coração se encheu de felicidade, pois Deus tinha lhe dado um filho que seria tão bondoso quanto Abel. Sete dias se passaram. Adão pensava num nome para seu filho. No sétimo dia, Adão disse para Eva: “Chamaremos a criança de Set, chamado a dádiva de Deus, pois Deus nos agraciou com ele.”
Os dias e os anos se passaram. Set tornou-se um jovem. Adão e Eva envelheceram. Adão estava satisfeito com os desígnios de Deus. Seus filhos se tornaram adultos. Ele tinha uma descendência. Eles trabalhavam, cultivaram a terra e construíram suas casas. Enquanto isso cultuavam a Deus. Caim vivia em algum lugar da terra. Ele também teve filhos.
Um dia Adão disse para seu filho, Set: “Meu filho, eu quero um pouco de uvas.” Set se levantou e saiu em direção as videiras. Ele colheu alguns cachos e voltou. Porém, ao chegar Adão tinha morrido. Adão viveu por mil anos na terra. Então, morreu e voltou ao Jardim do Paraíso.
Fátima Azzahra (A.S.) disse: “Ó Deus, abençoai Mohammad e sua Família, e abençoai nosso pai, Adão e nossa mãe, Eva.”
“E conta-lhes (ó Mensageiro) a história dos dois filhos de Adão, quando apresentaram duas oferendas; foi aceita a de um e recusada a do outro. Disse aqueles cuja oferenda foi recusada: Juro que te matarei. Disse-lhe (o outro): Deus só aceita (a oferenda) dos justos. Ainda que levantasses a mão para assassinar-me, jamais levantaria a minha para matar-te, porque temo a Deus, Senhor do Universo. Quero que arques com a minha e com a tua culpa, para que sejas um dos condenados ao inferno, que é o castigo dos iníquos. E o egoísmo (do outro) induziu-o a assassinar o irmão; assassinou-o e contou-se entre os desventurados. E Deus enviou um corvo, que se pôs a escavar a terra para ensinar-lhe a ocultar o cadáver do irmão. Disse: Ai de mim! Não é verdade que não fui capaz de ocultar o cadáver do meu irmão, se até este corvo é capaz de fazê-lo? Contou-se, depois, entre os arrependidos”. (Alcorão Sagrado C.5 – V.27 a 31)
“(Recorda-te ó Profeta) de quando teu Senhor disse aos anjos: Vou instituir um legatário na terra! Perguntaram-Lhe: Estabelecerás nela quem alí fará corrupção, derramando sangue, enquanto nós celebramos Teus louvores, glorificando-Te? Disse (o Senhor): Eu sei o que vós ignorais. Ele ensinou a Adão todos os nomes e depois os apresentou aos anjos e lhes falou: Nomeai-os para Mim e estiverdes certos. Disseram: Glorificado sejas! Não possuímos mais conhecimentos além do que Tu nos proporcionaste, porque somente Tu és Prudente, Sapientíssimo. Ele ordenou: Ó Adão, revela-lhes os seus nomes. E quando ele lhes revelou os seus nomes, asseverou (Deus): Não vos disse que conheço o mistério dos céus e da terra, assim como o que manifestais e o que ocultais? E quando dissemos aos anjos: Prostrai-vos ante Adão! Todos se prostraram, exceto Lúcifer que, ensoberbecido, se negou, e incluiu-se entre os incrédulos. Determinamos: Ó Adão, habita o Paraíso com a tua esposa e desfrutai dele com a prodigalidade que vos aprouver; porém, não vos aproximeis desta árvore, porque vos contareis entre os iníquos. Todavia, Satã os seduziu, fazendo com que saíssem do estado (de felicidade) em que se encontravam. Então dissemos: Descei! Sereis inimigos uns dos outros, e, na terra, tereis residência e gozo transitórios. Adão obteve do seu Senhor algumas palavras de inspiração, e Ele o perdoou, porque é o Remissório, o Misericordioso. E ordenamos: Descei todos aqui! Quando vos chegar de Mim a orientação, aqueles que seguirem a Minha orientação não serão presas do temor, nem se atribularão.” (Alcorão Sagrado, C. 2 V.30 a 38)