O Xiismo no Islam

Por Assayed Mohammad Hussein Al-Tabatabei.

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

Resumo da Biografia do Autor

O grande erudito Assayed Mohammad Hussein Al-Tabatabaí nasceu em 1321 Hijrita (1901 a.D) na cidade iraniana de Tabriz, tendo o privilégio e a benção de proceder da Casa do Conhecimento e da Virtude, cuja família tradicional sempre serviu por catorze gerações o Islam e o método do Mensageiro Mohammad (saws)* e seus descendentes provenientes de “Ahel Al-Bait”… e, sendo filho do mais destacados sábios e eruditos de Tabriz, Assayed Al-Tabatabaí principiou seus estudos naquela cidade, transferindo-se depois para Al-Nadjaf, ao sul de Bagdád no Iraque, no ano de 1344 Hijrita (1924 a.D), no lugar em que permaneceu por uma década aproximadamente, adquirindo os conhecimentos islâmicos, onde estudou a jurisprudência, os regulamentos, a filosofia, a matemática, etc… até que, em 1354 Hijrita (1934 a.D), já aos trinta e três anos de idade, retornou à sua terra natal.

Não se contentando com o que aprendeu na jurisprudência e nos regulamentos, Assayed Al-Tabatabaí se aprofundou mais nestes conhecimentos, inclusive na síntaxe, na gramática, na cultura árabe, nos <<Elementos>>, base da geometria elementar de autoria de Euclides, matemático do século III a.C., no <<Almagesto>>, composição matemática de autoria de Claudio Ptolomeu, astrônomo, matemático e geógrafo grego do século II d.C., aprendendo inclusive a filosofia, a retórica e a interpretação do Alcorão Sagrado.

Sua fama se expandiu mais quando saiu de Tabriz indo se radicar em Qom, também cidade iraniana, em conseqüência da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1365 Hijrita (1944-1945 a.D), onde lecionou a interpretação, a jurisprudência e o conhecimento islâmico, sem jamais discutir com seus opositores, guiando inclusive muitos deles ao caminho da verdade e diretriz.

Participou de vários congressos culturais, onde se abordavam os assuntos religiosos e filosóficos, sempre se destacando em seus teoremas.

Assayed Al-Tabatabaí era de temperamento ameno e sutil… acessível e comunicativo… valorizando mais a índole humana do que a própria jurisprudência e o conhecimento.

Assayed Mohammad Hussein Al-Tabatabaí é autor de vinte e sete grandiosas obras, com excessão de vários artigos que foram publicados em revistas culturais e educativas na ocasião.

Sua obra mais importante é <<Al-Mizán Fí Tafssír Al-Qor-án>>, ou seja, <<O Equilíbrio na Interpretação do Alcorão>>, formada por vinte Volumes, sendo considerada das interpretações mais valiosas para este século e verdadeiramente utilíssima na sociedade islâmica, tendo sido traduzida para diversos idiomas, inclusive para o idioma espanhol.

O grande erudito Al-Tabatabaí dedicou toda a sua vida em prol da doutrina islâmica, sendo um farol para os eminentes do saber e do conhecimento, iluminando o caminho daqueles que buscavam o espírito da sabedoria. Faleceu na cidade de Qom, no Irã, no ano 1402 Hijrita (1981 a.d.) com aproximadamente oitenta e um anos de idade.

Apresentação do Autor

O livro que temos em mãos, <<O Xiismo no Islam>>, explica a verdadeira seita dos xiitas e sua importância. É uma das suas principais seitas islâmicas que são: o Xiismo e o Sunismo. Este livro expõe a formação das origens da seita xiita, o estilo do pensamento religioso dos xiitas e os conhecimentos islâmicos sob o ponto de vista deles.

A Religião – Sem dúvida, todo ser tende a se inclinar para os de sua raça, sem deixar de relacionar-se, em seu ambiente, com os outros, em todas as suas atividades: no comer e beber; na inércia e na atividade; no dormir e nos despertar e, ao mesmo em que esses atos se separam, mantém uma sólida união entre si.

Com base nessa realidade, o homem se vê compelido a viver dentro de limites e normas de mútuo respeito, e isto é compreensível sob o ponto de vista da lógica, eis que o ser humano persegue, sempre, a felicidade para a sua vida, buscando, em sua natural ambição, a realização de todos os seus desejos para a sua conservação e sobrevivência.

Partindo deste ponto de vista, o homem organizou suas atividades de conformidade com leis e normas por ele mesmo criadas ou adaptadas de outros. Daí, vemo-lo adotar uma maneira própria de vida, esforçando-se para satisfazer as suas necessidades, pois as considera essenciais para a sobrevivência.

Busca, no alimento e na água a satisfação da fome e da sede, pois a comida e a água são duas necessidades primordiais para a continuidade da vida.

Essas normas que regem a vida do homem, constituem o princípio fundamental que forma a base de seu relacionamento. Assim é que ele vê a vida e o Universo, do qual se sente uma parte. Assim é que se lhe afigura esta verdade, igualmente vista por seu semelhante, relativamente à vida e ao mundo.

Os que resumem a existência a um mundo materialista, consideram o homem apenas como um ser vegetativo (vive porque a vida pulsa em seu corpo e acaba com a morte).

Este é o ponto de vista puramente materialista, e os que assim pensam, procuram realizar as suas necessidades materiais e se esforçam, nessa senda, dentro de suas possibilidades, para a obtenção de oportunidades que satisfaçam seus anseios e interesses particulares.

Mas aqueles que acreditam que o mundo é criação de um Ente Superior, como os que adotam os símbolos das imagens… para estes, a fé de que o criador é único que lhes dá a graça da vida, e assim programam a sua existência de acordo com os ensinamentos do Criador, afasta-os de Sua ira e de Seu castigo. Portanto, fazendo-se dignos das bênçãos de Deus, terão, sempre, a Sua graça. E quando esta se afasta deles, será um sinal de Seu descontentamento.

Há os que acreditam que Deus é único e consideram eterna a vida do homem e que ele é responsável por seus próprios atos, sejam bons ou maus, e acreditam no Dia do Juízo Final, tal como os Zoroastros, os Judeus, os Cristãos e os Muçulmanos, e adotaram um modo de vida fiéis a este princípio, para alcançarem a felicidade nesta vida e na Eternidade após a morte.

A soma dessas crenças e princípios (a crença na verdade do homem e do Universo) e no que se lhe necessita de leis codificadas e normas organizadas, no tocante de suas atitudes e práticas na vida, chama-se de “Al-Mazhab”, ou seja, “A Seita”, tais como a seita dos Xiitas e a seita dos Sunitas no Islam, ou, a seita dos Melkitas e dos Nestorianos no Cristianismo.

Com base nas colocações acima, torna-se impossível ao homem – mesmo que negue a existência de Deus Supremo – não necessitar de uma religião (código de vida, embasada em princípios convictos). Portanto, a religião é norma da vida, que dela não se separa.

O Alcorão Sagrado mostra que o homem, sem dúvida, deve tomar a religião como um caminho e um comportamento para ele, e este caminho foi instituindo por Deus Altíssimo para toda a humanidade, e, quando trilhado, chega-se até Deus Majestoso e Supremo.

Entretanto, esta questão se distingue de indivíduo para indivíduo, e aqueles que seguiram a religião da verdade que é o Islam, permaneceram no caminho certo, porém, os que se desviaram desse caminho, se perderam em erro evidente(1).

O Islam – É uma expressão e é um comando para seguir os mandamentos do Imperativo (Deus) sem oposição… e o Alcorão Sagrado qualificou a palavra o Islam nessa missão, de forma global, de que o ser humano deve se submeter ao Senhor do Universo(2), e jamais adorar senão a Deus Uno e Único, e somente seguir os Seus mandamentos.

O Alcorão Sagrado nos informa de que Abraão “O Escolhido” (as)(3), foi o primeiro que denominou esta religião por Islam e seus seguidores por muçulmanos(4).

Xíat ou Xiismo, significa seguimento, continuidade… e são xiitas aqueles que admitem que a sucessão (califado) depois do Profeta Mohammad (saws) é transmitida a seus descendentes provenientes de “Ahel Al-Bait”, isto é, da linhagem de sua filha Fátima “Azzahrá” (as) e seu marido o Imám Ali Ben Abi Táleb (as)… os quais são os primórdios nos conhecimentos islâmicos.

O autor

Assayed Mohammad Hussein Al-Tabatabaí

1. <<… Que a maldição recaia sobre os iníquos, que afastam (os outros) da senda de Deus e a anunciam tortuosa e negam a Eternidade>> – Alcorão Sagrado – Surat Al-Aaráf – Capítulo 7, Versículos 44 e 45.

2. <<E quem professou a melhor religião significa que se submeteu diante de Deus, e ele pois é caridoso e segue a crença de Abraão monoteísta>> – Alcorão Sagrado – Surat Annissá – Capítulo 4, Versículo 125.

<<Dize: Ó adeptos do Livro (judeus e cristãos versados na Torah e no Evangelho), vinde à Palavra em comum entre nós e vós, a fim de não adorarmos senão a Deus e não Lhe associarmos (outra divindade) em nada, e não nos tomarmos uns aos outros por senhores em vez de Deus, porém, caso se recusem, dize-lhes: Testemunhai que nós somos muçulmanos>> – Alcorão Sagrado – Surat Ále Imrán – Cap. 3, Versículo 64.

<<Ó crentes, abraçai todos o Islam…>> – Alcorão Sagrado – Surat Al-Baqara – Capítulo 2, Versículo 208.

3. Estas iniciais significam “Aleihi Assalám” ou “Aleihum Assalám”, que é uma saudação aos homens e mulheres santos de Deus, e que se traduz por “A paz esteja com ele(s)”.

4. <<Ó Senhor nosso, faça de nós submissos a Ti e de nossa semente surja uma nação submissa a Ti…>> – Alcorão Sagrado – Surat Al-Baqara – Cap. 2, Versículo 128.

<<… o credo do vosso pai Abraão, Deus vos denominou muçulmanos (submissos a Deus)…>> – Alcorão Sagrado – Surat Al-Hadj – Cap. 22, Vers. 78.

Palavra do Tradutor

Traduzir um livro como este não é tarefa fácil. Fi-lo, implorando a ajuda de Deus, a inspiração na fé que cultuo ao Profeta (saws) e, em particular, em duas pessoas que tiveram grande destaque na Batalha sangrenta de Karbalá: nossa senhora Zeinab Bent Ali, Heroína de Karbalá e Al-Abbás Ben Abdel Muttâleb, cognominado por Abu Al-Fadl Al-Abbás, tio do Mensageiro de Deus.

Busquei, na tradução ideológica que fiz, dar sentindo autêntico ao conteúdo do livro, muçulmano xiita que sou.

A louvável iniciativa da Embaixada da República Islâmica do Irã no Brasil, autorizando a tradução para a língua portuguesa, veio preencher uma grande lacuna, um largo espaço vazio de conhecimentos sobre a realidade xiita, sua origem, história, pensamento e filosofia.

Acusam-nos de severos! Lançam-nos a pecha de fanáticos!

Ora, se repudiar a injustiça, abominar o vício, pugnar pela moral e levantar a espada contra a opressão é ser severo e fanático desses postulados, então temos orgulho de sê-lo!
Ahmad Abdul Monhem Al-Horr

Palavra da Tradutora Complementar

A pedido de sua Eminência o Sheikh Táleb Hussein Al-Khazraji, Imám do <<Massjed Mohammad Rassul Allah>> em São Paulo, me empenhei com muita dedicação na revisão e complementação da tradução que faltava deste precioso livro de autoria do grande erudito Assayed Mohammad Hussein Al-Tabatabaí, o que me elevou mais ainda o espírito e aumentou o meu humilde conhecimento sobre o verdadeiro Islam, particularmente sobre quem seriam realmente os xiitas e como eles surgiram, etc…

E o livro <<O Xiismo no Islam>> elucida tudo isso, inclusive o pensamento xiita, o qual responde a toda e qualquer pergunta em todos os campos.

O que mais me surpreendeu, é a inteligência deste respeitável e honorável erudito Assayed Mohammad Hussein Al-Tabatabaí, e que infelizmente não tive o privilégio e a honra de conhecê-lo pessoalmente, o qual, sendo xiita, ele não feriu em nenhuma passagem de sua obra os sentimentos dos nossos irmãos muçulmanos sunitas… o que é uma tarefa difícil.

Contudo, nós aqui no Brasil, devemos ser imensamente gratos às autoridades religiosas que estão se empenhando nas traduções de importantíssimos livros, cujo teor é o esclarecimento da verdadeira essência do Islam, e que lamentavelmente era deturpada tanto pela prática quanto pela informação, dando uma imagem distorcida da realidade islâmica.

Agradecemos e louvamos outrossim, a Embaixada da República Islâmica do Irã no Brasil, pelo seu interesse e empenho neste sentido, para o incentivo e difusão do Islam – que é a doutrina complementar do verdadeiro e primórdio cristianismo propagado pelo Messias Issa Ben Mariam (Jesus Cristo, a paz esteja com ele) e que foi concluída através do Concludente dos Profeta Mohammad Ben Abdulláh Ben Muttâleb (Deus o abençoou juntamente com sua Linhagem e os saudou) – em um País como o nosso, onde o brasileiro se interessa em conhecer o Islam e no que ele se fundamente.

E, para melhor esclarecimento, tomei a liberdade de mencionar alguns apontamentos (conforme a Nota da Tradutora Complementar) no rodapé das páginas, onde o leitor poderá discernir melhor algumas referências, localidades ou personagens mencionados no texto pelo Autor, os quais podem ser familiarizáveis aos árabes, porém, estranhos aos brasileiros, inclusive mencionei anexo às datas, anos ou séculos Hijritas, àqueles concordantes no Calendário Gregoriano, a fim de esclarecer em época da História ocorreram os fatos.

Quero ressaltar de que o Islam não é uma religião fanática, mas sim, uma doutrina que leva o ser humano à verdadeira vida de paz e tranqüilidade, longe das ilusões dos vícios e das promiscuidades… porém, infelizmente, aqueles que monopolizam o poder econômico, provocam seus seguidores que lutam pela justiça e pelos verdadeiros direitos humanos… e não dos direitos dos criminosos que lesaram os direitos de suas vítimas.

Concluindo, gostaria de esclarecer um ponto: Seguir os conhecimentos do Islam, não significa praticar a apostasia, porém, complementar a sua religião ensinada pelo Messias Issa (Jesus Cristo, a paz está com ele).

Bem-aventurados são aqueles que encontraram a senda reta de Deus e acreditaram em Sua mensagem!

Aidah Rumi
Tradutora Complementar

Epígrafe

O Imám Ali Ben Abi Táleb (as) disse:

– “Os eruditos permanecerão, apesar da ausência física através dos tempos, pois seus exemplos se encontram nos corações”.

O grandioso erudito e pensador islâmico Assayed Mohammad Hussein Al-Tabatabaí (que Deus abençoe sua sepultura) é um dos mais destacados sábios e esplêndidos filósofos… e os campos do saber, do pensamento e do conhecimento, em todas as suas abrangências, são testemunhas por seu magnífico e relevante papel na edificação do pensamento nítido e da filosofia genuína.
Este respeitável pensador viveu aproximadamente oitenta anos, dedicados desde a meninice, ao estudo, à atividade, ao labor intelectual, à sapiência e à devoção. Suas obras chegaram ao número de cinqüenta volumes, fartamente ricos em conhecimentos divinos e amplamente esclarecedores, os quais abrem para o homem o caminho da crença em Deus Uno e Supremo, para que ele possa suplicar e se apiedar junto ao seu Senhor e Criador, e, se aprofundar em sua fé através do bom comportamento, da excelente moral e do seu amor ao próximo.

Este variável erudito, foi privilegiado com a retidão, integridade moral, devoção e amor pelos devotos de Deus Supremo e Majestoso, desapegado de bens materiais e vaidades deste mundo, sendo um homem humilde com toda a nobreza de sentimentos, tratando a todos, sem exceção, com muito carinho e compreensão, e por isso, era querido, amado, respeitado e admirado pelas pessoas… E, dentre suas notáveis e elevadas qualidades, Assayed Mohammad Hussein Al-Tabatabaí era incansável, sempre participando ativamente em todas as datas comemorativas de “Ahel Al-Bait”, em especial, constantemente presente nos dias de cerimônia póstumas, em memória do Imám Al-Hussein (as).

O livro intitulado <<O Xiismo no Islam>> é considerado uma das obras importantes do magnífico erudito Al-Tabatabaí, onde ele expõe o que é de mais útil e interessante dos elevados e instrutivos conhecimentos da escola dos procedentes de “Ahel Al-Bait” (as).

Assayed Mohammad Hussein Al-Tabatabaí faleceu no ano de 1981 e seus purificados restos mortais foram sepultados na cidade de Qom, no Irã, perto do purificado túmulo da senhora Fátima, filha do 7º Imám Mussa Ibn Jaafar “Al-Cázem” (as), deixando para nós um preciosíssimo legado refletivo, rico em conhecimentos proveitosos, com os quais se iluminam as mentes, levam o ser humano à diretriz e à orientação, impelindo-o à edificação de uma ilustre nitidez cívica, para o enaltecimento da doutrina islâmica em uma existência nobre e livre.

Que a paz esteja com ele no dia em que nasceu e nos dias em que ele labutou através de seu conhecimento e sabedoria, legando à humanidade o seu aprazível e agradável pensamento, que é um substancial alimento ao espírito!

Que a paz esteja com ele no dia em que retornará vivo juntamente com os Profetas, Mensageiros e os Imames purificados (as)!

E que a paz, a misericórdia e as bênçãos de Deus estejam convosco!

Sheikh Táleb Hussein Al-Khazraji
Imám da Mesquita
<<Massjed Mohammad Rassul Allah>>
São Paulo – Brasil
15/Ramadán/418 Hijrita
14/Janeiro/1998 a.D.

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

A Forma da Constituição do Xiismo e seu Desenvolvimento

** Início da Instituição Xiita e sua Forma **
** A Causa da Dissidência da Minoria Xiita da Maioria Sunita e Surgimento das Divergências **
** Os Assuntos do Califado e a Afluência Teológica **
** O Método Político do Califado Eletivo e sua Distinção no Pensamento Xiita **
** O Fim do Califado com o “Príncipe dos Crentes” e sua História **
** O que os Xiitas Conseguiram Durante o Califado do Imám Ali Ben Abi Táleb “Príncipe dos Crentes”, em 5 anos **
** A Transferência do Califado para Muáwiya e sua Transformação em Reinado Hereditário **
** Os Dias Difíceis que os Xiitas Passaram **
** Duração do Reinado dos Omíadas **
** Os Xiitas no 2° Século Hijrita (Século VIII d.C.) **
** Os Xiitas no 3º Século Hijrita (Século IX d.C.) **
** Os Xiitas no 4° Século Hijrita (Século X d.C.) **
** Os Xiitas do 5° ao 9° Século Hijrita (Século XI ao VX d.C.) **
** Os Xiitas no 10° e 11° Século Hijrita (Século XVI e XVII d.C.) **
** Os Xiitas do 12° ao 14° Século Hijrita (Século XVIII ao XX d.C.) **

Início da Instituição Xiita e sua Forma

Devemos saber que o início da instituição xiita, e que foi denominada pela primeira vez por <<Xíat Ali>>, ou seja, <<Xiismo de Ali>>(1) e que aliás, iniciou-se no tempo do Mensageiro de Deus, o nobre Profeta Mohammad (saws). Portanto, o aparecimento da missão e convocação islâmica, sua expansão e seu progresso, ocorreu durante os vinte e três anos, a contar do ano da Revelação (610 a.D.), a qual gerou o surgimento desta seita entre os Companheiros (Sahába) do Profeta (saws).

a) Nos primeiros dias de sua missão, ele foi convocado em texto no Alcorão Sagrado, para convocar seus parentes mais chegados(2) e, em reunião, ele disse:

– “O primeiro que me der seu voto de confiança como missionário, será o meu sucessor e meu recomendado depois de mim.”

E Ali Ben Abi Táleb (as) foi o primeiro que se apresentou e aceitou o Islam, e por sua vez, o Profeta (saws) anuiu e acreditou na fé e renovou-lhe a promessa feita(3).

É geralmente difícil para o Comandante de uma revolução, e principalmente nos seus primeiros dias, empossar um sucessor, preferencialmente aos outros, sem antes confirmar sua fidelidade, contentando-se com essa escolha para conhecê-lo e fazê-lo conhecer aos demais, sem lhe dar a saber qual a sua missão no futuro, deixando-o afastado das responsabilidades ministeriais e sucessórias.

b) O Profeta Mohammad (saws), de acordo com a História, tanto dos Sunitas como dos Xiitas, onde se afirma que Ali (as) é livre, isento de erros e fiel à sua palavra e a seus atos(4), e tudo o que ele faz está de acordo com a religião muçulmana, sendo delas o maior conhecedor, e tem a sabedoria do islamismo e das Leis de Deus(5).

c) O Imám Ali (as) praticou muitos atos impressionantes, arriscando-se constantemente(6). E como exemplo, quando a pedido do Profeta (saws), que receava uma traição, ocupou sua cama na noite da emigração (Hidjira)… e também, pela sua participação efetiva nas batalhas de Badr, Ohod, Al-Khandaq e Khaibar, sem o que os muçulmanos jamais teriam conseguido vitória alguma, em nenhuma delas. A morte e a frustração seriam o resultado certo sem a sua participação.

d) A questão de Ghadir Khom foi quando o nobre Profeta (saws) anunciou publicamente de que Ali (as) seria o seu sucessor como Governante dos muçulmanos(7).

Sem dúvida, tais particularidades e privilégios que o Imám Ali (as) possuía, eram confirmadas pelos historiadores com unanimidade… Como também, o relacionamento que o Profeta (saws), lhe dedicava era marcante, fazendo com que ele tivesse muitos amigos sinceros e seguidores leais dentre os Companheiros do Profeta de Deus, e seus aliados, ao mesmo tempo em que muitos lhe guardavam rancor e inveja.

Contudo, a expressão <<Xiismo de Ali>> e <<Xiismo de Ahel Al Bait>>(8) surgia muito durante a conversa do Profeta Mohammad (saws) em seus sermões.(9)

1. Pelo qual, só merecem fé os ensinamentos do Profeta Mohammad (saws), transmitidos por “Ahel Al-Bait”, isto é, “Gente da Casa” e sua descendência. Ali Ben Abi Táleb (as) foi o 1o. Imám proveniente da Linhagem do Mensageiro de Deus, como foi seu primo de primeiro grau e posteriormente seu genro ao se casar com sua filha caçula Fátima “Azzahrá” (as).

2. <<E admoesta teus parentes mais próximos>> – Surat Achoura – Capítulo 26, Versículo 214.

3. De acordo com a Tradição (Al-Hadis), o Imám Ali (as) disse: “E para vos falar de forma doutrinária exclamou: ‘Eu, ó Profeta de Deus, serei o teu Ministro!’ Então, o Mensageiro de Deus segurou-me pela nuca e falou: ‘Este é meu irmão, meu recomendado e meu sucessor! Acatai-o pois, e ouvi-lhe a sua palavra.’ O grupo começou a rir dizendo para Abu Táleb: ‘ Vês?! Ele te ordena a ouvir a palavra do teu filho e obedecê-lo!’ “

Este fato foi mencionado pelo historiador árabe Al-Yaaqúbi, 2o. volume, página 63; e também por Abi Al-Fadá, 1o. volume, página 39, e em suas obras <<Al-Bidáya Wan Niháya>>, 3o. volume, página 39, e <<Gháyat Al-Marán>>, página 32.

4. Omm Salama, uma das esposas do Profeta Mohammad (saws) disse: “Eu ouvi o Mensageiro de Deus dizer que Ali está com a verdade e com o Alcorão, e a verdade e o Alcorão estão com Ali, e ambos jamais se separarão até que se me retorne a questão!” E esta afirmação foi mencionada em 15 ocorrências, particularmente por Ibn Abbás, Abu Bakr, Áicha, Ali, Abu Said, Al-Khadari, Abu Laila e Abu Ayyúb Al-Ansári, na obra <<Gháyat Al-Marám>> da página 539 até a página 540, onde também menciona que o Mensageiro (saws) disse: “Que Deus seja clemente com Ali, pois a verdade está com ele, onde ele estivesse.” Mencionado também na obra <<Al-Bidáya Wan Niháya>> Volume 7, página 360.

5. Alqama Ben Moharrez, um dos oficiais muçulmanos, conta que certa vez, ao aludirem sobre Ali, o Mensageiro disse: “Eu dividi o Paraíso em dez partes, sendo nove delas as dou para Ali e uma para o resto da humanidade”.

6. Quando os idólatras de Meca decidiram eliminar Mohammad (saws), sitiando a sua casa, o Profeta (saws) decidiu emigrar para Medina, dizendo para Ali (as): “Tu estás disposto em dormir no meu leito, para que eles pensassem que sou eu que estaria deitado, enquanto eu encontre e fique em local mais seguro?” Sem hesitar, Ali(as) concordou satisfatoriamente.

7. A questão de Ghadir Khom é concordante nos relatos dos escritores e historiadores xiitas e sunitas, sendo mais de cem Companheiros do Profeta Mohammad o confirmaram em seus fundamentos e expressões (Assánid Wa Ibárát).

Nota da Tradutora complementar:

8. <<Ahel Al-Bait>> seriam exclusivamente Fátima “Azzahrá”, seu marido Ali Ben Táçeb e os filhos de ambos Al-Hassan e Al-Hussein.

9. Jáber Ben Abdalla, que teve seu pai morto na batalha de Ohod, os quais eram dos “Ansár”, relata o seguinte: “Certo dia, estávamos reunidos com o Profeta, quando Ali surgiu. Então, o Profeta disse: ‘Eis que se aproxima de vós o meu irmão!’ Depois, ele virou-se para a Caaba e, tocando-a prosseguiu: ‘Pois este e seu xiismo serão os vencedores no Dia da Ressurreição!’ ”
Por sua vez, Ibn Abbás relatou: “Quando desceu o Versículo que diz <<Aqueles que creram e praticaram o bem, são as melhores das criaturas>> (Surat Al-Bayinát – Capítulo 98, Vers.7), o Profeta falou: ‘Estas criaturas são tu e teu xiismo, os quais virão no Dia da Ressurreição satisfeitos e aceitos’…”

A Causa da Dissidência da Minoria Xiita da Maioria Sunita e o Surgimento das Divergências

Os xiitas de Ali (as) e seus Companheiros (Sahábas), acreditavam firmemente que a sucessão do Profeta (saws), depois de seu falecimento, seria de Ali Ben Abi Táleb (as), e isto pela sua capacidade e pela posição que ocupava junto ao Mensageiro (saws) e perante todos os muçulmanos, o que veio a ser confirmado com os acontecimentos que se sucederam à doença do Profeta (saws)(1).

Mas o que aconteceu, foi o contrário do era esperado, pois, quando o Profeta (saws) foi ao encontro do Amigo Supremo, seu corpo purificado ainda não tinha sido lavado e antes de seu enterro, quando seus familiares e um número de Companheiros (Sahába) ocupavam-se do velório, eis que chega a notícia de que um pequeno grupo estava reunido a fim de empossar um sucessor ao Profeta falecido… E essa minoria venceu a maioria, os quais anunciaram a decisão de surpresa, sem consultar os familiares do Profeta Mohammad (saws), seus parentes ou seus amigos, visando pô-los diante de um fato consumado.

Depois que o Imám Ali (as) e seus amigos (Ibn Al-Abbás, Al-Zubair, Abi Zôrr, Al-Moqdád e Ammár) terminaram a cerimônia do enterro, ficaram sabendo o que havia acontecido. Então, levantaram a bandeira da oposição, criticaram aquela minoria, e se declararam contrários à sucessão por eleição.
A resposta que tiveram foi a de que o ocorrido se fez em prol da pacificação dos muçulmanos.
Tais críticas e tal confissão levaram a uma separação entre a minoria e maioria. Eles consideravam cada opositor e aliado do Imám Ali (as), como um rebelde contra a decisão deles, chegando a denominar <<Xíat Ali>> com adjetivos de baixo nível.

Na verdade, os xiitas foram condenados às divergências desde os primeiros dias de sua rebelião, nada mais conseguindo desde o começo de sua oposição. No entanto, o Imám Ali (as) não declarou revolução nem guerra, buscando sempre os interesses do Islam e dos muçulmanos, mesmo porque, não dispunha de número suficiente de homens para um movimento revolucionário.

Contudo, aqueles opositores, aliados de Ali (as), não se entregaram à maioria, pois acreditavam que a sucessão é fonte teológica. É um direito absoluto do Imám (as)… e nos assuntos teológicos e morais, sempre recorriam a ele (as)… inclusive em casos de julgamentos civis ou criminalistas(2).

1. Quando o Mensageiro de Deus (saws) sentiu a aproximação da morte, chamou Ossama Ben Zaid Ben Háretha e disse-lhe: “Prepare a cavalaria e vá até o local onde pereceu teu pai, pois eu te nomeio o Comandante deste Exército, e se Deus te fizer alcançar os inimigos, não te apresses, e ficai alertas e avance a vanguarda.” E não houve ninguém dos aliados (Ansár) e dos emigrantes (Muhádjerín) que não fizesse parte deste Exército, inclusive Abu Bakr e Omar Ibn Al-Khattáb… Porém, um grupo começou a comentar: “Vós achais que este moço te capacidade de comandar os imigrantes e os aliados?!” Quando o Mensageiro ouviu os comentários, irritou-se e saiu com o turbante na cabeça, rumo à Mesquita, onde subiu ao púlpito coberto com uma peça de veludo e falou: “Ó humanos! O que significa aquilo que ouvi em conspiração contra Ossama? Sabei que, se vós conspirais contra a nomeação de Ossama no Comando, então vós conspiraste contra a nomeação de seu pai no passado. Por Deus que, se Zaid foi adequado ao emirado, o filho dele o seria também, depois dele, e ambos me são dos mais queridos! Portanto, procurai recomendar o bem…” – Relatado por Abi Al-Hadid – Volume I, página 159.

2. O Mensageiro de Deus (saws) disse: “Eis que vos deixo as duas incumbências, nas quais, se vós se agarrais a elas, jamais se perderão, pois cada uma é tão grandiosa quanto a outra, e que são: o Livro de Deus, que é uma conexão estendida entre o céu e a Terra… e a outra, são os meus descendetes provenientes de Ahel Al-Bait, e ambos não se separarão até que se me retorne a questão.” Esta passagem foi contada em mais de cem relatos alusivos a 35 Companheiros do grandioso Mensageiro – <<Gháyát Al-Marám), página 211. Em outra ocasião, o Profeta dizia também:

“Eu sou a Metrópole do Conhecimento e Ali é o seu Portal, e todo aquele que buscar o conhecimento, deverá fazê-lo pelo seu Portal” – <<Al-Bidáya Wan Niháya>> – Volume VII, Página 359.

Os Assuntos do Califado e a Afluência Teológica

Os xiitas acreditavam que o mais importante para a sociedade islâmica, antes de tudo, era lançar-se no estudo(1) dos princípios islâmicos para depois difundi-los com o objetivo de pregar que o interesse comunitário deve se sobrepor, sempre, aos particulares ou individuais.

Isto de um lado,e, de outro, a formação de um Governo religioso, nada mais é do que as sentenças islâmicas na sociedade e sua preservação, para que o povo adore senão Deus Majestoso e Supremo, e para que se alcance a liberdade total e a justiça individual ou social. E, estas duas tarefas devem ser confiadas a uma pessoa cuja infalibilidade e proteção divina, embora se admita que haja pessoas que se responsabilizam por esta tarefa, e não se isentam da adulteração reflexiva e ideológica, passíveis à infidelidade e traição. e com isto, a justiça que concede uma liberdade islâmica, transforma-se em reinado oligárquico perpétuo, como a supremacia de Cosroé (Kussra) e César (Qaiçar), e então, a doutrina islâmica fica sujeita à alterações, tal como ocorreu nas demais religiões celestiais.

O único que seguiu os ensinamentos do Profeta (saws), em todos os seus atos e comportamento, e era fiel aos seus compromissos, adaptando-se ao Livro de Deus e ao Preceito de Seu Profeta (Sunna Annabauiya), foi o Imám Ali Ben Abi Táleb (as).

Se a maioria daquele tempo alegava que Coraich não admitia o Governo do Imám Ali (as), que era na realidade o sucessor por justiça e direito do Mensageiro de Deus (saws), deveria então, ter orientado os rebeldes a um bom caminho, o da verdade, o correto e do direito, como fez com os que não pagavam o Donativo (Zacát), pois essa maioria os enfrentou arrecadando os tributos à força. Deviam ter agido sem medo de Coraich.

Sim, o que levou os xiitas a se rebelarem contra o Califado eletivo, foi por temor de seus funestos resultados, tais como a corrupção e a forma molestadora que o Governo Islâmico tomaria, destruindo os alicerces da religião.

Esse fato foi confirmado com o passar dos tempos, o que levou os xiitas a continuarem coesos e firmes em seus princípios, certos de seus objetivos, embora tenham sido a minoria, e que, aparentemente, pareciam diluir-se na maioria, eles prosseguiam secretamente nos ensinamentos islâmicos de “Ahel Al-Bait”, os quais eram versados em seus esclarecimentos e expressões, ao mesmo tempo em que se empenhavam no progresso e ascensão, e na preservação e fortalecimento do Islam e sua grandeza, evitando confrontos pública e declaradamente.

Ao contrário, os xiitas apoiavam as lutas sagradas sem interferir em ideologias, e o Imám Ali (as) sempre procurou orientar no interesse do Islam e do benefício dos muçulmanos.

1. Estudo do Livro de Deus (o Alcorão Sagrado), o Preceito Profético (Sunna Annabauiya) e sobre os Imames (as) provenientes da Linhagem do Mensageiro Mohammad (saws), porque eles conservaram os ensinamentos e a palavra do Profeta (saws), que sempre recomendava: “O ensino é um dever de todo muçulmano e de toda muçulmana” – do livro <<Al-Behár>> – Vol. 1, Pág. 55.

Nota da Tradutora Complementar:

2. Coraich era um dos Clãs mais nobres do Hidjáz, do qual procedia o Profeta Mohammad (saws).

O Método Político do Califado Eletivo e Sua Distinção no Pensamento Xiita

Os xiitas acreditavam que os princípios celestiais islâmicos, impostos e contidos no Livro de Deus (Alcorão), assim como os ensinamentos do Profeta Mohammad (saws) seriam eternos, sem sofrerem quaisquer modificações ou alterações(1).

Ao Governo islâmico, não se lhe permite sob nenhum pretexto negligenciar as providências do Governo, por completo, pois é dever do Governo islâmico adotar o Conselho (Choura) nas articulações da doutrina, de conformidade com os interesses da ocasião, porém, isto não ocorreu quando do acordo político, assim como ocorreram os fatos nos últimos dias de vida do nobre Profeta (saws), quando os defensores do Califado Eletivo, acreditavam que somente o Livro de Deus (Alcorão) deve ser conservado e preservado como Lei, enquanto o Preceito (Sunna) e o ditos do Profeta Mohammad (saws) não contavam na questão, acreditando que o Governo islâmico tem o poder em relegar de lado o Preceito (Sunna), se assim se entendesse para os interesses.
Esse pensamento é registrado em muitas passagens da História, escrito pelos Companheiros do Profeta (Sahába), políticos do Governo, onde se afirmava que o Califa, conhecedor da teologia, quando acerta em suas decisões, ele é recompensado por Deus e, se errar, ele é perdoado… e a melhor prova disso foi o ocorrido (em meados do século VII d.C.) quando Kháled Ibn Al-Walíd, um dos Comandantes do Califa, entrou como convidado, na casa de um importante muçulmano, chamado Málek Ben Nuaira, e que na calada da noite o matou, colocando sua cabeça dentro de um forno e queimando-a, e, naquela mesma noite violentou sexualmente a esposa deste.

Para este crime horrendo, o Califa não quis aplicar nenhuma sanção ao autor, desculpando-se dizendo que “Kháled era útil ao Governo islâmico”(2).

Também, o não pagamento do “Al-Khamos”, o tributo de um quinto dos lucros aos familiares do Profeta (saws) e seus parentes(3), a proibição de se reproduzirem os sermões (Ahádis) do nobre Profeta (saws) de forma terminante, e quando se achava algum sermão escrito, era queimado(4). Esses atos eram freqüentes durante o mandato de todos os Califas governantes até a época do Califa omíada Omar Ben Abdel Aziz Ben Maruán (99 a 102 Hijrita > 715 a 717 a.D.). Inclusive, essa política ficou bem acentuada no período do 2o. Califa Omar Ibn Al-Khattáb (13 a 25 Hijrita > 634 a 644 a.D.), o qual extinguiu algumas das normas da doutrina islâmica, tais como: a Peregrinação Regular – Casamento por tempo determinado – A menção da frase “Hayya Allah Khair Al-Âmal”(5) durante o chamado à oração (Al-Ázán) – Permitiu-se que o divórcio se repetisse por três vezes(6) – A casa da moeda distribuía o dinheiro com distinção entre o povo, o que acarretou o surgimento de diversas camadas sociais entre os muçulmanos e, conseqüentemente divergências internas com episódios sangrentos.

Durante o governo de Omar Ibn Al-Khattáb, o então Governador (Wáli) das terras do Chám(7), radicado em Damasco, cujo nome era Moáwiya Ben Abi Sufián, comandava a sua área tal qual como o fazia Cosroé da Pérsia, apoiado pelo 2o. Califa Omar Ibn Al-Khattáb, o qual o cognominava de <<Kussrat Al-Arab>>, ou seja, <<Cosroé dos Árabes>>, dando-lhe plenos poderes sem interferência em suas decisões.

Após o assassinato do 2o. Califa Omar Ibn Al-Khattáb, praticado por um adolescente persa em novembro fr 644 a.D., os seis membros que compunham o Conselho do califado, escolheram e empossaram Othmán Ben Affán, apesar da idade já avançada, como 3o. Califa, o qual nomeou entre seus parentes os Governadores dos emirados do Hidjáz, do Iraque, do Egito e outros, igualmente islâmicos.

Esses Governadores corruptos, agiam com despotismo, oprimindo o povo e esmagando-o com o peso de sua tirania, o que causou inúmeras reclamações na Casa do 3o. Califa Othmán Ben Affán, o qual não atendia às suas reivindicações, por causa do parentesco que possuía com os Governadores, particularmente com Maruán Ben Al-Hakem(8).

Diante do estado dos fatos, desgostoso, o povo se revoltou e, no ano 35 Hijrita (656 a.D.) sitiaram a residência do Califa, culminando com a morte violenta dele.

O Califa Othmán Ben Affán dava todo o seu apoio ao seu representante em Damasco, o qual era um dos seus parentes(9), sendo ambos do ramo de Omaia Ben Abed Chams – daí surgiu a dinastia dos Omíadas – e na verdade, todo o peso do califado se centralizava em Damasco e não em Medina, berço do Estado Islâmico fundado pelo Mensageiro de Deus (saws), a qual era apenas ma aparência formal.

O 1o. Califa Abu Bakr, foi eleito pela maioria dos Companheiros (Sahába). O 2o. Califa Omar Ibn Al-Khattáb, foi designado pelo 1o. Califa. E, o 3o. Califa, foi eleito pelos seis membros do Conselho (Choura) impostos pelo 2o. Califa.

A política destes três primeiros Califas, na administração geral, era a de executar as Leis Islâmicas, de conformidade com o interesse geral, preservando-se sempre, a posição do califado.

Na ocasião, o Alcorão Sagrado deveria ser lido sem interpretação. Os sermões do grandioso Profeta (saws) na Tradição (Hadís) não podiam ser escritos no papel e tudo deveria se restringir à audição oralmente.

Depois da batalha de Yamama que durou até o ano 12 Hijrita (634 a.D.), com a morte de alguns dos Companheiros do Profeta (Sahába), que eram os conhecedores e declamadores do Alcorão, Omar Ibn Al-Khattáb sugeriu ao 1o. Califa Abu Bakr, a reunião dos Versículos do Alcorão em um só Livro, pois segundo ele, em caso de guerra e morte dos que conheciam o Livro Sagrado, este desapareceria por completo.

A sugestão foi aceita e executada e, a partir dá, tem-se o Alcorão Sagrado, legado à posteridade.
Apesar dos sermões do Profeta Mohammad (saws) serem uma seqüência do Alcorão e correrem o mesmo risco de perda, não houve nenhuma preocupação em sua conservação ou preservação, e suas transcrições era proibidas. Qualquer cópia encontrada era lançada ao fogo.

Não decorreu muito tempo e surgiu a primeira consolidação escrita dos assuntos islâmicos, pertinentes a orações, o que não ocorreu, entretanto, com relação a outros temas, enquanto encontramos, no Alcorão Sagrado, o incentivo ao estudo, ao conhecimento da sabedoria teológica… tudo isso, também pregado nos sermões do Profeta (saws)… o povo mais se preocupava e se interessava pelos valores materiais, partindo, inclusive, à prática de saques, roubos e outros atos semelhantes, visando apenas, o enriquecimento, procurando impedir o Imám Ali Ben Abi Táleb (as) de pregar os valores morais e difundir o sentimento de religiosidade, apesar de ter sido declarado como sucessor do Mensageiro de Deus (saws), o qual sempre o declarou o mais sapiente nos ensinamentos islâmicos e esclarecimentos corânicos, e mesmo assim, não lhe permitiram que se unisse a eles na reunião dos Versículos do Alcorão, apesar de estarem cientes de que Ali (as) conservava consigo o Alcorão depois da morte do Profeta Mohammad (saws).(10)

Tudo isso colocou os xiitas numa posição mais elevada e digna, como conhecedores dos princípios religiosos.

Como o Imám Ali Ben Abi Táleb estava impossibilitado de assumir a doutrinação em massa do povo, restringiu-se à instrução e iniciação dos seus seguidores.

1. <<… e ele é o Livro Poderoso, inalterável e irrefutável, porque é a Revelação do Prudente, Laudabilíssimo>> – Alcorão Sagrado – Surat Fúçilat, Capítulo 41, versículos 41 e 42.

Na Surat Yussef – Capítulo 12, Versículo 40 e no Versículo 67, está mencionado:

<<… pois a sentença pertence somente a Deus…>>, isto é, a doutrina seria a doutrina de Deus a qual chega à humanidade por intermédio da Profecia, tal como é mencionado na Surat Al-Ahzáb – Capítulo 33, Versículo 40:

<<… porém, ele é o Mensageiro de Deus e Concludente dos Profetas…>>.

Em outra Surata do Alcorão Sagrado, ou seja, na Surat Al-mà-eda – Capítulo 5, Versículo 44, está mencionado:
<<… e aqueles que não julgarem conforme o que se revelou por Deus, serão os perjuros>>.

2. Obra de Al-Yaaqúbi – Vol. III, pág. 110 e obra de Abi Al-Fadá – Vol. I, pág. 158.

3. Está mencionado no Alcorão – Surat Al-Anfál – Cap. 8, Vers. 41:

<<E sabei que, de tudo quanto despojardes (na guerra) a quinta parte pertence a Deus, ao Mensageiro e a seus parentes…>>.

4. Abu Bakr (1o. Califa) reuniu durante o seu Governo 500 Tradições (Hadis). Contudo, sua filha Áicha relatou: “Certa noite, encontrei meu pai preocupado e insone até o raiar do dia, quando ele me disse: ‘traga-me os sermões’, e, depois que os entreguei em suas mãos, ele os queimou todos”.

5. A frase “Hayya Allah Khair Al-Âmal”, a qual incentiva ao trabalho honesto, era mencionada no tempo do Profeta (saws) durante o chamado à oração, porém, Omar Ibn Al-Khattáb, 2o. Califa, falou que tal expressão afasta o povo da militância (Jihád), substituindo-a por outra.

6. Em se tratando do divórcio, no tempo do Mensageiro (saws), ele não tinha validade se fosse repetido em um mesmo Conselho, considerando-o um divórcio só, isto é, para cada divórcio deverá haver um Conselho, porém, Omar Ibn Al-Khattáb fê-lo valer por três vezes utilizando o mesmo Conselho, ou seja, o primeiro.

Estas divergências e renovações, são mencionadas nos livros da Tradição (Hadís) e da erudição, tanto por parte dos sunitas quanto dos xiitas.

Nota da Tradutora Complementar:

7. As terras do Chám, compreendiam os atuais países que são: Palestina, Líbano, Síria, Jordânia e Iraque.

8. Maruán Ben Al-Hakem era na ocasião Governador do Egito, e que, devido à sua tirania, o povo vivia oprimido e injustiçado. Então, um grupo dos habitantes do Egito, dirigiu-se a Othmán, o qual sentiu certo perigo sobre a sua pessoa. Desesperado, foi procurar Ali Ben Abi Táleb a fim de lhe pedir auxílio, apoio e orientação. Contudo, Ali lhe disse:

– “Que posso fazer se a revolta dos habitantes do Egito é pela reivindicação da justiça?!”

Diante das palavras do Imám, Othmán mostrou-se arrependido, afirmando de que no prazo de três dias ele irá destituir do poder todos os Governantes tiranos. O Imám Ali então, escreveu, juntamente com Othmán, um acordo, entregando-o ao grupo de egípcios reivindicantes, os quais retornaram à sua terra.

Entretanto, durante o trajeto de volta, o grupo viu o emissário de Othmán montado no camelo do Califa, com destino para o Egito, Desconfiados, o grupo revistou o jovem, encontrando com ele uma carta de Othmán dirigida ao seu Governador no Egito, contendo o seguinte:

<<Quando Abdel Rohmán Ben Odaiss chegar até vós, apliques nele 100 chibatadas e raspe-lhe a cabeça e a barba, e depois condene-o à prisão por longo tempo. O mesmo deverá ser aplicado a seus acompanhantes, inclusive Omar Ben Hamaq, Sudán Ben Hemrán e Orwa Ben Nabá…>>

Abdel Rohmán Ben Odaiss, chefe do grupo egípcio sentiu-se indignado e ferido em seus sentimento. Inconformado, os componentes do grupo retornaram até Othmán dizendo-lhe:

– “Tu nos traíste, ó Califa! Eis a prova!” – Mostrando-lhe a carta. Inicialmente, Othmán negou ter escrito a missiva, porém, diante da afirmação de que o emissário era dele e o mesmo montava seu camelo, o Califa declarou de que desconhecia tudo isso e que o animal deveria ter sido roubado… apesar da caligrafia pertencer a seu escriba em particular.

Diante das negativas do Califa, a comissão dos egípcios disse-lhe que não era digno de ocupar o cargo e que ele deverá renunciar ao califado, pois se a questão foi de seu conhecimento e ordem, ele seria um traidor, caso contrário ele seria incompetente como Califa dos muçulmanos. Portanto, ou ele renunciaria ou demitiria todos os Governantes tiranos que ele nomeara.

Diante da conjuntura, Othmán Ben Affán lhes respondeu:

– “Se vós desejais que eu seja como vós quereis, então quem seria o Califa e dono da questão? Eu ou vós?!”

Irritados, os egípcios saíram do aposento excessivamente revoltados. Este relato consta na obra literária do Al-Tobari, tomo III, páginas 402 a 409.

Nota da Tradutora Complementar:

9. Othmán era filho de Affán Ben Abil Áss Ben Omaia Ben Abed Chams. Moáwiya era filho de “Abu Sufián” Sakhr Ben Harb Ben Omaia Ben Abed Chams. Abed Chams era irmão gêmeo de Háchem, bisavô do Profeta (saws).

10. Depois que Abu Bakr tomou posso do califado, pediu a Ali (as) firmar com ele um acordo, e Ali (as) lhe respondeu de que ele só sairia de sua casa para as orações até terminar de reunir o Alcorão, e isto ocorreu logo depois de seis meses do Califado de Abu Bakr.

Conta-se também, de que o Imám Ali (as), após terminar a coleta do Alcorão, montou em uma camela e o mostrou ao povo.

Em outro relato, afirmou-se que a guerra de Al-Yamáma ocorreu no ano seguinte ao Califado de Abu Bakr, quando o Alcorão já estava com seus Versículos todos reunidos.

O Fim do Califado com o “Príncipe dos Crentes” – O Imám Ali, e sua História

O Califado do Imám Ali Ben Abi Táleb (as) começou em fins do ano 35 Hjrita (656 a.D.) e durou cerca de quatro anos e nove meses. Sua reputação era semelhante à do grandioso Profeta Mohammad (saws). Fez renascer grande parte dos costumes da época dos Califados anteriores e exonerou os Governadores incompetentes.

Na verdade, foi um levante revolucionário objetivando corrigir os inúmeros problemas que assolavam o povo.

O Imám Ali (as), já nos primeiros dias de seu califado, em discurso, disse ao seu povo:

– “A vossa situação voltou a ser de quando Deus enviou Seu Profeta – Deus o abençoou e o saudou – o Qual enviou-o pela verdade a fim de inquietar a confusão e peneirar o bem do mal, e aplicar a justiça em seus rigores para que os oprimidos sejam compensados, e para que o avanço seja dado aos retardatários, e os que se excederam sofram o retrocesso…”

O Imám Ali (as) prosseguiu com o seu Governo revolucionário… e como de se esperar, as bandeiras oposicionistas se levantaram contra ele por parte dos rebeldes.

E os descontentes provocaram uma sangrenta revolução interna, dizendo-se vingadores do sangue de Othmán Ben Affán, 3o. Califa, quando na verdade, eles procuravam defender seus próprios interesses. Esse estado de coisas durou por quase todo o Califado do Imám Ali Ben Abi Táleb (as).
Os xiitas acreditavam que os provocadores dessa guerra só visavam os interesses particulares e a vingança pretendida tinha por objetivo incentivar os outros à oposição e à revolta contra o Imám do Islam Ali Ben Abi Táleb (as), porque na verdade, não havia outros motivos(1).

E os motivos que levaram à batalha do “Camelo” têm sua origem na época do 2o. Califado, quando o dinheiro do Tesouro do Islam era partilhado de maneira suspeita, o que não aconteceu no Califado do Imám Ali (as), cuja distribuição era feita de forma eqüitativa entre todos, como o fazia o grandioso Profeta (saws) em seu tempo. Isto revoltou Al-Zubair e Talha, levando-os a saírem de Medina, em direção a Meca, com pretexto de peregrinação. Lá, fizeram um acordo com a “Mãe dos Crentes”, Áicha, viúva do Mensageiro (saws), a qual não tinha nenhuma simpatia pelo Imám Ali (as) e tampouco qualquer afeto ou afinidade. E os três combinaram “vingar o sangue de Othmán”.

Talha e Al-Zubair se encontravam em Medina quando a casa do 3o. Califa Othmán foi cercada, e ambos não o defenderam e nem o triunfaram, e, hipocritamente foram os primeiros a dar voto de confiança e lealdade a Ali (as), em nome deles e dos emigrantes (Muhágerín), logo após o assassinato de Othmán.

“A Mãe do Crentes” Áicha, intimamente desejava e incentivava a morte do 3o. Califa Othmán, e quando soube de seu assassinato, disse que os causadores de sua morte foram seus próprios companheiros, com a remessa de diversas cartas a outras Províncias, atraindo a ira contra o Califado.

Contudo, o motivo que provocou a guerra fr “Çiffín”(2), iniciada a 26 de julho de 657 a.d. e que durou um ano e meio, era a ambição de Moáwiya pelo Califado, o qual acendeu o fogo da guerra com o pretexto de “vingar a morte de Othmán” e muito sangue foi derramado, morrendo mais de cem mil pessoas. A posição de Moáwiya era de atacante e não de quem se defende, porque a vingança não deixe de ser também uma defesa.

O lema desta guerra era “a vingança do sangue de Othmán”, visto que o 3o. Califa já tinha pedido a ajuda de Moáwiya para repelir o ataque, e, o Exército de Moáwiya de fato se dirigiu a Medina, mas o fez muito lentamente até o assassinato de Othmán em Affán. Imediatamente, este Exército retornou a Damasco, clamando “vingança”.

Depois que o Imám Ali morreu como mártir, Moáwiya se esqueceu dos assassinos do 3o. Califa e não os puniu. Depois da guerra de “Çiffín”, foi provocada uma outra que se chamou por “Nahrawán”. Houve uma revolta do povo, dentre os quais se encontravam alguns dos “Sahába”, aliados a Moáwiya e participantes da guerra de “Çiffín”, que se revoltaram contra o Imám Ali (as), indo para outras cidades islâmicas, onde massacraram seus simpatizantes e mataram violentamente mulheres grávidas, torturando-as até a morte.

O Imám Ali Ben Abi Táleb (as) conseguiu apagar esse incêndio, porém, na manhã do dia 21 de Ramadán do ano 40 Hijrita (661 a.d.), quando ele orava na Mesquita de Kufa, ele foi covardemente assassinado com uma espada envenenada, pelas mãos do fanático criminoso Abdel Rahmán Al-Môljam, o qual pertencia aos rebeldes “Khawáredj”, ou seja Kharidjitas(3).

1. Depois da morte do nobre Profeta (saws), alguns dos seguidores do <<xiismo de Ali>>, recusaram fazer acordo, sendo encabeçados por Salmán Al-Fárisi, Abu Zôr, Al-Meqdád Ben Amro e Ammár Ben Yásser.

Quando o Imám Ali (as) tomou posse do Califado, ele teve como opositores: Said Ben Al-Áçi Ben Omaia, Al-Walid Ben Oqba (o qual provocou a luta entre o Profeta (saws) e Bani Moçtaleq), Maruán Ben Al-Hakem (o qual se tornou posteriormente Califa omíada – 683 a 685 a.d. -), Amro Ben Al-Áç (o qual foi um dos oficiais do Profeta- saws – na Gâzuat Zut Assalássel), Bossor Ben Arttát, Samra Ben Jondob e Al-Moghíra Ben Chooba, e outros.

E, ao se analisar a vida destas duas facções e o que preservou a História, esclarece-nos de que havia dentre os Companheiros do Profeta (saws) aqueles que se destacaram com a devoção e a renúncia pelo Islam.

Conta-se que o Mensageiro (saws) disse certa vez:

– “Deus me ordenou amar quatro pessoas!”

E ao ser questionado quem seriam, ele (saws) respondeu:

– “Ali, Abu Zôr, Salmán e Al-Meqdád”.

Nota da Tradutora Complementar:

2. Çiffín era uma planície deserta, na margem direita do rio Eufrates, no Iraque.

Nota da Tradutora Complementar:

3. Quando o Exército de Moáwiya viu-se em desvantagem na batalha de “Çiffín”, Amro Ben Al-Áç, partidário de Moáwiya, ordenou que se pendurassem folhas do Alcorão nas pontas lanças içadas para o alto. Esta atitude, forçou o Imám Ali (as) a interromper a luta e a aceitar uma arbitragem. Entretanto, quando o Exército dele se retirou, um bom número de seus partidários pretenderam obrigá-lo a retomar a luta, porém, diante da recusa do Califa Ali (as), descontentes, separaram-se dele formando um grupo dissidente, ficando conhecidos como “Al-Khawáredj”, isto é, “Os que saem”.

O que os Xiitas Conseguiram Durante o Califado do Imám Ali, em Cinco anos

Imám Ali (as), durante os quatro anos e nove meses de seu califado (656-661 a.d.), mesmo não conseguindo recolocar todas as situações turbulentas em seus devidos lugares, ele conseguiu atingir três objetivos essenciais:

1. Ressaltar a personalidade brilhante do Profeta Mohammad (saws), principalmente aos olhos dos jovens. Sua solidariedade para com os pobres, em oposição à importância que se dava Moáwiya, como o faziam Cosroé (Kussra) e César (Qaissar). O Imám Ali (as) nunca privilegiou ninguém de seus amigos, parentes ou familiares, em detrimento a outros e nunca enalteceu o rico sobre o pobre, ou o forte sobre o fraco.

2. Apesar de todas as vicissitudes da época, o Imám Ali (as) conseguiu pôr ao alcance dos muçulmanos as valiosas fortunas do conhecimento teológico e os verdadeiros ensinamentos do Islam. Seus opositores entretanto, atribuíam-lhe coragem, dizendo-o desconhecedor da diplomacia política, eis que, no início de seu Califado, conseguiu iludir seus inimigos com seu cinismo para, adquirida a sua confiança, combatê-los com maior facilidade e aniquilá-los.

Mas estes se esqueceram de algo muito importante, ou seja, de que o Califado de Ali (as) foi um levante revolucionário, muito distante da mentira, do engano e da traição. Igualmente acontecendo no tempo do Profeta Mohammad (saws), nos primórdios de sua missão, quando os descrentes lhe pediram a paz por diversas vezes, rogando-lhe não atacasse seus ídolos…e o Imám Ali (as) se comprometeu de não contrariar a missão do Mensageiro de Deus (saws), o que não foi aceito por seus opositores…

Ele poderia ter feito um trato com eles para consolidar a sua posição, e depois se levantar contra seus inimigos, porém, isto não compatibilizava com a índole do Imám (as)… Por outro lado, seria contra a doutrina islâmica, que não permite se faça valer um direito em detrimento a outro direito, nem que se corrija um erro cometendo-se outro erro. Neste sentido, o Alcorão é rico em versículos:

<<E seus chefes se retiraram dizendo-lhe: Ide e perseverai em vossos deuses…>> Surat Çád -Capítulo 38, versículo 6.

<<E se não tivéssemos firmado, ter-te-ias inclinado de certo modo a eles.>> Surat Al-Issrá – Capítulo 17, Versículo 74.

<<Pois eles anseiam que sejas flexível para serem flexíveis.>> Surat Al-Qalam – Capítulo 68, Versículo 9.

Sabia-se que os inimigos e opositores do Imám Ali (as) não vacilavam em cometer crimes e levantar críticas contra as Leis islâmicas (sem exceção) a fim de atingir seus objetivos, escudando-se na alegação de serem “Sahába”, isto é, Companheiros do Profeta Mohammad (saws) e estudiosos da nação, mas o Imám Ali (as) era comprometido com as verdadeiras sentenças e normas islâmicas.
Dizem que o Imám Ali (as) tem mais de onze mil expressões em assuntos intelectuais, sociais e religiosos, e seus discursos valiosos eram abundantes em conhecimentos islâmicos. Foi ele quem instituiu as regras gramaticais da língua árabe. Foi ele quem primeiro navegou os mares da filosofia divina e pregou de acordo com o livre raciocínio e pela lógica, dedicando-se de corpo e alma aos assuntos filosóficos, os quais não os mencionaram anteriormente os filósofos da ocasião, em todo o mundo, fazendo com que isso passe a ser prioritário sobre qualquer outra questão, mesmo em tempos de guerra(1).

3. Educou e preparou inúmeros homens religiosos e teólogos do Islam, entre eles Oais Al-Qami, Cumail Ben Ziád, Maisam Al-Tamáer e Rachid Al-Hidjri, que são considerados a fonte original dos conhecimentos islâmicos, verdadeiramente capacitados para a oratória religiosa e particularmente para a interpretação do Alcorão.

1. Conta-se que em “Yaum Al-Gamal” (656 a.d.), batalha que se concentrou em torno do camelo em que Aicha se encontrava, encorajando seus partidários e opositores de Ali (as), veio um beduíno árabe e falou ao Califa:

– “Ó Príncipe dos Crentes, tu dizes que Deus é Uno?…”

Nisso, os presentes o interromperam dizendo:

– “Ó beduíno, tu não vês que o Príncipe dos Crentes não está livre em dividir seu tempo?!”

Entretanto, o Imám Ali interveio e disse:

– “Deixa-o, pois o que o beduíno deseja é o mesmo que desejamos de todos!” – E virando-se para seu interlocutor, prosseguiu. – “Ó beduíno, a palavra confirma de que Deus é Uno sobre quatro partes, sendo duas delas não aceitam Deus Majestoso e Supremo como Uno, e duas O confirmam Uno. Aqueles que não O aceitam como Uno, são os que pretendem entrar pela porta dos inimigos e isso não lhes é permitido, porque uma parte não entraria pela porta inimiga, na qual, ou porque blasfemam ao declará-Lo um em três, ou que Ele foi um humano comum, e isto não é correto, pelo fato de assimilar Deus Majestoso com a aparência humana. Contudo, as outras duas partes que O confirmam Uno, é porque crêem que nada se Lhe assemelha e é Único, não se divide nem na existência, nem na mente e nem na imaginação, porque Deus é Majestoso e Supremo.”

A Transferência do Califado para Moáwiya e sua Transformação em Reino Hereditário

Com o falecimento do “Príncipe do Crente” (as), o Califado e o Imamato passaram às mãos de seu filho primogênito Al-Hassan (as), de acordo com o testamento do Imám Ali e a anuência do povo. E o Imám Al-Hassan (as) é considerado o 2o. Imám para os xiitas partidários dos doze Imames da linhagem do Profeta Mohamad (saws).

Entretanto, Moáwiya não se conformando com isso, preparou imediatamente o seu Exército, o qual dirigiu-o para o Iraque, sede do Califado, declarando guerra contra Al-Hassan Ben Ali (as).

Entrementes, Moáwiya passou a corromper os companheiros do Imám Al-Hassan (as) de várias formas, gastando fortunas em dinheiro, a fim de atraí-los para junto dele e espionar o Imám (as), enfraquecendo-o até obrigá-lo abdicar de seu Califado a seu favor, com a condição do mesmo ser devolvido para Al-Hassan (as) após a morte de Moáwiya e que este último não interferisse no xiismo… e assim, o Califado passou para Moáwiya de acordo com uma série de condições que deveriam ser seguidas conforme o Alcorão e o Preceito (Sunna).

E foi no ano 40 Hijrita (661 a.d.) que Moáwiya se apossou do Califado, fundando a dinastia dos Omíadas, indo para o Iraque, então sede do Governo, onde discursou para o povo:

– “Ó cidadãos de Kufa! Vós pensastes que eu vos combati porque quis forçá-los à oração, ao pagamento do donativo (Zacát) e à Peregrinação (Al-Hadj), quando eu sabia que vós praticáveis estes deveres?! Na verdade, eu vos combati para governar-vos, e esta é a determinação de Deus, mesmo contra a vossa vontade!…”

E disse mais em seu duro pronunciamento:

– “… e todo sangue derramado numa batalha será aumentado se me contrariardes… e todo acordo assinado está debaixo dos meus pés!…” – Aludindo às condições impostas pelo Imám Al-Hassan (as).

Moáwiya, com essa sua declaração pública, quis mostrar que pretende separar a política da religião, e não quer impor a ninguém normas religiosas, importando-lhe apenas o seu Governo e sua conservação. É evidente que este governo era um Reinado e não um Califado como sucessão do grandioso Profeta (saws).

Houve quem o cumprimentasse como rei, e aliás, ele mesmo se apresentava imponente nas suas reuniões solenes. Um reinado que se institui pela força, é hereditário e, como resultado, Moáwiya conseguiu a sua pretensão, nomeado seu filho Yazid como seu sucessor… E este jovem era um rapaz que não possuía boa índole e não tinha princípios religiosos, cometendo atos e crimes vergonhosos(1).

Moáwiya, pelo que foi dito acima, não queria que o Califado voltasse para o Imám Al-Hassan (as). Seu pensamento era outro: queria que Al-Hassan (as) fosse assassinado pelo veneno, o que foi feito, deixando assim, o caminho livre para seu filho Yazid. Revogou então, o acordo feito com o Imám Al-Hassan (as) e começou a perseguir os xiitas, sem tréguas, tirando-lhes a liberdade religiosa. Também neste particular, conseguiu seus objetivos.

Moáwiya proibiu até, todo e qualquer comentário ou reprodução de sermões (Ahádis) pronunciados por familiares do Profeta “Ahel Al-Bait” (as), declarando que os infratores não teriam paz em suas vidas, ameaçando seus bens materiais, sua moral e sua honra… Indo além disse: ordenou fosse recompensado com prêmios em jóias preciosas todo aquele que lhe denunciasse um infrator. Ordenou ainda, que fosse vilipendiado, em toda parte, o nome do Imám Ali (as), e esta ordem durou com seus efeitos, até o Califado de Omar Ben Abdul Aziz (99 – 102 Hijrita > 715 – 717 a.d.).

Muitos xiitas foram mortos pelas mãos de mercenários contratados por Moáwiya, dentre os quais foram vítimas, alguns dos Companheiros (Sahába), e as cabeças dos mortos eram levadas na ponta das lanças, de cidade em cidade, como prova de poder do Governante déspota que tinha por lema: Morte aos desobedientes!

1. Yazid Ben Moáwiya apreciava o deleite e o prazer íntimo, a vida de vizinhança, possuindo cães e macacos. Gostava de se embriagar com a bebida alcoólica agindo desenfreada e loucamente.
Conta-se que ele possuía um macaco chamado Abu Qaiss, o qual o acompanhava onde que que ele fosse, inclusive na sala de audiência, tendo um lugar especial ao seu lado, confortavelmente almofadado, sempre vestido com seda vermelha.

Os Dias Difíceis que os Xiitas Passaram

Os dias mais difíceis, de brutalidade e terror que os xiitas passaram, foi no tempo do Califado de Moáwiya Ben Abi Sufián, e que durou por quase vinte anos (661 – 680 a.d.). Os xiitas não tinham paz e eram constantemente perseguidos. Nem os Imames Al-Hassan e Al-Hussein (as) tinham qualquer possibilidade de se revoltarem e acabar com a triste situação… e o Imám Al-Hussein (as), quando se revoltou, nos primeiros meses do Governo de Yazid, sucessor de Moáwiya, acabou sendo atraiçoado e assassinado, morrendo como mártir, juntamente com seus parentes, filhos e companheiros, o que denotou que ele não pudera se revoltar durante os longos dez anos em que viveu sob o Governo de Moáwiya.

Alguns dos nossos irmãos sunitas falavam e comentavam sobre a perfídia e o derramamento de sangue e outros crimes contra os xiitas, e que tinham como autores, partidários de Moáwiya que dizer ser “Sahába”, teólogos e religiosos, e que, por suas posições, eles seriam justificados e inocentados por Deus. Os xiitas repudiam tais afirmações argumentando:

1. É impossível que um Líder como o Profeta Mohammad (saws), o qual diligenciou para instituir o direito, a liberdade e a justiça social, seguido por muitos que se esforçaram para realizar esse ideal, para depois de realizado, deixá-los agirem com livre arbítrio e liberdade absoluta, a fim de deturparem as normas sagradas e demolir a sua construção colossal, pelas próprias mãos que as erigiram.

2. As histórias que consagram os “Sahába” e os inocentam de seus atos injustos… e os consideram daqueles que Deus lhe perdoa perversidades… tais afirmações foram propagadas pelos próprios “Sahába”, Companheiros do Profeta (saws).

A História é testemunha de que nenhum deles ocultava os maus atos dos outros… Pelo contrário!… Eles os tornavam públicos. Alguns deles empreendiam matanças de grupos, ofendiam-se mutuamente, sem quaisquer retratação ou perdão.

Em face disso, os “Sahába” contestavam a veracidade desses comentários que visavam, apenas, denegrir a sua verdadeira imagem.

O fato de alguns dos “Sahába” terem sido elogiados em Versículos do Livro de Deus (Alcorão), foi devido à sua grande contribuição ao bem-estar social do povo, seguindo os ensinamentos do Todo Poderoso Senhor do Universo.

Logicamente com isto, eles merecem as bênçãos de Deus, pois seus objetivos nunca foram a prática do mal em nome de Deus, só por terem sido protegidos por Ele.

Duração do Reinado dos Omíadas

Moáwiya faleceu no ano 60 Hijrita (680 a.d.), assumindo o trono do Califado seu filho Yazid, de acordo com o pacto que seu pais havia feito com povo, tornando-se o líder do Governo islâmico.
A História nos relata que Yazid não era dotado de personalidade islâmica. Ele era um jovem que não cultuava importância aos dogmas islâmicos, mesmo no tempo de seu pai. Era um ocioso, rebelde, alcoólatra, entregue às orgias quase que diariamente… totalmente indiferente aos crimes, os mais hediondos que se praticavam e dos quais na maioria das vezes participava, sem precedente na história do Islam, e isto, ao longo dos três anos de seu curto Governo.

Entretanto, no primeiro ano deu seu Governo, Yazid mandou matar o Imám Al-Hussein Ben Ali (as), neto do Profeta Mohammad (saws), juntamente com todos os seus filhos, familiares, parentes, amigos e companheiros, num espetáculo horrível e dantesco, ordenando um desfile, por toda parte, com as cabeças dos mártires, decapitadas e espetadas na ponta das lanças, carregadas pelas mulheres e crianças de suas vítimas.

No ano seguinte, Yazid ordenou seu Exército saquear a cidade de Medina e praticar um genocídio dos mais sangrentos, dando a seus soldados três dias de total liberdade para agirem como bem entendessem sem a mínima punição.

No terceiro ano, ele ordenou a destruição da Caaba, incendiando-a.

Em 63 Hijrita (683 a.d.), com a morte do cruel Yazid, o qual contava trinta e oito anos de idade, sucedeu-o seu filho Moáwiya, o qual morreu quarenta dias depois de tomar posse do Califado, extinguindo assim a linhagem direta de Abu Sufián, passando o poder para outro ramo dos Omíadas, que se denominava por Maruânidas, tomando posso do Califado Maruán Ibn Al-Hakem (63 – 64 Hijrita * 684 – 685 a.d.), tendo como seu sucessor, seu filho Abdel Malek Ben Maruán (64 – 84 Hijrita * 685 – 705 a.d.), conforme nos relata a História, perdurando a dinastia dos Omíadas por longos setenta anos, ou melhor, exatamente sessenta e sete (67) anos de acordo com o calendário gregoriano, com doze sucessões, instituindo-se um imperialismo árabe em uma sociedade islâmica, camuflado com o estigma de Califado Islâmico, o qual foi tirano, marcado pela opressão e pelas dificuldades em todos os campos, sendo os usurpadores do Califado puro, advindo com o verdadeiro sucessor do Profeta (saws), e que seria o Imám Ali (as) e seus descendentes, o qual é considerado e reconhecido como sendo o único defensor da religião e que reconstruiu moralmente a Caaba, onde se isolava em suas meditações, principalmente os dias da peregrinação.

Um dos Califas da dinastia dos Maruânidas, havia atravessado o Alcorão com sua flecha… registrando depois a seguinte frase que ele exclamara ao praticar este ato sacrílego:

– “E no dia em que apresentares diante do Senhor, diga-Lhe que o Califa te fez em pedaços!”(1)
Naturalmente, os xiitas divergiam, essencialmente, dos sunitas, em dois aspectos: O que diz respeito aos califados e à afluência religiosa.

E, apesar das perseguições e das opressões que sofriam, eles fortificavam-se cada vez mais em sua fé, revigorada com a morte do 3o. Imám Al-Hussein (as), vindo como resultado dessa persistência, a propagação e a frutificação do pensamento xiitas em regiões distantes, como o Iraque, o Irã e o Iêmen.

O testemunho real desses fatos foi o ocorrido no tempo do 5o. Imám xiita Mohammad “Al-Báquer” (as), antes de findo o primeiro século Hijrita. Decorridos menos de quarenta anos da morte do Imám Al-Hussein (as), começaram a surgir e se agravar as concentrações no Governo dos Omíadas, abalando os alicerces de sua formação, e os xiitas de todo o mundo islâmico convergiram em busca da proteção do 5o. Imám que soube agasalhá-los com a sua sapiência, e com o qual adquiriram maiores informações e conhecimentos islâmicos.

No final do primeiro século Hijrita, um grupo de Emires fundou a cidade de Qom, no Irã, instalando nela os xiitas que viviam sem manifestarem sua crença, assim orientados por seus Imames, a fim de evitarem as perseguições que vinham sofrendo, exemplificados com as frustrações e morte de uma plêiade de Alauitas, revoltados com as opressões.

Tem-se também, o fato do corpo de Zaid, Líder da “Xía Zaidiya”, ter sido retirado de seu túmulo e cujo esqueleto foi deixado por três anos crucificado e depois incinerado e suas cinzas lançadas ao vento. E, a maioria dos xiitas crê que a morte dos 4o. e 5o. Imames (as) ocorreu por envenenamento, pelas mãos dos Omíadas, assim como admitem ter sido o assassinato do 2o. e do 3o. Imames (as), também por eles cometido.

As atrocidades cometidas pelos Omíadas, levou os próprios sunitas, apesar de acreditarem nos Califados, a classificarem os Califas em dois grupos: Os sábios, que são os quatro primeiros depois da morte do Profeta Mohammad (saws) e que são: Abu Bakr, Omar Ibn Al-Khattáb, Othmán Ben Affán e Ali Ben Abi Táleb; e o segundo grupo que se iniciou com Moáwiya e que denominam de leigos.

Os Omíadas, cujo Governo foi marcado pelas perseguições e opressões, impondo o pânico a todos, com a queda de seu poderio, limitado pela morte do último de seus Califas, seus dois filhos se viram obrigados a fugir com um pequeno grupo da dinastia Omíada e, não encontrando onde se refugiar, erraram pelos desertos da Núbia, da Abissínia e de Bajáwa, muitos deles morrendo vítimas da fome e da sede, enquanto que os sobreviventes foram para na região sul do Iêmen, onde permaneceram por tempos, vivendo de esmolas e doações. Depois, voltaram para Meca disfarçados de carregadores e se misturaram na sociedade local.

1. O poeta Al-Walíd Ben Yazid, em sua obra intitulada <<Murúdj Azzâhab>>, isto é, <<Os Prados do Ouro>> – Capítulo 3, página 228, fez alusão a este fato blasfemo em um dos seus poemas, traduzidos conforme segue:

Se tu consideras todo tirano um obstinado, pois eis que sou um tirano obstinado!
E quando te confrontares com teu Senhor no Dia do Juízo Final, dize: “Ó meu Senhor, Al-Walíd me despedaçou!”

Os Xiitas do Século Dois Hijrita (Século Oito a.d)

Houve uma espécie de convocação em nome de “Ahel Al-Bait” na região de Khurassán, ao norte do Irã, sob a liderança de Abu Muslem Al-Mérwazi, isto nos fins do primeiro terço do Século Dois Hijrita, em conseqüência das revoltas e das guerras sangrentas que aconteceram em todas as Províncias islâmicas, como uma resposta à brutalidade e à opressão dos Omíadas.

Abu Muslem era líder comandante persa, que se revoltou contra o Governo Omíada, o qual teve muito sucesso até conseguir acabar com o jugo deste.

O levante, ou a revolução, era fomentada pelos princípios xiitas, e até certo ponto, era considerada também como vingança aos mártires pertencentes a “Ahel Al-Bait”. Contudo, não existia apoio por parte dos Imames xiitas, nem direta e nem indiretamente; tanto é, a prova disso, quando Abu Muslem Al-Mérwazi ofereceu as condições do voto de confiança para o seu Califado, ao 6o. Imám Jaafar “Açádeq”, em Medina, a resposta do Imám foi violenta ao queimar a correspondência com a labareda da lamparina, dizendo ao mensageiro:

– “Vá e relate ao vosso amo tudo que presenciaste aqui.”

Como resultado, os Abássidas(1) apoderaram-se do Califado em nome de “Ahel Al-Bait”, dirigindo sua política com benevolência aos Alauitas que se levantaram contra os Omíadas, dizimando-os quase que totalmente, como vingança aos mártires Alauitas. Profanaram os túmulos dos Califas Omíadas, retirando seus restos mortais e lançando-os ao fogo. No entanto, em pouco tempo, os Abássidas acabaram adotando as mesmas táticas dos Omíadas, e, destemidamente, afrontaram os princípios e normas islâmicos, implantando o terror entre a população.

Preso Abu Hanifa, chefe de uma das quatro seitas ao tempo de “Al-Mansur”(2), foi submetido às mais atrozes torturas. Outro chefe da seita, Ibn Hânbal, foi açoitado, e também encontrou uma morte cruel.

Em 148 Hijrita (768 a.d.), o sanguinário e déspota Abássida mandou matar por envenenamento Jaafar “Açádeq”, 6o. Imám dos xiitas, depois de torturas psicológicas e perseguições. Os Alauitas eram levados em grupos e decapitados, ou, enterrados vivos, e outros, emparedados ou colocados nos alicerces quando do levantamento de edifícios oficiais.

Apesar de tudo isso, o Império islâmico só se expandiu durante o mandato do Califa Abássida Haroun Al-Rachid (786 – 809 a.d.), o qual, às vezes, olhava para o Sol e exclamava:

– “Desponte onde tu desejares, pois não não despontarás fora do meu reino!”

De um lado, o Exército do Califa avançava em conquista, tanto para o Leste, como para o Oeste e, de outro lado, era visto sobre a ponte de Bagdád, a poucos passos do Palácio, cobrando taxas de travessia sem o conhecimento do Califa Haroun Al-Rachid.

Conta-se que o próprio Califa, ao atravessar a ponte, ele foi barrado e cobrado!

No que se aludiu ao Califa Abássida Al-Amin (809 – 813 a.d.), o qual governou o Iraque e as Províncias Ocidentais até o seu assassinato, conta-se que ele gratificou um cantor com três milhões de “derhem” de prata, por ter-lhe composto duas canções bajulando-o. Diante de tão magnânimo gesto e, não acreditando no que acontecia, o cantor se lançou aos pés do Califa indagando:

– “Vossa Majestade me concedes esta vultosa soma, ó Príncipe dos Crentes e eu?!..”

O Califa Al-Amin o interrompeu dizendo:

– “A soma não importa, pois recuperaremos este dinheiro de qualquer parte do reino!”

As altas somas em dinheiro chegavam aos cofres muçulmanos de todas as Províncias islâmicas e eram gastos em diversões para os prazeres dos Califas. Nos saguões do Palácio, eram visto escravos e jovens de ambos os sexos, inclusive “Guilmán”(3) aos milhares, vivendo no luxo das orgias palacianas.

A situação dos xiitas não se modificou depois do Governo da dinastia dos Omíadas, seguida pela dos Abássidas, que mudava apenas nos nomes de seus inimigos tiranos e opressores.

Nota da Tradutora Complementar:

1. A dinastia dos Abássidas, foi fundada por Abu Al-Abbás “Al-Saffáh”, isto é, “O Sanguinário”, descendente de Abbás Ben Abdel Muttâleb, tio do Profeta (saws). Abu Al-Abbás destronou os Omíadas em 750 (132 Hijrita).

Nota da Tradutora Complementar:

2. Abu Jaafar “Al-Mansur”, isto é, “O Vitorioso”, foi o 2o. Califa Abássida, governando de 754 a 775 a.d. Era meio irmão de Abu Al-Abbás, sempre agindo inescrupulosamente na execução de seus planos, não admitindo, sob hipótese alguma, que haja sombra à sua autoridade, chegando ao ponto de aprisionar seus tios e mandar matar, em 755 a.d. Abu Muslem, o qual, praticamente abriu as portas para os Abássidas. Em 762 a.d. “Al-Mansur” empreendeu a construção da nova Capital, Bagdád, (que significa “Dom de Deus” e que se tornou famosa na História). “Al-Mansur” morreu em 775 a.d. nas proximidades de Meca, durante uma peregrinação.

Nota da Tradutora Complementar:

3. Os “Guilmán” eram jovens adolescentes e imberbes, próprios para a prática sexual promíscua.

Os Xiitas no Século Três Hijrita (Século Nove a.d.)

Um pouco de alívio, só pôde ser sentido pelos xiitas nos início do Século Três Hijrita (Século Nove a.d.), e os motivos foram os seguintes:

1. A tradução de muitos livros filosóficos e científicos, do grego, do aramaico e de outros idiomas, para o árabe, o que despertou a curiosidade de muitos, levando um grande número ao estudo e à intelectualidade, sabedores de abertura proporcionada pelo Califa Abássida Al-Mamún (195 – 218 Hijrita > 813 – 833 a.d.) o qual incentivava o estudo da filosofia das seitas. O resultado foi a consodolidação e a expansão dos conhecimentos religiosos e a liberdade religiosa total, o que proporcionou aos filósofos xiitas um progresso inestimável na ampliação de seus conhecimentos e na propagação da seita de “Ahel Al-Bait”, ou seja “Gente da Casa”(1) – que a paz esteja com eles.

2. Al-Mamún outorgou a Ali Ben Mussa “Al-Reda” (as), o 8o. Imám xiita, a chefia de seu Governo, e assim os xiitas e os aliados dos descendentes do Profeta Mohammad (saws) ficaram protegidos contra as perseguições políticas dos poderosos, e assim, gozaram de uma relativa liberdade por curto período, após o que, voltaram a ser oprimidos, torturados, assassinados ou banidos, revivendo os horrores dos tempos de Al-Mutawakel, neto de Haroun Al-Rachid, (232 – 247 Hijrita * 847 – 861 a.d.), o qual era inimigo da política do Imám Ali Ben Abi Táleb (as) e seu xiismo, chegando a mandar profanar e destruir o túmulo do 3o. Imám Al-Hussein (as), em Karbalá, no Iraque.

Nota da Tradutora Complementar:

1. “Ahel Al-Bait” se compunham de Fátima “Azzahrá”, filha do Profeta Mohammad (saws), seu marido o Imám Ali e os filhos de ambos (as).

Os Xiitas no Século Quatro Hijrita (Século a.d.)

O Século Quatro Hijrita (Século Dez a.d.) foi marcado por grandes acontecimentos que deram vigor à seita xiitas, permitindo sua larga expansão. Entre eles, destacam-se: o fim do apogeu do Califado Abássida e o surgimento dos reis Al-Buwayh(1).

Esses reis eram xiitas muito influentes na cúpula central do Califado Abássida em Bagdád, tanto que, houve uma inversão total na ordem política e no Poder, de forma que os xiitas, que se encontravam na posição de perseguidos, passaram a enfrentar, com superioridade seus inimigos, conseguindo uma vertiginosa expansão da seita e sua filosofia.

Os historiadores são unânimes em seus relatos ao afirmarem que os habitantes de toda a Península Arábica, ou quase toda, eram adeptos à seita xiita, ressalvados os grandes centros que já eram, como as de Hajr, Omám e Saadat… enquanto a cidade de Bassora no Iraque, era o núcleo dos sunitas, os quais tinham divergências com os xiitas de Kufa, centro destes últimos.

Assim, também as cidades de Trípoli (Porto ao norte do Líbano), Nablus (Palestina), Tiberíades (Norte da Palestina), Alepo (Norte da Síria) e Harát (Noroeste do Afeganistão), eram habitadas por xiitas, tal qual a cidade Ahwáz (No Irã, ao norte de Abadan, na embocadura do Chatt al-Arab) e nas margens do golfo Pérsico no Irã.

No começo do século Quatro Hijrita (Século Dez a.d.), Násser Al-Atrúch, conquistou o norte do Irã, depois de anos de lutas incansáveis, instalando-se na região de Tabrastán, onde instituiu o seu Estado, transmitido a seus filhos, depois dele. Al-Hassan Ben Zaid Al-Alaui já governava nessa região antes de Al-Atrúch.

Neste mesmo século, os Fatímidas, que eram uma ramificação dos Ismailitas(2), governaram o Egito por mais de dois séculos (296 – 527 Hijrita * 911 – 1142 a.d.).

Às vezes, surgiam divergências entre os xiitas e os sunitas, em cidades grandes como Bagdád e Bassora (no Iraque) e Chahpur (no Irã), sendo os xiitas, muitas vezes os vencedores.

Nota da Tradutora Complementar:

1. Com a subida do Califa Al-Mustakfi (944 – 946 a.d. * 329 – 331 Hijrita) ao trono Abássida, o mesmo viu-se forçado a acolher o buwayhida Ahmad Ben Buwayh, cujo pai, soldado de fortuna que lutava a favor dos Alawitas, preparando o caminho da conquista para seus três filhos, Ahmad, Ali e Hassan. Al-Mustakfi condecorou o buwayhida Ahmad com o título de “Emir Al-Umará”, isto é, “Príncipe dos Príncipes”. Contudo, Ahmad o depôs do trono em 946 a.d. e o povo saqueou e destruiu o Palácio dos Califas em Bagdád.

Nota da Tradutora Complementar:

2. São os que reconhecem como Imám outro filho de Jaafar “Açádeq” (as), Ismail, como o 7o. Imám xiita, terminando com ele a linhagem do Imamato proveniente da descendência do Mensageiro de Deus (saws), por parte de sua filha Fátima “Azzahrá” (as) e seu marido o 1o. Imám Ali Ben Abi Táleb (as). Dai veio o nome de “Ismaelitas” ou “Septimanianos”, os quais passaram a aguardar o “Al-Mahdi”.

Os Xiitas do Século Cinco ao Nove Hijrita (Século Onze ao Quinze a.d.)

Os xiitas se expandiram durante o Século Cinco até o fim do século Nove Hijrita (do século Onze ao Quinze a.d.), com a mesma força e vantagens iniciadas no Quarto século Hijrita (século Dez a.d.), advindo reis convertidos ao xiismo e que muitos fizeram pela expansão da seita.

Os Ismailitas firmaram-se apesar das “cenas de morte” e continuaram na sua missão por um século e meio dentro do Irã, e os Líderes Maraachiyún governaram por anos seguidos em Maznadaran (no Irã).

Khada Bandah, um dos reis da Mongólia, adotou a seita xiita e foi sucedido por outros reis desta seita durante anos seguidos. Todos contribuiram para a expansão e enaltecimento do xiismo, e assim também o fizeram os Sultões Ále Qoinlo e Qóra Qoinlo, pois a cidade de Tabriz era a capital do Estado e seu Poder atingiu Fáres e Karamán. enquanto os Fatímidas governaram o Egito por muitos anos consecutivos.

Era sabido que o Poder religioso dos sunitas, com seus reis, não era constante e conhecia-se a sua fragilidade, inconsistência e inconstância. Depois da queda do Estado Fatímida e a vinda do Governo Ayubita(1), a situação se modificou e os xiitas perderam a sua liberdade religiosa no Egito e em Damasco, na Síria. Muitos deles, inclusive, foram mortos.

Entre os mártires xiitas, o primeiro foi Mohammad Ben Mohammad Al-Melki, teólogo erudito, no ano 786 Hijrita (1401 a.d.), em Damasco, sob o pretexto de seu xiismo.

Também foi morto o Sheikh Chiháb Edín Assahrúrdi, acusado de filósofo.

Durante estes cinco séculos (do XI ao XV a.d.), o número de xiitas aumentou consideravelmente, graças ao apoio e até às próprias divergências dos Sultões da época, no qual alude ao livre pensamento. E, apesar dito, em nenhum país islâmico o xiismo foi considerado como seita oficial.

Nota da Tradutora Complementar:

1. Os Ayubitas era os partidários de Saláh Edín Al-Ayúbi, ou seja, Saladino (nasceu em 1138 a.d. e morreu em 1193 a.d.), o qual esmagou a 3o. Cruzada em 1187.

Os Xiitas no Século Dez e Onze Hijrita (Século Dezesseis e Dezessete a.d.)

No ano 906 Hijrita (1521 a.d.), um adolescente de treze anos de idade, da família do Sheikh Sâfie Din Al-Ardabili, falecido no ano 735 Hijrita (1350 a.d.) e que era um dos Sheikes do sistema xiita.
Este jovem, liderou trezentos “daráwích”(1), amigos e aliados de seus ancestrais, com o ideal de fundar um Estado xiita, forte e independente, partiu com eles da cidade de Ardabil (no Irã, perto do litoral do mar Cáspio), começando com a conquista da região e o aniquilamento do sistema monárquico religioso no Irã.

Depois de longas e sangrentas batalhas com os monarcas da dinastia de Othmán, os quais representavam o Império Otomano(2), o jovem revolucionário fez do Irã um Estado unificado, depois de ter sido despedaçado em várias partes, organizando-o em regiões distintas, governadas por pessoas competentes e idôneas, tendo o xiismo como sua religião oficial.

Depois da morte do rei Ismail Açafawi, descendente do Sheikh Sâfie Din Al-Ardabili, este foi sucedido por outros reis da mesma dinastia, a dos Sefévidas, até meados do século Doze Hijrita (meados do século XVIII a.d.), e cada um desses reis apoiava a seita xiita, sendo que, no tempo do Xá Abbás, o Grande(3), o qual era considerado a estrela dessa descendência, conseguiu-se a expansão do território iraniano e, conseqüentemente o número de adeptos, até atingir o dobro da população atual no Irã (1384 Hijrita * 1965 a.d.).

Durante os dois séculos e meio seguintes, a situação continuou a mesma em todas as regiões islâmicas, com a evolução da crença xiita.

Nota da Tradutora Complementar:

1. “Darwích”, “Dervixe” ou “Daroês” eram religiosos muçulmanos.

2. Este Império, surgiu de uma tribo turca, estabelecida na Anatólia, no século XII a.d., de cujo chefe, Othmán I (morto em 1326 a.d.) tirou seu próprio nome. Só com a morte do monarca otomano Solimão, o Magnífico, em 1566 a.d. é que o Império começou a sua decadência no Oriente.

Nota da Tradutora Complementar:

3. Abbás, o Grande (nasceu em 1571 e morreu em 1629 a.d.), Xá da Pérsia desde 1587 a.d. até a sua morte, quando ele contava cinqüenta e oito anos de idade. Al-Abbás era da dinastia dos Sefévidas e estabeleceu a sua capital em Ispahán, no Irã.

Os Xiitas do Século Doze ao Catorze Hijrita (Século Dezoito ao Vinte a.d.)

A expansão e o progresso da seita xiita durante os três últimos séculos, continuaram no mesmo ritmo do passado. Atualmente, e no fim do século Catorze Hijrita (século Vinte a.d.), o xiismo é a religião oficial do Irã, sendo a maioria dos povos do Iêmen e do Iraque xiitas.

Os xiitas estão presentes em todos os Estados islâmicos do mundo, em proporções menores e maiores, e o número deles aproxima-se de cem milhões.

Ramificações dos Xiitas

** Ramificações de Algumas Facções e Sua Extensão **
** Azzaidíya **
** O Ismailismo e suas Ramificações **
** Al-Náziríya, Al-Mustâaliya, Al-Drúziya e Al-Muqânaa **
** O Xiismo dos Doze Imames e Sua Divergência com a Zaidiya e a Ismailíya **
** Resumo da História dos Xiitas Duodécimos **

Ramificação de Algumas Facções e Sua Extensão

Cada seita abrange questões e aspectos considerados os alicerces principais da crença. Existem ainda, outros secundários.

A diferença entre uma e outra seita, na forma de sua interpretação, embora conservando muitos aspectos comuns, constituem o que chamamos de Ramificação.

As Ramificações existem em todas as religiões, principalmente nas ditas Celestiais e Divinas, como o Judaísmo, o Cristianismo, o Zoroastrianismo(1) e o Islam. A seita xiita não sofreu nenhuma ramificação durante o tempo dos três primeiros Imames: Ali, Al-Hassan e Al-Hussein (as), porém, depois do martírio do 3o. Imám Al-Hussein (as), seu filho Ali “Al-Sajjád” (as) foi reconhecido para o Imamato pela pela maioria dos xiitas. Entretanto, a minoria conhecida por “Al-Kissániya” deram voto a Mohamad Ben Al-Hanfiya, como sendo ele o 4o. Imám, inclusive, crêem ser ele o Al-Mahdi prometido, e que ele se ausentou no monte Radwa até o dia em que reaparecerá.

Contudo, após a morte do 4o. Imám Ali “Al-Sajjád” (as), a maioria dos xiitas seguiu e acreditou no Imamato de seu filho Mohammad “Al-Báquer” (as), mas a minoria se apegou à seita do mártir Zaid, outro filho do Imám “Al-Sajjád” (as) e foram chamados de “Azzaidiya”.

Depois do falecimento do 5o. Imám Mohammad “Al-Báquer” (as) seus adeptos seguiram seu filho, o 6o. Imám Jaafar “Açádeq” (as) e, com a morte deste, seguiram o 7o. Imám Mussa “Al-Cázem”.

Uma parte deles acreditou que Ismail Ben Jaafar, filho mais velho do 6o. Imám “Açádeq” (as) seria o 7o. Imám, porém ele faleceu enquanto seu pai ainda vivia, sendo nomeado Mussa “Al-Cázem” (as) como 7o. Imám. Diante disso, eles se separaram da maioria xiita, passando a ser conhecidos por “Ismailitas”. Outros, ainda, preferiram seguir o Imám Abdulláh Al-Aftâh, outro filho do Imám “Açádeq” (as), e outros, o Imám Mohammad, considerado o último dos Imames.

Depois da imolação do Imám Mussa “Al-Cázem” (as), a maioria seguiu seu filho Ali Ben Mussa “Al-Reda” (as) como sendo o 8o. Imám, enquanto que um grupo xiita permaneceu fiel ao 7o. Imám Mussa “Al-Cázem”, ficando conhecidos como “Al-Wáquefíya”, ou seja “Os Interruptores”.

Não surgiu nenhuma ramificação no período entre o 8o. e o 12o. Imám (as), que é considerado pela maioria xiita, como sendo Al-Mahdi, ou seja, “O Guia” prometido.

Contudo, se ocorreu algum fato nesse tempo, não durou mais que alguns dias e não houve ramificação alguma, mesmo que algumas ocorrências tenham advindo, e não foram de grande importância, como por exemplo, depois do falecimento do 10o. Imám Ali “Al-Hádi” (as), quando seu filho Jaafar se proclamou Imám, foi seguido por alguns que se dispersaram em pouco tempo.
As pequenas divergências que existiram entre alguns xiitas, foram de ordem interpretativa e exegética, retórica e erudita da religião, as quais não chegaram a formar ramificações propriamente ditas na seita;

Essas facções citadas, que se ramificaram e apareceram entre a minoria xiita, extinguiram-se rapidamente, exceto as facções de “Azzaidiya” e “Al-Ismailiya”, ainda existentes e seus adeptos vivem em diversas regiões como o Iêmen, a Índia, o Líbano, e outras.

Assim sendo, vamos descrever estas duas seitas, com a maioria xiita dos Doze Imames.

Nota da Tradutora Complementar:

1. É a religião instituída por Zoroastro, reformador da antiga religião persa. Zoroastro nasceu nos meados do século VIII ou VII a.C., o qual constituiu a casta dos magos, e que foram adoradores do Sol e do fogo.

Azzaidíya

Consideram-se “Azzaidíya” os seguidores do imolado Zaid filho do 4o. Imám Ali “Assajjád” (as).
Zaid Ben Ali revoltou-se no ano 121 Hijrita (736 a.d.) contra o Califa Omíada Hichám Ben Abdel Malek (724 a 743 a.d.), sendo apoiado por um grupo de partidários, terminando seus dias assassinado durante uma luta ocorrida na cidade de Kufa, entre ele e os aliados do Califa.

Zaid Ben Ali era considerado por seus companheiros o 5o. Imám proveniente de “Ahel Al-Bait” (as), sendo sucedido por seu filho Yahia Ben Zaid, o qual também se revoltou contra o Califa Omíada Al-Walid Ben Yazid (743 a 744 a.d.). Após a morte de Yahia, sucedeu-o Mohammad Ben Abdulláh e Ibrahim Ben Abdulláh, e que ambos se revoltaram contra o Califa Abássida Mansúr Aduániqui (754 a 775 a.d.), os quais acabaram morrendo assassinados. Estes portanto, são os Imames do “Azzaidíya”.

Desde aquele tempo, as questões da seita “Azzaidíya” eram desordenadas, até o aparecimento de Nasser Al-Atrúch, que é descendente do irmão de Zaid Ben Ali, em Khurassan. Devido às perseguições que sofreu por parte do Estado na época, ele foi obrigado a fugir para Mazenderan, onde os habitantes dessa região não eram convertidos ao Islam, o que veio ocorrer com grande número deles durante treze anos de catequese, abraçando a seita “Azzaidíya”, e assim dominaram a região, chefiados por Nasser Al-Atrúch, o qual foi sucedido por seus filhos.

“Azzaidíya” acreditavam que todo Fatímida era um erudito, desprendido, bondoso e valente, que se rebelava contra a injustiça, e por isso poderia ser um Imám.

No início, “Azzaidíya” consideravam Abu Bakr e Omar Ibn Al-Khattáb, os dois primeiros Califas depois da morte do Profeta (saws), como Imames, porém, um grupo deles desconsiderou tal hipótese, passando a se fixarem a partir do Imám Ali Ben Abi Táleb (as).

Segundo os registros, “Azzaidíya” seguem os Retirantes (Al-Mootazetat) no Islam, apoiando a jurisprudência de Abi Hanífa, apesar de haver algumas divergências entre eles e o jurisconsulto.

O Ismailismo e Suas Ramificações

Al-Bátiníya (A Esotérica) – O 6o. Imám Jaafar “Açádeq” (as) tinha um filho, mais precisamente, seu primogênito, chamado Ismail, o qual morreu ao tempo de seu pai, sendo que este último, testemunhou a morte de seu filho, pedindo o respectivo Atestado de Óbito ao Governador de Medina, pelo qual ele foi atendido.

Entretanto, um grupo não acreditou na morte de Ismail, alegando que ele preferiu a ausência, porém, retornará, pois trata-se do Al-Mahdi, ou seja O Guia prometido e esperado. Contudo, o testemunho do 6o. Imám “Açadeq” (as) era firme e sólido e se fez valer oficialmente, receando que o Califa Abássida Al-Mansur viesse reivindicar o Imamato para Mohammad Ben Ismail, já que Ismail era Imám antes de falecer em tempo de seu pai.

As duas facções se extinguiram em curto período, permanecendo a terceira facção até os nossos dias, hoje dividida em diversas ramificações.

Os Ismaelitas têm uma filosofia parecida com a dos adoradores das estrelas e tem algo do sufismo (1) indiano. Admitem que os conhecimentos e os dogmas islâmicos têm uma parte exotérica e outra esotérica. Todo aparente contém em si o não aparente, e para cada Revelação existem uma interpretação, e que a Terra não existe sem razão e que as Razões de Deus se manifestam sob duas formas: Uma expressa e outra hermética.

A expressa é manifesta através do nobre Profeta (saws), e a hermética é dada ao Imám, que foi recomendado pelo Mensageiro de Deus (saws) em todas as situações.

Toda a essência esotérica gira em torno do número sete. E nessa ordem, acreditam que cada Profeta, em sua missão, é seguido por sete missionários, todos do mesmo nível e categoria, sendo que o sétimo deles recebe três encargo: a profecia, o testamento e comando, e assim sucessivamente, para cada sétimo missionário.

Os Ismailitas afirmam que Adão (as) foi enviado como Profeta e com poderes de comando, e tinha sete recomendados, todos com os mesmos poderes, sendo o sétimo deles, o Profeta Noé (as), incumbido com a profecia, o testamento e o comando, seguido por Abraão (as), o sétimo seqüente que, igualmente e nas mesmas condições, foi seguido por Moisés (as) e este por Issa (as), que é seguido por Mohammad (saws), seguido por Mohammad Ben Ismail na seguinte ordem: Mohammad * Ali * Al-Hussein * Ali Ibn Al-Hussein “Assajjád” * Mohammad “Al-Báquer” * Jaafar “Açádeq” * Ismail * Mohammad Ben Ismail(2).

Depois de Mohammad Ben Ismail, são sete seus descendentes, cujos nomes permaneceram no anonimato, seguidos por sete reis Fatímidas no Egito, o primeiro deles fundou neste país, o Estado Fatímida, cujo nome era Obaidalláh Al-Mohdi.

Os Ismailitas acreditam na existência de doze representantes permanentes na Terra que são mensageiros do legado de Deus. Mas, para alguns deles, que são os Druzos, consideram seis Imames eleitos dentre eles, e outros seis de outros.

No ano 278 Hijrita (893 a.d.), apareceu na cidade de Kufa, um homem, cuja origem de Khuzastan, porém, de identidade desconhecida (antes do surgimento de Obaidalláh Al-Mohdi por anos).
Este homem, passava os dias em jejum e as noites em vigília na prática da devoção, oração e meditação, o qual se sustentava através de seu próprio trabalho com pequenos serviços, ao mesmo tempo em que exortava à seita “Ismailíya”, conseguindo um bom número de adeptos e aliados, dentre os quais ele elegeu doze representantes seus e depois partiu para Damasco, na Síria, e nunca mais se soube dele.

Este desconhecido foi sucedido no Iraque, por Ahmad, conhecido pelo cognome de Al-Qormot e que inspirou e implantou os estudos herméticos e, como relatam os historiadores, ele criou nova forma de orar, em substituição às cinco orações diárias islâmicas. Aboliu o banho obrigatório após o coito e liberou o uso da bebida alcoólica.

Nessa mesma época, surgiram outros líderes que pregavam a mesma seita que era chamada “Al-Bátiníya”, conseguindo um grande número de adeptos.

Perseguiam os que não aderiam à seita, saqueando seus lares e matando inocentes, e assim agiram também no Iraque, em Bahrein, no Iêmen e em Damasco na Síria. Inclusive assaltavam as Caravanas de peregrinos, matando-os aos milhares.

Em 321 Hijrita (936 a.d.), Abu Táher Al-Qormoti, um dos líderes de “Al-Bátiníya”, se apossou de Bassora no Iraque, matando muita gente e roubando-lhes seus valores materiais e monetários.
Em 327 Hijrita (942 a.d.), Abu Táher dirigiu-se em companhia de um grupo pertencente à seita “Al-Bátiníya” para Meca, onde, depois de uma luta com a polícia local, matou muitos de seus habitantes e dos peregrinos que lá se encontravam, o que resultou no derramamento de sangue na Casa Sagrada de Deus e na Caaba. Cortou em pedaços a cortina que cobria a Caaba e os dividiu entre seus aliados e, arrancou a porta do Templo Sagrado, removeu a Pedra Negra de seu lugar, levando-a para o Iêmen, onde ficou durante vinte e dois anos.

Por todos esses atos, a maioria dos muçulmanos se revoltou contra a seita “Al-Bátiníya”, considerando-a como não muçulmana. Até Obaidalláh Al-Mohdi, um dos Comandantes Fatímidas, o qual tinha aparecido na África e se auto proclamou por “Guia Prometido” e, perante “Al-Ismailíya”, tinha se distanciado dos Qoramitas.

Segundo os historiadores, a essência da seita “Al-Bátiníya”, era a adaptação das normas exotéricas do Islam para o esoterismo sufista, que consideravam a aparência das normas religiosas, ou seja, seu aspecto externo, como sendo próprio dos leigos impossibilitados de atingir a perfeição. Contudo, de tempos em tempos, eram editadas normas e leis constituídas por seus Imames e Líderes.

Nota da Tradutora Complementar:

1. O sufismo é a parte esotérica do Islam, que busca integrar o ser humano à divindade.

2. O 2o. Imám Al-Hassan (as), eles não o consideram pertencente à série desses Imames.

Al-Náziríya, Al-Mustâaliya, Al-Drúziya e Al-Muqânnaa

No ano 296 Hijrita (910 a.d.) surgiu Obaidalláh Al-Mohdi na África, o qual se auto proclamou Imám pelo sistema “Ismáiliya”, fundando o Estado Fatímida. Seus sucessores escolheram o Egito como centro de seu Califado. Sete deles governaram sucessivamente, na qualidade de Imames, de acordo com a seita “Ismailíya”, sem ocorrer qualquer ramificação ou divisão.

Entretanto, após o sétimo Califa Fatímida, Al-Mustansir Belláh Saad Ben Ali (420 – 479 Hijrita * 1035 – 1094 a.d.), houve disputa do Califado entre seus dois filhos Nizár e Al-Mustâali e, depois da guerra fratricida e terrivelmente sangrenta, Al-Mustâali venceu seu irmão, jogando-o na masmorra, onde faleceu.

Em conseqüência desta disputa, os Fatímidas dividiram-se em duas seitas: “Al-Náziríya” e “Al-Mustâaliya”.

Al-Náziríya – São os seguidores de Hassan Ben Al-Sabáh, que era simpatizante de Al-Mustansir. Foi expulso do Egito por ordem de Al-Mustâali, por defender e proteger Nizár.

Hassan transferiu-se para o Irã e, após algum tempo, apareceu na Fortaleza da Morte, nas proximidades de Qazuín, conquistando-a com outras vizinhanças e se proclamou Sultão das mesmas. Inicialmente, ele apelou para Nizár e, após a morte de Hassan Ben Al-Saláh, ano ano 518 Hijrita (1133 a.d.), assumiu o Sultanato Bezrek Amíd Rudbári, sucedido por seu filho Kiá Mohammad e ambos adotaram a forma do Governo de Hassan Ben Al-Sabáh. No entanto, depois de sucedido por seu filho Hassan Ben Kiá, 4o. Sultão da Fortaleza da Morte, este alterou o sistema do Governo de Hassan Ben Al-Sabáh, que era Náziríya e se apegou à seita “Al-Bátiniya”.

Após o seu avanço sobre o Irã, Hulagu Khan(1) conquistou as Fortalezas, ismaelitas, matando-os a todos e destruindo seus castelos. E depois, exatamente no ano de 1255 Hijrita (1870 a.d.), Agha Khan III, Príncipe da Índia e chefe religioso dos ismaelitas nazáritas, revoltou-se contra Mohamad Xá Al-Qajár, mas o seu levante foi frustrado na cidade de Karamán, conseguindo fugir para Bambice, antiga cidade da Síria, às margens do rio Eufrates, onde propagou o ministério de “Al-Bátiníya Al-Náziríya” sob seu Imamato e liderança, e esta seita existe até os nossos dias, a qual é conhecida por “Aqakhániya”.

Al-Mustâaliya – O Imamato dos seguidores do fatímida Al-Mustâali no Egito, durou até o ano 557 Hijrita (1171 a.d.), reaparecendo depois de certo tempo, uma facção chamada “Al-Bôhra” na Índia, com o mesmo sistema, a qual continua até hoje.

Drúziya – A comunidade Drúza que atualmente se concentra nas montanhas de Drúz, na Síria, inicialmente seguiam os califados Fatímidas até o 6o. Califa Al-Hákem Ben Al-Aziz, abraçando a missão do Al-Darázi (Nashtajin Al-Darazi), adotando o sistema de “Al-Bátiníya”.

A seita Druza não foi além do Califado de “Al-Hákem Belláh”, que, segundo alguns, ele foi morto, enquanto outros acreditavam que ele desapareceu dos olhares e elevou-se ao céu e que sua ausência será temporária, pois ele deverá retornar e reviver entre os homens. Para todos os efeitos, o desaparecimento de Al-Hákem Ben Al-Aziz ocorreu no ano 406 Hijrita (1021 a.d.).

Al-Muqânnaa – Eram dos que seguiam Ettá Al-Muruwy, conhecido pelo apelido de “Al-Muqânna”, ou seja, “O Mascarado”, pois ele cobria o rosto com o véu de seu turbante aparecendo vagamente os olhos.

Segundo os historiadores, “Al-Moqânna” era dos adeptos de Abu Muslem Al-Khurassáni, morto em 140 Hijrita (755 a.d.), afirmando que, sendo ele a reencarnação de Abu Moslem, ele seria um Profeta, com poderes divinos.

Entretanto, “Al-Muqânna” foi cercado no ano 162 Hijrita (776 a.d.) na Fortaleza de Keich “por detrás do rio”, e vendo que estava perdido e que seria a sua morte certa, fez uma grande fogueira, lançando-se nela com alguns de seus companheiros, onde todos morreram carbonizados.

Os companheiros de Ettá Al-Muruwy, ou seja, “Al-Muqânna”, depois de um certo período, adotaram a seita da “Al-Ismailíya” e se apegaram à facção de “Al-Bátiníya”.

Nota da Tradutora Complementar:

1. Hulagu Khan nasceu em 1217 a.d. e morreu em 1265 a.d. – 1o. soberano mongol do Irã, de 1251 a 1265 a.d. – Era neto de Gêngis Khan e pôs fim no califado de Bagdád em 643 Hijrita (1258 a.d.).

O Xiismo Duodécimo e Sua Divergência com Al-Zaidíya e Al-Ismailíya

A minoria xiita que foi citada e que se ramificou da maioria xiita Imamita, e que também se denomina por <<Xiismo Duodécimo>>, os quais, conforme mencionado no início de sua formação, era por causa de discordâncias ocorridas através de suas críticas, observações e oposições e dois pontos fundamentais nos assuntos islâmicos, sem porém, divergirem-se contra as Leis concordantes com os Preceitos (Sunna) e ensinamentos do grandioso Profeta Mohamad (saws). E, esses dois pontos defendidos pelos “Duodécimos” são: <<O Governo Islâmico e as Fontes Teológicas>>, nos quais eles afirmam serem unicamente de direito dos Imames provenientes de “Ahel Al-Bait” (as), ou seja, da descendência da “Gente da Casa do Profeta”.

Os “Xiitas Duodécimos” acreditam que o Califado islâmico, incluindo a autoridade essencial e o comando moral e intelectual, compreendem duas partes indivisíveis, que são por direito do Imám Ali Ben Abi Táleb (as) e sua descendência, isto de acordo com o pronunciamento do Profeta Mohammad (saws) e demais Imames provenientes de “Ahel Al-Bait”, de que eles seriam doze Imames.

Os “Xiitas Duodécimos” acreditam também, que os ensinamentos exotéricos do Alcorão, os quais são considerados como regras e dogmas religiosos, que abrangem a existência psicológica por completo, tendo a sua essência e fundamentos, os quais não sofrerão qualquer alteração até a hora do Dia da Ressurreição; inclusive, essas normas e leis deverão ser seguidas de acordo com a orientação dada pelos componentes de “Ahel Al-Bait” unicamente, e eis que se esclarece o seguinte:
A divergência entre os xiitas Imamitas (ou Duodécimos) e os xiitas da “Al-Zaidíya”, é que estes últimos não restringem o Imamato aos provenientes de “Ahel Al-Bait” e nem reconhecem-nos como sendo doze Imames… e tampouco seguem a Jurisprudência de “Ahel Al-Bait” – que são os ensinamentos do Profeta Mohammad (saws) – o que contraria fundamentalmente os Xiitas Imamitas (ou Duodécimos).

Por outro lado, a divergência fundamental, existente entre os xiitas Imamitas e os xiitas da “Al-Ismailíya”, é que estes últimos acreditam que o Imamato se compõe apenas de sete Imames e que os Profetas não se concluem com Mohammad (saws), e nada os impede de alterar ou modificar os dogmas da religião, inclusive pode-se aumentar as taxas e tributos primórdios, especialmente a afirmação dos adeptos da “Al-Bátiníya” que discorda com a seita dos xiitas Imamitas, os quais acreditam na concludência das profecias de Mohammad (saws) e que ele é o Concludente dos Profetas, tendo ele doze sucessores recomendados, considerando que a interpretação exotérica da doutrina islâmica não admite divergências, afirmando que o Alcorão possui exoterismo e esoterismo.

Entretanto, as duas seitas chamadas “Chaikhíya” e “Karimkhániya”, as quais surgiram nos últimos dois séculos de dentre os xiitas Imamitas, nós não as consideramos ramificações, porque a divergência de ambas restringe-se apenas, a meras questões de ponto de vista e não à extinção de questões fundamentais.

Existe também uma facção denominada “Ali Allahiya”, proveniente dos xiitas Imamitas, a qual também chamada de “Os Exagerados” e que se assemelham aos adeptos da “Al-Bátiniya” em relação ao xiismo da “Al-Ismailiya”. Os adeptos de “Ali Allahiya” acreditam somente no esoterismo, apesar de serem carentes da lógica minuciosa; portanto, nós não os consideramos xiitas.

Resumo da História dos Xiitas Duodécimos

Como referimos nos itens anteriores, a maioria dos xiitas são os seguidores dos doze Imames, ou seja, os Xiitas Duodécimos, que são os Companheiros (Sahaba) e aliados do Imám Ali Ben Abi Táleb (as), os quais levantaram a bandeira da oposição em assuntos do Califado e das fontes teológicas islâmicas, após o falecimento do nobre Profeta (saws), e isso foi para assegurar a tradição dos direitos dos familiares do Mensageiro de Deus (saws), pertencentes a “Ahel Al-Bait”, e por causa disso se separaram da maioria das pessoas.

Os xiitas eram oprimidos na época dos Califas “Ráchidín”, ou seja, “Governantes”, mais precisamente entre o período do ano 11 a 35 Hijrita (632 a 656 a.d.), como não tinham proteção e consideração por suas vidas e seus bens materiais durante o Governo da dinastia dos Omíadas (40 a 132 Hijrita * 656 a 750 a.d.)… e, quanto mais aumentava a opressão e a perseguição sobre os xiitas, mais aumentava o vigor de seus princípios e de sua fé.

No período que intermediou o governo das dinastias Omíada e Abássida, quando os Califas de Bani Abbás conquistaram o Poder, período esse de fracassos, os xiitas conseguiram respirar aliviados… e isso, em meados do segundo século Hijrita (Século Oito a.d.).

Entretanto, não demorou muito e as perseguições e opressões recomeçaram e sua intensidade foi aumentando cada vez mais, até o fim do terceiro século Hijrita (Século Nove e Dez a.d.).

No começo do quarto século Hijrita (Século Dez a.d.), os xiitas reconquistaram suas forças com a vinda dos Sultões da dinastia de Al-Buwayh que eram xiitas, adquirindo a liberdade de pensamento e de expressão intelectual, e começaram novamente a luta que durou até o fim do quinto século Hijrita (Século Onze a.d.).

No início do sexto século Hijrita (Século Doze a.d.), que coincide com o levante dos mongóis, devido à inúmeros problemas surgidos, e à seqüência das guerras com as expedições das Cruzadas, os Governos Islâmicos suspenderam as perseguições aos xiitas, especialmente depois que os sultões mongóis no Irã, abraçaram o Islam, inclusive com a influência dos sultões de Meerech em Mazendaran, o que muito contribuiu para que os xiitas se recuperassem e se expandissem, proporcionando-lhes liberdade e crescimento numérico, cada vez maior em cada região islâmica, particularmente no Irã, onde se concentravam milhões de xiitas.

Esse estado de coisas durou até fins do nono século Hijrita (Século Quinze a.d.) e, no início do décimo século Hijrita (Século Dezesseis a.d.), com o advento do Governo dos Safévidas, no Irã, dinastia fundada pelo Sheikh Sâfie Din (735 Hijrita * 1350 a.d.), a seita xiita foi reconhecida oficialmente e assim permanece até os nossos dias, fim do décimo quarto século Hijrita (Século Vinte a.d.) e começo do décimo quinto século Hijrita (Século Vinte e Um a.d.).

O Xiismo é a seita islâmica oficial no Irã, e além disso, dezenas de milhões de xiitas vivem em todas regiões do mundo.

O Pensamento Religioso em Relação ao Xiismo

** O Significado do Pensamento Religioso **
** As Principais Fontes para o Pensamentos Religioso no Islam **
** Os Caminhos que o Islam Expõe para o Pensamento Religioso **
** As Divergências Entre Esses Três Caminhos **
** O 1o. Caminho: O Exoterismo Religioso e suas Divisões **
** O Colóquio dos Companheiros (Sahaba) **
** Outra Pesquisa no Livro (Alcorão) e no Preceito (Sunnah) **
** O Exoterismo do Alcorão e seu Esoterismo **
** Interpretação do Alcorão **
** Continuação da Pesquisa Sobre a Tradição (Hadís) **
** Os Xiitas e a Lida na Tradição **
** O Estudo e o Ensino Geral no Islam **
** O Xiismo e os Conhecimentos Transcritos **

O Significado do Pensamento Religioso

Este termo objetiva-se na investigação e na pesquisa sobre um dos temas religiosos, a fim de se obter um resultado fixo. Por exemplo, tal como se procede nas questões desportivas, de que a idéia é quem dá o resultado para um definido ponto de vista esportivo, ou, a solução para uma questão esportiva.

As Principais Fontes para o Pensamento Religioso no Islam

Naturalmente, o pensamento religioso é igual aos demais pensamentos, o qual conta com fontes a fim de se inspirar por elas para a sua evolução e consolidação, tal como no caso da idéia desportiva para a solução de determinada questão, pois é mister o apoio de um conjunto de teorias, até se chegar ao objetivo final.

E a única fonte em que o Islam conta – em face de sua ligação com a Revelação Celestial – é o Alcorão Sagrado, por ser o nascente principal para o vaticínio completo do nobre Profeta (saws) e pelo seu conteúdo, para a exortação ao Islam.

E o Alcorão Sagrado não anula as outras fonte para o pensamento correto e as razões nítidas, conforme a exporemos.

Os Caminhos que o Islam Expõe para o Pensamento Religioso

O Alcorão Sagrado oferece três caminhos a seus seguidores, para que eles possam atingir a compreensão religiosa e os conhecimentos islâmicos, esclarecendo-lhes que a visão doutrinária, os fundamentos intelectuais e a percepção moral, só se alcançam por meio da sinceridade na devoção.

Deus Majestoso, comunica-se com as pessoas em geral, através do Alcorão, onde Ele expõe questões, sem lhes haver algo que venha contrariá-las, devido ao Seu poder de preservação, na qualidade de Criador, e que por isso Ele reivindica a aceitação das crenças fundamentais, tais como: a Unicidade (de Deus); o Vaticínio (dos Profetas); o Dia do Juízo Final, e, os deveres como a Oração, o Jejum e outros… bem como, Ele ordena pela advertência e às vezes pela proibição… E se os Versículos não fossem suficientes para o entendimento essencial, não teria sentido a Sua reivindicação para que as pessoas os aceitassem e seguissem. Portanto, não há dúvida que estes Versículos corânicos são evidentes, nítidos e conducentes ao caminho da compreensão dos esclarecimentos religiosos e dos conhecimentos islâmicos… e nós denominamos estas belas-letras por “Evidências Religiosas” alusivas a: <<Creiam em Deus e em Seu Mensageiro>> e <<Praticai a oração>>, etc…

E sob outro ângulo, verificamos que o Alcorão contém muitos Versículos que concitam aos fundamentos intelectuais… e isto, é para a convocação das pessoas à reflexão a fim que elas possam se arranjar nos horizontes da vida e na psicologia humana, passando a se comportar de acordo com as evidências da verdade.

Realmente, o Alcorão é o único dentre os Livros Celestiais(1) que dá condições para que o homem chegue ao conhecimento das coisas, através da constatação real. Portanto, o Alcorão, com esta sua evidência, considera a razão intelectual e a lógica, parte das questões, isto é, ele exige a aceitação dos conhecimentos islâmicos sem debates, pois ele passa ao fundamento intelectual e dele aproveita os conhecimentos islâmicos, passando a contar com o fato em questão, o qual terá então a solução pela lógica… logo, aceitam-se os conhecimentos dogmáticos do Islam.

Tudo que se ouve na pregação islâmica, deve-se meditar nele, pesquisar sobre ele e estar atento às palavras do Criador, e, antes de aderir ao Islam, deve-se consegui-lo depois de entende-lo e aceitar suas razões… e o Alcorão incita para o pensamento filosófico.

Por outro lado, verificamos que através de seu estilo extraordinário, este magnífico Livro nos esclarece todos os verdadeiros conhecimentos, os quais jorram da Unidade de Deus… Aliás, só poderão conhecer a plenitude de Deus Majestoso e Supremo, aqueles que Deus os tornou os melhores dentre Seus devotos, privilegiando-os para Si mesmo… e estes devotos são os que se desprenderam do mundo material e se dedicaram por completo à devoção, consagrando-se ao Mundo Superior, tendo o coração pleno da luz de Deus Glorioso, e com isso, eles passam a enxergar a realidade da vida, chegando à etapa da convicção, e então, descerra-se-lhes o véu e se expõe diante deles os Reinos do Céu, da Terra e do Mundo da Eternidade.

Todas estas qualidades se acham condensadas nos seguintes versículos corânico:

<<Jamais te antecedeu Mensageiro algum a quem não tenhamos inspirado: Eu sou o único Deus que devereis adorar>>(2) Surat Al-Anbiá – Capítulo 21, Versículo 25

<<Glorificado seja Deus pelo que Lhe atribuem Seus devotos leais!>>(3) Surat Açáfat – Capítulo 37, Versículos 159 e 160.

<<Dize: Pois eu sou humano como vós, exceto na Revelação que recebo, porque o vosso Deus é Único, e aquele que deseja encontrar-se com seu Senhor, deve pautar na prática do bem e não associá-Lo a ninguém>>(4) Surat Al-Cahf – Capítulo 18, Versículo 110.

<<Adora teu Deus, até que atinjas a convicção(5) Surat Al-Hejr – Capítulo 15, Versículo 99.

<<E assim, mostramos a Abraão os reinos dos Céus e da Terra, para que ele seja dos convictos>>(6) Surat Al-Anaám – Capítulo 6, Vers. 75.

<<Oh, não! Pois o Livro dos Justos será preservado nas alturas (llliyín), e o que te faz entender o que são as alturas (llliyín)? É um Livro manuscrito, atestado pelos que são próximos (a Deus)>>(7)
Surat Al-Muttâffifin – Capítulo 83, Versículos 18 a 21.

<<Oh, não! Se conhecerdes a ciência da convicção, vereis o Inferno>>(8)
Surat Attacáthor – Capítulo 102, Versículos 5 e 6.

Nota da Tradutora Complementar:

1. Os Livros Celestiais são a Torah, o Evangelho e o Alcorão.

Nota do Autores:

2. Entende-se neste Versículo de que a devoção na religião, é uma ramificação para a Unicidade de Deus, se constituindo n’Ele.

Nota dos Autores:

3. A atribuição é um ramo do conhecimento e da compreensão, e, o que se refere nestes Versículos, é que os leais conhecem Deus por direito e que Ele é imune às (más) atribuições dos outros.

4. Entende-se neste Versículo, que o encontro com Deus é: quando se crê convictamente em Sua Unicidade; praticar o bem e não seguir algum caminho que seja o d’Ele.

5. O que se aproveita deste Versículo, é que com a adoração a Deus se chega a certeza.

6. Entende-se neste Versículo, de que uma das necessidades da convicção é atinar os reinos dos Céus e da Terra.

7. Compreende-se nestes Versículos que a finalidade dos justos está num Livro chamado “llliyín”, isto é, acima das alturas; e aqueles que o atestam são os que se aproximam de Deus Supremo, o que significa que o Livro não é manuscrito literalmente, porém, um mundo de proximidade e enaltecimento.

Nota dos autores:

8. Aproveita-se nestes Versículos, de que a ciência da convicção é legado quanto à visão da situação dos desafortunados, que é o próprio Inferno.

As Divergências Entre Esses Três Caminhos

Esclareceu-se, pelo que se antecedeu, que o Alcorão Sagrado apresenta três Caminhos para se chegar ao conhecimento religioso: o exoterismo religioso, o intelecto e a fidelidade na adoração… e isso significa descobrir as verdades e a sua essência interna, porém, devemos saber que esses três Caminhos se bifurcam entre si por diversas formas, dentre as quais:

A 1o. Forma – A parte exotérica da religião está ao alcance da compreensão de todos(1), eis que é expressa com linguagem simples, fácil, aproveitável de acordo com a capacidade de cada um, diferentemente do que ocorre com as outras duas partes, que são privilégios de poucos.

A 2o. Forma – O caminho do exoterismo religioso é o caminho que se liga aos Regulamentos e Conhecimento islâmicos e suas ramificações, possibilitando o alcance nas questões convictas e gnósticas, e assim seria com as demais questões operacionais (as ramificações da religião). Entretanto, as partes alusivas à Prudência e suas razões, não estão ao alcance da mente, e estão fora de sua lógica, sendo assim a forma de educar a alma, porque o seu resultado seria a revelação da verdade e sua veracidade, e isto, o que chamaríamos de “ciência sutil” (proveniente de Deus Altíssimo). Aliás, não nos comporta determinar seus resultados e eficiências, pois as veracidades que se descobrem através desse dom divino, cabem somente àqueles que se isolaram de tudo, exceto de Deus Supremo… Por conseguinte, eles estão sob a proteção de Deus de forma direta, e, tudo que Ele desejar (não o que eles desejam) se revelará para eles.

1. Conforme a frase do Profeta nobre (saws) que diz: “Nós, os Profetas, falamos às pessoas de acordo com suas capacidades mentais.”

O 1o. Caminho – O Exoterismo Religioso e Suas Divisões

Conforme já se referiu anteriormente, o Alcorão Sagrado, que é considerado a fonte principal para o pensamento religioso islâmico, e a força que dele emana com os exoterismos de seus Versículos, colocou em segundo plano os sermões do nobre Profeta Mohammad (saws), e isto foi confirmado pelas palavras de Deus:

<<… e te revelamos as evidências (o Alcorão) a fim de expores às pessoas o que lhes fora revelado…>>
Surat Annahl – Capítulo 16, Versículo 44.

<<Realmente, vós tendes no Mensageiro de Deus um excelente exemplo…>>
Surat Al-Ahzáb – Capítulo 33, Versículo 21.

<<Foi Ele (Deus) quem enviou de dentre os iletrados um Mensageiro a fim de lhes recitar Seus Versículos, e educá-los e ensinar-lhes o Livro e a Sabedoria…
Surat Al-Jomaa – Capítulo 62, Versículo 2.

Se as palavras do Profeta nobre (saws), seus atos, e até seu silêncio e determinação não forem uma razão como o é o Alcorão Sagrado, então não haveríamos de encontrar esclarecimento correto para os Versículos citados… Por isso, as palavras dele (Deus o abençoou juntamente com os de sua Linhagem e os saudou) são uma razão plausível e necessária a ser seguida por aqueles que o ouviram ou lhes foi passado. O mesmo ocorre com as palavras de seus familiares pertencentes a “Ahel Al-Bait” (as), ou seja, “Gente da Casa”, os quais transmitiram exatamente as palavras e ensinamentos do Profeta (saws), pois isso dignos de confiança e fé, e “Ahel Al-Bait” (as) têm total influência e credibilidade nos ensinamentos do Islam e jamais erraram na explanação dos conhecimentos e prudências islâmicas; portanto, a palavra deles é uma razão na qual pode-se contar com ela, seja verbal ou textualmente, e, resumindo, os familiares do Mensageiro (saws) provenientes de “Ahel Al-Bait” (as) são a fonte teológica do Islam.

Conclui-se que o exoterismo religioso é considerado a fonte do pensamento islâmico e que se divide em dois: o Alcorão e o Preceito (Sunnah).

O Alcorão é condensação dos Versículos sagrados, e o Preceito são o relatos da Tradição (Hadís) alusivos ao Profeta (saws) e seus descendentes provenientes de “Ahel Al-Bait” (as).

O Colóquio dos Companheiros <<Sahába>>

As Tradições (Ahadís) relatadas pelos Companheiros (Sahába), só têm validade se elas coincidem com as palavras do Mensageiro Mohammad (saws) ou seus atos, e não divergem dos relatos de seus descendentes provenientes de “Ahel Al-Bait” (as), caso contrário, se os relatos forem como opinião pessoal, eles não teriam, então, a merecida consideração, sem deixar de serem respeitados como os demais muçulmanos. Aliás, os próprios “Sahába” se consideravam como muçulmanos em comum, respeitando-se mutuamente.

Outra Pesquisa no Livro (Alcorão) e no Preceito (Sunnah)

O Livro de Deus (Alcorão Sagrado) é considerado a fonte fundamental para o pensamento islâmico, e é ele quem dá o devido respeito e consideração às demais fontes religiosas… Por isso que ele é viável à compreensão de todas as pessoas.

Além disso, o Alcorão indica que é luz esclarecedora de tudo, já pela própria ordenação de seus Versículos que até chega a ser desafiador… e se pudesse ser contestado ou imitado, já o teriam feito!

É evidente que, se o Alcorão não fosse compreendido por todos, seus Versículos não teriam qualquer significado ou valor.

E não há espaço para qualquer dúvida que este assunto (que o Alcorão é compreendido por todos) venha a se contradizer com o assunto anterior (de que o Profeta (saws) e “Ahel Al-Bait” (as) são o recurso científico para os conhecimentos islâmicos, e que é uma verdade indicada pelo Alcorão Sagrado).

No que refere aos conhecimentos islâmicos, que são as leis e normas legislativas, o Alcorão aponta muitas delas e ao mesmo tempo se torna necessário colhê-las do Preceito (Sunnah) que são os relatos de “Ahel Al-Bait” (as), tais como: as prudências da oração, do jejum, do trato com o próximo e demais devoções.

No que diz respeito às crenças e índoles, ou seja, se seus registros e detalhes são de compreensão geral, na prática e esclarecimento de seu significado, é necessário seguir o sistema de “Ahel Al-Bait” (as) com o auxílio dos Versículos corânicos, pois eles se interpretam entre si… e não recorrer à opiniões pessoais, o que aliás, tornou-se hoje em dia cômodo e conveniente.

O Imám Ali Ben Abi Táleb (as) disse:

– “Vós enxergais através do Livro de Deus, falais e ouvis por meio dele, e cada um pronuncia pelo outro, e cada um testemunha sobre o outro”(1).

O nobre Profeta (saws) falou:

– “O Alcorão se confirma em si mesmo…” – e prosseguindo, disse – … e aquele que interpretar o Alcorão sob seu ponto de vista, que seja-lhe reservado um lugar no Inferno!”

Há exemplos simples na interpretação do Alcorão “em si mesmo”, e isto de acordo com a Revelação de Deus sobre a história de Lot:

<<E desencadeamos sobre eles a chuva, mas piorou a chuva nos admoestados>>

Surat Achoura – Capítulo 26, Versículo 173.

Em outra passagem do Alcorão, a palavra “piorou” (sá-a) foi substituída pela palavra “pedras” (hijára), conforme se lê no seguinte Versículo:

<<… e desencadeamos sobre eles uma chuva de pedras incandescentes>> Surat Al-Hejr – Capítulo 15, Versículo 74.

Conclui-se pelo sentido dado no 2o. Versículo, de que a intenção do Versículo anterior <<mas piorou a chuva…>> significa o mesmo que <<… de pedras incandescentes>>, e isto se confirma por toda pessoa que segue detalhadamente os relatos de “Ahel Al-Bait” (as). Aliás, os “Sahába” são unânimes nesta interpretação, os quais afirmam de que a forma de interpretação do Alcorão, se conexa com o sistema dos Imames provenientes da linhagem do Profeta (saws).

1. <<Nahj Al-Balágha>> – Discurso no. 133 do Imám Ali (as).

O Exoterismo do Alcorão e Seu Esoterismo

Ficou evidente que o Alcorão Sagrado, com sua forma e essência, esclarece as questões e oferece as prudências necessárias às pessoas, para a crença, devoção e sua prática, porém, ele não se restringe apenas nisso, por conter a parte hermética que atinge a percepção dos corações mais sensíveis e puros.

O excelso Profeta (saws), que é o mestre divino para os ensinamentos do Alcorão, disse sobre o mesmo:

– “Aparência harmoniosa e interior profundo” – Dizendo inclusive – “O Alcorão possui o ocultação e exteriorização, e, na sua ocultação há um esoterismo de sete mistérios.”

Os da linhagem do Profeta provenientes de “Ahel Al-Bait” (as), comentavam muito sobre o esoterismo e os mistérios do Alcorão.

E, a origem destes relatos, é pelo que se assemelha às Revelações de Deus Supremo, tal como se menciona na Surat Arraad, onde se comparam as torrenciais celestiais com a chuva:

<<Fez descer do céu as águas, e então fluíram rios nos vales, fazendo com que sua corrente se arraste em espuma flutuante. Também os metais que os homens fundem no fogo com vigor para a fabricação de utensílios e ornamentos, produzem espuma igual. Assim Deus evidencia o verdadeiro e o falso, porém, a espuma desvanece-se, o que beneficia as pessoas, e então, permanece na Terra. Assim pois, Deus exemplifica os fatos.>> Surat Arraad – Capítulo 13, Versículo 17.

Este Versículo exemplifica a capacidade do homem em aprender os conhecimentos divinos que iluminam os espíritos, dando-lhes uma vida mais feliz. Há os que não se atêm a esta essência da vida e não lhe dão o devido valor. Importam-se tão somente com o materialismo da vida, o que gera neles o egoísmo cego.

O objetivo de aceitação dos conhecimentos celestiais, é de se chegar a admitir o conjunto de normas de crença islâmica, vista e adotada externa e internamente, e, em seguida, à adoração de Deus Majestoso, na esperança de se alcançar a Sua clemência e de ter-se consciência do temor ao castigo.

Existem pessoas que, pela pureza de sua formação, não se importam com os prazeres materiais deste mundo, por serem efêmeros passageiros, contentando-se com aquilo que elas necessitam em sua vida material e temendo tudo que é ilícito nela.

Estas pessoas, na verdade, de corações isentos dos prejuízos mundanos, seguem o caminho da vida eterna, olhando o mundo, em suas diversas faces como quimeras que se registram.

Quando as portas do conhecimento se lhes abrem, descortinando-lhes os mistérios da Terra e dos Céus, infiltrando em suas almas luzes inextinguíveis do Criador, e suas mentes se deslumbram com a beleza da Criação, seus espíritos então, entrarão no espaço infinito do Mundo da Eternidade.
E quando ouvem, pela Revelação divina, que Deus proibiu a adoração das imagens e o ajoelhar-se diante de estátuas, perceberão que a adoração só é devida a Deus e somente a Ele, porque a verdade da adoração é plena e irrestrita e que a esperança e o temor só residem em Deus e provém d’Ele, e que jamais deverão se entregar às tentações.

Com isso, evidenciam-se os dois aspectos do Alcorão: o exotérico, ou aparente; e, o esotérico, ou a parte hermética… E mais, que um não anula o outro… Pelo contrário… eles se completam, como a alma que dá vida ao corpo.

E como o Islam é uma religião abrangente e eterna, preocupa-se, primeiro e antes de tudo, com o bem-estar social, não desconsiderando as mais simples crenças tidas como as guardiões dessas normas.

Como pode uma sociedade atingir a felicidade se considerar que basta a ociosidade do homem, sem interesse pelo trabalho, numa vida cercada pela desorganização?!

Como é possível que uma mente perturbada e pensamentos doentios cheguem a criar corações puros e inteligentes, ou que surja em coração compreensivo, palavras nocivas?!

Deus revelou em Seu poderoso Livro: <<… e as puras para os puros, e os puros para as puras…>>
Surat Annúr – Capítulo 7, Versículo 26.

E também:

<<E da terra fértil brota sua vegetação com a permissão de seu Senhor, e do maligno resulta a infâmia…>> Surat Al-Aaráf – Capítulo 7, Versículo 58.

Assim, a confirmação a que se chega, é que o Alcorão possui os dois aspectos: o externo e o interno, e que este último tem escalas diversas, e que o meio para sua compreensão reside no relatos da Tradição (Al-Hadis).

Interpretação do Alcorão

Como era sabido e notório entre os nossos irmãos sunitas, no começo do Islam, a possibilidade de se conhecer o exotérico do Alcorão era certa. E quando alguma dúvida surgia, relativa a uma parte, em confronto ao Versículo, a interpretação, chamada “Ta’Uíl”, se fazia.

E tudo que era previsto nos livros sunitas, onde a solução às aparentes divergências exotéricas do Alcorão, era entregue aos dirigentes das seitas que buscavam nos Versículos o resultado almejado. Ainda ocorria, por vezes, quando assim mesmo, persistia a divergência racional entre as partes, cada uma submetia à outra o seu ponto de vista para a interpretação.

Esse tipo de divergência na interpretação, não afetou os xiitas, pois tanto seus livros religiosos, os Versículos e tudo o que contém no Alcorão, assim como toda a doutrina dos familiares do Profeta (saws), provenientes de “Ahel Al-Bait” (as), são de clareza meridiana e singela, estando ao alcance de todos, não havendo obscuridade que venha permitir que haja dúvidas ou dubiedade de sentidos.
O que o Alcorão preconiza com a palavra Interpretação (Ta’Uíl), não é análise superficial, e sim, a busca dos verdadeiros fundamentos da essência religiosa e da fé, o que não está ao alcance de todos.

Sim, para todos os Versículos corânicos existe uma Interpretação (Ta’Uíl) própria, que não se atinge com a simples leitura das expressões. A verdadeira Interpretação só é dada aos Profetas e aos puros crentes… àqueles que se libertam do materialismo e dos prejuízos do mundo, os quais têm poder de, com um simples olhar, atingir a essência. Na verdade, o Alcorão será verdadeiramente compreendido, no Dia do Juízo Final.

Sabemos perfeitamente que as necessidades da sociedade material levaram o homem aos termos e colocação das palavras, e com isso, ordenar as expressões e seu aproveitamento. O homem, em sociedade, tem necessidade de transmitir o seu pensamento a seu semelhante e usa, para tanto, em seus diálogos, a voz e o ouvido, utilizando muito pouco o gesto e o movimentos dos olhos. Logo, constatamos que o diálogo não se produz entre um cego e um surdo-mudo, pois o que diz o cego não é captado pelo surdo-mudo e os movimentos de expressão manual deste, não são vistos pelo cego.

Assim sendo, a colocação dos termos e nomeação das coisas, não é nada mais do que atingir as necessidades materiais concretas que se captam pelos sentidos ou através do sensitivo. Se faltarem os sentidos próprios a alguém com quem pretendemos dialogar, recorremos à simbologia e ao gesto, como por exemplo, se quisermos demonstrar o que é e como é a luz a um cego de nascença, ou se pretendemos explicar a uma criança as delícias do corpo, lançamos mão da analogia e da simples comparação.

Considerando que há no Universo também, realidades imateriais cuja compreensão e assimilação só estão ao alcance de um número ínfimo de pessoas, que não atinge talvez, o número dos dedos de um homem, e a demonstração dessas realidades não se pode fazer com palavras e sim pela analogia e pelo simbolismo.

O Alcorão Sagrado menciona as seguintes Revelações:

<<Nós o fizemos um Alcorão arábico, a fim de o compreendais, e na verdade, ele é considerado a Mãe dos Livros diante de Nós, tendo plena sabedoria.>> Surat Azukhruf – Capítulo 43, Versículos 2 e 3.

Isto significa que a compreensão comum não o alcança nem o abrange.

E Deus Todo Poderoso revelou também:

<<Ele é um Alcorão honorabilíssimo, e um Livro bem protegido, não o toca senão os purificados.>>
Surat Al-Wáqui’ah – Capítulo 56, Versículos 77 a 79.

Deus inclusive, revelou sobre o nobre Profeta Mohammad (saws) e sobre “Ahel Al-Bait” (as), o seguinte:

<<… pois Deus só deseja remover de vós a abominação ó Ahel Al-Bait e purificar-vos integralmente.>> Surat Al-Ahzáb – Capítulo 33, Versículo 33.

Conforme as indicações destes Versículos, o Alcorão Sagrado surge de forma que incapacita a compreensão das pessoas comuns, por mais que insistissem chegar até ele, e só poderão assimilá-lo integralmente os leais, puros e abnegados, e Seus bondosos Santos; e “Ahel Al-Bait” (as) são os mais credibilitados e confiáveis.

Eis que encontramos no Alcorão:

<<Pois eles falsificaram o que não alcançaram a sua compreensão, mesmo que sua interpretação não se lhes chegara. Igualmente, os que antecederam-nos também degeneraram, porém, veja qual foi o fim dos injustos!>> Surat Yúnes – Capítulo 10, Versículo 39.

Isto significa que, as coisas serão vistas como realmente elas são, no Dia da Ressurreição.

<Acaso eles esperam algo além da comprovação do evento? No dia em que chegar o seu desempenho, aqueles que o tinham desdenhado dirão: ‘Os Mensageiros do nosso Senhor vieram pela verdade! Haveria para nós intercessores a fim de intercederem por nós? Ou devemos retornar para agirmos de modo diferente ao que fazíamos?’ Mas eles já perderam suas almas e tudo o que forjaram se desviou.>> Surat Al-Aaráf – Capítulo 7, Versículo 53.

Continuação da Pesquisa Sobre a Tradição <<Hadís>>

Em se considerando a autenticidade da Tradição (Hadís) e o que o Alcorão Sagrado afirma… os xiitas e demais seitas islâmicas os reconhecem, porém, o rastro da deterioração cometida pelos Governantes, nos albores do Islam, e o desperdício que houve por parte dos Companheiros (Sahába) e seus seguidores na divulgação das Tradiçoes (Ahádis), levaram a tristes e lamentáveis resultados.

De um lado, os Califas daquele tempo proibiram a escrita doutrinária e sua publicação, determinando a queima de tudo o que se encontrava à respeito, e muitas vezes vedavam a transmissão verbal. Isso fez com ocorressem muitas alterações, modificações e omissões, passando a serem copiadas de acordo com as garantias que ofereciam.

Por outro lado, os Companheiros do Profeta (saws) (Sahába) que assistiam a ouviam a sua doutrinação, e que eram respeitados pelos Califas e pelos muçulmanos na ocasião, expandiram os ensinamentos da Tradição (Hadís) até que, involuntariamente tornaram-se mais importantes do que o Alcorão… o que às vezes a Tradição transcrevia um de seus Versículos(1).

Havia inclusive pessoas que transcreviam os relatos da Tradição, vindas de lugares distantes, enfrentando todo tipo de dificuldade no caminho durante suas viagens, só para ouvir um relato.
Havia também alguns não muçulmanos ou, inimigos do Islam, que se infiltravam entre os muçulmanos e, adotando suas características, saíam, pregando os relatos da Tradição (Hadís) deturpando-os sutilmente, até fazê-los caírem do conceito de muitos, abalando-lhes a fé.
Por este motivos, os eruditos e pensadores muçulmanos decidiram pôr fim a tais atrocidades, buscando uma solução através de dois métodos: o ensino dos homens e o ensino pela investigação, a fim que sejam distinguidos os relatos verdadeiros dos falsos na Tradição Hadís).
Além do mais, os xiitas sempre procuraram aperfeiçoar as escrituras da Tradição (Hadís), observando se as razões estão compatíveis com o Alcorão Sagrado e se há veracidade nisso.
Houve muitos relatos, através de coletâneas absolutas, oriundas dos xiitas, sobre o nobre Profeta (saws) e os Imames procedentes de “Ahel Al-Bait” (as), de que a Tradição (Hadís) não condizente com o Alcorão, não tem crédito, e só o teria, a Tradição (Hadís) compatível com ele. Contudo, não se nega que há entre os xiitas, assim como entre os sunitas, pessoas que, mesmo assim, pautam por esses falsos sermões.

1. A transcrição de versículos corânicos nos relatos da Tradição (Hadís) era um dos assuntos do Conhecimento dos Regulamentos, apoiado por um grupo de eruditos sunitas, o que se evidenciou na questão “Fadac”, quando da desaprovação das terras pertencentes à Fátima “Azzahrá” (as) por ordem do 1o. Califa.

Os Xiitas e a lida na Tradição <<Hadís>>

As pregações do grandioso Profeta (saws) e dos Imames procedentes de “Ahel Al-Bait” (as), sem intermediação, são ditames e normas do Alcorão Sagrado; porém, em se tratando dos relatos da Tradição (Hadís) que nos chegam por outros meios, os xiitas se comportam conforme o seguinte:
No que se relaciona com os assuntos convictos que o Alcorão aprova, necessita-se de estudo absoluto sobre os relatos intensificados ou até sobre os relatos cujos testemunhos irrestritos… porém, o relato que se denomina de “único relato”, este não se leva em consideração.

No entanto, na criação de prudências legais, em vista às indicações relacionadas, as quais são preferenciais aos relatos intensificados ou absolutos, nesse caso, os xiitas investigam o chamado de “único relato” se este for subscrito e autenticado.

Nesse caso, o relato intensificado e o relato absoluto, na opinião dos xiitas, merecem ser levados em consideração e serem seguidos, mas, o relato não absoluto – que é o “único relato” – não tem validade caso não tiver sido autenticado por alguma autoridade na questão e ser ligado às sentenças legais.

O Estudo e o Ensino Geral no Islam

O magistério é uma profissão religiosa no Islam, e a melhor prova disso, é a frase do Profeta Mohammad (saws):

– “A busca do saber é dever de todo muçulmano e toda muçulmana.”

E, de acordo com os relatos apoiados pelos testemunhos, a procura do saber é o conhecimento dos três Regulamentos da Religião, que são: A Unicidade de Deus – A Profecia – O Dia do Juízo Final… além de, paralelamente ter conhecimento sobre as Prudências e Leis Islâmicas de forma explícita em cada item de sua necessidade.

É claro que à todos é dado chegar ao conhecimento dos princípios da religião, porém, a interpretação das Leis e Normas religiosas depende de maior aprofundamento e maior cultura e, por isso, não está ao alcance de todos. Alguém, portanto, certamente que consegue cumprir essa incumbência.

O Islam não institui leis onde possa haver dúvidas; portanto, para alcançar o conhecimento das Prudências e Legislações religiosas, deve-se seguir as indicações consideradas suficientes pelos detentores do saber e da capacidade. Aos demais, impõe-se a obediência às normas criadas pelos teólogos denominados “Os Estudiosos Eruditos”, ou seja, “Al-Mujtahedín Al-Fuqahá”, isto é, “Attaqlíd”, o que significa, a extração das informações islâmicas, e isto não figura nos Regulamentos da Religião!

O que se vislumbra, é que os xiitas não seguem os princípios da “Aplicação” de um erudito já falecido… e aquele que não conhece a questão pelo sistema de “Aplicação”, deverá procurar os princípios do “Estudioso Erudito” e não seguir os do já falecido, mesmo que o atual ainda não tenha aplicado a questão, e assim por diante, e isto faz com que a erudição islâmica xiita se destaque por seus dinamismo na solução e aplicação das questões, o que requer grande esforço e sapiência para o alcance dos objetivos, através da extração das informações (do Alcorão e dos Preceitos do Mensageiro de Deus (saws)) que se denomina por “Aplicação” ou “Attaqlíd”.

Os nossos irmãos sunitas, após a reunião ocorrida no Quinto século Hijrita (Século Onze a.d.) e que resultou na obrigação de se seguirem os quatro filósofos de então: Abu Hanífa – Al-Máliki – Al-Cháfii e Ahmad Ben Hânbal, não admitem a “Aplicação” senão a estes quatro sábios.

Desta forma, a sua filosofia permaneceu como era há mil e duzentos anos aproximadamente e, finalmente, alguns se afastaram, indo viver a chamada “Livre Sabedoria” ou “Livre Aplicação”, isto é “Al-Ijtihád Al-Horr”.

O Xiismo e os Conhecimentos Transcritos

A cultura islâmica, fruto do trabalho dos eruditos religiosos muçulmanos, dividi-se em duas categorias: a Intelectual e a Translativa… Esta última, compreende os idiomas, a história, as palestras, etc… enquanto que a Intelectual condensa a filosofia, a metafísica e a matemática.
Sem dúvida, o impulso original para o aparecimento dos estudos Translativos no Islam, é o Alcorão Sagrado, exceto dois estudos: o estudo da História e da Genealogia, e, o estudo da Métrica(1). Os demais ensinamentos, nascem deste Livro Divino.

Os muçulmanos registraram estes estudos pela sua persistência religiosa, dentre os quais cuja importância são: a Literatura Árabe, o estudo da Gramática, o estudo da Eloqüência, o estudo da Língua e tudo que se liga ao exoterismo religioso islâmico, tal como a arte de Ler e de Interpretar, a arte do Diálogo, a arte da Eminência e do Conhecimento, o estudo dos Regulamentos e da Erudição.

Os xiitas têm seu papel preponderante na introdução e aperfeiçoamento desses estudos, e pode-se afirmar que, os pioneiros eram na maioria xiitas, tal como podemos verificar na Gramática, a qual foi especificada e aprimorada por Abu Al-Assuad Addualy, um dos Companheiros do Profeta Mohammad (saws) e do Imám Ali Ben Abi Táleb (as), que o tinham em grande estima e consideração… Não menos digno de apreço, outro dos Companheiros, Ben Ibád o Xiita, reputado como um dos grandes iniciadores do estudo da Oratória e da Eloqüência, o qual fora um dos Ministros da dinastia dos Buwayhidas. O primeiro livro especificado no ensino da língua árabe, intitulado <<Quitáb Al-Áin>>, obra prima literária do grande e famoso sábio, “O Óptico Xiita”, o qual instituiu o estudo da Métrica e foi professor no estudo da Gramática.

Ninguém pode negar o esforço e sacrifício conferidos aos descendentes do Profeta Mohammad (saws) provenientes de “Ahel Al-Bait” (as) e seu xiismo, no que se refere ao empenho nos ensinamentos da Tradição (Hadís) e da Eloqüência… Aliás, a conexão dos quatro eruditos (Abu Hanífa, Al-Máliki, Al-Cháfii e Ahmad Ben Hânbal) e outros filósofos como os dois imames xiitas da linhagem do Mensageiro, que são: o 5o. Imám Mohammad “Al-Báquer” e o 6o. Imám Jaafar “Açádeq” (pelo período de 67 a 148 Hijrita * 686 a 768 a.d.) é bem conhecida.

O que os xiitas conseguiram, em se tratando de progresso nos Regulamentos da Eloqüência, no tempo de Al-Wahíd Al-Bahbaháni (morto em 1205 Hijrita * 1820 a.d.), particularmente ao tempo do Sheikh Mortada Al-Ansári (morto em 1281 Hijrita * 1896 a.d.) é impressionante e nunca alcançado por nossos irmãos sunitas nos Regulamentos da Eloqüência.

Nota da Tradutora Complementar:

1. O estudo da Métrica é o conjunto de regras relativas à composição de versos, pré-estabelecidas para cada espécie.

2° Caminho – As Teses Intelectuais

** O Pensamento Intelectual, Filosófico e Expressivo **
** Extensão do Progresso dos Xiitas no Pensamento Filosófico e Expressivo no Islam **
** Os Xiitas Sempre se Esforçam no Campo da Filosofia e Outras Ciências Intelectuais **
** Por que a Filosofia Permaneceu Entre os Xiitas? **
** Cinco dos Destacados Sábios Xiitas **

O Pensamento Intelectual, Filosófico e Expressivo

Nós apontamos anteriormente, que o Alcorão apóia e incentiva a atividade intelectual do homem, considerando-a parte do pensamento religioso… E esta atividade, confirmando a profecia do grandioso Profeta Mohammad (saws), faz com que o exoterismo do Alcorão, com a inspiração divina e os sermões do Mensageiro de Deus (saws) e de seus descendentes provenientes de “Ahel Al-Bait” (as), seja uma fonte de constatação intelectual, na qual o homem confirma seus entendimentos e, ma qualidade inata divina, esta fonte se distingue em duas partes: o Argumento e o Debate.
O Argumento – A motivação é tirada de acontecimentos reais, mesmo não vistos, ou em outros termos, questões percebidas pelo homem em sua vida, pela sua qualidade de um ser racional. Por exemplo: Sabemos que o número três é menor que o número quatro. Este tipo de raciocínio chama-se Atividade Intelectual… e se essa atividade for aperfeiçoada a nível superior e dirigida à pesquisa e estudo do início da Criação (do mundo), teremos o que se chamaria de Atividade Intelectual Filosófica.

O Debate – Para a análise do assunto submetido, recorre-se a testemunhos e à simbologia, como é hábito entre os adeptos das religiões e seguidores de seitas. Partem sempre do ponto de vista das respectivas crenças, observando seus normas e regulamentos.

O Alcorão Sagrado engloba estes dois métodos acima mencionados… Aliás, há muitos Versículos neste Livro Celestial, pertinentes aos dois temas:

Primeiro – Determina para se ter pensamento livre e abrangente sobre a natureza em geral e sobre a ordenação global do mundo em que vive o ser humano e, também, sobre as partes que compõe o todo, como o céu, as estrelas, a noite, o dia, a terra, as plantas, os animais, o homem, etc…

Segundo – Ordena o pensamento analítico, isto é, o racional na análise, na discussão temático-dialética, desde que conduzida de forma harmoniosa, de maneira se provar o direito, sem que se firam sensibilidades, como Deus recomenda em Seu Livro Sagrado:

<<Convoca à senda de teu Senhor com prudência e bom diálogo e debata com eles da melhor forma…>> Surat Annahl – Capítulo 16, Versículo 125.

Extensão do Progresso dos Xiitas no Pensamento Filosófico e Expressivo no Islam

Desde que a minoria xiita se separou da maioria sunita, os xiitas passaram a debater com seus opositores sobre os pontos de vista que eles adotavam, próprios deles unicamente.

É bem verdade que as divergências têm dois extremos que ligam os antagonistas, porém, os xiitas tinham a oposição de desafiantes e os outros de defesa… e quem se posiciona como desafiante, sem dúvida deverá já ter preparado os meios suficientes para o debate, para em seguida investir.
O progresso alcançado nas pesquisas e debates orais de forma gradual, durante o Segundo e princípio do Terceiro século Hijrita (Séculos Oito e Nove a.d.) atingiu seu apogeu, pois os sábios xiitas e seus instrutores, os quais foram os discípulos das escolas dos descendentes de “Ahel Al-Bait” (as), estavam sempre na dianteira dos adversários.

Todos os oradores sunitas, sejam notificantes ou separatistas, acabam chegando em suas graduações até o 1o. Imám xiita Ali Ben Abi Táleb (as), porém os que conheceram os relatos dos Companheiros (Sahába), sabem perfeitamente que de todos os vestígios atribuídos à eles (tendo-se em registro doze mil deles), não se encontra um que se conexa ao pensamento filosófico, exceto o Imám Ali (as), o qual, em sua mensagem e belas-letras fantásticas sobre o conhecimento de Deus Supremo, destaca-se pela sua profunda filosofia.

Nos dois primeiros séculos hijritas (Séc. VII a.d.), os Companheiros (Sahába) e seus seguidores… inclusive os árabes de modo geral na ocasião, não possuíam algum pensamento filosófico livre, enquanto que, podia-se encontrar nas palavras graves do Imames xiitas, principalmente do 1o. Imám Ali Ben Abi Táleb (as) e do 8o. Imám Ali Ben Mussa “Al-Reda” (as), verdadeiros tesouros de pensamentos filosóficos, os quais os transmitiram a seus discípulos.

O árabes permaneceram distantes do pensamento filosófico até o aparecimento da tradução de alguns livros da filosofia grega, passados à língua árabe no início do Segundo século hijrita (Século VIII a.d.). Depois, diversas outras obras filosóficas traduzidas do grego e do aramaico para o árabe, no início do Terceiro século hijrita (Século IX a.d.), o que facultou e facilitou esses conhecimentos, pondo-os ao alcance de todos. Mesmo assim, muitos eruditos e oradores não deram muito valor à filosofia e demais estudos intelectuais que chegavam a eles ainda recentemente, e isto foi devido à falta de incentivo, e até, a certas restrições impostas pelos Governos da ocasião.

Decorridos tempos, a situação se modificou e vieram proibições veementes do cultivo da filosofia, inclusive, os livros eram lançados ao mar, a exemplo do livro alusivo às “Cartas da Fraternidade de Al-Çafá”, ou seja, “Rassá-El Ekhuán Açafá”, de autoria de diversos pensadores, o que vem a ser a prova da insensatez e da instabilidade emocional daquele tempo. Depois disto, em princípios do Quarto século hijrita (Século X a.d.), a filosofia se propagou pelas mãos de Abi Nassr Al-Farabi que difundiu no Islam a filosofia de Aristóteles, e, no início do Quinto século hijrita (Século XI a.d.), com os esforços do filósofo Abi Ali Ibn Sina(1), essa ciência atingiu grande expansão. No Sexto século hijrita (Século XII a.d.), o Sheikh Sahrurdi criou <<A Filosofia do Esplendor>>, o qual foi assassinado por isso, por ordem do Governador Saláh Edin Al-Ayúbi (Saladino I)… depois do que, a filosofia entrou numa fase de decadência até o Sétimo século hijrita (Século XIII a.d.), quando então, na Andaluzia(2), nos limites dos Estados Islâmicos, o pensador Ibn Arruchd Al-Andaluci(3), o qual reativou os estudos filosóficos.

Nota da Tradutora Complementar:

1. Ibn Sina, ou seja, Avicena, médico e filósofo iraniano, cognominado por “O Príncipe dos Médicos”, nasceu em Asfahán no ano 980 a.d. e morreu em Hamadán no ano 1037 a.d. Ele foi um dos homens mais notáveis do Oriente pela extensão de seus conhecimentos. Entre outras de suas obras, destacamos <<A Filosofia Iluminativa>>.

2. Região ao sul da Espanha, dividida em oito Províncias: Al-Meria, Cádiz, Córdoba, Granada, Huelva, Jáen, Málaga e Sevilha. Os árabes ocuparam a Andaluzia (Al-Andalus) de 711 a.d. até 1492 a.d., criando aí uma brilhante civilização.

3. Ahmad Ibn Arruchd, ou seja, Arrazi, historiador hispano-muçulmanos, autor da <<Geografia e História da Andaluzia>>.

Os Xiitas Sempre se Esforçam no Campo da Filosofia e Outras Ciências Intelectuais

Os xiitas, como já foi dito, foram os precursores do pensamento filosófico, dando muita importância à evolução desse pensamento, e sempre se esforçaram para a expansão da ciência intelectual.
Depois da morte de Ibn Arruchd (Arrázi) a filosofia desapareceu entre a maioria dos sunitas, o que não aconteceu entre os xiitas. A seguir, muitos filósofos se destacaram, a exemplo de Khawája Nassir Edin Al-Tússi, Chams Edin Mohammad Turkeh, Mirdamád e Sadr Al-Muta-ahhelin, e cada um desses eruditos, contribuiu para a evolução da ciência filosófica.

Também nas demais ciências intelectuais se destacaram Khawája Al-Tússi, Albert Jundi e outros… Todos estes conhecimentos, particularmente a filosofia teológica, progrediram de forma sólida e penetrante, graças à dedicação e esforços dos pensadores xiitas.

Por que a Filosofia Permaneceu Entre os Xiitas?

O principal fator que fixou em definitivo o pensamento filosófico e o fez expandir-se, foi graças aos Imames xiitas e seus mestres, tornando-o um dos tesouros culturais do xiismo, e, a propagação posteriormente alcançada é devida precisamente, a essas relíquias cultivadas e deixadas pelos xiitas, que as consagravam.

Estes tesouros culturais se comparam aos descendentes do Profeta Mohammad (saws) provenientes de “Ahel Al-Bait” (as) cujas obras filosóficas que foram surgindo no decorrer dos tempos.

Evidentemente, nós vimos que a filosofia se aproxima muito dessas relíquias culturais, ocorrendo isto até o nascer do Décimo Primeiro século hijrita (Século XVII a.d.), quando praticamente não havia nenhuma diferença essencial, notando-se apenas, pequenas diferenças de interpretações.

Cinco dos Destacados Sábios Xiitas

1) “Thiqat Al-Islam”(1) Mohammad Ben Yaaqúb Al-Kulaini, falecido no ano 329 Hjrita (909 a.d.), foi o primeiro sábio xiita que reuniu e organizou os temas da eloqüência e da teologia, das obras literárias xiitas, as quais estavam registradas em sua essência (que é a raiz do que o narrador coletou sobre as personalidades provenientes de “Ahel Al-Bait” (as) de forma específica) em um só compêndio, cuja obra tomou o título <<Al-Káfi>>, isto é <<O Suficiente>>, a qual se dividiu em três partes: “Os Regulamentos” (Al-Uçúl), “As Ramificações” (Al-Furú’) e “Os Prados” (Al-Mutaforqát, ou Corânicos), e abrange 16.1999 relatos da Tradição (Hadís), e este livro, <<Al-Káfi>>, é considerado uma das mais famosas obras sobre a Tradição no mundo do Xiismo.

E eis que existem mais três obras literárias depois do <<Al-Káfi>>, não menos valiosas, e que são: <<Men Lá Yahdorohu Al-Faquih>>, isto é, <<Aquilo que o Eloqüente não Assiste>> de autoria do Sheikh Açuddúq Mohammad Ben Babaweih Al-Qomi, falecido em 381 Hijrita (961 a.d.) – <<Attahzíb>>, ou seja, <<A Educação>> e <<Al-Istibçár>>, isto é, <<Em consideração>>, ambos de autoria do Sheikh Al-Tússi, falecido em 460 Hijrita (1040 a.d.).

2) Abu Qássem Jaafar Ben Hassan Ben Yuhai Al-Huli, conhecido como “Al-Mohaqqeq”, ou seja “O Pesquisador”, falecido no ano 676 Hijrita (1256 a.d.), tem lugar entre os destacados eruditos nos estudo da teologia e sendo um dos famosos sábios xiitas. Os livros <<O Resumo Útil>>, ou seja, <<Al-Mokhtaçar Annáfe>> e <<Os Dogmas>>, isto é, <<Achará-E’>>, foram os melhores que ele escreveu sobre a teologia, e desde de setecentos anos até hoje, esses livros são motivo de admiração e respeito entre os sábios e eruditos, que os têm al alcance da mão.

Dos livros que seguiram a obra intitulada <<Al-Káfi>>, de autoria de Al-Kulaini, há outra obra intitulada <<O Brilho Damasquino>>, ou seja, <<Allâmaa Addimachquiya>>, de autoria de pesquisador Chams Edín Mohammad Ben Maki, o primeiro mártir que morreu em Damasco, na Síria, no ano786 Hijrita (1366 a.d.) acusado por professar o xiismo. Chams Adin registrou seu livro em alto estilo, durante sete dias em que estivera no cárcere.

Outro livro intitulado <<Descerramento da Coberta>>, ou seja, <<Kachf Al-Ghattá>>, de autoria do Sheikh Jaafar Káchef El-Ghattá Al-Najafi, é considerado de suas melhoras obras.

3) O Sheikh Mortada Al-Ansári Al-Tastari, falecido no ano 1281 Hijrita (1861 a.d.), aperfeiçoou o estudo dos Regulamentos da Eloqüência e libertou os sistemas de suas normas operacionais, o que é de grande valia. Sua escola, ou seja, o seu estilo e método continuam valendo, sendo respeitados pelos sábios desde há mais de cem anos.

4) Khawája Nassir Edin Al-Tússi, falecido em 676 Hijrita (126 a.d.), e que foi o precursor da arte da Oratória, tem uma de suas mais famosas obras, rica em seu conteúdo, intitulada por <<Absorção da Palavra>>, ou seja <<Tajríd Al-Calám>>, obra esta de há mais de setecentos anos, ainda e continua sendo admirada pelo cultores da arte da oratória. Este livro já foi editado com inúmeras explicações e anotações pelos especializados no assunto.

Além de ser um privilégio no estudo da expressão, ele é considerado um dos mais destacados de sua época no estudo da filosofia e da matemática, e, o melhor testemunho disto são as diversas obras importantes que ele produziu, com variados temas intelectuais… inclusive, ele construiu um observatório.

5) Sadr Edin Mohammad Al-Chirázi, nascido no ano 979 Hijrita (1559 a.d.) e falecido em 1050 Hijrita (1630 a.d.). Foi o primeiro filósofo a classificar e organizar os temas filosóficos e matemáticos (depois de dispersos por séculos na era islâmica), obtendo os seguintes resultados:

Primeiro – A abertura de espaço para que a filosofia fosse colocada e discutida a fim de que centenas de questões fossem resolvidas. Este espaço não existia antes.

Segundo – A facilidade proporcionada para a exposição de questões racionais (o que se considerava, até então, fora da lógica e acima do nível intelectual do homem), sua pesquisa e análises, da melhor forma.

Terceiro – Muitas questões religiosas e expressões filosóficas e profundas dos Imames descendentes do Profeta Mohammad (saws) e provenientes de “Ahel Al-Bait” (as), as quais permaneceram por séculos indecifráveis, sendo descritas de forma análoga, o que não teria fundamento, e por isso era consideradas pela maioria, como questões assimiladas. Por conseguintes, os exoterismos religiosos islâmicos, acabaram alcançando o conhecimento e a filosofia na maior parte dos recursos, ficando em um mesmo método.

Entretanto, houve quem se dedicasse à esta incumbência antes de Sadr El-Muta-ahhelín, tais como o Sheikh Assahrurdi, autor do livro <<Hikmat Al-Achráq>>, ou seja, <<A Prudência do Esplendor>>, e Chams Edín Mohammad Turkeh, ambos dos filósofos do Século Seis Hjrita (Século XII a.d.), os quais se empenharam em estudos frutíferos, sem no entanto conseguirem um sucesso total, sendo porém, alcançado por Sar El-Muta-ahhelín.

Sadr El-Muta-ahhelín teve sucesso por seguir essa metodologia ao confirmar o ponto de vista do movimento substancial, descobrindo “a quarta dimensão” e “a teoria comparativa” (fora da lógica mental e intelectual); ele especificou mais de cinqüenta obras, entre livros e cartas, sendo o seu mais importante livro filosófico é o <<As Escrituras>>, isto é, <<Al-Asfár>> composto por 4 Volumes.

Nota da Tradutora Complementar:

1. “Thiqat Al-Islam” significa “A Confiança no Islam”.

3° Caminho – O Manifesto

** O Homem e sua Compreensão nos Reconhecimentos **
** A Constatação dos Reconhecimentos no Islam **
** Diretrizes do Livro (Alcorão) e do Preceito (Sunna) para o Conhecimento da Alma e seus Métodos **

O Homem e Sua Compreensão nos Reconhecimentos(1)

Ao tempo em que a maioria das pessoas luta pela sua sobrevivência, para prover suas necessidades diárias, sem se importar com os valores morais, pois há neles um instinto que se chama “instinto do amor próprio”, que neles de desenvolve, levando-as à percepção de uma série de questões psicológicas.

Todo homem (apesar dos sufistas e similares denominam toda verdade e todo incidente por superstição) crê em fato concretos, e vemo-lo por vezes, observar por sua natureza e consciência as ocorrências reais no Universo, isto de um lado… e, de outro lado, sente que parte deste mundo se extingue, pois ele percebe o mundo como um espelho que destorce os fatos e valores incontestes… e quando ele capta suas delícias, os demais prazeres tornam-se insignificantes sob seu ponto de vista, o que o leva a se afastar das atrações transitórias da vida.

Esta é a intensidade da atração pelo reconhecimento que leva o crente a um mundo superior, enraizando em seu coração a grandeza de Deus e Sua Majestade, fazendo-o distanciar-se das coisas do mundo, e esquecê-las, vivendo para a adoração de Deus, que não se vê, mas que está presente em tudo o que se vê e se ouve.

Em verdade, essa atração secreta é a que proporciona ao homem o amor a Deus Todo Poderoso, e o consciente ama-O com fervor e sinceridade, sem ser movido pelo egoísmo nem pelo medo. Conclui-se daí, que o reconhecimento não é uma religião entre outras, mas um caminho que leva à adoração (adoração pela fé sincera e não pelo medo ou por interesse). É o caminho da compreensão e da constatação da verdade das religiões, comparado ao caminho do exoterismo religioso e da meditação.

Todas as religiões divinas, e até as pagãs, têm seus adeptos, os quais adotam também este caminho… Portanto, seja no Paganismo, Judaísmo, Cristianismo, Zoroastrianismo ou Islamismo, existem pessoas informadas e pessoas desinformadas.

Nota da Tradutora Complementar:

1. É quando se admite a legitimação e sua veracidade.

A Constatação dos Reconhecimentos no Islam

Entre os Companheiros (Sahába) do nobre Profeta (saws) (dos quais a história cita-os aproximadamente doze mil), o Imám Ali Ben Abi Táleb (as) se distingue entre todos por suas belas-letras que transmitem o reconhecimento e as etapas psicológicas da vida, por conter plenas preciosidades. Aliás, não se encontra quem se lhe compare, nos registros que temos ao nosso alcance, entre os demais Companheiros (Sahába).

Os mais famosos Companheiros e discípulos do Imám Ali (as) foram: Salmán Al-Fárisi – Ouaiss Al-Qorni – Kuwail Ben Ziád – Rachíd El-Hidjri e Mâitham Attammár.

Os sábios muçulmanos em geral, consideram-nos Imames e seus guias espirituais.
Outro grupo desses Companheiros, que estão em segunda categoria, são: Táwúss Al-Yâmani – Málek Ben Dinár – Ibrahim Al-Âdham e Chaquíq Al-Balakhi, os quais surgiram no século Dois da Hidjra (Século Oito a.d.) e que eram conhecidos por seus desprendimentos e homens santos de Deus (Ouliá Allah), sem se ostentarem por seus reconhecimentos e seus sufismos… Contudo, eles não negavam a sua ligação e intensidade de suas influências com do primeiros grupo.

Um terceiro grupo apareceu no fim do Segundo século Hijrita (Século Oito e Nove a.d.), como Báyazí Al-Busttâni – Al-Marrouf Al-Carakhi – Junaid Al-Baghdádi e outros e adotaram o caminho da compreensão e se ostentam pelo reconhecimento e pelo sufismo, tendo ditos com a extensão das revelações por eles encontradas, as quais eram provocantes ao ponto de incitarem a revolta e a indignação dos eruditos e pensadores naquela ocasião, originando uma série de querelas, levando alguns deste terceiro grupo às prisões e outros à forca.

Mesmo assim, mostraram-se obcecados pelo radicalismo e fanatismo diante de seus opositores, fazendo com que o seu sistema se expandisse e se propagasse cada vez mais até chegar ao seu apogeu nos séculos Sete e Oito na Hidjra (séculos Treze e Catorze a.d.), apesar de vez ou outra, ora avançava e ora recuava, tendo suas raízes ainda vivas até os nossos dias.

Conforma as evidências, a maioria dos teólogos especializados no reconhecimento, os quais eram mencionados nos livros dos Reconhecimentos era sunitas, e o método que assistimos hoje (e a qual abrange um de todos hábitos e tradições e que não se lhes encontra bases no Alcorão e no Preceito) nos lembra aqueles dias, mesmo que alguns daqueles costumes e tradições tenham passado aos xiitas.

É como se diz, eles (os teólogos especializados no reconhecimento) acreditavam que o Islam necessitava de um método e um comportamento a seguir, e os muçulmanos já conseguiram atingir o conhecimento da alma, o qual é admitido pelo Criador Protetor e Majestoso, tal como ocorre na vida monástica entre os cristãos, mesmo que não houvesse fundamento para isso na catequese cristã, os cristãos a adotaram como sistema. Deus revelou o seguinte:

<<…e a vida monástica que inventaram, Nós não a prescrevemos a eles, apenas é para comprazerem a Deus…>> Surat Al-Hadíd – Capítulo 57, Versículo 27.

Presume-se do que se antecipou, que os teólogos dessa metodologia fizeram de tudo o que constataram benéfico nos usos e costumes, como sendo um método e um comportamento a ser seguido obrigatoriamente por seus adeptos e, com o passar dos tempos, tornou-se um caminho largo e independente, tal como a obediência e a submissão, a música e as canções nas cerimônias.

Alguns desses grupos, chegaram a separar o dogma para um lado, e o método para outro lado… e os adeptos dessa metodologia passaram para o sistema da seita “Al-Bátiniya”.

Entretanto, o ponto de vista dos xiitas, com base em fontes sólidas do Islam (que são o Alcorão é o Preceito “Sunnah”) é oposto a isto, pois é impossível que os textos religiosos tenham se descuidado desta verdade, ou tenham negligenciado um dos lados do sistema e do método, ou ainda, tenham fechado os olhos às obrigações e deveres de qualquer pessoa, seja quem for.

Diretriz do Livro e do Preceito para o Conhecimento da alma e Seus Métodos

Deus Glorioso, ordena a todos, em diversos Versículos de Seu Livro Sagrado (Alcorão), a seguirem-no e a não se conformarem com a compreensão, apenas, do exotérico do Alcorão, mostrando que o mundo da natureza, sem exceção, com tudo o que possui, é prova e sinais de Sua Presença.

Se meditássemos e empregássemos o significado do Versículo e suas evidências, esclarece-se de que o Versículo e a evidência em si apontam para outro sentido e não o deles próprios… por exemplo: aquele que vê a luz vermelha, indicadora do perigo, tem sua mente assaltada pelo perigo em si e não se fixa na luz em si, pois se ele se atém apenas, à luz ou a cor do farol que a projetou, sua mente só registra o vidro ou a cor, e não se lhe projeta o sentido do perigo.

Então, se o mundo e suas aparências são versículos e evidências do Criador, essa existência não seria independente, mesmo se for vista de qualquer ângulo ou sob qualquer aspecto, porque ela sempre acaba se direcionando a Deus Glorioso!

E aquele que olha para o mundo e o Universo por este prisma e de acordo com os ensinamentos do Alcorão Sagrado e sua orientação, só constata a presença de Deus, louvado seja… e, em vez de ver a beleza do mundo, ele vislumbra uma beleza transcendental, infinita e eterna, imediatamente, o homem se esquece de si e se entrega ao amor de Deus Majestoso!

Essa constatação não se alcança pelos sentidos, como a visão e a audição, e nem através da imaginação e da mente, porque elas não passam de simples sinais e evidências, por estarem inadvertidas sobre estas orientações e evidências.

Quem segue por este caminho, evidentemente que se esquecerá de tudo exceto de Deus Supremo, e quando ouve a Sua revelação que diz:

<<Ó vós que crestes, não sereis prejudicados se souberdes se conduzir, pois o vosso retorno será a Deus e Ele vos notificará sobre o que estiveres sabendo.>> Surat Al-Má-eda – Capítulo 5, Versículo 105.

Saberá que a principal senda que o levará à orientação perfeita, é o caminho da alma humana, a verdadeira diretriz será o próprio Deus Altíssimo, que o incumbiu no conhecimento de mesmo e seguir nesta vereda, deixando de lado outros meios para se chegar a Deus, o Qual atenderá aos seus anseios.

O nobre Profeta Mohammad (saws) disse:

– “Aquele que conheceu a si mesmo, conheceu o seu Senhor.”

Em outra ocasião, ele (saws) também disse:

– “Se conhecerdes as vossas almas, conhecerdes o vosso Senhor.”

O método da circulação e do comportamento, que é o anunciado em diversos Versículos corânicos e que ordena à lembrança de Deus Supremo, conforme o dito: <<… lembrai de Mim que eu me lembrarei de vós…>>(1), além de outras mensagens decifradas pelo Preceito (Sunnah) o qual as esclarece e encerra, como onde diz: <<…pois vós tendes no Mensageiro de Deus um excelente exemplo>>(2).

É possível imaginarmos que o Islam nos indica o caminho de Deus Supremo sem incentivar as pessoas em seguí-lo, ou que no-lo mostra sem explicar o seu conteúdo, ou negligenciá-lo quando nos é afirmado no Alcorão: <<Nós te revelamos o Alcorão como evidência de tudo, e orientação, misericórdia e anunciação aos muçulmanos.>>(3)

1. Surat Al-Baqara – Capítulo 2, Versículo 152.
2. Surat Al-Ahzáb – Capítulo 33, Versículo 21.
3. Surat Annahl – Capítulo 16, Versículo 89.

As Crenças Islâmicas do Ponto de Vista dos Xiitas Imamitas

** A Visão do Universo Através das Criações e dos Fatos – A Necessidade da Existência de Deus Supremo **
** Outro Ponto de Vista Sobre a Ligação do Homem com o Mundo — Conclusão do Capítulo <<Unicidade de Deus>> **
** A Personalidade e as Atribuições **
** O Significado das Atribuições de Deus Supremo **
** Outros Esclarecimentos Sobre o Significado das Atribuições **
** As Características da Ação **
** A Fatalidade e o Destino **
** O Homem e a Opção **

A Visão do Universo Através das Criações e dos Fatos – A Necessidade da Existência de Deus Supremo

O primeiro passo para a afirmação da presença de Deus é o que se dá através da constatação sensorial e da anímica, dois elementos estes, que nascem com o homem. A partir deles se confirma a existência e contínua presença de Deus. Erra quem vê o mundo como uma simples imaginação fictícia, pois sabemos que o homem, desde que nasce, constata e sente, vê-se e ao mundo e não duvida (de sua própria existência e de tudo o que vê), pois essas duas faculdades estão dentro de si e fazem parte de sua constituição.

Essa realidade e a presença de Deus que se provam perante os sufistas e os que duvidam são incontestes e se opõem a toda e qualquer argumentação daqueles. O mundo e o Universo são uma realidade criada pelo Ente Superior.

Tudo o que se constata é uma verdade criada, palpável que irá se desvanecendo e desaparecerá no futuro, não importando se próximo ou distante.

Conclui-se, daí, que o Universo, com tudo que nele existe, não se formou pelo acúmulo de elementos a esmo, mas nasceu, sim, da Vontade Superior de Deus, segundo Sua Determinação. A observação do tudo nos leva à afirmação da existência de Deus Todo Poderoso.

Outro Ponto de Vista sobre a Ligação do Homem com o Mundo. Conclusão do Capítulo <<Unicidade de Deus Supremo>>

A forma exposta no capítulo anterior, para a constatação da existência de Deus é simples, não exigindo indagações, pois o homem, com a inteligência que Deus lhe deu, consegue captá-la.
Ocorre, porém, que a maioria das pessoas, com sua ligação contínua com o materialismo, e interesse na satisfação de suas paixões, torna-se difícil voltar atrás para a natureza congênita, que é a evidência da natureza divina.

Por conseguinte, o Islam, com seus dogmas infalíveis, declara que a sua doutrina é Universal e que todos são iguais diante da religião e suas pretensões, pois ele confirma a existência de Deus Altíssimo através de um método e estilo que é a natureza clara, a qual a humanidade negligenciou, e então, o Islam transmite-lhe o caminho, com o qual pode-se conhecer a Deus Majestoso.

O Alcorão Sagrado aponta diversos caminhos e meios, ao alcance de todo, para se chegar ao conhecimento de Deus Poderoso. Direciona-se, sempre, à criação do mundo e à ordem das coisas nele existentes e conduz à observação e à meditação sobre os horizontes e os seres vivos, mostrando que o homem, dentro da efemeridade da sua vida terrena, não diverge nem se destaca da natureza, da qual ele faz parte, por mais que tente, e tampouco pode desviar o olhar dos prodígios cativantes, seja na Terra ou no céu, no que se refere a sentimentos e compreensões.

O Universo, com todas as suas divisões, está sujeito a alterações e mutações constantes, aparecendo, se bem observado, sempre modificado.

Deus, louvado seja em Sua Majestade, revelou:

<<Sabei que nos Céus e na Terra há Sinais para os crentes e em vossa criação e do quanto disseminou de animais há Sinais para aqueles que são convictos, e na alteração da noite e do dia e no fato em que Deus envia do céu o sustento e com ele vivifica a terra depois de sua aridez, e na variação dos ventos, são Sinais para aqueles que raciocinam. Tais são os Sinais, os quais Nós os recitamos pata ti com a verdade; então, em qual Tradição eles crerão depois de (rejeitarem) Deus e Seus Sinais?>> Surat Al-Játhiyah – Capítulo 45, Versículos de 3 a 6.

De acordo com as Leis que não aceitam exclusão, realiza-se o que tem de ser realizado… e o Universo, pelo que possui, e nele contém, da mais longínqua Via-Láctea ao menor átomo, as quais formam o mundo todo, obedece a um só sistema claro e evidente, passando paralelamente por normas surpreendentes e incógnitas à razão, atuando desde a sua precariedade até o seu complemento, a fim de alcançar o objetivo maior que é a perfeição.

E, além dos sistemas especiais, existem sistemas gerais do Universo, os quais ligam partes infinitas, umas com as outras e concordantes entre si, as quais, com seus contínuos movimentos, é impossível descrevê-los.

Por exemplo, o sistema da criação. No caso do ser humano ter sido destinado a viver no planeta Terra, a sua natureza se fez convir com o círculo em que ele vive e vice-versa. E tudo que existe em se tratando do Sol, da Lua, das estrelas, da água, da terra, da noite, do dia, das estações do ano, das nuvens, dos ventos, da chuva, das riquezas minerais no subsolo e na superfície, enfim, tudo foi posto para o bem-estar do homem e sua felicidade. Portanto, nós acabamos de observar que este elo liga reciprocamente o ser à natureza, sendo que o mesmo ocorre no lar em que vivemos.

Esta interligação existe em todos os sentidos. Veja-se: Enquanto a natureza proporciona o bem para o homem, ao mesmo tempo lhe proporcionou as pernas para buscá-lo e as mãos para tomá-lo… formando-se uma corrente cujas argolas se entrelaçam entre si, e tudo isso em prol de sua existência e aperfeiçoamento.

Nenhum dos pensadores duvida que esses relacionamentos, incalculáveis, conhecidos através do estudos, ao longo de milhares de anos, não são mais que indícios dos mistérios da Criação, e que são os primeiros passos no caminho de conhecimentos mais profundos nesse campo. Será possível admitir-se que este mundo, com todas as suas maravilhas, existiu sempre sem que tivesse sido criado e que não há razão alguma para a sua existência?!

Seria possível admitir-se que toda essa maravilhosa ordenação, seja parcial, seja global do mundo, e todo o equilíbrio que harmoniza o todo do Universo que está acima e muito além das nossas possibilidades analíticas e intelectivas… seria possível pensar-se que tudo isso, é estático e imutável, e que tudo isso veio do nada ou é fruto do simples acaso e seus caprichos? Ou cada uma das partes do mundo, ou ele no seu todo tenha vindo pelo caminho do NADA e se formado? Ou será que o mundo, em sua unidade completa e abrangente, com o inter-relacionamento e inter-dependência que existe entre as partes, formando um todo que harmoniza, não se desenvolve de conformidade com normas concretas?

É natural que o homem atribua a toda aparência (efeito) uma causa, e a todo mal uma origem, e ocorre às vezes, dedicar vários dias em busca de uma causa ignorada e progredir em seus estudos… esse homem, quando se depara com uma construção arquitetônica e artisticamente feita, elimina a hipótese de obra do acaso e conclui pela certeza de um planejamento concreto e certo que originou o mundo.

Da mesma forma, o Universo por tudo o que nele se vê, na perfeição das parte que o compõem, nas relações vitais que as unem, são obras de um Grande Criador, o Qual fê-los existirem com Sua sapiência e Seu poder ilimitado, conduzindo-os para determinados objetivos, sendo que tudo, do mais simples ao mais importante se conclui n’Ele, porque tudo se submete diante de Sua grandeza e de Sua autoridade, e tudo que há no Universo necessita d’Ele e Ele não necessita de nada e de ninguém, porque Ele, Deus Supremo, é Perfeito e Independente!

A UNICIDADE DE DEUS SUPREMO

Cada uma das realidades do mundo é considerada uma realidade limitada, isto é, que goza de uma presença admitida e considerada (admissão do motivo da presença e sua condição) e se considera também, de conformidade com a suposição e cálculo(admissão da falta de motivo e condição)… inclusive, que tem limites certos e determinados, isto, se não estiver além destes limites, pois Deus Majestoso é isento de limitações, porque Ele é Absoluto e existe em todas as hipóteses, ou seja, Deus não é Efeito e sim Causa não causada, como não necessita de motivos e condições e tampouco está preso a alguma coisa.

Não nos é possível imaginar ou atribuir um número certo para um volume indeterminado, sem que estejamos, com isso, criando um segundo número que não será o primeiro. Como resultado, teremos dois diferentes números, definidos, que se impõem limites, mutuamente, porém, Deus Altíssimo é Uno e ninguém se Lhe associa(1).

1. O “Príncipe dos Crentes” o Imám Ali Ben Abi Táleb (as) disse:

– “A Sapiência de Deus determina a Sua personalidade, isto é, a confirmação da existência de Deus Supremo… e Ele é uma Existência eterna e ilimitada, suficiente em Sua Unicidade, porque um outro não se pode assemelhar ao ilimitado”.

A Personalidade e as Atribuições

Se observarmos o homem, do ponto de vista subjetivo, veremos nele uma personalidade que lhe é peculiar, própria… possuindo, também, qualidades que, igualmente, o destacam, como o identificam, a exemplo da filiação, se é sapiente, poderoso, alto, belo e outros tantos detalhes.
Algumas pessoas características não se separam da personalidade (ou identidade), como a primeira citada… Outras, entretanto, como o grau de cultura, separam-se ou se modificam. De qualquer forma, as qualidades ou características não compõem a identidade ou personalidade. São distintas entre si.

Este entendimento (a personalidade se independente das atribuições e as atribuições se caracterizam entre si) é a melhor prova de que a personalidade é manifesta, ou identificada pelas qualidades e que essas qualidades são o espelho que reflete a personalidade. Ambas são limitadas e determinadas, pois a personalidade, não fosse limitada e determinada, abrangeria as qualidades, e estas, igualmente, estariam difusas umas nas outras, passando a ser uma só. Por exemplo, se a personalidade humana se resumisse a uma força, e se essa força contivesse em si a cultura, a altura e a beleza, formando um todo imutável, tudo isso, então, não teria senão um só significado.

Conclui-se do exposto, que não se pode atribuir qualidades (no sentido supra referido) a Deus, louvado seja!.. porque toda qualidade é limitada e Sua Sagrada Personalidade é isenta de limitações (até da própria isenção que se considera Qualidade Sua).

O Significado das Atribuições de Deus Supremo

Há no mundo muitos predicados tidos como atribuições que, constatadas em algo, refletem seu aperfeiçoamento, aumentando-lhe o valor, como se percebe na comparação de um corpo humano vivo com outro sem vida tal qual uma pedra.

Sem dúvida, estes predicados são dádivas de Deus Supremo que, se delas precisasse, não as teria dado (quem precisa de algo não o dá) e as faria se graduarem no caminho da perfeição… por isso, deve-se afirmar em mente sã, que o Criador se caracteriza pela sabedoria, pelo poder absoluto e pela perfeição real.

Além disso, as bases do conhecimento e da avaliação, e ao mesmo tempo os efeitos da vida são constatáveis e claras no sistema da criação.

Pelo fato da essência de Deus ser ilimitada e indeterminada, estes predicados que se Lhe atribuem, em verdade, compõem o Seu Todo, e assim, cada atribuição é irmã da outra(1).

Contudo, as divergências que existem entre a essência e as atribuições e até entre as cara características entre si, estas se detêm com o discernimento, porém, na verdade, só há um princípio, indivisível.

O Islam exige de seus adeptos para não caírem nestas assimilações (as quais são limitadas pelas atribuições, ou a negação da origem da perfeição), a fim de não as colocar entre a extinção e a confirmação(2). E o Islam ordena com isso, a convicção de que Deus é Sapientíssimo e não É o conhecimento de outro, e que Ele possui todo o Poder, que não é poder de outros. Portanto, Ele ouve sem permissão e vê sem que seja através dos olhos literalmente, e assim sucessivamente.

1. O 6o. Imám Jaafar “Açádeq” (as) disse:

– “Deus Protetor e Majestoso há de permanecer como sendo o nosso Senhor; o conhecimento sobre Ele sem conhecê-Lo; ouvir sobre Ele sem ouvi-Lo; senti-Lo e sabê-Lo Todo Poderoso sem ser pré-destinado.”

2. Sobre Abi Jaafar e Abi Abdulláh (as), os quais disseram:

– “Deus é a Luz e não é trevas; n’Ele há o conhecimento e não a ignorância; a vida e não a morte”.
Certa vez perguntaram ao 8o. Imám Ali Ben Mussa “Al-Reda” (as) sobre a Unicidade, e ele respondeu:

– “… e na Unicidade, as pessoas têm três arranjos: O Credo da Justificação com Assimilação – O Credo da Constatação – O Credo da Justificação sem Assimilação. O credo da Justificação com Assimilação não é permitido. Ao credo da Constatação também não se permite; portanto, o caminho certo, é pelo terceiro credo que é a Justificação sem Assimilação.”

Outros Esclarecimentos Sobre o Significado das Atribuições

As atribuições são dois tipo: As da perfeição e as da imperfeição.

As atribuições da perfeição – Como já apontado, significam as justificativas que gratificam o qualificado para um valor existencial maior, com destaque e acentuação… e isso, se comprova com a comparação entre um ser pleno de vida, sábio e poderoso, com outro sem ânimo de vida, sem raciocínio e sem poder algum.

As atribuições da imperfeição – São as qualidades opostas… e quando observamos estas imperfeições, constatamo-las em sentido da negação, da carência de perfeição e o domínio da ignorância, da fraqueza, do abominável, da moléstia espiritual e demais negativismos.

E conforme se antecipou, chega-se à conclusão de que a constatação das atribuições da imperfeição significa o destaque das atribuições da perfeição… assim como a objeção contra a ignorância, significa a cultura, a oposição contra a fraqueza significa a força. Por conseguinte, encontramos o Alcorão Sagrado justificar e confirmar todas as atribuições da perfeição diretamente a Deus Supremo, afastando-O de qualquer atribuição inferior, tal como é mencionado:

<<… e Ele é o Sapiente Poderosíssimo…>>(1), e, <<Ele é o Vivente, o Auto-Subsistente, não O toma a modorra nem d’Ele se apossa o sono…>>(2), e, <<E sabei que jamais podereis frustrar a Deus (através de vossa falsidade)…>>(3).

A conclusão a que se chega, é que Deus Supremo é uma Realidade Absoluta, não tem começo nem fim… e por conseguinte(4), toda e qualquer Atribuição da Perfeição subentende que se refere a Ele, sem porém, que seja delimitada, porque Ele não é matéria e nem corpo, e não se dimensiona em qualquer lugar ou espaço de tempo (época), isento de qualquer característica acidental… Enfim, todas as Suas qualidades e atribuições, têm o quilate da Perfeição… tal como Ele revelou: <<Nada se Lhe assemelha…>>(5).

1. Surat Arrúm – Capítulo 30, Versículo 54.
2. Surat Al-Báqara – Capítulo 2, Versículo 255.
3. Surat Attaubah – Capítulo 9, Versículo 2.
4. O 6o. Imám Jaafar “Açádeq” (as) disse:

– “Deus Supremo não se descreve nem por época, nem por local, nem por movimento, nem por transferência e nem por estabilidade, porque Ele é o Criador do tempo, do lugar, dos movimentos, da imobilização e do transporte.”

5. Surat Achoura – Capítulo 42, Versículo 11

As Características da Ação

As características – além do que foi dito – têm outra divisão: as características da personalidade e as características da ação.

Às vezes a característica reside no qualificado, tal como a vida, a cultura e a capacidade, os quais estão no homem. Podemos imaginar um homem com essas qualidades que nem sempre as possui e, para adquiri-las, tem-se como condição o estudo, a pesquisa, a dedicação que só se efetivam se lhe forem proporcionados os respectivos meios. Não basta, apenas, imaginá-lo detentor dessas qualidades.

Daí, conclui-se que as verdadeiras atribuições de Deus, louvado seja! – tal como se antecipou quanto à identidade – são de primeira qualidade, porém, a segunda qualidade, necessita de uma complementação. Tudo o que existe com exceção d’Ele, é Sua Criação e, na seqüência da vida, é Lhe secundário e distinto com todas as suas próprias características.

As características que se atribuem a Deus Supremo, ultrapassam a possibilidade de raciocínio, como a de criar no sentido divino, a de tirar a vida, a de dá-la, a de dar a subsistência e a providência ao homem… todas transcendentais, seja pelo poder ou pelas características da ação.

No que se refere às características da ação, entende-se que os atributos vem da ação e não da personalidade ou identidade, como a criação, ou seja, depois da realização das criações, pois Deus já existia quando ocorreu a criação e Sua identidade nada tem com o que foi criado, para ser alterada de situação para outra conjuntura quando se efetuou a ação.

Os xiitas consideram distintamente as duas características que são a característica da vontade e a característica da expressão, e o que se capta do sentido de ambas – a vontade, no sentido de aprender, e a expressão, como exposição oral do sentido – como características de ação(1), enquanto que os sunitas a consideram de acordo com o significado do conhecimento e atribuições à Sua Identidade, louvado seja!

1. Abu Abdulláh (as) disse:

– “Deus Majestoso seja o Seu nome, continua sendo conhecido por Sua personalidade e não que Ele seja uma causa do efeito; assim como Ele continua sendo o Poderoso or Si mesmo e não porque tinha sido predestinado…”

A Fatalidade e o Destino

A lei da causa do Universo é absoluta, vigente e dominante, e, por isso, não admite restrições nem proporcionalidades. Assim, tudo o que existe no mundo está diretamente ligado a uma causa que o gerou (motivos e condições de ser), e com a abundância das condições (causa total), se impõe então o efeito (a coisa criada).

Na hipótese de inexistência dos motivos, ou algum deles, impossível será o objeto da criação.
Analisando a questão, esclarecem-se dois temas:

Primeiro – Se pudéssemos comparar a causa do efeito com o efeito completo (a criação em geral), inclusive com as partes daquele efeito completo, a proporção estará entre ela (a causa do efeito) e o efeito completo, de forma necessária (ou obrigatória).. Inclusive, a proporção estaria entre ela e cada parte daquele efeito completo (as quais são considerados efeitos incompletos) numa possibilidade… porque a parte do efeito em relação a cauda do efeito dá a possibilidade da realização e da existência e não a obrigatoriedade de existir.

Assim sendo, o Universo e parte de seus componentes passam a depender do efeito completo na realização de sua existência, sendo que, a obrigatoriedade passa a protegê-lo por completo, organizando seu corpo através de uma coletânea de ocorrências necessárias e absolutas. Portanto, com esta especificação, as características da possibilidade estão conservadas.
O Alcorão Sagrado, em suas belas-letras, denomina esta arbitrariedade necessária e obrigatória por Fatalidade Divina, porque esta necessidade tem a sua origem na existência do Criador, e para tal, passa a ser uma determinação e uma fatalidade justa e preciosa sem contrariedades, pois não se aceita a exclusão ou a proporção.

Deus Majestoso revelou:

<<… Deus é a criação e o Imperativo…>> Surat Al-Aaráf – Capítulo 7, Versículo 54.

<<… e se Ele decreta um imperativo, basta-Lhe dizer: Seja! e é>> Surat Al-Baqara – Capítulo 2, Versículo 117.

<<… e Deus julga e não há barreira ao Seu julgamento>> Surat Arraad – Capítulo 13, Versículo 41.

Segundo – Cada uma das partes do efeito, tem a sua avaliação particular dada à causa do efeito, e, a efetividade desta causa se compatibiliza com a soma das avaliações que o efeito completo determina. Por exemplo, o efeito que provoca a respiração do homem, não é absoluto, pois o ser humano respira dentro das possibilidades determinadas com o ar que se avizinha de sua boca e do seu nariz em tempo, lugar e sistema preciso, e isto ocorre através do canal de respiração até que chegue o ar dos pulmões… o mesmo ocorrendo com a visão e demais órgãos dos sentidos que, dentro de sua razão de ser, tem suas limitações.

O Alcorão Sagrado denomina ou qualifica essa realidade como sendo o destino atribuindo-o ao Criador do Universo, ao dizer: <<Tudo que criamos, fizemo-lo com destinação>>(1), e, <<E não existe nada que não tenhamos as chaves de seus tesouros, e não o revelamos senão por um destino evidente>>(2).

E como toda evidência e toda ocorrência nos sistemas da criação, são consideradas uma necessidade para sua existência segundo a determinação divina, elas estão também segundo o destino, pois toda a evidência e toda ocorrência não se opõem contra a avaliação determinada por Deus Supremo.

1. Surat Al-Qamar – Capítulo 54, Versículo 49.
2. Surat Al-Hijr – Capítulo 15, Versículo 21.

Abu Abdulláh disse: – “Quando Deus determina algo, Ele o avalia e destina, e quando o condena, Ele o faz passar”.

O Homem e a Opção

Todo ato humano é considerado uma evidência entre as demais constatações do mundo criado e tem ligações diretas ou se relaciona diretamente com o efeito que o impulsionou.

Como o homem é uma das partes criadas no mundo, e também tem ligações com as demais partes, estas influem em seus atos.

A título de exemplo, temos o homem, o qual, para pegar um pão, necessita de meios com a mão, a boca, o conhecimento, a capacidade e a vontade… e precisa também, da existência do pão em algum lugar e ao alcance de sua mão, e que não haja nenhum impedimento. Na falta de algum desses elementos, a ação de pegar estará dificultada… ao passo que, existindo todos os elementos, poder-se-á concretizar o efeito completo e a ação será necessária.

Como o referido acima, a necessidade da ação em relação à coletânea das partes do efeito completo, é considerada proporcional às possibilidades, e não se extingue com a proporção do ato do homem, porque ele é uma parte do efeito completo.

O homem de a opção de ação e a necessidade de uma proporcionalidade entre a ação e o conjunto das partes componentes do efeito, o que não gera a obrigatoriedade de ser ação proporcional a uma daquelas partes, quando ele é o próprio homem.

A simples observação confirma isto, pois vemos que o homem, pela sua inteligência, dádiva de Deus, distingue entre o comer e o beber, o ir e o vir, a saúde e a doença, o grande e o pequeno.
A primeira parte que se relaciona com a vontade do homem, de forma direta, considera-se pessoal enquanto que a segunda parte lhe gera encargos obrigatórios.

No seio do Islam, entre os sunitas, havia duas seitas conhecidas em relação à ação do homem. Uma considerava que todas as ações do homem dependiam da Vontade de Deus e que não lhe é dada a iniciativa de nada. A outra seita afirmava o contrário… Que o homem tem livre arbítrio e age de conformidade com sua própria vontade e iniciativa, sem qualquer interferência de mando por parte de Deus, e considerava que o Destino não exerce nenhuma influência sobre o ser humano.

Conforme se relata sobre os familiares do Profeta Mohammad (saws), provenientes de “Ahel Al-Bait” (as), verificamos o seguinte:

Está de acordo com o que influi do exoterismo do Alcorão, no sentido de que o homem tem livre arbítrio de seus atos, embora ele não é independente, pois Deus Supremo quis que o ato seja por meio da opção, conforme mencionamos anteriormente, isto é, Deus Glorioso quis que o ato seja por meio de um conjunto das partes do efeito completo, das quais uma delas é o próprio homem, tornando-se necessária. Portanto, a ação está relacionada com a Vontade de Deus Altíssimo, e o homem se encontra opcionado nela, ou seja, a ação é considerada necessária em relação ao conjunto das partes de seu próprio efeito, porém, ele (o homem) é uma opção na qualidade de ser uma das partes do efeito completo. Resumindo, o homem tem que avaliar os prós e contras resultantes de suas ações diante do Senhor do Universo.

O 6o. Imám Jaafar “Açádeq” (as) disse:

– “Nem obrigação e nem liberalidade, porém, uma questão entre os dois imperativos”.(1)

1. Abi Jaafar Abi Abdulláh disse:

– “Deus Protetor e Majestoso é mais Clemente com suas criaturas do que Compassivo, martirizando-as por suas culpas; e Deus é acima de tudo, quando Ele deseja que algum imperativo não ocorresse” — e ele disse também — “Deus é Nobelíssimo para impor sobre as pessoas algo que elas não suportam, e Ele é acima de tudo, para que venha a ocorrer algo contra a Sua Vontade.”

O Conceito Sobre o Profeta

** Sobre o Objetivo – A Orientação Geral **
** A Orientação Própria **
** A Razão e a Lei **
** Os Sentimentos Simbólicos, ou seja, <<Al-Wahi>> **
** Os Profetas e a Infabilidade da Profecia **
** Os Profetas e os Dogmas Celestiais **
** Os Profetas e a Evidência da Revelação <<Al-Wahi>> e da Profecia **
** O Número dos Profetas **
** Os Profetas, Autoridades da Resolução, Portadores dos Dogmas Celestiais **
** A Profecia de Mohammad (saws) **
** O Nobre Profeta e o Alcorão Sagrado **

– Sobre o Objetivo – A Orientação Geral

Um grão de trigo germina quando se lhe proporcionam todos os meios necessário. Lançado à terra e, com o passar do tempo, ele se transforma ou passa de um estágio para outro, de forma gradativa e de acordo com uma ordenação própria, até crescer e desenvolver-se, transformando-se em espiga. Dela lançado à terra um grão, o mesmo seguirá a mesma trajetória de desenvolvimento.
O mesmo sucede com a semente de uma fruta, que seguirá processo próprio até se transformar em uma árvore frutífera.

Se o esperma de um animal atingir o óvulo, no útero da fêmea, tem início a sua fecundação e desenvolvimento, por processo próprio, até o nascimento de mais um da espécie.

Este comportamento ordenado é visto em todas as espécies vivas no mundo, como um privilégio, sem possibilidades de alteração ou modificação da ordem, pois não se pode conceber que, de um grão de trigo, venha a nascer um animal… e nem de um esperma venha a se produzir uma árvore. E, caso houver alguma inseminação animal ou vegetal, de diferentes espécies, certamente que ocorrerá alguma anomalia, faltando-lhe ou excedendo-lhe algo ou algum órgão, e isso considerar-se-á uma doença, deficiência ou algo parecido.

Esta ordem reinante e imutável no Universo, o nascimento das diversas formas de vida pelos seus respectivos processos, não é negada por nenhum estudioso pesquisador, e sob esse ponto de vista, resultam duas conclusões:

A Primeira – Todas as fases, ou etapas pelas quais passa a criação em geral são vivificadas e impelidas por uma FORÇA que as leva ao desenvolvimento completo.
A Segunda – Esse inter-relacionamento e comunicação permanente visam, a finalidade e a perpetração da espécie, pois, assim como a semente que se lança à terra e, na seqüência das etapas, transforma-se por fim, em uma árvore, assim é o homem, lançado quando ainda é um esperma no útero materno, também segue a evolução que lhe é própria e peculiar até surgir em forma de ser vivente.

O Alcorão Sagrado, em seu conteúdo doutrinário, apóia essa teoria, ou seja, que todas as espécies vivas no Universo são guiadas pela orientação de Deus, no caminho da sua formação e complementação. É o que se constata, como no seguinte Versículo:

<<… o Qual deu tudo às Suas criaturas e depois as orientou>> Surat Taha – Capítulo 20, Versículo 50.

E mais:

<<o Qual criou e aperfeiçoou e o Qual predestinou e guiou>> Suras Al-Âala – Capítulo 87, Versículos 2 e 3.

Assim sendo, Deus apontou os resultados do que foi mencionado, com o seguinte:

<<… e em cada diretriz, Ele quem a governa>> Surat Al-Baqara – Capítulo 2, Versículo 148.

Em outro Versículo, Deus revelou:

<<E não criamos os Céus e a Terra e tudo o que há entre ambos senão pela verdade, porém, a maioria não sabe>> Surat Addukhán – Capítulo 44, Versículo 39.

A Orientação Própria

É evidente que o gênero humano não foge às regras de constituição que abrange todos os seres do Universo e que atingem, também, o homem. E assim como toda criação com vida segue caminho evolutivo até atingir a sua maturidade completa, também o ser humano ultrapassa as etapas de sua senda formativa, rumo à sua total formação.

Pelas suas possibilidades intrínsecas, o ser humano pode se associar, de alguma forma, e estar em ligação direta com toda a Criação, seja animal ou mão. Distingue-se, porém, sobre todos, porque é RACIONAL.

A razão leva o homem apensar e a ser organizado e lhe possibilita a utilização de todos os meios possíveis para alcançar os seus objetivos e seus interesses. Alça ele os arrojados vôos, alcança o espaço infinito, mergulha e explora as profundezas dos mares, tira proveitos dos animais, dos vegetais e até dos sólidos, na face da terra e, até, ultrapassa esses limites facultativos e se aproveita dos de sua espécie.

O homem, pela sua natureza intrínseca, encontra sua liberdade total em sua felicidade e sua formação. Mas, como sua existência é social, isto é, sendo ele uma das células vivas do tecido social e sendo múltiplas as suas necessidades, cuja satisfação não consegue só, mas com o concurso e o auxílio dos de seu gênero que, por suas vezes, padecem das mesmas carências, com os mesmos sintomas de egoísmo e liberdade, vê-se ele, por vezes, em face ao seu meio-ambiente, obrigado a sacrificar parte de sua liberdade em prol e troca de benefícios que obtém. Presta auxílios para conseguir outros e, assim, vive em sociedade, sujeitando-se às suas imposições.

Essa verdade é contestável se observarmos as crianças e os adolescentes que obtém tudo o que querem, com o choro e as imposições, não aceitando regras e normas de conduta. Porém, com o passar do tempo e a maturidade psíquica, começam a perceber que a vida não se leva com imposições e egoísmos e seguem adaptando-se ao convívio social, até atingirem a maturidade total, passando à igualdade dos demais.

Aceitando a vida social embasada na ajuda mútua, o homem sente a necessidade de normas e leis que definam os direitos e obrigações dos indivíduos, assim como sanções aos infratores. Assim, se a lei abranger e alcançar a todos e for observada com rigor, cada um da sociedade atingirá a felicidade almejada.

Essas são as normas funcionais que acompanham os homens desde a Criação até os nossos dias, e todas as seguem, sempre na perseguição dos meios para a sua sobrevivência, pois está evidente que, se as leis e normas de conduta social não pudessem ser cumpridas e se não fossem aproveitáveis, não seriam aplicadas sempre e nem haveria razão para a sua existência.

Deus, louvado seja!… aponta a qualidade social do homem dizendo, conforme é mencionado no Alcorão:

<<Nós repartimos entre eles o seu sustento na vida terrena e os distinguimos uns sobre os outros para que alguns se utilizem dos outros em servilismo…>>
Surat Azzokhrof – Capítulo 43, Versículo 32.

E aponta, com Sua sabedoria, o egoísmo e a avareza, revelando>

<<O ser humano foi criado impaciente. Quando atingido pelo mal torna-se irritadiço, e quando é contemplado com o bem torna-se avarento.>> Surat Al-Maárej – Capítulo 70, Versículos 19, 20 e 21.

A Razão e a Lei

Se meditássemos bem, veremos que as normas desejadas pelo ser humano – e pelos homens, com seu poder racional, sabem da necessidade de sua existência para assegurar-lhes o bem-estar – são as leis que podem se impor, com imparcialidade, para proporcionar-lhes a felicidade e a harmonia social desejadas desde os primórdios da humanidade.

E outros termos, se houvesse uma lei maior, completa, perfeita e geral que atendesse aos anseios da humanidade, que a esclarecesse e orientasse, certamente que seria compreendida e aceita por todos, em face de seu poder racional. Essa lei, entretanto, ainda não foi editada e as que existem, feitas por um grupo de pessoas, são aceitas por uns e recusadas por outros, apesar de que todos, na qualidade de racionais, vivem em sociedade comum.

Os Sentimentos Simbólicos, ou seja, <<Al-Wahi>>

Do que se antecipou, fica claro que a lei que assegura a felicidade à humanidade não é alcançada pela mente humana. Sob o ponto de vista de uma orientação geral, cuja compreensão necessária no gênero humano, há um sistema que leva ao entendimento e que orienta os homens quanto às suas obrigações reais na vida. Essa percepção e sentimento chama-se <<Al-Wahi>>, ou seja, <<Revelação>> ou <<Inspiração>>.

É natural que essa força que existe no ser humano não significa que seja comum a todos, como a potência do homem em procriar, por ele contestável apenas com a maturidade física. E a percepção extrasensorial que não é comum a todos, é um sentimento simbólico, inconsciente, como o é, para um menor impúbere, o sentido e o prazer do coito.

Deus, louvado seja!.. em Seus pronunciamentos sobre a “Revelação” diz:

<<Nós te inspiramos como inspiramos a Noé e aos Profetas que o sucederam… Mensageiros alvissareiros e admoestadores para que a humanidade não tivesse argumento ante Deus, depois do envio dos Mensageiros…>> Surat Annissá – Capítulo 4, Versículos 163 e 165.

Os Profetas e a Infabilidade da Profecia

O aparecimento dos Profetas endossa a citada teoria da “Revelação”. Os Profetas de Deus Supremo afirmavam-se na qualidade de inspiradores pela “Revelação”, dando provas disto e transmitindo aos homens o conteúdo das Mensagens de Deus alvissareiras à felicidade posta ao alcance de todos. O aparecimento dos Mensageiros, em todos os tempos, era pouco, ou seja, poucos eram os que possuíam o dom da profecia e podiam orientar os homens à senda reta, cumprindo com sua missão.

Conclui-se disse com a infabilidade dos Profetas, por serem protegidos contra o erro em suas inspirações divinas e conservação das revelações de Deus Supremo, transmitindo-as às pessoas, sendo eles afastados da rebeldia e do pecado, porque o recebimento da “Revelação” – conforme mencionamos – sua preservação e sua transmissão implica na essência da criação e esta é isenta de erros.

É mister destacar-se, que a missão profética só se completa com a transmissão da “Revelação” recebida, de forma a se preservar a confiança do povo. Caso contrário, seria a frustração da própria missão.

O Criador, louvado seja!.. aponta a infabilidade dos Profetas no Seu magnífico Livro:

<<E os elegemos e orientamo-los à senda reta>>. Surat Al-Anaám – Capítulo 6, Versículo 87.

<<Ele é Conhecedor do invisível; portanto, Ele não permite que se conheça o Seu mistério, exceto o Mensageiro por Ele escolhido, o qual seguirá (o anjo) por suas mãos e atrás dele, a fim de saber se eles cumpriram a missão de seu Senhor, o Qual abrange o quanto possuem e conta tudo em números>>. Surat Al-Jin – Capítulo 72, Versículos 26,27 e 28.

Os Profetas e os Dogmas Celestiais

O que foi obtido pelos Profetas através da “Revelação”, ou seja, “Al-Wahi”, e suas exortações para o caminho do bem e propagação das prudências divinas, é a Religião, para ser adotada e seguida, a fim de se conseguir a felicidade.

De um modo geral, a legislação divina divide-se em duas partes: a convicção e a prática.

No referente à convicção ou fé, é um conjunto de princípios fundamentais impostos ao homem como base de vida, e que compreendem os três princípios gerais: a Unicidade (de Deus), a Profecia e o Dia do Juízo Final. E, se faltar um destes princípios, descaracterizar-se-á a religião.

Quanto à prática, é constituída por uma série de graduações culturais e obrigações decorrentes que vinculam o homem a Deus e às sociedades humanas.

A partir daí, as obrigações específicas nos dogmas celestiais, organizadas para o homem, se dividem em duas categorias: a formação e a ação, cada uma se dividindo por sua vez em duas partes.

A formação e a ação que estão ligadas ao Criador Supremo, são: a índole, a característica, a fé, a sinceridade, a submissão, a aceitação, a veneração, a oração, o jejum, o sacrifício, a renúncia e outros, cujo conjunto se chama Adoração, distinguida com a humildade do homem diante de seu Senhor.

E no que se refere à sociedade, a formação e a ação compreendem as boas maneiras como o amor ao próximo, o auxílio, a justiça, a generosidade e tudo o que se conexa com o bom convívio; e todos esses atos se denominam “Relacionamentos”.

Do outro lado, o ser humano segue para a perfeição de maneira gradativa e a sociedade humana se completa e se aperfeiçoa com o passar dos tempos.

Esta ordem de aperfeiçoamento é prevista nas Leis Divinas e é consignada com o Alcorão Sagrado – pois é possível atingi-la pelo raciocínio – e o que se aproveita de seus Versículos, é que os dogmas posteriores são mais perfeitos que os anteriores, onde Deus revela:

<<Temos te revelado o Livro por direito, confirmado pelos que Ele tem nas mãos e sendo o Protetor dos demais…>> Surat Al-Mé-eda – Capítulo 5, Versículo 48.

A conclusão a que nos conduzem todas as teorias e constatações, e é explícito no Alcorão, é que a vida societária dos homens neste mundo mão é eterna, o que torna natural e evidente que o aperfeiçoamento do gênero humano é incompleto e efêmero. Daí, de admitir-se que todas as profissões e atividades têm suas limitações e com base nessa verdade, também a Profecia e as Leis um dia atingirão seu estágio final de credibilidade.

Assim, o Alcorão Sagrado revela essa verdade e esclarece que o Islam, a religião designada por Deus para Mohammad (saws) é a última e a mais perfeita das religiões, sendo que o Livro Sagrado não se imita, e o grandioso Profeta é o Concludente dos Profetas, pois o Islam contém todos os encargos e obrigações, como citado por Deus:

<<… é um Livro cujo poder é elevadíssimo, não se lhe aproxima a falsidade, nem adiante e nem atrás dele…>> Surat Fussilat – Capítulo 41, Versículos 41 e 42.

<<E Mohammad não é o pai de nenhum dos vossos homens, porém, ele é o Mensageiro de Deus e Concludente dos Profetas…>> Surat Al-Ahzáb – Capítulo 33, Versículo 40.

<<… e te revelamos o Livro que é uma exortação de tudo, é guia, misericórdia e auspício aos muçulmanos>> Surat Annahl – Capítulo 16, Versículo 89.

Os Profetas e a Evidência da “Revelação” e da Profecia

Muitos dos eruditos da atualidade que pesquisaram e se aprofundaram na questão do <<Al-Wahi>>, ou seja, a “Revelação”, e, da Profecia, interpretando-as à luz da psicologia e da sociologia, afirmando que os Profetas (as) eram homens puros, com elevados objetivos, que amavam a humanidade e seu progresso moral e material, que buscavam a melhoria e a elevação dos de classe inferior moralmente, organizaram e formularam leis próprias, procurando atraí-los. Como, porém, o povo daqueles tempos não aderia com facilidade à Retórica e à Lógica, os Profetas (as) recorriam à linguagem superior, de inspiração divina para atrair os homens e submetê-los ao comando espiritual, a ponto de muitos acreditarem que eram dotados do Espírito Santo quando, na realidade, eram eles inspirados pela “Revelação” e pela Profecia divinas. Assim sendo, os encargos e deveres não são nada mais do que Dogmas Celestiais, e a palavra conectada a eles, se denomina por Livro Celestial.

E aquele que volta o olhar com meditação e imparcialidade aos Livros Celestiais, particularmente para o Alcorão Sagrado, inclusive aos dogmas apresentados pelos Profetas (as), não terá nenhuma dúvida quanto a teoria de que os Profetas (as) não eram políticos, mas homens dotados de veracidade, pureza e lealdade, e tudo que eles atinavam o transmitiam, como tudo o que transmitiam o praticavam… Aliás, o que eles pretendiam exatamente é que eles possuíam sentimentos simbolizados e ausências prolongadas, através das quais eram inspirados para os encargos do conhecimento e da fé, provenientes de Deus a fim de anunciarem a Nova aos homens e direcioná-los aos caminhos do bem e da devoção.

Por conseguinte, a atribuição de profecia a alguém, necessita de motivos e evidências, não bastando que os dogmas apresentados pelo Profeta (as) estejam de acordo com o raciocínio, porque a veracidade deles possui outra comprovação, que é a sua conexão com o Mundo Superior (através do “Al-Wahi” e a Profecia) tendo esta responsabilidade por parte de Deus Altíssimo, ou seja, ter uma sabedoria divina com claras evidências.

Com isso (conforme relata o Alcorão Sagrado), muitos ingênuos e incrédulos pediam aos Profetas (as) que realizem algum milagre para comprovarem o que estes profetizavam e pregava.

Conclui-se dessa lógica ingênua e verdadeira, que a “Revelação” e a Profecia não estão ao alcance de todos os homens e, sim, privilégio de alguns, manifestando-se por uma força desconhecida, dada por Deus, de forma que foge à compreensão humana. Portanto, o Mensageiro (as) pede a Deus que o apóie e auxilie, através da realização de algum milagre, a fim que tenha a credibilidade das pessoas e se fortaleça a sua pregação e profecia.

Fica claro que os pedidos de milagres feitos pelos homens ratifica o poder dos Profetas (as) que, para confirmarem essa qualidade, realizavam milagres espontaneamente, ou quando a tanto solicitados.

O Alcorão Sagrado confirma essa verdade, com as referências que faz tanto sobre os milagres voluntários, como sobre os solicitados por pessoas necessitadas.

Ressaltamos que muitos dos pesquisadores, apesar de não negarem a existência de milagres, faltava evidência às suas afirmações, eis que as causa e motivos dos acontecimentos foram constatados pela experiência e pela análise, não se tendo nenhuma prova de serem perpétuas. Toda ocorrência tinha origem e os milagres atribuídos aos Profetas (as) não eram de tal maneira impossíveis de compreender, porém, ocorriam em situações fora do comum.

O Número dos Profetas

A História antiga registra um grande número de Profetas e o Alcorão Sagrado não diverge dessa constatação, citando porém, alguns deles.

Apesar de não se poder precisar o seu número, tem-se um registro atribuído a Abu Zôrr Al-Ghaffári, no qual consta como sendo cento e vinte e quatro mil Profetas.

Os Profetas Autoridades da Resolução, Portadores dos Dogmas Celestiais

Segundo o Alcorão Sagrado, nem todos os Profetas eram portadores das normas teológicas, sendo apenas cinco deles que o são (as): Noé – Abraão – Moisés – Issa (Jesus) e Mohammad (saws), que são os mais eminentes e autoridades nas decisões. Os demais Profetas, seguem-nos em seus dogmas. Deus Altíssimo revelou:

<<Foi-vos prescrito da religião que havia sido instituído a Noé e o que vos foi revelado é o mesmo que havíamos recomendado a Abraão, Moisés e Issa(1)…>> Surat Achoura – Capítulo 42, Versículo 13.

1. Se houvessem outros Profetas, Deus Supremo os teria mencionado neste Versículo corânico.

A Profecia de Mohammad (saws)

Nosso Profeta Mohammad (saws) é considerado o Concludente dos Profetas que se distinguiram pela Cultura Sagrada e pelas Legislações Teológicas, no qual os muçulmanos acreditaram.

O Profeta Mohammad Ben Abdulláh Bem Abdel Muttâleb (saws) nasceu na cidade de Meca, na região do Hidjáz, na Península Arábica, no ano 570 a.D. o qual era denominado pelos árabes como sendo o <<Ano do Elefante>>(1), ou seja, cinqüenta e três anos antes da era do calendário lunar Hijrita.

O Profeta Mohammad (saws) pertencia à um dos mais importantes clãs do Hidjáz, chamado Coraich, da estirpe de Háchem.

Seu pai chamava-se Abdulláh Ben Abdel Muttâleb e sua mãe Amina Bent Wahb. Seu pai morrera poucos meses antes de seu nascimento e sua mãe quando ele tinha seis anos de idade, ficando sob os cuidados de seu avô Abdel Muttâleb, o qual morreu dois anos depois, passando à tutela de seu tio Abu Táleb.

E foi na casa de seu tio Abu Táleb que o Profeta (saws) cresceu e se desenvolveu, acompanhando-o numa viagem comercial às Terras do Cham, mais especificamente Damasco, e isto antes de atingir a maioridade.

O Profeta Mohammad (saws) era iletrado, porém, depois de atingir a puberdade e a maioridade, ficou conhecido pela sua inteligência, educação e honestidade, que passou a ser chamado pelo cognome de “Al-Amín”, ou seja, “O Probo”, e devido à sua integridade moral, Khadidja Bent Khuailed, que era das mais ricas de Coraich, fê-lo administrador de sua fortuna e seus negócios.

E, pela segunda, ele (saws) foi a Damasco, em viagem comercial, a serviço da “Senhora de Coraich”, onde, pela sua inteligência e capacidade teve lucros fabulosos. Não passou muito tempo e Khadidja propôs-lhe casamento, o que foi aceito de imediato. Depois desta união, quando ele (saws) contava com vinte e cinco anos de idade e, até os quarenta, dedicou-se ao trabalho, alcançando fama por seu tirocínio e sua fidelidade, não tendo, nunca, adorado estátuas – a religião predominante na ocasião – dedicando-se, porém, à devoção ao Deus de Abraão e Ismail.
Deus então, contemplo-o com a Profecia, quando tinha quarenta anos de idade, enquanto estava entregue à meditação na gruta “Herá”(2). Foi-lhe ordenado a pregação e recebeu a primeira Revelação, que é a primeira Surata do Alcorão Sagrado:

<<Lê, em nome de teu Deus que criou, criou o homem de um esperma. Lê que teu Senhor é o mais Generoso, o Qual ensinou com o cálamo, ensinou o homem a respeito daquilo que desconhecia>>.
Surat Al-Alaq – Capítulo 96, Versículos 1 a 5.

O Profeta Mohammad (saws) voltou para casa no mesmo dia, encontrando, no caminho, seu primo Ali Ben Abi Táleb (as), a quem propôs o Islam, que foi aceito por este. Já em casa, e, após relatar o fato à sua esposa Khadidja, ela também acreditou nele e se converteu.

No início de sua missão profética, Mohammad (saws) encontrou dolorosa resistência por parte do povo, principalmente dos coraichitas, vendo-se obrigado a se recolher em si, tornando secreto o seu encargo divino. Ordenado pela segunda vez, a anunciar a sua profecia aos mais íntimos de sua tribo, porém, foi em vão, e ninguém acreditou nele exceto seu primo Ali Bem Abi Táleb (as) que foi o único que o apoiou.

O Mensageiro de Deus (saws) fez mais uma tentativa, e mais uma vez não foi acreditado pelo povo de Meca, que lhe deu o desprezo. Aqueles, porém, que haviam se convertido recentemente e abraçado o Islam, se viram obrigados a abandonar seus lares por causa da perseguição implacável dos coraichitas, indo se refugiar na Abissínia – hoje, Etiópia – enquanto o Profeta (saws) e alguns membros de Bani Háchem, foram se proteger no desfiladeiro que pertencia a Abu Táleb(3), permanecendo ali sitiados por três longos anos, sem poderem ser relacionar com os demais mequenses, seja comercial ou socialmente, passando todo o tipo de penúria e necessidade.
Os idólatras de Meca faziam de tudo para ultrajá-los, tornando-os alvos de chacotas. Às vezes recorriam à falsa bondade de oferecer ao Profeta (saws) o alto cargo de Governante, oferecendo-lhe grandes somas em dinheiro, sempre com o objetivo de demovê-lo de sua missão profética… no entanto, isto só serviu para fortalecer mais a sua fé e força.

Certa vez, ofereceram-lhe o poder e o comando geral, tendo ele respondido:

– “Juro que, se colocassem o Sol à minha direita e a Lua à minha esquerda, para que eu abandone esta questão, mesmo que Deus a manifestasse ou que me fizesse perecer por causa dela, eu jamais a abandonaria!”

O Profeta (saws) sai do desfiladeiro de Abu Táleb, aproximadamente dez anos após receber a primeira Revelação, quando pouco tempo depois, morre seu tio e defensor Abu Táleb Bem Abdel Muttâleb, seguido por sua fiel e dedicada esposa Khadidja Bem Khuailed.

O Mensageiro Mohammad (saws) não tinha um refúgio, e isto levou os idólatras de Meca a planejarem um atentado contra a sua vida, cercando sua casa por todos os lados e, na calada da noite, o matariam e esquartejariam.

Mas Deus, louvado seja!.. deu-lhe um aviso sobre o complô, ordenando-lhe emigrar para Yatreb(4). Seu primo Ali Ben Abi Táleb (as) o substituiu em seu leito e ele saiu mergulhando-se na escuridão da noite, sempre protegido por Deus, conseguindo enganar os inimigos, até que foi se refugiar numa caverna distante de Meca por algumas léguas(5), saindo dela três dias depois, após investigações e sondagens minuciosas em toda a região e adjacências, retomando para Meca decepcionados. Em seguida, o Profeta (saws) prossegue para Yatreb, onde foi recebido festivamente, e o povo daquela cidade acreditou nele, inclusive as autoridades locais e senhores de tribos firmaram com ele acordos, dando-lhe seu voto de confiança e sua aliança, colocando ao sei dispor seus valores financeiros.

O Profeta Mohammad (saws) fundou lá a primeira sociedade islâmica, embora pequena, ele conseguiu firmar pactos com os judeus que habitavam em Yatreb e suas adjacências, inclusive fê-lo com as tribos árabes, fortes daquela região, começando, a partir daí, a expandir a sua nobre missão e difundir o Islam… e a cidade de Yatreb ficou conhecida como a Cidade do Mensageiro (Medinat Arrassúl).

Com o passar dos dias, fortaleceu-se a “espinha dorsal” dos muçulmanos, sendo que, os que ainda residiam em Meca sob a opressão dos coraichitas, conseguiram abandonar suas casas e emigrar para Medina aos poucos, até que se aconchegaram perto do Profeta Nobilíssimo Mohammad (saws), passando a serem denominados por Emigrantes (Muhádjerín), assim como o povo de Yatreb ficou conhecido por Aliados (Al-Ansár).

O Islam conseguiu um progresso rápido, mas os idólatras de Coraich e os judeus seus aliados, pertencentes às tribos existentes no Hidjáz, continuaram sendo um obstáculo para este movimento, realizando muitos atos de terrorismo contra o Profeta (saws) e seus seguidores, com a ajuda de mercenários, que se infiltravam nas fileiras muçulmanas, implantando a discórdia que acaba se resultando em guerras.

E assim, deflagraram-se diversas batalhas entre os muçulmanos e os idólatras e judeus, culminando sempre com a vitória dos muçulmanos. Foram mais de oitenta lutas sangrentas e, em todas, via-se o Profeta sempre empunhando a sua espada, como se verificou nas batalhas de Badr “A Grandiosa”, Ohod, Al-Khandaq, Khaibar, e outras… cujas maiores vitórias se deveram a Ali Bem Abi Táleb (as), o qual foi o único que nunca retrocedera nem fora vencido em nenhuma das batalhas, que perduraram por longos dez anos, desde a emigração do Mensageiro de Deus (as), em 622 a.d.
Nestas lutas sangrentas, morreram pouco menos de duzentos muçulmanos, ao passo que dos adversários, pereceram cerca de mil homens. E o resultado de tanto sacrifício e renúncia por parte dos Muhádjerín e dos Al-Ansár nestes dez anos de lutas árduas pelejas, o Islam se expandiu por toda a Península Arábica, para depois começar o envio dos Embaixadores Muçulmanos para outros Governos, tais como o dos persas, dos bizantinos, dos egípcios e dos abissínios, os quais entregavam aos Reis ou Príncipes desses países a Mensagem Islâmica (Arrissálat), onde o Profeta (saws) os exortava para o Islam.

Apesar de todo o poder e fama, o Profeta Mohammad (saws) vivia humildemente, aproveitando seu menor tempo livre ao trabalho, igualando-se na convivência com o povo comum e pobre, dirigindo-se a eles com igualdade e benevolência, sem privilegiar alguns sobre os outros… do maior ao menor… do mais pobre ao mais rico… independentemente de cor ou raça… ele (saws) os tratava com igualdade, benevolência e compreensão.

Dividia seu tempo em três etapas: A primeira etapa era destinada à devoção e à oração ao seu Deus e Senhor. A segunda etapa era dedicada à sua casa e família. A terceira etapa era para o atendimento do povo.

Costumava sempre pregar os conhecimentos islâmicos, ensinado tudo que se relacionava com os assuntos da sociedade islâmica, corrigindo os objetivos que se lhe apresentavam, esclarecendo o melhor caminho a tomar. Solucionava os problemas dos muçulmanos, seja individual ou em grupos. Aplicava as decisões judiciais nas relações internas e externas de seu governo e demais questões a elas ligadas.

Dez anos depois de sua permanência em Medina, o Profeta Mohammad (saws) segue em sua viagem à Eternidade, deixando atrás de si a vida terrena, por causa de um veneno fatal em sua iguaria, inserido pelas mãos assassinas e cruéis de uma judia, porém, apesar de não ter chegado a engolir a comida, esta deixou vestígios do veneno em sua saliva e conseqüentemente atingiu seu estômago, passando ele a sentir fortes dores intestinais até ficar acamado com a agonia da morte por dias a fio(6).

Conta-se que suas últimas palavras eram as recomendações aos direitos das mulheres e dos pobres.

Nota da Tradutora Complementar:

1. Este ano de 570 teve esta denominação, porque Abraha, vice-rei etíope no Iêmen, pretendeu destruir a Caaba, saindo de Sanaá com um poderoso Exército, levando consigo o seu elefante, o qual, por Vontade de Deus, pouco antes de entrarem em Meca, o animal não arredava de seu lugar a fim de não prosseguir em direção à Meca, e, por castigo, Deus fez com que os “Ababil”, uma espécie de pássaros jogassem sobre os invasores pedrinhas incandescentes (sidjíl) atingindo a todos, os quais a maioria morreu de terrível doença, e Abraha retornou ao Iêmen, onde foi desprezado até pela própria família, morrendo nas ruas como um indigente. E assim, a Sagrada Caaba foi salva pela proteção de Deus. Por esta razão, os árabes denominaram aquele ano por <<O Ano do Elefante>>.

2. A gruta “Herá” fica nos montes Taháma, nas imediações de Meca, no Hidjáz, e que hoje se denominam por “Djabal Annúr”, “Monte da Luz”.

3. De acordo com os relatos de “Ahel Al-Bait” (as), e dos poemas recitados por Abu Táleb, os xiitas acreditam que ele também aderiu ao Islam, inclusive pelo fato de ter sido o único defensor do Profeta (saws) contra dos coraichitas. Portanto, diante dessa conjuntura, Abu Táleb professava o Islam secretamente, a fim de preservar o seu poder e autoridade sobre os coraichitas e impedi-los de perseguirem ou lesarem seu sobrinho Mohammad (saws).

4. Yatreb era uma cidade ao norte de Meca, hoje chamada “Al-Medina Al-Munauara”, ou simplesmente, Medina, na região do Hidjáz, na Península Arábica.

5. Uma légua equivale a 4 quilômetros.

6. O Profeta Mohammad (saws) nasceu numa Segunda-feira, dia 12 de Rabi Al-Aual, 3° mês lunar árabe do “Ano do Elefante” (12/agosto/570 a.d.) e faleceu numa Quinta-feira, dia 28 de Çafar, 2° mês lunar árabe do ano 11 Hijrita (12/agosto/632 a.d.) aos sessenta e três anos de idade pelo calendário Hijra.

O Nobre Profeta e o Alcorão

As pessoas exigiam do Profeta Mohammad (saws) milagres, tal como ocorria com os demais Profetas (as) que o antecederam… e ele (saws) os confirmava igualmente como eles p faziam. Aliás, o Alcorão Sagrado menciona sobre isso.

Muitos milagres são atribuídos ao Mensageiro de Deus (saws), embora alguns deles não foram relatados com precisão, talvez por falta de recursos em serem aceitos ou creditados, porém, o milagre que se lhe permaneceu e continua vivo é o Alcorão Sagrado, seu Livro Celestial, o qual reúne 114 Suratas, ou seja, Capítulos, e exatamente 6236 Versículos.

Os versículos alcorânicos foram revelados de maneira gradativa, durante vinte e três anos, e eram revelados de diversas formas, seja de Suratas, de Versículos ou quase-versículos e, em diversas ocasiões, seja de dia, de noite, em viagem, na guerra, na paz ou em momentos fáceis ou difíceis.
O Alcorão sagrado, pelo conteúdo de seus Versículos, revela-se como um milagre que desafiou os árabes de então, pois eles já alcançavam o topo e o clímax da erudição, na eloqüência e na comunicação, conforme afirma a História… e no Livro Divino, em sua apresentação, encontramos as belas-letras e sua expressão, de acordo com a Revelação de Deus:

<<Que façam um recital igual a ele, se forem verídicos>>. Surat Attur – Capítulo 52, Versículo 34.

<<ou dirão, ele o forjou. Dize: vinde com dez Suratas igualmente forjadas e chamei (para o vosso auxílio) quem quiserdes, exceto Deus, se fordes verídicos>>. Surat Hud – Capítulo 11, Versículo 13.

<<ou dirão, ele o forjou. Dize: Vindo com uma Surata igual e chamei quem quiserdes, exceto Deus, se fordes verídicos>>. Surat Yúnes – Capítulo 10, Versículo 38.

Com estes Versículos, o Alcorão os desafiou, como se-lhes declarasse: “Se vós pensais que isto são palavras humanas ou vindas de Mohammad, ou que ele as plagiou de alguém, então vinde com o mesmo, ou com dez suratas, ou com uma surata, e recorreis a quem quiserdes em vosso auxílio, exceto o auxílio de Deus!”

Mesmo assim, e, diante das desistências, os eloqüentes e eruditos dentre os árabes exclamaram:
– “Isto é feitiço e nenhum de nós pode realizar algo assim!”

Em resumo, os sábios e eruditos árabes tentaram realizar e compor algo que se assemelhasse ao Alcorão, porém, acabaram sendo logrados por suas próprias sapiências.

E Deus Glorioso revelou:

<<e disse: Isto nada mais que um feitiço derivado de efeitos! Isto nada mais que palavras de um mortal>>. Surat Al-Mudather – Capítulo 74, Versículos 24 e 25.

O Alcorão Sagrado não desafiou os sábios apenas pelo lado da eloqüência e da retórica, mas também pelo que tange ao conteúdo que transcende à capacidade dos gênios e dos humanos comuns, com tudo o que possuem de condições em seu quociente de inteligência (Q.I.), isto porque o Alcorão reúne toda uma programação completa à vida humana… e se este Livro for analisado minuciosamente, verificaríamos de que ele é a base e a origem no domínio dos campos da existência da humanidade em todos os setores e sentidos imagináveis pelo que possui de convicções, índoles e ações, ligadas com o homem, que veio do Verdadeiro Deus, Cujo verdadeira doutrina.

E o Islam é uma religião que inspira sua Prudência e seu conteúdo do Verdadeiro Deus, e não da vontade da maioria ou do ideal de um Governante poderoso.

O pilar básico desta Lei abrangente, é a Palavra da Verdade, que é a crença em Deus Uno, e que tos os conhecimentos procedem da Unicidade, e conseqüentemente forma-se o caráter humano através deste regulamento, o qual se torna parte desta Lei, e então se organizam e se arranjam as totalidades e as partes que estão fora dos limites da pesquisa humana, e se estudam as responsabilidades a ela conectadas e que se afluem da Unicidade de Deus.

Na religião islâmica há um perfeito entrosamento entre os Regulamentos e as Ramificações, de forma que tudo converge e leva à Unicidade; e a expressão Unicidade com seu ajuste naquelas prudências, torna-se um de seus ramais.

É compreensível que a organização e ordenação finais dessa lei total e abrangente, com todo o seu conteúdo e reflexões, estão fora das responsabilidades do homem, por mais competente que ele seja e por maior que seja a sua cultura jurídica, fugindo-lhe às possibilidades, até, o próprio prefácio. Não se concebe que um homem possa viver num mundo tão conturbado, em meio a um oceano de problemas morais e materiais, num meio, onde as paixões levam até às guerras sangrentas e às seduções e fascinações internas e externas, e no final, acaba isolado e indiferente de tudo.

Destaque-se que o Profeta Mohammad (saws) não aprendeu a ler e a escrever com professores, pois ele passou dois terços de sua vida, anteriores à sua missão divina, em um ambiente carente de cultura e desenvolvimento intelectual, vivendo num deserto estéril, de esgotante atmosfera, apenas colonizada, primariamente por povos vizinhos. Apesar disso, surge o Alcorão, revelado por partes, ao longo de vinte e trens anos, tanto durante guerras, como nos dias de paz, e, em épocas de carência quanto em dia de bonança.

E, se o Alcorão Sagrado não fosse composto pelas Revelações de Deus Supremo, e fosse simplesmente formado pelos homens, encontrar-se-ia nele muitas contradições e divergências… e seria então substituído por outro mais aperfeiçoado, talvez…

Por outro lado, os Versículos revelados em Meca e Medina, paralelamente se encontram no mesmo sistema, não se divergindo entre si, tendo-se um Livro perfeito que desafia as mentes mais desenvolvidas devido o poder das belas-letras que possui.

Portanto, eis o que Deus Majestoso revelou através do arcanjo Gabriel, ao nobilíssimo Profeta (saws):

<<Vós não refletis sobre o Alcorão? E não fosse ele por parte de Deus, encontrar-se-iam muitas divergências>>.

A Noção Sobre o Dia do Juízo Final

** O Homem, Espírito e Corpo **
** Estudo Sobre a Verdade do Espírito, Sob Outra Visão **
** A Morte do Ponto de Vista do Islam **
** O Mundo do <<Limbo>> **
** O Dia da Ressurreição – Juízo Final **
** Outra Elocução **
** A Continuidade da Criação e Suas Conseqüências **

O Homem, Espírito e Corpo

As palavras Espírito(1), Corpo e Alma(2), foram muito citadas no Alcorão e no Preceito (Sunna), e, como é sabido, o Corpo se compõe pelos sentidos, tornando-se um fato simples, porém, imaginar a Alma e o Espírito, é algo muito mais profundo e obscuro.

Os pesquisadores, sábios e filósofos, tanto xiitas como sunitas, possuem teorias diferentes em relação à realidade do Espírito. Mas o Espírito e o Corpo, do ponto de vista do Islam, são duas realidades antagônicas entre si: o Corpo perde suas características vitais com a morte, e se decompõe gradativamente, enquanto que o Espírito não, pois a vida é uma ligação com o Espírito, enquanto ela se separa dele, o Corpo se torna inerte, enquanto que o Espírito prossegue vivo.

A essência que se extrai dos Versículos do Alcorão e dos ensinamentos dos familiares do Profeta provenientes de “Ahel Al-Bait” (as), é que o Espírito é imaterial, mas ele se forma um todo com o Corpo, como se conclui da Palavra de Deus, mencionada no Alcorão:

<<e criamos o homem da quinta-essência do barro e depois fizê-lo esperma em lugar seguro e firme, depois transformamos o esperam em coágulo, e metamorfoseamos o coágulo em feto ósseo e revestimos os ossos com carne e desenvolvemo-los em outra criatura, e Deus abençoou a melhor de Suas criações>>. Surat Al-Mumenún – Capítulo 23, Versículos 12, 13 e 14.

De acordo com a ordenação dos Versículos, notamos que, de início, descrevem o desenvolvimento gradativo da matéria, enquanto que, na parte final, falam do Espírito ou dos sentimentos e a capacidade com características totalmente diferentes, divergentes.

Em outro Versículo, em resposta àqueles que duvidam do Dia do Juízo Final, ou que o nega, indaga:

– “Como o homem, após a morte e sua decomposição, quando se mistura com as matérias da terra, poderia voltar e reassumir o mesmo corpo?”

A isso, Deus revelou:

<<Dize: O anjo da morte se apossará de vossos espíritos, o qual foi designado ser o vosso guardião, e depois vós retornareis ao vosso Senhor (a fim de serdes julgados por vossas ações)>>.
Surat Assajda – Capítulo 32, Versículo 11.

Além disso, o Alcorão Sagrado faz atinar sobre o Espírito em sua imagem absoluta e imaterial, com o seguinte:

<<E perguntar-te-ão sobre o espírito, diga: O espírito é pelo comando do meu Senhor…>>.
Surat Al-Issrá – Capítulo 17, Versículo 85.

Em outro Versículo:
<<Em verdade, quando Ele pretende algo; a um comando Seu Ele diz: Seja, e é!>>.
Surat Yássin – Capítulo 36, Versículo 82.

De acordo com esses Versículos, a criação de Deus não se fez gradativamente, não sofreu as delimitações da cronologia do tempo, sem as do espaço… e se o Espírito é um comando de Deus, ele é portanto, imaterial… Por isso, não está sujeito às delimitações de tempo, espaço e matéria, impostas ao Corpo.

Nota da Tradutora Complementar:

1. Espírito, entende-se por princípio imaterial e incorpórea do ser humano.

2. Alma, é a parte emocional da vida humana, essencial de um ser.

Estudo Sobre a Verdade do Espírito, Sob Outra Visão

A intelectualidade apóia também o Alcorão Sagrado na temática do Espírito. E cada um de nós, compreende a verdade pela sua própria existência, e por aquilo que conhecemos pelo <<eu>>… e esta compreensão existe no homem de forma contínua, apesar de, às vezes, ele se esquece de alguns órgãos de seu corpo, tal como a cabeça, a mão e demais órgãos, e até seu próprio corpo por inteiro, porém, ele sempre se lembra do <<eu>> enquanto ele existir, e esta “aparência” como ela é, não admite divisões nem ramificações, apesar do corpo humano estar sujeito a constantes alterações e transformações, tomando formas diferentes, passando por ele tempos diversos, enquanto o seu <<eu>>, ao contrário, permanece imutável.

É verdade que o corpo está sujeito a todas estas mutações, apesar destas mutações terem ligações espirituais, as quais defusam no Espírito… porém, as imaginações e ordenações que evidenciam ao homem, como as de um lugar e de outro… de um aspecto e de outro… de um lado e de outro… todas são próprias do Corpo e não do Espírito. Contudo, elas passam ao Espírito através do Corpo.

Conclui-se este tema alusivo à compreensão e aos sentidos na atividade do aprendizado e do conhecimento, por serem uma das características do Espírito e, neste mister, o Espírito não fica adstrito às delimitações do tempo, do espaço e da matéria.

A Morte do Ponto de Vista do Islam

A teoria geral considera que a Morte é o simples fenecimento e a decomposição do ser humano, limitando-se a vida ao lapso de tempo compreendido entre o nascimento e a morte. Já para o Islam, a Morte é a mudança de uma vida para uma outra vida que é, para o homem, uma vida perpétua – sem fim – e a Morte, que separa o corpo do Espírito, o faz transferi-lo à outra etapa de sua vida.
A felicidade e a infelicidade dependem de seus atos, bons ou maus na primeira etapa de sua vida.
O Profeta Mohammad (saws) dizia:

– “Vós pensais que feneceis com a morte, porém, vós vos transporteis de uma para outra casa”.

O Mundo do <<Limbo>>

O que o Alcorão Sagrado e o Preceito (Sunna) aludem, é que o ser humano usufrui da vida em tempo provisório e limitado até a intermediação entre a morte e o Dia do Ressurreição, que o que se chamaria de “Al-Barzakh”, isto é, “O Limbo”, que é considerado o elo entre a vida terrena e a vida eterna.

Após a morte, o homem é julgado segundo a sua crença e seus atos, bons ou maus no mundo, e depois desse julgamento sumário, conforme o resultado obtido, será condenado a uma vida feliz ou infeliz, na qual permanecerá até o Dia da Ressurreição.

A posição do homem no “Limbo” é semelhante a um indivíduo submetido a interrogatório pelos seus atos. É levado em um “Departamento Judiciário” onde é questionado, organizando-se um processo específico, após o que, fica aguardando o julgamento.

No “Limbo”, o Espírito vive de maneira semelhante à sua vida terrena: “Se foi bondoso, gozará do privilégio de ficar ao lado dos justos e santos, porém, se ele foi mal e cruel, seu Espírito permanecerá na tortura e nos queixumes, e seus companheiros serão os maus, habitantes da perdição.

Deus, louvado seja..! caracteriza alguns felizes, conforme os Versículos alcorânicos abaixo:

<<E não considereis aqueles que foram assassinados em prol de Deus como mortos, porém, eles estão vivos e agraciados ao lado de seu Senhor – Jubilosos pelo que lhes fora concedido por Deus em generosas providências e se congratularão pelos que ainda não os alcançaram (os mártires), e não há o que temer por eles, os quais não se entristecerão – pois eles usufruirão da recompensa de Deus em dobro, e Deus não extraviará a gratificação dos crentes>>. Surat Ále Imbrán – Capítulo 3, Versículos 169, 170 e 171.

Sob outro ângulo, Deus, referindo-se àqueles que esbanjavam suas fortunas em projetos mundanos inúteis, ilegais e imorais, assim revelou:

<<Até quando a morte chegar a algum deles, ele dirá: Ó meu Senhor! Faça-me retornar, a fim de praticar o bem naquilo que eu negligenciei. De nenhuma maneira! Pois ela não passa de palavra dita por ele, e diante deles está o Limbo (Barzakh) até o Dia em que ressuscitarão>>. Surat Al-Mumenún – Capítulo 23, Versículos 99 e 100.

O Dia da Ressurreição – O Juízo Final

O Alcorão Sagrado se distingue dos outros Livros Celestiais no que refere ao Dia da Ressurreição e à “Al-Hacher”, isto é, à aglomeração das pessoas neste dia, enquanto a Torah (Velho Testamento) não faz nenhuma menção à respeito e o Evangelho o menciona de forma resumida.

O Alcorão por seu lado, o lembra e o aponta em centenas de passagens, dando-lhe inclusive outras denominações, explicando e detalhando o Fim do Mundo e da humanidade, ora sintetizada e ora de forma global.

Ele faz notar repetidamente que a crença no Dia do Julgamento, ou, Dia da Ressurreição, se compara à crença em Deus Supremo, sendo considerada um dos três Regulamentos do Islam… e aquele que nega este Dia é considerado herege nos dogmas do Islam e seu fim é a perdição e o sofrimento.

A verdade é que, se não houvesse o Dia do Juízo Final, a nossa prestação de contas perante o nosso Criador, a questão religiosa, com toda a sua fundamentação, ditames e proibições divinos não teriam objetivo nenhum… e a Revelação não teria nenhuma importância… e as profecias quedariam como inexistentes… porque a aceitação da religião e a submissão aos seus cânones, não são isentos de sacrifícios, de renúncias e até de restrições de liberdade. Se a religiosidade não oferecesse compensações, certamente que o homem não abdicaria de sua liberdade natural.
Ressalta-se daí, que a crença na Ressurreição equivale a um pilar basilar da religião.

É evidente também, que a crença no Dia do Julgamento ou Dia do Juízo Final, seja um dos mais importantes fatores que obrigam o homem usar de piedade e devoção, e de se afastar das más condutas, da desobediência e dos crimes.

Deus Protetor e Majestoso revelou:

<<… Aqueles que se desviaram da Senda de Deus, está lhes reservada dolorosa punição por terem se esquecido do Dia da Prestação de Contas>>. Surat Çád – Capítulo 38, Versículo 26.

O que preconiza o Versículo citado, é que a origem de todo mal é a negligência quanto ao Dia do Juízo Final… O dia em que o homem terá que prestar contas de seus atos.

Os fundamentos básico da criação do ser humano e do mundo, assim como a ordenação dos Mandamentos Celestiais, residem, precisamente, no Dia do Juízo Final.

Quando organizamos os nossos atos em harmonia com a natureza, observamos que cada movimento – mesmo aqueles essências à vida – só se executa em função de um objetivo. A atividade humana, como tal, não é o objeto primordial, senão um passo premonitório para um fim determinado. Mesmo nos atos considerados supérfluos, como os absolutamente comuns… os brinquedos infantis.. se pararmos e analisarmos mais profundamente, verificaremos que na prática do ato reside o seu próprio objetivo, tal como o objetivo de brincar, para as crianças é atingir o brinquedo.

Na verdade, a criação do homem é do Universo é uma obra de Deus, o Qual está isento de realizar obras inúteis, sem objetivo determinado… pois é Ele Quem cria e Quem destrói. Seria inconcebível que a Sua criação não teria um alvo certo e um objetivo pré-determinado!

Sem dúvida, há na criação do Universo e do homem um objetivo e uma finalidade, cujos resultados não retornam a Deus que é Rico e Supremo, mas se voltam ao que foi criado. Portanto, deve-se admitir e reconhecer que o Universo, com tudo que contém, e até o próprio homem, foram destinados em direção à uma criação particularmente determinada, que lhes assegura uma existência perfeita, não sujeita ao desaparecimento e fenecimento.

Se nós nos aprofundarmos na essência existencial do homem e no que diz respeito à educação religiosa, deparar-nos-emos com duas classes distintas – apesar do efeito das orientações divinas e da instrução doutrinária – que são os bons e os maus, sem que isso os distingue entre si como seres humanos. Muito pelo contrário, pois o que se vê, é que os maus geralmente são coroados de sucesso – por serem excessivamente materialistas e frios – enquanto que os bons estão sempre sujeito às sedições e perturbações, numa vida cheia de sofrimento, privações e opressões.

A Justiça Divina estabeleceu uma terceira situação, onde cada uma daquelas classes vá encontrar a justa praga de seus atos e terão, então, a nova vida que merecerem, segundo seus atos.
Em Seu Livro Sagrado, Deus se refere a essas duas classes da seguinte forma:

<<Não criamos os Céus e a Terra e o que entre eles existe, para uma distração ou folguedo. Criamo-los para o bem, porém, a maioria o ignora>>. Surat Addukhán – Capítulo 44, Versículo 38.

<<E não foi em vão que criamos os Céus e a Terra e quanto entre ambos existe. Essa é a conjetura dos que não crêem. Ai dos incrédulos, deles será o fogo do Inferno. Acaso poderão ter o mesmo tratamento, tanto os crentes em Deus e aqueles que, por seus maus atos O ignoram?!>>. Surat Çád – Capítulo 38, Versículos 27 e 28.

E, em outro Versículo:

<<Pretenderiam os maus o mesmo tratamento e recompensas aos bons? Pensariam eles que suas vidas e suas mortes sejam iguais? E Deus criou os Céus e a Terra com a Verdade, e cada alma seja recompensada pelo que mereceu e não serão oprimidos>>.
Surat Ajáthiat – Capítulo 45, Versículos 21 e 22.

Outra Elocução

Já aludimos no Segundo Capítulo deste livro sobre as pesquisas exotéricas (aparentes) e esotéricas (secretas) do Alcorão Sagrado. E que os conhecimentos islâmicos no Livro Alcorânico são evidenciados através de caminhos diversificados, os quais se dividem também sob dois enfoques: o Exotérico e o Esotérico.

O que se visa no aspecto Exotérico, é a expressão objetiva do que está al alcance de todos, enquanto que o conteúdo Esotérico, ao contrário, é alcançada apenas por alguns, exatamente aqueles chamados Gnósticos, os quais Têm o intelecto ligado ao espírito psicológico.

Do aspecto Exotérico, extrai-se a verdade de que Deus, louvado seja, é o Senhor Absoluto de todo o Universo e tudo o que existe nele Lhe pertence, pois Ele é Quem criou um incalculável número de anjos para Lhe obedecerem e cumprirem Suas ordens, mandando-os para onde Ele quiser no Cosmo e a qualquer recanto do mundo da natureza e no que necessita de um sistema ligado a um conjunto especial de anjos, para se encarregarem dele.

Os homens, também por Ele criados Lhe devem obediência, e observação às Suas proibições. E os Profetas (as), não são mais do que portadores de Suas Leis e Mensagens Divinas, enviados à humanidade, os quais deverão ser anunciados e pregados.

Deus, louvado seja..! quando instituiu a retribuição e a recompensa para quem acreditou e obedeceu, instituiu também a punição e o sofrimento para quem desacreditou e desobedeceu. E é d’Ele a seguinte afirmação:

<<Deus jamais quebra as Suas promessas!>>

E sendo Justo, Ele impõe a separação entre os bons e os maus, determinando aos primeiros, na outra vida, o Paraíso eterno e aos segundo o sofrimento.

Deus Supremo prometeu pela Sua Justiça em aglomerar todos os que passaram por esta vida terra, sem exceção, a fim de prestar contas minuciosas com eles por seus atos e crenças, desde o menor ao maior, e depois os julgar com o direito e a justiça, e cada um obterá o que lhe é merecido, ou seja, uns ganharão o Paraíso e outros as chamas do sofrimento eterno.

Esta pe a evidência Exotérica que se capta do Alcorão e que é de conformidade com o pensamento humano em geral.

Aqueles, entretanto, que conseguiram penetrar o sentido Esotérico do Alcorão, ascendem ao âmago da essência contida nos Versículos e, por isso, situam-se em níveis mais elevados. O Alcorão, em sua visão Exotérica, deixa de transparecer, por vezes, o aspecto Esotérico.

O Alcorão Sagrado, na diversificação de suas colocações, destaca sempre, que a natureza em seus aspectos, e o homem é um deles, na sua marcha desenvolvida – que tende para a perfeição – segue rumo a Deus Supremo, e chegará o dia em que cessará o seu movimento e perderá sua identidade e sua liberdade.

O homem é uma das partes deste Universo, e o caminho para a sua formação pessoal escoa nas metas dos sentidos e do conhecimento até chegar a Deus Altíssimo. E o dia em que chegar a atingir esse estágio, verá a realidade de Deus Uno e então, constatará que o poder, a soberania e cada uma das atribuições da perfeição se complementam n’Ele, e a seguir, surgirá para ele a verdade de todas as coisas.

Esta é a primeira etapa no Mundo da Eternidade… Se o homem, neste mundo, seguir o caminho de Deus, se aproximar d’Ele e viver fraternalmente com seu semelhante, sem dúvida será premiado no outro Mundo e, terá assento junto a Deus e aos justos. Se, porém, entregar-se às luxúrias que a vida terrena oferece, afastando-se do caminho do bem, da caridade e da virtude, só encontrará na Eternidade, o sofrimento e a discriminação.

É verdade que todas as boas como as más ações do homem nesta existência terrena, são transitórias e extintas, porém, o seu reflexo permanece em seu íntimo por onde ele for, e serão a origem de sua vida vindoura, seja na alegria ou na tristeza.

Essas verdades estão condensadas nos seguintes Versículos:

<<Pois é ao teu Senhor o retorno>>. Surat Al-Alaq – Capítulo 96, Versículo 8.

<<Só a Deus se rendem os imperativos>>. Surat Achoura – Capítulo 42, Versículo 53.

<<A decisão final um dia será de Deus>>. Surat Al-Infitár – Capítulo 82, Versículo 19.

<<Ó alma tranqüila, retorne ao teu Senhor satisfeita e aceita; entre pois, e seja dos Meus devotos e se adentre em Meu Paraíso>>. Surat Al-Fajr – Capítulo 89, Versículos 27, 28, 29 e 30.

E no Dia da Ressurreição, Deus Glorioso falará a alguns dentre os humanos; de acordo com Sua Revelação:

<<… Tu estivesse em negligência à respeito disto, agora Nós removemos a tua coberta e tua visão está acentuada>>. Surat Qáf – Capítulo 50, Versículos 22.

Nas recitações do Alcorão Sagrado e pelas verdades que afluem em seus Versículos, Deus Majestoso revelou:

<<Acaso eles esperam algo além da comprovação do evento? No dia em que chegar o seu desempenho, aqueles que o tinham desdenhado dirão: “Os Mensageiros do nosso Senhor vieram pela verdade! Haverá para nós intercessores, a fim de intercederem por nós? Ou devemos retornar para agirmos de modo diferente ao que fazíamos? Mas eles já perderam suas almas e todo que forjaram se desviou”>>.

Surat Al-Aaráf – Capítulo 7, Versículo 53.

Deus Onipotente também revelou:

<<No dia em que Deus lhes der a merecida recompensa, reconhecerão que Deus é a Verdade evidente>>. Surat Annúr – Capítulo 24, Versículo 25.

<<Ó humano! Tu te esforças em se encontrar com Deus, com afinco, (mas no final) Tu O encontrarás?>>. Surat Al-Inchiqáq – Capítulo 84, Versículo 6.

<<Aqueles que ansiavam o encontro com Deus, (na vida futura, depois da morte, e se esforçaram por isso), certamente que a morte será decidida por Deus…>>. Surat Al-Ancabút – Capítulo 29, Versículo 5.

<<… pois aquele que anseia o encontro com seu Senhor, que pratique então o bem e não Lhe associe em sua devoção, alguém>>. Surat Al-Cahf – Capítulo 18, Versículo 110.

<<… conseqüentemente, quando vier a grande catástrofe (o Evento), no Dia em que o homem se lembrará (de tudo) que ele se esforçou, e o Inferno se manifestar ante a vista de quem for vê-lo. E àqueles que transgrediram e preferiram a vida deste mundo, o Inferno será a sua morada, porém, àqueles que se entreteram no temor pela posição de seu Senhor, e contiveram sua alma contra os desejos sombrios, o Paraíso será a sua morada>>. Surat Annázi’át – Capítulo 79, Versículos de 34 a 41.

O Alcorão Sagrado expõe também o assunto sobre a essência da recompensa pelos atos, com o seguinte:

<<Ó incrédulos! Não vos excusais neste Dia! Vós sereis retribuídos por tudo que fizestes!>>.
Surat Attáhirín – Capítulo 66, Versículo 7.

A Continuidade da Criação e Suas Conseqüências

Este mundo em que vivemos, tem tempo de vida limitada, e chegará o dia em que tudo perecerá, como registra o Alcorão Sagrado:

<<Não criamos os Céus e a Terra e tudo que há entre ambos senão pela justiça e por um fim decisivo…>>. Surat Al-Ahqáf – Capítulo 46, Versículo 3.

Teria existido um outro Mundo, povoado, antes deste em que vivemos e de nós/ E depois da extinção deste mundo e tudo que nele existe (conforme relata o Alcorão Sagrado) quiçá ser criará outro Universo e outras criaturas…?

Para estas indagações, infelizmente, ainda não se encontraram suas respostas, exceto leves alusões, porém, há relatos sobre a biografia dos Imames procedentes de “Ahel Al-Bait” (as) que são os familiares do Profeta Mohammad (saws), os quais responderam com precisão sobre estas questões.

O Conceito Sobre o Imám

** O Significado de <<Imám>> **
** O Imamato e a Sucessão do Profeta (saws) no Estado Islâmico **
** Confirmação às Notas Anteriores **
** O Imamato nas Ciência Dogmática **
** A Distinção Entre o Profeta e o Imám **
** O Imamato no Sigílo das Práticas **
** Os Imames do Islam e Seus Líderes
** Resumo da Vida dos Doze Imames **
** Pesquisas Sobre o Aparecimento do <<Al-Mahdi>> do Ponto de Vista Geral (os não-Xiitas) **
** Pesquisas Sobre o Aparecimento do <<Al-Mahdi>> do Ponto de Vista dos Xiitas em Particular **

O Significado de <<Imám>>

Atribui-se o título Imám ou Comandante àquele que guia ou lidera um grupo de pessoas ou toda uma comunidade, arcando com essa responsabilidade, seja em questões sociais, políticas ou religiosas, restringindo-se sua autoridade ao seu meio-ambiente, por vezes amplo e outras mais restrito.

Os sagrados dogmas islâmicos – como foi antecipado em Capítulos anteriores, neste livro – visam a vida comunitária do povo em toda parte e se destina para a orientação do homem em sua vida essencial, como também, em sua vida particular, como indivíduo, intervindo na solução de seus problemas, relativamente à sua vida social e liderativa – junto ao Governo – também.

Em face desse entendimento, o Imám, ou líder religioso no Islam, é fonte de responsabilidade em três aspectos:

1° Pelo aspecto do Governo Islâmico.
2° Pela elocução dos conhecimentos e das prudências islâmicas e sua propagação.
3° Pelo aspecto liderativo e orientador na conduta moral do homem.

Os xiitas acreditam que a comunidade islâmica necessita desses três aspectos de forma absoluta, e aquele que é indicado para a liderança nestes três aspectos, deverá ser designado por intermédio de Deus e de Seu grandioso Mensageiro (saws), visto que o Profeta (saws) designa o Imám por ordem de Deus Supremo.

O Imamato e a sucessão do Profeta (saws) no Estado Islâmico

O ser humano, com todas as dádivas divinas, sabe perfeitamente que qualquer comunidade, em qualquer parte da Terra, ou de um reino, cidade, vilarejo, tribo, e até em uma cada formada por diversas pessoas, que o homem não consegue viver o seu dia-a-dia sem um líder ou tutor, o qual só a ele compete dar um impulso à vida, movendo as rodas de sua economia e distribui entre seus membros na sociedade, o seu cargo social, pois uma sociedade sem líder está fadada á anarquia, às paixões desenfreadas, ao desrespeito e a queda de seu nível moral.

Assim sendo, aquele que assume o Comando de uma comunidade – grande seja ou pequena – e que tenha consciência do seu cargo, começa a empenhar-se em prol da comunidade, já com a nomeação de um vice ou sucessor que o substituía em sua ausência – seja temporária ou definitivamente – sem o que, não se ausenta deixando sua comunidade sem um guardião ou Comandante para protegê-la, porque receia que sua ausência leve-a ao enfraquecimento e até ao perecimento… como um chefe de família que pretenda se ausentar por dias ou meses, escolhe um dos membros da família – ou outro – entregando-lhe a direção de sua casa… Igualmente o fazendo o Chefe de uma instituição, o Diretor de um estabelecimento de ensino, o dono de uma loja, os quais escolhem um entre seus funcionários qualificados para que os substituísse em suas ausências, dando continuidade às suas atividades e para que os problemas que surgiriam tivessem a devida solução.

O Islam é uma doutrina cuja essência é a doação, conforme recitado no Alcorão e no Preceito Profético (Sunnah Annabauiya). É um sistema social, assim reconhecido por todos os que deles têm conhecimento, mesmo não sendo seus adeptos. E a proteção especial que Deus Majestoso e Supremo e Seu Profeta nobre dão à esta religião, não é negada por ninguém, o que não nos caberia descriminá-la ou assimilá-la com algo!

E o Excelso Profeta (saws) nunca deixou a sociedade que aderiu ao Islam, ou a sociedade que foi dirigida e governada pelo Islam, ou alguma Província ou Vilarejo sujeitos ao Islam, sem que lhes enviasse um Líder para administrar aquelas comunidades. A mesma atitude tomava na Guerra Santa, enviando uma divisão do Exército muçulmano, sob o Comando de um ou mais líderes, como aconteceu na guerra de “Mo-ta”, quando nomeou três Companheiros para, na morte do primeiro, suceder-lhe o segundo e a este o terceiro e assim sucessivamente.

O Islam deu muita importância à questão da sucessão, tanto é, quando o Profeta (saws) se ausentava de Medina, ele deixava alguém em seu lugar. Inclusive, quando o Mensageiro Mohammad (saws) decidiu emigrar de Meca para Yatreb (Medina), ele nomeou seu primo Ali Bem Abi Táleb para substituí-lo a fim de resolver seus assuntos particulares, tais como, a devolução do dinheiro e objetos de valor deixados com ele em confiança, e pagar o que estava em pendência… o mesmo ocorreu antes de sua morte, ele (saws) chamou Ali e incumbiu-o para a mesma tarefa.

De acordo com esta regra, os xiitas alegam ser impossível que Profeta (saws), antes de falecer, não recomendasse ou indicasse alguém que o sucedesse nas questões da Nação e administrasse o Estado Islâmico.

Não há dúvida que o desenvolvimento de uma sociedade – e a própria razão humana admite-o – depende da soma de usos e costumes aceitos pela maioria dos que compõem o meio e cuja fixação depende de um Governo justo que adote formas de execução desses usos e costumes de maneira perfeita, o que não escapa à observação do inteligente que não o ignora. Tudo isso era perfeitamente conforme e de acordo com os preceitos islâmicos, com toda a sua precisão e ordem, e com tudo o que, para tanto, fazia o Profeta (saws) que não media esforços para o fortalecimento da legislação, considerando-se que ele (saws) era o gênio do seu tempo, pela agudez de seu espírito e rapidez de raciocínio.

E conforme ouvimos através de notícias comentadas, vindas de fontes gerais e particulares, que o Profeta Mohammad (saws), previa as dificuldades, intrigas, falsidades e corrupções que a nação islâmica passaria depois que ele se for, por causa dos maus Governantes, tais como os da dinastia Marwânida e outros, os quais alteraram e deturparam a Legislação generosa.

O Mensageiro de Deus (saws) se preocupava com os acontecimentos futuros depois de sua morte. Então, como se pode afirmar que ele ignorava e não previa tudo, seja do menos ou mais importante caso? Justo o Profeta Mohammad (saws), que dedicava toda a atenção especial aos menores problemas do homem, como a alimentação, o bem-estar geral, sendo visto freqüentemente em plena atividade, ordenando soluções às questões de sobrevivência! E como é possível asseverar que ele não se preocupava com os assuntos políticos e com a sua sucessão, nomeando quem o sucederia?!

Contudo, nós não temos em mãos alguma declaração por escrito (sobre a sucessão de Ali Bem Abi Táleb (as) depois do Profeta (saws)), pois se houvesse algum texto nítido, não o sucederia quem o sucedeu…

Enquanto que o 1° Califa nomeou por testamento o 2° Califa, e este, com a alegação de que o 3° Califa foi eleito pelos seus membros do Conselho… Porém, o 4° Califa recomendou seu filho para a sucessão.

No entanto, Moáwiya(2) usou a força no pacto de paz com o Imám Al-Hassan (as), conseguindo o seu objetivo, e, a partir de então, o califado tornou-se hereditário e os conceitos religiosos se alteraram, no que diz respeito à militância na Guerra Santa (Harbun Muqaddasatu), à ordem pelo obséquio e à advertência contra o abominável, às restrições, etc… Tudo isso desapareceu da sociedade islâmica, abalando-a.

Por seu lado, os xiitas conseguiram esse resultado, através de pesquisas e estudos da psicologia humana e das biografias dos pensadores, bem como, por se aprofundarem nas análises fundamentais dos dogmas islâmicos, os quais têm como objetivo incentivar o caráter humano à meditação sobre a vida social, tal como a praticava o Profeta (saws) e que através de sua percepção e estudo, ele previra os acontecimentos malfadados que ocorreram realmente após a sua morte, levando os muçulmanos ao sofrimento e ao desespero.

Existem textos suficientes autorizados pelo Profeta Mohammad (saws) quanto à nomeação de um sucessor (Imám e Califa ao mesmo tempo) que o sucedesse após a sua morte, o que aliás, os versículos alcorânicos e as notícias cujos registros absolutos, apontam sobre este tema, tal como podemos verificar em <<Áyát Al-Wiláyah>>, isto é, nos <<Versículos da Sucessão>>; em <<Hadís Khom>>(3), isto é, <<Relato de Ghadir Khom>>; em <<Hadís Assafina>>, isto é, no <<Relato da Arca>>; em <<Hadís Al-Haq>>, isto é, no <<Relato do Direito>>; em <<Hadís Al-Mânzala>>, isto é, no <<Relato da Posição>>; em <<Hadís Daawat Al-Achíra Al-Aqrabiya>>, isto é <<Relato da Convocação do Clã dos Parentes>>; etc… No entanto, tudo o que foi exposto pelos Versículos alcorânicos e relatos da Tradição (Hadís), sofreu interpretações modificativas, com os mais variados pretextos.

Nota da Tradutora Complementar:

1. Moáwiya era filho de Abu Sufián e Hend Bent Otba, os maiores inimigos do Profeta Mohammad (saws), “convertidos” posteriormente para o Islam por conveniências e, no tempo do califado de Omar Ibn Al-Khattáb, Moáwiya foi designado Governador das Terras do Chám, radicando-se em Damasco, sede de seu Governo, e, no ano 661 a.d. fundou a dinastia dos Omíadas, a qual iria dirigir o mundo Islâmico por 89 anos.

Nota do Autor:

2. Eis que se aponta nos Versículo da Sucessão sobre o pronunciamento pendente, o que confirma a sucessão sobre o pronunciamento pendente, o que confirma a sucessão de Ali Bem Abi Táleb (as):

<<As vossas reais autoridades são Deus, Seu Mensageiro e aqueles que creram, os quais estabeleceram as orações regulares, e a caridade regular (Azzacát), e genuflexam humildemente>> – Surat Al-Má-eda – Cap. 5, Vers. 55.

De comum acordo, tanto os xiitas quanto os sunitas entenderam de que este versículo é alusivo a Ali Ben Abi Táleb (as), inclusive foram muitos os relatos que apóiam a questão.

O relator Abu Zôr Al-Gháffári, disse:

– “Certo dia, estive orando em companhia do Mensageiro (saws) a oração do Meio Dia, na mesquita, quando surgiu um homem indagando uma esmola, porém, quando ele viu que ninguém que o atendera, levantou a sua mão para o céu e exclamou: <<Ó Deus nosso! Sê a minha testemunha de que indaguei por uma esmola no massjed Rassúl Allah e ninguém me deu algo!>>. Ali estava ajoelhado orando, e então, ele fez sinal para o homem com seu dedo mínimo da mão direita, onde havia um anel. O pedinte se aproximou de Ali, o qual retirou o anel de seu dedo mínimo e deu-o para ele. O Mensageiro (saws) presenciou o fato, e, quando ele terminou a oração, levantou a cabeça para o alto e exclamou: <<Ó Deus nosso! Moisés Te suplicou: Ó meu Senhor! Alivie o meu peito e facilite a minha incumbência, e desfaça o nó da minha língua, e faze-os entenderem o que lhes direi, e dê-me um Ministro de dentre a minha família, Aarão, meu irmão, reforce o meu vigor com ele, e faze-o se associar à minha incumbência”>> (Surat Taha – C. 20, V. 25 a 32). Em seguida o Profeta (saws) recebeu o seguinte versículo:

<<Ele disse: Nós te fortalecemos através de teu irmão, e faremos de ambos autoridades, e eles não vos alcançarão. Vós ambos e aqueles que vos seguirão, triunfarão com Nossos sinais>> (Surat Al-Quiças – Cap. 28, Vers. 25).

Eis que Gabriel lhe passa a transmitir outro versículo da Revelação que diz: <<Lê!>> O Profeta indagou: “Ler o que?!” e Gabriel lhe respondeu:

<<Lê: As vossas reais autoridades são Deus, Seu Mensageiro e aqueles que creram, os quais estabeleceram as orações regulares, e a caridade regular (Azzacát), e genuflexam humildemente>>.

E dos versículos alusivos à sucessão de Ali Bem Abi Táleb (as), tem-se o seguinte:

<<… Hoje se desesperam os incrédulos por causa de vossa religião. Não os temais, porém, temei-Me! Hoje complementei para vós a vossa religião e rematei sobre vós a minha graça e consenti para vós o Islam como doutrina>> *Surat Al-Má-eda – Cap. 5, V. 3).

O versículo em si, esclarece que os incrédulos tinham por objetivo dizimar a missão islâmica juntamente com seus missionários, mas Deus Majestoso e Supremo fez com que suas esperanças se transformassem em desespero, e Ele complementou a Sua religião e ergueu a sua construção… e talvez esta questão não seja das prudências parciais do Islam, porém, uma questão que se volta à uma importância particular, com a qual o Islam conta para a sua permanência e continuidade.

Talvez o exoterismo deste versículo (Cap. 5, v.3) seja conectado com o versículo 67 do mesmo capítulo, que o seguinte:

<<Ó Mensageiro! Proclame o que foi revelado a ti da parte de teu Senhor, e se não o fizeres, tu não terias pregado a Sua Mensagem, e Deus te protegerá das pessoas…>>.

Este versículo mostra que houve uma questão grave, imposta ao grandioso Mensageiro (saws), a fim de cumpri-la, caso contrário, a Mensagem Islâmica e seus objetivos expor-se-iam ao perigo, e isto tem sido de máxima importância, ao mesmo tempo em que o Profeta (saws) temia a objeção por parte dos opositores, aguardando a primeira oportunidade para expor de vez o complemento da Mensagem, por ordem divina.

Por isso, ele adiava a propagação do assunto à nação islâmica, até que lhe foi revelado o versículo, onde o Senhor do Universo ordena Seu nobre Mensageiro (saws) em divulgá-la sem hesitação ou temor, exceto o temor a Deus Majestoso e Supremo.

Este assunto não faz parte dos textos da prudência, pois na falta de divulgação das prudências islâmicas não significa o abalo completo da entidade islâmica, isto de um lado, e, de outro, o nobre Profeta (saws) temia (isto antes de receber a ordem de Deus) a exposição das prudências islâmicas à nação islâmica.

Estes testemunhos e textos, confirmam, de que os versículos acima mencionados, foram revelados em Ghadir Khom com prestígio de Ali Bem Abi Táleb (as), apoiados por muitos eruditos e intérpretes dos nossos irmãos sunitas.

Conta-se que Abi Said Al-Khadari relatou o seguinte:

– “O Mensageiro de Deus chamou a multidão em Ghadir Khom, e, diante de todos, pegou ambas as mãos, pelo pulso, de Ali, e os levantou até que se viu a brancura das axilas do Profeta, o qual exclamou: Deus é o Excelso! (Allah Akbar!) Pela complementação da doutrina e integração da graça e aprovação de Deus pela minha missão! Sabei todos que a sucessão é de Ali depois de mim!… Aquele que lhe fui Governante, Ali lho será também! Deus nosso direciona quem o acatar, e se inimiza com quem o hostilizar, e triunfa quem o triunfar, e desampara quem o abandonar!’ E prosseguindo, Mensageiro recitou o versículo que recebeu na véspera: Hoje complementei para vós a vossa religião e rematei sobre vós a minha graça e consenti para vós o Islam como doutrina…”
Houve seis relatos de diversas fontes, e quinze de fontes especiais, sobre a revelação do versículo mencionado acima, ter sido recebido em Ghadir Khom, porém, os inimigos do Islam, os quais tentaram destruí-lo, usando de diversos meios, viram-se logrados depois da nomeação de Ali para a sucessão, ficando à espreita nos acontecimentos; e quando o Mensageiro Mohammad (saws) – o qual era considerado o Guardião do Islam e preservador de sua Mensagem divina – faleceu, tentaram abalar os alicerces do Islam até derrubá-los, porém, com a proclamação do Profeta (saws) no dia de Ghadir Khom tirou-se-lhes a força, pos a incumbência para a preservação do Islam ficou a cargo do clã de “Ahel Al-Bait”.

Para aqueles que gostariam de se aprofundar no assunto, poderão pesquisar <<Tafssír Al-Mizán>>, isto é, <<A Interpretação do Equilíbrio>>, Quinto Volume, nas páginas de 177 até 214, e, no Sexto Volume, nas páginas de 50 a 64, com as especificações dos livros.

Relato de Ghadir Khom – Ao retornar da Peregrinação do Adeus (Hidjat Al-Wadá), o Mensageiro (saws) parou em um local chamado Ghadir Khom, onde deu a ordem de reunir todos os muçulmanos que estavam retornando da peregrinação… e quando ajuntou-se a multidão, ele (saws) discursos a ela, nomeando publicamente Ali Bem Abi Táleb como seu sucessor após a sua morte, passando a ser o Califa dos muçulmanos.

O relator Al-Barrá conta:

– “Eu estive com o Mensageiro na Peregrinação do Adeus, e quando chegamos a Ghadir Khom durante o trajeto de volta para Medina, preparou-se um amontoado de cargas debaixo de duas árvores, nas quais o Profeta subiu para que todos pudessem vê-lo e ouvi-lo, e chamou Ali para junto dele… Depois, pegou sua mão direita e disse: ‘Acaso eu sou o Governante de cada um de vós?’ E todos responderam afirmativamente; e então, ele prosseguiu: ‘Pois este é o Governante daquele que lhe sou. Deus nosso direciona quem o acatar, e se inimiza com que o hostilizar!…’ Nisso, Omar Ibn Al-Khattáb exclamou: Parabéns ó Ali! Tu te tornaste o Governante de todo crente e de toda crente!’”.
Este relato é confirmado em diversas obras de grande prestígio e importância, tais como as obras: <<Al-Bidáya Wan-Niháya>> – <<Zakháer Al-Oqba>> – <<Al-Fuçúl Al-Muhemma>> de Ibn Al-Sabbágh, etc…

Relato da Arca – Ibn Abbás (que Deus o aprove) relatou o seguinte:

– O Mensageiro de Deus sempre dizia: ‘Os componentes da minha casa, se assemelham à arca de Noé. Aquele que nela embarcou, salvou-se; e aquele que agarrou-se nela, triunfou; e os que se afastaram dela, se afogaram’.

As palavras do Profeta (saws) foram confirmadas também em diversas obras importantíssimas como: <<Zakhá-er Al-Oqba>>, <<Açawá’eq Al-Mohreqa>> <<História dos Califas>> – <<Gháiát Al-Marám>>, etc…

Enfim, esta frase foi mencionada em onze fontes diversas e em sete especiais.

Relato dos Dois Encargos – Zaid Bem Ârqam relatou o seguinte:

– O Mensageiro de Deus recomendou: “Fui chamado e eu atendi, e eis que deixou em vossas mãos dois encargos que são: o Livro de Deus e meus descendentes provenientes de Ahel Baiti (quis referir à descendência sua filha Fátima e seu marido Ali Bem Abi Táleb). Estejais alertas por eles e cuidai como ireis me substituir nisso, porque eles e o Alcorão jamais se separarão até o Dia que se me retorne a questão! (no Dia da Ressurreição)”.

Este fato foi relatado nas obras: <<Al-Bidáya Wan Niháya>> – <<Zakhá-er Al-Oqba>> – <<Al-Fuçúl Al-Mohemma>> – <<Al-Khaçá-es>> – <<Açawá’eq Al-Mohreqa>>, etc…

O assunto sobre o Relato dos Dois Encargos (o Alcorão Sagrado e o clã de Ahel Al-Bait) é considerado dos mais absolutos, mencionado em diversas escrituras com diversas expressões, contudo concordantes entre si, seja pelos sunitas ou xiitas, e isto é comprovado pelo seguinte:

1) Enquanto o Alcorão permanecer nas mãos dos homens até o Dia da Ressurreição (Juízo Final), o clã ou descendência de “Ahel Al-Bait” também o serão, seja em qualquer tempo e em qualquer lugar, através de um verdadeiro Imám e Líder para a nação islâmica.

2) O Mensageiro de Deus (saws) ofereceu através destes dois caminhos (o Alcorão e sua descendência provenientes de “Ahel Al-Bait”) tudo que os muçulmanos necessitaram, seja intelectual ou religiosamente, e fez com que seus familiares de “Ahel Al-Bait” sejam a fonte do conhecimento e da doutrina islâmica, apoiando-os e a seus atos de forma fixa e absoluta.

3) Não é possível que o Alcorão se separe de “Ahel Al-Bait”, como não é de direito de algum muçulmano tente separá-los e relegue de lado seus métodos e suas orientações.

4) Quando as pessoas acatam “Ahel Al-Bait” e se apegam aos ensinamentos, elas nunca se perderão e o direito será sempre o seu aliado.

5) Tudo que as pessoas necessitam em sabedoria, conhecimento e assuntos religiosos, encontra-se nas fontes de “Ahel Al-Bait”, e aquele que segue o caminho deles, não se extraviará nem perecerá espiritualmente, tendo a verdade e a felicidade ao seu alcance, pois “Ahel Al-Bait” são protegidos contra o erro e a assimilação… Contudo, esclarece-se de que os familiares do Profeta Mohammad (saws) aos quais referimos, não se tratam dos parentes ou descendentes das demais filhas que teve, porém, trata-se apenas daqueles que possuíram uma posição especial, por causa dos conhecimentos profundos que obtiveram sobre a religião, sendo considerados com absoluta certeza isentos de erro ou esquecimento ou dúvida, e isto, para que possam, com a sua infalibilidade, guiar e liderar a nação, e que são Ali Bem Abi Táleb, seus filhos Al-Hassan e Al-Hussein e os nove Imames descendentes deste último (a paz esteja com todos eles).

Confirmação às Notas Anteriores

Nos últimos dias do Profeta Mohammad (saws), em que ele adoeceu, e, sendo rodeado pelos Companheiros (Sahába), disse-lhes:

– “Eis que vos deixarei um Livro escrito, pelo qual vós jamais se perderão”.

Nisso, alguns comentaram entre si:

– “O Mensageiro de Deus já está vencido pela dor!.. Afinal, vós tendes o Alcorão que é o Livro de Deus…”

Entretanto, outro grupo dos presentes descordaram opinando:

– “Deixai-o ditar um registro para que não se percam…”

A intenção do Mensageiro (saws) era perigosa e inconveniente para a maioria presente, os quais não concordavam que a nomeação de um sucessor seja feita também por escrito, e a discussão entre as partes se alterou, até que, diante do tumulto, o Profeta (saws), indignado, ordenou:

– “Saiam!”

Com o que se antecipou sobre as discussões, destaca-se que aqueles que não queriam nenhuma mensagem ou decisão do Profeta (saws), conseguiram, no dia seguinte à sua morte, eleger o Califa, à revelia do Imám Ali Ben Abi Táleb (as) e sem o conhecimento dos amigos deste, deixando-os diante de um fato consumado. Fizeram-no porque sabiam que o Profeta (saws) iria nomear o seu sucessor, ou seja, o Imám Ali (as).

O objetivo deles, na casa do Profeta (saws) era o de tumultuar o ambiente, de forma a impossibilitar a nomeação de um sucessor por escrito, e não propriamente que o Mensageiro (saws) estivesse variando e proferindo “expressões inadequadas”. Há que se destacar, entretanto, três pontos básicos:

Primeiro – Porque o Profeta (saws), durante todo o período de sua doença, nunca se expressou de forma inconveniente e ninguém a isso se referiu. Além disso, não é permitido a nenhum muçulmano, segundo a religião, atribuir ao Profeta (saws) perda das faculdades mentais, sabendo-se que ele é protegido por Deus.

Segundo – Se a intenção tivesse sido honesta e sincera, não haveria necessidade do que disseram “Basta-nos o Livro de Deus”. E, não fosse ofensivo o que foi dirigido ao Profeta (saws), bastaria mencionar sua doença. Tudo isso não foi ignorado por nenhum dos Companheiros (Sahába), particularmente que o Alcorão determina à nação islâmica que se siga o Profeta (saws) e que se observe a obediência a ele, pois sua palavra é justa e concordante com o Alcorão e ao homem não é dada escolha ou opção diante da prudência de Deus e de Seu Mensageiro.

Terceiro – O que ocorreu durante a doença do Profeta Mohammad (saws), aconteceu também, quando adoeceu o 1° Califa Abu Bakr, no tempo em que estava nomeando o 2° Califa que o sucederia, ditando a Othmán Ben Affán, e que, antes de pronunciar o nome de seu sucessor, sofreu um desmaio, e, ao voltar a si, os presentes o notificaram que foi registrado o nome do 2° Califa, como sendo Omar Ibn Al-Khattáb, ficando o caso sem qualquer protesto ou comentário, principalmente por parte do 2° Califa, que já esperava pela sua nomeação.

Além de tudo isto, o 2° Califa Omar Ibn Al-Khattáb, numa entrevista com Ibn Al-Abbás, confessou:

– “Percebi que o Mensageiro de Deus pretendia nomear por escrito Ali Ben Abi Táleb como seu sucessor, porém, os interesses dos muçulmanos exigiam o contrário… O califado deveria ser de Ali, e se isso ocorresse, ele imporia o Direito, o que contraria os interesses Coraich. Por isso, evitei que isto ocorresse”.

O que se sabe, é que os equilíbrios religiosos determinam que aquele que se desviar da Verdade, deverá se retroceder, retornando à ele, e não negligenciá-la por causa dos interesses pessoais.

Segundo relatam os livros de História, o 1° Califa ordenou a guerra contra as tribos muçulmanas que se negaram a pagar o Donativo (Azzacát), dizendo:

– “Por Deus, que vou combater todos os que negarem pegar Azzacáto! Afinal, eles já o faziam ao tempo do Profeta!”.

O pretendido com isso, é que a Lei e sua execução são obrigatórias, por mais alto que seja o seu preço, porém, a questão do Califa é também de direito, só que ela é mais onerosa do que a razão e preço.

O Imamato na Ciência Dogmática

Nos capítulos anteriores, referimo-nos ao Profeta Mensageiro (saws) e afirmamos – de acordo com a Lei assente e necessária para a orientação geral – de que qualquer espécie dos gêneros existentes, se dirige em direção da felicidade e da perfeição que mais se convém , e isto acontece através da inteligência e da formação.

E o homem, sendo uma das espécies deste gênero existentes, não foge à regra desta Lei universal, e por isso, ele deve se direcionar ao caminho, próprio de sua vida, o que lhe garantiria a felicidade nesta exigência terrena e na Eternidade, e isto, é regido pelo instinto, guiado pelo ponto de vista e pela meditação sobre a sua vida social. Por outro lado, ele deve entender um conjunto de dogmas e cargos operacionais, a fim de constituí-los como uma base em sua vida, para que possa alcançar com ela, a felicidade e a perfeição. Dissemos também, que o método da vida é o que chamaríamos por “Religião”, o qual não procede pela razão, mas por outra senda chamada e inspirada Revelação (Al-Wahi) e pela Profecia (Annubúa) e que são privilégios dos justos e bondosos homens santos de Deus (Auliá Allah), os quais são os Profetas e Mensageiros celestiais.

Aos Profetas, incumbiu-se a responsabilidade de orientar as pessoas através da Revelação de Deus Supremo, e quando os homens se agarrarem àqueles ditames e advertências, assegurar-lhe-á a felicidade.

Esclarece-se que esta evidência confirma a necessidade de haver compreensão entre os homens, Omo é de obrigatoriedade e exigência, formarem-se especialistas (teólogos) para este projeto, a fim de poderem levá-lo às pessoas quando isto torna-se indispensável.

Assim também, é mister haver pessoas versadas nos deveres humanitários – e isto vem através de dons divinos – os quais se dispõem a ensiná-los à sociedade a fim que estes deveres se tornem permanentes enquanto houver vida humana e sejam expostos na hora da necessidade.

Aquele que arca com essa responsabilidade é considerado Guardião da Religião Divina e ele é indicado por Deus, passando a denominar-se por Imám, assim como aquele que recebe a Revelação Divina e transmite as Leis de Deus se chama Profeta.

É provável que a Profecia e o Imamato estejam em um só homem, porém, isto não ocorreu… Entretanto, as evidências confirmam a infabilidade os Profetas e a infabilidade dos Imames.

A Distinção Entre o Profeta e o Imám

A admissão das jurisprudências e dogmas celestiais, as quais se concluem através dos Profetas, nos confirma o assunto da Revelação (Al-Wahi), de acordo com o que se mencionou no Capítulo anterior… o que não implica que haja quem apóie a sua continuidade e permanência em distintas conservações e defesas, que são consideradas questões contínuas, pelas quais chegamos à conclusão de que não é necessariamente, obrigatório que exista sempre um Profeta entre as pessoas, porém, é mister que haja um Imám entre elas, seja ele conhecido ou não na sociedade humana… e o Prudentíssimo apontou em Seu Livro (Alcorão) o seguinte:

<<São aqueles a quem concedemos o Livro, a prudência e a profecia, e se estes (os coraichitas) os rejeitarem, confiamo-los a um povo que não seja incrédulo (os imigrantes muçulmanos “Al-Muhágerín” e os aliados “Al-Ansár”). Surat Al-Anaám – Capítulo 6, Versículo 89.

Como se referiu anteriormente, admite-se a possibilidade de um só homem possuir ou reunir as duas posições (a de Profeta e a de Imám)… e nesse caso, ele seria um privilegiado, com destaque especialíssimo sobre os demais (sendo responsável pela doutrina, sua preservação e o empenho em divulgá-la).

Houve épocas e períodos em que não apareceu nenhum Profeta Entretanto, sempre houve um Imám de direito para cada época. É evidente pois, que o número de Profetas é limitado, não tendo surgido em todos os períodos da vida humana.

O Prudentíssimo apontou em Seu evidente Livro alguns Profetas que se privilegiaram com as características do Imamato, tal como o foi Abraão (as):

<<E quando Abraão conheceu as palavras de seu Senhor(1) e ele as observou, disse-lhe: Designar-te-ei Imám para os homens. Perguntou-lhe (Abraão): E dos que são de minha descendência?Respondeu-lhe: Os opressores não alcançarão a minha promessa>>. Surat Al-Baqara – Capítulo 2, Versículo 124.

Em outro Versículo alcorânico, Deus revelou:

<<E os designamos Imames para guiarem segundo os Nossos desígnios>>.
Surat Al-Anbiá – Capítulo 21, Versículo 73.

1. Que são as ordens e advertências alusivas aos rituais da peregrinação (Al-Hadj), ao gargarejo, à fricção durante a limpeza; e sobre o dever de aparar a barba e o bigode, pentear e separar o cabelo, cortar as unhas dos pés e das mãos, depilação das axilas, barbear os serviçais, lavagem das partes íntimas do corpo e a circuncisão.

O Imamato no Sigilo das Práticas

Ao mesmo tempo em que o Imám é um líder da nação, que orienta a conduta dos homens no seio da sociedade, ele é também líder-espiritual relativamente pelo lado psicológico junto ao Criador do Universo.

Para que se possa esclarecer esta questão, é necessário observar a análise das suas seguintes colocações:

Primeiro – Não há dúvida ou indecisão de que o Islam e demais religiões não cheguem admitir que o único caminho para se chegar à felicidade ou a infelicidade, dependem das ações do próprio homem, se forem boas ou más… e a doutrina em si o guia, como o seu instinto o orienta ao discernimento entre o bem e o mal.

E Deus Glorioso evidencia estas ações através da Revelação (Al-Wahi) e a Profecia (Annubúa), de acordo com o alcance do nosso raciocínio e em um idioma que compreendemos e usamos, de forma imperativa, advertente, melhorada ou piorada, conforme a obediência ou a arrogância e rebeldia, anunciando aos bons e obedientes uma vida feliz e eterna, enquanto promete aos maldosos e opressores uma vida de infortúnio imorredouro, abandonados na miséria e na privação.
Não há dúvida nenhuma de que Deus Supremo é acima do que imaginamos ou raciocinamos, pois Ele não pode ser comparado à semelhança dos homens, mesmo por meio da reflexão.

E nesta concordância, não se pode atribuir que haja um senhor e um senhoreado… um líder e um liderado… um imperativo e uma advertência… uma recompensa e uma punição, em situação quociente, exceto em nossas vidas sociais… Entretanto, o sistema divino é um aparato cósmico, que liga ávida de cada criatura e cada existência com Deus Criador, de uma forma precisa e concreta.
O que se pode aproveitar do Alcorão Sagrado com os versículos que dizem: <<E o Livro evidente, Nós temos feito dele um Alcorão arábico, para que vós (povo de Meca) passais compreender seu significado, pois ele é confirmado pela Mãe do Livro (o Livro original) em Nossa presença, em alto conceito a integral prudências>>(1)… e das palavras do grandioso Profeta (saws), é que a religião se abrange em verdades e conhecimentos, ultrapassando as fronteiras do nosso raciocínio e da nossa compreensão, e que Deus Protetor e Majestoso o revelou para nós em uma linguagem simplesmente concernente às nossas mentes, a fim que se nos decrete o seu esclarecimento e entendimento.

Conclui-se disso que existe uma relação e um vínculo, entre os atos bons e maus de um lado, e a vida eterna de outro lado, com todas as suas peculiaridades, oferecendo a felicidade ou a infelicidade.

Em outro termo, todo ato humano, bom ou mal, faz nascer no homem uma situação real que liga ao que existe no outro mundo, proporcional e diretamente.

O ser humano, em sua vida, é como uma criança… tenha ou não percepção disto, pois é envolto pelas questões de educação. Percebe ele como lhe são transmitidas as ordens e proibições de seus pais. À medida que cresce, desenvolve-se nele a capacidade de compreender a maneira como que fora criado e se pautar por esses ensinamentos, será feliz… Se, porém, se rebelar e seguir caminhos diversos, terá a infelicidade e a dor.

Podemos dizer, também, que o homem se compara a um doente que deve seguir as recomendações e orientações do médico, na medicação, alimentos, esportes e exercícios, para alcançar a cura física.

Em essência, o homem se identifica com uma formação interior que difere de sua aparência externa que se reflete por seus atos e comportamento que o ligam e vinculam à outra vida.

O Alcorão Sagrado confirma esta evidência psicológica em muitos de seus Versículos(2), de que após a morte existe um vida superior e um espírito mais elevado daqueles que foram bons e verdadeiramente devotos, e assegura de que o resultado das intenções acompanha sempre o homem, inclusive, o grandioso Profeta (saws) aludiu sobre este assunto por várias vezes(3).

Segundo – Não raro, ocorre que um homem impele um outro à prática do bem, sem que ele mesmo o fizesse, ao passo que os Profetas (as) e os Imames purificados (as) orientam as pessoas por meio de sua ligação com Deus Supremo e Majestoso, o que impossibilita que haja neles algum erro, por serem o exemplo na prática dos princípios da religião, e é por isso que eles são seus Líderes e seus Imames, os quais são caracterizados com a acepção espiritual elevada, sempre impelindo e orientando os seres humanos ao caminho reto.

E, se Deus quisesse que uma nação fosse liderada e orientada por alguém dentre seu povo, este deveria ser educado e preparado devidamente para a liderança e o Imamato, e então, o Preceito de Deus passa a ser insubstituível.

Logo, temos daí os seguintes resultados:

a) Que o Profeta ou o Imám de cada comunidade distingui-se pela nobreza de espírito e pela elevação moral, com a missão de orientar a humanidade em sua vida.
b) Na qualidade de Líderes e Imames de todos os membros de uma sociedade, eles são mais dotados intelectual e espiritualmente, e por isso, considerados superiores aos demais.
c) Aquele que se torna Líder de uma nação para Vontade de Deus, é Líder que respeita a sobrevivência comunitária propriamente dita, como também, no que tange à vida espiritual e psicológica, e tudo que é ligado a ambos(4).

1. Surat Azzokhrof – Capítulo 43, Versículos de 1 a 4.
2. Surat Qáf – Capítulo 50, Versículos 21 e 22:

<<E cada alma comparecerá (no Dia do Juízo Final) acompanhado de um guia e de uma testemunha (ambos anjos); (ser-lhe-á dito): Tu estiveste negligente nisso; agora, removemos a vossa coberta e tua vista tornou-se hoje aguçada>>. Surat Annahl – Capítulo 16, Versículo 97:

<<Quem praticou a boa ação, seja macho ou fêmea e sendo crente, conceder-lhe-emos uma vida agradável e o recompensaremos com glória superior ao que tiverem feito>>. Surat Al-Anfál – Capítulo 8, Versículo 34:

<<… atendei a Deus e ao Seu Mensageiro quando ele vos convocar àquilo que vos dá vida…>>.
Surat Ále Imrán – Capítulo 3, Versículo 30:

<<No dia em que cada alma se confrontar com o que tiver feito de bem e com o que tiver feito de mal…>>. Surat Yassín – Capítulo 36, Versículo 12:

<<Nós ressuscitamos os mortos e registramos suas ações e seus vestígios, e anotamos tudo em Livro Evidente>>.

3. De acordo com a Tradição (Hadís) alusiva à Ascensão (Al-Meerádj), onde Deus fala ao Seu Profeta (saws) o seguinte:

<<Aquele que praticou o que é da Minha aprovação, recompensá-lo-ei em três privilégios: Eu o gratifiquei com o conhecimento, não o alcançando a ignorância; Eu o farei memorável, não o alcançando o esquecimento; Eu o tomarei armado sem que seja afetado o amor das criaturas por Mim, pois se ele me amou, Eu e o amarei e lhe abrirei o coração para a Minha Majestade, e não lhe encobrirei a Minha particularidade, e o confidenciarei durante a escuridão da noite e durante a luz do dia, até que sua conversa cesse com as criaturas, e o farei ouvir a Minha palavra e conhecer o segredo que ocultei às Minhas criações, e o cobrirei com o pudor para que as criaturas se acanhem diante dele, e o farei andar na Terra, livre e redimido, e o farei sempre alerta, e não lhe ocultarei algo do que há no Paraíso nem do que há no Inferno, e o farei conhecer o terror e a violência que ocorrerão às pessoas no Dia da Ressurreição!>> Da coletânea intitulada <<Behár Al-Anuár>> – Volume 17, Página 9.

Em outra Tradição (Hadís), Abi Abdulláh relata:

– “Certo dia, o Mensageiro de Deus recebeu a visita de Háretha Bem Málek Bem Annoomán Al-Ansári, cumprimentando-o: ‘Como vais tu, ó Háretha?’ e o visitante respondeu ao cumprimento do Mensageiro: ‘Na verdade, sempre crente, ó Mensageiro!’. O Profeta então disse-lhe: ‘Tudo na vida tem razão de ser! Dize-me, pois, qual é a veracidade de tuas palavras?’ Respeitosamente, Háretha replicou: ‘Eu me retirei do mundo, ó Mensageiro de Deus, e passo a maior parte de minhas noites acordado… e deixei a sede me secar a boca… é como se eu estivesse olhando para o Trono do meu Senhor enquanto Ele prestava contas comigo, e ao mesmo tempo em que os habitantes do Paraíso se visitavam e confabulavam entre si, eu ouvia os gemidos dos habitantes do Inferno!’ Então, o Mensageiro exclamou: Tu és o servo que Deus iluminou-lhe o coração suficientemente!’…” – Da mesma coletânea, Volume 3, Página 33.

4. Surat Al-Anbiá – Capítulo 21, Versículo 73:

<<E os designamos Imames para orientarem de acordo com a nossa permissão e lhe revelamos a prática do bem…>>. Surat Assajda – Capítulo 32, Versículo 24:

<<E designamos dentre eles Imames para orientarem de acordo com a Nossa permissão até que eles perseverarem pacientemente…>>

O que se entende destes versículos semelhantes, é que o Imám priorizado para o estímulo e orientação comunitária propriamente dita, ele também é especializado na orientação psicológica e espiritual, sendo considerado uma raiz sapiente das questões e desprendimentos, pois ele, através da realidade e da luz interior que possui, consegue tocar os corações e age livremente para dirigi-los ao alcance da perfeição e do pretendido. Imaginem, pois como seriam estes homens tão especiais!!!

Os Imames do Islam e Seus Líderes

De todo o exposto até aqui, tem-se que, depois da morte do grandioso Profeta Mohammad (saws), houve e assim seguirá havendo um Imám designado e guiado por Deus, para o povo islâmico.
Há inúmeros relatos proféticos(1) sobre a descrição dos Imames e seu número, e que são de Coraich, descendentes da linhagem do Mensageiro de Deus (saws) pelos membros de “Ahel Al-Bait”, sendo o último deles o Imám “Al-Mahdi”.

Existem vários registros autênticos sobre o Profeta Mohammad (saws) alusivos ao Imamato de Ali Bem Abi Táleb, como sendo o 1° Imám, assim como existem também sobre o 2°, o 3° e assim sucessivamente.

Os Imames do Islam são doze, na seguinte ordem:

1° – Ali Ben Abi Táleb <<Amir Al-Muminín>> / “Príncipe dos Crentes”
2° – Al-Hassan Ibn Ali <<Al-Mujtaba>>(2);
3° – Al-Hussein Ibn Ali <<Sayed Achuhadá>> / “Senhor dos Mártires”
4° – Ali Ibn Al-Hussein <<Zein Al-Ábidín>> / “Formosura dos Devotos”
5° – Mohammad Ibn Ali <<Al-Báquer>> / “O Erudito”
6° – Jaafar Ibn Mohammad <<Açádeq>> / “O Verídico”
7° – Mussa Ibn Jaafar <<Al-Cázem>> / “O Silencioso”
8° – Ali Ibn Mussa <<Al-Reda>> / “A Aprovação”
9° – Mohammad Ibn Ali <<Al-Jauád>> / “O Generoso”
10° – Ali Ibn Mohammad <<Al-Hádi>> / “O Orientador”
11° – Al-Hassan Ibn Ali <<Al-Ascari>> / “Nascido em Ascar”
12° – Mohammad Ibn Al-Hassan <<Al-Mahdi>> / “O Guia”

(A PAZ ESTEJA COM OS DOZE IMAMES!)

1. Jáber Ben Samra relatou o seguinte:

– “Certa vez, ouvi o Mensageiro de Deus dizer: ‘Esta religião permanecerá forte através dos doze Califas’. Unânimes, o povo exclamou: ‘Deus é o Excelso!’. Depois, o Mensageiro pronunciou suas palavras, porém, como eu não entendera, perguntei ao meu pai: ‘O que foi que ele disse, ó meu pai?’, e ele me respondeu: ‘Ele afirmou de que todos estes Califas são de Coraich’.” – Este relato consta nas seguintes obras: <<Sahih Abi Daud>>, Vol.2, página 207 – <<Mussnad Ahmad>>, Vol. 5, pág. 92 – e outras…

2. O 2° Imám Al-Hassan teve este cognome, <<Al-Mujtaba>>, que significa aquele que coloca suas mãos sobre as coxas ou no chão na hora das genuflexões.

Pesquisas Sobre o Aparecimento do Imám “Al-Mahdi” do Ponto de Vista Geral – Os não-Xiitas –

Conforme apontamos nas pesquisas sobre a Profecia e o Imamato, de acordo com a orientação geral, corrente em todos os tipos de seres vivos, existe um determinado gênero humano, que foi preparado e privilegiado com firmeza pela necessária prudência, ou seja, a força da Revelação e da Profecia, que conduz à perfeição e à felicidade, não fossem estas duas questões possíveis ao alcance do homem, em se considerando a sua vida uma existência societária, caso contrário, não haveria absolutamente razão de existirem.

Em outros termos, os seres humanos, desde que surgiram na face da Terá, sempre visavam uma vida social ligada com a felicidade, vivendo pelo objetivo de chegar a esta etapa… e não fosse a realização desses anelos, o homem se privaria de esperança… é o mesmo que, quando existir o alimento não existiria fome… e se não houvesse água, existiria sede… e se não houvesse sexo não haveria procriação.

Por isso e por força dessas necessidades, o futuro da humanidade trará um dia em que a paz pairará sobre o mundo e todos viverão com amor, fraternidade e sinceridade na perfeição da humanidade.

A concretização disso está nas mãos do próprio homem, e o Líder-Dirigente do mecanismo e, conforme a História, ele será “Al-Mahdi” – Que Deus apresse o seu retorno!

Em todas as religiões diversificadas do mundo, tais como a Idolatria, o Judaísmo, o Cristianismo, o Zoroastrianismo e o Islam, anunciam a vinda de um Salvador para a humanidade, embora em cada doutrina, ele tem características diferentes… e no caso do Islam, o Profeta Mohammad (saws) afirmou:

– “Al-Mahdi é de minha descendência e será ele”.

Pesquisa Sobre o Aparecimento do Imám “Al-Mahdi” do Ponto de Vista dos Xiitas – Em Particular –

De um lado, temos a História e os inúmeros registros, tanto do ponto de vista geral (os não-xiitas) como do ponto de vista dos xiitas (em particular), sobre o Profeta Mohammad (saws) e sua Linhagem proveniente de sua Casa (Ahel Al-Beit), relativamente à vinda do “Al-Mahdi”, ou seja, “O Guia”, como sendo um descendente do Mensageiro de Deus (saws), e que, com a sua chegada, levará o gênero humano à perfeição verdadeira e a privilegiará com a vida ideal(1)…

Contudo, há relatos entrelaçados que apontam “Al-Mahdi” como sendo o filho do 11° Imám Al-Hassan “Al-Ascari”(2), e que após a <<Grande Ausência>>, ele preencherá a Terra com o Julgamento e a Justiça, depois que ela se preencheu de violência e opressão.

1. Nesta questão, Abu Jaafar disse:

– “Se levantar um de nossa gente, Deus colocará a sua ‘mão’ sobre a cabeça dos devotos, e então, Ele reunirá suas mentes e realizará seus sonhos”.

Por sua vez, Abu Abdulláh disse:

– “O conhecimento se totaliza em 27 letras, e todos os Profetas vieram apenas com duas letras, e a humanidade só conhece a ambas, porém, quando vier o nosso Enviado, ele mostrará as 25 letras restantes e as ligará às duas, totalizando-as em 27 letras”.

2. O 8° Imám Ali Ben Mussa “Al-Reda” falou:

– Virá depois de mim o meu filho Mohammad, e depois de Mohammad, seu filho Ali, e depois de Ali, seu filho Al-Hassan, e depois de Al-Hassan, virá seu filho, <<O Reformador>> que será <<O Esperado>> durante a sua ausência, o qual será obedecido ao ressurgir, e se restasse um só dia no mundo, Deus o prolongará até a sua chegada, e então, ele preencherá a Terra de justiça tal como ela se preencheu de violência e opressão! E quando o meu pai conversou comigo sobre os seus ancestrais, disse-me que Ali Bem Abi Táleb perguntou um dia ao Profeta: – “Ó Mensageiro de Deus, quando surgirá o Reformador proveniente de tua linhagem?” e o Profeta (saws) lhe respondeu: – “Ressurgirá tal qual a hora decisiva que chega em seu tempo e tudo pesará nos Céus e na Terra… e será de repente”.

Por sua vez, Çafar Bem Abi Dâlaf relatou o seguinte:

– Certa vez, ouvi Abu Jaafar/Mohammad Ben “Al-Reda” dizer: – “O próximo Imám depois de mim, será meu filho Ali. A questão dele será a minha questão e suas palavras serão as minhas palavras, e a obediência a ele será igual como o é para comigo, e o Imám que o sucederá será seu filho Al-Hassan e sua questão será a questão de seu pai e suas palavras serão as palavras de seu pai, e a obediência a ele será como foi dada a seu pai…”. Depois, Abu Jaafar se calou pensativo… então eu lhe perguntei: – “Ó filho do Mensageiro de Deus, quem será o Imám que virá depois do Imám Al-Hassan?” Nisso, Abu Jaafar começou a chorar copiosamente e depois falou: – “Depois de Al-Hassan, o sucederá seu filho, o Reformador pelo direito e será o Esperado!”.

Também Mussa Ben Jaafar Al-Bagdádi relatou:

– Certa vez ouvi Abu Mohammad/Al-Hassan Ben Ali dizer: – “Eu sou de vós, e mesmo assim, vós descordareis depois que eu me for! Entretanto, aqueles que reconhecem e aprovam o Imames depois do Mensageiro de Deus e negarem o meu filho, é o mesmo reconhecer todos os Profetas e negar Mohammad como Mensageiro de Deus, e a partir do momento em que se nega reconhecer o Mensageiro de Deus, passa a renegar todos os Profetas, porque a obediência ao primeiro de nós deverá ser ao último de nós, e quem desacatar o último de nós é o mesmo que desacatar o primeiro de nós! Contudo, ao meu filho ocorrerá uma ausência na qual os homens duvidarão de seu reaparecimento, exceto da infalibilidade de Deus”.

Resposta às Analogias

Os que divergem do Xiismo alegam que, segundo esta seita, o Imám Ausente teria hoje cerca de doze séculos de idade, enquanto que o ser humano não alcança esta faixa etária. Nossa resposta é:
Esta objeção se baseia pela longevidade, e a vida longa, normalmente é impossível que ela chegue à esta faixa etária, porém, quem pesquisa e se aprofunda no estudo do Grande Mensageiro, o Profeta Mohammad (saws), no diz respeito ao Imám Ausente, assim como quanto aos demais Imames provenientes de sua Linhagem, e descendentes de “Ahel Al-Beit”, perceberá que o tipo de vida do Imám Ausente se classifica como exceção à regra, ou melhor, um milagre, e é admissível que as exceções à regra não são impossíveis e são encontradas em toda cultura absoluta.
Assim, os agentes que atuam neste mundo não se restringem nos limites da nossa visão e conhecimento objetivo, e não podemos negar a existência desses e de outros agentes, porque são extremamente distantes de nossas possibilidades intelectivas e de nós desconhecidas.

Conseqüentemente, temos que admitir que esses valores e fatores existem em um ou mais seres humanos, que lhes proporcionam uma vida muito longa que pode atingir os milhares de anos. Por isso, a ciência médica não desiste de pesquisar a fórmula que prolongue a vida.

E esta óbice, vinda daqueles que crêem nos Livros Celestiais, como os judeus, os cristãos e muçulmanos, de acordo com seus Livros Sagrado, a acreditam nos milagres e nas exceções à regra, que se realizavam por intermédio dos Profetas de Deus Supremo… de modo que, é de estranhar e causa-nos espanto diante de suas reações!

Os opositores do Xiismo alegam que os xiitas consideravam como indispensável a existência do Imám a fim de evidenciar a Jurisprudência da religião e suas autenticidades, e para direcionar as pessoas e orientá-las, e a ausência do Imám contraria isso, pois na opinião deles, o Imám que desaparece das vistas humanas e não mais existe algum meio de se chegar até ele, não se pode elaborar com sua existência qualquer resultado ou utilidade, ou seja, a sua “presença” tornou-se inútil. E caso Deus Glorioso pretendesse reformar a humanidade através e uma pessoa, Ele tem todo o Poder de criar esta criatura quando se fizer necessário para tal, e não seria necessário criar alguém antes do tempo e da necessidade, em milhares de anos.

Os que assim argumentam, não conhecem o verdadeiro significado do Imamato; o que aliás, já se esclareceu pelas pesquisas sobre o Imamato, de que a incumbência de um Imám e sua responsabilidade não se restringe na evidência dos conhecimentos divinos literalmente, como não os incapacita de direcionarem as pessoas pelo lado exotérico… por isso, o Imám, além de encaminhar os homens através do exoterismo, ele se qualifica na sucessão e na diretriz esotérica, como também, é ele quem organiza a vida psicológica das pessoas, dando-se ao exemplo na realização das tarefas através do bem e da virtude no caminho que leva a Deus Magnificente.
A presença ou ausência física do Imám, neste sentido, não assume maior importância, pois que, esotéricamente, ele tem comunicação espiritual com os homens.

Estar distante ou invisível, sua existência é sempre necessária, mesmo se prolongando o tempo de seu retorno ou vinda para a redenção da humanidade.

A Retórica Psicológica do Xiismo

A retórica psicológica do Xiismo, dirigida à toda a humanidade, resume-se numa frase que é:
– <<Cientificai-vos de Deus>>.

Em outro sentido, significa:

– <<Buscai o caminho do conhecimento de Deus, a fim de poderem ser salvos e felizes>>.

Entretanto, esta foi a expressão pronunciada pelo Profeta nobre (saws) no início de sua missão e pregação:

– <<Dize: Não há divindade além de Deus e se salvarão!>>.

E para que se esclareça esta retórica, diremos:

Nós humanos, pelo nosso instinto, somos amantes das paixões que a vida nos oferece, tal como, comer bem, vestir-se bem, palácios, luxo, paisagens bonitas e deslumbrantes, mulheres formosas, amigos fiéis, riquezas, fortunas, poder político, posições elevadas e a anulação de tudo o que a nós se opõe.

No entanto, nós discernimos perfeitamente, pelo que possuímos de intuições e dons, que tais questões e delícias, foram elaboradas por causa do homem e não o homem por causa delas, as quais estão à disposição da criatura humana e não o inverso. E se este objetivo não se tornar inválido, seria considerado apenas como instinto e luxúria e isto é próprio dos animais irracionais… e o assassinato, o assalto e a destruição da felicidade alheia, é da lógica dos lobos, ao passo que, a lógica do homem se constitui pelo raciocínio e pelo estudo e conhecimento.

Por conseguinte, a lógica racional e a percepção da nossa realidade, nos impelem para a verdade e o direito e não para o egoísmo e desejos pessoais. Logo, os diversos tipos de concupiscências, paixões e voluptuosidades, amor próprio e egoísmo, são considerados, de acordo com a lógica mental humana, parte do mundo da natureza e não há para eles qualquer independência… ao contrário daquilo que o homem imagina de que ele é o senhor da natureza e do Universo, pensado que a natureza tirana deve ser-lhe um instrumento submisso.

A inteligência leva o homem a raciocinar e a se aprofundar nos mistérios desta vida efêmera e a perceber que tudo o que existe de perto de si não veio, mas que o mundo e tudo o que possui tem origem numa fonte inesgotável.

E para que isso seja óbvio, a beleza e fealdade os seres existentes no Céu e na Terra, e o que se torna perceptível pelo homem, não são senão situações que se tornaram existenciais por causa de outras situações… e seu aparecimento nada é do que aqueles situações e não a própria situação em si… e como as situações e aptidões gigantescas que gozavam uma existência no passado, passou a ser uma lenda no futuro… Assim é com as situações no dias de hoje também, e o resultado é que tudo tem o seu limite… e por si… acaso não excederia até o mito?

Deus Supremo Magnificente é a única situação que jamais passará!… E tudo que existe se estende através d’Ele!… E não fosse a existência de Deus, nada poderia existir!

E quando o homem ser arma com esta cientificação, e atinge a compreensão, passa a perceber que a sua própria existência é simples efeito de uma causa, e que a humanidade e o Universo se apóiam numa existência ilimitada e infinita, por onde a vida, a capacidade, o conhecimento, a perfeição absoluta e tudo que alude ao homem e demais alusões do mundo, não passam de meras janelas, e cada uma, dependendo de suas possibilidades, mostra o outro lado da vida e o que há atrás da natureza.

E quando o homem perde a autenticidade e a independência para si mesmo para si mesmo, ocorrendo o mesmo para toda e qualquer criação existente, passa a devolver tudo ao seu legítimo e verdadeiro dono, e então, seu coração se voltará a Deus Uno e não se submeterá a nada, exceto à Grandiosidade e Magnificência de Deus Supremo e Sua Excelcitude.

E, enquanto o homem permanecer debaixo do Poder de Deus Criador e sob Sua Proteção, tudo que ele vier a conhecer será por intermédio de Deus… passando a ser caracterizado com o temperamento virtuoso e as boas ações (o Islam, e a submissão ao direito que a própria índole) sob o Zelo de Deus e Seu cuidado.

Este é o nível mais elevado, a perfeição humana e completa posição do homem… isto é, a posição do Imám, o qual pôde chegar ate ela, conseguindo-a com o Zelo de Deus Altíssimo e Seu cuidado… e aqueles que buscam alcançar esta colocação elevada e ilustre perfeição, apesar de suas diferentes categorias, são considerados os verdadeiros seguidores do Imám.

Conclui-se que o conhecimento de Deus Supremo e o conhecimento do Imamato, jamais se separarão, bem como, o conhecimento de Deus e o conhecimento da alma não se separarão um do outro… e aquele que conheceu a própria existência, admitirá a existência de Deus Riquíssimo!

LOUVADO SEJA DEUS, SENHOR DO UNIVERSO!

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