Da Excelência do Alcorão (Recitação, Estudo e Prática)

Por Ahmed Ismail

Em Nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso.

A recitação do Alcorão ocupa uma digníssima posição perante Allah, Exaltado Seja. Seu fundamento como îbad (culto) por excelência, encontra-se na própria natureza e propósito da Mensagem Divina expressa no primeiro versículo sagrado revelado a Sayydna Mohammad (saas):

“RECITA EM NOME DO TEU SENHOR QUE CRIOU.” (S. 96 – V. 1)

A ordem divina ao Profeta (saas) tornou-se extensiva aos que crêem visto que o Livro de Allah é um Livro Vivo e eterno. E diz ainda Allah o Altíssimo:

“…RECITA POIS DELE (O ALCORÃO) O QUE PUDERDES, E OBSERVAI O SALLAH, PAGAI O ZAKAT E OFERECEI ESPONTÂNEAMENTE A ALLAH. E TODO BEM QUE FIZERDES , SERÁ EM FAVOR DE VOSSAS ALMAS; ACHAREIS A RECOMPENSA EM ALLAH, O QUAL É PREFERÍVEL E GRANDIOSA…” (S. 73 – V. 20)

A sua digna posição tem a evidência no ayat com a citação em conexão a outras modalidades de îbad, seguida da promessa da recompensa divina. A extensão desta recompensa pode ser compreendida ao nos reportamos às tradições fiéis onde consta que Imam Ali (as) tenha comunicado que o Profeta (saas) disse: “Aquele que recita o Alcorão e considera o Lícito como tal, e o ilícito como proibido, será admitido por Allah no Jannah (paraíso).” De modo que o recitador, que confirmar com suas ações as palavras sagradas (abstendo-se do Haram e mantendo-se dentro dos limites de Allah) Se Deus quiser contar-se- á entre os agraciados pela Misericórdia de Allah Exaltado Seja.

O Alcorão é de fato, um elo, um firme sustentáculo para os que crêem e a dignidade da fé está estabelecida na aderência ao Alcorão. Muito das atuais condições de nossa Ummah (comunidade) se relaciona e se explica por meio da qualidade (ou falta dela) da aderência ao Alcorão, tanto no aspecto exterior como no mais profundo e interno. Esta Ummah foi comissionada a firmar-se no zelo a dois encargos indivisíveis entre si: o Alcorão e os Ahlul Bait (as) e não poderá resgatar sua digna condição neste mundo ou no Akhirah a menos que o faça.

Nas diversas tradições fidedignas encontramos constantemente que as criaturas mais amadas de Allah são aquelas que mantém seu coração ligado a Allah, pelo amor a Ele, a seu Profeta (saas) a sua Família(as), e que em razão disso possuem o coração ligado ao Alcorão. Precisamente, esta ligação é como um espelho que reflete a força da fé sempre que haja entre os muçulmanos os que recitem o Livro de Allah durante a noite e passam o dia a colocá-lo em prática. Este é o único significado possível da palavra dignidade quando referida aos muçulmanos. Em suma, a força desta Ummah, jamais esteve ou estará na abundância de bens que possua, ou no poderio bélico, ou na riqueza de recursos ou qualquer outro fator no qual as demais nações se apóiam para se julgarem fortes. Não, esta Ummah encontrará força e dignidade no momento em que a sua ligação ao Alcorão tornar-se sólida; só então os demais fatores que fazem a força das nações serão de real valia para a Ummah Islâmica.

Cap. 2

DIZ ALLAH EXALTADO SEJA: “…ESTES SÃO OS VERSÍCULOS DO ALCORÃO, O LIVRO LÚCIDO. ORIENTAÇÀO E BOAS NOVAS AOS FIÉIS.” (27: 1 ,2)

Consta nos ahadíth que o Mensageiro de Allah (saas) tenha recomendado a constância na recitação do Alcorão, pois este é Nur (luz) na terra (vida terrena) e provisão no Akhirah.Allah, o Poderoso, nos agraciou com este Alcorão com a elucidação das questões humanas, e este Livro é luz em todos os sentidos e assuntos. Ademais nenhuma outra luz poderá ser de alguma valia para o humano quando este transpor o limiar da morte, senão aquela que provenha da fé e das ações iluminadas pelo Alcorão (consoantes a ele). Por esta razão Allah diz no Alcorão que os negadores dos versículos comparecerão cegos no dia do juízo, desde que durante suas vidas se mantiveram afastados da luz evidente do Alcorão, nenhuma outra luz encontrarão no Akhirah.

A posição do Alcorão perante Allah é de fiel da balança no que se refere a justa avaliação dos humanos no Yaumul Qiámah. Imam Ali (as) em um de seus sermões comentou: “…Ninguém se senta diante do Alcorão sem que, quando se levante, obtenha um aumento ou uma diminuição, aumento quanto a diretriz a seguir, e diminuição da sua cegueira espiritual (…)”.

No mesmo discurso disse Amr ul Muminin (as): “Sabei que ele é um intercessor e que sua intercessão é aceita. É um locutor testificado. A favor de quem o Alcorão interceder no dia do Julgamento, sua intercessão será aceita. Aquela pessoa de quem o Alcorão falar mal no dia do Julgamento, ele responderá por isso. No dia do Julgamento um arauto anunciará: “Acautelai-vos, porque todo semeador de grãos estará em aflição, menos os semeadores do Alcorão.” Portanto devereis estar entre os semeadores do Alcorão e dos seus seguidores. Fazei a vossa diretriz rumo a Allah. Buscai seus conselhos por vós mesmos, não confieis nos vossos pontos de vista contrários a ele e considerai vossos desejos, à Luz do Alcorão, como enganosos.” (Najhul Balagha)

Em uma outra narrativa, atribuída ao Mensageiro de Allah (saas), consta que tenha dito: “O Alcorão é um intercessor cuja intercessão é aceita, um disputante cuja questão é garantida, aquele que o manter a frente de si, ele o conduzirá ao Paraíso, e aquele que o deixar atrás de si, ele o atirará no inferno”.

Tal é a evidência da posição do Alcorão perante Allah como intercessor fiel dos que nele crerem e testemunha contra os que o negligenciarem na vida terrena. Encontramos também nas fiéis tradições a indicação de que o apego ao Alcorão é uma segura defesa contra os Fitna (os maiores estratagemas de Xaitan) que são lançados contra a humanidade para desviá-la.

Quando Imam Ali (as) comentou acerca das qualidades dos fiéis que se uniriam ao Imam Mahdi (as) (que Allah apresse seu retorno) para a luta contra o Dajjal (o Anti-Cristo) disse: “Então um grupo de pessoas será aguçada, por aquelas sedições e tribulações, da mesma forma que o ferreiro afia espadas. Seus olhos brilharão pela luz do Alcorão e a interpretação do Livro possuirá seus ouvidos. Beberão dos copos da sabedoria durante as noites e os dias”. Esta descrição deixa-nos claro que estas pessoas abençoadas serão firmemente ligadas ao Alcorão com suas mãos, seus corações, suas mentes e línguas de tal modo que o fitna predominante naquela angustiante época não terá poder sobre elas. Na realidade a ligação sincera e constante ao Alcorão é uma luz manifesta na vida do muçulmano.

Disse o Mensageiro de Allah (saas): “Os corações se enferrujam tal como o ferro” E foi perguntado sobre o que poderia remover esta mácula? Respondeu: “A recitação do Alcorão e a recordação da morte”.

O qalb (coração) é como um espaço preenchido por aquilo que costumamos cultivar com nossos sentimentos, desejos e ações. A negligência na recordação de Allah e a constante prática de más ações provocam esta mácula no coração, a qual segundo o hadith pode ser removida pela Recitação do Alcorão e a meditação sobre a morte. É mencionado nas tradições fiéis que quando uma pessoa comete um pecado, uma mancha surge em seu coração, se ela se arrepende sinceramente esta mancha é removida, porém, se persiste em dar vazão a seus caprichos e más inclinações sem nenhum arrependimento seu coração pode tornar-se completamente tomado por essa mácula a um ponto em que toda sua inclinação para o bem seja suplantada pelo mal. Se uma pessoa chega a essa desastrosa condição sua consciência e seus sentidos não se tornam mais receptivos ao din.

Evidencia o Alcorão: “E NÃO SEJAIS COMO AQUELES QUE SE ESQUECERAM DE ALLAH, E POR ISSO, ELE FEZ ESQUECEREM-SE DE SI MESMOS, ESTES SÃO OS DEPRAVADOS.” (59: 19)

Assim, a recordação de Allah, na qual a recitação do Alcorão ocupa um lugar de excelência purifica o coração, guiando as intenções e preservando o humano da inclinação para o erro.

Diz Allah Exaltado Seja no Alcorão: “E REVELAMOS NO ALCORÃO O QUE É CURA E MISERICÓRDIA PARA OS CRENTES, PORÉM AOS INÍQUOS, NÃO FARÁ MAIS DO QUE AUMENTAR-LHES O EXTRAVIO”. (17: 82)

Tal como o corpo a alma e o coração também gozam de sanidade ou adoecem. O Alcorão possui os meios da cura integral para o ser humano e a ênfase aqui reside na cura da alma por intermédio da luz divina. Sob o ponto de vista humano é comum que se tome um homem sem doença aparente em seu corpo, como um homem são, contudo, sob a perspectiva espiritual a menos que o coração e a alma estejam gozando de sanidade, apenas a condição do corpo não é suficiente para assegurar-se de uma condição sã. As profundas relações entre o estado emocional e espiritual e estado físico já são conhecidas pela medicina moderna.

O Islam enfatiza que a reforma íntima (a purificação do coração) é o fator principal para que se assegure a sanidade no ser de modo integral. Quem quer que analise com atenção, pode perceber que estados como o orgulho, a avareza, o ódio ou a inveja são na verdade estados mórbidos, doentios da alma, os quais acarretam conseqüências sobre o organismo físico e a mente de uma pessoa. Nestes casos o significado da cura seria sobretudo remover estes estados mórbidos e substituí-los pela humildade, generosidade, caridade e bondade, o que de fato, também traria conseqüências visíveis sobre o corpo e a mente.

Um considerável item presente nas fiéis tradições do Mensageiro de Allah (saas) e dos Imames dos Ahlul Bait (as) é o que aborda acerca das múltiplas virtudes das Suras e dos versículos do Alcorão para a resolução dos assuntos da vida humana. Um exemplo bastante significativo são as inúmeras virtudes da Sura Al Fátiha, que é apresentada em certas tradições como “cura para todas as doenças”. O Mensageiro de Allah (saas) e os Imames de sua Casa (as) mencionaram diversos métodos para a resolução dos problemas por meio das recitações das palavras sagradas do Alcorão, o que constitui um ramo do conhecimento no Islam. Imam Ali (as) apontou como um dos momentos propícios onde os apelos são atendidos o momento em que se termina a recitação do Alcorão. Sem sombra de dúvida, o Alcorão é para os que crêem numa benção sob todos os aspectos, é luz evidente para a condução de nossas ações, conhecimento indubitável, porta para as bênçãos e a misericórdia de Allah, facilitador dos assuntos e fonte de cura no seu significado mais amplo.

Cap. 3

O ponto essencial abordado nos capítulos anteriores tem sido a ligação do muçulmano ao Alcorão. Estabelecer esta ligação e preservá-la implica em correto conhecimento da natureza do din. Devemos necessariamente, não resumir a questão ao cumprimento de ritualismos. Quando na verdade, a religião em seu real significado é um ato vivo e dinâmico que exige sincera devoção. Não há pior mal a fé do que superestimar as formas e ritos exteriores em detrimento dos significados profundos da religiosidade. E este tem sido um mal em todas as épocas, que tem causado o declínio da prática e do conhecimento. Nas fiéis tradições consta que o Mensageiro de Allah (saas) tenha dito que este declínio teria lugar e que chegaria um tempo em que existiriam muitos recitadores e pouquíssimos sábios habilitados a compreender o Alcorão. Quando nos referimos a ligação ao Alcorão tratamos de três vias ou elos principais pelos quais esta ligação deve ser estabelecida.

A primeira via ou elo é a Fé, a observação das leis e preceitos divinos constantes no Alcorão. Diz Allah o Majestoso: “ESTE É O LIVRO BENDITO QUE REVELAMOS, OBSERVAI-O POIS, E TEMEI A ALLAH, QUIÇÁ ELE SE COMPADEÇA DE VÓS.” (6: 155)

Assim, este elo significa submetermos nossas ações ao Alcorão. Alcançarmos a convicção sobre os fundamentos do Imám (fé), seguida de uma correta aderência ao îbad e clara distinção entre o Halal e o Haram.

O segundo elo é o conhecimento (estudo, aprendizado e ensino) diz respeito a obrigação de todo muçulmano, homem ou mulher, jovem ou velho, de aprender algo do Alcorão. Enquanto a obrigação de sua memorização completa seja uma obrigação que se cumprida por uma parte dos muçulmanos isenta os demais, a obrigação de aprender algumas suras (ao menos para o correto oferecimento do Sallah) é uma obrigação de todos. Dentro de sua capacidade o muçulmano deve empenhar-se no aprendizado e este empenho em si é recompensado por Allah. Tanto quanto isso envolva dificuldades a recompensa é multiplicada se o devoto mantém seu esforço. Nos ahadith consta que o Profeta (saas) tenha dito que aquele que em seu coração não há nenhuma parte do Alcorão é comparável a uma casa em ruínas. Os memorizadores que possuem o Alcorão inteiro em sua mente são chamados de Huffadz, esta palavra em sua raiz significa “guarda” isto é, eles se tornam fiéis depositários do Alcorão e toda e qualquer pessoa que aprenda alguma parte do Alcorão deve manter seu empenho no sentido de não esquecê-la, esta é na verdade uma das modalidades de negligência ao Alcorão.

Após o estudo e o aprendizado está o ensino, que é uma responsabilidade similar as anteriores. Nas fiéis tradições consta que o Mensageiro de Allah (saas) tenha dito: “Quem for inquirido sobre algo do conhecimento que seja possuidor e se negue a partilhá-lo, ele terá arreios de fogo (em sua boca no dia do Juízo)”. Se isto vale para todo conhecimento útil, o que diremos no que diz respeito ao Alcorão? Sendo assim, alguém que conheça algo do Alcorão (seja pouco ou muito) e for solicitado dele o ensino não deve se furtar a isso.

O ensino do Alcorão se torna uma responsabilidade ainda maior quando referido aos filhos. Várias tradições apontam que o Mensageiro de Allah (saas) demonstrou seu pesar e descontentamento com os pais de futuras gerações que negligenciariam suas responsabilidades para com seus filhos quanto ao din, limitando-se a instruí-los nos assuntos mundanos. E o Mensageiro de Allah (saas) disse: “Instruí vossos filhos em três coisas: o amor por seu Profeta, o amor por Ahlul Bait e a recitação do Alcorão.”

De modo similar, encontramos nas fiéis tradições que o ensino do Alcorão aos filhos é um eficiente meio de alcançar o perdão dos pecados e a multiplicação das recompensas divinas.
O aprendizado do Alcorão é um dos direitos de um filho da parte de seus pais e como sabemos aquele que se desincumbe de um dever e assegura um direito sendo um que crê sem dúvida encontra junto a Allah sua recompensa multiplicada.

O terceiro elo entre o muçulmano e o Alcorão é a recitação. Numa famosa tradição consta que o Mensageiro de Allah (saas) tenha dito que a recitação do Alcorão é recompensada por cada letra recitada. Diversas narrativas fiéis tratam dos muitos graus de recompensa e da excelência da recitação do Alcorão como îbad, tal é a profusão de narrativas sobre este tema que podemos resumir em poucas palavras que a “recitação do Alcorão” é uma das portas das bençãos de Allah para os que crêem. O Profeta (saaw) e os Imames de sua Casa (as) foram no decorrer de suas vidas santas fiéis aderentes dessa prática.

Diz o Altíssimo: “… RECITAI POIS, O QUE PUDERDES DO ALCORÃO…” (73: 20)

Muito embora não haja nenhuma especificação de horário, as fiéis tradições freqüentemente indicam o início e o fim do dia (após a prece Fajr e Maghrib) e durante a noite como os momentos mais apropriados para a recitação. A recitação noturna é especialmente indicada como meritória. De tal modo que as tradições afirmam que aquele que recite 10 versículos durante a noite, não será incluído entre os indiferentes (ou seja, os anjos não o anotam entre os que negligenciam o Alcorão), aquele que recite 50 versículos, será anotado entre aqueles que muito recordam a Allah (Dhakirín), aquele que recita 100 versículos será inscrito entre os que constantemente fazem dua`as (qanitín), aquele que recita 300 versículos será inscrito entre os vitoriosos (Fa`izin), aquele que recita 500 versículos será inscrito entre aqueles que alcançam o grau de Ijtihad (Mujtahidin).

Numa outra narrativa legada pelos Ahlul Bait (as) consta que o Profeta (saas) tenha indicado seis sinais distintivos de virtude, sendo que três deles no próprio lugar em que se vive e três quando em viagem. A Recitação do Alcorão foi citada pelo Mensageiro (saas) em primeiro lugar, seguida do manter a mesquita com vida (visitando-a com constância), o ter amigos e irmãos na fé por amor a Allah, e em viagem repartir a provisão com os demais, ter um bom caráter e ser paciente e entreter as pessoas com palavras sãs.

Estes portanto, são os três elos fundamentais a serem estabelecidos pelo muçulmano em relação ao Alcorão:

– a aderência pela fé (apego ao din)
– o conhecimento (estudo, aprendizado e ensino)
– a recitação

Necessariamente estes três elos devem estar inter-relacionados. Um deve dar testemunho do outro. Tanto quanto o devoto se empenhe em estabelecê-los o seu din se fortalecerá. A ausência ou enfraquecimento desses elos denota a indulgência nas sete modalidades de ofensas ao Alcorão.

A primeira é o testemunhar a fé no Alcorão com a boca apenas, a segunda é se opor ao Alcorão incitando as pessoas a desobediência, a terceira é o alimentar dissensões acerca do Alcorão, a quarta é propagar inovações ou falsidades sobre o Din, a quinta é desprezar o conhecimento (estudo, aprendizado e ensino) do Alcorão, a sexta é (após o aprendizado) abandonar completamente a recitação, a sétima é não demonstrar qualquer reverência pelo Alcorão e pela audição dos versículos sagrados.

Essas ofensas ainda que inconscientes, se cometidas continuamente e sem arrependimento sincero podem levar a pessoa a uma condição de descrença, onde a compreensão espiritual seja retirada (Que Allah nos livre disso). A fé de uma pessoa não é um fato consumado, tal como uma planta ou qualquer ser vivo a fé necessita ser cuidada, alimentada de modo apropriado. E estes três elos em relação ao Alcorão asseguram o melhor neste sentido, acrescido da misericórdia, as bênçãos e o perdão de Allah. Nenhuma via de proximidade a Allah pode ser encontrada senão pelo Alcorão, o pouco ou o muito que um devoto possa usufruir disso se encontra no estabelecimento dessa ligação ao Livro Sagrado por esses três elos fundamentais.

Cap. 4

Sempre que abordamos a relação entre o conhecimento e o Alcorão nos deparamos com a importância da correta análise dos muitos níveis em que essa relação se efetua. A regra principal a ser adotada por todo muçulmano é a de uma atitude responsável para com o Livro Sagrado isto é, uma atitude de extremo cuidado e zelo pela fidelidade da Mensagem. O Imam Hussain (as) disse sobre esta questão: “Não incorram em falar em vão sobre o Alcorão, e não disputem sobre ele e não falem sobre ele quando não possuam o conhecimento. Em verdade, eu ouvi de meu avô, o Mensageiro de Allah (saas): A pessoa que fala sobre o Alcorão sem conhecê-lo, sua morada será o fogo.”

O conhecimento abalizado é requerido de todo aquele que se proponha a inferir sobre os significados dos ayát; e ninguém pode ser considerado capacitado para tal a menos que seja versado nas matérias relacionadas ao Alcorão. Os mujtahid (pessoas que alcançaram este grau de conhecimento) apontam como principais matérias a serem consideradas para que alguém seja reconhecido como um capacitado comentador do Alcorão:

ASBAB`UNUZUL

O conhecimento das circunstâncias particulares da revelação de um versículo (ou de um grupo deles). Sem esse conhecimento corre-se o risco de aplicar o significado aparente do ayat a uma situação imprópria.

ILMUL FIQH

Conhecimento dos princípios da jurisprudência islâmica.

NASIKH U MANSUKH

Conhecimento dos versículos ab-rogantes e ab-rogados no decorrer da revelação.

LUGHAT

A compreensão dos significados apropriados das palavras. As palavras árabes muitas vezes possuem dois ou mais significados, e esta matéria trata do entendimento quanto ao contexto para inferir o significado apropriado.

NAHV

Este ramo da gramática trata da relação entre uma sentença e outra e das alternâncias dos sons das vogais (I” rab). (o que pode alterar o significado de uma palavra).

SARF

A etimologia, que trata do conhecimento da raiz das palavras e das conjugações verbais. Esta matéria também versa sobre os derivativos. Todos esses itens são de extrema importância para se estabelecer o real significado de palavras na frase.

ILMUL BAYAN

O conhecimento das metáforas e parábolas constantes no texto sagrado.

ILMUL BADI

Conhecimento da retórica e suas implicações no significado das passagens.

ILMUL MA`ANI

Conhecimento da semântica da língua, da relação entre as construções das frases e os significados aparentes.

ILMUL AQA`ID

Conhecimento dos fundamentos da fé que se faz necessário para explicar certas analogias constantes no texto e para discernir com correção o sentido literal e o sentido figurado.

ILMUL QIRAT

Conhecimento da arte da recitação e seus diferentes métodos. Também abrange o conhecimento das regras de pronúncia.

As matérias supra-mencionadas são consideradas as principais e que dependem do estudo do devoto. Um comentário pessoal acerca do Alcorão que não provenha de um conhecimento abalizado destes ramos é um ato de leviandade para com o Livro Sagrado. O muçulmano que não domine o conhecimento destes ramos relacionados ao Alcorão deve recorrer ao conhecimento abalizado de um Mujtahid (alguém apto a inferir sobre o Alcorão). Há um outro ramo do conhecimento relacionado ao Livro Sagrado que encontra-se num nível superior aos demais: ILMUL WAHBI.

Trata-se de um conhecimento, uma compreensão que Allah , o Poderoso, concede aos seus mais amados servos, aqueles que por profunda devoção e obediência são especialmente agraciados. Este ILMUL WAHBI é o nível de conhecimento legado a Imam Ali (as) e aos demais Imames de Ahlul Bait (as). Dada a subjetividade desta questão nos atemos ao que as fiéis tradições comunicam, assegurando que este Ilm foi legado aos Imames (as) como uma das suas atribuições relativas ao Wilayah. Muito embora, não se possa negar a possibilidade que em diferentes graus este conhecimento tenha sido alcançado por outros por intermédio de uma sincera devoção e obediência a Allah. ALLAH AGRACIA A QUEM QUER DENTRE SEUS SERVOS.

O que comentamos neste capítulo tem por objetivo demonstrar que o conhecimento, em qualquer nível em que se apresente em relação ao Alcorão deve se pautar na humildade, no temor e na responsabilidade; principalmente quando o devoto se dedique ao ensino de outros. É necessário que sempre recorra aos que sabem mais do que ele, que a fim de dirimir suas dúvidas busque os comentários abalizados dos Mujtahid e que não seja imprudente em nenhum assunto que diga respeito ao Alcorão.

Cap. 5

Como já foi mencionado anteriormente, a recitação do Alcorão é em si, um ato de adoração (îbad), e portanto, requer do recitador uma atitude de reverência e sincera devoção. Neste capítulo final comentaremos algumas das recomendações e regras a serem observadas na recitação.

Nyyah (Intenção correta)

De modo similar a outras ações devocionais, a recitação do Alcorão deve ser empreendida com pureza de intenção. O que significa firmar no coração a intenção única de aprazer a Allah. O recitador deve manter em sua mente e em seu coração a consciência de que estará a recitar as palavras puras e sagradas de Allah o Altíssimo. Seja recitando apenas, ou estudando e memorizando os ayát, o devoto deve fazê-lo como um ato entre ele e seu Senhor. Por conseguinte, sua intenção deve se manter isenta de qualquer recompensa por parte das criaturas (elogios, prêmios ou respeito).

Não há nenhum mal em recitar em público, desde que o recitador não sinta em seu íntimo que sua intenção esteja sendo afetada, neste caso é melhor que faça dua`a pedindo a Allah a pureza da intenção e se refugiando Nele contra as inventivas de Xaitan.

Tahara (Purificação Ritual)

A manipulação do texto sagrado requer isenção da impureza maior (Jánaba) ou seja, é haram tocar o texto do Alcorão em estado de Jánaba, como também o é para o Káfir. Entretanto, é permitido recitar (sem o livro) versículos sagrados neste estado (com exceção dos versículos de prostração (constantes nas Suras As Sajdah, Najm e Al Alaq)).

Sem o wudu (no caso em estado de impureza menor) a pessoa pode recitar qualquer parte do Alcorão (lendo o texto ou recitando) se manipulando o texto deve ter o cuidado de não tocar diretamente a escrita sagrada.

Recomendações Gerais

– Realizar o Wudu e higienizar a boca e as narinas
– Sentar-se em direção a Quibla .
– Recitar o Ta`awudh (pedir o refúgio de Allah contra Xaitan) (Audhu biLLahi minax”xaitani”r”rajim)
– Ao abrir o livro sagrado recitar a Basmallah
– Recitar os versículos pausada e melodiosamente, observando as regras de recitação. (se a pessoa estiver memorizando o texto não é inconveniente que recite com mais rapidez).
– Manter a mente absorta à recitação, afastando todo tipo de distração.
– Se a pessoa domina o idioma árabe, deve meditar sobre o que está a ler, pedir refúgio a Allah quando recita uma parte que trata das punições, e pedir o seu perdão e misericórdia quando recita uma parte que trata das recompensas divinas.
– O recitador não deve conversar durante a recitação, se houver a necessidade de falar com alguém, ele deve primeiro fechar o Livro Sagrado e então dirigir-se a seu interlocutor.
– Ao recitar um versículo de prostração, o recitador deve realizar o Tilawat Sujúd (prostração por recitação), no momento ou ao final da leitura. Se outras pessoas estão a ouvir a leitura elas também devem cumprir o Tilawat Sujúd.
– Aquele que ouve a recitação do Alcorão também deve demonstrar reverência mantendo-se em silêncio e atento a leitura.

Diz Allah Exaltado Seja no Alcorão: “E QUANDO FOR RECITADO O ALCORÃO, ESCUTAI-O E CALAI, PARA QUE SEJAIS COMPADECIDOS”. (S. 7 – V: 204)

Regras de Leitura

Tartil literalmente significa ler com boa e clara pronúncia. As principais regras do Tartil são:

– As letras devem ser corretamente recitadas, em sua apropriada pronúncia.
– A observação das pausas.
– A atenção para a pronúncia do I`rab (vogais).
– A pronúncia plena dos Taxdid (letras enfáticas) e Madd (prolongações).

O freqüente recitador do Alcorão deve ter em mente que os imensos benefícios conferidos pela graça de Allah por meio da recitação estão ao alcance daqueles que se empenham nisso, considerando os seguintes principais pontos da fé:

– Abstenção dos Kaba`ir (pecados maiores)
– Buscando o perdão de Allah para suas faltas por istighfar (pedido de perdão) e Tawbah (sincero arrependimento).
– Abstendo-se de ofender as pessoas, menosprezar os fiéis, caluniar ou difamar quem quer que seja.
– Abster-se de linguagem obscena ou de zombarias às custas dos outros.
– Irar-se apenas por Allah. Aprendendo a perdoar as ofensas alheias.
– A adoção da modéstia e da boa educação em todos os assuntos.
– O cumprimento do Sallah, do Zakat e do Jejum de Ramadan.
– O não retrair-se a caridade e a generosidade para com as pessoas.
– O auxílio a outros no que seja bom e justo e o abster-se a prestar auxílio a quem quer que seja no que é mal ou injusto.
– O não oprimir criatura alguma.
– O temor somente a ira e a desaprovação de Allah.
– O não desobedecer nem ofender aos pais.
– Conferir os direitos das pessoas e zelar pelos laços de parentesco.
– Alimentar-se e sustentar-se apenas do que seja Halal .
– O zelo pelo que lhe seja confiado.
– A meditação constante sobre o Din.

Comentários Finais

A razão básica deste trabalho foi uma aprofundada exposição sobre os fundamentos da ligação entre o muçulmano e o Alcorão, a qual é essencial para a fé e seu fortalecimento. A prática, o conhecimento e a recitação mantêm viva a luz da fé no coração do muçulmano temente.

É um fato histórico conhecido que certa vez no parlamento britânico estabeleceu-se um debate acalorado sobre quais medidas a Inglaterra deveria tomar, para dobrar a reação islâmica nas terras que o Império Britânico havia anexado pela força. A certa altura, um parlamentar levantou-se e tendo na mão um exemplar do Alcorão disse enfático: “Destruam esse livro! A menos que consigam destruí-lo não será possível derrotar definitivamente os muçulmanos!” Mesmo um ferrenho inimigo do Islam pôde perceber onde reside a força desta Ummah, e embora não seja possível para nenhuma nação ou mesmo todas elas juntas destruir o Livro de Allah, certo é que os muçulmanos permanecerão numa condição aquém de sua dignidade enquanto permitirem que quaisquer fatores interfiram nos elos que os unem ao Alcorão.

Queira Allah favorecer os tementes, apiedar-se desta Ummah, guiando-nos para o zelo fiel dos encargos destinados a nós até o final dos tempos: “O LIVRO DE ALLAH E OS AHLUL BAIT”. Por meio dos quais os desvios se anulam, a luz da verdade prevalece e a misericórdia de Allah nos alcança. Que o Senhor Poderoso apresse o ressurgimento do Al Mahdi (as) aquele que encherá a terra de justiça, estabelecerá o Livro Divino e a Tradição Fiel do Mensageiro de Allah (saas). Que Allah nos inclua entre os que o seguirão e o apoiarão.

Allahuma Salli Ala Mohammad Wa Ali Mohammad

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