Introdução
Em Nome de Deus o Clemente o Misericordioso
O presente trabalho é uma adaptação do panfleto produzido pela Sociedade Islâmica Britânica e a Young Muslims da Grã-Bretanha. O terrorismo tem atingido muitas nações na atualidade. Há uma tendência recente na mídia de relacioná-lo ao Islam. Até que ponto existe realidade nessa associação? Conhecer a correta mensagem do Islam, livre de preconceitos e de interpretações superficiais nos parece a única alternativa inteligente; a única alternativa que poderá nos libertar da cortina de fumaça da desinformação e do erro.
O que é terrorismo?
A definição clássica nos dicionários e nos códigos de leis internacionais para terrorismo é “o uso sistemático da violência e da intimidação, física ou psicológica, contra indivíduos ou populações, com o intuito de atingir algum objetivo”.
O termo raramente é aplicado de modo neutro, interesses políticos e ideológicos comumente determinam sua aplicação. Uma “nação ou um regime terrorista” é, em geral, “o outro lado” numa guerra ou conflito. Por exemplo, para muitos na Grã-Bretanha, o IRA, durante as décadas de conflito na Irlanda, não passava de um “grupo terrorista”, ao passo que nos EUA era considerado um “grupo de luta por independência”. A resistência francesa na Segunda Guerra levou a cabo diversos atos “terroristas” contra o regime de Vichy, apoiado pelos nazistas, no entanto, foi auxiliada pelas nações aliadas. Por décadas o regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA, cometendo atrocidades contra seu próprio povo e contra o povo iraniano; o regime de Saddam só foi rotulado de terrorista quando invadiu o Kuwait. Via de regra, se um grupo utiliza métodos de terror para se insurgir contra um governo opressor, porém, aliado das nações poderosas, é prontamente incluído na lista de terroristas; no entanto, se utiliza os mesmos métodos para desestabilizar ou derrubar um regime indesejável para as potências mundiais, é considerado um movimento de resistência. A história está repleta de exemplos da aplicação política e ideológica do termo “terrorismo”.
Na atualidade, se um governo aterroriza uma minoria ou a submete a um genocídio, desrespeitando os direitos humanos, não é, necessariamente, rotulado de “terrorista”. Mas, se um grupo de cidadãos defende sua terra de uma ocupação é prontamente acusado de terrorista.
O Islam rejeita toda ambiguidade motivada por interesses políticos na definição do que seja terrorismo. O Islam afirma que toda ação deliberada de agressão contra população civil, todo uso de violência que tenha por alvo civis, quer seja perpetrado por indivíduos, grupos ou estados é terrorismo. Também é terrorismo o apoio de qualquer espécie a quem o pratique. Quer seja apoio militar, financeiro ou diplomático (como ocorre em ações de terrorismo envolvendo estados).
O que diz o Islam sobre o terrorismo?
O Islam, ao definir o terrorismo como o assassinato ou a intimidação de inocentes, o proíbe categoricamente. De fato, nada pode se opor tanto ao Islam do que a prática do terrorismo, uma vez que, o próprio nome “Islam” deriva da palavra árabe Silm (Paz). Nenhuma outra religião carrega o sentido de paz em seu próprio nome. O termo “muslim” (muçulmano) também pode ser traduzido como “aquele que propaga a paz”.
O Islam considera um grave crime o assassinato de pessoas inocentes, em qualquer circunstância. A santidade da vida é expressa no Alcorão da seguinte maneira: “…quem assassinar uma pessoa, sem que esta tenha cometido homicídio ou semeado a corrupção na terra, será como se tivesse assassinado toda a humanidade; e quem a salvar, será como se tivesse salvo toda a humanidade” (C.5 – V.32)
O que deixa claro que esse status de “santidade da vida humana” só encontra as limitações da Lei Divina, nas aplicações legais das penas estipuladas por Deus.
O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) disse: “Um crente permanece dentro dos limites de sua religião enquanto ele não mata outra pessoa ilegalmente”. O que deve ser entendido como “o assassinato de um inocente ou o assassinato cometido sem a justificação da autodefesa”.
O que significa “Jihad”?
“Jihad” é um termo árabe que significa “esforço”. É empregado, em sua acepção religiosa, para todas as formas de “esforço” ou luta para promover o bem, a justiça e a vontade de Deus, em oposição ao mal, a injustiça e a irreligiosidade. Trata-se de um esforço na senda de Deus (e não em busca dos interesses pessoais). Exige conhecimento daquilo que Deus deseja e ama. Qualquer esforço contra a injustiça e a opressão na sociedade humana, para promover a paz, erradicar os males da sociedade ou mesmo remover o lixo das ruas, pode ser entendido como Jihad. Também se aplica ao esforço interior contra as más influências, o egoísmo e as demais tendências malignas. De modo algum, jihad pode ser confundido com a ideia de “guerra santa”, na qual se busca a “conversão pela força” ou a agressão aos que não pensam como nós. Esse conceito nasceu e foi largamente praticado na civilização e na cultura judaico-cristã. Não há qualquer base histórica ou filosófica que permita identificá-lo com o Islam e os muçulmanos, uma vez que a conversão no Islam só é válida quando espontânea, livre de qualquer forma de compulsão.
O Jihad pode também significar uma luta armada?
Sim. Uma vez que o Jihad abrange todas as formas de esforço para o bem e a justiça, o Islam reconhece o direito de defesa (da comunidade ou nação) contra a agressão, e o uso da força nesse empenho quando for absolutamente necessário. Diante de total ausência de alternativas à luta, o jihad, na forma de uso da força, se torna um dever coletivo. Essa modalidade de jihad foi estipulada por Deus Altíssimo no Alcorão ainda nos primeiros tempos do Islam, quando a perseguição ao Profeta (S.A.A.S.) e aos seus seguidores chegou a um ponto em que não havia outra alternativa senão a defesa. Na ocasião, os seguintes versículos foram revelados, autorizando a luta: “O combate é permitido para os que foram atacados, pois sofreram injustiça, e Deus tem poder para socorrê-los. São aqueles que foram injustamente expulsos de seus lares, apenas porque disseram: Nosso Senhor é Deus! E se Deus não tivesse refreado os homens, uns pelos outros, eremitérios, igrejas, sinagogas e mesquitas teriam sido destruídos, lugares onde o nome de Deus é frequentemente mencionado. Certamente que Deus socorrerá aqueles que O secundarem (em Sua causa). Deus é Fortíssimo, Poderoso”. (Alcorão, 22:39)
O dever da defesa que constitui o jihad é um dever sagrado, um grau sublime de espiritualidade quando exercido sem excessos ou ações injustas. O combatente do jihad que, em nome da defesa da fé e da segurança da comunidade, arrisca sua própria vida ou que venha a tombar no cumprimento de seu dever, ocupa uma posição sublime diante de Deus.
Os países ocidentais afirmam que estão buscando construir a paz e a democracia no mundo, livrando-o também do terrorismo. O que pensam os muçulmanos sobre isso?
Ideais de paz e democracia não são um monopólio do pensamento ocidental. As potências mundiais estão muito longe de deter a moral necessária para um verdadeiro combate ao terror. Naturalmente, interesses políticos as levam a demonstrar uma reação aos sintomas, na tentativa de combater os grupos terroristas. Porém, isso não significa tratar as causas do terrorismo, tais como os padrões dúbios na política internacional, a injustiça na distribuição dos recursos do planeta, etc. Se julgarmos pelas ações, a maior parte das potências mundiais se incluem na definição de terrorismo mencionada aqui. Não há comparação possível entre a capacidade de destruição e morticínio de um grupo de indivíduos e a de um estado militarmente equipado e treinado. Um indústria de morte (uma das mais lucrativas no mundo) joga com a vida e o destino de nações e povos não importando qual o pretexto, seja ele político, religioso ou econômico. Da mesma maneira, poderíamos perguntar: Quem arma os chamados terroristas? Quem os financia? Por que o sistema bancário mundial é sempre deixado de fora de qualquer busca de solução para problemas como o terrorismo internacional ou o crime organizado, quando todos sabemos que é o dinheiro que move estas e outras atividades? Essas questões não deveriam ser ignoradas por aqueles que dizem estar construindo a paz e a democracia no mundo.
Tradução de Ahmed Ismail