Por Sayyed Mohammad Bagir Assadr.
Tradução de Edna Andrade.
EM NOME DE DEUS, O CLEMENTE, O MISERICORDIOSO.
INTRODUÇÃO
Certos Ulemas eminentes, assim como um grande número de nossos estudantes e fieis me pediram seguir o exemplo de meus predecessores e de suas obras, respeito a um sujeito cuja importância cresce dia após dia: se trata de escrever uma “tese prática” (Al-Riçala al- amaliyya, espécie de manual ou guia prático escrito pelo mujtahid (sábio religioso competente) com o fim de que os fieis se referissem a ele para cumprir corretamente suas obrigações religiosas), como é habitual entre os Ulemas, uma introdução breve ou detalhada tratando sobre a demonstração da existência de Deus e a pertinência dos fundamentos dos Uçul ( fontes, princípios, raízes) da religião islâmica. Pois uma “tese prática” é a expressão do esforço de busca pessoal sobre os estatutos da Shariah (a lei ou lesgilação islâmica) que Deus revelou por mediação do Selo dos Profetas (o último mensageiro de Deus, o Profeta Muhammad), para o beneficio dos mundos. Esta expressão baseia-se essencialmente na aceitação destes “Uçul”, pois a crença em Deus o Revelador, o Profeta Mensageiro e a Mensagem que Deus enviou, constitui a base do conteúdo de toda “tese prática” e a prova de sua necessidade. Impulsionado pelo desejo de servir ao Senhor e estimando a necessidade de tal ação, respondi positivamente a esta demanda.
E neste sentido, me confrontei à pergunta seguinte: em que estilo deveria escrever esta introdução? Deveria me esforçar em escrevê-la em um estilo tão claro e fácil como o do livro “Al-Fatawah al-Widhiha” (“As decisões jurídicas claras”, título da “tese prática” do autor) o qual está destinado para o leitor que é capaz de compreender o juízo jurídico destes “Fatawah” (decisões jurídicas emitidas pelo mujtahid) e pode compreender-los facilmente?
Depois da reflexão, me dei conta que há uma diferença essencial entre a introdução em questão e o livro à que vai dirigida. Quando o livro é próximo a expor as leis religiosas e os resultados de ijtihad (esforço pessoal de busca, feito por um sábio religioso competente com vistas a emitir um juízo religioso) e da dedução sem demonstra-las nem discuti-las, a introdução proposta não se contenta em expor os sujeitos que aborda. Porque, por um lado, a convicção é uma obrigação religiosa quando se trata dos Fundamentos Religiosos, e de outro lado, o propósito da introdução é afirmar os pilares e os fundamentos da religião. Dito arraigo ou afirmação não se pode fazer mais que com a demonstração. Agora bem, a demonstração em si mesma tem seus graus. Porém estes graus, mesmo os mais simples e mais evidentes dentre eles, são totalmente convincentes. E se o homem conservasse sua consciência ao estado livre e natural, bastaria-lhe o modo de demonstração mais simples para crer no Criador: “são eles os criados do nada, ou eles os criadores” (Alcorão LII, 35).
Infelizmente,o pensamento moderno, há dois séculos atrás, não deixou a esta consciência sua liberdade e sua pureza. É por isto que a demonstração precisa de uma profundização, quando vai destinada a um indivíduo impregnado do pensamento moderno e de seus métodos de busca com o fim de culpar as vidas que a consciência livre cumpre ela mesma, na demonstração mais simples e evidente. E todavia, devo optar por uma das duas possibilidades seguintes que me oferecem:
Quer dizer, ou escrevo a introdução para aqueles cuja consciência permanece livre e protegida das correntes do pensamento moderno (neste caso, a demonstração deve ser simplificada, e a expressão clara e compreensível para a maioria dos leitores da “Al-Fatawah Al Wadhiha”).
Ou a escrevo para aqueles que vivem o pensamento moderno, estudando em seu quadro e aprendendo mais ou menos de suas posições frente a frente da teologia. Decidi optar pela segunda solução.
Dito isto, me esforcei em ser explícito, em geral, escrevendo ao nível dos intelectuais médios, universitários ou teólogos. Evitei, o mais possível, os termos e expressões matemáticas, assim como as evocações complicadas. Porém, ao mesmo tempo, preservei ao leitor mais conhecedor, seu direito a uma compreensão mais exaustiva, resumindo-lhe certos pontos profundos e remetendo-lhe, para mais detalhes, as minhas outras obras tais como “Al-Usus Al-Mantiqiyya Lil Istiqrá” (Os fundamentos Lógicos do Raciocínio Indutivo). Ao mesmo tempo, provei fazer-lo de forma que o leitor de um nível menos elevado encontre em certas partes desta introdução um sustento intelectual assimilável e uma demonstração convincente.
Em um plano geral, o primeiro processo na demonstração científica indutiva da existência do Criador pode ser, em si mesma, suficiente e clara.
Na continuação vamos a tratar da questão do Revelador, do mensageiro de Deus e seguidamente da mensagem.
Para guiar minha tarefa, não conto mais que com Deus, ao qual me confiei e ao qual pertenço.
Muhammad Baqr As-Sadr
PRIMEIRA PARTE
O REVELADOR (Al-Mursil)
CRER EM DEUS, GLORIFICADO E EXALTADO
O homem chega a crer em Deus desde os tempos mais remotos. Tem adorado a Deus, tem lhe vertido sua fidelidade e provou um profundo apego a Ele, antes de conhecer toda abstração especulativa e filosófica e de alcançar a compreensão completa dos modos de demonstração.
Esta crença não nasceu de uma contradição de classes; nem do produto de exploradores injustos querendo consagrar sua exploração, nem do fato de explorados, vítimas de injustiças e com desejos de encontrar assim uma escapatória; pois na história da humanidade precede todas as contradições deste gênero. Tampouco é conseqüência de apreensões várias, nem de um sentimento de terror diante das catástrofes naturais e seus comportamentos hostis. Se a religião fosse o fruto do medo e o resultado de um sentimento de terror, as pessoas mais religiosas seriam ao largo da história, os mais medrosos e os mais inclinados ao pavor, quando mais bem são as pessoas mais valentes e os mais aguerridos que tem levado o estandarte da religião através dos tempos.
Esta crença é o reflexo de um inclinamento original que empurra o homem a unir-se com seu Criador; um sentimento íntimo e sólido que une o ser humano de uma forma inata ao Senhor e a sua existência. Em uma etapa anterior de sua história, o Homem se pôs a filosofar sobre as coisas da existência que lhe rodeavam. Ele tem lançado em mente noções gerais, tais como a existência, o nascimento, o dever, a possibilidade, a impossibilidade, a unidade, o número, a complexidade, a simplicidade, a parte, o todo, o progresso, subdesenvolvimento, a causa e o efeito. Tem tendido a utilizá-las e a aplica-las sobre tudo no domínio da demonstração com o fim de reforçar melhor sua crença original em Deus, trata-la filosoficamente e remetê-la em evidência pelos métodos de busca filosófica.
Quando a experiência foi um instrumento de saber no domínio da busca científica, e quando os pensadores raciocinaram que estas noções gerais não bastavam por elas mesmas para descobrir as leis da natureza, nem para conhecer os segredos do Universo, estes últimos (os pensadores) adquiriram a convicção de que a sensação e a observação científica constituem o ponto de partida essencial para a busca dos ditos segredos e leis. Esta corrente sensualista de busca é útil em geral para desenvolver a experiência do Universo e para amplia-lo em grande medida (dimensão). Seu caminho começa pela afirmação de que a sensação e a experiência são dois instrumentos que a razão e o conhecimento humano deveriam utilizar para descobrir os segredos do Universo e seu sistema completo que rodeia o homem. Assim, em lugar de Aristóteles, por exemplo, que se sentaria em seu quarto fechado meditando sobre o tipo de relação que existiria entre o desprazamento de um corpo de um ponto a outro do espaço e a força motriz concluindo que o corpo em movimento se imobiliza quando a força motriz se esgota; um Galileu que observa os corpos móveis para tomar nota e deduzir outro resultado e relação diferente entre o movimento do corpo e a força que o anima: quando um corpo encontra uma força que o põe em movimento, não cessa seu movimento (ainda se esta força se esgota), se não se opõe a uma força que o para. O sensualismo em questão, pois, tende a encorajar aos buscadores no domínio da natureza e das leis dos fenômenos do Universo, cumprindo sua busca através de duas etapas: a primeira é aquela de sensação e experiência e do aparente de seus dons; a segunda é a etapa racional, dedução e coordenação desses dons, com vistas a antecipar uma interpretação geral e aceitável.
O sensualismo, em sua realidade científica e através das práticas de seus sábios, não pretende passar-se nem um ponto a razão. Ao contrário nenhum dos sábios da natureza tem conseguido descobrir, pela sensação e a experiência, um segredo do universo nem uma de suas leis sem o concurso da razão. Pois o sábio encontra, na primeira etapa, as notas que lhe proporcionam suas experiências, assim como suas próprias notas; e na segunda etapa as confronta com sua razão até que chega a um resultado. A nosso juízo, nenhuma conquista científica tem conseguido realizar-se sem a conjugação das duas etapas: a primeira, tratando do aspecto sensível; a segunda, havendo tratando o aspecto dedutível e racional que a razão realiza, e que não pode ser percebido diretamente pelas sensações.
Assim, tomemos o exemplo da lei de atração universal. Newton não a percebeu pela sensação direta, nem pela força de atração entre dois corpos, nem pelo fato de que são inversamente proporcionais ao quadrado da distância entre seus corpos e diretamente proporcionais ao produto de multiplicação de suas massas; a percebeu pela sensação; tanto a queda da pedra quando a lançou ao ar, assim como a revolução dos planetas ao redor do sol. Pôs-se a pensar, então, sobre os dois fenômenos simultaneamente e esforçou-se em explica-los ajudando-se das teorias de Galileu e da aceleração regular dos corpos caindo sobre terra ou rodando superfícies em pendente e beneficiando-se das leis de Kepler que tratavam do movimento dos planetas e entre as quais uma estipula que “o quadrado do tempo da revolução de cada planeta ao redor do Sol é proporcional a distancia que o separa”. É, pois, à luz de todos estes conhecimentos e observações, quando descobre a lei de atração universal em virtude da qual “todos os corpos materiais se atraem mutuamente, em razão de suas massas e em razão inversa ao quadrado de suas distâncias”.
Esta tendência sensualista e experimental de busca sobre o sistema do Universo poderia ter conseguido, e deveria, prover um novo argumento excelente à crença em Deus, em razão de suas possibilidades de descobrir todas as classes de harmonia (os fenômenos do Universo e as provas da Sabedoria) que indicam a existência do Criador. Porém os sábios naturalistas, entanto que sábios da natureza, não estavam preocupados no esclarecimento desta questão, considerada hoje, todavia, como um problema filosófico, segundo a classificação em vigor, entre os problemas e questões do saber humano. Assim, a tendência filosófica e racional não tem demorado em fazer sua aparição no domínio da filosofia, e ao exterior do quadro da ciência, para provar racionalizar este sensualismo e convertê-lo em filosofia. Tem anunciado que o único meio de conhecimento é a sensação: que ali onde se para a sensação, se detêm o conhecimento do homem, e que tudo aquilo que não pode ser submetido nem de uma forma nem de outra a experiência, o homem não tem meios de prová-lo.
Partindo desta afirmação serviram-se rapidamente deste sensualismo e da ciência experimental, para refutar a idéia da crença em Deus: dado que Deus não é um ser perceptível pela sensação e que não se pode nem Ver-lhe nem ter a sensação de Sua existência, não se pode, pois, prová-lo. Esta utilização impertinente do sensualismo não foi feita pelos sábios que tinham praticado com êxito a experimentação, se não por um grupo de filósofos de tendência racionalista que lhe deram uma interpretação filosófica ou racional inexata.
Mas pouco a pouco, estas tendências extremistas caíram na contradição. No plano filosófico se viram arrastadas a renegar a realidade objetiva, quer dizer, no Universo o qual vivemos em bloco e em detalhe, dado que depois delas, o homem não possui mais que a sensação e ela lhe permite conhecer as coisas entanto que as sente, e não entanto que são. Assim, quando percebemos uma coisa, podemos afirmar que existe em nossa sensação; quanto a sua existência fora de nossa consciência, de uma forma objetiva, independente e anterior à sensação, não podemos prová-la.
Vendo a lua e o céu, podemos afirmar somente que nós vemos e percebemos a lua neste momento exato. Quanto, a saber, se a lua existe realmente no céu, e se ela existia antes que nós abríssemos nossos olhos para vê-la, aqueles que tinham estas tendências, eram incapazes de afirmá-la, exatamente como o estrabista que vê as coisas que não existem e afirma que as vê, porém sem poder afirmar sua existência em realidade.
Assim, em sensação e si mesma, deixou de ser o meio de conhecimento do sensualismo filosófico. Em lugar de ser um meio de conhecimento, será seu termo final. O conhecimento sensitivo não existirá mais que como um fenômeno independente de nossa consciência e percepção.
No plano racional, o sensualismo, em sua versão mais moderna, se encaminha para a posição seguinte: se a verdade ou a falsidade da significação de uma frase não podem ser verificadas pela sensação ou a experiência, a frase é considerada como um grupo de palavras desprovidas de sentido, exatamente como as letras do alfabeto que se pronunciam em uma ordem dispersa. Porém, quando se pode verificar a veracidade ou a falsidade de sua significação, constitui uma palavra que tem um sentido. Neste segundo caso, se a sensação estabelece a conformidade de seu significado à realidade, a frase é verídica. Em revanche, se esta sensação estabelece o contrário, é considerada como falsa. Assim, se dizemos: A chuva cai do céu no inverno, fazemos uma frase significativa (por seu conteúdo). Porém se dizemos: a chuva cai no verão, a frase tem um sentido, mas o conteúdo é falso. E se dizemos: uma coisa que não se pode ver nem perceber cai na “Noite do Destino” (Laylat Al-Qadr, noite especial para os muçulmanos), teremos uma frase desprovida de sentido, abstração feita de sua veracidade ou de sua falsidade, dado que não se pode verificar o conteúdo nem pela sensação nem pela experiência; pois é exatamente como se dissessemos: dize (palavra sem sentido, inventada pelo autor como exemplo de um sem-sentido) descenda a Noite do Destino. Da mesma forma que aquela frase não tem sentido, esta outra não tem tampouco. Por conseguinte, dizer, Deus existe, é como se dissesse: Dize existe. Do mesmo jeito que a segunda frase está desnuda de sentido, a primeira está também, dado que não se pode conhecer a Deus pela sensação e a experiência.
Esta corrente racionalista tropeça-se com uma contradição pela simples razão de que seu raciocínio, baseado na extrapolação, não pode ser percebido pela sensação e percepção direta, resultando assim, uma palavra carente de sentido.
O racionalismo procede por generalização, do fato que pretende que toda frase cuja significação não pode ser verificada pela sensação e a experiência não tem sentido. Ou toda generalização adianta o quadro da sensação, pois esta não cobre mais que os casos parciais limitados. Desta forma, esta corrente tem acabado por contradizer-se ela mesma, além de contradizer todas as generalizações científicas pelas quais os sábios interpretam de uma forma global os fenômenos do Universo; pois a generalização (toda generalização), não pode ser percebida diretamente pela sensação, e é sobretudo deduzida e demonstrada a partir dos indícios provenientes dos fenômenos sensíveis limitados.
Por sorte, a ciência não tem prestado atenção, em sua marcha e em sua evolução continua, a estas correntes. Ela prossegue suas buscas nos descobrimentos do Universo, sempre a partir da sensação e da experiência; e, sobrepassando os limites estreito das tendências filosóficas e racionalistas, ela emprega os esforços racionais em vistas a coordenar os fenômenos, voltar a colocá-los nos quadros normativos gerais e descobrir os laços e as relações que existem entre eles.
Paralelamente, a influência filosófica e racional das tendências extremistas se reduz ao mesmo nível que as doutrinas filosóficas materialistas. Assim, a filosofia materialista moderna, representada pelos adeptos do materialismo dialético, rejeita completamente todas estas tendências e se atribui o direito de sobrepassar o quadro da sensação e a experiência, constituindo a primeira fase pela qual o sábio começa sua busca, assim como a da segunda fase, pela qual termina essa busca, com o fim de poder comparar os diferentes dons da ciência, dar uma interpretação teórica geral e determinar os laços e as relações eventuais que existem entre elas.
Quando o materialismo dialético, último herdeiro do materialismo na história, tem respondido a uma interpretação global do Universo em um quadro dialético, tem resultado ele mesmo no metafísico, segundo o ponto de vista das tendências sensualistas extremistas.
Isto significa que o materialismo e o teísmo concordam para ultrapassar o quadro da sensação (que as tendências materialistas extremistas afirmavam portanto não é necessário superar) e que será admitido em adiante; que o conhecimento passa por duas fases: a da concentração dos dons da sensação e da experiência, e da interpretação teórica e racional destes dons.
Porém, o que separa ao teísmo do materialismo é o tipo de interpretação que necessita deduzir os diferentes dons da ciência ao termo da segunda fase. Quando o materialismo propõe uma interpretação que renega a existência de um Criador, o teísmo pensa que estes dons não podem ser convincentes senão admitindo a existência de um Criador.
Agora vamos expor dois tipos de demonstração da existência do Criador. Cada um deles encarna os dons da sensação e a experiência de um lado, e a organização racional de ditos dons em vistas a deduzir a existência de um Criador deste universo, de outro lado. Chamamos a primeira demonstração, científica (indutiva), e a segunda demonstração filosófica.
Antes de começar com a primeira demonstração, quer dizer a científica, é conveniente começar definindo-a:
A demonstração científica é toda demonstração baseada na sensação e na experiência, seguindo o método de raciocínio indutivo fundado sobre o cálculo das possibilidades. É este método de raciocínio indutivo fundado sobre o cálculo das possibilidades, o que nós adotamos como método de demonstração científica, com o fim de provar a existência do Criador (1). Pelo que chamaremos a demonstração científica da existência do Criador: demonstração indutiva.
(1) O método da demonstração, não é a demonstração em si mesma. Pois vocês podem demonstrar que o Sol é maior que a Lua, baseando-se nas afirmações dos sábios. O método é aqui, o fato de considerar a afirmação dos sábios como demonstração da verdade. Vocês poderiam igualmente pretextar que fulano vai morrer rapidamente baseando-se em um sonho que tivessem tido, e no qual sonhassem sua morte. O método, neste caso, é tomar os sonhos como demonstração da verdade. Vocês podem, enfim, argumentar que a terra é um grande imã bipolar que tem um pólo negativo e um pólo positivo; remarquem que uma agulha imantada em posição horizontal orienta sempre uma de suas duas extremidades para o Norte, a outra para o Sul. O método consiste aqui, em adotar a experiência como demonstração. A veracidade de cada demonstração está fundamentalmente ligada à veracidade do método do qual depende.
A DEMONSTRAÇÃO CIENTÍFICA DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Já temos dito que a demonstração científica da existência de Deus adota o método de raciocínio indutivo baseado sobre o cálculo das possibilidades. Antes de revisar esta demonstração queremos explicar de antemão este método e avaliá-lo, com o fim de conhecer em que medida podemos confiar nele, para descobrir as verdades e reconhecer as coisas.
O método da demonstração indutiva fundada sobre o cálculo das possibilidades tem formas complexas e um alto grau de precisão. Uma apreciação global e precisa deste método necessita de um estudo analítico completo dos fundamentos lógicos da indução e da teoria da probabilidade. Também prestaremos atenção para evitar ao leitor as dificuldades, assim como todas as fórmulas complexas e toda analise dificilmente compreensível. Para isto, devemos tomar seguidamente duas demarcações:
Determinar o método da demonstração que vamos a seguir prosseguir explicando, simplificando e resumindo seus limites. Apreciar este método e determinar em que medida nós podemos confiar nele. Para isto, não procederemos por analise racional, nem pela explicação das bases lógicas e matemáticas sobre as quais está fundado (pois isto nos obrigaria a abordar as questões complexas e as idéias fortemente delicadas), senão referindo-nos as suas outras aplicações científicas, admitidas geralmente por todo homem constituído normalmente. Explicaremos que o método adotado na demonstração da ciência do Criador é o mesmo que utilizamos tanto na demonstração da nossa vida ordinária e cotidiana, como naquelas de buscas científicas e experimentais, demonstrações as quais damos inteira confiança. E dado que colocamos confiança nesse método para demonstrar as verdades de nossa vida cotidiana, devemos confiar, nele, igualmente, para demonstrar a existência do Criador, o Qual é à base de todas as verdades. Isto é o que vamos explicar na continuação.
Em sua vida cotidiana e habitual, quando você recebe uma carta pode adivinhar antes de lê-la que vem de vosso irmão, por exemplo. Quando você constata que um médico persiste em curar numerosas enfermidades, põe confiança nele e estima que é hábil. Quando uma injeção de penicilina que injeta em dez casos de enfermidade provoca depois de cada utilização sintomas similares, você deduz que vosso corpo tem uma alergia particular contra a penicilina. Em todas estas deduções e em outros casos similares, utiliza-se, em realidade, o método da demonstração indutiva, baseada no cálculo das probabilidades. Em outro plano, o sábio tem remarcado através de sua busca científica as propiedades particulares do sistema solar, e conclui que os astros que o compõe fazem parte, de fato, do Sol separando-se a continuação. Tem demonstrado a existência de Netuno, um dos planetas deste sistema, deduzindo-o da observação das trajetórias dos movimentos dos planetas, antes de descobrir Netuno e a sensação. Quando ele tem deduzido, à luz de fenômenos precisos, a existência dos elétrons antes de descobrir o microscópio atômico, tem seguido (em todos estes casos) em verdade, o método de raciocínio indutivo, baseado sobre o cálculo das probabilidades.
É este mesmo método que vamos adotar para demonstrar a existência do Criador; e é o que vamos ver claramente, quando passarmos revista sobre esta demonstração.
A DETERMINAÇÃO DO MÉTODO E SUAS DEMARCAÇÕES:
O método da demonstração indutiva baseada sobre o cálculo das probabilidades pode resumir-se (por ser simples e claro) em cinco demarcações:
1a Consideramos, no quadro da sensação e da experiência, numerosos fenômenos.
2a Depois de observá-los e reuni-los passamos à fase de sua interpretação. O que se exige nesta fase é achar uma hipótese válida para interpretar todos estes fenômenos e justificá-los. Por “válida para interpretar todos esses fenômenos”, entendemos que se a hipótese se estabelecia na realidade, deveria poder sondar (e concordar com) a existência de todos esses fenômenos (que existem efetivamente).
3a Remarcamos que se esta hipótese não está nem justificada nem estabelecida na realidade, à sorte de existência da simultaneidade destes fenômenos reunidos é muito pequena. Em outros termos, se supomos que a hipótese é inexata, o informe da probabilidade da existência de todos estes fenômenos, tem a probabilidade de sua inexistência, ou ao menos, a inexistência de um dentre eles, é muito fraca: 1%, por exemplo;
4a Do precedente concluímos que a hipótese é justa, e nesse caso, nossa previsão de sua justiça é a existência destes fenômenos que temos percebido na 1a demarcação.
5a A possibilidade destes fenômenos de demonstrar a hipótese (emitida na 2a demarcação) varia, em razão direta ao informe da probabilidade da existência da união destes fenômenos, à probabilidade de sua existência (entendendo: sua inexistência, ou a inexistência de um deles, pelo menos), no caso onde a hipótese era inexata. Quanto mais fraco era este estudo, mais cresce a possibilidade de que a demonstração alcance, em muitos casos ordinários, o grau de certeza total da exatidão da hipótese.
De fato, há regras e critérios precisos baseados sobre o cálculo das possibilidades para a determinação de uma probabilidade. Nos casos ordinários, o homem aplica de uma forma natural e inata, e quase muito corretamente, estes critérios e regras. É pelo que nos contentaremos em basear-nos aqui na apreciação natural e inata do valor da probabilidade, sem entrar nos detalhes complexos dos fundamentos lógicos e metafísicos de dita apreciação.
Tais são, pois, as demarcações que se seguem habitualmente em todo raciocínio indutivo baseado sobre o cálculo das probabilidades, assentado no domínio da vida ordinária, ou de busca científica, ou o da demonstração que vamos utilizar a seguir para provar a existência do Criador.
A APRECIAÇÃO DO MÉTODO:
Para apreciar o valor deste método através das aplicações e dos exemplos, como temos prometido, começaremos a continuação com alguns exemplos correntes:
Temos dito, que quando vocês recebem uma carta, a lêem e deduzem que vêm de seu irmão (e não de outra pessoa anelando corresponder-se com vocês), tem se utilizado em efeito, a um raciocínio indutivo baseado no cálculo das probabilidades. E tão evidente possa parecer-lhes esta dedução, fizeram-na, na verdade por raciocínio indutivo idêntico ao que nós fazemos referência. Assim, a primeira demarcação que vocês têm efetuado mentalmente foi a de confrontar vários ‘fenômenos’ (indicações) tais como: o fato de que o homem do remetente corresponde perfeitamente ao seu irmão, que a escritura da carta, em todos seus detalhes (a grafia de todo alfabeto) é idêntica a de seu irmão; que as palavras, e os sinais de pontuação estão depostos da mesma forma à que seu irmão utiliza; que o estilo, a expressão e seu grau de solidez, assim como seus pontos fracos e seus pontos fortes, correspondem inteiramente aos de seu irmão; que a ortografia e as faltas de ortografia são as mesmas; que as informações descritas pela carta, correspondem às que seu irmão conhece; que seu remetente lhes pede em sua carta, as coisas e expõe as opiniões que traduzem perfeitamente as necessidades e as opiniões de seu irmão…
Tais são, pois, as indicações (os fenômenos) que vocês têm remarcado na primeira demarcação.
Na segunda demarcação, vocês tem se perguntado se esta carta tem sido enviada realmente por seu irmão ou por outro indivíduo que leva o mesmo nome… Aqui, emitem uma hipótese com o fim de explicar e justificar todas essas indicações: ‘a letra é bela, pois é de meu irmão’. Dado que se é de seu irmão, é de todo normal que comporte todos estes dons que vocês têm remarcado na primeira demarcação.
No curso da terceira demarcação, vocês se perguntam o seguinte: se a carta não fosse de meu irmão, se não de outra pessoa, qual seria a sorte que ela contém todos os dons e particularidades que tenho observado sobre a primeira demarcação? Para que tivesse tal sorte é necessário à existência de um grande número de coincidências correspondentes ao número de todos os dons e particularidades observadas: é necessário supor que se trata de uma pessoa que leva o mesmo nome que seu irmão e tivesse a mesma escrita (grafia, disposição das palavras), o mesmo estilo, a mesma expressão, o mesmo nível lingüístico e ortográfico, o mesmo número de informações e necessidade, assim como muitas outras circunstâncias e equívocos… A probabilidade da reunião de tal número de coincidências é muito fraca. E, mais o número de coincidências que tem que supor a existência aumenta mais se debilita a probabilidade.
Os fundamentos lógicos da indução nos ensinam como avaliar uma probabilidade e nos explicam se debilita, proporcionalmente ao aumento de número de azares que supõe. Porém não é necessário para um leitor que não é um expert, entrar em tais detalhes difíceis e complexos. Felizmente, a debilidade da probabilidade não depende imperativamente da compreensão de ditos detalhes: assim como a queda de um homem ao solo não depende de sua compreensão da força de atração, nem de seu conhecimento da educação científica da lei de atração universal. Você não tem necessidade de realizar um grande esforço para compreender que a sorte da existência de um indivíduo que se parece com seu irmão em todos esses detalhes, é improvável. Um banco igualmente não necessita assimilar os fundamentos lógicos da indução, para compreender que o grau de probabilidade de ver a todos seus clientes retirar ao mesmo tempo seus depósitos bancários, é muito baixa; assim como a probabilidade de que um ou dois deles os retirem, é muito possível.
Na primeira demarcação, vocês dizem: dado que é pouco provável achar todas estas indicações em dita carta que não seja de meu irmão, é muito provável, pois, que seja de meu irmão.
Na quinta demarcação, vocês relacionam a forte probabilidade (pela qual optam na quarta demarcação e segundo a qual “a carta seguramente é de seu irmão”), à fraca probabilidade da terceira demarcação e segundo qual “é pouco provável encontrar todas estas indicações na carta senão é de seu irmão”, concluindo que a forte probabilidade é inversamente proporcional à fraca probabilidade. Assim, mais se debilita a fraca probabilidade, mais cresce a forte probabilidade; se reforça e aparece mais convincente, todavia. E se não tem contra-indicações suscetíveis de fazer pensar que esta carta não é de seu irmão, as cinco demarcações são suficientes para levar-lhes à convicção total de que dita carta vem dele.
Depois desse exemplo escolhido da vida cotidiana de todas as pessoas, tomamos outro exemplo escolhido dos procedimentos que utilizam os sábios para demonstrar e provar uma teoria científica; neste caso, o nascimento dos planetas. Segundo esta teoria, os nove planetas são originários do sol e, estando separados dele, passam milhões de anos embaixo de formas de pedaços flamejantes. Os sábios coincidem geralmente sobre a origem dos planetas, porém divergem quanto à causa de sua separação do sol. A demonstração da origem do planeta se realiza segundo as demarcações seguintes:
Na primeira demarcação, os sábios têm observado muitos fenômenos e os tem percebido pela sensação e a experiência. Dentre esses fenômenos assinalamos os seguintes:
A revolução da Terra ao redor do Sol está em concordância com a rotação do sol, e este e aquela o efetuam no sentido Oeste-Leste. A rotação da Terra ao redor de si mesma concorda com a rotação do Sol ao redor de si mesmo (Oeste-Leste). A Terra gira ao redor do Sol sobre uma órbita paralela e seu equador (do Sol), de tal forma que o Sol forma um pólo, e a Terra um ponto situado sobre a órbita. Os mesmos elementos dos elementos que se compõe a Terra existem mais ou menos no Sol. Há uma concordância dos quocientes dos elementos sobre a Terra e no Sol. O hidrogênio é, por exemplo, o elemento dominante. A velocidade da revolução da Terra sobre si mesma, concorda com a velocidade da rotação do Sol ao redor de si mesmo. A idade da Terra concorda com a do Sol, segunda a estimação feita pelos sábios. O interior da Terra é quente o que prova que a Terra foi muito quente em seu nascimento.
A segunda demarcação: os sábios têm encontrado uma hipótese que pode explicar todos os fenômenos que tinham observado na primeira demarcação. Dito de outra forma, se a hipótese se estabelece em realidade, deve poder justificar e sondar todos os fenômenos em questão. Segundo esta hipótese, a Terra faz corpo com o Sol antes de separar-se dela por uma razão qualquer; isto é o que deve permitir-nos explicar estes fenômenos.
Assim, no primeiro fenômeno segundo o qual “a revolução da Terra ao redor do Sol concorda com a rotação do sol ao redor de si mesma, e este e aquela o efetuam no sentido Oeste-Leste”, a concordância se explica (admitindo a possibilidade da hipótese) pelo fato de que quando um pedaço se separa de um corpo ele gira, permanecendo atado por um fio ou outro laço, deve continuar girando no mesmo sentido que o movimento do corpo, como o estipula a lei da continuidade.
Para o segundo fenômeno, a concordância de rotação da Terra ao redor de si mesma com a rotação do Sol ao redor de si mesmo, no sentido Oeste-Leste, se explica pela mesma lei, pois o pedaço desprendido de um corpo deve continuar girando o mesmo sentido que o movimento do corpo.
O que é válido para o 2o fenômeno, é válido igualmente para o 3º. No quarto e quinto fenômenos, a concordância dos elementos e de seus quocientes no Sol e a Terra, se justificam facilmente pelo fato de que a Terra é uma parte do Sol, e os elementos da ‘parte’ de um ‘todo’, são os mesmos que os do ‘todo’.
No concerne ao sexto fenômeno, a concordância da velocidade da revolução da Terra ao redor do Sol e sua rotação ao redor de si mesmo, tende ao fato que os movimentos da terra obtêm sua origem do movimento do Sol.
No sétimo fenômeno, temos a teoria da separação (da Terra do Sol), a qual explica ‘a concordância da idade da Terra com a do Sol’. É igualmente esta teoria da separação que nos explica o oitavo fenômeno, segundo o qual a Terra estava muito quente quando passou pelo seu nascimento.
A terceira demarcação: se supõe-se que a teoria da Separação da Terra do Sol é inexata será fácil pensar que é pouco provável reencontrar todos esses fenômenos reunidos. Pois sua reunião nestas condições significa a reunião de uma série de azares sem laço compreensível. Pois a probabilidade de vê-los todos reunidos, supondo a inexatidão da teoria em questão é fraca demais; dado que para poder explicar todos os fenômenos descritos, se necessitam um grande número de suposições:
Assim, no que concerne à concordância da revolução da Terra ao redor do Sol, com a rotação deste ao redor de si mesmo (sentido Oeste-Leste), tem que supor que a Terra era originalmente um corpo celeste, situada longe do Sol (seja se fosse criada independentemente do Sol, seja se fizesse parte de outro sol antes de ser separada dele) se aproximou-lhe; por conseguinte tem que supor igualmente que esta Terra assim lançada, entrou em sua órbita ao redor do Sol, por um ponto situado ao Oeste deste. De outra forma, se tivesse entrado nesta órbita por um ponto situado ao Leste, ela teria girado ao sentido contrário (Leste-Oeste).
No que concerne à concordância da rotação da Terra ao redor de si mesma com a do Sol ao redor de si mesmo (sentido Oeste-Leste), podemos supor, por exemplo, que o outro sol do qual a Terra foi terminada, giraria de oeste a leste. Para justificar a revolução da Terra ao redor do Sol em uma órbita paralela ao equador solar, podemos supor aqui, igualmente, que ‘o outro sol’ do qual a Terra seria original, estaria situado em ponto perpendicular ao equador do nosso Sol. Quanto à concordância dos elementos e de seus quocientes na Terra e no Sol, devemos supor que a Terra (onde o ‘outro sol’ do qual ela tinha sido separada) tinham os mesmos elementos (e em proporções idênticas) que encontramos em nosso sol. Quanto à concordância da velocidade da revolução da Terra ao redor do Sol e sua rotação do Sol sobre si mesmo, podemos supor, sempre a título de exemplo, que ‘este outro sol’ em questão, explorado de maneira que deu a nossa Terra a velocidade que concorda com o movimento do Sol.
E, enfim, pelo que concerne a concordância da idade respectiva da Terra e do Sol com o calor da Terra em seu nascimento, podemos supor que a Terra teria sido separada de outro sol que tivesse a mesma idade que nosso Sol, e, que esta separação foi produzida de tal forma, que teria provocado nela um grau de calor muito alto.
Como acabamos de ver, para justificar a reunião dos fenômenos observados tem que admitir se supor falsa a hipótese da separação, a presença de uma série de acasos, pois dita reunião é pouco provável demais. Supondo exata a hipótese, basta explicar todos os fenômenos e ligá-los uns aos outros.
A quarta demarcação: dada à existência de todos esses fenômenos observados na Terra, é pouco provável demais supor que a Terra não se separou do Sol; logo estes fenômenos existem efetivamente, pois é provável que a Terra fosse separada do Sol. A quinta demarcação: estabelecemos um laço entre a forte probabilidade (a da separação da Terra do nosso Sol) que escolhida na quarta demarcação, e a fraca probabilidade (a de achar todos os fenômenos reunidos na Terra sem admitir a separação desta do nosso Sol) que temos emitido na terceira demarcação. Unindo estas duas demarcações, podemos concluir que, tanto mais a debilidade da probabilidade enunciada na terceira demarcação se acentua, mais a plausibilidade da forte probabilidade estabelecida na quarta demarcação aumenta. E a partir destes fatos podemos demonstrar a teoria da separação da Terra do Sol; e é por meio deste método que os sábios têm adquirido sua convicção absoluta.
COMO APLICAR ESTE MÉTODO PARA DEMONSTRAR A EXISTÊNCIA DO CRIADOR:
Depois de aprender o método geral da demonstração indutiva baseada sobre o cálculo das probabilidades, e depois de tê-lo apreciado através de suas aplicações, nos esforçamos agora em ampliá-lo em vistas a demonstrar a existência do Criador, seguindo as mesmas demarcações:
A primeira demarcação: remarcamos sem cessar que um número considerável de fenômenos naturais regulares concorda perfeitamente com a necessidade do Homem entanto que ser vivente e com as exigências do desenvolvimento de sua vida, de forma que toda substituição de um destes fenômenos conduz à asfixia da vida humana sobre a Terra, ou sua paralisia.
Na continuação mencionamos, a título de exemplo, alguns destes fenômenos:
A Terra recebe do Sol uma quantidade de calor que lhe assegura uma temperatura suficiente à formação da vida e à satisfação das necessidades exatas (nem mais, nem menos) do ser vivente. Constatou-se cientificamente que a distância que separa a Terra do Sol, concorda perfeitamente com a quantidade de calor necessária para a vida na Terra. Se esta distância fosse o dobro da que é efetivamente, não teria existido o calor suficiente para a formação da vida; e se ela tivesse sido a metade, o calor teria sido o dobro e insuportável para a vida.
Remarcamos igualmente que o córtex terrestre e dos oceanos, retém formas compostas e a maior parte do oxigênio que constitui a oitava parte de todas as águas do mundo. Apesar disso, e apesar de sua dupla disposição a combinar-se quimicamente, uma limitada parte deste gás permanece livre e participa na composição do ar. Esta parte realiza uma das condições necessárias da vida. Pois os seres viventes (Homem ou animal) têm uma necessidade imperiosa do oxigênio para respirar. E se todo oxigênio tivesse sido retido em forma composta, a vida não poderia ter existido. Tem-se remarcado que a taxa de oxigênio livre corresponde perfeitamente à necessidade do Homem e de sua vida prática. O ar se compõe, em efeito, de 21% de oxigênio. Se esta porcentagem fosse mais elevada, o meio ambiente teria sido exposto a incêndios permanentes. E se menos elevado, a vida teria sido impossível ou difícil, e não teria tido bastante oxigênio para atender as necessidades da vida.
Observamos igualmente um fenômeno natural que se repete continuamente milhões de vezes através dos tempos, e que permite o mantimento de uma taxa determinada de oxigênio em constância: quando o Homem, e de uma maneira geral o Animal, respira e inspira o oxigênio, o sangue recebe-o e distribui em diferentes partes do corpo. Este oxigênio consome então a alimentação; o que produz o gás carbônico, o qual remonta aos pulmões para ser devolvido ao ar. Assim, o Homem e outras espécies animais produzem continuamente este gás que constitui uma condição necessária na vida de todo vegetal; este, por sua vez, recebendo o gás carbônico, lhe separa o oxigênio que devolve em sua forma pura no ar, para ser apto de novo à respiração.
Pois nesse processo de mudança entre o animal e o vegetal, o oxigênio tem conseguido manter sua taxa; e sem ele, o oxigênio se faria raro e a vida do Homem teria sido quase impossível. E são milhares de fenômenos naturais que têm concorrido na realização deste processo de mudança, perfeitamente adaptado às exigências da vida.
Remarcamos que o nitrogênio entanto, que é o gás pesado tendendo sobretudo ao gelo, aligeira pertinentemente o oxigênio de forma a fazer útil, misturando-se no ar. Assim mesmo, se constata que as quantidades respectivas de oxigênio e de nitrogênio que permanecem livres no ar, concordam perfeitamente. Em outros termos a quantidade de oxigênio do ar é justamente o que a quantidade de nitrogênio do ar pode aligeirar. Se o oxigênio aumentasse, ou o nitrogênio diminuísse, a operação de aligeiramento necessário não teria lugar.
Remarcamos também que a quantidade de ar existente sobre a Terra é limitada: não sobrepassará uma milionésima da massa do globo terrestre. Esta quantidade é justamente o que faz falta para fazer possível a vida do Homem na Terra. Se chegasse a aumentar ou a diminuir, a vida seria ao menos difícil, senão impossível. Pois seu aumento significa o aumento da pressão do ar sobre o Homem, aumento que poderia chegar a uma temperatura insuportável; e se sua diminuição significa que se deixa aos meteoros que se derramem cada dia, caberia a possibilidade de que penetrassem na terra facilmente e aniquilassem tudo quanto vive nela.
Remarcamos que o córtex terrestre que absorve o óxido de carbono e o oxigênio, é de uma espessura limitado de forma que não absorve a quantidade de todo este gás. Se fossem mais espessos os absolviria inteiramente, o que teria acarretado na aniquilação da Vegetal, do Animal e do Homem.
Remarcamos que a Lua está situada a uma distância precisa da Terra, distância que corresponde muito exatamente à necessária para que a vida prática do Homem sobre a Terra possa desenvolver-se normalmente. Se essa distância fosse relativamente mais curta, a maré que a Lua teria provocado, teria sido capaz de deslocar as montanhas.
Remarcamos muitos instintos nos distintos seres viventes. Se o instinto é uma noção metafísica e não pode ser submetida à observação científica. Este comportamento instintivo expresso por milhares de instintos que o homem pôde remarcar através de sua vida cotidiana ou suas buscas científicas, concorda perfeitamente com o desenvolvimento da vida e sua proteção. Se atém às vezes, a um alto grau de complexidade e de precisão. Quando lhe dividimos em unidade, remarcamos que cada unidade está localizada na posição exata que lhe permite dirigir bem sua missão, fazer que se desenvolva a vida e protegê-la.
A estrutura fisiológica de Homem representa os milhões de fenômenos naturais e fisiológicos. Cada um destes fenômenos corresponde constantemente (por sua concepção, seu rol fisiológico, e suas correlações com todos os outros fenômenos) à tarefa do encaminhamento da vida e da proteção da vida. Tomemos, por exemplo, um grupo de fenômenos que estão ligados entre si, de forma a adaptar-se perfeitamente à função da vista e à ação de facilitar a percepção das coisas de forma útil: A lente de contato do olho projeta a imagem sobre a retina. Esta está constituída de novas capas; a última delas se compõe de milhões de cones e bastões pequenos que, por seus informes recíprocos de uma parte e seu rendimento de lente de contato de outra, estão devidamente dispostos segundo uma ordem concordante com a função da vista. Certamente, tem uma só exceção a esta concordância: a imagem refletida sobre a retina está invertida, porém se trata de uma exceção momentânea, pois situa-se a uma fase anterior à da percepção visual definitiva e não nos deixa perceber os objetos de uma forma inversa. A imagem invertida sobre a retina, será, em efeito, transposta nas milhões de redes de nervos, conduzindo ao encéfalo reemprendendo sua posição correta, e é neste justo momento somente que a percepção visual se produz em harmonia no desenvolvimento da vida.
Da mesma forma, a beleza, o perfume e o esplendor, entanto que fenômenos naturais, lhes reencontra ali, ou sua presença concorda com a marcha da vida. Assim, as flores, cuja fecundação se efetua por meio de insetos, são dotadas de elementos de beleza e atração, tais como as cores estalantes e o perfume atrativo, que corresponde à necessidade de atrair ao inseto para a flor fará fazê-lo fecundar quando as flores, cuja polinização se faz graças ao vento, são privadas do mesmo. Quanto ao fenômeno do acoplamento em geral e da concordância perfeita da estrutura fisiológica do macho com a fêmea, no Homem no Animal e no Vegetal (concordância que permite assegurar a fecundação e a perpetuação da vida), constitui outro índice universal da harmonia entre a natureza e a missão de facilitar a marcha da vida: “Porém, se pretenderdes contar as mercês de Deus, jamais poderá enumerá-los. Sabei que Deus é Indulgente, Misericordioso” (Alcorão XVI, 18).
A segunda demarcação:
Remarcamos que esta concordância constante do fenômeno natural com a missão de assegurar e facilitar a vida, que encontramos em milhões de situações, pode ser explicada em todas as partes e sempre por uma só hipótese: a suposição da existência de um Criador deste Universo, tendo querido dotar esta Terra de dois elementos da vida e facilitar a missão dela mesma. Esta hipótese pode justificar e sondar todas as concordâncias observadas.
A terceira demarcação:
Perguntamos-nos o seguinte: se a hipótese da existência de um Criador não tem sido provada, qual será a plausibilidade da probabilidade da existência fortuita ou gratuita de todas estas concordâncias (as concordâncias dos fenômenos naturais com a missão de assegurar a vida)?; É evidente que tal probabilidade, pode ser plausível, supõe a presença de um número elevado demais de acasos. Ou, se a hipótese emitida no parecido da carta (e segundo a qual, esta carta provinha de outra pessoa que não era seu irmão, porém que lhe parecia por todos os indícios assinalados), revelou de uma probabilidade fraca demais (dando por suposto que um parecido em milhares de particularidades é pouco possível demais segundo o cálculo das probabilidades), quer dizer então de uma probabilidade que supõe que nossa Terra, assim como tudo o que a reafirma, seja o produto de uma matéria fortuita e acidental? Quem se parecerá, por milhões de qualidades, a um Criador sensato e finalista?
A quarta demarcação:
Pensamos, pois, sem vacilação possível na hipótese que temos formulado na segunda demarcação; quer dizer, a existência de um Criador.
A quinta demarcação:
Relacionamos esta fraca probabilidade com a forte probabilidade que temos constatado na terceira demarcação. E sendo que a probabilidade da terceira demarcação se debilita proporcionalmente ao aumento do número de acasos que devíamos supor-lhe, é evidente que esta probabilidade é fraca demais com relação às probabilidades da terceira demarcação de raciocínio indutivo utilizado em toda a lei científica. Pois o número de acasos que devemos supor imperativamente na terceira demarcação de nossa presente demonstração, é superior ao número de acasos supostos em toda outra probabilidade similar ou semblante. Esta probabilidade é, pois, nula.
Assim, chegamos à conclusão da existência de um Criador, baseada em todos os sinais da harmonia e da ordem que nos proporciona o Universo:
“Em breve lhes faremos ver nossos sinais em todos os horizontes, tudo como em suas próprias pessoas, até que lhes seja evidente que, sim é esta a verdade. Como? Não basta que teu Senhor seja Testemunha de todas as coisas?” (Alcorão XLI, 53).
“Na criação dos céus e da terra; na alteração do dia e da noite; nos navios que singram o mar para o benefício do homem; na água que Deus envia do céu, com a qual vivifica a terra, depois de haver sido árida e onde dissemina toda espécie animal; na mudança dos ventos; nas nuvens submetidas entre o céu e a terra, (nisso tudo) há sinais para os sensatos.” (Alcorão II, 164).
“Voltai, pois, a olhar! Vês, acaso, alguma fenda? Novamente, olha e torna a fazê-lo, o teu olhar voltará a ti, confuso e fatigado.” (Alcorão LXVII, 3,4).
A DEMONSTRAÇÃO FILOSÓFICA
Antes de abordar a demonstração filosófica da existência, devemos perguntá-los o que é esta demonstração, quais são suas divisões, e qual é a diferença entre esta e a demonstração científica. Geralmente tem três classes de demonstração: a demonstração matemática, a demonstração cientifica a demonstração filosófica.
A demonstração matemática: É a demonstração utilizada no domínio das matemáticas puras e em sua lógica formal. Sempre está baseada sobre um principio fundamental: o da não-contradição segundo o qual A é A e não outra coisa que A. Toda demonstração baseada sobre este principio (assim como os resultados que lhe ramificam), é chamada demonstração matemática, a qual se beneficia da confiança de todos.
A demonstração científica: É a demonstração utilizada no domínio das ciências naturais. Está baseada sobre os conhecimentos que se podem provar pela sensação ou pelo raciocínio indutivo científico, além dos princípios da demonstração matemática.
A demonstração filosófica: É a demonstração que se baseia sobre os conhecimentos racionais (os que não necessitam nem sensação nem experiência), além dos princípios da demonstração matemática, em vistas a provar uma realidade objetiva do mundo exterior.
Isto não significa necessàriamente que a demonstração filosófica não sabe sobre os conhecimentos perceptíveis ou indutivos, porém não se contenta com isto; quer dizer, que além dos conhecimentos, ou independentemente deles, ela descansa sobre outros conhecimentos racionais que não entram no quadro dos princípios da segunda. Tendo apresentado a concepção da demonstração filosófica consideramos neste mesmo quadro, a questão seguinte: Pode-se contar com os conhecimentos racionais, quer dizer aqueles que a razão nos abastece, sem ter necessidade da sensação, nem da experiência, nem da indução científica?
A resposta é positiva. Pois há conhecimentos que são dignos da confiança de todos, tais como o princípio de não-contradição, sobre o qual estão fundadas todas as matemáticas puras, e que nós confiamos racionalmente, sem ter necessidade de recorrer à observação nem à experiência, as quais constituem a base da indução. A prova é que o grau de nossa crença neste princípio não varia segundo o número de experiências e de observações que correspondem a este grau. Tomemos, a título de exemplo, uma aplicação matemática evidente deste princípio: 2 mais 2 = 4. Nossa crença na justiça desta simples equação matemática é muito profunda e não aumenta com as multiplicações dos exemplos. Melhor ainda, não estamos dispostos a prestar atenção a um exemplo que contradissesse; e se nos diz que 2 mais 2 = 5 ou a 3, neste caso excepcional, não acreditaríamos muito. Isto significa que nossa crença nessa verdade não está ligada à sensação nem à experiência, senão que seria afetada por elas, positiva ou negativamente. E posto que acreditamos inteiramente nesta verdade sem que nossa crença esteja ligada à sensação nem à experiência, é de todo natural que possamos confiar às vezes dos conhecimentos racionais sobre os quais está baseada a demonstração filosófica.
Em outros termos, rejeitar a demonstração filosófica simplesmente porque está fundada sobre os conhecimentos que não estão ligados à experiência e indução, significa que se deve rejeitar igualmente a demonstração matemática, a qual está fundada no principio da não-contradição, a qual confia sem referir-nos à experiência nem à indução.
UM MODELO DA DEMONSTRAÇÃO FILOSÓFICA DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Esta demonstração está fundada em três postulados que detalhamos a seguir:
1. O axioma segundo o qual cada acontecimento tem uma causa a que deve a sua existência. Este axioma é percebido pelo homem de uma forma inata, e está confirmado constantemente pelo relacionamento indutivo científico.
2. O axioma segundo o qual, uma coisa tem graus diferentes os quais uns são mais fortes e mais aperfeiçoados que os outros não são possível que o grau inferior de aperfeiçoamento e de conteúdo, seja a causa de existência do grau superior. Assim, o calor, o saber, a luz, etc… Tem graus onde uns são, superiores em aperfeiçoamento ou em solidez que os outros. Um alto grau de calor não pode ser o resultado de um grau inferior, o mesmo que um homem que conhece perfeitamente o inglês, não pode adquirir um conhecimento mias aperfeiçoado desta língua, que outro indivíduo que não tem mais que conhecimentos rudimentares desta, ou a ignora completamente. Também, um grau de luz fraca, não pode realizar um grau mais alto; porque cada grau superior comporta um excedente qualitativo e quantitativo, em relação ao grau inferior. E este excedente qualitativo não pode ser provindo de uma fonte que não possui. Quando querem financiar um projeto com seu dinheiro que o possuem.
3. A matéria toma, ao largo de sua evolução continuada, formas diversas quanto a seu grau de evolução e de concentração. A partícula de água, desprovida de sensibilidade, representa uma das formas da existência da matéria. O protoplasma que entra na composição da substância do vegetal e do animal representa uma forma mais desenvolvida da matéria. A ameba, este pequeno animal unicelular encarna uma outra forma da matéria ainda mais evolucionada. O Homem, este ser vivente sensível e pensador, é a forma superior da existência neste universo.
A propósito destas distintas formas da existência se estabelece uma pergunta: sua diferença, é uma simples diferença quantitativa do número de moléculas e de elementos, e das relações mecânicas entre elas. Ou bem se deve a uma diferença qualitativa e modal, traduzindo os graus diferentes da existência, e das etapas da evolução e do aperfeiçoamento? Em outros termos, a diferença entre a Terra e o Homem da que é descendente, é numérica somente, ou bem uma diferença em dois graus da existência, duas etapas da evolução da evolução e do aperfeiçoamento, como a diferença entre uma luz fraca e uma intensa? O Homem tem acreditado em uma forma infusa, desde que se pergunta sobre esta questão das formas que representam o grau da existência e as etapas do aperfeiçoamento. A vida é um grau superior da existência em relação à matéria, e o grau não é absoluto; está subdividido também em subgraus. Mas a vida obtém um novo conteúdo, expressa um grau superior. Isto é devido ao fato da vida do ser sensível e pensante expressar um grau superior à vida do vegetal e assim por diante.
Porém, o pensamento materialista tem-se oposto a esta verdade há dois séculos, pois crê na concepção mecânica da interpretação do universo, segundo o qual o mundo exterior se compõe de crepúsculos idênticos que estão afetados no quadro de leis gerais, pelas forças simples, atrativas e repulsivas, cuja função se limita ao rol de catalisar, permitindo aos crepúsculos mover-se e deslocar-se. Por esta ação de atração e repulsão mútuas, umas partículas se juntam, outras se dispersam, permitindo assim diversificar-se na matéria. É por isto que o materialismo mecânico reduz a revolução e o movimento, a um simples deslocamento do corpo e dos crepúsculos no espaço. Tem explicado a diversidade das formas da matéria, pelas diferentes formas de surgimento e repartição, e seus crepúsculos, e tem excluído destas transformações, a criação de todo novo elemento afirmando que a matéria não crê em sua existência, nem se desenvolve senão que se reúne e dispersa como um bolo que a mão dá forma em diferentes maneiras; sem adquirir nada novo. Esta hipótese tem sido inspirada na ciência mecânica (primeira das ciências a ser liberal nos métodos de investigação) e reforçada pelos acontecimentos que esta ciência tem realizado nos descobrimentos das leis do movimento dinâmico e na interpretação (na base de ditas leis) dos movimentos habituais dos corpos ordinários, incluindo o movimento dos astros no espaço.
Porém, a continuação da evolução da ciência e a extensão dos métodos de busca que se alastram para outros domínios, têm demonstrado a falsidade destas hipóteses e sua incapacidade de explicar mecanicamente todos os movimentos mecânicos, e conter de outro lado todas as formas da matéria no quadro do movimento mecânico dos corpos e os crepúsculos de um lugar ao outro. Quanto à ciência, ela tem confirmado o que o homem tem percebido naturalmente, que a diversidade das formas da matéria não se explica pelo simples deslocamento de seus crepúsculos de um ponto a outro, senão por uma variedade de evolução qualitativa modal. A experiência científica tem demonstrado que uma combinação numérica de crepúsculos, não representa nem uma vida, nem uma sensibilidade, nem um pensamento; o que nos põe diante de uma concepção totalmente diferente da que o materialismo mecânico nos apresenta. Porque tanto na vida, como na sensação ou pensamento, assistimos a um processo de verdadeiro desenvolvimento da matéria e a uma evolução qualitativa em seus graus de existência; e isto, seja qual for o conteúdo desta evolução qualitativa: material (expresso pelo passo de um grau a outro mais elevado) ou imaterial.
Recapitulemos para resumir os três postulados que acabamos de enumerar. Esses são: cada acontecimento tem uma causa. O ‘inferior’ não pode ser a causa do ‘superior’. A diversidade dos graus da existência e a variedade modal em nosso universo. À luz destes três postulados sabemos que reencontramos nas formas qualitativas evolucionadas, um verdadeiro desenvolvimento, quer dizer um aperfeiçoamento na existência da matéria, assim como um acréscimo qualitativo. Estamos então em condições para interrogar-nos sobre a origem deste crescimento e perguntar-nos, como tem aparecido este novo suplemento, depois que cada acontecimento tem uma causa como acabamos de assinalar?
Há duas respostas a esta pergunta: Este suplemento viria da própria matéria, a qual estava em sua origem, desprovida de vida, sensibilidade e pensamento, porém que os criaria através de sua evolução; dito de outra maneira a forma inferior da existência, seria a causa da existência da forma superior em grau, e a mais rica em conteúdo.
Porém esta resposta está em contradição com o segundo postulado antes citado, e segundo o qual, a forma ao grau inferior não pode ser a causa de uma forma (tipo) de existência superior em grau e mais rica em conteúdo. Pois a suposição segundo o qual a matéria morta e desprovida de vida pode dar-se a si mesma ou a outra matéria à vida, a sensibilidade e o pensamento se parecem à suposição segundo o qual o indivíduo que ignora a língua inglesa pode ensiná-la; ou àquela segundo uma luz fraca pode proporcionar-nos uma luz forte, tal como a luz do Sol, por exemplo, ou, todavia, a aquela segundo o qual um pobre arruinado pode financiar projetos capitalistas.
Este excedente resultado da evolução da matéria provém de uma fonte dotada de toda vida, de toda sensibilidade e de todo pensamento, do qual ela mesma prove; e esta fonte é Deus, Senhor dos mundos. Neste caso o crescimento da matéria (o excedente) não é mais que o desenvolvimento e uma educação realizados pela Sabedoria, a Conduta e a Maestria do Senhor:
“Criamos o homem de essência de barro, então, convertemos a gota de esperma em algo que se agarra (coágulo), transformamos esse algo em pequeno pedaço de carne e convertetemos os ossos de carne; então o devolvemos em outra criatura. Bendito seja Deus, Criador por Excelência.” (Alcorão XXIII, 12-14).
“Haveis reparado, acaso, no que ejaculais? Por acaso criais vós isso, ou Somos Nós o Criador?” (Alcorão LVI, 58,59).
“Haveis reparado, acaso no que semeais? Porventura, sois vós os que fazeis germinar, ou somos Nós o Germinador?” (Alcorão LXI, 63-64).
“Haveis reparado, acaso, no fogo que atais? Fostes vós que criastes a árvore, ou fomos Nós o criados?” (Alcorão LVI, 71,72).
“Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado de pó e eis que, sois seres que se espalham (pelo globo)” (Alcorão, XXX, 20).
A POSIÇÃO DO MATERIALISMO FRENTE ESTA DEMONSTRAÇÃO
O materialismo mecânico não se ocupa desta demonstração; pois, como temos visto, define a vida, a sensibilidade e o pensamento como nada mais que formas de concentração e de repartição dos corpos e crepúsculos sem produzir, à parte de um movimento de partículas devido às forças mecânicas, nada novo. Ao contrário, o materialismo moderno se preocupa em razão de sua crença na evolução qualitativa e modal da matéria, através destas formas. Porém tem escolhido um modo de interpretação desta evolução modal, na qual reconhecia o segundo postulado com seu desejo de contentar-se em tomar a matéria, ela só, como explicação de todas suas próprias evoluções. Segundo este modo de interpretação, a matéria é a fonte de tudo e é ela que alimenta o processo da evolução modal (não à de um “pobre financiando os projetos capitalistas”, o que contradiz o segundo postulado), já que ela encerra ao estado latente e desde a origem, todas as formas e os conteúdos da evolução: o pintinho existe dentro do ovo, e o gás dentro da água, e assim seguidamente. Quanto, a saber, como a matéria pode ser ao mesmo tempo ovo e pintinho, gás e água, o materialismo dialético responde que se trata aqui de uma contradição, e que esta é a lei geral da natureza. Segundo ele, cada coisa tem seu contrário (seu ‘oposto’). Através desta luta entre os dois contrários, o contrário interior se desenvolve até que sai à superfície para realizar uma mudança na matéria, exatamente como um ovo que estala de repente para sair de seu interior um pintinho. E desta maneira a matéria se aperfeiçoa perpetualmente, pois o ‘contrário’ que resulta da luta representa o futuro, quer dizer um passo adiante. Esta análise nos leva às seguintes remarcações:
O que é o que o materialismo entende exatamente por “cada coisa leva nela seu ‘contrário’ ou seu ‘oposto’”, ou mais precisamente, quais das significações seguintes aponta esta afirmação:
Quer dizer que o ovo e o pintinho são dois ‘contraditores’ ou dois ‘contrários’ e que o ovo cria o pintinho e lhe dota das propriedades da vida, que o morto gera o vivente e cria a vida? Isto nos leva novamente ao ‘pobre financiando os projetos capitalistas’, e contradiz, por conseguinte o postulado pré-citado.
Ou bem, quer dizer que o ovo não cria o pintinho, porém o faz aparecer quando ele está em potência, dado que cada coisa contém em estado latente seu contrário. O ovo quando era ovo, era ao mesmo tempo pintinho, perfeitamente como uma foto que oferece um perfil de um lado, e outro perfil diferente do outro. É evidente que se o ovo era ao mesmo tempo pintinho, nenhuma operação de crescimento e aperfeiçoamento tivesse intervindo quando deveria ser pintinho; pois tudo o que este último estado apresenta agora (pintinho), existia já originalmente no caso precedente (ovo); isto se pareceria à ação de um homem que toma dinheiro em seu bolso para tê-lo em sua mão, o que não lhe enriqueceria demais dado que, todo dinheiro que se encontra agora se encontrava já em seu bolso. Pois para que tivesse ação de crescimento e aperfeiçoamento, e que algo novo se realiza verdadeiramente, como a ação do ovo em pintinho, teria que dizer que o ovo não era um pinto ou um pintinho, senão um projeto de pintinho.
Por isto, somente, o ovo se distingue da pedra que não pode vir a ser pinto. Quanto ao ovo pode ser pintinho sob certas condições e nas circunstâncias precisas. Pois a possibilidade de uma coisa, não significa forçosamente sua realização. Se o ovo deve verdadeiramente tornar-se pintinho, a possibilidade em si mesma, não é suficiente para explicar a transformação.
De outro lado, se as formas da matéria resultassem de suas contradições externas tem que explicar sua variedade, pela variedade das contradições interinas. Assim, o ovo tem suas próprias contradições que diferem das contradições da água: porque quando desta resulta o gás, deste resulta um pintinho. Temos aqui uma suposição fácil de formular, dado que se trata de uma fase avançada de variação das formas da matéria; pois na fase onde temos a questão do ovo e a água, podemos facilmente explicar sua diferença por suas contradições internas; porém, o que dizer das verdades das formas da matéria ao nível dos crepúsculos, que constituem as unidades fundamentais no universo, tais como os elétrons, prótons, os nêutrons, opostos aos contra-nêutrons, os contra-elétrons, e os contra-prótons? Cada um destes crepúsculos tem tomado uma forma particular de ditas formas em razão de suas contradições internas, o que virá a dizer que o próton existia nas entranhas de sua matéria antes de sair seguidamente do movimento e a luta, exatamente como o caso do ovo e o pintinho?
Se admitirmos tal suposição, como poderíamos justificar a variedade das formas dos crepúsculos, quando tal variedade supõe, segundo lógica da contradição interna, que esses crepúsculos variados sejam diferentes em suas contradições internas, quer dizer sua entidade interna? Sabemos que a ciência moderna tende a crer na unidade da entidade da matéria, na unidade de seu conteúdo interior, e que as distintas formas que toma, não são mais que os casos cambiantes ao conteúdo único e invariável; o que faz possível a transformação de próton em nêutron e vive-versa; quer dizer que a forma de crepúsculo muda (de outra forma, o átomo e a partícula), quando seu conteúdo permanece único e invariável? Isto significa por acaso que o conteúdo é o mesmo em todos os casos, mesmo que as formas mudem? Como supor então, que estas formas resultam nas contradições diferentes e internas?
O exemplo do ovo e pintinho é suficiente em si mesmo para esclarecer esta questão. Porque, para que as formas que tomam vários ovos variem em razão de suas contradições internas supostas, faz falta que sejam diferentes por sua estrutura interna. O ovo de um pinto e o de um pássaro produz duas formas diferentes, neste caso, o pintinho e o pássaro. Porém se os dois ovos eram da mesma classe, estes dois supostos ovos de pintinho, não poderíamos supor que as contradições internas, desemboquem em duas formas diferentes. Assim, podemos remarcar que a interpretação do materialismo moderno, as formas da matéria, baseada sobre as contradições internas desta, discrepam com a tendência da ciência moderna ao afirmar a unidade do conteúdo interior da matéria.
Ou bem, o materialismo entende, afirmando que toda coisa tem seu contrário que o ovo mesmo manifesta dois contrários ou dois contrários independentes, as quais cada um tem sua própria existência; e assim, um está representado pelo embrião descendente da semente ao interior do ovo, e o outro por todo o que o ovo contém de substâncias; o que esses dois contrários se unem no seu combate no interior da casca do ovo e, que como conseqüência desta luta, um dos dois contrários se tem oposto para abater a vitória do embrião que transforma o ovo em pintinho?
Este gênero de luta entre os contrários é corrente na vida dos homens e arraigado em suas visões habituais, mais que em suas visões fisiológicas. Porém, por que chamar a esta correlação entre o embrião e as substâncias que compõem o ovo de contradição? Por que chamar a correlação entre o feto no interior do útero, e o sustento que proporciona, contradição? Por que chamar a correlação entre o grão, e o sol e o ar de contradição? Esta não é, de fato, mais que uma simples denominação, que pode muito bem ser formulada de uma outra forma. Podemos substitui-la por esta afirmação: os dois ‘contrários’ se fundem e se unificam. Digamos que isto se chama contradição. O problema estaria resolvido, então, entanto que admitamos que esta correlação específica entre os dois contrários desemboquem em um resultado maior, a operação de crescimento de uma coisa nova que passa o total numérico dos dois contrários. De onde vem este excedente? Vem dos dois contrários em luta, os quais ambos o tem perdido, sabendo que aquele que perde uma coisa não pode oferecê-la sem crer no segundo dos três postulados pré-citados? Conhecemos um só exemplo da natureza no qual a contradição e a luta nos contrários constituem verdadeiramente um fator de desenvolvimento? Como um contrário pode contribuir para desenvolver seu oposto através de sua luta contra ele, quando esta luta traduz um grau de resistência e de rejeição, e que toda resistência reduz a capacidade do outro a mover-se e a desenvolver-se, em lugar de ajudar-lhe? Todos sabem que se o banhista se bate, banhando-se, às ondas do mar opostas à direção que ele segue, estas dificultam seu movimento, em lugar de facilitá-lo. Se a luta entre os contrários em qualquer sentido que seja, é a base do desenvolvimento do ovo e de sua transformação em pintinho, qual é o desenvolvimento produzido na luta entre os contrários, depois da transformação da água em gás e sua volta ao estado de água de novo?
A natureza nos descobre constantemente os contrários, tais como a adesão e o reencontro conduzem à sua mútua destruição, em lugar de levar-lhes ao desenvolvimento e ao aperfeiçoamento. O próton positivo que é a partícula constitutiva do núcleo do átomo, e cuja carga elétrica é positiva, tem frente a ela um próton contrário e negativo. O elétron negativo que gravita na órbita do átomo, tem um elétron contrário e positivo, e se estes dois contrários chegassem a encontrarem-se, os processos de aniquilamento atômicos, se disparariam e fariam desaparecer a matéria, quando as energias que fossem liberadas se propagassem no espaço.
De tudo quanto se precede podemos concluir que o movimento da matéria sem alimentação nem aprovisionamento vindo do exterior, não saberia produzir um verdadeiro desenvolvimento e uma evolução para as formas superiores e os graus mais elevados de concentração. Para que a matéria se desenvolva e se eleve para os níveis superiores, tais como a vida, a sensibilidade e o pensamento, tem que ter um Senhor que execute estas qualidades, com o fim de que possa conferí-las à matéria. A função da matéria nas operações de desenvolvimento se limita a uma disposição, uma probabilidade. É comparável a um menino disposto e apto a aprender as lições que lhe igualem a seus educadores. Que Deus, Senhor dos Mundos, seja, pois Glorificado.
OS ATRIBUTOS DIVINOS
Quando cremos em Deus, Criador do Universo, seu Criador e Organizador de sua caminhada segundo uma sabedoria e uma gestão pertinente, é natural que conheçamos Seus atributos através de Sua Criação e Sua criatividade, e apreciemos suas Qualidades através dos índices razoáveis de suas obras, exatamente como apreciamos um engenheiro por meio das qualidades que distinguem seus trabalhos geométricos, ou como julgaríamos um autor à luz da ciência e o saber que seu livro contém, ou, ainda, como determinaríamos a personalidade de um educador através das qualidades e as virtudes daqueles que ele ensina.
É desta maneira que podemos perceber as qualidades do Criador Grandioso, tais como a ciência, a sabedoria, a vida, a capacidade, a audição e a visão. Porque a precisão e a criatividade que se revelam no universo põem em evidência a Ciência e a Sabedoria, as energias que contém em suas profundidades demonstram a Capacidade e a Maestria; as variedades da vida e os graus da percepção racional e sensorial; a unidade de planificação e de construção constatada no desenho deste universo, assim como as correlações sólidas entre seus diferentes aspectos assinalam a unicidade do Criador e a experiência, cujo resultado é este vasto universo.
SUA JUSTIÇA E SUA RETITUDE
Todos crêem, por nossa razão inata, nos valores gerais da conduta, a saber, os valores que afirmam que a justiça é o bem e um direito; que a injustiça é ilegítima e um mal; que aquele que se mostra justo em sua conduta, é digno de respeito e recompensa, e aquele que comete injustiças e agressões, é digno do contrário. Estes valores seriam por entendimento um natureza inata, o motor que anima e dirige a conduta do homem quando não encontra outros obstáculos tais como a ignorância e o interesse que lhes ocupam. Todo homem deve escolher entre a verdade e a mentira, ou entre a fidelidade e a traição, escolherá antes a verdade que a mentira, e antes a fidelidade que a traição, se não tivesse um motivo pessoal e um interesse privado que o incitassem a desviar-se destes valores em seu comportamento. Isto quer dizer que quando um homem não tem nenhum interesse em enganar a alguém nem em trair-lhe, nem em ser injusto com ele se conduz como um homem verídico, honesto, justo, quer dizer, com atitude reta. É exatamente o que se aplica ao Criador Sábio que está no comando de todos esses valores que percebemos com nossa razão inata. Pois é Deus que nos tem dotado desta razão, e ao mesmo tempo é só Ele quem, em vistas a seu poder inestimável e sua dominação total sobre o Universo, não tem necessidade de transgredir nem desviar-se. Porque Ele é sempre justo e jamais injusto contra ninguém.
A JUSTIÇA DIVINA FIXA A RECOMPENSA (No sentido positivo e negativo do termo)
Os valores em que nós cremos, mostram como temos conseguido constatar a justiça, honestidade, veracidade, fidelidade… e outras qualidades, e condenam seus contrários. Longe de contentar-se com esta chamada e esta condenação, elas reclamam uma recompensa apropriada a cada uma destas qualidades (positivas ou negativas). Pois a razão inata do bom sentido fazem que o injusto e o traidor mereçam ser castigados, e que o justo, o homem honesto que faz sacrifícios para a justiça e a honestidade, mereça ser recompensado. Cada um de nós se sente animado nestes valores para castigar ao injusto desviado, e estimar o justo íntegro. Porém, aquilo que impede a nós pôr em execução este desejo de fazer justiça é nossa incapacidade em adotar a atitude apropriada ou nossa parcialidade pessoal. É posto que creia em um Deus Justo e íntegro em Seu comportamento, capaz de fazer justiça (castigo ou recompensa segundo o caso), e aplicar os valores que impões a sentença justa e determina a recompensa conveniente ao comportamento honesto, e o castigo merecido ao comportamento desonrante, é normal que concluamos dizendo que Deus recompensa ao benfeitor por sua boa ação e faz justiça à vítima em detrimento do injusto. Porém ao mesmo tempo, remarcamos que esta justiça não se realiza na vida que conhecemos nesta Terra, ainda que Deus seja capaz disto. O qual prova quando se tem em conta o que precede, que tem um dia de juízo a vir no qual o benfeitor anônimo, que terá feito os sacrifícios por uma nobre causa, sem ter recolhido seus frutos, e o injusto que terá escapado momentaneamente ao castigo que merecia, vencedor sobre o sangue e as ruínas de suas vítimas, serão recompensados cada um segundo os seus atos. Esse dia é o Dia do Juízo Final, que encarna todos esses valores absolutos de conduta, e sem o qual estes valores estão vazios de seu sentido.
SEGUNDA PARTE
O MENSAGEIRO (AR-RASSUL)
PREÂMBULO AO FENÔMENO GERAL DA “NUBUWA” (MISSÃO PROFÉTICA)
Cada coisa neste vasto universo leva em si mesma sua lei divina vigorosa que a dirige, que a desenvolve tanto como é possível. O grão, por exemplo, está submetida a sua própria lei que o transforma, segundo as condições determinadas, na árvore. O embrião está também submetido a sua própria lei que o rege e o transforma em homem. Todas as coisas, o Sol, os prótons, os planetas que gravitam na órbita do Sol, os elétrons que gravitam na órbita dos prótons caminham de acordo com um plano pré-estabelecido, e evolucionam segundo as suas possibilidades específicas. Esta organização divina global tem-se estendido, segundo a lei da indução científica, a todos os aspectos e a todos os fenômenos do Universo. Sem dúvida, o fenômeno da seleção em relação ao Homem é o mais importante dos fenômenos do Universo. Pois o Homem é um ser seletivo, quer dizer, um ser finalista cuja ação aponta sempre uma meta. Cava a terra para extrair a água, cozinha a comida para comer um menu delicioso, experimenta um fenômeno natural para conhecer sua lei, e assim por diante. Pelo contrário, os seres puramente naturais obram para os objetivos fixados por um planifica dor, e não para os objetivos que eles vivem e que querem realizar eles mesmos. Certamente os pulmões, o estômago e os nervos, cumprem, no exercício de suas funções fisiológicas, uma ação finalista; porém não vivem eles mesmos, através de suas atividades naturais e fisiológicas específicas, a finalidade desta vocação; finalidade que está fixada pelo Criador. Dado que o Homem é um ser finalista cujas atitudes estão ligadas aos objetivos aos quais ele é consciente, e em função dos quais ele se realiza, isto supõe que tacitamente toma atitudes práticas, ele não obedece a uma lei natural rigorosa, como o faz uma gota de água que cai seguindo uma trajetória definida, segundo a lei de atração universal; de outra forma, ele não seria finalista e não obraria em vistas a um fim que viveria intimamente. Para ser finalista, é necessário que o Homem seja livre de seus comportamentos a fim de que possa atuar em função dos objetivos que pudessem nascer nele. A correlação entre as atitudes práticas e os objetivos, constituem a lei que rege o fenômeno da seleção no Homem. O objeto ao seu redor não é fortuito. Pois cada Homem determina seus objetivos em função das exigências e das necessidades de seu interesse e seu “eu”. Estas necessidades, em si mesmas, são determinadas pelo meio e as condições objetivas que envolvem ao Homem. Porém, estas condições não animam ao Homem diretamente, como o temporal agita as folhas das árvores, senão sua qualidade de ser finalista seria abolida. Sua função de animar ao homem, consiste em estimular-lhe e em sugerir-lhe de optar por certos objetivos. Esta estimulação está ligada à consciência do Homem, com um interesse preciso que representa uma atitude prática.
Assim mesmo, é necessário fazer notar que o indivíduo está motivado somente pelos interesses que lhe afetam pessoalmente. Têm em efeito, duas classes de interesses: os interesses a curto termo, que servem com freqüência ao indivíduo finalista e trabalhador, e os interesses a largo prazo, dos quais aproveita a comunidade. Também, às vezes, os interesses individuais e os interesses comunitários se opõem. Assim, constatamos que quando o Homem é animado por um interesse, o é menos pelos valores positivos que comportam que pelo proveito pessoal que realiza; é então o momento que a criação das condições objetivas para garantir as motivações do Homem pelos interesses da comunidade, é uma condição necessária para a estabilização da vida e seu uso a largo termo. É porque o Homem tem topado com uma contradição entre a atitude objetiva que devesse incitar-lhe a associar-se aos interesses comunitários impostos pela lei da vida e de sua estabilidade, e a atitude subjetiva que lhe faria preocupar-se das utilidades pessoais e momentâneas, às que lhe incitam suas propensões. É absolutamente necessário, pois, achar uma fórmula para resolver esta contradição e criar as circunstâncias objetivas suscetíveis de incitar ao Homem atuar conforme aos interesses da comunidade.
A “Nubuwa” (missão profética) é portanto um fenômeno divino na vida do Homem, que constitui a lei, estabelecendo a fórmula da solução transformando os interesses da comunidade, assim como todos os interesses superiores que sobrepassem ao termo da vida do indivíduo, em interesses individuais a largo termo. Para fazer-se a “Nubuwa”, é necessário voltar ao Homem consciente do prolongamento da vida ao mais além da morte e de sua transferência para o estado da Justiça e Recompensa, na qual as pessoas serão reunidas para assistir e constatar seus atos, e para assumir suas conseqüências: “O que tenha feito o bem do peso de um átomo, o verá. E o que tenha cometido o mal do peso de um átomo, o verá também” (Alcorão, XCIX, 7-8).
É desta maneira, quando os interesses da comunidade, resultam os interesses ao largo termo. Esta fórmula de solução se compõe de uma teoria e de sua aplicação educacional. A Teoria é o Dia Prometido, Dia do Juízo. E sua aplicação uma operação de direção divina (e não pode ser mais que divina), pois depende do Dia do Juízo, quer dizer do mistério, e não pode existir graças à revelação, a “Nubuwa” (a missão profética). A “Nubuwa” e o Dia do Juízo Final são, pois, duas fases de uma mesma fórmula; fórmula que constitui a única solução à contradição total na vida do Homem, e condição essencial do desenvolvimento do Fenômeno da seleção e sua evolução em vistas a servir os verdadeiros interesses do Homem.
A DEMONSTRAÇÃO DA “NUBUWA” (MISSÃO PROFÉTICA) DO MAIS ILUSTRE MENSAGEIRO, MUHAMMAD (S.A.A.S.).
Da mesma forma que temos demonstrado a existência de Deus pelo raciocínio indutivo e outros métodos de demonstração científica, igualmente vamos demonstrar a “Nubuwa” de Muhammad pelo raciocínio científico indutivo e pelos mesmos métodos que utilizaremos para demonstração de diferentes verdades em nossa vida cotidiana e científica. Comecemos por alguns exemplos preliminares:
Quando um homem recebe uma carta de um parente, um garotinho, aluno em uma escola, no campo, e observa que a carta está escrita em uma língua moderna, com as frases concentradas e eloqüentes e um método técnico muito hábil em dispor e em expor as idéias, deduz que uma pessoa culta, erudita e dotada de um sólido poder de expressão, ditou ao garotinho o conteúdo desta carta, ou alguma coisa deste gênero. Para analisar esta dedução, a reduziremos às demarcações seguintes: O expedidor das cartas é um garotinho do campo que realiza sua aprendizagem em uma escola primária. A carta se distingue por um estilo eloqüente, uma grande execução técnica, uma excelente capacidade de exposição das idéias. A indução demonstra nos casos idênticos, que um garotinho tendo as características que temos assinalado na primeira demarcação, não pode readaptar uma carta tendo as qualidades expostas na segunda demarcação. Deduzimos disto que a carta é produto de outra pessoa, utilizada de uma forma ou outra na correspondência do garotinho.
Aqui um outro exemplo ilustrando a mesma idéia, porém escolhido das demonstrações científicas: se trata de uma demonstração feita pelos sábios do elétron. Um sábio, em efeito, tem estudado um tipo particular de raio que tem provocado dentro de um tubo fechado e em meio do qual tem aproximado uma peça magnética, em forma de ferro. Fazendo isso tem remarcado que o raio se inclinava para o pólo positivo do imã, e se afastava do pólo negativo. Tem feito de novo a experiência em distintas outras formas, até que esteve seguro de que o raio é atraído pelo imã, e que é o pólo positivo o que lhe atrai. E sendo que este sábio conhecia, por indução e graças a seus estudos de outros raios (tal como a luz ordinária), que os raios não experimentam a influência do imã nem são atraídos por ele, e que o imã atrai os corpos e não os raios, tem concluído que o fato de que o raio em particular que ele tem experimentado fosse atraído e se inclinasse para seu pólo positivo, não podia ser explicado pelas informações em sua posição. Isto tem lhe animado a descobrir um fator suplementário e uma nova verdade, a saber: este raio se compõe de corpos minúsculos negativos que existem dentro de todas as matérias; posto que emanam de distintas matérias. Tem-se chamado a estes crepúsculos: elétrons.
Nestes dois exemplos (o da carta e o do elétron), a demonstração se resume assim: cada vez que se constata, no quadro dos fatores e circunstâncias não nos conduzem outros casos similares ao mesmo fenômeno, tem que concluir na existência de outro fator invisível que é indispensável supor para explicar dito fenômeno. Em outros termos, se à vista da demonstração indutiva da demonstração de outros casos idênticos, o resultado sobrepassa as circunstâncias e os fatos perceptíveis, se revela à existência de uma coisa invisível detrás destas circunstâncias e fatores perceptíveis. É exatamente o que se aplica a “Nubuwa” do Mensageiro Muhammad e a Mensagem que tem anunciado ao mundo. Aqui tem as demarcações indutivas que o demonstram:
A) Este indivíduo que tem anunciado a Mensagem Celestial, pertencia à Península Árabe, que foi uma das partes mais atrasadas da Terra naquela época, nos planos intelectual, social, político, econômico, “da civilização”; e mais precisamente, pertencia ao Hejaz, este país não tinha conhecido sua história, as civilizações nascidas algumas centenas de anos antes, nas outras parte da dita península, nem vencido nenhuma experiência social completa, nem adquirido nada notável dentro da cultura de sua época, nem influenciou em sua literatura e poesia, nada apreciável dos pensamentos, e as correntes culturais do mundo da época. Este país estava afogado no plano doutrinal, na anarquia do politeísmo, e na idolatria, deslocado no plano social, e dominado pelo espírito tribal. A pertinência tribal jogou, em efeito, um rol essencial na maior parte das atitudes sociais, o que tem tido como efeito, as contradições e toda classe de caos e lutas pérfidas. Este país onde nasceu e cresceu o Profeta não conheceu nenhuma forma de governo, exceto o que comportava e pertencia à tribo. A situação das forças produtivas e das condições econômicas, não se diferenciavam das que prevaleciam na maior parte do mundo subdesenvolvido da época.
Mesmo, a leitura e a escrita, formas mais elementais da cultura, eram relativamente estranhas neste meio, e a sociedade em geral era analfabetal: “Ele foi quem enviou, dentre os iletrados, um Mensageiro da estirpe deles, para ditar-lhes o livro e a sabedoria, porque antes estavam em evidente erro” (Alcorão LXII, 2).
A pessoa do Profeta representava o homem comum. Antes da Missão não sabia nem ler nem escrever. Não tinha recebido nenhum ensinamento regular ou irregular: “E nunca recitaste livro algum antes deste, nem transcreveste com a tua mão direita, caso contrário, os difamadores teriam duvidado.” (Alcorão, XXIV, 48).
Este texto alcorânico mostra claramente o nível da cultura do Profeta antes da revelação de sua Missão. Constitui a prova determinante deste nível, mesmo para aquele que não crê na divindade do Alcorão; pois se trata de um texto que o Profeta tem anunciado aos seus, e confiado aos seus conhecidos, os mais íntimos, que estavam perfeitamente ao corrente dos detalhes de sua vida, e ao que ninguém tem objetado e ninguém tem desmentido. Melhor ainda, o Profeta não tem participado, antes da revelação da Missão, nas diferentes manifestações culturais, levando-se em consideração as correntes prevalecentes na época, como a poesia e o discurso. Sua integridade, sua veracidade, sua honestidade e sua castidade lhe distinguiram dos seus. Viveu durante quarenta anos (antes da Missão) no meio de seu povo, sem que ninguém deixasse de observar sua distinção, e, além disso, evidentemente, uma conduta irreprovável; e sem que nada nele deixasse pressagiar o grande processo de mudança que ia anunciar subitamente ao mundo, depois de quarenta anos de uma vida nobre: “Dizei: Se Deus quisesse, não vo-lo teria dado a conhecer, porque antes de sua revelação passei a vida entre vós. Não raciocinais ainda?” (Alcorão X, 16).
O Profeta nasceu em Meca e permaneceu ali durante todo o período que precedeu a missão. Não a deixou senão para realizar duas curtas viagens através da Península Árabe: uma, com seu tio paterno Abu Talib quando era todavia muito jovem ao princípio de sua segunda década; a outra com o dinheiro de Jhadiyya, na metade de sua terceira década de vida. Não tinha conseguido ler os textos religiosos do judaísmo e do cristianismo, em razão de seu analfabetismo. Tampouco nada notável destes textos lhe chegou através de seu meio social, pois tal meio era idólatra em seus pensamentos e hábitos. E, nem o pensamento cristão ou judeu, nem a religião, lhe tinham penetrado sob nenhuma forma. Igualmente, aqueles que rejeitaram o culto dos ídolos, os monoteístas entre os Árabes de Meca, não estavam influenciados nem pelo judaísmo, nem pelo cristianismo. Nada do pensamento cristão ou judeu tinha ficado como eco sobre o patrimônio literário e poético da comunidade de Meca.
Se o Profeta tivesse empregado o menor esforço para por a corrente das fontes do pensamento cristão ou judeu, isto seria evidenciado. Pois, em um meio ingênuo, isolado de suas fontes de pensamento e alérgico a estas, tal tentativa não teria podido passar despercebida, ou sem deixar marcas sobre muitos destes movimentos e relações.
B) A Mensagem que o Profeta anunciou ao mundo está representada pelo nobre Alcorão e a Shariah Islâmica, (lei religiosa), e tem-se distinguido por muitos pontos característicos, como:
1. A mensagem tem aportado um modelo único da cultura divina relativa aos atributos de Deus, à Sua Ciência, à Sua Autoridade, à qualidade de seus benefícios para com o Homem, ao rol dos profetas no encaminhamento da humanidade, à unidade de sua Mensagem, aos valores e ideais que lhes distinguem, às tradições de Deus com seus profetas, à luta continua entre o Bem e o Errado, entre a justiça e a injustiça, aos laços sólidos e constantes entre as mensagens divinas e os desfavorecidos e aos perseguidos. Esta cultura divina não é somente superior ao estado intelectual e religioso de uma sociedade pagã e submergida no culto dos ídolos senão muito por cima de todas as culturas religiosas conhecidas no mundo até agora; e é nesse ponto que toda comparação entre esta cultura divina e as culturas que tinham precedido, mostra a evidência de que está destinada a corrigir os erros destas, corrigir seus desvios, e faze-las voltar para a razão sã e natural. Tudo isso foi aportado por um homem analfabeto, em uma sociedade idólatra, quase isolada, ignorante de quase tudo da cultura e dos livros religiosos de sua época.
2. Esta mensagem tem aportado os valores e as concepções relativas à vida, ao Homem, ao trabalho e às relações sociais e os tem encarnado dentro das legislações e leis. Estes valores e concepções, e estas legislações e leis constituem (mesmo para aqueles que não crêem em seu caráter divino), os valores das civilizações e as legislações sociais mais apreciáveis e mais esplêndidas que a história tem conhecido até então. É assim, pois, o fio da sociedade tribal tem aparecido subitamente na cena do mundo e da história, para chamar à unidade do conjunto da humanidade; o fio deste meio que teria consagrado todas as classes de discriminação e de favoritismo fundadas na raça, a atribuição tribal e a posição social, surgiu para destruir todos esses vícios, declarar que as pessoas são iguais como os dentes de um pente, e que “o mais nobre de vós diante de DEUS, é o mais piedoso de vós” (Alcorão XLIX, 13); transformar esta declaração em uma verdade vivida pelas próprias pessoas; elevar à mulher que se enterrava viva à sua nobre posição, ser igual ao homem no plano humano e da dignidade. O fio deste deserto onde não prevaleciam mais que as divisões tribais e as pequenas preocupações em comer vangloriando-se dos méritos da tribo, apareceu para enobrecer estes assuntos e reunificar as tribos, em vista a liberar o mundo e salvar aos desfavorecidos (deserdados), no Leste e no Oeste do mundo, da tirania de Ciro e de César. O fio desta vida política e econômica total, onde existiam todo tipo de contradições, de usura, de monopólio e de exploração saiu subitamente para encher esta vida e transformar a sociedade vazia, em uma sociedade preenchida e dotada de um regime e uma legislação, refazendo as relações sociais e econômicas, extirpando a usura, o monopólio e a exploração; redistribuindo a riqueza de forma a evitar a formação no Estado dos ricos, e anunciar os princípios da solidariedade social e da segurança social; princípios de outros tantos muitos percussores que a experiência humana não lhes conhecerá, mais que algumas centenas de anos mais tarde. Todas estas transformações sociais que o Profeta tinha empreendido tem sido realizadas em um lapso de tempo relativamente curto, em comparação com as outras transformações sociais, cumpridas através da história.
3) A mensagem tem relatado através de muitos de seus textos alcorânicos, a história dos profetas e de suas nações, assim como os fatos e acontecimentos que têm atravessado, e isto, com os detalhes que o meio árabe idólatra e analfabeto do Profeta ignorava totalmente. Os teólogos judeus e cristãos tem desfilado, mais de uma vez, junto ao Profeta falando-lhe da história de sua herança religiosa. E tem valentemente superado o desafio pelo Alcorão. Este lhes tem abastecido daquilo que tinham pedido. “Porém, tu (ó Muhammad) não estavas do lado ocidental (do monte Sinai) quando decretamos a Moisés os mandamentos, nem tampouco te contavas entre as testemunhas (de tal evento). Mas criamos novas gerações, que viveram muito tempo desde Moisés: sua vida era de larga duração; tu não eras habitante entre os madianitas, para lhes recitares os nossos versículos; porém, Nós é Quem mandamos mensageiros. Tampouco, estiveste no sopé do monte Sinai quando chamamos (Moisés); porém foi uma misericórdia de seu senhor, para que admoestes um povo que, antes de ti, jamais teve admoestador algum; quiçá assim aceitem a admoestação” (Alcorão XXVIII, 44 – 46).
Mesmo se se supõe que o Novo e Velho Testamento eram conhecidos e admitidos no meio onde o profeta tinha aparecido, o leitor não poderia estar mais que encantado ao constatar que o Alcorão não recompila o que tinha sido escrito nestes livros. Em efeito, ao invés de estar copiando e traduzindo o rol passivo do transmissor, o Alcorão joga aqui um rol ativo, dado que expõe a recitação de uma forma ativa, quer dizer que corrige, retifica e sobrepassa os equívocos que lhe são lançados e que não concordam com o espírito natural tendente à unidade, ou com a razão desvelada, ou com uma visão religiosa sã.
4) O Alcorão alcança tal grau de eloquência, de retórica e de renovação de eloquência, que tem constituído, mesmo aos olhos daqueles que não crêem em sua divindade, um ponto de demarcação entre duas fases da língua árabe e uma volta definitiva a esta língua e seus estilos.
Os árabes, com os quais o Profeta comunicou-se pelo o Alcorão, tem remarcado que este, não se pareceria em nada aos estilos da eloquência aos que eles estavam habituados, nem aos movimentos de expressão que eles tinham assimilado. Neste sentido, Al-Walid Ibn Maghira disse, escutando a recitação do Alcorão: “Por Deus tenho entendido uma linguagem que não é aquela dos seres humanos nem a dos gênios. É uma linguagem deliciosa e ilustre. Seu alto volume é frutuoso, e seu baixo é abundante. Transcende, e não saberia ser sobrepassado. Esmaga (por sua superiodade) o que está debaixo dele”. Os árabes de Medina evitavam escutar o Alcorão, porque acreditavam em sua influência e sua capacidade extraordinária em mudar-lhes. E é esta prova da extraordinária distinção alcorãnica que mostra como o Alcorão não é um ponto da mesma linha desenvolvido a qual eles estavam acostumados. Os politeístas não tem demorado em desarmar-se, diante do desafio grandioso que o Profeta lhes apresentou. Este lhes desafiou, em efeito, a tentar aportar entre todos eles reunidos, algo que pareceria o Alcorão, ou inventar dez falsas suratas do mesmo nível, ou igualmente escrever apenas uma surata que lhe correspondesse.
“Dize-lhe: Mesmo que os humanos e os gênios se tivessem reunido para produzirem coisa similar a este Alcorão, jamais teriam feito algo semelhante, ainda que se ajudassem mutuamente” (Alcorão XVII, 88).
“Ou dizem: Ele o forjou! Dizei: Pois bem, apresentai dez suratas forjadas, semelhantes às dele, e pedi(auxílio)para tanto, a quem possais, em vez de Deus, se estiverdes certos” (Alcorão XI, 13).
“E se tendes dúvidas a respeito do que revelamos ao Nosso servo(Mohammad), compondo uma surata semelhante às dele (Alcorão), e apresentai as vossas testemunhas, independentemente de Deus, se estiverdes certos” (Alcorão II, 23).
O Profeta tem lançado este desafio a muitos em uma sociedade particularmente observadora na prática do discurso versado na arte da palavra, habituado a elevar o desafio e a exaltar suas glórias, inquietante a atender a Luz da Nova Mensagem ou de circunscrevê-lo. Enquanto isso esta sociedade que tinha acolhido os grandes desafios não quis tentar sua sorte aqui. Não tem tentado objetar o Alcorão, pois sabia que a literatura alcorãnica estava acima das suas capacidades lingüísticas e artísticas. Ironia de paradoxo. O indivíduo que aportava esta nova provisão literária tinha vivido durante quarenta anos em meio de seus concidadões, sem jamais participar de um círculo literário, nem distinguir-se em nenhuma das artes da palavra. Tais são algumas das características da Mensagem do Profeta. Aqui, intervem a terceira demarcação que deve permitir-nos afirmar, refirindo-nos à indução científica no domínio da história das sociedades, que esta Mensagem cujas características, temos estudado na segunda demarcação, é enormemente maior que as circunstâncias e fatores que temos assinalado na primeira demarcação. Porque mesmo na história das sociedades assistimos numerosos casos, onde um homem se distingue entre os seus, os dirige e os leva um passo adiante; isto continua e segue permanecendo comum. Pois de um lado, observamos aqui um salto enorme, e uma evolução nos valores e concepções relativas aos diferentes domínios da vida, e não a um simples passo adiante. Convertendo-se à idéia de uma só sociedade mundial, a comunidade tribal realizou, sob a influência do Profeta, um salto prodigioso. A sociedade idólatra se converteu à região da Unicidade pura, religião que tem corrigido todas as outras religiões unicitárias, vencendo as falsidades místicas às que estavam agarradas. Aquela sociedade completamente vazia se transformou em uma sociedade de vanguarda de uma civilização que tem levado luz ao mundo inteiro. De outro lado, se uma civilização global em uma sociedade é o produto das influências e das circunstâncias concretas, não pode ser, nem súbita, nem improvisada ou desprovida de etapas preliminares e de uma corrente anterior que se desenvolve e extende intelectual e espiritualmente até que uma direção competente e moral a dirija em vistas a realizar, em sua base, a sociedade.
Assim mesmo, o estudo da história dos processos da evolução nas diferentes sociedades mostra que em toda sociedade esta evolução começa intelectualmente sob forma de um germe semeado em seu terreno e que amadurece conseguintemente para constituir uma corrente itelectual cujos aspectos se percisam progressivamente. No interior desta corrente, um sentido se forma, e dirige até aquilo que aparece em cena, como a fachada de uma parte distintiva da sociedade, vivendo nesta, e contradizendo a fachada oficial. E é da luta assim desenvolvida entre as duas fachadas, que esta corrente se amplia até que domina a situação. Ou, contrariamente a isto, Muhammad não constitui na história da Nova Mensagem, o manejo de uma cadeia, nem representa a parte de uma corrente. As idéias, os valores e as concepções que tem aportado não tinha nem crédito nem germes no terreno da sociedade onde ele viveu. Quanto à corrente constituída da elite dos primeiros muçulmanos sob o estandarte do Profeta, foi devida a Mensagem e ao Mensageiro, e não à atmosfera anterior e prévia, na qual nasceu a Mensagem e viveu o Profeta. Porque a diferença que separava ao Profeta e os membros desta elite não era uma diferença de graus, como é o caso das diferenças que existem nos germes constituindo a nova corrente, senão que foi a nova corrente que constituiu uma parte dele.
Em um terceiro plano, a história mostra que em um movimento de evolução intelectual e social se dá, se a direção (social, intelectual e doutrinal) de uma nova corrente se concreta em um só eixo, este deve estar necessáriamente dotado de uma capacidade, uma cultura e um conhecimento para proporcionar a todos a tarefa que lhe incumbe, e conforme os modos de vida correntes das pessoas. Também se faz fato que seja uma prática gradual que lhe moralize e a situe na linha de direção desta corrente. Contrariamente a esta verdadeira história, Muhammad tem assegurado ele mesmo, a direção intelectual doutrinal e social (da Mensagem) sem que seu passado de homem analfabeto, ignorante de toda cultura de sua época e das religiões anteriores à sua Mensagem prometida influissem nele,e sem que tivesse nenhuma razão prévia suscetível de preparar-lhe para esta missão súbita de direção.
Na quarta demarcação consideramos a única explicação razoável e admissível da situação: supor a existência de um fator suplementário depois das circunstâncias e fatores perceptíveis, em ocorrência, o fator da Revelação e o da Nubuwa, que representa a intervenção divina na orientação da Terra:
“Assim é como Temos-te revelado o espírito por ordem nossa, a Ti que não sabias o que era o livro ou a fé. Temos feito dele a luz com a ajuda da qual dirigimosa aqueles de nossos servidores que nos apraz. Tu também dirige-os para a senda reta” (Alcorão XLII, 52).
O ROL DOS FATORES E INFLUÊNCIAS:
Porém explicar a Mensagem pela Revelação não aboliu de golpe o rol dos fatores perceptíveis e as circunstâncias objetivas em seu desenvolvimento. Em efeito, conforme às leis universais e sociais gerais, tais fatores e circunstâncias exerciam sempre as influências, não no conteúdo na Mensagem, porém sim sobre suas peripécias e os eventos que lhe aconpanhavam e que podiam efetuar as condições de seu êxito. A Mensagem (entanto que conteúdo) é uma verdade divina que se coloca acima das condições e circunstâncias materiais. Porém uma vez transformada em um movimento de ação contínua em vistas a uma mudança, é possível subordinar-se ao material. Assim se diz por exemplo: O que tem levado a Àrabia a aspirar a nova Mensagem (a vinda do Islãm), era o sentimento de ruptura e extravio que experimentou vendo encarnar seu deus e seus ideais supremos em uma pedra que destruía em um momento de cólera, ou em um bombom que tragava em um momento de fome. Quando àquele que empurrou ao trabalhador miserável, na sociedade árabe a sustentar um novo movimento pretendendo defender a justiça e combater o capital usurário, foi o sentimento de injustiça e arbítrio que comprovava diante dos fatos dos usurários e os exploradores. Quando foi o sentimento tribal o que jogou o rol importante na vida da Mensagem (que este sentimento seja considerado em um plano regional devido a luta e rivalidade entre as tribos de Quraish; o que teve um efeito benéfico por assegurar a Muhammad imunidade e prestígio, ou nacional encarnado pelos sentimentos dos árabes do Sul da península árabe, para com os do Norte). Onde o que tem empurrado as duas grandes potências contemporâneas do nascimento do Islam intervir rápidamente na península árabe para fazer voltar o novo movimento islâmico, foram as partícularidades do mundo na época, assim como as situações críticas na cena política internacional, as que viviam estes dois impérios.
TERCEIRA PARTE
A MENSAGEM (AR RIÇALAH)
Quanto à mensagem, se trata da religião divina que Deus enviou ao Profeta como uma graça aos mundos. O Islam tende, perante tudo, a relacionar ao homem com seu Senhor de uma parte e ao dia do Juízo de outra. No que concerne ao primeiro ponto, o Islam tem ligado o homem com o Deus Único, o Verdadeiro, para o qual se inclina a natureza humana inata, assinalando e confirmando a Unicidade de Deus, o Verdadeiro, com o fim de extirpar todas as classes de divindades articiais; de forma que a expressão de unicidade: Não há nenhuma divindade senão Deus” tem sido seu principal slogan.
E sendo dado que a “Nubuwa” (missão profética) é o único trato de união direto entre a criatura e o Criador; seu testemunho da Unicidade de Deus, o Criador, e sua união ao princípio de Deus o Único, o Verdadeiro, constituem uma base suficiente para a demonstração da Unicidade.
Quanto ao segundo ponto, relacionando o homem com o Dia do Juízo, o Islam quer aperfeiçoar a única fórmula capaz, e de uma só vez eliminar a contradição e realizar a Justiça Divina, como vimos anteriormente. A Mensagem Islãmica se distingue, por seus traços partículares, de todas as outras mensagens divinas e suas características: o que faz dela, um acontecimento único na história. Na continuação, mencionamos alguns de seus traços característicos:
1) Esta mensagem tem permanecido intacta, no quadro do texto alcorânico, e jamais tem sido objeto de desviação, quando os outros livros anteriores tem sido alterados e esvaziados de muitos de seus conteúdos. Deus tem dito a este propósito: “Nós revelamos a Mensagem e somos o seu Preservador” (Alcorão XV, 9).
Foi conservando seu conteúdo doutrinal e legislativo que a Mesagem pode prosseguir em seu rol educativo. E toda mensagem vazia de seu coteúdo pelo desvio ou extravio, não saberia ser um laço entre o Homem e seu Senhor; pois dito laço não pode realizar-se por uma simples união nominal; é necessário identificar-se ao conteúdo da Mensagem e encarná-lo no plano intelectual e comportamental. Porque a salvaguarda da Mensagem islâmica leva à salvaguarda do texto alcorânico e à a condição necessária da capacidade da Mensagem de perseguir seus objetivos.
2) A salvaguarda do Alcorão, em seu texto e seu espírito, significa que a “Nubuwa” de Muhammad é sua missão de Mensageiro. Esta demostraçào cotinua sendo válida enquanto o Alcorão permanecer.
As missões proféticas cuja demonstração está ligada aos acontecimentos sucedidos em um momento e rapidamente desaparecidos, tais como a cura do mudo e do leproso, são difícilmentes demostráveis; pois os acontecimentos que testemunham não são conhecidos por outros que além dos os tenham vivido, e uma vez que estas testemunhas desaparecem no passo do tempo e na acumulação dos séculos, será difícil verificá-los de uma forma concludente através da busca e da ivestigação. Deus não pede para nós crermos em uma “Nubuwa” difícilmente demonstrável, nem buscar um meio de demonstrá-la. Porque Ele não pede ao Homem nada que possa sobrepassar as possibilidades que Ele mesmo lhe tem dado. Acreditamos sempre nos profetas precedentes e em seus milagres, isso porque o Alcorão nos dá a prova deles.
3) Pois, acabamos de mostrar, o passo do tempo não entabua a prova fundamental da Mensagem islâmica. Melhor, assinala à esta prova novas dimensões, a evolução do ser humano e a tendência do Homem em estudar o Universo nos meios da ciência e na experiência. Isto, não somente porque o Alcorão tem precedido esta tendência, ligando ele mesmo à demonstração da existência do Criador, ao estudo do Universo e ao aprofundamento de seus fenômenos, atraindo a atenção do Homem sobre as vantagens e os segredos que este estudo pode proporcionar-lhe, porque o Homem moderno descobre dentro deste livro (revelado por um analfabeto em um meio anti-islâmico e ignorante há centenas de anos) os índices claros daquilo que a ciência moderna acaba de descobrir. A esta propósito o orientalista inglês A. J. Arberry, professor de árabe em Oxford, quando a ciência descobriu o rol dos ventos na polinização, declarou: “os nômades sabiam que o vento fecundava as árvores e os frutos, antes que a ciência na Europa soubesse alguns séculos mais tarde”. (Deus faz alusão a isto no seguinte versículo: “E temos enviado os ventos como fecundadores…” Alcorão, XV, 22).
4) Esta Mesagem englobava todos os aspectos da vida. Porque pode equilibrá-los, unificar suas bases e reunir em uma fórmula completa: a mesquita, a Universidade, a fábrica e a granja. Graças a Ele, o Homem não viveu mais no estado de divisão entre sua vida espiritual e sua vida temporal.
5) Esta Mensagem é a única mensagem divina a ser aplicada pelo mensageiro que a revelou, e registrou o domínio na aplicação, um êxito deslumbrante ao poder transformar os slogans em verdades da vida cotidiana das pessoas.
6) Passando a fase de aplicação, esta Mensagem entra na História e contribuiu na sua formação. Pois foi a pedra angular da operação na edificação da nação Islâmica. E, dado que esta Mensagem divina representa um dom oferecido pelo divino, está sob a lógica dos fatores e das influências perceptíveis; e se ressalta que a história desta nação está ligada a um fator metafísico e a uma base invisível que não se submete aos cálculos materialistas da História. Porque é errôneo tratar de compreender nossa história no quadro dos fatores e das influências unicamente perceptíveis, ou considerá-la como o resultado das circunstâcias materiais ou da evolução das forças de produção. Pois tal recompensa materialista da História não se aplica a uma nação que tem edificado sua existência sobre o fundamento da Mensagem divina. E se não consideramos esta Mensagem como uma verdade divina, não podemos compreender sua história.
7) A influência desta Mensagem não se limita à edificação de nossa nação, se não que se extende através dela, para erigir-se em uma força influente no mundo inteiro e ao largo da história. Os busccadores equitativos da Europa reconhecem todavia que é a a primeira força da civilização islâmica, quem tem tirado os povos europeus adormecidos, de sua torpeza e lhes têm clareado o caminho.
8. O profeta que revelou esta Mensagem tem-se distinguido de todos os outros profetas que lhe precederam, pela apresentação de sua Mensagem como a última tese divina; o que faz de sua “Nubuwa”, ao mesmo tempo, a conclusão de todas as “nubuwas”. A idéia de sua “Nubuwa concludente”, o “selo das profecias”, a profecia final ou missão profética final tem dois significados: uma “negativo” que nega a possibilidade da aparição de uma nova “Nubuwa” na cena; a outro “positivo”, que afirma a continuação da “nubuwa concludente”e suas prolongação através das épocas. Quando examinamos a implicação “passiva” (quer dizer, o fato que a Missão profética final implica a ausência de outra nova missão profética) da “Nubuwa concludente” constatamos que ela se aplicou totalmente na realidade, durante os catorze séculos que tem sido a aparição do Islam e continuará aplicando-se ao infinito. Porém a não-aparição de outra “Nubuwa” sobre a cena da História, não significa que a “Nubuwa” tem renunciado a seu rol como uns dos fundamentos da civilização humana; se justifica pelo fato de que a “Nubuwa concludente” tem aportado à Mensagem a condição de herdeira de todas as mensagens proféticas através da história, contendo todos os valores constantes nesta “Nubuwa” e suas mensagens, sem aportar os valores circunstânciais. Daí, tem resultado a Mensagem dominante, capaz de permanecer intacta atravéz das épocas e fatores de evolução e renovação que elas comportam. “Então revelamos-te o livro com a verdade, corroborante do que foi revelado do livro anteriormente, e encarregado de sua guarda” (Alcorão, V, 48).
9) A sabedoria divina que concluirá as “Nubuwa” com a de Mohammad, tem julgado bem em designar os tutores para suceder este último, com o fim que eles se encarreguem dos assuntos do imamato e do califado depois de seu desaparecimento: estes são os doze imames, cujo número foi mencionado explicitamente pelo pelo Profeta nos ahadth que os muçulmanos aceitam. Eles são: Amir al-Mumiin (Príncipe dos Fiéis), Ali Ibn Abi Talib, seguido de seus filhos Al-Hassan e Al-Hussein, seguido dos nove descendentes do último nomeado (de pais à filhos). Estes são sucessivamente: Ali Ibn Al-Hussein, Al-Sjjaad, Mohamed Ibn Ali Al-Baqr, Jaàfar Ibn Mohamed Assadeq, Mussa Ib Jaàfar Al-Kadhim. Ali Ibn Mussa Al-Ridha, Muhammad Ibn Ali Al-Jawad, Ali Ibn Muhammad Al-Hadi, Al-Hassan Ibn Ali Al-Askari, Muhammad Ibn Al-Hassan Al-Mahdi.
10) No caso do desaparecimento do décimo segundo Imam, o Islam reúne os fieis aos Faquihs (Doutores da Lei Islâmica), e abre o capítulo do Ijtihad, que significa: realizar um esforço em vista a deduzir os juízos legais a partir do Alcorão e da Sunnah profética.