Tradução e Adaptação: Ismail Ahmad (Cícero Barbosa Jr.)
INTRODUÇÃO
Em Nome de Deus O Clemente o Misericordioso
Louvado seja Deus, a paz e Sua bênção estejam sobre o Nobre Mensageiro Mohammad e sua Purificada Família, os melhores de seus companheiros e aquele que o seguirem até o dia do Julgamento.
Diz Deus, o Altíssimo no Sagrado Qur’an (Alcorão Sagrado): “Recita (Lê), em nome de teu Senhor que criou…”(s.96 v.1)
Esse foi o primeiro versículo revelado ao profeta Mohammad (saas), anunciado pelo Arcanjo Gabriel na caverna de Hira. Nele, se encontra expressa a natureza de revelação que dá nome a esta última Mensagem Divina anunciada a humanidade. A palavra Qur’án (recitação, leitura) evidencia sua condição de recitação por excelência. No decorrer de 23 anos os versículos foram revelados gradualmente. Após a Revelação integral, adotou-se por convenção a ordem das 114 suras (capítulos).
É de aceitação unânime, mesmo por estudiosos não-muçulmanos, que o texto do Sagrado Qur’an é a única escritura sagrada que não sofreu qualquer alteração ou perda de sua forma original no decorrer dos catorze séculos de sua revelação. As evidências históricas desse fato são tão indiscutíveis que, mesmo os maiores opositores do Islã não encontram base racional ou factual para lançar dúvida sobre isso. O texto corânico, em árabe tal como foi revelado, é composto de 6.228 versículos – 76.430 palavras – 323.621 letras.
A ocasião e o local em que cada versículo e sura foi revelada é de conhecimento dos eruditos e historiadores islâmicos. Não há no texto corânico qualquer letra, palavra ou sentença do Profeta (saas) ou de qualquer outra criatura, e em sua totalidade se encontra em idioma árabe. A preservação no idioma original da revelação é outra distinção do Qur’an. De fato, as traduções existentes nos muitos idiomas não são consideradas “o Qur’an”, mas sim, a “versão dos significados dos versículos” para este ou aquele idioma. Portanto, por melhores que sejam as traduções, são versões que apenas cumprem um papel didático e não podem ser tomadas como a Palavra de Deus em seu pleno significado.
A Mensagem e Para Quem Foi Enviada
O Sagrado Qur’an nos apresenta a vontade de Deus, sua Lei Eterna e o seu plano divino para a humanidade. Trata das normas da fé e esclarece a correta compreensão e o conhecimento perfeito acerca de Deus e da existência. Narra a história de povos antigos e a apresenta como um exemplo para cada um de nós. Relata a história dos profetas e mensageiros e nos exorta a senda reta. Chama a atenção para os sinais divinos presentes em toda criação e nos convoca à meditação e ao raciocínio. Nele há o esclarecimento das divergências religiosas, a diretriz tanto para o indivíduo como paras as sociedades e nações. O rumo correto para as relações econômicas, para o parecer jurídico, a educação, a ética e as relações humanas. Anuncia as realidades eternas além dos sentidos físicos e o destino final da humanidade.
A Mensagem corânica é essencialmente universalista; se dirige à humanidade como um todo. É atemporal e presente, não traça uma linha determinada no passado, não apresenta uma lei circunscrita a uma época específica. Sua convocação é para todos os homens de todas as épocas.
Os Versículos e Suas Classificações
Os versículos sagrados se classificam segundo algumas particularidades inerentes a seu sentido e objetivo em quatro grupos distintos:
– Os versículos Muhkamah – normativos ou decisivos, isto é, estabelecem as leis, as ordens e detalham as práticas e os princípios da crença.
– Os versículos Mutashabihah – alegóricos, isto é, os que possuem alusões simbólicas.
– Os versículos que apresentam ordens ou instruções para situações específicas ou circunstanciais.
– Os versículos que apresentam narrativas históricas ou exemplos do passado.
Qualquer interpretação, em qualquer nível exige pleno conhecimento dessa disposição. Além disso, aquele que pretenda interpretar o Qur’an deve possuir conhecimento abalizado de várias matérias como a gramática e a sintaxe da língua árabe, as circunstâncias da revelação dos versículos e a história e o contexto em que se deram, de maneira que, a interpretação do texto sagrado é de responsabilidade dos eruditos capacitados para isso, aos quais o devoto comum deve recorrer para uma correta compreensão do texto.
Além da classificação básica, os versículos possuem uma segunda disposição que segue o contexto histórico da revelação. De modo geral, o Qur’an explica a si mesmo, isto é, versículos são esclarecidos por outros versículos. Contudo, sem o conhecimento aprofundado das quatro categorias, das regras gramaticais, da complexidade do idioma árabe e das circunstâncias históricas da revelação, ninguém está capacitado a inferir dos versículos sem cometer erros.
As notas explicativas nas traduções visam auxiliar o entendimento de aspectos gerais da história e dos conceitos teológicos do Islã.
O Estilo Corânico e Seu Método Didático
A riqueza estilística do Qur’an, bem como a complexidade do árabe clássico são elementos que não podem ser transpostos para nenhum outro idioma. No entanto, o que é perfeitamente perceptível ao leitor é o método de exposição corânico. O Qur’an é um Livro reiterativo: os temas e narrativas são apresentados e retomados com diferentes abordagens, nunca iguais as anteriores. Essa característica de repetição é deliberada e tem a intenção de comunicar a Mensagem para os diferentes níveis de compreensão humana e, ao mesmo tempo, fixar essa Mensagem nas mentes e nos corações. Esse processo didático se relaciona à própria evolução da Revelação. Assim, a leitura do Qur’an nos convida à meditação sobre cada ponto apresentado, para uma assimilação igualmente gradual da Mensagem revelada.