A ação brutal de Israel contra o comboio humanitário

Por: Ahmed Ismail

A ação brutal de Israel contra um comboio humanitário (segundo os primeiros informes, em águas internacionais) causou, sem dúvida, um estremecimento da imagem midiática do estado sionista. Imagem que, no decorrer dessa década tem sido objeto da política israelense no ocidente que, a todo custo, tenta fazer com que prevaleçam seus argumentos e pretextos justificando toda ação criminosa com uma suposta “guerra ao terror”. A reação da opinião pública, sobretudo na Europa e nos EUA, até certo ponto surpreendeu o governo israelense e mesmo os governos ocidentais que se alinham incondicionalmente ao estado sionista. As acusações de terrorismo de estado e de violações das leis internacionais foram ouvidas e repetidas por toda parte. Não somente a violência da ação, mas também as ridículas declarações do Sr. Netayniahu acusando as vítimas de terroristas, provocou a indignação de muitos. O cineasta brasileiro de origem judaica, Sílvio Tendler, encaminhou uma carta ao governo sionista em que se declara envergonhado pelo crime cometido por Israel.

Absolutamente previsíveis foram os pronunciamentos oficiais de reprovação e indignação à ação israelense, a maioria deles, provenientes daqueles que nunca negaram o aval as agressões de Israel e que estão a postos para se omitir ou se opor a qualquer medida punitiva ao seu principal aliado no Oriente Médio.

Ciente disso, e com a calma dos que estão seguros de sua impunidade, o governo sionista prontamente se negou à uma posição defensiva e assumiu seu tradicional desprezo às leis, instituições e tratados internacionais. Rejeitando todas as propostas de uma investigação internacional sobre o ocorrido, não se preocupando em sequer disfarçar sua truculência com os ativistas detidos, os quais foram obrigados a assinar documentos que os incriminavam, Israel agiu com a certeza absoluta de que não será alvo de nenhuma pressão ou medida punitiva.

Incomodado pela pressão um tanto incomum, e desejoso de manter o apoio imoral de europeus e norte-americanos à manutenção do bloqueio a Gaza, o governo sionista anunciou uma “investigação interna” sobre o incidente. Uma investigação nesses termos, em que o próprio suspeito se investiga, numa ocorrência com tal gravidade em águas internacionais se assemelha a mais um ato surrealista nesse interminável drama nas terras da Palestina.

As costumeiras encenações do Conselho de Segurança somente denunciam sua debilidade moral e sua parcialidade vergonhosa. Sintomas graves da falência de uma ordem internacional civilizada. Infelizmente, o que podemos concluir de tudo isso é que: o conselho de segurança, com sua inoperância neste caso, está a dar um sinal verde a Israel para uma futura e provável agressão à República Islâmica Iraniana. Intenção já declarada há pelo menos um ano pelo governo de Netayniahu.

Não seria sensato esperar do Conselho de Segurança outra atitude. Este mesmo conselho, que se negou a agir quando em 2003 Sharon liderou uma sucessão de massacres com a única intenção de destruir politicamente Yasser Arafat; tornou a se negar a uma ação quando Israel, sob o pretexto de combater o Hizbollah, lançou uma ofensiva de alto poder destrutivo contra o Líbano e seu povo em 2006; voltou a se omitir quando Israel investiu contra Gaza. Não foi capaz de implementar qualquer medida punitiva em nenhum destes casos citados, tampouco quando se comprovou a utilização de armamentos proibidos por leis internacionais contra a população civil libanesa e palestina, mesmo quando Israel reconheceu o crime cometido. A acusação de crimes de guerra cometidos na ofensiva a Gaza foi oficialmente estendida à resistência palestina (Hamas) com a clara intenção de suavizar uma condenação à Israel.

A pressão para uma suspensão do bloqueio a Gaza ganhou alguma força com o incidente. A insustentabilidade de qualquer argumento que o justifique é patente. Contudo, para Israel e os estados que o apóiam o assunto nunca teve qualquer relação com a lógica e a racionalidade. Trata-se apenas de uma questão de estender o bloqueio ao máximo possível na esperança de que o Hamas perca o apoio popular e a influência política. Trata-se inclusive, de manter intacta a ordem estabelecida nas Nações Unidas, conservar o Conselho de Segurança com a atual estrutura.

Se a intenção de nações como o Brasil, de reformular o Conselho de Segurança e estabelecer uma nova correlação de forças, em que nações da América Latina, África e Oriente Médio adquiram poder decisório, permanecer um mero discurso, a opressão, o terrorismo em todas suas modalidades e a brutalidade continuarão a reinar no mundo.

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