Por: Fundação Al Balagh
Em Nome de Allah o Clemente o Misericordioso
Se quisermos apresentar um quadro abrangente ao iniciarmos este tema, não encontraremos algo melhor ou mais sugestivo do que este: “Ó meu filho! Toma a ti mesmo como a medida entre tu e os outros. Assim, desejarás para os outros o que desejas para ti mesmo, e detestarás para os outros o que detestas para ti mesmo. Não oprimas, como não queres ser oprimido. Faze o bem aos outros, como gostas que o bem seja feito para ti. Considera ruim para ti o que consideras ruim para os outros. Aceita (o tratamento) dos outros como os outros aceitam de ti. Não fales sobre o que não sabes, embora o que sabes seja muito pouco. Não digas aos outros o que não gostas que seja dito a ti”.
Em suma, esse “quadro” nos diz: Estabeleça um equilíbrio entre você e os outros, algo positivo para você é positivo para outros, algo negativo para você é negativo para os outros. Se pusermos em prática esse conselho, o que conseguiremos disso?
1. Se pusermos em prática essa teoria nos tornaremos justo, e a justiça é a meta principal de toda a humanidade. Não há nada, entre as pessoas, superior ou mais importante. Com esse ensinamento, não esperaremos que a justiça parta dos outros, em vez disso, seremos os primeiros a praticá-la. Naturalmente, o bem atrai o bem e a justiça resulta em justiça.
2. A vida se transformará de um lugar de violência e atentados a bomba para um lugar de beleza e progresso. Em outras palavras, se transformará num paraíso.
Quando alguém, seja um irmão, um amigo ou qualquer outro ser humano, se relaciona comigo, eu me lembro dele na felicidade ou no infortúnio, eu compreendo que aquilo que o entristece também me entristece. Da mesma maneira, quando eu sei do que ele gosta, e eu busco satisfazê-lo, me torno uma das pessoas que transformam a secura da vida num paraíso de felicidade.
Essa teoria não é islâmica somente, também se relaciona com o sentido de humanidade. Portanto, o Islam é humano na natureza de todos os seus ensinamentos, E não apenas o Islam, mas todas as religiões reveladas crêem e seguem esses princípios morais e sociais. Mesmo alguns psicólogos e sociólogos advogam essa teoria no processo de reabilitação da sociedade e das relações humanas.
James Bander, o diretor do Instituto Civil para as Relações Humanas em Nova Iorque, disse: “A primeira teoria descrita pelos filósofos é a idéia representada pelo lema eterno: “Deseje aos outros o que deseja para você”. Provém da teoria que é útil na arte de atrair a simpatia das pessoas e é o mais importante passo na direção de uma “personalidade atraente”.”
O autor do livro, “Como Atrair Amigos”, D.Carnigy, disse: “Mostre o seu interesse pelos outros tanto quanto puder, (essa qualidade) é a sua riqueza, e aumentará sempre que você a gastar”.
A questão aqui é: “O caminho para se conseguir uma personalidade islâmica e social, que é o desejar aos outros o que se deseja para si mesmo, é algo factível? Podemos dizer, honestamente, que “sim”.”
A palavra “mas”, na maioria das vezes, muda as coisas, porém, aqui é somente para nos recordar de que esse “sim” exige um esforço pessoal e especial para se chegar ao êxito nesse sentido. A arte das relações sociais é como qualquer outra arte, não podemos consegui-la sem ação e empenho. É possível, no estágio inicial, que encontremos dificuldade, porém, com o tempo se tornará agradável; um prazer espiritual e social. Até que um dia você se verá abrindo seu coração para o seu próximo e dizendo: “Estou pronto para permitir que entre em meu coração”. Com isso, verá que os corações fechados se abrirão para você, uma vez as pessoas perceberem a sinceridade de seu amor e de seu respeito; pois não há nada que atrais mais o amor do que o próprio amor, a bondade do que a bondade, a sinceridade do que a sinceridade, a boa amizade do que a boa amizade. Um filósofo experiente disse: “As pessoas de intelecto atraem muitos invejosos, mas, aquelas que têm bom coração, possuem muitos amigos”.
É unanimemente aceito que o homem é um ser social que exerce atração é que é atraído pelos outros, de tal modo que se ele viver sozinho por algum tempo, se tornará hostil. Seja na felicidade ou no infortúnio, precisa de alguém que esteja próximo a ele, que compartilhe de sua felicidade ou tristeza. Cientes disso, entendemos que aquilo que alguns artistas ocidentais propagam, que “os outros são o mal”, tem origem em valores carentes de afeto nas relações sociais e do sentimento provocado por uma sociedade não-islâmica e por um ambiente competitivo que, muitas vezes, encoraja a agressão. Um verdadeiro crente, vivendo numa sociedade segura jamais pode aceitar levar sua existência sob tão prejudicial e funesta teoria. É possível que os outros possam nos causar alguns problemas, mas, somos capazes, através da sabedoria, da paciência e do cuidado, encontrar um meio de cativá-los e, em seguida, aprender a torná-los nossos amigos.
Conta-se que uma senhora ouviu o presidente americano Abraham Lincoln elogiando seus inimigos. Ela perguntou num tom de surpresa: “Estás a elogiar àqueles que desejam a tua destruição?” Lincoln respondeu: “Eu não estou destruindo a meus inimigos quando os torno meus amigos?”
Antes de Lincoln, os profetas (A.S.) e o líder da Profecia (S.A.A.S.) adotaram esse caminho de destruir a inimizade transformando inimigos em amigos; no que foram seguidos também pelos Imames purificados (A.S.) e por outros santos. Trata-se de uma grande filosofia humana de enfrentar o mal com o bem. A pessoa que a adotar golpeará severamente o mal, deixando-o como um animal abatido e agonizante. Essa atitude eleva o valor humano até o patamar do homem de generosidade e perdão. É, na realidade, uma das características de Allah e uma prática obrigatória para os muçulmanos.
Uma narrativa profética diz: “Faça o bem para os que praticam o bem e para os que não praticam, pois mesmo se estes não estão entre os bondosos, você se tornará um praticante do bem”. Esse princípio moral nos levará do estado de “inveja e maldade” para o estado dos que praticam o bem. O primeiro estado é o da destruição enquanto que, o segundo é o da vida e da prosperidade.
Assim, se desejarmos verificar o desenvolvimento e o progresso de uma sociedade em particular deveremos examinar as relações entre seus indivíduos. Se os princípios éticos e a boa educação governarem esses indivíduos, poderemos avaliar que tal sociedade se encaminha para o desenvolvimento e o progresso. De modo análogo, os indivíduos que observam as leis do desenvolvimento social, como o motorista que observa as leis de trânsito, estão próximos do desenvolvimento e da civilização.
É um equívoco supor que as normas e leis morais limitam o homem em suas atividades sociais, ou que sejam contrárias ao sentido da liberdade. Os sinais de trânsito, por exemplo, visam a proteção da vida, reduzir a ocorrência de tragédias e preservar a segurança geral, não paralisar o movimento das pessoas. Portanto, as leis morais visam a proteção da sociedade e de seu desenvolvimento.
Por natureza, somos seres sociais, e é o que foi enfatizado em muitas narrativas do Profeta, como esta: “Aquele que se relaciona com as pessoas e tolera seus incômodos é melhor do que aquele que não o faz”. E em outro hadith: “Se relacionem com as pessoas a fim de aperfeiçoar sua religiosidade”. E ainda: “Se afastar das pessoas é um passo na direção da inimizade”.
Em muitos de seus ensinamentos o Islam nos incentiva a estabelecer um relacionamento sincero e constante com a sociedade islâmica, e também com as pessoas das diferentes religiões e escolas de pensamento, desde que preservemos os ensinamentos, princípios e jurisprudências de nossa religião. De fato, aquele que se afasta das pessoas, vivendo isolado, culpa aos outros por seus problemas considerando-os “o inferno” e sofrendo pelo comportamento alheio, nunca desejará viver na realidade. Uma pessoa desse tipo, não acende sequer uma vela, preferindo viver na escuridão insultando aos outros.
O Profeta Moisés (A.S.), enquanto falava com o seu Senhor, disse: “Ó Senhor! Proteja-me da língua do povo. Ele disse: “Ó Moisés! Estás a pedir algo que Eu não concedo nem a Mim mesmo”.”
Há a famosa estória que nos conta sobre um pai, seu filho e seu jumento que traz uma lição útil para os que meditam sobre o assunto. O que fará as pessoas aceitá-lo e serem amistosas com você é: ser amistoso com elas, o mesmo se dá com a justiça e o bom tratamento. Um dia, um beduíno de Bani-Tamim, veio até o Profeta (S.A.A.S.) e disse: “Aconselha-me!” Entre os conselhos que o Profeta deu a ele estava o seguinte: “Goste das pessoas e elas gostarão de ti”. “Não as procure com os seus bens, as procure com seu bom comportamento”.
O Islam diz que devemos chamar as pessoas (à religião) sem empregar palavras. A piedade (o exemplo) é dawah (propagação da religião), o bom relacionamento, a honestidade, a sinceridade e a justiça são formas de dawah que surtem um efeito maravilhoso que não pode ser conseguido com as palavras. Narra-se que um judeu abraçou o Islam por ser tocado pela retidão moral de Imam Ali bin Abi Talib (A.S.), que foi instruído pelo Santo Profeta (S.A.A.S.). A esse respeito, há um provérbio que diz: “As ações falam mais alto do que as palavras”.
Infelizmente, alguns de nossos jovens, adotam maus exemplos como modelo de comportamento e com isso, perdem o respeito e a consideração na sociedade. E ainda se satisfazem com essa situação. Entre tais dizeres está: “Se comportar como os outros é a satisfação”. Ou seja, o lema do bajulador que sempre diz: “Eu venho das pessoas e sou uma delas”. O Santo Profeta (S.A.A.S.) proibiu a bajulação ou a demagogia aos muçulmanos, que é o comportamento daquele que não sabe se apela ao que é o bom ou ao que é mal. Entre os fundamentos da arte das relações sociais está o seguir os outros na prática do bem. Se você quiser fazer amigos, escolha aqueles que foram guiados por Allah, isto é, os que têm um bom comportamento moral. “Estes são aqueles a quem Allah guiou, assim, siga o exemplo deles…” (Alcorão Sagrado 6:90)
Narra-se que Mu’awiyyah Bin Wahab disse: “Perguntei ao Imam Ja’far As Sadiq (A.S.): Como posso tratar com os nossos e com aqueles que não seguem o nosso caminho?” Ele respondeu: “Observa os imames a quem segue, e faze como eles, por Allah! Eles visitam os enfermos, participam dos funerais, testemunham a favor ou contra e respeitam a confiança depositada”.”
A partir de todos esses pontos introdutórios tentaremos responder as seguintes questões:
1 – Com uma personalidade islâmica atraente, como uma pessoa pode ser atuante na sociedade?
2 – Com base nos princípios morais expostos como podemos proceder socialmente?
3 – No que se refere aos aspectos negativos mencionados, quais são os fatores que destroem as relações sociais?
4 – Quanto aos bons exemplos, quais são os fatores presentes numa personalidade correta e sincera que aprimoram as relações?
1 – Como o indivíduo pode ser atuante na sociedade?
Bons princípios morais e relações sinceras podem não ser uma realidade geral no mundo, porém, raramente se encontra uma sociedade que tenha aversão à verdade e a justiça, ou que aprecie o roubo, a injustiça e agressão. Mesmo se encontrarmos alguma sociedade assim, será uma em seu estágio mais primitivo, vivendo fora do âmbito da civilização ou do sentido humano, não devendo, pois ser levada em conta.
Todas as prédicas, normas, recomendações e conselhos nas diferentes tradições religiosas são essencialmente as mesmas ou, muito próximas em seu sentido básico. Tal fenômeno ocorre porque o homem é igual, a despeito das diversas abordagens e noções (nas diferentes culturas). A fonte de todas as mensagens é única, ainda que seus ensinamentos sejam diferentes. Seu objetivo essencial é: produzir os bons princípios morais na vida humana. Por conseguinte, não surpreende que o objetivo da Última Mensagem Divina tenha sido expresso pelo Santo Profeta (S.A.A.S.) da seguinte maneira: “Eu fui enviado para aperfeiçoar os bons princípios morais”. Portanto, é nosso dever nos esforçarmos ao máximo para pôr em prática essas leis em todos os aspectos de nossa vida.
O que mencionaremos a seguir são os meios para se conseguir o respeito e a consideração na sociedade:
1 – O sorriso – É uma chave mágica que abre os corações humanos. Esse nobre e atraente ato, que umedece os lábios e enche de brilho a face, comunica sinceramente que: “Eu gosto de você, desejo que seja meu amigo, que tenhamos um bom e afetuoso relacionamento”. O sorriso é cativante porque, gostando ou não, a pessoa a quem é dirigido responderá na mesma medida ou de modo ainda mais delicado. Relata-se na tradição que: “Uma face sorridente para o teu irmão é um ato de caridade”.
A norma moral declara: Sorria e o mundo sorrirá contigo. Quando alguém sorri, está usando treze partes de sua face, enquanto que, ao chorar, usa setenta e quatro. Sendo assim, por que sacrificar seu corpo em algo que não traz benefício, ou que poderá ser prejudicial? Essa norma moral também declara: “O semblante é o melhor indicativo do estado de espírito de uma pessoa”. A face sorridente é a característica mais efetiva para atrair a amizade e é o melhor presente a ser recebido. Então, para que a mesquinhez? Sorria para todos, sejam jovens ou idosos. Dessa maneira, você motivará as pessoas a sorrirem e a espalharem o calor humano e a amizade. A esse respeito, há um famoso provérbio chinês que diz: “Aquele que não sabe sorrir não deve abrir um negócio”, porque o sorriso é um vendedor bem sucedido.
2 – O aperto de mãos – É uma grande expressão de amor daquele que o oferece; é um idioma universal (que não precisa de tradução) de carinho e bondade. Sempre que você aperta a mão de um amigo, ambos podem sentir o afeto e o calor humano. O incentivo ao aperto de mãos foi mencionado nas tradições, encontramos, por exemplo, a tradição do Imam Mohammad Al Baqir (A.S.), que diz: “Quando dois fiéis se encontram e apertam as mãos, Allah se volta para eles, e seus pecados caem como as folhas de uma árvore no outono”.
3 – A saudação – a saudação é uma expressão de amor e afeto. Porém, a saudação islâmica “Assalamu Alaykum” (a paz esteja sobre ti) é ainda mais importante, uma vez que, expressa (o desejo de) paz, um desejo universal. Assim, podemos entender o que foi narrado na tradição, “Allah o Onipotente ama aquele que toma a iniciativa da saudação”. Sempre que você saudar a quem encontrar, seja um conhecido ou não, estará ofertando flores de amor e paz em seu caminho e pondo a paz e a tranqüilidade em seu coração. É um grande êxito para uma pessoa quando os outros se sentem seguros e com paz de espírito sempre que a encontram. Que excelente comportamento é o daqueles que trocam desejos de paz, respondendo as saudações com algo equivalente ou melhor. Com base nas normas morais, um poeta disse: “a cada momento do dia / Uma pessoa pode oferecer um presente / pode ser um sorriso / ou trocar um aperto de mãos / ou pode ser uma palavra / que sirva para animar aos outros”.
4 – O abraço – Se o sorriso é um meio de abrilhantar o encontro, as saudações são fonte de tranqüilidade e o aperto de mão uma saudação entre os corações, o abraço expressa aquilo que o sorriso, a saudação e o aperto de mãos não podem expressar. Narra-se que o Santo Profeta (S.A.A.S.) abraçou e beijou a face de Ja’far Al Tayyar e de seu neto.
Imam Ja’far As Sadiq (A.S.) disse: “a melhor e mais completa saudação daquele que está em casa é o aperto de mão, e a melhor e mais completa saudação daquele que está em viagem é o abraço”. Não faz diferença se está a caminho ou se está retornando da viagem.
5 – Em nossa vida diária, um nome cumpre importante papel. Mais do que o nome que nos é dado ao nascermos, o nome nos acompanha nos influenciando negativa ou positivamente. Por isso, o Islam nos instrui a chamarmos as pessoas pelos seus nomes. Se uma pessoa desejar que a chamemos pelo seu nome verdadeiro, devemos chamá-la assim; e se ela desejar que a chamemos por seu apelido, devemos atendê-la. É de bom alvitre acrescentar frases que demonstrem nosso respeito por ela. Nas normas da moral se diz que: “Se quer que as pessoas gostem de você, chame-as por seus nomes, pois, o nome de uma pessoa é a coisa mais cara para ela. Quando você se dirige a alguém e o chama por seu nome, está demonstrando seu respeito por ele; e ele por sua vez, se sentirá grato. Mas, quando você esquece o nome de alguém, tal esquecimento será considerado desrespeito”.
6 – Prestar atenção aos que os outros estão falando – é um bom costume, que expressa amor e respeito ao interlocutor, que o faz sentir-se bem ao dizer tudo o que pensa sem interrupção. Uma narrativa profética nos orienta a não interromper alguém que esteja falando, por ser uma forma de desrespeito. O Santo Profeta (S.A.A.S.) disse: “O ato de interromper seu irmão enquanto está a falar, é semelhante ao ato de arranhar sua face”. Porque a pessoa que está falando requer a atenção para os que está a dizer. Quando o interlocutor termina o que tem a dizer, então você tem o direito de perguntar, pedir mais esclarecimentos ou refutar o que ele tiver dito. Além disso, a interrupção impede que se ouça o que o interlocutor quer expressar do que há em seu íntimo, o que também ofende os seus sentimentos gerando o desentendimento. A maior parte dos oradores respeita aqueles que lhes dão ouvidos, ainda que seu discurso não seja de grande importância. O Imam Ali (A.S.) disse: “No passado, eu tive um irmão na fé que era mais desejoso de se manter em silêncio do que de falar…”
A norma moral diz que: “O melhor dos oradores é aquele que ouve atentamente aos outros. Aquele que fala somente de si, e não pensa exceto em seu próprio interesse, é um egoísta. Uma pessoa com tal costume é um ignorante que se conduz para um estado de comiseração. Se deseja se tornar eficiente na oratória, e que as pessoas o apreciem, deve ser um bom ouvinte encorajando seu interlocutor a se expressar. Um filósofo disse: “Eu jamais aprendi alguma coisa enquanto falava”.
7 – “Uma pessoa não saberá que você gosta dela a menos que você diga isso a ela”. É possível que a pessoa tenha uma idéia disso, porém, só saberá se você expressar seu sentimento com boas palavras, sinceridade ou mesmo com um presente. Esta é uma das normas morais do Islam: que você expresse seu amor a uma pessoa, não ocultando seu sentimento. Palavras amáveis conseguem resultados inimagináveis. O Imam Ja’far As Sadiq (A.S.) disse: “Se você gosta uma de pessoa, diga isso a ela, pois o relacionamento se fortalecerá”.
Também é uma norma de comportamento: Tornar um hábito o contar aos outros as coisas belas que tenha ouvido ou lido. Não esquecer o comportamento que expressa a sinceridade ou a gratidão àqueles que tenham sido bondosos com você. Esse é um dos fatores que criam confiança e sentimentos estáveis nos corações. A diferença entre a valorização pelo elogio e a mera adulação está na sinceridade da primeira, enquanto que, na adulação só há mentira e destruição.
8 – Uma palavra de gratidão e elogio expressa a consideração e reconhecimento do favor prestado – Como esperamos que o bom comportamento perdure, temos o dever de agradecer as pessoas que nos auxiliam. Narrou-se uma tradição que diz: “Aquele que não é grato às criaturas, não é grato ao Criador”. Allah o Onipotente ligou a gratidão a Ele à gratidão aos pais num versículo para demonstrar a importância de expressar a gratidão: “Agradece a Mim e aos teus pais…” (Alcorão 31:14) Também foi narrado em um hadith que: “A exagerada expressão de gratidão é adulação, o pouco agradecer é uma falta”. Entre os métodos de agradecimento se encontra o revelar a qualidade especial envolvida no ato pelo qual se agradece. Devemos saber que um agradecimento por cada ação é melhor do que um agradecimento generalizado; o que será agradável a todo aquele que o receber. Todos os agradecimentos, todas as palavras de incentivo ou de bondade são formas de expressão as quais devemos adotar se quisermos criar bons relacionamentos. Diz-se nas normas gerais da moral que: “Devemos passar nosso dia agradecendo as pessoas, tanto quanto for possível até nos recolhermos à noite. Porque isso expressará nossa consideração a elas, e possui um papel em nossa própria saúde”.
9 – “Não há atitude mais nobre no coração e no intelecto do que desculpar o erro alheio”. Semelhante atitude alivia a gravidade do erro e provê o indivíduo de autoconfiança, o ensinando a tratar de modo pacífico com os outros e a pedir desculpas sempre que errar. Foi narrado num hadith que: “Dê a teu irmão setenta chances. Se não encontrar uma desculpa para ele, procure-a”. O Imam Ali (A.S.) disse: “Não considere má uma palavra proveniente de alguém enquanto for possível que haja algo de bom nela”. O que demonstra a importância de encontrar algo positivo e afastar da mente alguma interpretação negativa provável, mesmo se todas as possibilidades se esgotarem só permanecendo uma interpretação negativa. Devemos tentar isentar nosso irmão de qualquer culpa. O método da moral afirma: “Tente adquirir a capacidade de isentar a seu irmão de culpa, pois uma palavra mal interpretada é o meio mais rápido para a inimizade”. Nós já mencionamos os meios de chamar a atenção daquele que tenha cometido um erro sem magoá-lo.
10 – “Há uma grande diferença entre elogiar as pessoas e não negar a elas o que têm direito, e torná-las alvo de zombaria e riso. Os que adotam o primeiro caminho atraem as pessoas enquanto que aqueles que adotam o segundo fazem com que as pessoas se afastem deles. Allah o Onipotente proibiu essa segunda atitude ao dizer: “… que nenhum povo zombe do outro, é possível que (os escarnecidos) sejam melhores do que os escarnecedores. Tampouco nenhuma mulher zombe de outra, porque é possível que esta seja melhor do que aquela…” (Alcorão 49:11)
Narrou-se num hadith que: “Allah o Onipotente ocultou seus servos mais piedosos entre os demais”. Essa narrativa nos diz que é possível que o homem a quem estejamos a zombar seja melhor, aos olhos de Allah, do que nós. Portanto, nos ensina como tratar as pessoas muito bem; não é uma narrativa meramente moral, também nos ensina uma lição: a arte e o valor das relações sociais.
O Imam Ja’far As Sadiq (A.S.) disse: “Se encontrar alguém mais velho do que você, diga: Ele superou-me em valor. E se encontrar alguém mais jovem, diga: Eu o superei em pecado; e se encontrar alguém de tua idade, diga: Eu conheço sobre mim mesmo, mas, não sei o que há em seu íntimo”. Em qualquer circunstância, devemos dar menos importância ao nosso ego e pensar o bem em relação aos outros. Há algum ensinamento moral melhor, que encoraje os que o sigam ao que é elevado, do que o ensinamento moral do Islam? As normas morais afirmam: “Não ria nem zombe dos outros. Faça com que sintam sua consideração por eles. Se quiser que as pessoas o amem, demonstre consideração e admiração que lhes dê mais esperança… faça com que se sintam importantes. encontre algo de bom neles e comente isso, não destrua essa bela condição. As pessoas são diferentes, porém, você deve encontrar algo de bom nelas, se não em suas realizações, ao menos em seu espírito. Da mesma maneira que você almeja para si a felicidade e o respeito, faça com que os seus irmãos do gênero humano, tenham o direito de sentir o mesmo. Os seres humanos, incluindo a mim e a você, são antes sentimentais do que racionais.
11 – “Olhar ao redor, olhar com atenção para aqueles que estão à sua volta”. Nunca poderemos encontrar uma pessoa totalmente desprovida de qualidades, ainda que à primeira vista seja esta a impressão. Se respeitarmos as qualidades das pessoas, conquistaremos seu apoio. Narrou-se que, certa vez, o Profeta Jesus (A.S.) e um de seus seguidores passaram perto da carcaça de um cão. O discípulo disse: “Como cheira mal!” Jesus (A.S.), por sua vez, disse: “Como eram brancos os seus dentes!” Assim, ele observou o lado positivo daquela criatura, embora não houvesse nada atraente nela.
Quando Imam Musa Al Kadzim (A.S.) criticou Safwan Al Jammal (um de seus seguidores) por este ter alugado seu camelo à Harun Al Rashid, o governante abássida, ele o abordou com delicadeza e disse: “Ó Safwan. tudo em ti é bom, exceto uma coisa…” Vemos então como o Imam (A.S.) utilizou seu método de refutação. Primeiro, ele elogiou as qualidades de Safwan, para em seguida fazer sua crítica. Safwan se preocupou com aquilo e perguntou ao Imam do que se tratava, com o intuito de reparar o erro.
Um psicólogo disse: “Devemos lembrar que temos qualidades comuns dispostas segundo nossas diferenças, cada um de nós possui qualidades sublimes”. Outros disseram: “Se alguém quiser criticar, deve avaliar isso intimamente”. Encontramos numa tradição profética o seguinte: “Que Allah abençoe aquele que me orienta sobre minhas fraquezas”. A orientação não pode ser realizada senão através de uma boa abordagem.
12 – “O melhor indivíduo na arte de atrair o amor e o respeito alheio, é aquele que beneficia as pessoas”. Como é afirmado na tradição: “O melhor de vós é o mais benéfico às pessoas”. Quanto maior o benefício, maior é o respeito e o amor. Abdul Aziz Al Qaratisi narrou de Imam As Sadiq (A.S.): “Um dia, Abu Abdallah disse: “Ó Abdul Aziz! A fé é semelhante a uma escada de dez degraus. Assim, aquele que estiver no segundo degrau não deve dizer ao que estiver no primeiro que não há nada até que ele alcance o décimo. Não intimide aquele que estiver abaixo de ti; para que o que estiver acima de ti não venha a te intimidar. Se encontrares alguém que estiver abaixo de ti, tente elevá-lo com delicadeza. Não exijas que faça algo acima de sua capacidade para que ele não corte relações contigo; pois, aquele que cortar relações com um crente, carregará a responsabilidade por isso”.”
Uma das necessidades humanas é ter um bom e sincero amigo por companhia. Tal amizade deve ser isenta de orgulho ou mesquinhez; deve ser somente (na intenção do aprazimento) de Allah. Para atrair a amizade devemos tratar as pessoas de modo a elevá-las com o nosso respeito; é o que aqueles que são experts na área da educação enfatizam: “Não se exceda no auto-elogio, pois aqueles que julga serem inferiores podem ser melhores do que você, e o que considera digno de orgulho pode ser algo insignificante na visão deles”. Alguns psicólogos disseram: “O incentivo faz com que os indivíduos tenham êxito. Com o incentivo podemos fazer uma pessoa atender nosso desejo em relação a ela”.
13 – É algo de nossa natureza nos preocuparmos mais com as questões mais importantes. Tendemos a negligenciar as questões menores. A respeito das palavras de Allah o Onipotente: “… pois te consideramos entre os benfeitores”. (Alcorão 12:36), relata-se que Imam Ja’far As Sadiq (A.S.) disse: “Ele costumava ser generoso, emprestar aos necessitados e auxiliar os fracos”. Também é relatado que o Imam (A.S.) tenha dito: “Não é um de nós aquele que não se controla num momento de tristeza, nem mantém um bom relacionamento com seus companheiros; que segue a discórdia com aquele que se desentende com ele, nem segue os que o seguem, tampouco se aproxima daquele que se aproxima dele; e que não come com aquele que deseja comer com ele”. Todas essas características requeridas no hadith são meios de melhorar os relacionamentos e fazer a árvore do amor crescer e frutificar. A norma moral diz: “Não negligencie um assunto menor, pois nele há importância e benefício”.
Como Podemos agir na Sociedade?
Depois de nos familiarizarmos com algumas normas morais por meio dos ahadith e das afirmações dos psicólogos, chegaremos à resposta para a segunda questão: como podemos agir na sociedade. A moral desempenha um importante papel na arte das relações sociais. Devemos ter em mente que algumas dessas normas são conclusivas. Em todo caso, se estamos falando de arte, é possível que cada um de nós acrescente algo.
1 – A etiqueta da saudação
A – Um dos princípios da boa educação na saudação é o de que uma pessoa que esteja num veículo deve se antecipar na saudação àquele que estiver caminhando a pé; um transeunte deve saudar o que estiver parado; um pequeno grupo deve saudar um grupo maior; os mais novos devem saudar os mais velhos; um homem deve saudar uma mulher; um filho deve saudar seu pai, e aqueles que entrarem num local devem saudar os que lá estiverem. A arte das relações sociais que aprendemos do Santo Profeta (S.A.A.S.) exige que sejamos os primeiros na saudação islâmica “as salamu alaykum”, tal como ele próprio fazia.
B – Devemos utilizar a saudação islâmica para demonstrar nossa identidade muçulmana. Não é correto que os muçulmanos adotem as saudações dos não-muçulmanos, uma vez que a saudação “assalamu alaykum” é bela e perfeita.
C – Recepcionar nosso amigo e visitá-lo com sincero companheirismo, de modo que ele sinta nossa preocupação com ele. Não é adequado cumprimentá-lo enquanto você estiver com a outra mão no bolso, ou se estiver encostado em seu carro, num muro ou árvore, o que parecerá para ele, pouco caso de sua parte.
D – Responder a saudação com algo melhor, o que compõe as normas morais islâmicas que dizem que devemos retribuir o que é bom com algo ainda melhor: “Quando fordes saudados de modo cortês, respondei com cortesia maior ou, pelo menos igual…” (Alcorão 4:86)
A melhor resposta para “asalamu alaykum” é “wa alaiykum as salam wa rahamatulllahi wa barakatu” ( a paz, a misericórdia e a benção de Allah estejam contigo).
E – É uma obrigação para os muçulmanos saudarem as mulheres e demonstrarem respeito com elas. Porém, não é lícito saudar uma mulher com um aperto de mão, uma vez que o Islam considera a abstenção dessa prática uma medida preventiva de proteção da castidade.
2 – A Etiqueta numa Conversa Telefônica
Embora durante uma ligação telefônica as pessoas não estejam se vendo, não significa que não devam observar os princípios da boa educação, que são:
A – A devida saudação que demonstra nosso respeito e carinho.
B – A anunciação do nome de quem está a ligar, pois as vozes muitas vezes se assemelham.
C – Devemos nos certificar da correção do número ligado e se o momento é adequado para fazer a ligação. Caso a ligação caia, devemos retomá-la imediatamente para evitar mal-entendidos.
D – Devemos tentar ser sucintos. Se gravarmos uma mensagem na qual prometemos ligar posteriormente, devemos cumprir nossa palavra.
E – É recomendável ligar aos amigos e parentes pelo menos nas ocasiões festivas, para enviar saudações e desejos de felicidade. Ainda que a visita seja o melhor, quando não for possível, o telefonema é como um encontro indireto.
F – Quando um vizinho ou amigo precisar usar o telefone, devemos deixá-lo a sós até que termine a ligação por respeito à privacidade.
D – Não devemos responder àqueles que nos perturbam com palavras ásperas. Se respondermos educadamente se sentirão embaraçados e terão remorso. Esse recurso os impedirá de praticar tal comportamento novamente.
3 – A Etiqueta do Agradecimento
Devemos mencionar antes que, a recompensa do bem é o bem, e que a recompensa do belo é o belo ou o que for melhor do que isso. Portanto, não é admissível que uma pessoa retribua o bem com desconsideração ou com o mal. O agradecimento tem sua própria etiqueta, que é:
A – Não se demore a agradecer àqueles que o favoreceram de algum modo.
B – Quando agradecer uma pessoa, você deve esperar ter uma oportunidade para servi-lo no futuro. Este é um modo prático de agradecimento que enraíza a amizade e encoraja a prática do bem.
C – O agradecimento não se destina somente a um determinado grupo de pessoas, antes, se destina a todo indivíduo que tenha praticado o bem, não importando o valor do bem que tenha praticado. Se destina tanto aos pais, aos irmãos, aos professores e diretores, quanto aos funcionários do serviço público, aos carteiros, aos garçons, porteiros, engraxates e outros.
4 – A Etiqueta da Amizade e do companheirismo
Um dizer profético nos incentiva a uma relação generosa com os nossos amigos e parentes e a considerá-los com distinção, ao ponto de preferirmos eles a nós mesmos. Temos o dever de não permitir que encontrem em nós nenhum tipo de engano ou corrupção. Devemos ser bondosos com eles e não demonstrar nenhum traço de mesquinhez. Manter sigilo sobre seus assuntos seja em sua presença ou em sua ausência; não permitir que ninguém os engane; aconselhá-los e encorajá-los a obedecerem a Allah e auxiliá-los a superar os pecados e o mal. Tudo isso se encontra resumido no seguinte dizer: “Seja uma fonte de misericórdia para eles, não de punição”.
O companheirismo também possui um conjunto de princípios a serem observados:
A – Não devemos enganar nossos amigos em nenhum assunto.
B – Não devemos mentir para eles. Não há nada melhor do que encontrar um amigo fiel e sincero em todos os assuntos.
C – Não devemos fazer coisa alguma que os avilte. Aviltar um amigo ou um irmão é o mesmo que aviltar a si mesmo. Devemos nos empenhar no propósito de aperfeiçoar a personalidade de nossos amigos. Esta é a melhor forma de amizade e a mais amada aos olhos de Allah e de Seu Mensageiro (S.A.A.S.).
D – Ao tratar com um amigo, seja delicado escolhendo palavras apropriadas e demonstrando carinho e afeto. Disse-se: “A delicadeza diminui a solidão”. De maneira muito bela o Alcorão Sagrado explica isso: “Abaixa gentilmente as asas para os fiéis”. (15:88). Devemos nos diminuir na relação com o nosso irmão, contudo, trata-se de inferioridade na amizade, não humilhação.
É desejável que haja competição nas coisas que não sejam proibidas; que não se imponha a nossa opinião a um amigo que pense de modo diferente. Não devemos nos levantar de onde estivermos sem a sua permissão; e não dizer senão coisas boas a ele, pois, “Há algo maligno nas palavras más e há o bem na supressão do mal” e devemos desejar o bem para os nossos amigos.
E – O Santo Profeta (S.A.A.S.) disse: “O companheirismo deve ser exercido com lealdade”, isto é, devemos ser sigilosos com os assuntos de um amigo, não revelando nada sem a sua prévia autorização.
F – Se num encontro de amigos houver mais do que duas pessoas, não convém que algum deles cochiche a outro para que os demais não o ouçam. Tal atitude desagradará os demais, mesmo que o comentário não se refira a eles. É certo que pensarão que a pessoa não os respeita sinceramente.
A Etiqueta do Ato de Oferecer um Presente
Um presente possui grande efeito no coração daquele que o recebe. O significado desse ato não está em seu valor material, mas sim, em sua demonstração de carinho. Assim, eu devo ser feliz e ter em mente que é um direito de meu amigo receber um presente (não necessariamente algo material). Muito embora um presente seja uma expressão de um sentimento que não pode ser comunicado somente com palavras. Esse ato tem sua etiqueta:
A – Devemos ser cuidadosos na escolha do presente, pois, a escolha é parte do intelecto humano. O presente pode ser diminuto em sua quantidade, mas, grande em seu valor. Um livro que um amigo aprecie pode ser o melhor dos presentes.
B – Algumas pessoas dizem que um presente deve ser dado numa determinada ocasião, porém, na verdade, um presente não está condicionado a uma ocasião. Pode ser que o presente se justifique pelo seu zelo por uma amizade, sendo, portanto, o momento certo. Ainda assim, a escolha de uma ocasião em particular, como o sucesso em alguma coisa, um casamento, a compra de um imóvel ou o retorno de uma viagem, tem grande influência no relacionamento. Narrou-se num hadith o seguinte: “Presenteie as pessoas e será amado”.
C – Embrulhar o presente numa embalagem atraente é uma expressão do desejo sincero de felicidades, que dirá mais do que as palavras.
D – A pessoa que presenteia deve avaliar os resultados práticos do presente; uma vez que, alguns presentes são efêmeros enquanto outros duram bastante tempo.
E – (Ao receber um presente) não se deve recusá-lo nem menosprezá-lo. Ainda que seja algo de pouco valor, devemos agradecer e aceitar com respeito. Conta-se que, certa vez, um aluno presenteou seu professor com alguns pepinos. O professor comeu um e o achou amargo. Ao provar o segundo, novamente sentiu que estava amargo, ainda assim, comeu todos sem oferecê-los aos outros alunos. Os estudantes ficaram surpresos com a atitude do professor. O estudante que havia presenteado o professor saiu dali contente. Depois que ele saiu, o professor disse aos demais alunos: “Talvez vocês tenham ficado surpresos com o que fiz, mas, foi porque os pepinos estavam amargos. Se eu tivesse oferecido, vocês não teriam comido, magoando a quem me presenteou, por isso não me mantive quieto e não os convidei a comer”.
F – Não é recomendável dar, algo recebido como presente, a outra pessoa. Costuma-se dizer que um presente não pode ser dado duas vezes. A pessoa que presenteia deseja que o que for dado se torne um bem pessoal de quem recebe. O que você diria a uma pessoa que tenha o presenteado, se ela visse o presente nas mãos de outro? Certamente que isso a magoaria.
6 – A Etiqueta da Visita
As visitas mútuas fortalecem os relacionamentos. Esse costume é incentivado em muitas narrativas e é mesmo afirmado nos ahadith que “aquele que visita seu irmão, se assemelha àquele que visita a Allah e Seu Mensageiro”. A etiqueta das visitas se compõe dos seguintes itens:
A – Marcar e anunciar a ocasião antes da visita. Não se deve faltar ao compromisso ou adiá-lo, a menos que seja por algum motivo de força maior. Nesse caso, você deve avisar e se desculpar com a pessoa a quem deseja visitar, para que ela não fique esperando.
B – Se visitar um amigo ou um irmão na fé, sem prévio aviso, e ele se desculpar por não poder recebê-lo devido algum problema particular, já que “o dono da casa sabe o que está ocorrendo nela”, não se irrite e não fique ofendido, trata-se de um direito dele que deve ser respeitado.
C – Recomenda-se que o tempo de visita seja marcado, pois pode ser que o anfitrião tenha outro compromisso ou algo mais a fazer. Assim, se você estender o tempo da visita, pode se tornar um empecilho ou pode incomodar o anfitrião.
D – Ao entrar na residência de seu amigo, não seja curioso sobre os assuntos da casa, da família ou de qualquer outra coisa que não diga respeito a você. É possível que o anfitrião não queira que você saiba de tudo o que ocorre em sua casa. O que significa também que você deve vigiar seus olhos e sua língua.
E – É recomendável que se enfatize o objetivo da visita e que isso seja abordado logo ao chegar. Não torne a visita uma ocasião para falar em demasia ou passar o tempo de modo desnecessário.
Entretanto, por existirem muitos gêneros de visita cada um de nós tem o seu próprio modo de proceder. Além da visita aos amigos há a visita ao doente, ou ao vizinho. A seguir, mencionaremos a etiqueta de cada uma dessas visitas:
A Visita ao Doente
A visita contribui para a rápida recuperação ou, ao menos, para a redução do sofrimento do enfermo. Em vista disso, o Islam incentivou e estabeleceu alguns princípios para esse gênero de visita:
A – Limitar o tempo da visita, para que não se torne algo penoso ao enfermo que necessita de muito repouso, exceto se ele pedir para que a visita seja prolongada.
B – Concentre sua visita na atenção ao doente ou ao que dizem os que estão próximos a ele sobre seu estado e as prescrições médicas. Não fale sobre si mesmo. O tratar e o inquirir sobre o estado do doente servem para aliviar seu sofrimento.
C – Quando visitar um doente, tente levar algum presente para ele; que pode ser flores ou algo que seja agradável e útil durante sua permanência no hospital.
Certo dia, Imam Ja’far As Sadiq (A.S.) encontrou alguns companheiros em sue caminho e perguntou: “Onde estão indo?” Eles disseram: “Estamos indo visitar um amigo enfermo”. Ele perguntou: “Algum de vós está levando uma maçã, um marmelo, uma cidra ou algum perfume para ele?” Responderam: “Não”. Então ele disse: “Acaso não sabeis que o doente se sente bem quando recebe algum presente?” Naturalmente, os itens citados na tradição são apenas exemplos, podemos levar qualquer coisa que achemos ser proveitosa ao doente.
D – Devemos orar pela rápida recuperação e pela recompensa pelo sofrimento da enfermidade, no momento da visita. É preciso tentar animar o espírito da pessoa reduzindo seu sofrimento, com a esperança de que ele tenha proteção contra qualquer outro distúrbio que possa agravar seu estado. Devemos recitar alguns versículos do Alcorão Sagrado e algumas narrativas proféticas para fortalecer sua paciência.
E – Tocar a fronte do enfermo que estiver acometido de dor de cabeça ou febre ou segurar sua mão são ações que o farão sentir sua consideração e amor por ele. O Imam Ali (A.S.) disse: “Entre as práticas meritórias na visita a um enfermo está o por a mão em sua mão ou em sua fronte”.
F – Devemos observar as leis e normas do hospital, que foram estabelecidas para o bem-estar dos enfermos. Se ao chegar, encontrarmos a pessoa dormindo não devemos acordá-la; nesse caso, deixar uma mensagem com os parentes desejando sua pronta recuperação é o melhor. Podemos também, perguntar se há algo que possa ser feito, demonstrando nossa disposição em ajudar.
A Visita aos Vizinhos
Com respeito a visita aos vizinhos, Allah o Onipotente disse: “(tratai com bondade) o vizinho próximo e o vizinho estranho…” (Alcorão Sagrado 4:36). E o Santo Profeta (S.A.A.S.) disse: “Gabriel continuou fazendo recomendações acerca dos vizinhos até que eu cheguei a pensar que se tornariam herdeiros”. O seu vizinho não é apenas aquele que reside numa casa junto a sua, são também seus vizinhos as pessoas que moram na área, na cidade ou comunidade em que você vive. A etiqueta do relacionamento com o vizinho é:
A – Conhecê-lo; não há virtude em conviver com um vizinho, seja ele muçulmano ou não, sem conhecê-lo, saudá-lo e visitá-lo.
B – Prestar favores a ele: O morador deve fazer como que os seus vizinhos estejam seguros em relação a ele; não deve prejudicar nenhum deles nem qualquer pessoa de suas famílias. Se ocorrer algo de bom a algum vizinho, devemos felicitá-lo por isso, e, se algo de mal ocorrer a ele, devemos consolá-lo. Não é nosso direito erguer a voz, o som de um rádio ou de uma TV ao ponto de incomodar nosso vizinho. Se ele precisar de nosso auxílio, devemos ajudá-lo e também é nosso dever procurar proteger seu lar em sua ausência.
C – Assistência Mútua: Um morador deve tentar auxiliar seu vizinho em tudo que lhe seja possível.
D – Demonstrar consideração: Devemos demonstrar nossa preocupação e o nosso afeto com os nossos vizinhos com a saudação, a visita e o oferecimento de presentes. No caso de doença, é nosso dever visitá-lo.
7 – A Etiqueta do Tratamento com o Viajante
Entre os conselhos de Luqman (A.S.) a seu filho estavam: “Quando estiveres viajando acompanhado consulta as pessoas em seus assuntos. Não suspenda a tua cabeça. Sorria, compartilha com eles o que tiveres; responda o chamado deles,; se precisarem de ajuda, atenda-os; não fales demasiadamente; mantenha a prece; sê generoso no que possuíres de carne, água ou qualquer outra coisa; se pedirem que testemunhes o certo, faze isso; e dá a tua opinião se eles te solicitarem”.
Mufaddal Bin Umar disse: “Fui até Abu Abdallah e ele me disse: “Quem está contigo?” Eu respondi: “Um de meus irmãos”. Ele perguntou: “O que ele faz?” Eu respondi: “Desde que eu cheguei não sei onde ele se encontra”. Então, ele disse: “Não sabes que aquele que caminha quarenta passos com um crente, Allah cobrará dele acerca deste irmão no dia do Juízo?”
Entre as ações recomendadas na despedida estão:
A – Passar o Alcorão Sagrado sobre a cabeça do viajante.
B – Abraçá-lo e recitar sobre seu ombro direito: “… Quem te prescreveu o Alcorão te repatriará”. (Alcorão 28:85) E sobre o seu ombro esquerdo: “Allah é o melhor Guardião e é o mais clemente dos misericordiosos”. (Alcorão 12:64)
C – Desejar sua segurança durante a viagem e em seu caminho de volta.
D – Se for possível, acompanha-se o viajante até o lugar onde iniciará sua viagem (uma estação ou aeroporto); tal atitude proporcionará satisfação a ele.
E – Não mencione sobre suas necessidades ou sobre coisas que deseja que o viajante compre para você, a menos que ele pergunte.
F – Tente informá-lo sobre seus parentes, telefonar ou responder suas cartas.
E na ocasião do retorno:
A – Recebê-lo na estação ou no aeroporto, se for possível.
B – Abraçá-lo afetuosamente e agradecer a Allah por seu retorno em segurança. Demonstre sua alegria por sua volta.
Num hadith se narrou o seguinte: “A melhor e mais completa saudação daquele que está em casa é o aperto de mão, e daquele que recebe um viajante é o abraço”.
C – Visite-o em sua casa e leve, se possível, uma lembrança para demonstrar sua alegria por seu retorno.
8 – A Etiqueta da Condolência
A arte das relações sociais não significa que você deva estar com as pessoas somente nos momentos de felicidade; requer também que você esteja com elas nos momentos de sofrimento.
Fazem parte da etiqueta da condolência as seguintes práticas:
A – Participar do funeral do falecido, demonstrando tristeza como se a morte tivesse sido de um de seus entes queridos. Devemos recitar as palavras adequadas dos crentes, sobre a vontade de Allah, tais como: La Ilaha illallah/ la haula wala quwwata illa billah (não há nem força nem poder senão em Allah)/ Inna lillahi wa inna ilaihi Raji’un (Somos de Allah e a Ele retornaremos). Devemos ajudar a conduzir o caixão e pedir o perdão de Allah ao falecido.
B – Tomar parte na prece pelo falecido e recitar a Al Fatiha em sua intenção.
C – Acompanhar o féretro até o local de descanso final do falecido, confortando os familiares com palavras de solidariedade e pedindo para que sejam pacientes.
D – Participar das cerimônias de recitação da Al Fatiha e de súplicas em intenção do falecido.
E – Auxiliar a família do falecido no que pudermos, para confortá-los em sua perda.
F – Se estivermos longe do lugar onde um amigo ou um parente dele tenha morrido, podemos enviar condolências por telefone ou por uma mensagem. Existem expressões tradicionais e conhecidas utilizadas em tal ocasião que, variam segundo a cultura e o costume das pessoas. Entre elas estão: Adzammallahu ajúrukum (que Allah aumente sua recompensa) ou Inna lillahi wa iná ilaihi raji’un (Somos de Allah e a Ele retornaremos).
9 – A Etiqueta das Congratulações
É um direito de nosso amigo receber de nossa parte congratulações por qualquer êxito ou benefício alcançado na vida, como também é nosso direito. A congratulação é um fator de fortalecimento da amizade. Faz parte da etiqueta das congratulações expressar o desejo de que um maior sucesso seja alcançado e presentear a pessoa em sinal de felicidade e admiração. Quando um amigo tiver sido abençoado com um recém-nascido, é um bom costume expressar a gratidão a Allah pelo bem-estar da criança e de sua mãe; orar a Allah para que a criança seja educada sob os cuidados de seus pais e para que se torne um verdadeiro crente, e oferecer presentes. Na ocasião de um casamento, faz parte da etiqueta das congratulações expressar o desejo de paz e compreensão entre o casal e da bênção dos filhos. Também é conveniente o oferecimento de presentes.
A Etiqueta da Recepção dos Convidados
A hospitalidade é algo reconhecido e benéfico no Islam, que considera essa prática um dos bons costumes. Relata-se num hadith que: “Aquele que crê em Allah e no Dia do Juízo deve receber bem seus convidados”.
A etiqueta da hospitalidade num casamento, numa festa, na compra de uma casa ou na quebra do jejum no mês de Ramadã consiste de:
A – Receber com cordialidade ao convidado e fazer com que se sente num bom lugar ou deixá-lo à vontade para escolher um lugar.
B – Deixá-lo a vontade para que fale (como se estivesse em sua casa).
C – No momento em que se espera a refeição, deixar o convidado escolher o que achar melhor, seja ler um livro ou uma revista, ou conversar com as pessoas, para que não se sinta só.
D – Não demore a servir a refeição e se for possível escolha o melhor para honrar o visitante.
E – Se o convidado decidir pernoitar em sua casa prepare um lugar agradável para que ele durma; oriente sobre a direção da qibla e onde fica o banheiro; providencie uma toalha para ele e peça sua permissão se tiver que entrar em seu quarto pela manhã. Tente fazer com que se sinta em sua própria casa, como um poeta diz: “Ó meu hóspede, se nos visitar descobrirá que somos teus hóspedes e que tu és o dono da casa”.
A Etiqueta de Comportamento nas Ruas
Ainda que não conheçamos a maior parte das pessoas numa via pública, devemos observar os princípios morais de relacionamento. A boa educação se destina tanto para os conhecidos como para os desconhecidos, para que demonstremos um caráter humanitário. O Islam estabeleceu normas de etiqueta a serem observadas no ambiente público, eis aqui algumas delas:
A – Abaixe o seu olhar enquanto caminha, olhe para a direção que estiver indo e não desvie seu olhar excessivamente.
B – Se algo o perturbar em seu caminho, lembre que não está em sua casa. Assim sendo, é sua obrigação e sua norma de comportamento zelar por seu respeito próprio onde estiver.
C – Remova qualquer obstáculo perigoso do caminho, pois os transeuntes são seus irmãos na religião ou na condição humana. Narrou-se num hadith que: “Não hesite em praticar bem algum, ainda que seja somente afastar qualquer coisa perigosa do caminho público”.
D – Difunda a paz e a tranqüilidade saudando a todos – os conhecidos ou os desconhecidos.
E – Não bloqueie o caminho com coisa alguma, porque a rua é de todos.
F – Uma vez que a rua é uma propriedade pública, não é recomendável cuspir nem atirar lixo nas ruas, pois, sujar as ruas é um ato que prejudica a saúde pública. Deposite o lixo num lugar adequado para isso.
G – Auxilie as pessoas que estiverem precisando de ajuda, seja pegando alguma coisa delas que tenha caído no chão, ou atendendo os que estiverem com problemas de transporte. Sempre ajude os necessitados, sobretudo os que estiverem em sérias dificuldades. Lembre-se que é possível que algum dia você também precise da ajuda alheia, e se isso não acontecer, ao menos terá praticado algo de bom.
H – Se estacionar seu carro num local apropriado, não faça demasiado barulho. Não ligue seu carro nem saia de modo descuidado para preservar a segurança de todos.
A Etiqueta do Relacionamento com os Idosos
O relacionamento com os idosos – sejam nossos parentes ou professores ou não – requer um procedimento especial. O Islam ordena aos jovens muçulmanos que respeitem os anciões. Narrou-se num hadith que: “Faz parte do respeito a Allah o Onipotente o respeito aos idosos”. Se um ancião pertencer a uma família honrada, ele tem o direito a dois tipos de respeito: um por sua idade outro por seu mérito.
Se o relacionamento com as crianças requer misericórdia, o objetivo de educá-las, o perdão e a paciência, no que se refere ao relacionamento com os idosos, possui seus próprios fundamentos:
A – Não entre em conflito com eles nem retribua uma eventual grosseria com outra ação semelhante. Se tiver que chamar a atenção para algum equívoco deles, que o faça da melhor maneira, como os Imames Hasan e Husein fizeram (quando eram crianças) com um senhor idoso que não sabia como realizar corretamente a ablução. Pediram para que ele julgasse sobre qual dos dois praticavam a ablução com mais correção; ao observá-los, o homem percebeu que estavam certos e que ele não praticava a ablução da maneira certa.
B – Não siga um homem idoso enquanto ele caminha e não se sente antes dele. Ceda o melhor lugar a ele numa reunião e o respeite o mais que puder.
C – Retribua todo favor e bondade dele para com você, pois isso merece seu respeito e sua abnegação. É nosso dever proteger os idosos, especialmente os pais, “Ordenamos ao homem a bondade com os pais…” (Alcorão Sagrado 29:8)
De modo similar, esse dever se estende aos nossos professores, a quem devemos respeito em todos os aspectos, já que são como nossos pais.
O Santo Profeta (S.A.A.S.) disse: “Sentar-se com os sábios da religião é uma honra neste mundo e no outro”.
Luqman (A.S.) disse a seu filho: “Senta com os eruditos, toca os teus joelhos nos deles, pois Allah o Onipotente revive os corações com a luz da sabedoria da mesma maneira que revive a terra com a chuva”. É muito recomendado recorrer a eles e seguir seus conselhos.
A lista dos princípios éticos nas relações sociais é muito extensa, mencionaremos aqui apenas mais alguns deles:
A – Quando pedir um livro emprestado não escreva nada nele; zele para que o livro não se estrague nem se extravie; devolva-o a seu dono e agradeça. No caso de algum imprevisto, restitua o valor do que pegou emprestado.
B – Observe as normas e orientações nos locais públicos.
C – Peça permissão para usar qualquer coisa que não seja sua.
D – Não demore em responder as mensagens ou cartas, pois, como as saudações, demandam resposta.
E – Não fume em locais fechados, uma vez que é algo que prejudica aos outros. Como a medicina já comprovou, o fumante passivo é mais prejudicado do que o próprio fumante.
F – É recomendável se desculpar logo após cometer um erro, não importando quão insignificante seja; como por exemplo, chegar atrasado a um compromisso.
G – A admoestação é o lubrificante dos corações. Admoeste a seu irmão, porém, não o faça em tudo. Imam Ali Al Hadi (A.S.) enviou uma carta a alguns de seus seguidores dizendo: “Admoestai fulano, dizei a ele que quando Allah deseja o bem para uma pessoa Ele a admoesta primeiro”. Acaso não é a admoestação muitíssimo melhor do que a maledicência?
Quais são os Fatores que Destroem as Relações?
A arte das relações requer que compreendamos os fatores que fortalecem e os que destroem os relacionamentos humanos. Ao conhecermos os fatores destrutivos podemos evitá-los e também corrigir o incômodo daqueles que não respeitam os princípios morais, impedindo-os de cometer quaisquer males. Cada um de nós se torna um espelho para o seu amigo, no qual todos enxergam os seus defeitos e suas qualidades.
Para que uma imagem abrangente do tema seja possível, apresentaremos alguns dos comportamentos negativos, com a esperança que todos possam se proteger contra eles.
1 – O Alcorão Sagrado menciona esses comportamentos negativos em muitas passagens e de maneiras variadas:
A – A Zombaria: Ao ridicularizarmos os outros, supondo que somos melhores do que eles esquecemos que é possível que sejam melhores do que nós em muitos aspectos. Muitas vezes, ridicularizamos pessoas que não têm controle sobre as condições em que se encontram, como no caso de uma provação divina na forma de uma deficiência física. O Onipotente diz: “… que nenhum povo zombe do outro, é possível que (os escarnecidos) sejam melhores do que os escarnecedores. Tampouco nenhuma mulher zombe de outra, porque é possível que esta seja melhor do que aquela…” (Alcorão 49:11)
B – A Difamação: Trata-se de rebaixar a honra de uma pessoa; e nada pode ser pior para destruir as relações. O difamador ao ver qualquer defeito em seu irmão utiliza disso para ofendê-lo ou ridicularizá-lo diante dos demais, o que resulta na mágoa. O Islam, por sua vez, ordena que ocultemos os defeitos das pessoas. Allah o Onipotente diz: “E não difameis uns aos outros…” (Alcorão 49:11)
C – Chamar as pessoas com nomes ofensivos: Isto é, ofender as pessoas com apelidos, humilhando-as. O Islam nos ordena a chamar nossos irmãos com nomes que elevem sua posição. O Onipotente diz: “Não vos motejeis mutuamente…” (Alcorão 49:11)
D – A Suspeita: Trata-se de definir qualquer ação de nosso irmão como algo mal, o que é oposto ao que as narrativas proféticas nos ordenam. Allah o Onipotente diz: “Ó Crentes, afastai-vos da suspeita, pois em alguns casos é um pecado”. (Alcorão 49:12) E o Santo Profeta (S.A.A.S.) disse: “Eu vos aviso sobre a suspeita, porque é a mais falsa das afirmações”.
E – A Especulação: Sempre que a desconfiança nos leva à suspeita, que é atitude interna, também nos leva à especulação na busca por erros em nosso irmão. Assim, a especulação é buscar descobrir o comportamento privado de nosso irmão. Allah o Onipotente diz: “… e não vos espreiteis…” (Alcorão 49:12)
F – A Maledicência: Consiste em comentar sobre nosso irmão longe de sua presença, com o intuito de desacreditá-lo ou manchar sua honra. Se o que dissermos dele for verdadeiro, será uma difamação, e se não for, será uma mentira (calúnia). É a atitude própria do covarde, que não é capaz de enfrentar a pessoa. É algo mais grave do que somente buscar os defeitos alheios, e é uma fonte de degradação da personalidade de um crente. Allah o Onipotente diz: “… nem vos calunieis mutuamente. Quem de vós seria capaz de comer a carne de seu irmão morto?” (Alcorão 49:12)
G – A Calúnia: É o ato de propagar o que ouvimos sobre uma pessoa para destruirmos sua honra publicamente. Em vez de fazer algo que fortaleça os relacionamentos, a pessoa dada a esse tipo de prática tenta criar a discórdia. Allah o Onipotente diz: “E jamais escutes a algum perjuro desprezível, detrator, mexeriqueiro”. (Alcorão 68:10,11)
Narrou-se num hadith que: “Aquele que traz para ti o que os outros dizem também leva aos outros o que tu dizes”. O Santo Profeta (S.A.A.S.) também disse: “Desejais que eu vos informe sobre os mais vis entre vós? Responderam; Sim, ó Mensageiro de Allah”. Então, ele disse: “São aqueles que são caluniosos, que destroem as relações”.
H – A Violação da Santidade: Todos os fatores acima mencionados são meios de violar a santidade (a condição de dignidade) de um crente; o que foi descrito numa narrativa profética como algo superior à santidade da Ka’aba. Assim, existem aqueles que fazem tudo o que podem para destruir a dignidade de um crente perante a sociedade. O Onipotente diz: “Sabei que aqueles que se comprazem em que a obscenidade se difunda entre os crentes, sofrerão um doloroso castigo neste mundo e no outro…” (Alcorão 24:19)
Narrou-se que: “Não abandones a modéstia ao caminhar entre as pessoas, pois abandoná-la é matar o pudor”.
Não há mérito em humilhar, rebaixar ou ofender ou magoar um crente. O Santo Profeta (S.A.A.S.) disse: “Aquele que magoa um crente ofende a mim e aquele que me ofende, ofende a Allah”.
I – Tanto a inimizade como a inimizade e a ofensa destroem o sentimento de fraternidade. A ofensa é ainda mais grave, e o Santo Profeta (S.A.A.S.) disse: “Aquele que ofende um homem, sua personalidade perde o valor e sua dignidade se perde”.
Práticas como a malícia, o levantar suspeitas e o propagar boatos, as quais fazem parte da calúnia, ou a maledicência, humilhação ou o ódio mútuo destroem a ponte dos relacionamentos, como é dito num hadith: “No ódio mútuo há um cortador, não um cortador de cabelos, mas um cortador da religião”. E há ainda a dissimulação (a hipocrisia). O Imam Ali (A.S.) disse: “Aquele que se excede na discussão é um ofensor; e aquele que se refreia um tanto disso, é um oprimido. Não há um meio na discussão em que uma pessoa possa ser virtuosa”.
J – O Revelar as Deficiências ou Erros Alheios – Trata-se de uma estratégia para derrubar aos outros. É algo que se aproxima das ações de espionagem. Imam Ja’far As Sadiq (A.S.) disse: “Aquele que revela os erros de seu irmão crente para humilhá-lo e destruir sua dignidade. terá uma morada no fogo do inferno”. Algumas narrativas consideram esse procedimento um tipo de traição.
K – Os rompimentos – Às vezes o relacionamento entre amigos se rompe temporariamente; o que é algo natural quando nos apegamos ferrenhamente em nossa opinião. Porém, se uma situação chega a esse ponto não devemos permitir que evolua para um rompimento permanente, uma vez que é algo que destrói a fé de um muçulmano.
O Santo Profeta (S.A.A.S.) disse: “Se dois muçulmanos romperem seu relacionamento e ficarem três dias sem resolverem suas diferenças, estarão fora do Islam. Não há nenhuma proteção entre eles, e aquele que tiver a iniciativa de falar com o outro, será o primeiro a entrar no Paraíso no Dia do Juízo”.
A norma moral declara que: “Não se deixe levar pela emoção, não discuta, não pressione nem radicalize sua posição… interrompa a discussão para se afastar disso. A expressão “você não está certo” é o meio mais curto de se atrair a inimizade. Reconheça o seu erro quando tiver cometido; não critique duramente, da maneira que ofende ao coração e humilha o espírito. Essa é a fonte da miséria.
Quais São os Fatores Para uma Personalidade Atraente e Honesta?
São muitos os fatores que podem ser mencionados. Aquilo que citamos anteriormente sobre os princípios morais não se trata de um mero slogan ou conselhos que estejam pendurados no céu. São, na verdade, resultantes de uma longa experiência humana nas relações sociais. Em virtude da limitação de tempo, apresentaremos alguns exemplos com o propósito de conduzir à reflexão:
1 – Refreie a sua ira como se fechasse a boca de uma garrafa:
“Anas contou: Eu estava com o Profeta (S.A.A.S.), ele usava uma veste de barra grossa; o que atraiu a atenção de um beduíno, que disse: “Ó Mohammad! Ponha algo sobre estes camelos da riqueza de Allah em tuas mãos, pois não estás a me dar de teus bens nem dos bens de teu pai”. O Profeta (S.A.A.S.) ficou em silêncio por um instante e em seguida disse:
“A riqueza pertence a Allah e eu sou Seu servo”. E continuou: “Ó Beduíno, tua atitude contra mim te orientou?” Respondeu: “Não”. E ele perguntou: “Por que?” Disse o homem: “Porque não estás retribuindo o mal com o mal”. Então, o Profeta (S.A.A.S.) sorriu e ordenou aos seus companheiros que pusessem cevada sobre um dos camelos e tâmaras sobre o outro”.
2 – Receba a teu irmão com cordialidade e você cativará seu coração:
“Imam Hasan Al Askari (A.S.) disse: “Um dia, dois crentes – um pai e um filho – vieram até Amirul Mu’uminin (A.S.). Ele os recebeu cordialmente, sentaram-se ao lado dele, e então, o Imam ordenou que a refeição fosse servida. Depois de comerem, um servo de Amirul Mu’uminin, chamado Qanhar, trouxe uma bacia, uma jarra de madeira e uma toalha para que lavassem as mãos. Amirul Mu’uminin (A.S.) pegou a jarra e lavou as mãos do homem, ainda que este demonstrasse certa hesitação, porém, o Imam insistiu que deveria lavar suas mãos. Em seguida, Mohammad Ibn Hanafyyah (filho do Imam Ali) pegou a jarra de sua mão. O Imam disse: “Ó meu filho! Se este jovem estivesse sem o seu pai, eu lavaria suas mãos, mas, Allah o Onipotente não deseja ver um pai e um filho num mesmo lugar, sendo tratados da mesma maneira. Uma vez que o pai derramou a água nas mãos de um pai, então o filho deve derramar a água sobre as mãos de um filho. Assim, Mohammad bin Hanafyyah derramou água nas mãos do jovem”.
3 – Um meio inteligente de exercer a crítica, o qual abre o caminho para sua aceitação:
“Certa vez, Imam Hasan (A.S.) e Imam Husein (A.S.) encontraram um ancião que não sabia praticar corretamente a ablução. Eles começaram perguntando um ao outro: Tu não sabes praticar a ablução? Em seguida, se aproximaram do ancião e disseram: Ó ancião! Sejas um juiz entre nós. Faremos a ablução e queremos que nos diga qual de nós está praticando a ablução de modo certo. Depois de se abluírem, o homem disse: “Ambos estão corretos, somente este ignorante não sabia como praticar a ablução, mas agora eu aprendi”.”
4 – A sábia maneira de iniciar uma argumentação:
Certo dia uma discussão ocorreu entre Imam Husein (A.S.) e seu irmão, Mohammad bin Hanafyyah. Hanafyyah escreveu uma missiva ao Imam Husein (A.S.) na qual constava o seguinte: “Ó meu irmão, de fato, meu pai e teu pai, Ali, não me preferiu a ti nem preferiu tu a mim, e considerou quanto a nossa mãe, Fatima, a filha do Mensageiro de Allah, que se a terra inteira cheia de ouro fosse dada em propriedade a ela, ainda assim o seu direito não estaria sendo reconhecido justamente. Se leres a minha carta, venha a mim até que eu te satisfaça, pois tens mais direito na preferência do que eu. Que a paz, a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ti”. Então, o Imam Husein (A.S.) fez como seu irmão disse e depois de algum tempo, nada mais aconteceu entre eles.
5 – O melhor método na arte das relações é retribuir o mal com o bem:
“Um homem parou diante do Imam ali Bin Husein (A.S.) e o ofendeu, porém, o Imam (A.S.) não disse nada a ele. Depois que o homem se foi, o Imam disse aos seus companheiros: “Ouviram o que aquele homem disse? Desejo que me sigam e presenciem a minha resposta a ele”. Eles concordaram e o Imam calçou seus sapatos e saiu, dizendo: “Os que reprimem a cólera e que indultam o próximo, Sabei que Allah aprecia os benfeitores”. (Alcorão 3:134) Quando ouviram suas palavras, disseram: “Ele não dirá nada ao homem”. Seguiram-no até que ele chegasse à residência daquele homem. O Imam disse: “Chamem-no, é Ali bin Husain”. O homem saiu pronto para discutir, supondo que o Imam estivesse ali para se vingar do que ele dissera. O Imam disse: “Ó meu irmão, você veio ao meu encontro e disse-me tais e tais coisas. Se eu tiver (os defeitos) que você disse, eu busco o perdão de Allah para isso, e se eu não tiver, então que Allah o perdoe”. Ao ouvir aquilo, o homem começou a beijar a face do Imam e a dizer: “Não, eu disse coisas que pertencem somente a mim”.
6 – Não se diferencie dos outros, seja como um deles, tal atitude atrairá a afeição:
“Um dia, o Santo Profeta (S.A.A.S.) se encontrava em viagem. Ele ordenou que um carneiro fosse sacrificado, e então um homem disse: “´Ó Mensageiro de Allah! Eu me encarregarei do sacrifício”. Um outro disse: “Eu cozinharei”. Então, o Santo Profeta (S.A.A.S.) disse: “Eu buscarei lenha para o cozimento”. Os homens disseram: “Ó Mensageiro de Allah! Somos suficientes para tratar de tudo”. Ele (S.A.A.S.) respondeu: “Eu sei disso, mas, não me agrada me diferenciar de vocês, pois Allah o Poderoso se desagrada em ver Seu servo se diferenciando de seus companheiros”. Em seguida, se levantou e foi buscar a lenha.”
7 – Seja justo com as pessoas, assegure os direitos daquele que os possui, honre as pessoas e será honrado.
“Sawadah bin Qais disse ao Santo Profeta (S.A.A.S.) no momento de sua enfermidade: “Ó Mensageiro de Allah! Quando voltaste de Ta’if, eu te saudei. Quando estavas em teu camelo com uma vara em tua mão, quis bater no animal, e acertaste em meu ventre”. O Santo Profeta (S.A.A.S.) pediu a ele que se adiantasse e se vingasse daquilo. Sawadah pediu ao Profeta (S.A.A.S.) que abrisse sua túnica na altura de seu ventre; e ele assim fez. Ao ver aquilo, Sawadah perguntou: “Permita-me beijar o teu ventre?” O Profeta (S.A.A.S.) assentiu e Sawadah disse: “Que Allah me proteja do fogo do Inferno, por me vingar do Mensageiro de Allah”. Então o Profeta (S.A.A.S.) perguntou: “Ó Sawadah bin Qais, me perdoarás ou te vingarás de mim?” Ele respondeu: “Não, eu te perdoarei, ó Mensageiro de Allah”. Então, o Profeta (S.A.A.S.) disse: “Ó Meu Senhor! Perdoa a Sawadah bin Qais como ele perdoou ao Teu Mensageiro Mohammad!”
8 – Eu aprendi da vida que a ofensa volta para o ofensor:
“O Líder dos Crentes, Imam Ali (A.S.), ouviu um homem ofendendo a Qambar (seu servo), e Qambar queria responder ao homem. Amirul Mu’uminin (A.S.) chamou-o e disse: “Sê paciente, ó Qambar! Deixe-o ofendê-lo, de maneira que Allah se compraza e Xaitan se desagrade, punindo a teu inimigo. Eu juro por Aquele que cria as sementes e a brisa, não existe nada de um crente que agrade mais ao Senhor do que a paciência, e que mais desagrade a Xaitan. Nada pune mais um estúpido do que o silêncio”.”
9 – O Melhor teste aos olhos de Allah é o atender a necessidade de um crente:
“Um dia, um homem veio até o Imam Ja’far As Sadiq (A.S.) se queixando de não estar apto a pagar seu aluguel. O Imam (A.S.) chamou Safwan Al Jammal (um de seus companheiros) e disse: “Ajuda a teu irmão no atendimento de suas necessidades”. Ele saiu com o homem, e quando retornou o Imam (A.S.) perguntou o que tinha feito. Safwan disse: “Allah atendeu sua necessidade”. O Imam (A.S.) disse: “Atender a necessidade de um irmão é mais doce para mim do que o Tawaf ao redor da Kaaba por sete dias”.
Louvado Seja Allah, o Senhor do Universo.