Deus, exaltado seja, disse: “Em verdade, os caritativos e as caritativas e aqueles que emprestam espontaneamente a Deus serão retribuídos em dobro e obterão uma generosa recompensa.” (57:18).
A Shari’a confirmou, com base no Alcorão e na Nobre Sunna Profética, a importância do pagamento de caridade e prometeu aos que cumprem esta obrigação a recompensa tanto neste mundo como no Outro. A caridade foi incentivada principalmente em determinadas épocas e períodos, como às sextas-feiras, durante o mês de Ramadã e para determinados grupos, como os vizinhos e os parentes. A Tradição nos ensina: “Não se deve dar caridade a outro enquanto o parente é necessitado.”
Deus, exaltado seja, prometeu aos que dão caridade a multiplicação da Sua recompensa, tanto nesta vida como na Outra. Quanto à recompensa neste mundo, as Tradições dizem: “Ela constitui-se na cura para as enfermidades, afasta as desgraças e isso foi ratificado várias vezes. Com ela a riqueza é concedida, as dívidas são saldadas, as bênçãos são conferidas, o dinheiro é aumentado, evita-se com ela as maldades, as enfermidades, a morte por incêndio, o afogamento, a demolição, a loucura e fecha-se até setenta portas da maldade. A cada dia a caridade evita o azar e os seus males. Mesmo em pouca quantidade, ela é importante. Foi relatado: “Fazem caridade mesmo com um bocado ou com menos, mesmo com um pedaço de tâmara. Quem não tiver, que seja com uma boa palavra. A caridade, mesmo em pequena quantidade, constitui comércio lucrativo.” Uma Tradição diz: “Se ficardes pobres, comercializai com a caridade.”
Quanto à utilidade da caridade na Outra Vida, ela é enorme e importante, como o Alcorão e as Nobres Tradições explicam. O Mensageiro de Deus (S) disse: “A terra da Ressurreição é um calor sem sombra; a sombra do crente é constituída pela sua caridade.” Outra Tradição diz: “Deus, exaltado seja, guarda a caridade dos que a praticam até que as encontre no Dia da Ressurreição como uma enorme montanha.” No Alcorão está escrito: “Deus destituirá a usura de todas as benesses e multiplicará a recompensa aos caritativos; Ele não aprecia nenhum incrédulo, pecador.” (2:276).
E mais adiante: “O exemplo daqueles que gastam os seus bens pela causa de Deus é como o de um grão que produz sete espigas, que irão produzir, cada espiga, cem grãos. Deus multiplica mais ainda a quem Lhe apraz, porque é Munificente, Sapientíssimo.” (2:261).
A caridade desejada é feita às ocultas. A Tradição diz: “A caridade oculta apaga a cólera de Deus e o pecado como a água apaga o fogo.” O Imam Ali Ibn Hussein (a.s.) costumava sair durante a noite carregando um saco nas costas e ía de casa em casa, dando a quem necessitava. Ele costumava esconder o rosto para que as pessoas não o conhecessem. Deus, exaltado seja, diz: “Aqueles que gastam dos seus bens, tanto de dia como à noite, quer secreta, quer abertamente, obterão a sua recompensa do Senhor e não serão presas do temor, nem se angustiarão.” (2:274). E diz: “Se fizerdes caridade abertamente, quão louvável será! Porém, se a fizerdes dando aos pobres dissimuladamente, será preferível para vós e isso vos absolverá de alguns dos vossos pecados, porque Deus está inteirado de quanto fazeis.” (2:271). A expressão “Se fizerdes caridade abertamente, quão louvável será!” faz referência à Zakat obrigatória; “Porém, se a fizerdes dando aos pobres dissimuladamente” indica a caridade voluntária. Dar a Zakat obrigatória abertamente encoraja a sua prática, enquanto ocultar a doação voluntária protege o ato da ostentação.
A intermediação na entrega da caridade é preferível para quem a exerce. O Imam Assádiq (a.s.) disse: “Se o favor for efetuado por oitenta mãos, todos serão recompensados, sem reduzir em nada a recompensa do concedente.” O Profeta (S) disse: “Quem entregar uma caridade em nome de alguém a um necessitado terá a mesma recompensa do concedente, mesmo que quarenta pessoas se revezassem até que ela chegue ao necessitado. E todos serão recompensados.!”
É necessário sabermos que a boa palavra é melhor do que a caridade acompanhada de injúria. Deus, exaltado seja, diz: “Palavras cordiais e perdão são preferíveis à caridade seguida de injúria, porque Deus é, por Si, Tolerante, Opulentíssimo. Ó crentes, não desmereçais as vossas caridades com exprobração e injúria, como aquele que gasta os seus bens, por ostentação, diante das pessoas, e não crê em Deus, nem no Dia do Juízo Final.” (2:263-264).
É dever da pessoa gastar e fazer caridade em todas as situações, quer seja pobre ou rico. Deus, exaltados seja, diz: “Apressai-vos em obter a indulgência do vosso Senhor e um Paraíso, cuja amplitude é igual à dos céus e da terra, preparado para os tementes, que fazem caridade, tanto na prosperidade, como na adversidade.” (3:133-134). As pessoas verdadeiramente abnegadas fazem caridade na prosperidade e na adversidade, em situação de facilidade ou de dificuldade, em situação de riqueza ou pobreza. A riqueza não os torna arrogantes e avarentos, nem a pobreza os faz sentir que são mais necessitados que os outros, negando-se a dar. Eles preferem os outros em detrimento de si mesmos, mesmo que estejam necessitados, e dão em caridade nas duas situações.
É preciso que o caridoso faça a intenção de se aproximar de Deus com o exercício do ato de caridade. Se pronunciar a intenção, deve dizer: “Caridade com a intenção de me aproximar de Deus, exaltado seja.”
A melhor caridade é a constante, pois sua recompensa permanece ininterrupta enquanto ela durar. O Mensageiro de Deus (S) disse: “Há cinco pessoas que, mesmo estando em seus túmulos, terão sua recompensa aumentada em seu registro: quem plantar uma tamareira; quem cavar um poço; quem construir uma mesquita; quem escrever um livro; quem deixar um filho benevolente.”
Foi narrado que o Mensageiro de Deus (S) abateu uma ovelha na casa de Aisha. Quando os pobres de Medina souberam, foram ter com ele e lhe pediram uma parte do animal. O Mensageiro de Deus (S) os atendeu. Quando chegou a noite, nada sobrou da ovelha, além do pescoço. Ao perguntar a Aisha o que havia sobrado do animal, ela respondeu que havia restado apenas o pescoço. O Mensageiro de Deus (S), então, retrucou: “Diz que sobrou todo o animal, menos o seu pescoço”. Com isso, queria ele dizer que o que era realmente importante era a ovelha inteira, que foi doada aos necessitados, pela qual ele seria recompensado. Deus, exaltado seja, diz no Seu Livro Sagrado: “Os bens e os filhos são o encanto da vida terrena; por outra, as boas ações, perduráveis, são mais meritórias e mais esperançosas, aos olhos do teu Senhor.” (18:46).
“Os bens e os filhos são o encanto da vida terrena”, ou seja, proporcionam à pessoa alegria e satisfação. Os bens representam – na vida terrena – um elemento significativo, que abre portas, atrai o auxílio e o interesse dos demais, realizando desejos e elevando o seu proprietário a posições elevadas no setor político, social e econômico, assegurando-lhe liberdade de movimento no que ele deseja para si e na realização dos sonhos futuros, sempre renováveis. Quanto aos filhos, representam as forças da sua continuidade, a sua contribuição a esta vida e este mundo. O pai e a mãe sentem que reviverão em cada um deles após a morte. Os filhos lhes concedem a permanência sentimental e espiritual, além de distração, companhia e entretenimento na infância, fazendo-os recordar a sua própria infância, permitindo o exercício de uma forma nova e diferente de amor e carinho. Os pais se sentem orgulhosos, lisonjeados, elevam-se quando se colocam ao seu redor, na sua juventude e idade adulta, pois vêem que os filhos simbolizam uma honra acrescida à sua própria honra, uma lisonja.
Especialmente quando eles se transformam em personalidades fortes e de destaque na sociedade.
Assim, o ser humano vive com seus bens e filhos o encanto material, sentimental, espiritual e, nem por isso, menos significativo. Porém, o que há além disso? Os bens desaparecerão antes ou depois de seu proprietário se despedir do mundo; os filhos se separarão dos pais ou os pais se separarão deles, ficando ambos sozinhos, até o sepultamento. No Dia da Ressurreição não haverá “pais” e “filhos”, sendo as almas congregadas completamente sozinhas.
Por outro lado, “As boas ações, perduráveis, (…)”, representadas pelas atitudes que o indivíduo praticou ao longo da sua vida para melhorar a situação da sua família, comunidade ou país, pelas palavras sinceras e úteis que ele pronunciou para ensinar um insensato, orientar um extraviado, auxiliar um injustiçado, fortalecer um débil, resolver um desentendimento, apoiar um direito, combater uma maldade, estabelecer a justiça ou anular uma injustiça perpetuam a sua influência durante a sua vida terrena e após a sua morte. “São mais meritórias e mais esperançosas, aos olhos do teu Senhor”, porque Deus estabeleceu a recompensa do ser humano pelo empenho que ele demonstra pela verdade, justiça, beneficência e pela vida, que se coaduna com suas recomendações e admoestações e se movem na linha de sua satisfação. Quanto aos bens materiais, não têm valor em si e no seu acúmulo perante Deus, a não ser que sejam empregados na prática do bem e gastos pela causa de Deus. No que diz respeito aos filhos, o seu valor perante Deus é quanto ao empenho efetuado pela pessoa para que sejam crentes, retos, reformando a si mesmos com a obediência e reformando as pessoas com o ensino, a orientação e a atividade benéfica.
Assim, caso os bens e os filhos sejam aplicados, na vida quotidiana do ser humano, ao serviço de Deus, serão abençoados como uma recompensa pelas boas ações perduráveis. “(…) E mais esperançosas (…)” significa que entre as dádivas mais valiosas concedidas ao ser humano está a misericórdia de Deus, a Sua indulgência e satisfação, graças às quais a pessoa aufere o bom destino neste mundo e no Outro.
É assim que o ser humano deve viver na dinâmica de seu pensamento e ação: na direção do aperfeiçoamento da vida terrena, distinguindo entre as singularidades efêmeras e as perduráveis. Assim, sua vida será dedicada ao que permanece, não ao que morre, desaparece e desvanece com a escuridão.