Por: Ahmed Ismail
Em nome de Allah o Clemente o Misericordioso
HADITH é o termo usado para designar as tradições (dizeres e ensinamentos) que foram comunicados e atribuídos ao Profeta (saas). É plenamente aceito pelos muçulmanos que esta é em princípio, a segunda fonte do conhecimento e dos preceitos do Islam e em vista disso, há unanimidade de que seja uma das quatro provas de determinação das normas da Sharia’h. (1. o Alcorão – 2. a Tradição – 3. a evidência da razão – 4. o Consenso dos Sábios ). Entretanto, quando se pesquisa a volumosa e muitas vezes contraditória literatura que se acumulou com o passar dos séculos em nome de Hadith, encontra-se sentenças e palavras que de nenhum modo equivalem a descrição constante no Alcorão acerca do Mensageiro de Allah (saas). O que originou esta discrepância e qual é o seu propósito?
Desde os primeiros tempos a influência sorrateira dos que desejavam dividir e manipular os muçulmanos tornou-se efetiva no sentido de introduzir todo desvio possível, e contaram inclusive com as hesitações dos primeiros califados que por razões não muito claras proibiram qualquer transcrição de dizeres do Profeta (saas), o que acabou por facilitar a propagação de comunicações errôneas e imprecisas.
A própria natureza das tradições constituiu um fator de complexidade, sempre que o Mensageiro (saas) mencionava um assunto em geral, este seu dizer era captado por companheiros dotados de diferentes níveis de compreensão. Havia os que tinham plena ciência se o dizer se referia a uma norma geral ou particular e haviam os que tomavam o mesmo dizer na forma literal e conclusiva.
Após a partida do Mensageiro (saas), os coletores de tradições dependeram unicamente da comunicação de seus companheiros o que muitas vezes provocou aparente contradição entre os dizeres recolhidos. Quanto mais o tempo transcorria se confundiam os ahadith transmitidos textualmente com os que foram narrados num sentido particular, o que tornava mais difícil uma compreensão abalizada dos mesmos.
Logo, um fator muito mais grave teve lugar: inimigos do Islam infiltrados na Ummah e pessoas sem discernimento passaram a deturpar e forjar dizeres em apoio as suas próprias opiniões, o que mais tarde a partir do califado de Muawya se tornou prática oficial de Estado, a fim de garantir o domínio dos tiranos sobre a Ummah, dando a estes justificativas para reivindicarem seu poder sobre os muçulmanos e colocá-los contra a família do Profeta (saas) e todos os que se opusessem aos seus desmandos.
A ciência do hadith se fez necessária e foi desenvolvida por vários pesquisadores sérios que adotaram critérios básicos para definir quais dizeres eram corretos e comunicados com fidelidade. No caso específico da escola Xiita os critérios adotados foram:
A Concordância com o Alcorão
Todo dizer que implicasse em contradição com o Livro Sagrado era imediatamente descartado.
A Concordância com a Razão e o Bom Senso
Na medida em que a razão é um padrão de discernimento do din. Um dizer que não se conformasse com a razão ou com a personalidade do Mensageiro (saas) (contradizendo os postulados de sua missão) era rejeitado.
A Fidelidade da Fonte por Excelência
Os xiitas não reconhecem como parte da Sunna ou tradição salvo os ahadith que se catalogam como confiáveis dentre os transmitidos através dos Imames dos Ahlul Bait (as), numa corrente de transmissão que remonte ao Profeta (saas).
Quanto aos dizeres colhidos de outras fontes são cuidadosamente investigados quanto a sua concordância com o Alcorão, e se a sua aplicação é geral ou particular, se o dizer é transmitido por pessoas confiáveis e idôneas. Assim, dizeres que sejam comunicados por pessoas como Abu Hurairah, Samrah Ibn Jundab, Marwan Ibn Al Hakam, Amran Ibn Hattan, Amr Ibn Al Ass e outros semelhantes não têm nem a mais insignificante consideração.
Em particular, a condição das pessoas citadas é tão conhecida pela historiografia, que não necessita ser mencionada, posto que inclusive os sábios sunitas tem evidenciado e indicado sua condição de insustentáveis.
Além desses três critérios analisa-se também a gramática, a sintaxe e o estilo, a corrente de transmissão exigindo-se a prova histórica que o narrador realmente tenha existido.
Os mesmos critérios são adotados no que se refere aos dizeres dos Imames dos Ahlul bait (as) os quais compõem uma continuação da tradição do Mensageiro (saas), devido a autoridade concedida por Allah e seu Profeta a sua linhagem como Líderes da Ummah, os quais foram melhor versados no Alcorão e na Sunna do que a maioria dos companheiros e a segunda e terceira geração de juristas.
Quatro compilações de tradições são aceitas como as mais confiáveis: AL KAFI, MAN LA YAHDURATUL FAQIH, TAHTIB E ISTIBSAR. Na matéria de discursos o NAJHUL BALAGH (COMPILAÇÃO DOS DIZERES E PRELEÇÕES do Imam Ali (as)).