Na ética islâmica, faz-se uma distinção entre o termo “educação” e o termo “ensino”. Por isso, temos que os teólogos e os sábios olham a educação como missão que supera, na sua importância, o ensino.
Encontramos no Sagrado Alcorão, na Sunna do Nobre Profeta (S) e nas lições dos Imames da Casa Profética (AS) a confirmação da importância da educação e da purificação. Observamos, ainda, que o ensino, sem educação, não será uma lâmpada luminosa, mas se tornará um empecilho, que atrapalhará o homem no seu movimento em direção à perfeição.
Daí decorre o fato de a “educação religiosa” e a “educação pessoal” serem dois pilares básicos dos programas educacionais, pois a sua negligência acarreta resultados de má conseqüência na vida social.
Por sua vez, os termos “ética” e “moral” se colocam um ao lado do outro para designarem, em muitas situações, o mesmo significado. Em outras ocasiões, eles se tornam independentes, com definições diferentes um do outro.
Ao explorarmos os significados da Ética Islâmica, que nos conduz, em muitos aspectos, ao bom comportamento, à excelência de conduta e ao cultivo de características nobres, iremos nos deparar, no final, com um termo de significado mais amplo, que é a “cultura”. Porque a cultura é mais extensa do que os ensinos religiosos, pois abrange os costumes e as tradições que concedem à sociedade a sua identidade e estabelecem os aspectos de sua personalidade.
O Islã, com a sua mensagem mundial, convoca as sociedades para uma ética que se coaduna com a natureza humana. Ele não anula os costumes sociais e as tradições existentes em uma sociedade determinada, a não ser que sejam contrários à essência divina do Islã. Por isso, vemos o nosso Profeta Mohammad (S), depois de seu nobre comissionamento, aceitando muitos costumes sociais daquela época. Ele explicou que a sua missão era aperfeiçoar a excelência de conduta. A cultura, em seu significado geral, desempenha um papel social parecido com o do sangue na vida do ser humano. O sangue percorre todas as partes do corpo, do cérebro, aos vários membros e órgãos. O mesmo acontece com a cultura, que percorre todas as partes da sociedade, do grupo de pensadores às mãos trabalhadoras, das instituições grandes às pequenas. A cultura se estende, no seu significado geral, para desenvolver a vida na sociedade.
Quando a mensagem do Islã surgiu, dominando com a sua luz e seu calor a Península Arábica, formou-se uma nova sociedade, com o prevalecimento de um novo espírito entre seus membros: o espírito de solidariedade e de amor. Deus, o Altíssimo, disse: “Mohammad é o Mensageiro de Deus, e aqueles que estão com ele são severos para com os incrédulos, porém compassivos entre si.” (48:29).
E afirmou também: “E foi Quem conciliou os seus corações. E ainda que tivesses despendido tudo quanto há na terra, não terias conseguido conciliar entre os seus corações; porém, Deus o conseguiu, porque é Poderoso, Prudentíssimo.” (8:63).
Quando as pessoas acreditaram na mensagem do Profeta (S) e ingressaram em grupos na Religião de Deus, o Profeta (S) começou a fundar a nova cultura do Islã, combatendo, ao mesmo tempo, os costumes e as tradições que não se coadunavam com a natureza das pessoas. Ele (S) convocou para a Oração de Sexta-Feira em congregação; ordenou a prática do bem e coibiu a prática do mal; incentivou o aprofundamento do sentimento de fraternidade e de amor entre as pessoas; ordenou sermos indulgentes com os nossos pais, estreitarmos as boas relações entre os parentes, respeitarmos os direitos do vizinho. Ele convocou, também, para se ter uma boa conduta, modéstia e lealdade, tolerância e perdão, indulgência e justiça. Ele convocou para se ter espírito de amizade e conciliação entre as pessoas, recomendou a adoção dos órfãos, a visitação ao doente, a participação com os outros nas suas alegrias e tristezas, a hospitalidade e também impôs regras, como a pronta restituição dos depósitos aos seus donos.
Ao lado dessas orientações, o Islã instituiu, por meio dos ensinamentos do Profeta (S) e de seus Familiares Puros (AS), um novo método no combate aos costumes e comportamentos negativos, como a calúnia, a difamação, a inveja, a mofa dos outros e a mentira. Combateu a todos os aspectos que não se coadunavam com a posição elevada e a honra do ser humano.
O Islã, quando apresentou a sua ética e cultura, não o fez apenas com conselhos morais, mas agiu colocando-as em prática, instilando seus valores no íntimo da pessoa e da sociedade. Encontramos em seu programa cultural o significado da recompensa e do castigo, tanto neste mundo como no Outro. Ele se concentrou na continuidade da vida do ser humano após a morte, lembrando continuamente que este mundo é uma plantação para a Outra Vida: o ser humano colherá amanhã o que plantou hoje; o Islã também destacou o papel da lei na orientação da vida social.
Aqui, cabe fazer uma distinção na cultura e ética islâmicas: muitas vezes, o que o indivíduo faz para si mesmo acaba tendo repercussão nos meios sociais. Quando o muçulmano, por exemplo, adota um órfão, ele visa obter a satisfação de Deus, exaltado seja, e a recompensa do Paraíso. Com isso, proporciona à criança uma vida tranquila e nobre e à sociedade um bem, com a educação de um membro que será útil e que servirá a sua sociedade e o seu país.
Daí, a cultura e a ética islâmica desenharem tanto para o indivíduo como para a sociedade um equilíbrio moral, obtendo, por seu intermédio, os objetivos sublimes da segurança, felicidade e prosperidade.