A Vida e Nós

Por: Al-Balagh Foundation
Tradução: Ahmed Ismail

Em Nome de Deus O Clemente o Misericordioso

Um Olhar ao Nosso Redor

Desde o momento em que abri meus olhos para o que estava a meu redor e desde que comecei a entender o movimento de todos os seres que existiam, passei a formar impressões, idéias e conceitos em minha mente sobre tudo o que encontrava. Este vasto e extenso mundo consiste do céu e das estrelas, do sol e da lua, da água e do ar, da escuridão e da luz, da terra e das plantas, dos mares e da chuva, das árvores e animais de diferentes espécies e cores, pessoas vivendo em sociedades, falando e compreendendo umas as outras, trocando mercadorias e serviços.

Essas cenas separadas, cheias de beleza e ordem, me fizeram pensar mais e até perguntar a mim mesmo: “Por que é que não prolongo meu olhar sobre essas coisas e não medito na grandeza e na beleza dessa admirável e esplêndida existência à minha volta? Ou, por que olho para essas coisas separadamente? Não são uma imagem perfeita em que cada parte se completa? Não são realidades que me ensinam tantas coisas? Em outras palavras, por que olho para todas as coisas como se fossem separadas entre si?

De fato, em cada coisa que encontro, há um estado de admiração e contemplação nela. Por exemplo, a luz solar, a chuva que cai, a origem de uma planta e seu crescimento, as cores de uma flor e seus diversos perfumes, o azul do céu, a cor rubra do nascer do sol, etc… Qual é a razão para todas essas formas e variedades de existência e de sua beleza? Quão surpreendente e maravilhoso seria, se eu pudesse compreender isso desde o momento em que nasci e que encontrei tudo isso pela primeira vez!

Vim de um outro mundo… do mundo uterino; o mundo da escuridão oculto do mundo presente. Agora, percebo que é preciso entender aquele mundo… o mundo do útero no qual eu não imaginava e não compreendia nada sobre isso. Pois sim, eu vivi ali, desprovido de consciência, vontade e auto-confiança. Na verdade, ali eu era apenas um feto que dependia do sangue materno, protegido pelo cuidado de Deus. Aquele foi um período desconhecido, exceto que agora compreendo o favor daquela Divina assistência, e o esforço materno que me carregou em seu ventre; um período de nove meses em que eu fui nutrido com seu sangue. Ela fez todos seus difíceis esforços para que passasse por aquele período tranquilamente.

Na verdade, eu não tive nenhum papel ativo naquele mundo desconhecido. Nenhum papel na origem, na escolha de minha forma e aparência, na provisão de alimento, no ar ou na proteção contra os riscos. Eu fui apenas um feto, como um ovo em sua incubação, ou como uma semente no solo. Eu fui criado sob o zelo divino, enquanto minha mãe me carregava a despeito de seu sofrimento e suas dores. Ela cobriu-me de amor e expectativa e contou os dias para me conhecer.

Vivendo naquele mundo desconhecido e escuro, eu recebi dois tipos de amor: o amor de minha mãe e o amor de meu Deus.

Eu comecei a vida no seio do amor e da misericórdia…agora percebo a importância daquele amor e do favor daquela misericórdia e cuidado. Agora percebo que estou em débito com aquela que me rodeou de amor e carinho e proveu-me com o sangue de seu coração durante o período de minha estada em suas entranhas, sem que eu tivesse o sentimento de minha existência ou o controle de qualquer assunto sobre minha existência.

Certamente que foi um ato de grande bondade e é um dever de minha parte perguntar: “A recompensa da bondade pode ser outra senão a bondade? “Sim, é meu dever dizer: “Ocultar semelhante bondade significa injustiça e desvio e o que cometer tal ato merece castigo.”

É meu dever ser grato e expressar minha gratidão e amor para aquela que me rodeou de amor e bondade.

Evidências da Grandeza e da Organização (da Criação):

Saiamos desse mundo (do útero) e entremos no mundo do sol, da luminosidade, do conhecimento, da vontade e da independência. Os sábios nos abriram as portas do conhecimento deste mundo, por meio de suas descobertas. Descobriram os segredos e as ambigüidades da natureza e da biologia; das plantas e dos animais. Abriram para nós as portas do conhecimento respeitante ao mundo do homem e dos conteúdos e características peculiares da organização, dos sistemas, das diferentes atividades físicas e da capacidade de entendimento, da fala e do raciocínio.

De fato, a leitura das informações descobertas pelos sábios nos provoca surpresa e admiração. Eles descobriram a grandeza do Criador e a existência de um Organizador deste mundo. Chrisie Morrison, um cientista, escreveu um livro chamado “A Ciência Exige a Fé”. Nesse livro, trata sobre a grandeza da Organização Divina deste mundo e prova que todas as coisas existentes indicam a grandeza de seu Criador. E realmente, senti a existência de Deus, e a grandeza de Seu poder, enquanto o lia.

O autor acrescenta: “a terra gira completamente em torno de si mesma a cada 24 horas numa velocidade média de 1.000 milhas por hora. Então, suponhamos que ela girasse numa velocidade média de 100 milhas por hora. Por que não?… nossos dias e noites seriam dez vezes mais longos. Nesse caso, o sol escaldante do verão queimaria as plantas e a noite as congelaria.

O sol, a fonte de toda vida, possui uma superfície em combustão de 12.000.000 graus Fahrenheit. A distância entre a terra e o sol é tão perfeita que proporciona à superfície terrestre o calor suficiente e não mais que isso. Por milhões de anos, a alteração desse equilíbrio foi tão rara que a vida na terra não cessou. Se a temperatura (média) da terra se elevasse para algo em torno de 50 graus durante um ano, o resultado seria a morte inevitável de todas as plantas e animais. O homem também sucumbiria em conseqüência de tal aumento do calor.

A terra gira numa velocidade média de 18 milhas por segundo. Se o fizesse, por exemplo, numa média de 6 ou 40 milhas por segundo, todas as formas de vida desapareceriam.”

Esse grande cientista continua, dizendo: “A lua dista 240.000 milhas da terra. Se a distância fosse 50.000 milhas, por exemplo, a maré seria tão alta que todas as áreas abaixo do nível do mar seriam cobertas duas vezes por dia, por um fluxo marítimo capaz de arrastar as montanhas. Se assim fosse, talvez nenhum continente poderia ter se elevado do leito marítimo, a terra teria sido destruída e a maré deixaria de existir…”

Qualquer pessoa, ao pensar consigo enquanto ler esses fatos científicos, perguntará: Como essa precisão e organização ocorre e quem fez tudo isso? O Sagrado Alcorão, responderá , dizendo:

“Tal é a obra de Deus. Que tem disposto prudentemente todas as coisas.” (27: 88)

“Que criou os sete céus sobrepostos, tu não acharás imperfeição alguma na criação do Clemente..”. (67: 3)

“E o sol que segue o seu curso até um local determinado. Tal é o decreto do Onisciente, Poderosíssimo. E a lua, cujo curso assinalamos em fases, até que se apresente como um ramo seco de tamareira. Não é dado ao sol alcançar a lua, cada qual gira em sua órbita; nem a noite, ultrapassar o dia.” (36: 38 a 40)

Se o mundo terrestre e o espaço são desse modo, consideremos pois os mares e os oceanos, e quão belo e interessante é este mundo e tudo o que nele há de animais, peixes, pérolas e corais. Certamente, essas pesquisas e estudos fizeram os sábios especialistas descobrirem realidades surpreendentes com respeito a este mundo. Tais fatos causaram admiração e contemplação acerca da grandeza desses estranhos segredos nas criaturas aquáticas.

O famoso cientista Chrisie Morrison, em seu livro “A Ciência Exige a Fé”, nos apresenta um fato interessante sobre o salmão e as enguias, dizendo: “Os cientistas, em seus estudos sobre a vida dessa espécie (de salmão), descobriram um fenômeno estranho e assombroso. Os peixes dessa espécie (salmões) nascem nos mares, por anos vivem no oceano e então retornam para o mesmo local marítimo em que nasceram, e mesmo se foram transferidos para um outro mar ligado a esse, começam a nadar no sentido contrário à corrente marítima e retornam ao mar no qual nasceram. Isto é, reconhecem seu local de nascimento e estão ligados a ele, e por isso o procuram até que consigam retornar.

O cientista ainda registra outro enigma sobre a vida das enguias, ele diz: “As enguias migram das águas em que nascem depois de completarem seu crescimento e então atravessam milhares de milhas nos oceanos para alcançarem as profundezas no sul da ilha de Bromoda, e ali permanecem e morrem. Quando seus ovos são chocados e a nova geração nasce, depois de completar seu crescimento, os indivíduos iniciam uma migração em sentido oposto e cobrem a mesma distância até chegarem ao lugar de origem de seus pais e então se espalham nas águas da região. Esta é a maneira que esses animais vivem, geração após geração.

Decerto que é um fato surpreendente… que nos retrata um enigma espantoso para o qual o Sagrado Alcorão responde:

“Disse ele (Moisés): Nosso Senhor que deu a cada coisa sua natureza; e a seguir a encaminhou com retidão!” (20: 50)

Ele é Quem nos guia instintivamente e nos inspira o conhecimento inerente.

Esses fatos nos fazem conhecer o significado do que Deus Onipotente diz:

“Os sábios, dentre os servos de Deus, só a Ele temem…” (35: 28)

Sem dúvida, não conhecemos a grandeza de Deus Onipotente senão através da ciência, que o Alcorão nos ordena obter. De modo semelhante, nos ordena refletir e usar a sabedoria e a prova no conhecimento de Deus, conhecendo Suas criaturas, e compreendendo Seu Livro Glorioso:

“Não meditam, acaso, no Alcorão, ou que seus corações são insensíveis?” (47: 24)

Assim, a barreira que nos separa de Deus Todo-Poderoso e do entendimento de Seu Livro é a ignorância, e quando obtemos uma porção abundante de ciência, os horizontes do conhecimento de Deus se abrem diante de nós e as luzes de Seu Livro brilham em nós.

Um Olhar Cuidadoso para Si mesmo

Eu tenho o direito de entender a mim mesmo e conhecer minha responsabilidade e meu valor na vida. Sou um ser humano, e um homem possui um grande valor na existência. Portanto, ele tem uma imensa responsabilidade em sua vida. Eu nasci nesta terra, respeitado e honrado e Deus, o Majestoso, agraciou-me com todos esses direitos e minha porção nesta vida. Ele, o Onipotente, diz:

“E enobrecemos os filhos de Adão e os conduzimos pela terra e pelo mar; agraciamo-los com todo o bem, e os preferimos enormemente sobre a maior parte do que criamos.”(17: 70)

Ademais, nascí com uma existência de pureza inata, sem o mal e a malícia, e comigo nasceram os instintos, sentimentos, a consciência e a sensibilidade. Assim, cresci com o desenvolvimento de meu corpo e ampliação de meu intelecto. Por conseguinte, comecei a lidar com a vida por meio da sabedoria e dos desejos. É meu direito expressar tudo isso conscientemente e cuidadosamente entender que é minha responsabilidade salvaguardar a minha página branca e pura no registro desta vida.

Decerto que, minha personalidade, e o futuro de minha vida é um depósito em minhas mãos. Me comporto em relação a isso segundo meu desejo e conduzo minha vida como me apetece. Na verdade, os caminhos da vida são numerosos e diversos. Neles há o desvio e a perdição, a orientação e a retidão. A maior parte das pessoas se desvia quando estão em seus primeiros anos, antes de alcançarem a idade de dezessete anos. Caem vítimas de seus desejos básicos, em vista de uma má administração de suas motivações instintivas. A ignorância e a arrogância dominam tais pessoas e elas, se submetem a essas falsas impressões desse mundo imaginário, ou são levadas ao abismo pelo prazer e a gratificação. Portanto, suas páginas são maculadas e quando os tribunais e os investigadores (da vida) registram suas ações verificam a estupidez de seus vergonhosos arquivos. As pessoas também percebem nelas o quanto estão degradadas e raramente encontramos quem se solidarize com elas ou se esforce para salvá-las.

Como Lidar com Meus Instintos e Capacidades?

De fato, a natureza humana comporta nela os sentimentos de amor e de ódio; o contentamento e descontentamento; os instintos de alimentação, de sexo, do amor próprio e da dominação; o amor a propriedade, o desejo de dominação sobre os demais, e todos esses elementos fazem o homem cometer o mal mais do que o fazem agir com bondade e zelar pelos interesses lícitos.

Assim, a correta atitude é pensar sobre os resultados antes de empreender qualquer ação, ou seja, conhecer as conseqüências de nossos atos e posições, sejam elas boas ou más. É também proveitoso utilizar as experiências alheias e buscar o conselho daqueles em quem confiamos, nossos pais, irmãos, bons amigos, professores e pessoas de conhecimento.

Existem várias motivações emocionais que influenciam o homem, pode ocorrer que a ira, o descontentamento, o egoísmo o façam cometer crimes ou envolver-se em atos dos quais não poderá se livrar dos maus resultados ou que seja obrigado a se desculpar por eles. Ou que as ilusões o dominem e ele comece a alimentar expectativas e projetos irreais de satisfazer seus desejos ou obter ganhos materiais, etc. E com isso, ele dispenda esforço e tempo em demasia, sem alcançar nada e muitas vezes, seus esforços são em vão.

Pode ser que a o desejo sexual e por prazer levem o homem a cometer maus atos e comportamentos, como o consumo de álcool, de tabaco, cometer sexo ilícito, etc, que o farão se arrepender e reconhecer seus erros quando for tarde demais. Na verdade, é sábio e maduro que o homem não repita o mesmo erro cometido antes, e também lógico que não cometa os erros cometidos por outros. A experiência é uma escola que ensina o homem sobre o que é certo ou errado. Então, uma pessoa deve utilizar seus próprios erros e os erros alheios. Outrora, se dizia: “Aquele que testa as pessoas experientes, será atingido pelo remorso.”

O Imam Ali (as) tem um notável dizer sobre o raciocínio e o esforço, ele (as) diz: “Feliz aquele que tira lições das experiências dos outros.”

Respeitando a Personalidade

As coisas mais preciosas que o homem possui são sua personalidade e sua identidade, que são consideradas encargos sob sua responsabilidade. Deus, o Majestoso, as concedeu a ele e o proibiu de degradar ou humilhar a si mesmo, ou ainda, desprezar sua própria dignidade. O Imam As Sadiq (as), explicando esse importante princípio, diz: “Em verdade, Deus, o Onipotente, deu total autoridade a um crente fiel com respeito a tudo, exceto para que degrade a si próprio.”

Entre as responsabilidades do ser humano para consigo mesmo está a de zelar por seu histórico pessoal na sociedade, o qual deve permanecer limpo perante os orgãos competentes. Esse arquivo é formado pela própria pessoa e continua sempre na memória da sociedade, pois um histórico maculado não apenas destrói sua reputação como também leva seu autor a cair em desgraça após certo tempo.

As áreas do auto-respeito e da dignidade de uma pessoa são numerosas. Os meios para a degradação da personalidade, das capacidades e qualificações se comparam em número.

Mentir e transgredir os direitos alheios estão entre as causas que ofendem a própria personalidade.

Contravenções morais insultam e degradam a dignidade pessoal. Aceitar a humilhação, a degradação e o menosprezo está entre o que provoca a ruína e a desvalorização pessoal, quer uma pessoa aceite isso em nome dos bens materiais, do sexo, do entretenimento ou pela busca da fama, ou por covardia ou hipocrisia, etc.

Por exemplo, o sentimento de impotência, o tornar-se fraco ou incapaz de realizações, de participar nas atividades produtivas e criativas ou de estar a serviço da sociedade são os principais fatores para a destruição da personalidade e do valor de uma pessoa. Na verdade, Deus Onipotente concedeu ao homem diferentes habilidades, qualificações e talentos.

Por conseguinte, o homem deve investir nisso e utilizá-las, e não desvalorizar suas habilidades e qualificações. Deus, o Onipotente, jamais vedou os talentos às pessoas. Algumas possuem o talento da medicina, outras a habilidade de aprender idiomas. Algumas têm o talento da produção cultural ou da realização técnica, outras são melhor qualificadas nas atividades comerciais. Algumas possuem o talento para os trabalhos manuais, outras são melhores nas atividades administrativas. Algumas são melhores nas atividades militares e outras no campo da política, etc.

Um indivíduo descobre suas aptidões mediante a experiência e nunca despreza suas capacidades e talentos. É provável que muitas pessoas não consigam fazer uso de suas aptidões, capacidades práticas e mentais, tendências psicológicas para o trabalho e a criatividade em vista do pessimismo, do sentimento de incapacidade ou do acanhamento. Desse modo, destroem sua própria capacidade, negam injustamente seu próprio mérito e perdem a oportunidade de progredir e prosperar.

Auto-confiança, esperança e otimismo causam o fortalecimento psicológico. Fazem com que as habilidades ocultas e a vocação natural sejam poderosas forças criativas que agem para reviver o espírito da pessoa. Assim sendo, confiar em Deus e ter auto-confiança são as chaves para o trabalho e o progresso.

Eu e a Sociedade

Uma sociedade é um grupo de indivíduos e comunidades que estão interligadas por diferentes relações, tais como, a fé, o parentesco, os interesses comuns, a história, etc.

Todo indivíduo sente que pertence a sua própria comunidade e sociedade e que faz parte delas.

Um indivíduo troca interesses com a comunidade e a sociedade em que vive. De modo idêntico, adquire de sua família não apenas princípios morais, comportamentos, um modo de viver, mas também, parte de seu modo de pensar.

Todo indivíduo possui seus próprios interesses e uma personalidade independente, assim ocorre também com a sociedade. Comumente, contradições surgem entre os interesses do indivíduo e os interesses da sociedade. Por isso, todas as leis divinas ou as leis humanas dão maior importância a organização das relações e a resolução de tais contradições.

Todos os ensinamentos religiosos são dirigidos à organização da vida do indivíduo e da sociedade para salvaguardar os direitos e as obrigações. Além disso, os estudos da ética e da moral social dedicam sua atenção a organização da vida do indivíduo e da sociedade de modo integral e para estabelecer um equilíbrio com bases morais e bom senso.

Algumas pessoas se preocupam somente com a satisfação de seus interesses pessoais sem considerar os interesses alheios. Por exemplo, um negociante monopolista, um vendedor, um produtor que trata com preços, não pensam senão em conseguir seu lucro individual. Tais pessoas nunca se preocupam com o que acontece com o consumidor de baixo poder aquisitivo que sofre com o custo de vida, com os problemas e as crises econômicas. E aquele que está em necessidade pensa somente em suprir suas próprias carências sem considerar a situação daqueles que também estão a sofrer ou que cuja necessidade permanece sem solução.

Aquele que tem um objetivo político particular apenas se esforça para atingir suas metas pessoais e adquirir uma determinada posição ou posto. Se este homem realizar sua ambição, nunca se preocupará com o que venha a acontecer aos demais, ou com sua segurança, seu sustento ou os problemas e crises políticas. Ou mesmo um fazendeiro que possua terras cultivadas, não se disporá a cooperar com os outros no fornecimento de água, uma vez que exista disponibilidade dela.

De fato, essas pessoas nunca observam as questões e os problemas senão através de seus próprios interesses.

O honorável Mensageiro do Islam, Mohammnad (saas), especifica esse perigoso problema social do egoísmo como algo prejudicial aos interesses coletivos. A esse respeito, ele (saas) diz: “Nenhum de vós terá fé até que deseje para seu irmão (muçulmano) o que deseja para si mesmo.”

O Profeta de Deus (saas) faz uma ligação entre a mediação dos interesses coletivos e o abandono do egoísmo. Um egoísta, que nunca pensa no interesse coletivo não pode ser um crente fiel. Aquele que não considerar os interesses dos outros, ninguém considerará seus interesses também. Com isso, a unidade e as bases de uma sociedade estarão destruídas. E se um puro sentimento educacional e psicológico de ambos, do indivíduo e do grupo, não for efetivado e se não existir nenhuma lei para proteger seus interesses, decerto que a sociedade se transformará num caos (de egoísmo). A maioria da comunidade se tornará destituída, o que abre a possibilidade para que os fortes dominem os fracos e os oprimam ainda mais.

O senso moral e consciencioso existe em nós e os princípios divinos nos ordena observar os interesses de grupo, da mesma maneira que nos dedicamos a nossos próprios interesses. Porque na maioria das vezes o interesse individual lesa o interesse da comunidade, devemos pois evitá-lo.

Por exemplo, o contrabando de fundos financeiros gera grandes lucros aos que o praticam. Contudo, essa ação causa imenso prejuízo à economia da nação. Assim, a lei islâmica a proíbe e a pune.

No comportamento dos piedosos e fiéis, encontramos situações fundamentais e aplicações práticas com o intuito de estabelecer um equilíbrio entre os interesses do invidíduo e da comunidade.

Com respeito a essa atitude prática, Mu’attab, um dos companheiros do Imam dos muçulmanos, Ja’far As Sadiq (as), que era responsável pelos assuntos domésticos do Imam, é mencionado que tenha dito: “O Imam (as) perguntou-me quando a carestia estava se intensificando. “Quanto temos de provisão?” Eu disse: “Temos o suficiente para muitos meses.” Ele (as) disse: “Retire o que temos e venda.” Eu falei: “Em Medina, não há comida.” Ele (as) disse de novo: “Venda.” Então, depois que eu vendi, ele (as) disse: “Compre como as pessoas, dia a dia.”

O Imam (as) disse: “Ó Mu’attab! Prepare a comida de minha família, metade de cevada e metade de trigo. Em verdade Deus sabe que eu posso alimentá-los com trigo da melhor maneira, mas, eu gosto que Deus veja que tenho feito bem ao avaliar o sustento.”

Este episódio expressa uma declaração prática acerca da preocupação do Islam com os assuntos coletivos.

O Imam (as) se recusou a prover sua própria família com víveres suficientes para vários meses estocados em casa, num momento em que era difícil para o resto da sociedade conseguir a provisão diária. Ele (as) proibiu que se comprasse grande quantidade de alimentos para que houvesse disponibilidade de víveres nos mercados. De maneira que o estoque aumentasse e o preço diminuísse facilitando para todos a aquisição.

O Imam Sadiq (as) tratou dessa questão, partindo do princípio de preocupação com a sociedade do mesmo modo que se preocupava com sua família. Essa situação expressa um verdadeiro retrato da crença.

Cabe mencionar que o provocar prejuízo à sociedade, não poupará uma pessoa, quaisquer que sejam seus interesses, de ser igualmente prejudicada, pois o homem é um ser social por natureza, e precisa viver numa sociedade segura e tranqüila.

O que é Direito e Dever

Toda existência neste globo possui uma relação mútua com as coisas que a rodeia. Ela dá e recebe. Por exemplo, o homem, a planta, os animais e a natureza intercambiam benefícios: oxigênio, carbono, alimento, calor, luz, água, etc.

Um homem, como indivíduo, vive com sua família e sociedade e convive com os seus semelhantes, tratando com seus interesses. Ele tem direitos sobre sua família e sociedade e a família e a sociedade têm direitos sobre ele. Todo homem tem direitos e deveres. Este é um equilíbrio e lei social, sem o qual não há justiça e estabilidade a ser alcançada pela sociedade humana.

Assim, aquele que exige seu direito sem cumprir seu dever, pratica uma injustiça com os outros e deseja viver como um parasita em sua família e sociedade. E todos o rejeitarão.

Um homem tem o direito de viver e receber os recursos necessários para suas necessidades vitais. Ele também tem o direito ao trabalho, a liberdade de ganho, da posse lícita e também de sua justa porção dos recursos da terra em que vive.

Deus, o Majestoso, esclarece o direito do homem no seguinte versículo: “Aplainou a terra para as (Suas) criaturas.” (55: 10)

Portanto, esta terra foi feita para todas as pessoas. Todas elas devem fazer uso de seus recursos e benefícios. A monopolização dos benefícios, dos interesses e das bênçãos para o privilégio de alguns grupos ou facções, com a conseqüente negação de tudo isso aos outros, é injustiça e opressão contrariando as leis da vida e os princípios da verdade e da justiça. O Alcorão enfatiza esse conceito no seguinte versículo:

“Deus ordena a justiça e a caridade …” (16: 90)

A esse respeito, o Honorável Mensageiro Mohammad (saas), diz: “As pessoas são iguais como os dentes de um pente.”

Quando as pessoas silenciam diante da injustiça e da usurpação, o mal disso prevalecerá e conseqüentemente atingirá um estágio em que alguns opressores não apenas dominarão a sociedade inteira como também as oprimirão.

Como um homem tenta por si garantir o seu direito, também deve desejar isso para os outros, e não impedi-las de garantir seu direito.

O homem tem o direito de viver em paz e de ter garantia de vida, dignidade, propriedade e do que seja relacionado a ele. Deve estar isento de medo e preocupação, uma vez que a privação de seu direito é opressão e agressão, e quem o fizer deverá ser punido.

Como um homem tem direitos, os outros também têm. Quando ele perturba a segurança ou suscita temor nos demais, ou quando espalha o terror e a preocupação entre a sociedade, sua ação não somente agride à sociedade humana, mas também, perturba sua própria segurança pessoal.

O Mensageiro de Deus, Mohammmad (saas), fixa as bases da segurança e da paz na sociedade, dizendo: “Um muçulmano é irmão do outro. Não o engana, não trai, não o difama; nem o seu sangue nem os seus bens são lícitos para ele, (nada do que lhe pertence) senão com o seu consentimento.”

O valor do homem está em sua reputação e dignidade, e por isso, a legislação islâmica proíbe a difamação, a calúnia, a propagação da suspeita, o insulto a dignidade alheia, quer seja por palavras ou atos; e a espionagem sobre a vida de outrem, a propagação de seus segredos ou a desonra.

Esta lei, por si própria, obriga um indivíduo a respeitar a dignidade do outro e a não ofender sua santidade pessoal.

O Onipotente, diz:

“Ó fiéis, que nenhum povo zombe do outro; é possível que (os escarnecidos) sejam melhores do que eles. Tampouco nenhuma mulher zombe de outra, porque é possível que esta seja melhor do que aquela. Não vos difameis nem vos motejeis com apelidos, mutuamente. Muito vil é o nome que denota maldade, depois de ter recebido a fé. E aqueles que não se arrependerem serão os iníquos. Ó fiéis, evitai tanto quanto possível a suspeita, porque algumas suspeitas implicam pecado. Não vos espreiteis nem vos calunieis mutuamente. Quem de vós seria capaz de comer a carne de seu irmão morto? Tal atitude vos causa repulsa! Temei a Deus, porque Ele é remissório, Mui Misericordioso.” (49: 11-12)

Como o homem tem direitos sobre a sociedade, o estado. Por sua parte, a sociedade deve oferecer os máximos direitos a ele de educação, proteção, segurança, fornecendo todos os serviços municipais e de saúde, etc.

E o homem tem deveres para com a sociedade e a nação e no caso de não se empenhar no sentido da proteção dos interesses da comunidade, cumprindo seus deveres especificados pelas normas legais e leis morais, a vida social enfrentará a desordem e a deterioração. Porque o que aflige aos outros também o atingirá.

Como Entendemos a Vida?

Como entendemos e lidamos com a nossa vida, e como criamos nosso destino? A vida humana é a origem e as atividades espirituais, teológicas e físicas praticadas pelo homem entre o período do nascimento e da morte, em que o homem forma sua existência e seu próprio ser, espírito e personalidade.

De fato, o homem forma isso por meio do que possui da vida, da sabedoria, da capacidade de consciência sobre o mundo que o rodeia, percebendo o prazer e o sofrimento, e reconhecendo todas as criaturas.

Por exemplo: comemos, bebemos, brincamos, aproveitamos, da beleza e das coisas boas, praticamos sexo, sentimos amor e ódio, tristeza e felicidade, prazer e dor, sorrimos e choramos, nos desesperamos e temos esperança (somos otimistas) quando as expectativas surgem diante de nós.

Pensamos e inventamos; imaginamos; descobrimos e desenhamos coisas; expressamos nossos sentimentos pela fala, a pintura, a poesia, a felicidade e a tristeza.

Com nossa consciência e contemplação partimos para fora deste mundo, pensamos sobre sua origem e como passou a existir; então conhecemos o princípio da existência e seu criador.

Somos compostos de espírito, sabedoria, corpo e sentimento. Tudo isso foi concedido a nós. Fazemos a vida como um pintor a seu quadro. A vida de cada um é uma imagem particular. Assim, quem deseja desfigurar sua própria imagem?

A vida não é somente diversão e prazer, mas é uma mistura de tristeza e sofrimento também, Não é um caos, mas uma responsabilidade, uma responsabilidade perante Deus Onipotente, e perante a sociedade e as pessoas com quem vivemos; uma responsabilidade perante a lei e a consciência. Deus, o Magnificente, diz: “Então certamente questionaremos a quem os mensageiros foram enviados, e questionaremos os mensageiros.” (7:6)

O Santo Profeta (saas) diz: “Todos vós sois líderes e todos vós sois responsáveis pelos que estão sob vossa autoridade.”

O Criador da existência explica a natureza da vida e nós dá um exemplo que nos esclarece a questão. Ele, o Onipotente, explica que a natureza da vida é o processo de formação, crescimento, integração e prosperidade, e em seguida, de enfraquecimento, desintegração e desaparecimento. Assim é a vida de todo indivíduo no mundo físico.

“Expõe-lhes o exemplo da vida terrena, que se assemelha a água, que enviamos do céu, a qual se mescla com as plantas da terra, as quais se convertem em feno que os ventos disseminam. Sabei que Deus prevalece sobre todas as coisas.” (18:45)

Portanto, a vida, malgrado possua um adorno, uma beleza, o prazer e a diversão, é repleta de fenômenos que ocorrem e se interrompem, como uma planta que nasce, cresce e floresce, e que então perde a cor, murcha e se transforma em talos secos espalhados pelo vento.

Quando esse estágio da vida humana termina, outro estágio se inicia. Este estágio é chamado de mundo da Ressurreição. O mundo da eternidade. O mundo em que não muda nem desvanece. Ou é o mundo das bênçãos, da beleza e do paraíso ou o mundo da desgraça, do tormento e do inferno.

O que decide o destino do homem naquele mundo é a natureza e o resultado de suas ações e de seu modo de pensar no mundo presente, como o esforço do estudante e seus avanços educacionais decidem o resultado do exame e seu futuro científico nesta vida.

Decerto que o homem faz o seu caminho para o outro mundo como trilhou o caminho do mundo do útero para este.

O Alcorão indica esse fato e diz: “O descrente sofrerá o peso de sua descrença; aqueles que tiverem praticado o bem, estenderão leitos para si próprios (no Paraíso).” (30: 44)

Por isso, todas as legislações divinas foram reveladas com o intuito de organizar as atividades e o comportamento do homem nesta vida.

O homem pode se desviar para a direção dos desejos inferiores, a diversão e o prazer ou superar sua própria arrogância, ignorância e agressão, portanto, sua vida será dirigida ou para os processos de auto-satisfação ou para uma senda que o levará ao crime, a corrupção e a adoração de seus próprios prazeres, se ele for controlado pelo egoísmo e o narcisismo.

O Criador deu esta vida como um presente ao homem para que ele vivesse tranquilamente e gozasse dos prazeres mundanos e de suas belezas de acordo com os princípios da lei de proteção à vida e de organização do comportamento, de modo que o habilitasse a alcançar o melhor para ele e para a sociedade.

E quando o homem comete um erro no entedimento da vida, certamente prejudica a si mesmo e se deixa levar para a destruição. Não percebe seu erro exceto quando já é tarde demais.

Milhões de seres humanos são desviados por seus desejos inferiores, e a arrogância se transforma em caos, calamidades e remorso, mas, depois disso é muito tarde.

A vida da maioria deles tem terminado nas prisões ou no suicídio, ou são acometidos de doenças sexuais ou viciados em drogas, e perambulam em tribulação e infelicidade.

Os institutos de estatísticas e os relatórios das instituições privadas, como hospitais e sanatórios, e os departamentos de controle de criminalidade registram números assustadores e são os melhores indicadores de tudo isso.

Nossa vida é um presente do Mais Misericordioso, então temos a obrigação de lidar com ela tomando por base a lei da segurança e da proteção. Esta é a lei divina que proíbe o que é prejudicial e permite o que é proveitoso e bom para nós. Existem meios de compreender a vida, devemos, pois, nos referir a eles com confiança. Entre esses meios estão:

1. O Livro de Deus e a senda da profecia. Estes dois, juntos, nos apresentam explicação suficiente com respeito a natureza da vida. Também fornecem uma orientação, uma prova e um método de vida. Temos que lê-los com consciência e com uma contemplação científica e racional para nos familiarizarmos com seus benefícios e sua sabedoria.

2. A segunda fonte principal para a compreensão da vida é a ciência e as descobertas científicas. A ciência nos fornece o conhecimento e a consciência, e também apresenta as informações sobre o que é danoso e o que é proveitoso. Todas suas pesquisas e estudos se apresentam compatíveis com os ensinamentos do Alcorão no que concerne ao que é lícito e o que é ilícito.

A ciência foi capaz de descobrir o perigo da bebida alcoólica, das drogas, das práticas sexuais ilegais, da usura, do monopólio, e o benefício da higiene, do amor e da solidariedade familiar e seu impacto sobre a sanidade psicológica do homem. Da mesma maneira, descobriu com respeito ao efeito da fé na formação da felicidade, do comportamento virtuoso, na libertação em relação aos problemas e os crimes…etc. A ciência, ainda, participou ativamente na elevação do nível de consciência do homem e de seu entendimento da vida, no desenvolvimento dos meios de produção, no fornecimento de serviços, na organização da sociedade e no movimento da vida; e também tem um papel na solução dos problemas da vida.

A descoberta da eletricidade, do átomo, do petróleo, do rádio, da televisão, e dos meios de imprensa e de transporte, etc, abriu para o homem uma outra consciência da vida. Quanto mais nossa consciência e compreensão da vida se ampliam, mais se amplia nossa consciência e compreensão da religião e do significado da fé, porque a ciência exige a fé e é sua companheira na existência.

3. O intelecto e a experiência: o intelecto é a evidência do homem na vida. Quando o homem o utiliza da maneira correta, é guiado para a bondade e é protegido da ruína, da perda e do remorso.

O homem exerce vários métodos em sua vida e assim obtém experiências, Portanto, deve utilizar suas experiências de vida, e também as experiências alheias em todos os campos da vida, o campo pessoal, matrimonial, econômico, político, cultural, etc.

Por conseguinte, o Alcorão nos ordena a fazermos uso das experiências das nações anteriores. Porque a experiência humana, os acontecimentos do passado e da história, os resultados do intelecto, do conhecimento, da cultura, da sabedoria, da educação e das artes construtivas do homem são dádivas que fazem parte do enriquecimento da vida e da abertura de novos horizontes a serem compreendidos.

Por isso, o Alcorão nos orienta para a utilização das experiências das outras nações e indivíduos, e também da análise aprofundada e do intelecto. Ele nos diz:

“Ele foi Quem dilatou a terra, na qual dispôs sólidas montanhas e rios, assim como estabeleceu dois gêneros de todos os frutos. é Ele Quem faz o dia suceder a noite. Nisto há sinais para os que refletem.” (13:3)

“Antes de ti, não enviamos senão homens que habitavam as cidades, aos quais revelamos a verdade. Acaso, não percorreram a terra para observar qual foi o destino dos seus antecessores? A morada da outra vida é preferível para os tementes. Não raciocinais? Quando os mensageiros se desesperavam e pensavam que seriam desmentidos, chegava-lhes o Nosso socorro; e salvamos quem Nos aprouve, e o Nosso castigo foi inevitável para os pecadores. Em suas histórias há um exemplo para os sensatos. É inconcebível que seja uma narrativa forjada, pois é a corroboração das anteriores, a elucidação de todas as coisas, orientação e misericórdia para os que crêem.” (12: 109-111)

O Imam Ali (as), se dirigindo a seu filho, o Imam Hassan (as), quando o incentivava a fazer uso das experiências alheias e a considerá-las, disse: “…que estejas pronto a aceitar por meio de teu intelecto os resultados da experiência dos outros e poupar a ti mesmo de passar por aquilo que eles passaram. Dessa maneira, evitarás a agrura de recorrer a eles e as dificuldades por eles experimentadas. Assim, saberás o que eles passaram e mesmo algumas coisas se tornarão mais claras para ti, as quais possivelmente não percebemos…”

Quando proporcionamos a nós mesmos um correto entendimento da vida, de acordo com a shari’ah, o intelecto e a ciência, certamente somos capazes de lidar com ela mais conscientemente e com maior chance de êxito.

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