Makarem Al-Akhlaq e o sacrifício

Makarem Al-Akhlaq e o sacrifício

É um sistema de boa conduta completo, estabelecido pela doutrina do Islam. Neste código de conduta estão todos os elementos de boa conduta tais como a paciência, a coragem, perseverança, perdão, respeito e muito mais. Entre todos os elementos que formam o sistema de boa conduta há uma que é a melhor e mais nobre de todas. Esta característica é o “Sacrifício”. Esta característica é derivada da generosidade e é classificada como a mais nobre e digna das características humanas profundas.

O que é o sacrifício?

Sacrifício tem um significado profundamente amplo, mas no geral significa conceder aos outros mais do que a si mesmo. É a pessoa renegar a si mesmo e conceder aos outros mais do que a si mesma, e isso deve ser feito totalmente em nome de Deus e para Deus. Esta é a principal condição para que o sacrifício possa ser admitido e aceito por Deus, se não for assim o mesmo não poderá ser aceito e corre o risco de ser em vão. Na verdade, a pessoa que sacrifica, mas não com a intenção pura para Deus, estará em prejuízo, pois estaria deixando de desfrutar daquilo que é de sua propriedade, e ao mesmo tempo não terá as recompensas de Deus. Somente com a intenção pura que a pessoa garante a sua recompensa no dia do juízo final.

Quais são os tipos de sacrifício?

Primeiro: Servindo as pessoas

Quando alguém concede algo do seu conhecimento ou serviço aos outros. Por exemplo, quando um médico concede algumas horas para atender gratuitamente algumas pessoas mais necessitadas ou quando um professor ensina aos outros ou um sábio que expande seu conhecimento para os demais. Tudo isso é um tipo de sacrifício, não na riqueza ou bens, e sim no serviço. Uma nobre tradição afirma: “O tributo do conhecimento é concedê-lo aos outros”. Como sabemos, para ter algo se necessita pagar um tributo, sendo que a melhor forma de pagar o tributo de quem tem conhecimento é conceder aquele conhecimento aos outros. Então, servir os outros, servir as pessoas, ajudando e orientando, é um tipo de sacrifício também.

Segundo: Riqueza e bens

Neste tipo a pessoa sacrifica aquilo que pertence a ela e que trabalhou para conquistar. Às vezes pode ser uma riqueza, um bem, comida ou qualquer outro objeto. É um grau alto de sacrifício, especialmente quando a pessoa estiver necessitando daquilo que estará concedendo aos outros. O exemplo deste tipo de sacrifício é o sacrifício dos Ahlul Bait (A.S.) quando jejuaram por três dias pagando a promessa que tinham feito para a cura de Hassan e Hussein, que estavam doentes. No primeiro dia de pagamento da promessa eles fizeram o jejum e quando chegou a hora de quebrar o jejum um necessitado bateu na porta e pediu ajuda. O Imam Ali (A.S.) pegou toda a comida que tinha, que nada mais era do que 5 pedaços de pão, e concedeu ao necessitado. No segundo dia o mesmo episódio ocorreu, e depois de um dia de jejum, bem na hora da quebra, um órfão procurou a casa dos Ahlul Bait (A.S.) e pediu por ajuda, e o Imam Ali (A.S.) fez o mesmo que no primeiro dia, concedeu tudo ao órfão e os Ahlul Bait (A.S.) ficaram sem comida naquele dia também, e só quebraram o jejum com água. No terceiro dia aconteceu de novo, depois de um longo dia de jejum, bem na hora da quebra um prisioneiro de guerra chegou na casa e pediu por ajuda, e eles concederam toda a comida deles ao prisioneiro. Daí, no quarto dia, quando Ali (A.S.) e seus filhos Hassan e Hussein (A.S.) foram até a Mesquita para se encontrarem com o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.), o profeta viu eles pálidos, fracos e tremendo de fome. Perguntou o porquê, e então Ali (A.S.) explicou o que havia acontecido. Então, o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) saiu da mesquita e foi em direção a casa de Fátima (A.S.) preocupado, para ver como ela estava. Chegando lá quando entrou viu que ela (A.S.) estava em seu oratório em direção a Meca e adorando a Deus. Neste momento Deus revelou ao Seu mensageiro: “E porque, por amor a Ele, alimentam o necessitado, o órfão e o cativo (8). (Dizendo): Certamente vos alimentamos por amor a Deus; não vos exigimos recompensa, nem gratidão (9). Em verdade, tememos, da parte do nosso Senhor, o dia da aflição calamitosa (10)”.

Outro fato ocorrido foi quando um pobre necessitado pedia ajuda na cidade de Medina e quando o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) o ouviu concedeu-lhe o seu manto. O homem pegou aquele manto e vendeu. Uma pessoa comprou muito caro, pois queria a benção do manto do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.). Ele era um homem muito rico e cego, e disse ao seu empregado que se conseguisse comprar aquele manto iria libertá-lo. Quando ele comprou o manto passou por seu rosto e a luz voltou aos seus olhos e ele começou a enxergar, libertando assim seu empregado. Em seguida o homem foi ao Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e concedeu o manto de volta ao mesmo. No final da história aquele manto abençoado do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) enriqueceu um pobre, curou um cego e libertou um escravo, e este foi o resultado de uma ação totalmente sincera e pura a Deus. O caso do colar de Fátima (A.S.) é mais uma história confirmada entre milhares de tradições que afirmam os sacrifícios que os Ahlul Bait (A.S.) fizeram pela causa de Deus, com intenção pura e sincera a Ele.

Terceiro: A vida

A terceiro categoria de sacrifícios é aquela cujo a pessoa concede a sua própria vida pela vida dos outros e por uma causa mais nobre. O exemplo do primeiro sacrifício no Islam é quando o Imam Ali (A.S.) aceitou a proposta do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) em deitar sobre o seu leito enquanto ele sairia de Meca. Isso para não chamar a atenção dos inimigos que estavam do lado de fora da casa observando-o e queriam entrar e matá-lo de surpresa. O Imam Ali (A.S.) deitou no leito do profeta Mohammad (S.A.A.S.) para ele sair em segurança da cidade. Na verdade, o Imam Ali (A.S.) estava à beira da morte, pois sua vida estava a mercê dos assassinos. Quando eles invadiram a casa e tiraram o cobertor viram que não era Mohammad (S.A.A.S.), e sim o seu primo, Imam Ali (A.S.). Ficaram surpresos e se assustaram, e por isso o deixaram em paz. Este foi um dos exemplos de sacrifício com a vida.

Ou o próprio sacrifício do Imam Al-Hussein (A.S.), que sacrificou sua família, seus filhos, seus companheiros e a si mesmo pela causa de Deus e pela reforma e correção do desvio da nação do seu avô, o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.). Sua revolta foi para corrigir os estragos que o estado corrupto e opressor da época estava causando no Islam e em seus ensinamentos. O Imam Hussein (A.S.) lutou por seus ideais, e seu sacrifício é o mais nobre e mais profundo, pois não há nada mais valioso do que a alma e si mesmo. O ser humano se sacrificar por uma causa nobre é algo muito representativo e grandioso para Deus, e por isso que aqueles que morrem pela causa de Deus não são classificados como mortos, e sim estão vivos, pois Deus disse: “E não creiais que aqueles que sucumbiram pela causa de Deus estejam mortos; ao contrário, vivem, agraciados, ao lado do seu Senhor” (3:169).

Todos nós temos que aprender a nos sacrificar e conceder algo de nós para os outros. Temos que conceder aos outros algo que nos pertença, pois este atributo é nobre.

Para quem se sacrificar?

Sabemos agora o que é o sacrifício e quais são os seus tipos. Agora, qual seria a pessoa a quem temos que nos sacrificar. Será que toda pessoa merece o nosso sacrifício? Esta pergunta é respondida pelo Imam Ali (A.S.) na seguinte tradição: “Aja com as pessoas com honestidade, e com os fiéis com sacrifício”. Ou seja, apenas os crentes, os fiéis são os merecedores do sacrifício. São eles os mais merecedores de nosso sacrifício, pois são verdadeiros súditos de Deus, virtuosos que merecem o sacrifício. Já as demais pessoas devemos agir com elas com honestidade e justiça, jamais causando-lhes danos ou problemas.

Louvado seja Deus, o senhor do universo!

Aula ministrada por: Nasser Khazraji
Data: 18/01/2020

 

 

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