Você sabia que a Revolução Islâmica de 1979 mudou drasticamente a relação entre Irã e Israel?
Após a revolução do povo iraniano liderada pelos sábios religiosos o Irã se tornou um dos principais apoiadores da Causa Palestina. Sob a dinastia Pahlavi, os laços entre Irã e Israel eram de amizade em prol dos interesses coloniais e tirânicos de ambos os governos. Curiosamente, o Irã foi o segundo país de maioria muçulmana a reconhecer Israel depois da sua “fundação” em 1948, isso sob o governo dos monarcas iranianos.
Na verdade, em 1947, o Irã foi um dos 11 membros do comitê especial das Nações Unidas formado para encontrar uma solução para a Palestina após o fim do controle britânico do território. E o país votou contra o plano de partição da ONU para a Palestina, dizendo-se centrado na preocupação de que isso iria aumentar a violência na região nas gerações vindouras. Dessa forma, o Irã apresentou um plano alternativo, uma solução federativa que consistia em manter a Palestina como um único estado com um parlamento dividido entre árabes e judeus.
Mas não se engane, pois a ideia do Xá, o monarca iraniano, era tentar manter relações positivas com o ocidente pró-sionista e com o próprio movimento sionista. E foi isso que fez com que o apoio iraniano continuasse a ser dado a Israel mesmo depois das violações cometidas pelos sionistas após o início da primeira guerra árabe-israelense em 1948. O governo iraniano aprovou as táticas de Israel e a mazela de mais de 700.000 palestinos que foram deslocados de sua terra natal pelas milícias sionistas, na Nakba.
As relações entre Irã e Israel seguiram o plano até que em 1951 Mohammad Mosaddegh se tornou primeiro-ministro do Irã e liderou a nacionalização da indústria petrolífera, que era monopolizada pela Grã-Bretanha, rompendo laços com Israel, que considerou servir aos interesses ocidentais na região. Nessa época já havia uma grande mobilização anti-sionista no Irã, como por exemplo a do líder religioso Navvab Safavi, que se posicionou e agiu fortemente contra o colonialismo, o sionismo e o estabelecimento de Israel. Só que as coisas mudaram de novo quando o governo de Mosaddegh foi derrubado num golpe organizado pelos serviços de inteligência do Reino Unido e dos EUA em 1953, que restabeleceu o governo do Xá, que reforçou ainda mais seu papel de aliado do Ocidente na região.
Israel até mesmo estabeleceu uma embaixada em Teerã, e os laços comerciais cresceram entre os países, com o Irã se tornando um importante fornecedor de petróleo para Israel, existindo até mesmo um oleoduto para enviar petróleo para Israel e depois para a Europa. Teerã e Tel Aviv também tiveram uma extensa cooperação militar e de segurança no aparelho de repressão do governo do Xá, que foi em grande parte mantida em segredo para evitar provocar as nações árabes e o povo iraniano. Especialistas até dizem que Israel precisava mais do Irã do que o contrário, mas que o Xá também queria se aproveitar de um meio para melhorar as suas relações com os EUA e o Ocidente.
Outro ponto importante é que Israel tinha interesse especial em fortalecer e ter ligações com o serviço iraniano de segurança e inteligência (SAVAK), que foi treinado pela Mossad, e era usado pelo Xá para reprimir qualquer oposição ao seu governo. Enfim, a história mostra que o Xá era motivado principalmente pela necessidade de alianças políticas e comerciais, e que em nada se importava com os palestinos nas suas relações com Israel.
Mas em 1979, a revolução trinfou e o Xá foi deposto, nascendo a nova República Islâmica do Irã. Neste momento histórico, o Ayatulah Khomeini, o líder da revolução, trouxe uma nova visão do mundo, que defendia o Islã e o enfrentamento das potências mundiais “arrogantes” e dos seus aliados, que oprimiam os outros para servir os seus próprios interesses. Com isso, Teerã cortou todos os laços com Israel, a embaixada israelense em Teerã foi transformada na embaixada da Palestina e o Imam Khomeini declarou todas as últimas sextas-feiras do mês sagrado de Ramadã como o Dia de Jerusalém, em apoio aos palestinos. Isso mostrava que o Imam Khomeini tratava a questão palestina como não apenas uma causa árabe, e sim como uma causa de caráter humano e islâmico, e o Irã passaria não apenas a defendê-la, mas a promovê-la com protagonismo. Uma causa rumo à união islâmica e humana, onde as divisões árabe-persa, sunita-xiita, muçulmanos e não muçulmanos seriam superadas, o que assustava as grandes potências e seus aliados, fazendo crescer a perseguição e propaganda anti-Irã e anti-revolução.
Ao longo dos anos, Israel apoiou uma variedade de ações militares e políticas contra o Irã, incluindo nesta lista o apoio direto à grupos diversos, inclusive organizações terroristas, algumas delas sediadas na Europa, no sudeste do Irã e no Curdistão. A inimizade cresceu ao longo das décadas, e hoje o Irã apoia uma rede de resistência em vários países da região, incluindo Líbano, Síria, Iraque e Iêmen, aliado a movimentos políticos e sociais que também apoiam a causa palestina e vêem Israel como um invasor colonial.
As tensões entre Irã e Israel não se limitam à luta ideológica ou grupos proxy, sendo constantes as sabotagens e ataques de Israel à infraestrutura e ciência iraniana, e as tentativas de difamar e destruir o programa nuclear iraniano, que é energético, e não militar.
Curiosamente, ao contrário da crença comum, os judeus que vivem no Irã consideram mais fácil praticar a sua religião hoje do que antes da Revolução Islâmica, isso de acordo com os líderes e membros da comunidade judaica em Teerã. Poucos sabem, mas a comunidade judaica do Irã é a maior do Oriente Médio fora de Israel, e sente-se segura e respeitada, o que mostra que o sionismo e o colonialismo não encontram eco nem entre os judeus do Irã, e que a luta antissionista é humana, e não religiosa.