Por: Fundação Al Balagh
Em Nome de Allah o Clemente o Misericordioso
Primeiramente, atentemos para as seguintes perguntas:
– O caminho da vida se faz sem espinhos ou percalços?
– Há um ser humano neste mundo que viva sua vida sem ter problemas?
– O problema é o fim da jornada, ou é algo que se não for resolvido a vida chegará ao fim?
– Existe algum problema que não tenha solução?
– Podemos utilizar algo de um problema, como experiência no curso da vida, que futuramente, auxiliará a nos livrarmos dos problemas?
– Quais as razões que nos fazem cair em problemas?
– É a nossa ignorância responsável por isso? Ou os outros é que são responsáveis?
– Existem causas subjetivas ou causas objetivas para os problemas?
Essas questões e outras estão relacionadas à natureza de um problema, suas causas, ocorrência e resultados. Soluções podem ser sugeridas e apresentadas para nós quando iniciamos um modo de viver com autoconfiança, esperança e confiança em Allah, o Exaltado, o Glorioso.
Sem dúvida, não somos os primeiros a sofrer com problemas, quer sejam eles difíceis ou fáceis de solucionar. Uma vez que o homem deseje viver integralmente, se confrontará com alguns obstáculos e problemas, e isso o fortalecerá física e mentalmente, enriquecerá sua experiência pessoal e o tornará apto a enfrentar futuros desafios.
Adão e Eva cometeram o pecado que se tornou o primeiro problema, quando se aproximaram da árvore proibida e comeram de seu fruto, ao serem seduzidos por Xaitan. Desde o advento da criação, houve o problema do ciúme e da inveja entre dois irmãos, Caim e Abel brigaram por causa da aceitação do sacrifício de um e a rejeição do sacrifício do outro; a vida sobre a terra com problemas então se propagou. Sem problemas, a vida seria diferente e os assuntos transcorreriam em paz sem causarem aborrecimentos, enfastio ou tédio.
Os problemas – segundo o que descrevem as pessoas que viveram e provaram a amargura e a doçura da vida, são como temperos no alimento. Não são os temperos que dão sabor? O alimento sem sal não nos parece ruim e intragável, não podendo ser comido senão com dificuldade?
Assim, um problema pode ser considerado como o sal da vida, e, dessa perspectiva, é algo que não tem que conter necessariamente aflição, temor, antipatia, isolamento e depressão. Portanto, as pessoas se posicionam de duas maneiras em relação aos problemas:
Às vezes, uma pessoa que foge de um problema se assemelha a um avestruz escondendo sua cabeça na areia, pensando que com isso todo o seu corpo estará oculto da visão de um caçador. Na realidade, essa atitude nem a esconde tampouco a livra das mãos do caçador, ela apenas engana a si mesma pensado estar segura.
Outra pessoa enfrenta seu problema de diferentes formas e procedimentos. Usa seu intelecto ou busca a solução em conjunto com as demais. Essa pessoa não descansa até que esteja capacitada a resolver o problema e depois disso, encara a vida com um elevado espírito de confiança e se torna apta a enfrentar obstáculos e dificuldades.
Esses obstáculos, problemas e dificuldades são como pedras que interrompem o curso da água de um rio. Assim, se a água parar diante de cada pedra e esperar até que o caminho esteja desobstruído, estagnará. No entanto, a água resolve o problema, quer seja removendo a pedra, empurrando-a para a margem ou carregando-a, ou ainda, busca outro rumo para continuar seu curso quando a primeira alternativa não for possível. Assim sendo, o caminho da vida nunca foi e nunca será fácil ou provido de flores e de doces frutos.
Nunca veremos um indivíduo dizendo que viveu sua vida sem problemas, pois mesmo os ricos, os que possuem um alto padrão de vida também têm problemas; e muitas vezes, esses problemas são o resultado do luxo, do esbanjamento e do bem estar. É indubitável que, qualquer problema ou dificuldade que alguém possa ter, terá uma solução se buscarmos seriamente por isso. Com confiança, podemos dizer que não há problema que não tenha solução. O que há é uma vítima para o problema, segundo uma expressão americana sobre a pessoa que não encontra solução para o seu problema. Portanto, o problema, na verdade, indica algo mais complicado que pode exigir um esforço ou um raciocínio extra para uma solução pessoal.
Nós, verdadeiros crentes em Allah, Exaltado seja, não acreditamos que algum problema permaneça para sempre sem uma solução. Allah, o Onipotnete, diz no Alcorão: “Em verdade com a adversidade está a facilidade, certamente, com a adversidade está a facilidade”. (96 – 5,6)
Um jovem tinha um amigo sincero, educado e conselheiro. Certa vez, esse amigo o ouviu dizer a outro que estava com um problema, e este disse: “Não pense (sobre o problema), certamente o problema tem um diretor”. Seu sábio amigo respondeu: “Ó meu amigo: Pense (sobre o problema), ele tem um diretor!” Assim, esse amigo deu-lhe uma importante lição para enfrentar e superar um problema. Se recorrermos ao dicionário encontraremos o termo “fakir” (pensar) e entre seus significados há este: “Pensar sobre um problema e usar seu intelecto a fim de alcançar uma solução”.
O ganho, que os problemas nos deixam, é o aumento da força que nos provê de espiritualidade, semelhante a água que flui na direção de uma meta, sem ser impedida por pedras ou rochas. Não devemos lamentar sobre nossa condição nem aumentarmos nossa queixa, aborrecimento, tristeza ou desespero. Cada problema ativa, como uma vacina que nos protege ou nos imuniza contra outras doenças. Assim, empregar corretamente a experiência de um problema nos faz utilizar a perda como um ganho. Porém, uma vez que a experiência se repita e caiamos no mesmo problema, o seguinte dizer se aplica a isso; “Uma raposa não cai duas vezes numa mesma armadilha. Se um homem me enganar uma vez, é uma vergonha para ele, se me enganar duas vezes, a vergonha será minha”. Se um homem se frustra uma vez, deve tirar lição disso e não se colocar na mesma situação que causou sua frustração. É como a escola da vida na qual aprendemos mais de nossos erros, problemas e sofrimentos do que dos dias em que estamos livres de tudo isso. Portanto, Quais são as razões que nos fazem cair em problemas e quais são os meios para que estejamos protegidos dos problemas? Nas páginas seguintes nos dedicaremos a encontrar respostas para essas perguntas.
Como os Problemas Ocorrem?
Quando muito jovens, nossos problemas são os problemas comuns a todos, que ocorrem a cada um de nós. Os problemas que encontramos nas primeiras fases da vida são causados por fatores dos quais ninguém está livre, exceto aqueles que tenham recebido uma educação correta.
Entre as razões para o surgimento dos problemas está a falta de experiência. Durante a primeira fase de nossa vida prática, é natural que encontremos dificuldades, cometamos erros e com isso, nos deparemos com mais problemas; o que se deve a ordem natural das coisas, não temos culpa alguma por isso, uma vez que, a vida é um mestre de primeira classe na arte de enfrentar os problemas futuros.
Há o problema preocupante das alterações psicológicas e físicas que acompanham o processo que resulta na maturidade, no desenvolvimento das glândulas genitais e o surgimento das características masculinas e femininas. O que é seguido pelo aparecimento de espinhas na face, que têm um efeito temporário sobre a aparência causando um estado natural de aborrecimento que é sentido por todos, homens e mulheres.
Nessa idade, os devaneios, o acanhamento e a influência do medo da crítica se ativam. Tais fenômenos, embora se pareçam com problemas, não os são, pois se tratam de condições facilmente solucionadas. Para isso, não precisamos mais do que conhecer a nós mesmos e nos aproximarmos de nossos pais, aqueles que possuem a experiência sobre as características peculiares dessa idade, a fim de sermos capazes de lidar com as nossas necessidades, e com isso, superar facilmente tais dificuldades como em qualquer outra fase do desenvolvimento.
Assim, os problemas da puberdade freqüentemente resultam da incompreensão entre duas gerações ou de dois modos distintos no trato com a vida. Por conseguinte, nas famílias que são conscientes acerca da natureza dessa fase, a incidência de tais problemas diminui consideravelmente.
Também encontramos entre as razões para o surgimento de problemas nessa fase da vida a incapacidade de adaptação social, ou seja, a imaturidade ou a imperfeição no relacionamento social dos jovens. Essa é uma questão em que não há nenhuma gravidade, uma vez que sabemos por experiência que nada permanece imperfeito para sempre. Com o decorrer do tempo, a extensão e a diversificação da rede de relacionamentos alcança-se o estágio de maturidade.
De fato, os problemas surgem como resultado da ignorância no que diz respeito à natureza da sociedade, das pessoas e das interrelações, o que pode, às vezes, conduzir ao isolamento e a introversão. E isso não é uma solução ideal para o problema. Aderir ao conjunto social, interagir e aprender a suportar seus impactos edifica a personalidade do jovem e fortalece a árvore que se torna apta a resistir a todas as tempestades, enquanto que, o isolamento a fragiliza, levando-a a dobrar-se diante de qualquer vento suave.
Na realidade, um indivíduo introvertido jamais resolve problema algum, ao contrário, adiciona outro problema ao primeiro. Quando aprendemos a enfrentar os problemas, começamos a receber qualquer problema de boa vontade, uma vez que nos faz mobilizar nossas melhores energias pessoais. Uma tradição do Profeta (S.A.A.S.) diz; “Os que enfrentam os problemas e suportam os revezes que trazem são melhores do que aqueles que não o fazem”.
Outro fator gerador de problemas é que os jovens tendem a perceber o sistema de normas sociais como algo que contém vários equívocos, complicações e dificuldades. Com isso, tentam expressar sua recusa por meio da crítica ou transgredindo algumas normas e velhos costumes, ao ponto de até mesmo demonstrarem um comportamento contrário ao próprio sistema, o que cria mais problemas.
A propensão dos jovens ao isolamento e a introversão os fazem ocultar seus erros daqueles que possuem experiência; o que também causa muito sofrimento psicológico. Essa situação pode ser evitada se houver um ambiente de sinceridade entre os jovens e suas famílias. Certa vez, uma revista voltada para o público jovem fez uma pesquisa intitulada “A quem o jovem revela seus segredos?” O resultado resumido dessa pesquisa, que foi realizada com adolescentes de ambos os sexos, diz que os jovens revelam seus segredos – em diferentes graus – para: amigos mais velhos; os amigos que os compreendem, isto é, os que estão propensos a entender sua apreensão, opiniões e temperamento; seus irmãos mais velhos, ou seus primos, com quem tem afinidades; e a maior parte dos jovens declarou não revelar seus segredos aos pais. A questão levantada reflete a debilidade da continuação social que se edifica na confiança mútua entre pais e filhos, o que causa uma perda de ambos os lados.
Com respeito à pesquisa mencionada, alguns psicólogos e sociólogos expressam a opinião de que os jovens tendem a revelar seus segredos àqueles que são confiáveis (no sentido de discrição) e que os aconselham sem que com isso os façam sentirem-se culpados. Portanto, preferem os amigos íntimos do que as pessoas mais velhas. Todavia, se os pais tornassem um hábito falar francamente com seus filhos sobre seus problemas e segredos, certamente a criança cresceria entre eles, o que contribuiria por um melhor comportamento e entendimento.
Além dos problemas já abordados, há a obstinação, a tendência ao desafio, o amor à discussão e a recusa a submeter-se às exigências e responsabilidades que são problemas comuns que ocorrem aos jovens, perturbando e causando dissabores aos demais. É provável que a tendência do jovem à independência e à liberdade ou a insistência dos pais em manter velhas restrições além de acrescentar outras aos filhos, tornem o problema ainda mais complexo. Em vez de entender que as atitudes juvenis são naturais (de manter os segredos na transição para a maturidade) os pais olham para eles como se ainda fossem crianças, quando já ultrapassaram a fase da infância. A esse respeito, um poeta diz, “Leila é ainda, aos meus olhos, uma criança; e ela não cresceu senão um dedo a mais do que ontem.” Ademais, os problemas do excesso e da negligência são típicos dessa fase. Os jovens podem se exceder em alguns assuntos ao ponto do exagero ou negligenciar outros há um nível inaceitável. Essa condição abala a idéia que os pais e parentes fazem a respeito do comportamento de seus filhos, o qual passa a refletir desorientação, dúvidas, preocupações e desequilíbrios.
Por isso, entendemos que um jovem, seja em seu primeiro estágio da puberdade ou em seus primeiros anos, não é agressivo em sua natureza, ao contrário, é terno e dócil, porém, atravessa o período de transformação para desenvolver uma personalidade. O que requer dele confiança interior, concentração em seu contentamento e formação de sua posição perante a vida, a religião e as pessoas. Assim, seu comportamento, que parece estranho e incomum causando medo e preocupação, não o é na realidade, mas sim, resulta do desenvolvimento de seu corpo, de seu intelecto e de seus sentimentos, não por motivações ruins.
O Problema dos Jovens
Um jovem e uma jovem têm tanto problemas peculiares como problemas comuns a ambos. Receio, acanhamento, pessimismo, desânimo, problemas que dizem respeito à atração natural pelo sexo oposto, problemas vocacionais e familiares. Cada um desses tópicos possui subdivisões que não são relevantes em nossa discussão no momento, uma vez que nosso objetivo é discutir o problema e não algo específico.
Porém, não devemos esquecer que alguns dos dissabores que um jovem atravessa se devem à falta de autoconfiança, ao conflito com os pais e às exigências por independência. Naturalmente, a independência aqui difere do conceito de independência adotado na cultura ocidental. Ainda que um jovem púbere seja independente, legal e formalmente, não deseja se separar do ambiente familiar, onde se sente seguro, tranqüilo tendo atendidas muitas de suas necessidades sociais, psicológicas e práticas. Portanto, a independência aqui não tem o sentido de separação do fruto da árvore.
O problema da atração pelo sexo oposto, o desejo de se casar e construir uma família também ocupa a mente e são pensamentos de um adolescente. Chamamos a isso de problema devido as complicações que recaem sobre um jovem, devido as normas familiares e sociais, a respeito do custo do dote e as crescentes despesas que implicam a formação de um lar. O mesmo se aplica à jovem, que se depara com preocupações semelhantes, tais como a situação de se ver forçada a abandonar os estudos para ficar em casa, ou o problema de ser forçada a se casar com alguém que não deseje ou a não trabalhar depois de ter terminado seus estudos, ou ainda o problema de descriminação num lar, que cria um tipo de ciúme, inveja ou rivalidade entre irmãos. É possível que um jovem sofra em razão de pertencer a uma grande família que seja contrária a uma opção que implique em declínio no nível cultural, material ou religioso. Contudo, esses e outros problemas, que dizem respeito ao ambiente em que o jovem vive variam de acordo com os padrões culturais e psicológicos do indivíduo e também, com a sociedade em que está inserido, começando pela família, passando pela escola, o colégio e terminado no ambiente de trabalho e no meio social.
A propaganda também desempenha um papel importante para afastar boa parte dos problemas dessa idade, substituindo a exibição de filmes violentos, que tenham como temas o uso de drogas, o sexo, a revolta e a amoralidade por programas bem produzidos sobre a vida social, o que diminui a pressão de alguns dos problemas e crimes sociais.
Não é correto considerar o jovem o único responsável por tais problemas, devemos culpar igualmente os fatores sociais que o rodeiam e que influenciam seu progresso na vida, suas decisões e procedimentos.
Escapando dos Problemas
Escapar de um problema se assemelha a tentar fugir de uma doença. Em outras palavras, não dar atenção ao problema faz com que se agrave sem uma cura, enquanto que poderia ser facilmente resolvido no início. Contudo, uma vez que seja ignorado o problema apresenta complicações inesperadas.
Às vezes, o problema pode ser tão complicado que algumas pessoas tentam escapar de várias maneiras e tal atitude chega a custar suas próprias vidas. Se no início tivessem se esforçado e usado seu tempo e raciocínio, teriam chegado a uma solução com facilidade. Infelizmente, alguns jovens recorrem a medidas detestáveis e ilícitas para se livrarem de um problema. Chegam a mentir para alcançar seu objetivo ou furtar algo para satisfazer sua necessidade material ou saldar alguma dívida; e em alguns casos recorrem à fraude para passar num exame. Há os que, para terem um alívio em sua dificuldade, utilizam de agressão, ofensas e insultos ou mesmo de violência física, o que complica ainda mais a situação.
A situação se torna ainda mais perigosa e complicada quando um jovem, para escapar dos problemas que enfrenta, recorre ao uso de drogas ou álcool. Imagina que essas coisas possam fazê-lo esquecer – ainda que temporariamente – de seu sofrimento. Mas, ao fazer isso, acrescenta mais aflições e problemas tornando-se prisioneiro do vício e um transgressor (da lei divina) enquanto seus problemas permanecem sem solução.
Entre os mais perigosos meios de se tentar escapar dos problemas está o ato de por um fim à própria vida. Os pessimistas e os fracassados consideram o suicídio a solução mais apropriada diante de grandes problemas. Não são capazes de ver nenhum outro meio de se salvarem da pressão de seu sofrimento senão pelo ato suicida.
De fato, algumas estatísticas a respeito do suicídio demonstram que sua maior incidência está entre os 16 e 20 anos; a idade de transição da puberdade para a maturidade. Às vezes, ocorre por razões fúteis, quer seja por uma forma de vingar-se de outras pessoas ou para se livrar de uma situação de severa privação que o indivíduo esteja sofrendo, ou ainda, para escapar de dificuldades que em certo momento são percebidas como insuportáveis.
Não obstante, alguns psicólogos julgam que o suicídio seja uma expressão de amor-próprio, uma vez que o indivíduo luta para se salvar de um tormento. Porém, consideramos tal amor algo mórbido e mortal. Assim, a vida criada por Allah com Sua Sabedoria e Misericórdia é e sempre será uma escola na qual aprendemos diversas soluções, e não apenas para os problemas que enfrentamos. Então, porque escolheríamos a pior e a mais irracional de todas as soluções para os nossos problemas?
O Suicídio é, em si, um Problema, Nunca uma Solução:
Na verdade, não há razão, por mais convincente que possa parecer, para que uma pessoa cometa suicídio. Não é apenas um ato irracional, também acarreta a danação no Fogo Infernal. Allah proibiu o ato contra a vida exceto por um motivo justo. Ao cometer suicídio, o indivíduo está a dizer: “Sim, cheguei ao ponto do desespero, cheguei a um beco sem saída e não há solução diante de mim senão por um fim aos meus problemas acabando com a minha vida”. Se examinarmos cada problema distintamente, veremos que existe sempre a possibilidade de nos livrarmos de qualquer dilema que estejamos sofrendo e que há outra solução que não o suicídio.
Como Raciocinamos para Resolver os Nossos Problemas?
Psicólogos consideram que o raciocínio sobre um problema passa por quatro fases, o que capacita tanto o adulto como o jovem a chegarem à solução:
1 – a fase da confissão ou da conscientização da existência do problema; pois muitas pessoas não querem reconhecer que há um problema e nem tentar entendê-lo. Por conseguinte, a solução se torna mais difícil.
2 – a fase da produção de idéias e suposições na busca de uma possível solução.
3 – a fase de tomada de decisão seguindo uma apropriada suposição, isto em, decidir por um caminho a seguir e confiar que a solução seja possível seguindo tal procedimento.
4 – a fase da escolha da maneira de por em prática uma idéia ou suposição em busca da solução.
Entretanto, essas fases – como outras que veremos – não são um tipo de determinismo, não há a necessidade de relembrá-las para se alcançar a solução de um problema, para isso, muitas vezes é suficiente seguir algumas fases mencionadas. Em geral, precisamos especificar um problema descobrindo sua fonte e resolvendo sua causa ou as motivações ocultas a fim de resolver esses pontos e não os efeitos aparentes.
É provável que precisemos da cooperação de pessoas experientes em quem confiemos. Mas, o papel do jovem ainda é o mais importante na resolução de seu problema, para que aprenda a enfrentar problemas futuros. Assim sendo, devemos resolver nossos próprios problemas. E concordemos que aquele que age errado deve corrigir seus próprios erros e que cabe àquele que causa um problema se esforçar em sua solução e na supressão de suas conseqüências. A esse respeito, um provérbio diz: “Ninguém coça as minhas costas por mim”. No entanto, não devemos adotar isso como uma norma durante toda a nossa vida. Portanto, devemos procurar a ajuda, em tais circunstâncias, das pessoas mais experientes, pois mesmo as nações buscam a ajuda de outras quando isso se faz necessário.
Entre as formas de bondade e piedade estão: a busca de ajuda para vencer as dificuldades e resolver os problemas e o auxílio ao aflito que está em necessidade.
Qual é a nossa responsabilidade no caso da ocorrência de um problema?
1 – Devemos nos perguntar (por exemplo): Onde está o problema? O que o causou? Fiquei irritado, ansioso ou agi de modo impensado? Foi o medo que forçou a cometer isso ou o ciúme, a vingança ou o que então? É possível buscar perdão para os meus erros ou confessar os meus pecados reconhecendo que os cometi conscientemente? Onde está a porta pela qual sairei desse dilema?
O dono do problema é como um advogado que busca estudar o cerne do problema detalhadamente. Não negligencia coisa alguma da questão. O indivíduo deve ser um árbitro justo, o que exige reconhecimento do erro ou uma declaração de inocência, ou seja, dizer a verdade mesmo que seja contra si mesmo ou justiça para com um opositor. Estamos prontos para isso?
O Alcorão esclarece a questão e propõe a cura pela fé na história de José: de fato, a questão parece um tanto difícil. A esposa do rei tenta seduzir a José. Em seguida, ela o acusa injustamente, porém, não permanece envolvida no crime até o fim. Nós ouvimos sua confissão: “…eis que tentei seduzi-lo e ele resistiu. (Alcorão 12:32)” “Eu não me isento de culpa, desde que o ser é propenso ao mal exceto aqueles de quem o meu Senhor se apieda…” (Alcorão 12:53) “Agora a verdade se evidenciou. Eu tentei seduzi-lo e ele é certamente um dos verazes”. (Alcorão 12:51)
Certamente que, a fé de uma pessoa é maior do que o seu pecado e a verdade não é apenas mais preciosa para ela, como também é mais preciosa do que ela própria. Se algum de nós quiser saber o quanto é justo, deve perguntar a si mesmo: “Estou pronto a dizer a verdade e confessar meus erros a qualquer custo?” Se a resposta for positiva, então, ele é justo, pois sua justiça consigo mesmo e com seus opositores será uma proteção aos demais contra sua violência, injustiça e ofensas.
2 – Não devemos ligar nosso problema a um ponto específico, nem culpar nossa família ou acusar uma pessoa inocente, tampouco culpar a sociedade inteiramente por nossos próprios erros. Diz o Alcorão: “… e nenhum pecador arcará com as culpas alheias”. (6:164) Portanto, pôr tudo em seu lugar apropriado, carregar o seu próprio fardo e deixar que os outros assumam suas próprias responsabilidades é o que devemos fazer. Porque, na maioria das vezes, enxergamos um cisco nos olhos dos outros enquanto não vemos uma trave em nossos próprios olhos. Se eu confessar os meus erros, encontrarei certamente a solução certa para o meu problema.
3 – A mentira está na base de todos os males. É como uma chave que se ajusta a todas as portas. Não obstante, a corda da mentira é curta e um mentiroso será sempre descoberto. Devemos então estar certos de que a mentira poderá nos poupar num momento, porém, a verdadeira salvação se encontra na verdade exceto numa situação em que mentir seja permissível, como ao lidar com inimigos.
Vivemos numa sociedade dominada pela mentira, na qual uma pessoa autêntica não é tolerada nem a verdade é valorizada, pois a maioria ama a mentira em razão de sua longa ligação a ela. O problema da mentira não está (somente) no prejuízo ao outro, mas, sobretudo, na substituição da verdade que o indivíduo conhece bem, falando o contrário. Aceitamos estar entre os injustos? E que a verdade esteja entre nossas vítimas?
4 – A ira é uma explosão violenta de emoções e sentimentos de indignação, que acende uma grande fogueira e causa uma nuvem de fumaça. Uma palavra exaltada pode incendiar a terra verdejante, destruir uma área inabitada e quebrar os ossos de tal maneira que se torne difícil emendá-los. De modo geral, os problemas têm grande influência nos estados de ira, sobretudo quando uma palavra é dita para se opor a outra, um golpe contra outro, uma ofensa contra outra pior e um ato proibido contra outro proibido.
Assim sendo, uma pessoa deve se comportar como uma esponja que suga a ira alheia; ou como água que apaga o fogo da excitação. Deve se refrear do mal alheio e de seu próprio mal por meio do autocontrole. Dessa maneira, será capaz de controlar as chamas do problema antes que aumentem, de conseguir controlar a crise a fim de encontrar um modo de resolvê-la.
A esse respeito, quão belo, prático e delicado é o conselho de Imam Ali (A.S.), que diz: “Remova o mal do peito de teu irmão removendo o mal que há em teu peito”. É realmente uma abalizada e bem sucedida descrição de como se resolver a maior parte dos problemas de relacionamento; é um conselho ouvido pelos atentos que compreendem, reconhecido pelos melhores e sábios indivíduos, recordado pelos sensatos nos momentos de exaltação dos sentimentos, de disputas ou querelas.
5 – Ser demasiadamente ingênuo é um campo fértil para a geração de problemas. Os exploradores, os enganadores e os lobos humanos que estão ao nosso redor não são poucos; e aqueles que brincam com os valores e os princípios morais das pessoas estão espalhados por toda parte, Assim, se existem pessoas de moral corrompida na sociedade, porém, continuamos a ter uma boa idéia acerca delas, nos deixaremos cair em problemas cuja solução se tornará impossível. Portanto, o princípio jurídico que diz: “a lei não protege os tolos”, deve ser um sinal de alerta para nos avisar do perigo.
Às vezes, sua suposição de que o outro é tão bom como você é, que tem um bom comportamento, que é leal e verdadeiro, na realidade, não é correta. Há muito mal (nessa atitude) que dá oportunidade a outras pessoas o explorarem e fazerem com que você caia em problemas inimagináveis.
6 – Existem lugares suspeitos, ao redor dos quais existem coisas duvidosas. Se um jovem freqüentar tais lugares, certamente não estará somente num local escuso, também se colocará na posição de suspeita, não haverá quem o desculpe por esse hábito. De fato, alguns problemas surgem por não tomarmos precauções.
7 – Existem conceitos e termos que são muito confusos e causam vários problemas em razão dos diferentes entendimentos que suscitam. Alguns jovens podem pensar que – sob certa inspiração social – enganar a outros ou acusá-los injustamente pode ser algo próprio de alguém que é inteligente. Outras vezes um jovem vê a amizade entre os dois sexos como algo absolutamente natural, uma vez que a amizade entre pessoas do mesmo sexo é uma amizade inocente. Outros jovens podem entender que heroísmo seja demonstrar força contra os fracos ou zombar de seus irmãos, amigos e professores ofendendo a dignidade das pessoas. Há os que crêem que a música dos que seguem um estilo de vida corrupto e depravado é uma espécie de arte, e assim por diante.
Se o sentido desses termos muitos amplos e indistintos não for corretamente especificado nós os aplicaremos de modo equivocado o que criará confusão, discussões e conflitos. Inteligência significa fidalguia, generosidade, brilhantismo e destreza; amizade não significa o relacionamento entre os dois sexos; heroísmo é ajudar o oprimido e impedir o opressor, devolver o direito do injustiçado e ter opiniões claras e corajosas. E brincadeira, se excede os limites do bom comportamento e da boa educação, afasta a seriedade e o respeito violando os direitos da irmandade, da paternidade e da amizade.
8 – O ato de expressar nossas idéias e pensamentos deve ser executado de maneira nobre, correta e segura a fim de que alcancemos a mente do interlocutor através de seu coração. Porém, se expormos nossas idéias por meio da imposição e com o uso de gestos desordenados, certamente poremos a perder nossas idéias corretas, que não podem ser expressas senão de um modo adequado, e perderemos também aqueles a quem desejamos convencer. De fato, os problemas que resultam dos conflitos ideológicos, em sua maioria, são causados pelos meios repulsivos que põem a perder e não reconciliam, que hostilizam e não fraternizam, e que separam e não unem.
A Doutrina dos Problemas
Nós, como jovens muçulmanos, rapazes e moças, seguimos as leis do Islam em nossa vida diária. O que significa que recorremos à Shariah para conhecer o que é lícito ou ilícito, uma vez que essa atitude nos protege de cair em problemas no mundo e nos protege também da ira de Deus e de Seu descontentamento na vida futura.
Portanto, se sabemos que aquilo que nos induz ao ilícito, também o é, certamente nos guardamos das coisas que nos levam a incorrer no ilícito. Por exemplo, não apenas a fornicação é ilícita, mas também todas as coisas que a motivam: o embelezamento sensual, a conversação imoral, as fotografias que expõem o corpo, o comportamento desavergonhado ou as canções com temáticas imorais, pois são as portas pelas quais entramos no vasto campo do ilícito.
O mesmo se aplica às práticas fraudulentas ou a utilização de meios escusos, que são satânicos e extraviados, embora alguns pensem que façam parte da Sharia’h islâmica. Por exemplo, os que observam o Sábado – segundo o que nos diz o Sagrado Alcorão – proibiam a caça nos sábados, e no entanto, punham redes e cavavam poços no dia anterior, de modo que os peixes eram pegos e os animais caíam no sábado, para que facilmente pudessem pescá-los e caçá-los no domingo. De acordo com o ponto de vista daqueles que abusam da religião, tais ações (utilizar o haram na forma de engano) são consideradas lícitas.
As necessidades (justas) não conhecem lei e não há nada proibido por Allah no que Ele tornou lícito para aqueles que são forçados a isso: “…quem, sem intenção nem abuso, for impelido a isso, não será recriminado”. (Alcorão 2:173)
A esse respeito os jurisconsultos dizem que a necessidade é avaliada de acordo com a sua importância, ou seja, a pessoa obrigada não deve transgredir ou exceder os limites no uso do que é proibido.
Essa generosa lei da jurisprudência elimina muitos sofrimentos e dificuldades que os jovens muçulmanos enfrentam nos momentos de extrema necessidade, nos quais Allah provê alívio e saída. Allah, o Onipotente, diz: “E não vos impôs dificuldade alguma na religião”. (Alcorão 22:78) Devemos saber também que no Islam, os fins não justificam os meios; a boa intenção não justifica o cometimento do ilícito. Por exemplo, uma pessoa que furta para alimentar um faminto ou um pobre. Nesse caso, embora sua intenção seja nobre, os meios são malignos, pois o Islam deseja tanto a nobreza da intenção quanto a pureza dos meios de ação.
Conhecer ambos os campos, o do compromisso com o que seja bom e a proibição do que seja ilícito, é algo útil para nós, antes de agirmos. O que também nos ajuda a conhecer as causas do que é bom a fim de reduzir – tanto quanto possível – o ciclo do que é errado e nos distanciarmos de tudo o que nos faz cair no mal e nos problemas decorrentes, para que não sejamos lenha para o fogo.
Entre as boas ações estão:
a) O apego a Allah, o Onipotente o Glorioso, “Quem se apegar a Allah, se encaminhará à senda reta”. (Alcorão 3:100). De fato, vimos como Allah salvou Seus servos José (A.S.) e Davi (A.S.) das dificuldades por meio de seu apego sincero a Ele.
b) A perseverança diante das aflições e a renúncia ao que Allah proibiu (que também é um gênero de perseverança). O Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) diz: “Sê paciente. Em verdade, aquilo que te desagradas na paciência possui (em si) grande benefício. Saibas que o triunfo vem com a paciência e a alegria segue o dissabor. Em verdade, com a adversidade está a facilidade. Certamente, com a adversidade está a facilidade”. (Alcorão 94:5,6). E o Profeta Jesus (A.S.) disse: “A paciência é de dois tipos: a paciência em tempos de adversidade, a qual é imensamente benéfica, e aquela que é melhor do que a primeira: a paciência com aquilo que Allah, o Onipotente, proibiu”.
c) Castidade: Sobre isso, um hadith diz: “A melhor forma de adoração é a castidade do útero e dos genitais”.
d) Solidariedade: A esse respeito, Imam Al Sadiq (A.S.) diz: “Existem três indivíduos que não são conhecidos exceto em três ocasiões: O paciente não é reconhecido senão num momento de ira. O corajoso não é reconhecido senão no campo de batalha. O irmão ou o amigo não é reconhecido senão num momento de necessidade”.
e) A modéstia: A maior parte dos problemas são causados pela arrogância, a altivez e a vaidade.
f) O tratar as pessoas com justiça: O Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) disse: “A melhor das ações é assegurar os direitos das pessoas”.
g) A preocupação com os seus próprios defeitos: O Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) diz: “Abençoado seja aquele que é atento aos seus próprios defeitos, em vez de buscar os defeitos alheios”.
h) Reformar a si mesmo quando se desvia para o mal. Sobre isso, um hadith diz: “Aquele que se reconciliou com Allah, na verdade, se reconciliou com as pessoas”.
Ao lançarmos um olhar sobre alguns dos aspectos da bondade acima mencionados, percebemos que o zelo da legislação islâmica se destina a estreitar o espaço para os problemas sociais ao máximo possível.
Devemos imaginar como a nossa vida e a vida dos que nos rodeiam seria se considerássemos todos esses aspectos, ou ao menos alguns deles. Vocês não acham que a maioria dos nossos problemas resulta de uma desconexão com Allah, ou de nossa falta de paciência durante os momentos de dificuldade, ou por sermos seduzidos pelos pecados falhando na castidade, por ausência de modéstia ou de justiça com as pessoas, ou ainda, da falta de esforço contra o mal que há em nós mesmos?
Entre as Más Ações estão:
a) A ira: Um hadith do Profeta (S.A.A.S.) diz: “A ira é a chave de todos os males”.
b) A inveja: O Imam Ali (A.S.) disse: “Um crente não é adulador nem invejoso, exceto na busca por conhecimento”.
c) A opressão: A esse respeito, o Imam Ali (A.S.) diz: “O opressor, o que o apóia e aquele que aceita a opressão são parceiros”.
d) A obscenidade: O mensageiro de Allah (S.A.A.S.) diz: “Entre as criaturas a que mais desagrada a Allah é o homem que não mantém seus semelhantes a salvo de sua língua”.
Ao atentarmos para esses males que nos foram esclarecidos vemos que estão entre as grandes causas de problemas. A ira, que faz o homem se opor à verdade; a inveja, que o leva à transgressão; e a injustiça que destrói a equidade e tudo o que é correto. Quanto mais nos educamos para evitar esses males, mais os problemas decorrentes se reduzem.
Entre as questões da jurisprudência está a de conhecer a opinião da shari’ah a respeito da tutela de um pai sobre um filho (ou filha) física e mentalmente são. De acordo com a shari’ah islâmica, não apenas o pai possui a autoridade sobre os filhos até que alcancem a maioridade, eles também possuem certo grau de autoridade sobre si mesmos. É possível que, boa
parte dos problemas entre pais e filhos surja devido ao desconhecimento desse fato jurídico. Também é ilícito que um pai ofereça algo mal (errado) aos seus filhos ou que os impeça de algo bom, uma vez que “não há obediência à criatura na desobediência ao Criador”. Portanto, quantos problemas são causados em virtude do autoritarismo dos pais, quando exigem que os seus filhos obedeçam ou concordem com eles em assuntos que estão em desacordo com a Shari’ah islâmica. Por exemplo, às vezes, os pais forçam uma filha a casar com um homem com quem ela não deseja, quando o que é exigido do relacionamento entre pais e filhos é a bondade e não a obediência (incondicional). A esse respeito, Allah, o Onipotente, diz: “O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele; que sejais indulgentes com vossos pais…” (Alcorão 17:23)
É igualmente ilícito, do ponto de vista da Shari’ah, que os pais violem a intimidade dos filhos, seja abrindo suas cartas, revistando seus livros, agendas e bolsas, pois são coisas vedadas aos pais, (da mesma maneira que não gostariam que os filhos fizessem com seus próprios pertences). Os pais não têm o direito de violar a intimidade dos filhos, a menos que desejem protegê-los de um grande perigo, porém, tal atitude requer um meio gentil que não signifique violar a intimidade deles.
Esse foi um rápido olhar sobre essa questão legal, e existem outras questões que, se nos armarmos do conhecimento sobre os veredictos da shari’ah, estaremos aptos a resolver os problemas que resultam da ignorância.
Após essa jornada pelo mundo dos problemas, apresentaremos os esclarecimentos que seguem aos jovens, rapazes e moças, e esperamos que sejam um auxílio na superação de seus problemas:
1 – Todo problema tem uma solução, todo dilema tem uma saída. Um problema em si é uma bênção, pois ajuda na formação de idéias e soluções para os problemas futuros que tenhamos que enfrentar; mobiliza nossas energias a fim de que façamos o melhor diante do desafio representado por um problema. Nossa condição na superação de um problema se assemelha a dos glóbulos brancos no sangue diante de um ataque microbiano ao organismo: ativam o reflexo de defesa no corpo com toda sua força.
2 – Todo problema tem suas causas internas e externas, primárias e secundárias; tem também reflexos ao nosso redor e ao redor dos que estão próximos a nós, e ainda, soluções disponíveis. Por isso, é a falta de entendimento de um problema que nos afasta do caminho da solução. Acerca disso, os psicoterapeutas dizem: “Expresse tudo o que esteja ocorrendo em sua mente redigindo seus segredos, tristezas e problemas”. Que o indivíduo que tem o problema seja o seu próprio doutor, e que diagnostique sua doença e escolha um remédio adequado, porque reconhecer a causa do problema é metade da solução. É nosso dever não desviar a nossa alma, nem sermos arrogantes, tampouco buscarmos a fuga, quer seja para satisfazer nossos interesses ou para seguir a inclinação natural da alma para o mal.
3 – Compreensão e franqueza com outra pessoa que seja parte do problema (num relacionamento) é o melhor caminho para se chegar a uma solução. Às vezes, uma questão desse tipo requer certas concessões para um benefício maior, ou seja, a salvaguarda de uma amizade, de um elo fraterno, de uma vizinhança ou algum outro relacionamento. Um pouco de tolerância resolve grandes problemas, porque a intransigência é o próprio problema. Tente ser sempre aquele que dissolve a neve após a nevasca, mas, se o outro lado tomar a iniciativa, acate sua ação obedecendo a Allah, que diz: “… e se inclinarem a paz, inclina-te também”.
4 – Boas ações desempenham um papel importante na resolução de alguns problemas, porque Allah, o Glorioso, o Onipotente, conclama os verdadeiros crentes a construírem a reconciliação diante das hostilidades: “Sabei que os fiéis são irmãos uns dos outros, reconciliai, pois, os vossos irmãos…” (Alcorão 49:10). Portanto, os reformadores de uma sociedade não devem permanecer indiferentes às hostilidades e rivalidades de seus irmãos, devem buscar construir a reconciliação. Allah, o Poderoso, também chama a atenção para o compromisso entre os cônjuges: “E se temerdes desacordo entre ambos (esposo e esposa), apelai a um árbitro da família dele e outro da dela. Se desejarem reconciliar-se, Deus os reconciliará, porque é Sábio, Onisciente”. (Alcorão 4:35)
Se a parte contrária não estiver pronta para um acordo de forma direta, a mediação é útil para remover os obstáculos e normalizar a situação.
5 – “Aquele que pensa antes de agir, terá sua capacidade aumentada”. Uma cuidadosa reflexão em qualquer atitude que se adote, a consulta às pessoas experientes associada à calma antes de se tomar uma decisão, são fatores que auxiliam o indivíduo a controlar qualquer problema para que não se precipite, o que pode levar ao remorso.
6 – A cultura tem um papel importante quando precisamos encurtar a distância que nos separa dos outros. A bagagem cultural nos ajuda a adotarmos um bom procedimento e resolvermos os problemas. De fato, a cultura cria alternativas para a pessoa que está às voltas com um problema.
7 – Bons modelos também desempenham um papel em nossa educação para a resolução dos problemas. Recomenda-se, pois, a adoção do exemplo dos homens de retidão e do seu modo de lidar com pessoas que os desrespeitavam. O conselho, a orientação e a crítica construtiva serão mais bem aceitos e de maior utilidade se ministrados diretamente à pessoa. “Aquele que admoesta a seu irmão em particular, o respeita; e aquele que o faz publicamente, na verdade, o ofende”. De fato, um conselho ou uma crítica se feitos publicamente, podem levar a pessoa a quem foi endereçado a cometer mais erros. Então, se um indivíduo aconselhar positivamente, agradará e abrirá o coração do aconselhado, o que o levará a aceitar suas palavras e segui-las. Por exemplo, alguém pode dizer: “Seu comportamento é bom exceto por um hábito”. Esse modo de expressão faz o ouvinte receber a crítica ou o conselho com boa vontade, uma vez que a inclinação natural do indivíduo é a de aperfeiçoar seu comportamento.
8 – Ter um amigo sincero e leal é como ter um espelho que mostra nossos defeitos, o que diminui o risco de nos envolvermos em problemas. Um irmão fiel em Allah não elogiará os nossos erros e, por conseguinte, será um auxílio para que os evitemos.
9 – Se recordamos nossos erros, deslizes e ofensas ao nos colocarmos na posição do pecador, (ficaremos cientes de que) possivelmente cometeriam os mesmos erros. Tal atitude diminui a intensidade de nossa crítica, ajuda-nos a entender a situação daquela pessoa, elevando-a de sua condição.
10 – Às vezes, escrever uma carta contendo bons sentimentos e boas idéias pode dissolver uma montanha de gelo, ou uma ligação telefônica pode reavivar o calor humano de um relacionamento. Um presente – mesmo que seja simples – dado a uma pessoa para quem tenhamos sido injustos, eliminará a hostilidade de seu coração. Fazer uma visita a uma pessoa com quem estejamos em conflito poderá cortar a raiz do desentendimento. O ato de responder à injustiça com bondade certamente pode abrir o caminho para uma bondade ainda maior, mas quando respondemos à injustiça com injustiça, é certo que isso abrirá um caminho para o Fogo. A esse respeito, um hadith diz: “Eliminar um mal é enfrentá-lo com bondade”.
11 – Alguns problemas exigem serenidade emocional e um tempo para serem resolvidos. Portanto, o entretenimento ou uma viagem pode ser útil na resolução desses problemas. Sobretudo os problemas considerados de natureza psicológica (stress); e se tais medidas não são soluções pelo menos são capazes de diminuir a intensidade da crise, o que cria a oportunidade para uma solução posterior. Problemas desse tipo podem levar a uma disposição negativa à precipitação ou à atitudes irracionais que resultarão em remorso.
12 – Busquemos refúgio em Allah, o Onipotente, com súplicas e preces a fim de termos Sua misericórdia enviada sobre nós e o perdão de nossos pecados; para que recompense nossa bondade para com aqueles que romperam relações conosco. Uma tradição diz: “Visitar aqueles que te abandonaram e tratar com justiça aqueles que foram injustos contigo”. A esse respeito uma outra tradição diz: “Teu amor aos outros não deverá causar sofrimento, tampouco tua antipatia deverá prejudicá-los”. Busquemos refúgio Nele, com o pedido de perdão e o arrependimento, e depositemos em Suas mãos nossos problemas, tristezas e dissabores. Como é dito num du’a: “Está próximo de qualquer um que segue na direção Dele”. Entre as grandes soluções do Islam para alguns de nossos problemas espirituais, psicológicos e sociais está o método de buscar o perdão de Allah. Todavia, “abandonar o pecado é mais fácil do que o arrependimento”. Voltemos contritos a Ele se nos encontramos em dificuldade. Se todas as portas se fecharam para nós, a porta de Allah permanece diuturnamente aberta. O Onipotente diz: “Quem atende o necessitado quando implora, e liberta do mal e vos designa sucessores na terra? Poderá haver outra divindade em parceria com Deus?…” (Alcorão 27:62) Supliquemos a Ele Sua misericórdia, clemência, Bondade e perdão e peçamos a Seu Profeta (S.A.A.S.) e aos seus purificados descendentes (Ahlul Bait) que intercedam por nós diante Dele. Façamos votos de doações em caridade pedindo a libertação dos dilemas e crises. Visitemos os santuários, pois a súplica a Allah nesses locais consagrados certamente são aceitas e a “barakah” (bênção) dos que ali repousam, (em razão de sua nobre posição perante Allah) é vasta, especialmente para os arrependidos e os aflitos.
13 – Aprendamos com a experiência alheia, analisando os meios pelos quais resolveram seus problemas. Meditemos sobre os sermões e lições, pois na maioria das vezes se aplicam aos nossos problemas. Se o fizermos, a possibilidade de cairmos em problemas semelhantes será pequena; caso aconteça, esses ensinamentos serão meios úteis na busca de uma solução.
14 – Não receba erro algum com outro erro, ou uma ação puramente emotiva com outra, uma manifestação de irritação, ou uma injustiça ou uma atitude tola, revidando na mesma medida. Se o fizer, qual será a diferença entre você e uma pessoa insensata, má ou tola? Seja então mais realista do que o outro lado, mais tolerante, mais educado e mais sábio nas suas atitudes. Não alimente suas emoções ou a sua animosidade, controle-se, pois um pouco de equilíbrio e tolerância pode poupá-lo de muitos problemas. Além disso, uma atitude tola o levará a outra. De fato, uma simples divergência pode se ampliar à dimensão de um conflito se um dos lados não se comportar racionalmente. No passado se dizia: “O começo da ira é a loucura e o seu fim é o remorso”. E também se dizia: “Qualquer dificuldade é superada com o uso da lógica”.
15 – Alguns jovens recorrem à imaginação ou ao que os filmes e séries televisivas mostram na busca de uma solução para os seus problemas. Porém, nada encontram, uma vez que assim não conectam a realidade à imaginação por meio das pontes do intelecto, da sabedoria e do raciocínio bem dirigido. Desde que essas pontes sejam obtidas, a imaginação se esforça no sentido de traçar um conjunto de soluções e, em seguida, escolher a mais adequada a ser posta em prática.
16 – Conhecer a dimensão de um problema e a extensão de sua influência é uma questão que deve estar clara em nossa mente. O indivíduo pode ser influenciado por isso, desde que faz parte da sociedade. Por exemplo, a mentira não é somente um problema individual, isto é, do que é prejudicado pela mentira, ela também envolve o problema do mentiroso que viola a verdade com uma falsa alegação. O mesmo ocorre com a difamação que prejudica o difamado e também prejudica os que estão próximos a ele. Portanto, pense sobre o círculo de ação e a influência que um problema pode provocar com os males que resultam dele.
17 – Não devemos buscar somente a solução de nossos problemas pessoais, devemos também, buscar a solução dos problemas da comunidade muçulmana a qual pertencemos. Um hadith qudsi nos diz: “Aquele que se levanta pela manhã sem se preocupar com os assuntos dos muçulmanos não é um deles. E aquele que ouve alguém pedindo ajuda dizendo: “Ó Muçulmanos!”e não o atende, não é um (verdadeiro) muçulmano”.
Todo Louvor a Allah, o Senhor dos Mundos.