Dos Aspectos Ocultos e Aparentes do Alcorão

Por: Allamah Sayyed M. Hussain Tabatabai
Tradução: Ahmed Ismail

O Alcorão Sagrado utiliza uma linguagem que, como as linguagens simples, revela seu propósito em seu significado. Isto é, nunca é obscuro em sua argumentação.

Não há nenhuma evidência que o literal propósito do Alcorão seja alguma coisa à parte do sentido de suas palavras. A prova de sua simplicidade é que qualquer pessoa que seja familiarizada com o vocabulário pode facilmente compreender o significado de seus versículos, da mesma maneira que alguém que compreenda o significado de quaisquer outras sentenças em árabe.

Além disso, encontramos muitos versículos no Alcorão em que grupos especiais como os israelitas, os crentes, aqueles que ocultaram a verdade da religião, e freqüentemente todos os grupos de pessoas são citados, a quem seus objetivos são sugeridos e várias provas e razões são oferecidas (tais como “Ó povo do Livro” ou “Ó filhos de Israel”). Ou se aquelas pessoas duvidassem se o Alcorão seria a palavra de Deus, eram instadas a produzir algo igual. Obviamente endereçar-se às pessoas com palavras que fossem obscuras não teria sentido, e sugeri-las a produzir algo assim não seria racional. Em adição a isso, Deus diz:

“Não meditam, acaso, no Alcorão, ou que seus corações são insensíveis?” (C.47 – V.24)

“Não meditam, acaso, no Alcorão? Se fosse de outra origem, que não de Deus, haveria nele muitas discrepâncias”. (C.4 – V.82)

A argumentação do Alcorão é efetiva e aceita a reflexão que traga um senso de compreensão e esta reflexão resolva a aparente discrepância dos versículos que possam surgir em uma superficial e preliminar análise, isto é absolutamente claro. É óbvio que se faltasse aos versículos um significado manifesto não haveria nenhum sentido em refletir sobre eles ou em discernir suas discrepâncias por meio de reflexão.

Com respeito a declaração que não há nenhuma externa causa ou razão para negar a prova manifesta do Alcorão e que para compreender as idéias do Alcorão, deve-se recorrer às declarações do profeta (S.A.A.S.) e dos Ahlul Bait (A.S.), devemos dizer que esta declaração é inaceitável porque as razões para os dizeres do Profeta (S.A.A.S.) e dos Imames (A.S.) devem elas próprias ser deduzidas do Alcorão, em qualquer caso, a argumentação do Alcorão não depende de seus dizeres, mas, ao invés disso o Alcorão que fornece a evidência da profecia e a prova do princípio da missão profética e do Imamato.

O que menciono não é incompatível com o fato que o Profeta (S.A.A.S.) e os Imames de sua Casa (A.S.) sejam encarregados da tarefa de explicar os detalhes da lei divina e seus decretos os quais o Alcorão não detalhe. Em adição a isso, eles atuaram como os mestres dos Preceitos do Alcorão como é demonstrado nos seguintes versículos:

“(Enviamo-los) com as evidências e os Salmos. E a ti revelamos a Mensagem, para que elucides os humanos, a respeito do que foi revelado, para que meditem”. (C.16 – V.44)

“Ele foi Quem escolheu, entre os iletrados, um Mensageiro da sua estirpe, para ditar-lhes os Seus versículos, consagrá-los e ensinar-lhes o Livro e a sabedoria, porque antes estavam em evidente erro”. (C.62 – V.2)

De acordo com estes ayát, o Profeta (S.A.A.S.) é a pessoa que explica os detalhes e as particularidades da religião. Ele é o divino mestre do Alcorão e em acordo com a tradição fiel de çaqalain (dois encargos), o Profeta (S.A.A.S.) designou os Imames de sua Casa (A.S.) como seus representantes e sucessores nesta matéria. Isto não é incompatível com a idéia que outros, também, que tenham aprendido dessas fontes autorizadas, devam compreender o propósito do Alcorão da evidência de seus versículos.

Qualidades manifestas e ocultas do Alcorão

Existe nos versículos um preliminar e aparente significado, sob o qual há um mais profundo sentido e ainda um mais vasto sentido sobre o segundo e isso se observa por todo o texto alcorânico. Uma consideração desses significados se refere à conhecida narrativa do Profeta (S.A.A.S.): “O Alcorão possui um sentido manifesto e um oculto, e neste sentido oculto há um outro até o ponto de sete níveis ocultos”.

Assim, o Alcorão tem um sentido manifesto e um sentido não aparente, ambos indicados nos seus versículos. Muito embora estes dois sentidos sejam tencionados como uma extensão ao invés de uma profundidade e não negam um ao outro.

O ser humano, no início de sua vida, a qual é material e temporária, é como uma bolha no infinito mar da matéria. Em todas suas atividades no curso de sua existência, a pessoa está a mercê das fortes ondas deste mar bravio e tem que tratar com elas. Esses dois sentidos se dirigem no trato tanto de suas aspirações materiais como a suas idéias e sentimentos. Uma pessoa comumente realiza suas ações tais como comer, beber, sentar, levantar, falar, ouvir, ir e vir, ligado a elas e sem uma reflexão sobre tudo isso. E algumas vezes, quando alguém se dedica a coisas espirituais como a amizade e inimizade, magnanimidade e dignidade e coisas semelhantes, esta pessoa as concebe mais como formas materiais, tais como comparando a doçura da vitória com a doçura do açúcar, a atração da amizade com a atração do imã ou a generosidade com a grandeza de um lugar ou de uma estrela, ou ainda ao tamanho de uma montanha.

Ao mesmo tempo, a habilidade de pensar e compreender as questões espirituais que pertencem a um mundo mais vasto do que o da matéria, que difere e contém diferentes estágios, as quais começam pelo nível do pensamento e gradualmente chegam ao nível onde o grau mais imaterial e espiritual são facilmente compreendidos.

Em qualquer caso, tão maior seja a capacidade de uma pessoa em compreender os assuntos espirituais menor será sua aderência ao mundo material e, proporcionalmente, às suas ilusórias manifestações. De modo similar, quanto menor a aderência à matéria, maior será a capacidade de uma pessoa em compreender as questões espirituais. E, portanto, todos os seres humanos em razão de sua natureza, possuem esta capacidade e se não a anularem, podem ser ensinados.

Assim podemos concluir que nada dos estágios superiores de compreensão pode ser imposto sobre um estágio mais baixo, pois isto produz uma reação contrária, especialmente no caso daquelas questões espirituais que estão muito acima do nível da matéria. Pois se elas forem abertas e de modo não-reservado impostas sobre a compreensão do povo comum que não vai além dos sentidos e das coisas perceptíveis isto falhará completamente em seu propósito.

Um exemplo pode ser dado com uma religião e um dualismo. Se alguém analisar com profundidade os Upanishads (literatura védica) da Índia e cuidadosamente esquadrinhar algumas partes dele com a ajuda de outras passagens perceberá que não há outro objetivo nele senão o puro monoteísmo. Mas, desafortunadamente, tem sido declarado de modo claro que assim que a doutrina da Unicidade de Deus é apresentada ao povo comum no Upanishad, isto conduz tão somente à idolatria e admissão de muitos deuses. Portanto, os segredos metafísicos devem ser apresentados de uma maneira velada para aqueles que têm uma atitude materialista.

Enquanto em outras religiões, algumas pessoas são privadas dos privilégios religiosos, como as mulheres de acordo com o Bramanismo, o Judaísmo e o Cristianismo, no Islã, não é esse o caso. As pessoas simples e os eruditos, homens e mulheres, negros e brancos, a todos é dado igual acesso a esses privilégios.

Diz Deus no Alcorão:

“Seu Senhor nos atendeu, dizendo: Jamais desmerecerei a obra de qualquer um de vós, seja homem ou mulher, porque procedeis uns dos outros…” (C.3 – V.195)

E diz ainda:

“Ó humanos, em verdade, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos outros. Sabei que o mais honrado, dentre vós, ante Deus, é o mais temente. Sabei que Deus é Sapientíssimo e está bem inteirado”. (C.49 – V.13)

Após esta preliminar explanação, podemos dizer que o Alcorão concebe que toda humanidade pode ser ensinada e portanto expandiu seus ensinamentos para todo o gênero humano. Entretanto, como existem grandes diferenças de compreensão das questões espirituais e diante do fato que a infusão dos sublimes conhecimentos espirituais é sempre passível do perigo das falsas interpretações, seus ensinamentos foram dispostos em um nível compatível às mentes mais simples, em uma linguagem simples.

Naturalmente, este método deseja provocar um sublime conhecimento espiritual que seja explicado em uma simples linguagem e com a demonstração de palavras que sugiram questões perceptíveis, por trás das quais estejam colocadas as questões espirituais tornando-se visíveis de acordo com os vários graus de compreensão das pessoas de modo a que cada pessoa se beneficie na proporção de seu grau de intelecto.

Diz Deus no Alcorão:

“Nós o fizemos um Alcorão árabe, a fim de que o compreendêsseis. E, em verdade, encontra-se na mãe dos Livros, em Nossa Presença, e é altíssimo, prudente”. (C.43 – V. 3 e 4)
A palavra “elevado” significa que é inacessível para a criatura humana e a palavra “sabedoria” significa que o intelecto humano não pode penetrá-lo. E diz em conexão com o certo, o errado e a capacidade de compreensão:
“Ele faz descer a água do céu, que corre pelos vales, mesuradamente; sua corrente arrasta uma espuma flutuante. Também (os metais) que os homens fundes com afã, no fogo, para fabricar utensílios e ornamentos, produzem uma espuma semelhante. Assim Deus evidencia o verdadeiro e o falso. A espuma desvanece-se rapidamente: o que beneficia o homem, porém, permanece na terra. Assim Deus exemplifica (os fatos).” (C.13 – V.17)
O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) diz em uma famosa narrativa: “Nós, os profetas falamos às pessoas de acordo com a medida de seus intelectos”.
Uma outra conclusão extraída desse método é que as explicações do Alcorão tomam a forma de uma similitude em acordo com seus aspectos não aparentes. Isto é, no caso dos divinos ensinamentos, os quais estão muito acima da compreensão comum, existem algumas formas de similitudes afim de tornar esses ensinamentos inteligíveis ao intelecto primário. Deus diz:

“Temos exposto neste Alcorão toda a sorte de exemplos para os humanos, porém, a maioria dos humanos o nega.” (C.17 – V.89)

“E estas parábolas, citamo-las aos humanos; porém, só os sensatos as compreendem.”(C.29 – V.43)

Portanto o que pode ser dito é que todas as declarações do Alcorão de sublime conhecimento, as quais formam o verdadeiro propósito do Livro de Deus, são apresentadas em exemplos.

Diz Deus O Altíssimo:

“… Eis o Livro dos versículos fundamentais, então elucidados por Alguém Onisciente, Prudentíssimo”. (C.11 – V.1)

“Deus revelou a mais bela Mensagem: um Livro homogêneo (com estilo e eloqüência), e reiterativo. Por ele, arrepiam-se as peles daqueles que temem seu Senhor…” (C.39 – V.23)

“Ele foi Quem te revelou o Livro; nele há versículos fundamentais, que são a base do Livro, havendo outros alegóricos. Aqueles cujos abrigam a dúvida, seguem os alegóricos, a fim de causarem dissensões, interpretando-os capciosamnte. Porém, ninguém, senão Deus, conhece a sua verdadeira interpretação. Os sábios dizem: Cremos nele (o Alcorão); tudo emana do nosso Senhor. Mas ninguém o admite, salvo os sensatos”. (C.3 – V.7)

Claramente, o primeiro ayat apresenta a totalidade do Alcorão como algo evidente, significando que é permanente, inalterável. O segundo versículo declara que os versículos sejam reiterativos, o que significa a uniformidade da expressão dos versículos alcorânicos em beleza e doçura de linguagem e a extraordinária força de expressão a qual é uma verdade em todo Alcorão. O terceiro ayat divide o Alcorão em duas categorias de versículos: explícitos e implícitos e parece indicar os seguintes pontos:

Primeiro, os versículos que são explícitos são os que possuem claras indicações não dando lugar a nenhum erro, diferindo dos implícitos.

Segundo, a obrigação religiosa de todo crente é firmar-se em sua fé seguindo os versículos explícitos, acreditar nos versículos implícitos, porém hesitar ou abster-se de sua execução. Apenas os que tenham os corações e as mentes pervertidas que seguem e interpretam os versículos cujo significado seja implícito para ludibriar e desviar os demais.

Há uma grande diferença de opinião entre os sábios concernente ao significado de ayats explícitos e implícitos. Vinte diferentes pontos de vista podem ser encontrados a respeito disso. O que tem sido realmente predominante e confiável desde os primeiros tempos é que os ayát explícitos são aqueles cujo propósito é claro e não há nenhum lugar para dúvida. E os ayát implícitos são aqueles cuja forma manifesta não é clara, e sua real intenção (sua explicação) é conhecida apenas por Deus e não é acessível aos humanos.

Este é o ponto de vista dos Ulamá Sunni como também dos Ulamá xi`ah exceto que os segundos consideram que o Profeta (S.A.A.S.) e os imames dos Ahlul Bait (A.S.) também conhecem o tafsir (explicação), enquanto os crentes em geral não são capazes de interpretá-los, e devem recorrer a Deus (pelo próprio Alcorão), ao Profeta (S.A.A.S.) e aos Imames (A.S.) para assegurar esse conhecimento.

Embora este ponto de vista seja predominante entre os comentadores, ele não corresponde em muitas maneiras ao que é dito no versículo citado (“Ele foi Quem te revelou o Livro; nele há versículos fundamentais, que são a base do Livro, havendo outros alegóricos…) e com o método de argumentação de outros ayát pelas seguintes razões:

Para começar, nós não conhecemos nenhum versículo no Alcorão que não tenha fornecido um meio de compreender seu propósito. Em adição ao fato que o Alcorão descreve a si próprio com epítetos tais como “luz”, “guia” e outras expressões, a obscuridade de seus versículos não coincide com real significado da expressão:

“Não meditam, acaso, no Alcorão? Se fosse de outra origem, que não de Deus, haveria nele muitas discrepâncias”. (C.4 – V.82)

Isto demonstra que a reflexão sobre o Alcorão é um meio para remover qualquer discrepância, enquanto um ayát implícito, segundo o ponto de vista da maioria, não fornece de si próprio a solução de sua discrepância por meio de reflexão.

Pode-se dizer que por ayát implícito se deve entender os ayát que possuem letras como Alif lam mim, alif lam rah ou haa mim, dos quais não há nenhum meio de descobrir o seu real significado.

Porém deve ser lembrado que no ayát citado acima, a palavra implícita é usada em contraste com a palavra explícita e tal como uma denominação requer que o versículo deva ter um propósito de uma categoria verbal mesmo se o aparente propósito possa ser tomado como o significado real. Mas as letras das Suras não possuem tal propósito verbal. Além do mais, o versículo parece indicar que aqueles que são desviados, fazem uso disso para desviar a outros e disseminar a discórdia entre as pessoas, ao passo que nunca se soube que alguém no Islam tivesse feito semelhante interpretação das letras das suras. Aqueles que têm feito isso têm tratado o Alcorão inteiro da mesma maneira, e não apenas as letras das suras.

Algumas pessoas afirmaram que a exegese implícita do versículo se relaciona a uma famosa estória de acordo com a qual os judeus queriam descobrir a duração do Islam a partir das letras do início da sura, mas o Profeta confundiu seus cálculos recitando as aberturas de uma sura após a outra. Não há, contudo, qualquer evidência para esta hipótese, pois se a estória fosse verdadeira, os judeus poderiam ter feito uma observação, e que teria recebido resposta na mesma parte alcorânica, e este incidente não é de tanta importância que um versículo fosse revelado com respeito à exegese implícita.

Em adição ao fato de que a observação dos judeus não produziria nenhuma sedição, se uma fé for verdadeira, sua condição de ser abrogável não prejudica sua fidelidade, assim como (no caso) das religiões celestiais anteriores ao Islam.

Segundo, o requisito para tal opinião é que a palavra exegese no versículo signifique “sentido” e o contrário do “manifesto” e que também esteja limitada aos versículos implícitos, ambas as condições são errôneas.

Na discussão em pauta sobre “explicação” e revelação, deixemos claro que na linguagem alcorânica a palavra exegese (explicação) não tem o sentido de propósito. Todos os versículos, explícitos e implícitos têm exegese. No versículo que diz “versículos explícitos” isto é descrito como sendo “Mãe do Livro” ou “Base do Livro” o que significa que os ayát explícitos formam a parte principal do livro e os demais seriam subsidiários. Obviamente os ayát implícitos devem ser referidos aos implícitos quanto a seus propósitos, o que quer dizer que para explicá-los, faz-se necessário recorrer aos ayát explícitos e com a ajuda destes, descobrir o verdadeiro significado dos primeiros.

Portanto, não temos nenhum versículo no Alcorão para o qual não haja um acesso a seu propósito. (…). As letras das aberturas das suras não tendo nenhum sentido verbal não pertencem a nenhuma das duas classes citadas.

O Ponto de Vistas dos Imames (A.S.) sobre os aspectos implícitos e explícitos

O que temos reunido das várias declarações dos imames dos Ahlul Bait (A.S.), é claro no sentido de que não há no Alcorão nenhum ayát implícito que não existam meios de encontrar seu verdadeiro propósito. O que deve ser dito é que se um versículo não é independente quanto a seu verdadeiro significado, que este significado pode ser descoberto através de referência a outros versículos. Por exemplo:

“Do Clemente, Que assumiu o Trono”. (C.20 – V.5)

“E aparecer o teu Senhor…” (C.89 – V.22)

Aparentemente referem-se a qualidades materiais, porém aos compararmos estes ayát com este:

“Nada se assemelha a Ele, e é o Oniouvinte, o Onividente”. (C.42 – V.11)

Torna-se claro que o que quer dizer por “assumir o trono” e “aparecer o teu Senhor” atribuído a Deus não se refere à posição ou movimento. O Profeta (S.A.A.S.) disse sobre o Alcorão: “Em verdade o Alcorão não desceu com algo para negar outra parte, mas ao invés disso, uma parte confirma a outra. Portanto, sigam o que compreendem e apenas creiam naquilo que lhes pareça obscuro”.

Imam Ali (A.S.) disse: “Algumas partes do Alcorão confirmam outras e algumas partes correspondem à outras”.

Imam Jafar (A.S.) disse: “A parte explícita do Alcorão é a parte que pode ser executada e a implícita e a parte que pode ser confundida por aquele que é ignorante”.

Isto demonstra que o explícito e o implícito são relacionados e um verso pode parecer claro para uns, mas implícito para outros.

É narrado de Imam Ali Ibn Mussa Ar Rida(A.S.) que tenha dito: “Aquele que refuta os versículos implícitos em favor dos versículos claros, encontra a senda reta. Em verdade, em nossos registros existem ayát ocultos como há no Alcorão. Portanto tornai-os em versículos claros e não sigam o que é oculto pois se desviarão”.

Interpretação e Revelação do Alcorão

As palavras “interpretação do Alcorão” surgem em três ayát do Alcorão:

“Ele foi Quem te revelou o Livro; nele há versículos fundamentais, que são a base do Livro, havendo outros alegóricos. Aqueles cujos abrigam a dúvida, seguem os alegóricos, a fim de causarem dissensões, interpretando-os capciosamnte. Porém, ninguém, senão Deus, conhece a sua verdadeira interpretação. Os sábios dizem: Cremos nele (o Alcorão); tudo emana do nosso Senhor. Mas ninguém o admite, salvo os sensatos”. (C.3 – V.7)

“Não obstante lhes temos apresentado um Livro, o qual lhes elucidamos sabiamente, e é orientação e misericórdia para os crentes. Esperam eles, acaso, algo além da comprovação? O dia em que esta chegar, aqueles que a houverem desdenhado, dirão: Os mensageiros de nosso Senhor nos haviam apresentado a verdade. Porventura obteremos intercessores, que advoguem em nosso favor? Ou retornaremos, para nos comportarmos distintamente de como o fizemos? Porém, já terão sido condenados, e tudo quanto tiverem forjado desvanecer-se-á”. (C. 7 – V.52 e 53)
“Porém, desmentiram o que não lograram conhecer, mesmo quando a sua interpretação não lhes havia chegado. Do mesmo modo seus antepassados desmentiram. Repara, pois, qual foi o destino dos iníquos…” (C.10 – V.39)
A raiz da palavra “taawil” (interpretação, elucidação, explicação) significa em árabe “o primeiro, a origem” e significa um retorno. Ou seja, interpretação é algo ao que o versículo retorna e o significado de revelação em comparação a interpretação é o claro e literal sentido do versículo.

O Significado de Interpretação segundo os Comentadores e Ulamás

Existe uma grande diferença de opinião acerca do significado de “interpretação”. Mais de dez pontos de vista são expressos sobre isso, dos quais os dois que se seguem são os mais conhecidos.

Primeiro, é o que considera interpretação um sinônimo de exegese, e, portanto, todos os ayát do Alcorão possuem uma exegese, exceto o que foi mencionado no versículo. 7 do capítulo 3 (citado acima).

Por esta razão, os sábios antigos disseram que os versículos implícitos são as letras das aberturas de algumas suras, pois não há nada no Alcorão cujo significado seja desconhecido para todas as pessoas exceto as letras de abertura dessas suras. Contudo, nós demonstramos previamente que este ponto de vista é inválido.

E em qualquer caso, como o Alcorão priva a todos senão Deus da hermenêutica de alguns versículos, e como não há nenhum ayat cujo propósito seria desconhecido para todos, e como as letras de abertura não podem ser consideradas como implícitas, os seguidores do moderno ponto de vista refutaram a isso.

O ponto de vista moderno é que interpretação tem um significado contrário a forma aparente de um ayat e assim todos os ayát não são sujeitos a interpretação e apenas os implícitos que requerem interpretação e possuem um significado contrário a sua forma aparente.

Ninguém é versado neles senão Deus, tais como os ayát que falam de vinda, posição, desprazer e outras qualidades materiais atribuídas a Deus, como também os versículos que atribuem pecados aos mensageiros de Deus.

Este ponto de vista atualmente tornou-se tão prevalecente que a palavra “exegese” (interpretação) tem sido aceita como sendo “contrária ao aparente” e a interpretação dos ayát do Alcorão em argumentação verbal tem encontrado a mesma aceitação, muito embora este ponto de vista não é de todo perfeito.

Entretanto, este ponto de vista predominante não corresponde com os ayát acima apresentados que demonstram que todo o Alcorão tem interpretação, não apenas os versículos implícitos.

O requisito para o ponto de vista moderno é que devem haver certos ayát que o verdadeiro significado deles seja obscuro e desconhecido para as pessoas e conhecido apenas por Deus. Porém, uma sentença cujo significado seja obscuro é carente de eloqüência ao passo que o Alcorão provou sua superioridade em eloqüência sobre toda a poesia do mundo.

De acordo com este ponto de vista, o raciocínio do Alcorão não seria completo, pois segundo o que o versículo diz:

“Não meditam sobre o Alcorão? Se fosse de outra origem senão Deus, encontrariam nele muitas discrepâncias…”

Uma das razões de que o Alcorão não seja uma declaração de um ser humano é que a despeito de todas as diferenças de opinião quanto ao tempo e as condições da descida dos versículos, não há nenhuma diferença de opinião sobre o significado e o propósito deles.

Qualquer diferença que possa surgir a uma primeira vista é removida pela reflexão sobre o versículo. Mesmo se um considerável número de ayát implícitos demonstrarem uma diferença dos ayát explícitos e se esta diferença é removida por dizer que seus significados não estão em sua forma aparente, mas em algo mais que seja só de conhecimento de Deus, tal diferença de opinião não é por causa de se dizer que o Alcorão não é uma declaração de seres humanos. Ademais, se diferenças podem ser removidas por evitar que o sentido aparente de um ayat que pareça ser contrário a um ayat explícito através de uma interpretação que se opõe ao seu sentido aparente, então seria possível remover todo tipo de contradição mesmo de palavras humanas por meio de interpretação.

Não há nenhuma razão fundamentada para se dizer que a interpretação de um ayat signifique algo oposto a seu sentido aparente e nenhum sentido semelhante é encontrado em outra assim chamada interpretação. Por exemplo, em 3 passagens da história de Yusef (A.S.), a interpretação do sonho é denominada uma interpretação, e a interpretação do sonho obviamente não significa algo oposto ao sentido aparente do sonho, mas um fato externo objetivo visto de um modo especial no sonho. Por exemplo, Yusef (A.S.) tinha visto a prostração de seus pais e irmãos na forma da prostração do sol, da lua e das estrelas num sonho. O faraó tinha visto os sete anos de fome do Egito em um sonho. Os companheiros de Yusef (A.S.) na prisão tiveram um sonho semelhante.

Também na história de Moisés (A.S.) e Khidr (A.S.) quando este fez um buraco no casco da embarcação, matou a um jovem e restaurou um muro arruinado, Moisés protestou por cada uma daquelas atitudes e as respostas de Khidr explicam o verdadeiro propósito de todas suas atitudes que tinham sido de acordo com a Ordem de Deus, isto denomina-se de “exegese” (interpretação).

Demonstra-se com isso que o verdadeiro propósito que tenha tomado a forma de ações é chamado de Exegese. Não significa algo contrário a sua manifestação (aparência).

Deus diz:

“E quanto instituirdes a medida, fazei-o corretamente; pesai na balança justa, porque isto é mais vantajoso e de melhor conseqüência”. (C.17 – V.35)

As 2 sentenças não fornecem provas verbais para a condição econômica que explique o assunto. Do mesmo modo Deus diz:

“Ó fiéis, obedecei a Deus, ao Mensageiro e às autoridades, dentre vós! Se disputardes sobre qualquer questão, recorrei a Deus e ao Mensageiro, se crerdes em Deus e no Dia do Juízo Final, porque isso vos será preferível e de melhor alvitre”. (C.4 – V.59)

Não há uma evidência verbal para as condições que isso implica, e isto ocorre em todos os versículos se examinarmos cuidadosamente. Em conexão com os sonhos, sua exegese é um fato externo que se manifestou numa forma especial para a pessoa que sonhava. De modo similar, na história de Moisés e de Khidr, a exegese dada por Khidr é um fato baseado em atos que realizou, e as próprias ações de algum modo implicavam sua própria exegese. No versículo que ordena o peso justo, sua exegese é um fato e um recomendação geral sobre a qual a ordem está baseada. O mesmo é verdadeiro quanto ao versículo sobre o recorrer a Deus no caso de discordância.

Assim a exegese (interpretação) de algo é um fato sobre o qual isto esteja baseado e é seu sinal e cumprimento. Este significado é expresso também no Alcorão, pois o livro encontra sua fonte em uma série de verdades e questões espirituais que são livres dos aspectos materiais, estão acima dos sentidos e das coisas perceptíveis e possuem uma forma muito mais extensiva do que de palavras e frases as quais são produtos de nossa vida material.

Essas verdades e fatos espirituais não podem ser contidos dentro da estrutura da linguagem verbal. A única coisa que o mundo oculto tornou possível é alertar o mundo da humanidade por meio dessas palavras para prepararem-se através dessas crenças manifestas na verdade e pelas boas ações para o alcance de uma bem aventurança para qual não há outro meio senão a observação. Apenas no Dia do Juízo e do encontro com Deus que estas verdades tornar-se-ão perfeitamente claras.

Diz Deus:

“Nós o fizemos um Alcorão árabe, a fim de que o compreendêsseis. E, em verdade, encontra-se na mãe dos Livros, em Nossa Presença, e é altíssimo, prudente”.

“Elevado” refere-se a que é algo que o intelecto humano não pode compreender. “Cheio de sabedoria” refere-se ao fato de que é tão firme que não pode ser desmentido. A conformidade do fim do versículo com sua exegese está clara, especialmente quando diz “a fim de que o compreendesseis” e não “de modo que pudésseis compreende-lo”.

Quanto a hermenêutica, de acordo com este ayat, pertence únicamente a Deus. Isto é porque no ayat que Deus reprova os que pervertem-se por seguir o implícito, diz que desse modo desejam a corrupção. Não diz que conseguem descobrir o que está oculto. Portanto a exegese do Alcorão é a verdade ou verdades que estão com Deus na Mãe dos Livros e pertencem ao invisível.

Diz Deus no Alcorão:

“Juro, portanto, pela posição dos astros, Porque é um magnífico juramento – se soubésseis! Este é um Alcorão honorabilíssimo, Num Livro bem guardado, Que não tocam, senão os purificados! É uma revelação do Senhor do Universo”. (C.56 – V.75 a 80)

Estes ayát dão duas posições ao Alcorão, afirmam-no protegido, oculto, o qual apenas o puro pode compreendê-lo e (como revelação ao universo) algo compreensível às pessoas. Um outro ponto que pode ser juntado a isso é a exceção feita aos purificados que podem descobrir a verdade e a explicação do Alcorão através de sua pureza, e isto não é compatível com o ayat que diz: “Ninguém senão Deus conhece sua interpretação”. Para os dois ayát juntos é dado um sentido de independência e dependência, significa que Deus é independente em seu conhecimento dessas verdades e ninguém pode descobri-las exceto por sua permissão e orientação. Isto é similar ao conhecimento do invisível o qual de acordo com muitos ayát pertence a Deus, porém, aqueles que são amados por Ele são a exceção como é mostrado no seguinte ayat:

“Ele é Conhecedor do incognoscível e não revela os Seus mistérios a quem quer que seja, Salvo a um mensageiro que tenta escolhido…” (C.72 – V.26 e 27)
Os purificados podem portanto descobrir a verdade do Alcorão e de acordo com outro ayat:

“… porque Deus só deseja afastar de vós a abominação, ó membros da Casa, bem como purificar-vos integralmente”. (C.33 – V.33)

Referente a qual diversos registros da tradição tem se reportado para afirmar que tenha sido enviado aos Ahlul Bait (A.S.). Esta Casa é purificada e seus membros possuem um conhecimento das verdades alcorânicas.

Versículos Ab-rogantes e Ab-rogados

Existem vários ayát de injunções no Alcorão que após sua revelação substituíram outros anteriores e os ab-rogaram (cancelando sua validade). Por exemplo, no começo da missão do Profeta (S.A.A.S.) os muçulmanos foram avisados para serem tolerantes com todos os seguidores das mensagens anteriores, como o demonstrado no ayat:

“Tolerai e perdoai, até que Deus faça cumprir os Seus desígnios, porque Deus é Onipotente”. (C.2 – V.109)

Depois disso, o ayat do conflito foi revelado o qual pôs fim na ordem para a tolerância,

“Combatei aqueles que não crêem em Deus e no Dia do Juízo Final, nem abstêm do que Deus e Seu Mensageiro proibiram, e nem professam a verdadeira religião daqueles que receberam o Livro, até que, submissos, paguem o Jizya”. (C.9 – V.29)

A razão para a ab-rogação mais aceita é que uma injunção tinha sido revelada em busca de um prazo para ser seguido até que as pessoas percebessem seu próprio erro. Esta espécie de ab-rogação não pode ser entendida como um erro que possa ser atribuído a Deus, pois Ele é completamente isento de erro e não há nenhuma proibição no Alcorão com a finalidade de que não haja diferenças em seus versículos.

No Alcorão, uma ab-rogação é a expressão do fim do período de tempo de uma injunção ab-rogada, significando que a emissão de uma ordem de proibição tinha sido temporária e, por conseguinte, seu efeito era limitado e temporário, e com a extinção de seu prazo, estava sendo substituída por uma nova ordem. Desde que o Alcorão foi gradualmente revelado durante 23 anos é perfeitamente aceitável que existam nele tais ab-rogações.

Naturalmente, não há nenhuma dificuldade em decretar uma injunção temporária onde as condições não estão ainda maduras para o decreto de uma ordem absolutamente inalterável e então trocá-la por uma ordem fixa quando as condições sejam convenientes. Este raciocínio é encontrado nestes versículos:

“E quando ab-rogamos um versículo por outro – e Deus bem sabe o que revela – dizem-te: Só tu és dele o forjador! Porém, a maioria deles é insipiente. Dize que, em verdade, o Espírito da Santidade tem-no revelado, de teu Senhor, para firmar os fiéis de orientação e alvíssaras aos muçulmanos”. (C.16 – V.101 e 102)
A Aplicabilidade e Conformidade
Como o Alcorão é um livro universal e eterno, ele é efetivo na ausência e na presença, e aplica-se ao passado e ao futuro como no presente.
Por exemplo, os ayát que ordenaram uma obrigação quando sua revelação sob certas condições aos muçulmanos expressam a mesma obrigatoriedade, com as mesmas condições, aos muçulmanos de qualquer outra época. E aqueles ayát que aprovam ou reprovam os possuidores de certas características, ou anunciam boas novas ou ameaçam tais pessoas são aplicáveis em qualquer época, em qualquer lugar.
Assim a razão para a descida de um ayat não é limitada a um caso único e é verdade para todo caso que possua as peculiaridades para o qual o ayat tenha sido revelado. A isto se chama aplicabilidade dos versículos.

Imam Báqir (A.S.) disse: “Se fosse o caso que um ayat tivesse descido para uma pessoa, este se anularia com a morte da mesma e nada teria permanecido do Alcorão, porém, tanto quanto a terra e os céus existam, o Alcorão é aplicável e existe um ayat para cada pessoa que o lê, beneficiando-se ou abusando dele”.

A Interpretação

A interpretação do Alcorão começou na época de sua revelação e o próprio Profeta (S.A.A.S.) empenhou-se em ensinar e explicar seus significados e propósitos. Deus diz:

“(Enviamo-los) com as evidências e os Salmos. E a ti revelamos a Mensagem, para que elucides os humanos, a respeito do que foi revelado, para que meditem…” (C.16 – V.44)

No tempo do Profeta (S.A.A.S.), algumas pessoas foram encarregadas de redigir, preservar e memorizar o Alcorão, que foram chamadas de “recitadores”. Depois de sua partida, seus companheiros, e depois deles, outros muçulmanos se empenharam em comentar e interpretar o Alcorão.

A Ciência da Interpretação e os Grupos de Comentadores

Após a morte do Profeta (S.A.A.S.), alguns de seus companheiros como Ubayy Ibn Kaab, Abdullah Ibn Mas’ud, Jabir Ibn Abdullah, Abu Said Khudr, Abu Musa Ashari e Abdullah Ibn Abbas se empenharam em comentar o texto sagrado.

Seu método de comentário era mencionar o que tinham ouvido do Mensageiro (S.A.A.S.) quanto ao significado dos ayát na forma de narrativas confiáveis. Tais tradições chegam a um número por volta de 240. A confiabilidade de muitas dessas não é suficientemente forte e o texto de algumas delas não é realmente aceitável. Algumas vezes o comentário é feito sem ser atribuído ao Profeta (S.A.A.S.).

Comentadores posteriores dos Mahzab Sunni incluíram o último tipo de comentários no rol das tradições proféticas, pois segundo eles os companheiros tinham aprendido o Alcorão com o profeta e seria improvável que tivessem dado a sua própria opinião. Mas não existe nenhuma razão definitiva para esta crença, em adição ao fato de que a maior parte dessas tradições são do tipo de referência a causa da revelação dos ayát e suas históricas condições. Além do mais, dentre estas narrativas existem as palavras de judeus eruditos que tinham abraçado o Islam tais como Kaab Al Ahbar as quais são sem evidência.

Ademais, Ibn Abbas freqüentemente utilizou a poesia ao comentar os ayát. Em suas narrativas mencionadas nas questões de Nafi Ibn Arzag, as respostas para mais de duzentas questões são dadas em poesia. Suyuti em seu Itqán menciona 190 delas. Tais narrativas não podem ser palavras do Profeta (S.A.A.S.) e nelas a parcialidade do ponto de vista dos companheiros é inegável.

O segundo grupo de comentadores foram os discípulos dos comapanheiros (Tabi’in) como Mujahid, Hasan Basri, Ata Ab Ibn Muslim, Said Ibn Jubayr entre outros.

O terceiro grupo foi composto pelos seguidores destes como Rabi B. Anas, Abdur Rahman B. Zaid, Abu Salih Al Kalbi, genealogistas e comentadores do segundo século da hijra.

O método era interpretar os ayát algumas vezes na forma de narrativas do Profeta (S.A.A.S.) ou de seus companheiros, ou em outras explicar os significados sem referência nenhuma. Neste segundo caso, os comentadores tratavam isso como do mesmo jeito que as tradições chamando-as de Muqufah (descontínuas).

O quarto grupo foi o primeiro de compiladores de comentários, tais como Sufyyan B. Uyyinah, Waki B. Jarah e Tabarsi os quais seguiram o mesmo método de seus predecessores.

O quinto grupo foram aqueles que compilaram as tradições omitindo as referências. Alguns eruditos disseram que a confusão nos comentários começou aí e muitos pontos de vista em tais comentários tem sido atribuídos aos companheiros e tabi‘in sem a devida atenção a validade e correção das citações e sem distinguir-se a prova, resultando em muita confusão e numa nada confiável autenticidade.

Uma pessoa que estude tais comentários com cuidado não terá dúvida que a inovação é abundante neles, e que contraditórios pontos de vista são atribuídos às mesmas fontes; e existem numerosas estórias e narrativas dentre eles que são definitivamente falsas.

Os casos de ab-rogação e de versículos ab-rogados, os quais não correspondem com a forma dos versículos não são poucos.

Esta é a razão devido a qual Imam Ahmad Ibn Hambal (que viveu antes do surgimento deste grupo) disse: “Maghazi, Malahim e narrativas de comentários carecem de base”. É também citado que Imam Shafi tenha dito que apenas algo em torno de 100 tradições de Ibn Abbas foram provadas serem corretas.

O sexto grupo foi daqueles que surgiram depois do aparecimento dos vários ramos do conhecimento do Islam e sua maturidade, e cada perito realizou seu comentário de acordo com o seu campo de especialidade.

Os exemplos de destaque foram Zajjaj (na Gramática), Zamakhshari (na retórica), Fakr Radi (teologia, em seu comentátio Mafatih al Ghaib), Ibn Arabi e Abdur Razzaq Kashani (na gnose), Muhammad B. Ahmad B. Abu Bakr Qurtubi (na jurisprudência) e um grande número de outros em miscelâneas contendo vários ramos do conhecimento tais como Ruh Al Bayán e o Ruh al Ma’ni.

O serviço prestado por esse grupo resultou na emergência da arte do comentário da condição de estagnação em que tinha caído no caso dos 5 primeiros grupos, e na entrada num estágio de discussão, embora deva ser dito que em muitas dessas discussões explanatórias pontos de vistas científicos tenham sido impostos sobre o Alcorão e os ayát não foram investigados dentro de seus próprios contextos.

O Método dos comentadores Xiitas e seus grupos

Os grupos mencionados acima pertenceram aos Sunnis, o fundamento desses foi um método especial adotado no início o qual consistia na comparação das narrações proféticas com os pontos de vista dos companheiros e tabi’in e a expressão dos pontos de vista, significando a ordenação dessas narrativas tal como a prática da teologia em oposição ao teste resultando em contradições que permitiram aos comentadores do sexto grupo impor seus próprios pontos de vista.

Mas o método adotado pelos xiitas em suas interpretações do Alcorão é diferente e em conseqüência disso a classificação dos comentadores tem uma forma diferente. Os xiitas consideram a palavra do Profeta (S.A.A.S.) como o texto do Alcorão demonstra ser a apropriada base para a interpretação dos ayát, enquanto não reconhecem qualquer validade aos pontos de vista dos companheiros, tabi’in e outros exceto através da tradição do Profeta (S.A.A.S.) e também de acordo ao texto das narrativas de Çaqalain, as palavras dos Imames da Casa do Profeta (A.S.) são aceitas como prova depois das palavras do Profeta (S.A.A.S.) e sobre estas bases classificaram-se nos seguintes grupos.

O primeiro grupo é formado por aqueles que recolheram suas narrativas ou comentários do Profeta e dos Imames dos Ahlul Bait e registraram-nas numa forma irregular e as narraram tais como Zurarah, Muhammad B. Muslim, Ma’ruf e Jarír, etc.

O segundo grupo foi o daqueles que escreveram os primeiros comentários (Furát B. Ibrahim e Abu Hamzah Al Thumali, Ayyashi, Ali B. Ibrahim Qummi e Numani). Este grupo recolheu as narrativas do primeiro e registrou-as sem expressar suas opiniões.

E como o tempo do acesso aos Imames de Ahlul Bait (A.S.) durou por volta de 3 séculos, estes dois grupos não observaram nenhuma ordem cronológica e foram inter-relacionados.

O número daqueles que registraram narrativas sem nenhuma referência também foi muito pequeno. Neste respeito o comentário de Ayyashi pode ser mencionado como um exemplo no qual um discípulo dele omitiu as referências do trabalho de Ayyashi e sua versão substituiu a do autor.

O terceiro grupo inclui vários sábios como Sayyd Radi (comentador literário), Muhammad B. Hasan Tusi (comentador teológico), Sadr Al Mutalihin Shirazi (comentários filosóficos), Maybadi Gunabadi (gnose), Tabarssi (tafsir Majma al Bayán), Shaykh Abd Ali Huwayzi e Sayyd Hashim Bahrani e outros.

Conclusão

O Alcorão é um livro universal e eterno, endereçado a todas as criaturas humanas, e orienta o homem em seus objetivos, expõe a discussão e a argumentação com todos, e apresenta-se como uma luz para todas as coisas. Portanto, não necessita de nada para iluminá-lo.

Ademais, concernente ao fato de que o Alcorão não é uma declaração proveniente do homem, ele diz:

“Não meditam, acaso, no Alcorão? Se fosse de outra origem, que não de Deus, haveria nele muitas discrepâncias”. (C.4 – V.82)

Pois se uma pessoa opondo-se a ele encontra uma discrepância, que a resposta para a qual não possa ser identificada nas próprias palavras do Alcorão existem outros meios de resolver a questão tais como a referência ao Profeta (S.A.A.S.). Tal crítico não pode, sem qualquer evidência do Alcorão, oferecer seu próprio ponto de vista. Naturalmente uma pessoa que não tenha fé nas honestas e verdadeiras palavras do Profeta não se convencerá. Portanto, a remoção da dúvida é possível apenas no caso de uma pessoa que tenha fé nas declarações do Profeta (S.A.A.S.). O ayat citado acima é endereçado àqueles que se opõem a elas e que não possuem nenhuma fé na profecia do Profeta e suas palavras, sem o apoio do Alcorão, não são aceitáveis para eles. Por outro lado, o Alcorão endossa a validade para a declaração e a interpretação do Profeta, quem, por sua vez, endossa a validade à declaração e a interpretação de sua Linhagem.

Alguns versículos podem ser explicados por outros e a posição do profeta (S.A.A.S.) e de sua linhagem (A.S.) perante o Alcorão é a de impecáveis mestres que não apresentam erros em seus ensinamentos, e seus métodos de comentário evidentemente não serão opostos ao comentário que seja feito pela comparação dos próprios versículos.

A conclusão é que a verdadeira explicação do Alcorão e extraída da reflexão sobre os ayát e o seguro auxílio de outros ayát relacionados. Em outras palavras, existem 3 métodos de interpretação dos versículos alcorânicos:

Primeiro, interpretando o ayat com o auxílio de dados científicos ou não (a razão) disponíveis.

Segundo, interpretando o ayat com o auxílio de uma tradição transmitida por um Imam purificado dos Ahlul Bait.

Terceiro, interpretando o ayat através da meditação sobre ele e assegurando o significado por comparar todos os ayát relativos ao mesmo, como também suas tradições.

A terceira alternativa é a que foi indicada pelo Profeta e seus Ahlul Bait em seus ensinamentos.

O Profeta (S.A.A.S.) disse: “Em verdade, alguns versículos confirmam outros”.

Este ponto torna claro que este método difere de um sobre o qual uma famosa tradição profética se refere dizendo: “Aquele que interpreta o Alcorão de acordo com seu próprio ponto de vista terá uma morada no inferno”. Pois, no método correto, o Alcorão é interpretado com o auxílio do próprio Alcorão e não pelo veredicto do comentador.

No caso dos 3 métodos acima mencionados, o primeiro não é confiável, e é, de fato, uma explanação pessoal, exceto quando esteja em acordo com o terceiro método. O segundo método foi usado pelos comentadores no começo do Islam e tornou-se predominante por muitos séculos e é ainda hoje empregado pelos comentadores sunnitas e xiitas.

Este método é limitado, não pode satisfazer as centenas de milhares de questões científicas e não-científicas relacionadas aos seis mil e duzentos versículos alcorânicos. Como e através de que meio podem estas dificuldades serem resolvidas? Deve alguém recorrer às tradições?

Neste caso, o que é uma tradição profética que para os sunnis chega a um número menor do que 250 narrativas?

Além do mais, muitas delas são fracas em raciocínio e outras tantas são negativas. É verdade que as narrativas transmitidas dos Ahlul Bait chegam a um número de alguns milhares das quais um considerável número é confiável, mas em qualquer caso, este número é inadequado para semelhante infinidade de questões, acrescentemos o fato de que existem muitos ayát do Alcorão sobre os quais não existem tradições (nem específicas e nem gerais).

Não deveria alguém recorrer aos versículos no caso de tais dificuldades? Mas isto não é permissível. Ou deveria abster-se da discussão e ignorar tais questões? Neste caso qual seria o significado da sentença do ayat:

“Temos-te revelado, pois, o Livro, que é uma explanação de tudo, é orientação, misericórdia e alvíssaras para os muçulmanos” (C.16 – V.89)

“(Eis) um Livro Bendito, que te revelamos, para que os sensatos recordem os seus versículos e neles meditem”. (C.38 – V.29)

“Porventura, não refletem nas palavras, ou lhes chegou algo que não havia chegado aos seus antepassados?” (C.23 – V.68)

Existem também seguras tradições do Profeta (S.A.A.S.) e dos Imames (A.S.) recomendando as pessoas a recorrerem ao Alcorão em suas dúvidas. Qual então seria o significado de tal recomendação? De acordo com o ponto de vista mencionado acima, a importância da meditação sobre o Alcorão que é uma obrigação universal com respeito a muitos de seus versículos não seria aplicável.

Além disso, de modo geral, nas tradições do Profeta (S.A.A.S.) e dos Imames (A.S.) se afirmou com veemência que é uma obrigação analisar as tradições segundo o Livro de Deus e se estas corresponderem ao Livro, então podem ser seguidas. Obviamente o significado destas tradições só pode ser considerado correto quando o versículo é claro em seu significado e sua interpretação seja válida, e se o significado do versículo fosse para ser distinguido através da tradição, então, recorrer ao Alcorão não seria investigar o significado. Estas tradições são a melhor evidência que os ayát do Alcorão, indicam o significado, e são por eles mesmos uma evidência independente a despeito da tradição.

O que foi esclarecido com as discussões anteriores é que é dever do comentador considerar as tradições do Profeta e dos Imames dos Ahlul Bait na interpretação do Alcorão e se tornar conhecedor de seus métodos e em seguida, de acordo com a instrução do Livro e da Tradição, realizar a interpretação e fazer uso das tradições que correspondam ao propósito do versículo.

Extraído da obra “O Alcorão no Islam”

 

«
»