Tradução de Ali Sivonaldo
A natureza do ser humano, sua confiança na justiça da sociedade, e a integridade da legislação divina, levam-no a procurar a solução e o tratamento para qualquer problema que enfrenta, ou que lhe se sujeita na sua vida social. Se ele encontra algumas dúvidas legislativas numa das causas, deveria voltar e pesquisar nas fontes da legislação para ver o decreto que soluciona tal duvida e trata de tal problema.
O nobre Alcorão cita uma mulher que enfrentou esse desafio no inicio da formação da sociedade islâmica, e quando a época da ignorância ainda predominava com as suas normas e tradições porque a legislação estava na fase de formação. Essa mulher viu que a lei predominante lhe prejudica e ameaça seu futuro e o futuro de sua família pela destruição, ela não ficou calada, não aceitou o domínio das tradições que reprimem e fazem mal aos outros, e partiu a procurar o profeta Mohamad (S.A.A.S.) e lhe declarou a sua oposição e recusa das normas reinantes; e pediu-lhe uma legislação justa que trata de seus problemas e outros similares com lógica e direitos.
O profeta (S.A.A.S.) pediu desculpas e avisou que não lhe foi revelado nada ainda a respeito. Ele não conseguiu convencê-la e ela entrou em discussão e diálogo, insistindo e pressionando para apressá-lo em achar uma solução. O profeta (S.A.A.S.) não a mandou embora, não se irritou com sua insistência e não repudiou seu pedido e sua queixa. Mas Deus Altíssimo observou a sua posição e a eternizou.
Esta mulher ocupa o assunto de uma sura inteira no Alcorão, que começa falando do problema que enfrentou aquela mulher, e coloca a legislação divina para resolver tal questão. É a sura da Almujadalah. (a discussão). Deus disse nesta sura: “Com efeito, Deus ouviu o dito daquela que discutia contigo, acerca de seu marido, e se queixava a Deus; E Deus ouviu seu dialogo. Por certo, Deus é Oniouvinte, Onividente”.
A maioria dos exegetas disse: Aquela mulher era da família dos companheiros do profeta, é dos Ansar (os apoiadores), seu nome é Khaulah Bint Taálaba Bin Malek Alkhazrajiah e seu marido, Auas Bin As-samit’, era um homem de idade avançada, o seu caráter piorou; um dia ele entrou em casa e ela perguntou-lhe algo, ele ficou nervoso e disse-lhe: você pra mim daqui por diante é igual minha mãe, isto pois na época da ignorância quando um homem falava isso a sua mulher ela seria ilícita para ele, e por ser o primeiro caso deste tipo na sociedade islâmica, sendo ainda nada revelado a respeito, a lei dominante pondera ainda na opinião da sociedade.
Mesmo que o homem tivesse retirado o que disse isso foi em vão, pois a relação do casal acabou e não tinha mais nenhum sentido. A esposa (Khaulah) veio ao profeta (S.A.A.S.) e disse-lhe: Ó profeta de Deus, Auas casou-se comigo enquanto eu era jovem e atraente e quando passou o tempo e criei os filhos me considerou igual à mãe dele. Ele me desamparou e partiu para outras, espero que encontre solução que me satisfaça.
O profeta disse: Por Deus, não encontrei solução ainda, e em outra versão disse: Só vejo que você tornou-lhe ilícita. Ela disse: Mas não foi mencionada a palavra divórcio; e discutiu com o profeta várias vezes. Certo dia ela reclamou isso diretamente para Deus dizendo: Ó Deus, eu me queixo a respeito de minha grande solidão, e as dificuldades que passo nesta separação. E em outra versão: eu me queixo, ó Deus as minhas necessidades, a minha pobreza, eu que tenho crianças pequenas, se os abraçar perco-as e passam fome! E ela levantou a cabeça, desesperada e dirigiu-se a Deus, falando e implorando: Ó Deus eu me queixo a ti sobre minha situação, faça descer ao seu profeta algo, e ficou nessa insistência até que o profeta recebesse ordem pela revelação da sura que trata do seu assunto. O profeta chegou dizendo boas noticias a Khaulah. Ela disse: Boas? Aí o profeta leu o começo da sura da discussão (Almujadalah). Que contém a nova legislação que perdoa o marido, que pede desculpas e retira o que disse de ilícito à sua esposa, considerando-a como mãe, com a condição de pagar a punição, em dar liberdade a um escravo, e se não puder, jejuar dois meses seguidos, e se não conseguir, dar alimentos para sessenta necessitados e depois ela retoma sua vida de casada normalmente.
Deus altíssimo disse: “E aqueles que repudiam suas mulheres com Az-Azihar e em seguida voltam atrás no que disseram, então alforriem um escravo, antes que ambos se toquem, isso é o com que sois exortados. E Deus sabe, do que fazeis. É conhecedor. E quem não encontrar meios de fazê-lo, que jejue, por dois meses seguidos, antes que ambos se toquem. E quem não puder jejuar que alimente sessenta necessitados, isso para que creias em Deus e em seu mensageiro. E esses são os limites de Deus, e para os renegadores da fé, haverá doloroso castigo”.
Então, essa mulher corajosa que reclamou por uma legislação que protege seus direitos e interesses, ganhou prestigio e respeito no meio dos muçulmanos, depois do Nobre Alcorão tornar eterna a sua posição.
1- Surata Almujadalah – A discussão, versículo 1.
2- Surata Almujadalah – A discussão, versículo 3-4 .