Em Nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso
Num céu azul e iluminado, pássaros, em grupos ou individualmente, voam cheios de entusiasmo e felicidade; migrando de um lugar para outro. Brincam, escolhem seu alimento onde bem entendem enchendo o campo de alegria. Ninguém os cerceia ou os domina, exceto um agressor ou alguém que cobice sua carne ou seu valor monetário. São livres vivendo na natureza. De fato, eu fui criado livre como todo homem ou outro animal, conduzido pela consciência dessa liberdade. O pássaro é criado em sua individualidade, ninguém tem autoridade sobre ele tampouco sua vontade é dirigida, exceto dentro do plano natural da defesa de seus interesses e de sua segurança. Também o homem foi criado livre nesta terra. Quão maravilhosa a descrição de Imam Ali (A.S.) dessa liberdade, quando disse: “Ó povo, Em verdade Adão não gerou escravo ou serva, todos são livres. Não sejais escravos dos outros, pois Allah vos criou livres”. (Nahjul Balagh)
Eu sou Livre Para Refletir e Escolher
Para conhecer o significado de humanidade, eu necessito conhecer o significado de liberdade, devo saber que penso e escolho e devo conhecer as ações pelas quais sou responsável. Allah, o Exaltado, criou-me sábio, um pensador inteligente.
Existem diversas divagações mentais, emoções e vontades que surgem em meu interior, assim sendo, penso e decido para fazer algo ou deixar de fazê-lo. Reflito sobre cada uma dessas sensações e sentimentos e escolho algumas delas e rejeito a outras.
Portanto, sou livre para escolher e Allah, o Onipotente, deu-me a capacidade de escolher. Uma vontade, por exemplo, surge em mim em relação a um determinado alimento, então, eu faço a minha escolha. Ou ainda, uma determinada vontade em relação a uma determinada cor de roupas, e então eu faço a minha escolha. Da mesma maneira, uma vontade surge em mim a respeito de obtenção de conhecimento ou ciência, e eu sigo essa inclinação, escolhendo aquilo que eu desejo. Surge em mim a vontade de buscar aconselhamento num assunto para então tomar minha decisão, ou tenho vontade de fazer uma viagem, e então escolho realizá-la.
Ocasionalmente, eu me inclino a certo tipo de ação ou crença, então faço a minha escolha. Às vezes, me deparo com variadas ideologias, idéias, costumes, atitudes, comportamentos, princípios morais, e então julgo e escolho aquilo que seja mais adequado a mim.
Sinto a condição de ser livre no meu íntimo e em minha mente também. Porém, quando desejo expressar essa liberdade e expor meus pensamentos e meus desejos reais descubro que existem muitas restrições, que me impedem de alcançar o que desejo, limitam minha liberdade e vedam minha opção.
Eu percebo que liberdade não significa nada mais do que uma visão ou um sonho que vive em mim. A liberdade é somente uma utopia, uma idéia restrita à minha mente e aos meus sentidos. É algo que está proibido de sair dessa prisão e entrar no mundo real.
Eu Descobri a Liberdade no Livro de Allah
Onde então posso encontrar liberdade que não seja tomada por outros? De fato, eu busquei por isso e encontrei no Livro de Allah, em Sua criação e em Sua Justiça. Allah criou-me livre e recusou-se a mudar minha condição depois de ter-me dado a liberdade de escolha, afim de que minhas ações e atitudes sejam expressões de minha liberdade. Allah, o Ingente, deu essa liberdade aos homens, contudo, alguns deles suprimem a mesma dos demais. Eu li no Livro de Allah: “São aqueles (os crentes) que seguem o Mensageiro, o Profeta iletrado, o qual encontram mencionado em sua Torá e no Evangelho, (o Mensageiro) que lhes recomenda o bem e lhes proíbe o ilícito, prescreve-lhes todo o bem e veda-lhes o impuro, alivia-os dos seus fardos e livra-os dos grilhões que os reprimem…” (Alcorão Sagrado 7:157)
Do versículo acima, entendi que o Alcorão Sagrado deseja propor ao homem seu pacto. O que significa que pretende libertar o homem das correntes que nele foram colocadas pelos opressores. Todavia, o próprio homem põe essas correntes em seu pescoço e assim, se faz prisioneiro.
Também entendi que o Alcorão Sagrado convida à liberdade quando Allah exorta à reflexão e a escolha do caminho do exercício intelectual e da pesquisa científica para que se tenha a crença com liberdade, consciência e conhecimento. Essa orientação é demonstrada nas seguintes palavras divinas: “Assim, Allah elucida os seus versículos para que mediteis”. (Alcorão Sagrado 2:219)
Liberdade e Responsabilidade
Um homem livre é aquele que faz tudo o que deseja, porém, uma vez que abuse da liberdade, se verá às voltas com uma ameaça de destruição de si mesmo e de outros, e da própria liberdade. Portanto, a finalidade da liberdade não é alcançada exceto quando há responsabilidade e a aptidão para a escolha. Por um lado, o homem livre pode fazer tudo o que quiser, e por outro, pode abster-se de qualquer coisa que possa fazer.
Através da liberdade e da opção, o homem se torna apto a realizar o que é bom, tirando vantagens para si mesmo e para os outros. O homem é capaz de obter conhecimento, e então conseguir benefícios para ele e para os demais nos campos da medicina, da agricultura ou das outras áreas do conhecimento.
Tanto pode ser correto, tendo bons princípios morais, beneficiando a si mesmo e aos outros, como poder ser um criminoso, um agressor, cometendo todo tipo de males, tais como o assassinato, o furto, a mentira, a fraude a opressão ou a ofensa aos demais. Ele também pode, por meio de sua liberdade e de seu intelecto, alcançar o grau de conhecimento de Allah, Exaltado Seja, e de crença Nele. Também tem a capacidade de negar a existência de Allah, traindo seu próprio intelecto se voltando contra o conhecimento correto.
O Alcorão Sagrado assegura a liberdade da vontade e da escolha humana quando trata da criação do homem, relacionando a escolha humana com sua aptidão para optar. Allah, o Onipotente, diz: “Em verdade, criamos o homem de esperma mesclado, para prová-lo, e o dotamos de ouvidos e visão. Assinalamos-lhe uma senda, quer fosse agradecido, quer fosse ingrato”. (Alcorão Sagrado 76:2,3)
O Alcorão Sagrado nos ensina que esse homem que é criado de um óvulo fecundado, é portador de todas as potencialidades para o bem ou para o mal. Quando sua natureza humana se completa e se torna pronto para ser testado por Allah, depois que é esclarecido sobre os caminhos do bem e do mal, é posto na encruzilhada, para que escolha o seu caminho na vida. Assim sendo, Allah o Glorioso, diz: “Assinalamos-lhe uma senda, quer fosse agradecido, quer fosse ingrato”. (Alcorão Sagrado 76:2,3)
É o homem que escolhe a gratidão a Allah, seguindo o caminho do bem e da orientação ou a ingratidão, negando a Allah e as bênçãos por ele conferidas, seguindo assim o caminho do mal e do extravio. Por conseguinte, a liberdade que atua para o benefício do homem é a liberdade responsável, a menos que a pessoa a utilize erroneamente.
O homem quando se torna responsável por sua opção, para ser questionado, recompensado por tudo o que fizer ou deixar de fazer, usa sua liberdade para o bem e a reforma pessoal. Porque a responsabilidade, e também a recompensa do bem ou do mal, são expressões de Allah e de Sua justiça, a fim de estabelecer a distinção entre os benfeitores e os maus, fazer com que as pessoas vivam à sombra do bem e da felicidade nesta vida, e conquistem Seu aprazimento na outra.
A respeito da responsabilidade humana, o Alcorão Sagrado diz: “E a cada homem lhe penduramos ao pescoço o seu destino e, no Dia da Ressurreição, apresentar-lhe-e-mos um livro, que encontrará aberto”. (Alcorão Sagrado 17:13)
Um homem é responsável por suas ações e (certamente) responderá por elas, porque é livre e faz suas escolhas espontânea e conscientemente. Nenhuma desculpa será aceita dele exceto se tiver se arrependido e voltado a Allah em contrição, e então buscado mudar a si mesmo. O Alcorão Sagrado garante que o homem é responsável por suas ações, pois é possuidor da vontade e da opção. Allah, o Excelso, diz: “Dia em que o homem será inteirado de tudo o que fez e de tudo o que deixou de fazer. Mais ainda, será a evidência contra si mesmo, ainda que apresente quantas desculpas puder”. (Alcorão Sagrado 75:13 a 15)
Do Ponto em que Começa a Minha Liberdade
De fato, o salvador da humanidade, Mohammad (S.A.A.S.) se opôs à ignorância. à superstição e ao domínio das falsas divindades (taghut) ensinando-me como viver e como lidar com a liberdade. Ele (S.A.A.S.) ensinou-me que a liberdade é para todos quando disse: “Todos os humanos são iguais, como os dentes de um pente”. “Ninguém creu (no Islam) a menos que deseje para seu irmão o que deseja para si mesmo”. O Imam Ali (A.S.), também, expressou esse conceito no conselho que deu a seu filho, o Imam Hassan (A.S.). A esse respeito, disse: “Ó meu filho! Toma a ti mesmo como medida entre ti e outros. Deves desejar para os outros aquilo que deseja para ti mesmo, e não querer para eles aquilo que não queres para ti”.
Em vista disso, desejar a liberdade para todos é algo obrigatório para aquele que gosta de ser livre, e quando a liberdade é de todos eu não tenho o direito de ser agressivo tampouco de gozar de liberdade enquanto os demais são privados dela. De fato, a minha liberdade é parte da liberdade dos outros. Da mesma maneira que entendo que tenho o direito de pensar e expressar minhas opiniões, ainda que sejam equivocadas, os outros também têm o direito de pensar e expressar suas opiniões. Assim como tenho o direito de participar da vida política, é meu dever permitir a participação dos outros na vida política. De modo similar ocorre com o direito de escolher os assuntos que dizem respeito a minha vida. Também, desde que vejo que o domínio das falsas divindades e a conseqüente privação de minha liberdade como um ato injusto, o que leva a resistir, é meu dever proteger a liberdade dos outros contra tal injustiça e opressão. Violar a legítima liberdade alheia é um ato de agressão. Minha liberdade começa no limite do respeito e o reconhecimento da liberdade alheia, enquanto o egoísmo é uma ameaça a liberdade e aos direitos fundamentais dos outros. Na maioria das vezes, nos tornamos vítimas desse egocentrismo.
Liberdade e Sistema
A sociedade humana é um grupo de indivíduos com diferentes interesses e inclinações que, freqüentemente entram em conflito. O indivíduo possui diferentes desejos e motivações. O conjunto dos indivíduos forma a sociedade humana.
Então, como a liberdade para todos pode ser alcançada sem que haja violação mútua, quando na realidade, os indivíduos alcançam seus objetivos e interesses pessoas às expensas dos outros? Se a liberdade for exercida sem qualquer controle a vida humana se transformará numa selva e não haverá liberdade de modo algum. Ao contrário, a liberdade se tornará um caos e a agressão mútua redundará em ditadura, tirania, opressão, exploração e supressão dos direitos. Portanto, a lei é o único meio de salvaguardar a liberdade, e o respeito a uma lei justa é a melhor proteção para a liberdade.
Ademais, se a liberdade econômica for exercida sem limites ou de forma não-sistematizada, de uma maneira que proteja os interesses coletivos, terminará no controle das propriedades, do mercado e das riquezas pelos ricos, enquanto os demais serão levados à miséria e ao fracasso. Os ricos dominarão também todos os postos de poder e tal situação se transformará num sistema tirânico.
Se a liberdade for franqueada ao egoísmo ou ganância humana terminará em desordem e na eliminação da própria liberdade. Algumas pessoas violarão os direitos de outras e a maioria delas abusará da liberdade.
A aderência a um sistema justo e ao respeito à lei, que protegem os direitos e interesses coletivos, é a verdadeira segurança contra a desordem e a transgressão, ou contra a destruição da liberdade de pensamento, da cultura e da sociedade. A liberdade de pensamento é um direito de todos; um escritor, um autor, um pesquisador científico e todos os demais cidadãos têm a liberdade de pensar, escrever, compor ou falar. Porém, devem respeitar a liberdade alheia. Não podem usar a liberdade para difundir idéias malignas, ou para violar os princípios morais, criar problemas e divergências na sociedade, espalhar a desordem, rumores ou superstições, pois todas essas práticas provocam a destruição ideológica e não a liberdade.
Um homem de negócios ou um vendedor tem a liberdade de vender e comprar, mas não tem o direito de monopolizar as mercadorias ou vendê-las a preços exorbitantes com o intuito e obter grandes lucros que prejudicam os demais cidadãos impedindo-os de garantir seu sustento. A liberdade econômica sem limites cria o monopólio, a opulência das classes capitalistas que possuem bilhões de dólares enquanto a maioria do povo vive em estado de pobreza, miséria e atraso.
Ciência e Liberdade
A ciência, o intelecto e a legislação são os meios pelos quais o homem pode especificar os fatos e conhecer o que é proveitoso ou prejudicial em relação a vida; coisas como a alimentação, a bebida, o comportamento e as ações sociais (questões relacionadas aos relacionamentos, ao casamento, a família, etc).
O homem nasce ignorante a respeito da vida, não sabendo o que é benéfico ou prejudicial. Ele adquire conhecimento através da experiência dos sábios nas várias áreas da ciência ou mesmo através de sua experiência diária e do entendimento racional. É por meio do intelecto que uma pessoa distingue o belo do que não é e o que é proveitoso do que é prejudicial.
O homem precisa satisfazer as necessidades de seu corpo e em vista disso, tem a propensão natural para buscar essa satisfação. Alguns indivíduos desenvolvem um intenso impulso para buscar outras coisas: bebidas alcoólicas, tabaco, drogas, jogatina, ambientes de diversão e dança ou a prática de sexo ilícito. Outros se sentem fortemente inclinados a acumular propriedades e a ganhar dinheiro às custas dos pobres e necessitados.
O homem, às vezes, é motivado pela busca do prazer e da satisfação dos apetites ou pelo amor ao dinheiro entregando-se a práticas proibidas tais como os desvios sexuais, os vícios, os jogos de azar, o monopólio ou a exploração. Quando sente o desejo de praticar essas coisas, se encontra numa encruzilhada: atravessar o período da reflexão e sucumbir à pressão dos desejos ou ser confrontado com um intelecto virtuoso. Depois que pensa e reconhece os males e problemas resultantes de tais ações. Por conseguinte, as duas vontades entram em conflito em seu íntimo. Nesse caso, alguns se movem na direção do mal tomando por pretexto a liberdade, recusando-se a ouvir conselhos e considerando-os um tipo de privação de sua liberdade. O homem deve usar sua liberdade de modo que seja proveitoso para ele e para os outros; não julgar que tudo o que faz motivado pela satisfação dos desejos seja útil e correto. Ele não tem o direito de adotar o caminho do erro em nome da liberdade. A ciência, o intelecto e a religião são diretrizes para o homem em seu caminho. Sem essas diretrizes ele perambula na escuridão e é incapaz de distinguir o bem e o mal, o útil e o nocivo.
O comportamento correto, cujo benefício é para o próprio indivíduo, protege tanto a saúde quanto a reputação na sociedade. Impede que o indivíduo caia em corrupção, a qual leva à criminalidade, à prisão e até mesmo à morte. O bom comportamento é especificado pela ciência, pelo Islam e pelo intelecto. Aquilo que foi estipulado pelo Islam e descoberto pela medicina e pela psicologia é utilizado no diagnóstico dos graves malefícios causados pela promiscuidade sexual e pelo uso do álcool e das drogas. As estatísticas revelam a quantidade de doenças e de malefícios materiais, dos crimes resultantes da promiscuidade sexual e do uso do álcool e das outras drogas. A ciência, o intelecto e a religião capacitam o indivíduo a discernir acerca do bom comportamento, não se pautando pelos desejos ou impulsos psicológicos. A esse respeito, belíssimas são as palavras de Allah, o Altíssimo, que diz: “É possível que repudies algo que seja um bem para vós, e que gosteis de algo que vos seja prejudicial…” (Alcorão Sagrado 2:206)
Quando o Homem Abusa da Liberdade
O abuso da liberdade gera diversos crimes, desgraças e doenças, sobretudo durante a adolescência. Milhões de pessoas se sentem atraídas para o uso das drogas e para a promiscuidade sexual, um caminho cujo fim é o das doenças graves como a AIDS ou a criminalidade e as prisões.
Algumas pesquisas indicam que sete milhões de pessoas na França estão viciadas em drogas, e que 70% daqueles que usam drogas alucinógenas são jovens na faixa de idade entre os 18 e os 25 anos; um número que está continuamente crescendo. O mesmo relatório também revela que 28% dos contaminados com AIDS foram vítimas do vício das drogas e 22% dos viciados se encontram infetados pelo HIV.
Outro estudo realizado pela Universidade Hebraica de Jerusalém indica que 18% dos estudantes israelenses são viciados em drogas e 42% deles consomem drogas ocasionalmente. Estatísticas divulgadas na Inglaterra revelam que no final do ano 2000 1/5 dos adultos são alcoólatras. A AIDS provocou a morte de 20 milhões de pessoas no mundo, segundo dados do início de 2001, enquanto o número dos portadores do vírus é estimado em 36 milhões, espera-se que até o final de 2001 este número seja acrescido em 6 milhões.
No que diz respeito a (suposta) liberdade de exploração sexual de mulheres e crianças, a CIA descobriu que por volta de 50.000 mulheres e crianças são anualmente levadas ilegalmente ao EUA e submetidas à prostituição e ao trabalho forçado sob condições degradantes. O mesmo relatório da CIA diz que durante os anos de 1999 e 2000, cerca de 100.000 mulheres e adolescentes foram levadas ilegalmente aos EUA para trabalharem como babás, secretárias ou garçonetes. Numa convenção de senadores, Mr. Harold Koh, funcionário do Ministério de Relações Exteriores, afirmou que os criminosos internacionais deixaram de lado o tráfico de armas e drogas e se voltaram ao tráfico de escravas brancas. Existem por volta de dois milhões de mulheres no submundo, forçadas de diferentes maneiras, a trabalhar no mercado da prostituição. Mr. Sam Brown Pak, presidente do Comitê Designado para assuntos do Oriente Próximo, diz que o tráfico de mulheres e crianças é a mais óbvia evidência da servidão no mundo atual.
Uma pesquisa menciona que aproximadamente 200.000 crianças na Áustria são submetidas à abusos sexuais por parte de homens e mulheres, e a maior parte dessas agressões são cometidas por seus pais e parentes. Em um relatório a respeito da violência e dos crimes resultantes do abuso da liberdade, revela-se que: “A América Latina é o continente mais violento do mundo, onde se alcança o índice de 140 crimes para cada mil cidadãos em El Salvador, 77 na Colômbia, 25 no Brasil, em comparação a 12 ou 13 em Nova Iorque e 6 ou 7 na Europa”.
Pense Antes de Agir
Para ser livre, devo escolher o meu modo de agir e tomar uma posição a partir de minha liberdade e vontade. Não farei isso a menos que primeiro pense sobre o que farei. Devo examinar e entender as conseqüências (proveitosas ou más), em seguida, optar pelo que for proveitoso recusando o que for prejudicial. Porém, o que em geral acontece é que, há um conflito em meu íntimo entre o desejo e o prazer de um lado, e a razão de outro. Algumas vezes, o desejo vence a razão. Em tal situação, o homem é privado de sua vontade e liberdade, é controlado por um desejo severo, similar a um político tirano ou àqueles que, usando de engano, impedem que as pessoas usem sua liberdade corretamente.
O indivíduo ocasionalmente se depara com situações que não requerem dele reações violentas. Contudo, perde o controle e seu intelecto sucumbe ao domínio da ira. Em razão disso, comete não apenas atos maléficos, mas também crimes e agressões graves. Portanto, quando o indivíduo se submete a essas emoções, perde sua vontade, sua razão e liberdade.
É possível também que um indivíduo trave relações com pessoas corruptas que o ludibriem, ele começará, por exemplo, a utilizar drogas ou a praticar sexo ilícito, crimes ou agressões. Em vista disso, se tornará prisioneiro do ambiente corrupto, se viciará no uso das drogas e estará nas mãos daqueles que o corromperam. O Alcorão Sagrado se refere a criminosos desse gênero como “demônios humanos” que iludem suas vítimas, roubando sua vontade e liberdade subjugando-as para que cometam crimes e transgressões, consumam drogas, etc.
O Alcorão Sagrado avisa aos muçulmanos para que se oponham às tentações retratando como esses demônios na forma humana se comportam e iludem as pessoas, por meio de falsas expectativas e belas palavras. Allah, Exaltado Seja, diz:
“…lhes promete e os ilude, entretanto, as promessas de Satã só causam decepções”. (Alcorão Sagrado 4:120)
“Temos apontado a cada profeta adversários sedutores, tanto entre os humanos como entre os gênios, que influenciam uns aos outros com a eloqüência de suas palavras. Contudo, se teu Senhor tivesse querido, não o teria feito. Deixai-os, pois, com tudo o que forjam! Que lhes prestem atenção os corações daqueles que não crêem na vida futura, que se contentem com eles, e que lucrem o que quiserem lucrar”. (Alcorão Sagrado 6:112,113)
Em outra passagem, o Alcorão Sagrado nos informa do domínio demoníaco sobre a vontade daqueles que se submetem. Também nos informa sobre um segundo tipo de pessoas que, ponderam acerca das conseqüências de seus atos e usam da razão, sendo então orientados pela luz da fé e pela Misericórdia Divina. Essas pessoas são livres e donas de sua vontade e decisão, não são dominadas pelos demônios.
O Onipotente diz:
“Quando recitares o Alcorão Sagrado ampara-te em Deus contra Satã, o maldito. Porque ele não tem nenhuma autoridade sobre os crentes que confiam em seu Senhor. Sua autoridade só alcança aqueles que a ele se submetem e aqueles que, por ele, são idólatras.” (Alcorão Sagrado 16:98 a 100)
“E quando a questão for decidida, Satã dirá a eles: Deus vos fez uma verdadeira promessa; assim, eu também vos prometi; porém, faltei à minha, pois, não tive autoridade alguma sobre vós a não ser convocar-vos, e vós me atendestes. Não me culpeis, culpai a vós mesmos…” (Alcorão Sagrado 14:22)
“Tu não terás autoridade alguma sobre os Meus servos, a não ser sobre aqueles que te seguirem dentre os seduzíveis.” (Alcorão Sagrado 15:42)
Nos versículos acima, o Alcorão Sagrado nos oferece um lembrete do conceito de liberdade e que Deus quer que tenhamos uma vontade baseada na razão e na consciência, considerando atentamente o que fazemos e o que deixamos de fazer. Por conseguinte, o Alcorão Sagrado condena aqueles que não usam sua razão para distinguir o bem e o mal ou o que é útil e o que é prejudicial. O Livro de Deus os descreve como animais e ainda os considera pior do que isso quando perdem sua posição (humana) abdicando da consciência, perdendo também sua vontade. Allah, o Sublime, diz: “… São como as bestas, quiçá pior, pois são displicentes”. (Alcorão Sagrado 7:179)
Este versículo diz que esse tipo de pessoa paralisou sua razão, sua capacidade de ver, ouvir, desejar e escolher com base no intelecto e na consciência. Por conseguinte, é guiada por sua busca de prazer ou por suas emoções, como os animais, não pela razão, a fim de que possa ter um senso de responsabilidade e percepção das conseqüências de seus atos. O Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) também orientou para que utilizássemos a razão e a reflexão antes de agir. Devemos, antes de tudo, tomar decisões com o nosso livre-arbítrio e consciência, não submetidos à influência das tentações, emoções ou desejos, nem sob a pressão alheia. Não é correto pensar que a liberdade nos orientará cegamente. Em vez disso, será o melhor comportamento aquele que for especificado pela ciência, pela razão e pelo Islam. A libertação da vontade humana da servidão aos prazeres é o melhor meio de libertar a razão e a vontade.
Liberdade e Reforma
O homem se distingue dos animais por seu intelecto, com o qual reconhece as coisas, e por sua aptidão moral e sensibilidade. Através da razão e dos princípios morais, ele edifica suas relações humanas e sociais. Compreende o significado da justiça, da injustiça, da severidade, da clemência, da verdade, da mentira, da fraude, do respeito e do desrespeito, do perdão, da vingança, do ciúme, do entusiasmo, da vergonha, do pudor, do ódio, da arrogância, do orgulho, da ambição, do egoísmo e do altruísmo.
Quando uma sociedade tem costumes, educação e tradições boas e úteis, o homem discerne a beleza da fealdade, o que é mal do que é benéfico. Com seu intelecto, reconhece que a observância dos bons princípios e tradições é uma questão de sublimidade humana que auxilia na formação da vida e na reforma da sociedade. Um meio de se alcançar a segurança e a estabilidade, proteger os direitos e a dignidade, além de preservar a própria liberdade.
O indivíduo, quando possui liberdade e se rebela sem escrúpulos contra a lei, a moral e as tradições, praticando o mal em nome da liberdade, abusa desse direito natural e pratica a opressão. Com tal atitude, transgride o sistema da vida, ofende o sentimento das pessoas e a ética da sociedade, a qual preserva a paz e a solidariedade. Um homem desse tipo se transforma num fator de dissolução social em nome da liberdade. Liberdade não significa que o homem seja livre para fazer tudo o que quiser sem respeitar a moral, as tradições e as leis. Os limites da liberdade são: as leis justas, a ciência, a ética e a fé. Em virtude da importância dos valores morais na formação do indivíduo e da sociedade, consideramos que seja o fator essencial nas mensagens proféticas.
O Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) disse: “Fui enviado para completar o melhor comportamento moral”. Também disse: “Os mais respeitáveis entre vós, na fé, são os de melhor caráter”.
Às vezes, um indivíduo pensa que a proibição das más ações contradiz a liberdade. Julga que quando seus pais, por exemplo, o proíbem de ter determinadas amizades ou quando ordenam a ele que abandone certos costumes e atitudes, estão a impor sua autoridade, o que contradiz a liberdade. Tal entendimento é incorreto. Autoridade, orientação e reforma são necessárias, sobretudo no início da vida, quando o conhecimento e a experiência do indivíduo ainda não estão formados. Ele necessita do conselho e da orientação dos pais, dos professores, dos amigos e de outras pessoas. Todos esses conselhos e instruções são para o bem da criança ou do adolescente. O indivíduo pode cometer um erro ao se rebelar contra os conselhos de seus pais ou daqueles que o orientam, julgando que sua revolta seja uma expressão de liberdade ou de personalidade. Não se trata disso, é, antes, expressão de uma avaliação incorreta ou de uma incompreensão do que é benéfico. O indivíduo certamente se arrependerá de ter cometido um erro quando se deparar com problemas e dificuldades, porém, será muito tarde.
O Círculo da Liberdade
Se uma pessoa vai às compras ou procura um restaurante onde se sirva boa comida, e quando é servido percebe que há alguma sujidade na carne ou que o pão não está fresco, certamente se recusará a comer, pois sente que há perigo para sua saúde. Uma pessoa pode ser acometida de hipertensão ou hiperglicemia. Os médicos a proibirão de usar sal ou substâncias que alterem sua taxa glicêmica. Assim, existem alimentos que vedamos a nós mesmos, por serem prejudiciais à nossa saúde. Quando vamos a uma cidade e nos deparamos com sinalização de tráfego, nós a respeitamos uma vez que na violação das leis de trânsito há perigo para nossa vida e a vida de outros.
Por conseguinte, há um âmbito proibido de ações que acarretam risco à vida e a à saúde, e que por uma motivação espontânea o indivíduo se abstém delas. O indivíduo percebe que precisa de conhecimento, ciência e trabalho e não se permitirá indulgência com tais ações, já que poderão gerar prejuízos a ele. Podemos mesmo observar uma criança que tenta atravessar uma rua correndo e então nos apressamos para protegê-la do perigo.
Você vê seu irmão mais novo acompanhando alguns rapazes no bairro e sabe que eles o levarão para um mau caminho, assim, você proíbe que ele mantenha amizade com eles pois sente que essa atitude é um dever de sua parte.
Quando você vê sua mãe doente ou incapaz de cuidar de si mesma, sente-se no dever de servi-la e ajudá-la, pelos tantos favores que ela já lhe prestou se sente obrigado a justamente compensar sua bondade. É possível que num determinado dia você se sinta cansado e decida relaxar por um momento num jardim ou visitar a um amigo, ou mesmo, assistir um filme na TV, assim, você tem o direito de escolher esses meios de descanso. Tais ações são chamadas de “mubah”, isto é, “permitidas”. No âmbito da permissão, uma pessoa tem total liberdade para fazer algo ou deixar de fazer. Portanto, fica evidente que há também o “muharam” o que é proibido, ações que o indivíduo não pode cometer; e que há ainda algumas obrigações (wajib) sobre as quais o indivíduo não é livre para abandoná-las. Assim, o círculo da liberdade é formado pelas ações permitidas, “mubah”.
Mas, a respeito do que é “proibido” (muharam) e do que é obrigatório (wajib), não se tratam de opções. Para tornar mais claro o conceito do que é lícito (halal), do que é proibido (haram) e do que é obrigatório (wajib) no Islam, recorramos ao Alcorão Sagrado e às tradições proféticas. O Alcorão Sagrado nos esclarece que exceto aquilo que tenha sido proibido por Allah, todas as outras coisas são lícitas. Essas proibições se referem apenas a determinados alimentos, bebidas e ações em que há prejuízo ou malefício para a sociedade ou a saúde do indivíduo, tais como: o consumo de álcool, o consumo de drogas, as relações extraconjugais (adultério e fornicação), o furto, a apropriação indébita, a mentira, a fraude, o politeísmo, a injustiça, o consumo da carne dos animais cuja causa da morte seja desconhecida, a opressão, a intimidação ou o incômodo às pessoas. Allah o Majestoso, diz:
“Vinde, para que eu vos prescreva o que o vosso Senhor vos tem vedado…” (Alcorão Sagrado 6:151)
“Dize: Meu Senhor vedou as obscenidades, manifestas ou íntimas…” (Alcorão Sagrado 7:33)
“… lhes recomenda todo o bem e lhes proíbe o ilícito…” (Alcorão Sagrado 7:157)
Diz-se que o Mensageiro de Allah (S.A.A.S.) afirmou: “Três coisas de um muçulmano são sagradas para outro muçulmano: seu sangue, seus bens e sua honra”.
Uma Palavra Final
Devemos entender que, como muçulmanos, a religião islâmica nos abre todas as portas da vida, tornando-as lícitas. Faz com que o âmbito da licitude seja o mais amplo possível, incluindo todas as áreas da existência: a alimentação, o casamento, a ornamentação, o vestuário, a busca do conhecimento e outras ações, excetuando apenas o que causa prejuízo ou acarreta perigo. Assim sendo, o que é importante é que o Islam torna todas as coisas lícitas e permissíveis para o homem, com exceção daquilo que tenha sido proibido pelo Criador, o Altíssimo, para o benefício das pessoas; e que o campo do halal (lícito) é o que permite ao homem se comportar com total liberdade. Portanto, vejamos o que o Alcorão Sagrado nos diz sobre esse campo da licitude: “Dize-lhes: Quem pode proibir as galas de Allah e o desfrutar os bons alimentos que ele preparou para os Seus servos?…” (Alcorão Sagrado 7:32)
O Alcorão Sagrado enfatiza que a vida e tudo o que há de bom e belo nela é lícita para o homem, que ele é livre para usar ou agir (nesse âmbito da licitude), e que as coisas que foram vedadas a ele são somente as que representam malefício para a vida do indivíduo ou da sociedade.
Escrito por: Al-Balagh Foundation
Tradução: Ahmed Ismail