O Casamento de Mohammad (S.A.A.S.) com Aisha

Uma das leviandades continuamente repetidas para ofender o Profeta do Islam tem sido a versão comumente aceita de que tenha se casado com Aisha, quando ela tinha nove anos, o que para os opositores do Islam significaria pedofilia.

Não obstante o relato atribuído a Aisha tenha sido transmitido por uma fonte única muitas décadas depois, (o que o torna duvidoso, por qual razão entre milhares de pessoas que o conheceram nenhuma contemporânea tenha atestado o fato?), aceitemos supostamente sua veracidade e analisemos o assunto dentro de seu contexto histórico e cultural.

A crítica perde imediatamente seu valor quando (para qualquer pessoa honesta, que não tenha a deliberada intenção de difamar uma pessoa) sabemos que Mohammad viveu há 1400 anos atrás, numa época na qual o casamento de uma jovem logo que atingisse a puberdade era a prática comum (em todos os povos e culturas). Como podemos julgar uma pessoa daquela época com padrões éticos que só foram estabelecidos no mundo pelo menos mil e duzentos anos depois? A resposta é simples: não podemos.

O próprio conceito de infância era desconhecido no séc. XIX –  várias práticas hoje consideradas desumanas envolvendo crianças eram absolutamente comuns na Inglaterra vitoriana – no início da revolução industrial crianças eram obrigadas a trabalhar em condições insalubres até 18 horas diárias – não se considerava qualquer distinção entre adultos e crianças. Como imaginar que há 1400 anos atrás em qualquer sociedade ou cultura houvesse restrições para o casamento consumado com uma menina que já tivesse alcançado a puberdade?

Nas sociedades antigas e medievais, as meninas poderiam ser noivas antes ou durante a puberdade. Na Grécia, o casamento e a maternidade precoces para as meninas eram incentivados. Mesmo os meninos eram esperados se casar antes de chegarem à idade de 18 anos. Com uma expectativa média de vida para os seres humanos em todo o mundo entre 40 e 45 anos, os casamentos e a maternidade ainda no início da adolescência eram típicos. Na Roma antiga as meninas se casavam antes dos 12 anos e os meninos a partir dos 14 anos.

M.A. Friedman (1980), Jewish Marriage in Palestine, Vol 1, The Jewish Theological Seminary of America: “organizar e realizar o casamento de uma jovem eram as prerrogativas indiscutíveis de seu pai no antigo Israel”. A maioria das meninas se casavam antes da idade de 15 anos, geralmente no início de sua puberdade. (a norma judaica ortodoxa sempre foi “a puberdade comprovada”).

O casamento arranjado entre famílias foi a regra por milênios (e ainda é praticado em muitas sociedades) – De acordo com o relato atribuído a Aisha, seguindo o costume predominante Mohammad (S.A.A.S.) firmou um contrato de casamento com Abu Bakr (pai de Aisha) quando ela tinha seis anos, Aisha continuou morando com seus pais até alcançar a puberdade.

A forma legal de um casamento no Islam é sempre um contrato estipulado; o casamento pode ser consumado logo que as condições previstas no contrato forem preenchidas – no caso em questão, a consumação do casamento só pode ocorrer com a confirmação da puberdade.

A diferença de idade é outro argumento infundado – o costume de todos os povos até bem pouco tempo desconsiderava essa diferença. Pesquisadores do cristianismo sustentam que José casou-se com Maria (A.S.) tendo três vezes a idade dela.

 

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