O Islam, a Guerra e a Paz

Por: Conselho Internacional para a Informação Islâmica.
Tradução: Ahmed Ismail

Muitas pessoas, especialmente na atualidade, perguntam sobre o ponto de vista Islâmico sobre a guerra e a paz. Não é fácil encontrar uma adequada resposta para esta questão. A palavra Islam é frequentemente usada por quase todos e a palavra “guerra” também é. Quase que de modo imediato, uma ligação parece se desenvolver entre as duas. Muitos políticos, a mídia e os chamados “especialistas” em Oriente Médio acrescentam a isso a incitação aos temores do Islam e sua “guerra santa”.

Islam significa “fazer a paz”

Muito embora quase todos falem sobre o Islam nos dias de hoje, infelizmente muito poucos sabem o real significado dessa palavra. Para a maior parte das pessoas, é apenas o nome de uma religião. Entretanto, poucos ponderam sobre o fato de que o nome pode carregar os pontos essenciais da fé. De fato, a maioria dos preconceitos e dos erros de interpretação que existem em relação ao Islam, são na verdade baseados nessa propagada de ignorância sobre o significado básico do termo Islam. Em seu sentido literal, Islam significa “fazer a paz”, Islam é a religião e o modo de vida da construção da paz. Fazer a paz, exatamente como o nome sugere, é o objetivo do Islam. O Islam quer produzir a paz em todas as esferas de importância da humanidade. O homem existe para estabelecer a paz com Deus, consigo próprio, com seu semelhante e com a criação de Deus. Uma pessoa que tenta fazer isso, é um muçulmano “alguém que busca construir a paz”.

Nenhuma “Guerra Santa”

Então, talvez alguém se pergunte: “Como isso se relaciona com a “guerra santa”? A resposta é simples: Não há nenhuma relação entre “guerra santa” e Islam. O termo “guerra santa” de fato nem mesmo se encontra no Alcorão, a escritura sagrada do Islam. É um termo alheio ao Islam. Originalmente, foi cunhado durante a idade média, na época das Cruzadas, quando apelos foram feitos no ocidente cristão por uma campanha de guerra ao Oriente, e, naquela época, contra o Islam e os muçulmanos. Isso foi chamada de “guerra santa”. Como sabemos hoje, aquelas cruzadas foram tudo, menos santas. Dificilmente alguém no ocidente de hoje gostaria de ser identificado com o então abuso dos sentimentos religiosos do povo. Entretanto, o termo “guerra santa” permaneceu. Na atualidade como se o próprio ladrão estivesse gritando “peguem o ladrão”, o termo é aplicado ao Islam e aos Muçulmanos, enquanto, de fato, tinha sido usado para uma guerra contra eles.

Então, o que é Jihad?

Alguém então poderia perguntar “Muito bem, o termo “guerra santa” não é encontrado no Alcorão, mas há o termo Jihad, é não é a mesma coisa?” Jihad é uma palavra do Alcorão, mas não significa nem “santa” tampouco “guerra”. Não é muito fácil de ser traduzido. O melhor meio de expressá-la pode ser: “Fazer algo com todos os esforços” ou “empenhar-se totalmente”. Portanto, tudo o que um muçulmano fizer “com todo seu empenho” é Jihad. Seu esforço por paz e justiça sem “jihad” seria sem sinceridade. O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) disse: “O melhor Jihad é falar a verdade diante de um governante injusto.” Esse dizer indica claramente que tipo de “esforço completo” significa aqui: superação pessoal do medo, da omissão interessada e do egoísmo. Esse Jihad é também um esforço contra o próprio ego. Portanto, o dizer seguinte é atribuído ao Profeta Mohammad (S.A.A.S.), quando uma vez ele, com seus companheiros, retornavam de uma batalha: “Nós estamos retornando do jihad menor para o jihad maior.” Lutar com armas é aqui chamado “jihad menor” em comparação com a luta contra o próprio ego. Essa obrigação deve ser mantida em vista quando se fala de guerra e paz no Islam.

Nenhum pacifismo cego?

O Islam não defende um pacifismo cego nem ordena a seus seguidores a sacrificar suas vidas ou a vida de outros, ou de alguém que seja responsável, por uma absoluta renúncia da violência. O Alcorão diz:

“ESTÁ-VOS PRESCRITA A LUTA (PELA CAUSA DE DEUS) , EMBORA A REPUDIEIS. É POSSÍVEL QUE REPUDIEIS ALGO QUE SEJA UM BEM PARA VÓS E QUIÇA, GOSTEIS DE ALGO QUE VOS SEJA PREJUDICIAL; TODAVIA DEUS SABE E VÓS IGNORAIS.” (C.2 – V.216)

Desse modo, o Alcorão reconhece que uma ordem de violência não é desejável, mas isso não é totalmente proibido, ao invés disso, fornece claros princípios para tratar com a ameaça de violência, aplicação da violência e renúncia da violência, o que brevemente apresentamos.

Contra a compulsão na religião

O esforço prescrito aos muçulmanos no versículo alcorânico mencionado tem um objetivo claramente definido, é contra a compulsão na convicção religiosa e defende a liberdade de crença. O Alcorão diz:

“NÃO HÁ IMPOSIÇÃO QUANTO A RELIGIÃO, PORQUE JÁ SE DESTACOU A VERDADE DO ERRO…” (C. 2 – V.256)

Não há nenhuma declaração de tolerância religiosa em qualquer outra escritura de uma religião do mundo. Um muçulmano é convocado proteger seu direito humano de liberdade de crença em Deus por todos os meios, e se necessário pela aplicação da violência, muito embora isso possa significar a quebra de algumas convenções existentes, como na Arábia antiga, quando lutar nos meses sagrados não era permitido. Diz o Alcorão:

“QUANDO TE PERGUNTAREM SE É LÍCITO COMBATER NO MÊS SAGRADOM DIZE-LHES: A LUTA DURANTEW ESTE MÊS É UM PECADO GRAVE; PORÉM, DESVIAR OS FIÉIS DA SENDA DE DEUS, NEGÁ-LO, PRIVAR OS DEMAIS DA MESQUITA SAGRADA E EXPULSAR DELA (MAKKA) OS SEUS HABITANTES É MAIS GRAVE AINDA AOS OLHOS DE DEUS , PORQUE A PERSEGUIÇÃO É PIOR DO QUE O HOMICÍDIO. OS INCRÉDULOS, ENQUANTO PUDEREM, NÃO CESSARÃO DE VOS COMBATER ATÉ VOS FAZEREM RENUNCIAR A VOSSA RELIGIÃO…” (C.2 – V.217)

Esse é o contexto em que o Alcorão não apenas permite a guerra, mas também a prescreve. Um muçulmano não apenas tem o direito, mas também é obrigado a defender a liberdade de crença em Deus mesmo por meios violentos contra aqueles inimigos, que impedem os que crêem a viver de acordo com a senda de Deus, a acreditar nele, visitar seus lugares de adoração e permanecer ali em paz. Todos esses atos de transgressão contra os direitos humanos são resumidos em outras partes do Alcorão sob o termo de Dzulm, que significa opressão e violência injustificada.

Contra a opressão

Empenho contra a compulsão na religião é ao mesmo tempo um empenho contra a violência injustificada e a opressão. Portanto, o Alcorão demonstra claramente essa ligação dizendo:

“E O QUE VOS IMPEDE DE COMBATER PELA CAUSA DE DEUS E DOS INDEFESOS , HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS? QUE DIZEM: Ó SENHOR NOSSO, TIRA-NOS DESTA CIDADE (MAKKA) CUJOS HABITANTES SÃO OPRESSORES. DESIGNA-NOS, DE TUA PARTE, UM PROTETOR E UM SOCORREDOR.” (C.4 – V.75)

A um muçulmano não é apenas permitido mas ele também tem que lutar pela proteção das pessoas, que pedem a ajuda de Deus contra a tirania. Isso é o que o Alcorão chama de “luta na senda de Deus”. Luta ou guerra por objetivos mundanos é, no entanto, rejeitada pelo Islam.

Nenhuma outra luta

Tão claramente quanto o Alcorão ordena a luta contra a imposição religiosa e a opressão, ele proíbe qualquer guerra por outras razões, seja, por poder político, influência econômica, recursos naturais, orgulho nacional ou tribal e tudo o mais que possa ser imaginado. Todas essas razões o Alcorão denomina com o termo coletivo de “bens deste mundo”. De acordo com a perspectiva Islâmica, este mundo está em oposição ao além, “A VIDA FUTURA É MELHOR E MAIS DURADOURA…” (C.87 – V.17) portanto o comportamento de um muçulmano não é determinado à guerra pelos bens deste mundo. O Alcorão proíbe isso com este versículo:

“Ó CRENTES! QUANDO VIAJARDES PELA CAUSA DE DEUS, SEDE PONDERADOS, NÃO DIGAIS A QUEM VOS PROPÕE A PAZ: TU NÃO ÉS CRENTE, COM O INTENTO DE AUFERIRDES (MATANDO-O OU DESPOJANDO-O) A TRANSITÓRIA FORTUNA DA VIDA TERRENA. SABEI QUE DEUS VOS TEM RESERVADO NUMEROSAS FORTUNAS. VÓS ÉREIS COMO ELES EM OUTROS TEMPOS; PORÉM DEUS VOS AGRACIOU (COM O ISLAM). MEDITAI POIS, PORQUE DEUS ESTÁ BEM INTEIRADO DO QUE FAZEIS.” (C.4 – V.94)

Em outras palavras, alguém, que como um que crê, se engajasse num conflito devido a outros motivos que não os permitidos por Deus estaria agindo como antes que, pela graça de Deus tenha se tornado um muçulmano. Então, não seria diferente dos outros. Muito embora, o muçulmano deva ser diferente, porque seu dever é construir a paz. Empenho e guerra pelos bens deste mundo não produzem a paz. Portanto, o Alcorão sugere certas medidas para prevenir as guerras e assegurar a paz.

Garantindo a paz

Quatro princípios para assegurar a paz e prevenir a guerra são mencionados no Alcorão. Esses podem também ser chamados de princípios da educação islâmica para a paz. Primeiramente, o Alcorão aplica o já mencionado princípio da “não compulsão na religião”. Estabelecendo a liberdade das criaturas humanas de professar a fé em Deus como base para assegurar a paz. O segundo diz que o propagador da guerra deve ser punido severamente de acordo com o Alcorão e atentando para a consequência de seus efeitos maléficos. De acordo com o Alcorão, o que conspira para a guerra é para ser punido com a morte, ou ao menos com o banimento. Dessa maneira deve se prevenir a guerra. O terceiro princípio é o que o Alcorão exige dos que nele crêem não apenas assegurar a paz por palavras mas também por medidas visíveis, que expliquem para todos que o objetivo de posicionar-se contra a compulsão religiosa e a tirania e assegurar a paz não são apenas proclamar mas também estar protegidos contra ameaças:

“MOBILIZAI TUDO QUANTO DISPUSERDES EM ARMAS E CAVALARIA PARA INTIMIDAR COM ISSO, O INIMIGO DE DEUS E VOSSO E TAMBÉM A OUTROS QUE NÃO CONHECEIS, MAS QUE DEUS BEM CONHECE…” (C.8 – V.60)

O objetivo desta medida é claramente declarado: a prevenção da guerra.

O quarto princípio: o Alcorão menciona em vários lugares a conclusão de tais tratados que garantem que a guerra não aconteça. Esse tratado é apenas anulado quando a outra parte rompe seus termos. Isso os muçulmanos não aceitarão, já que o Alcorão os instrui:

“PORÉM, SE DEPOIS DE HAVEREM FEITO O TRATADO CONVOSCO PERJURAREM E DIFAMAREM A VOSSA RELIGIÃO, COMBATEI OS CHEFES INCRÉDULOS POIS SÃO PERJUROS; TALVEZ SE REFREIEM.” (C. 9 – V.12)

Outra vez se faz claro que a proteção da liberdade da crença em Deus está no centro do ensinamento do Islam sobre a guerra e a paz.

Auto-defesa, sim!

Por último, a instrução do Alcorão para não se começar a guerra e para concluí-la tão cedo quanto seja possível são também importantes meios de garantir a paz. Um muçulmano tem o direto da auto-defesa, quando sob ataque, mas ele é também obrigado a terminar a luta quando o inimigo cessa o ataque. A atitude do muçulmano no caso de guerra é sempre a atitude em resposta ao que aconteça a ele:

“COMBATEI PELA CAUSA DE DEUS AQUELES QUE VOS COMBATEM PORÉM, NÃO PRATIQUEIS AGRESSÃO PORQUE DEUS NÃO ESTIMA OS AGRESSORES.” (C.2 – V.190)

“MATAI-OS ONDE QUER QUE OS ENCONTREIS E EXPULSAI-OS DE ONDE VOS EXPULSARAM…” (C.2 – V.191)

“E COMBATEI-OS ATÉ TERMINAR A PERSEGUIÇÃO E PREVALECER A RELIGIÃO DE DEUS. PORÉM SE DESISTIREM NÃO HAVERÁ MAIS HOSTILIDADES, SENÃO CONTRA OS INÍQUOS.” (C.2 – V.193)

Aqui uma vez mais, as únicas razões permissíveis para a guerra são mencionadas: autodefesa contra a agressão e a expulsão. Ainda mais claramente o Alcorão declara em outra passagem:

“ELE PERMITIU (O COMBATE) AOS QUE FORAM ATACADOS, EM VERDADE DEUS É PODEROSO PARA SOCORRÊ-LOS. SÃO AQUELES QUE FORAM EXPULSOS INJUSTAMENTE DE SEUS LARES, APENAS PORQUE DISSERAM: NOSSO SENHOR É DEUS. E SE DEUS NÃO TIVESSE REFREADO OS INSTINTOS MALIGNOS DE UNS EM RELAÇÃO AOS OUTROS, TERIAM SIDO DESTRUÍDOS MOSTEIROS, IGREJAS, SINAGOGAS E MESQUITAS ONDE O NOME DE DEUS É FREQUENTEMENTE CELEBRADO. SABEI QUE DEUS SECUNDARÁ QUEM O SECUNDE EM SUA CAUSA , PORQUE É FORTE E PODEROSÍSSIMO” (C.22 – V.39 e 40)

Estabelecendo a paz e a justiça

Além disso, o versículo “…PORÉM SE DESISTIREM, NÃO HAVERÁ MAIS HOSTILIDADES EXCETO CONTRA OS INÍQUOS.” (C.2 – V.193) instrui aos muçulmanos a esforçarem-se tanto pela paz quanto tenham feito pela guerra antes. Essa boa vontade para com a paz é exigida pelo Alcorão em qualquer caso “SE ELES SE INCLINAM PARA A PAZ , INCLINA-TE TU TAMBÉM A ELA …” (C.8 – V.61) O Alcorão não compele ninguém a aceitar o Islam. Muito embora todos tenham que se submeter aos princípios de “liberdade para crer em Deus” e da “proteção contra a opressão” e devem provar isso na prática por pagar o tributo ao estado Islâmico (que por sua vez tem a obrigação de proteger os não muçulmanos).

Estes são, em suma, os mais importantes princípios sobre a guerra e a paz no Islam. Qualquer pessoa que esteja informada sobre eles pode então formar sua própria opinião quanto a quando os muçulmanos têm o direito e são obrigados a lutar pela liberdade e pela sua crença, e quando seus sentimentos religiosos são manipulados para outros diferentes fins. Além disso, uma pessoa deve também estar capacitada para formar um justo julgamento sobre esses princípios Islâmicos e perguntar a si mesma o que são na verdade as objeções a isso. O que de fato podem ser as objeções a:

– Proteção contra a compulsão religiosa
– Proteção contra a opressão e a tirania
– Lutar pela paz e os direitos humanos
– Proibição do ataque e da agressão
– Permissão a autodefesa

«
»