Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
“É meu Senhor, faça me ser um devoto a ti sem que a minha devoção seja corrompida pelo sentimento de engrandecimento”. Trecho da Súplica Makarem Al-Akhlaq, do Imam Zain Al-Abedin (A.S.)
Al-Ojub, ou seja, o sentimento de engrandecimento, o qual o Imam relata no seu du´a acima, é um dos piores pecados cujo podem ser cometidos pelas pessoas, e de uma forma bem especifica os fiéis, os quais são o alvo principal das tentações e sussurros de Satã para serem tomados por este problema espiritual.
O que é o Al-Ojub?
Al-Ojub é o sentimento de engrandecimento ou orgulho excessivo perante a ação ou certa característica da pessoa. Aquele sentimento de alegria e satisfação achando que o dever foi cumprido completamente e que o resultado não seria tão bom se não fosse ele, este é o Ojub, o qual é um sentimento e característica negativa revogada tanto nos versículos do Alcorão Sagrado quanto nas tradições dos Ahlul Bait (A.S.).
Al-Ojub é o sentimento de se achar, se elevar e se exaltar por estar praticando algo. Achando que aquilo não sairia melhor se não fosse ele ou que não haveria outro senão ele para pratica-lo. Este é um sentimento ridículo e tolo que todos nós devemos nos distanciar, cujo muitas vezes ele é usado por Satã, o qual usa de todos os meios de manipulação para desviarmos do caminho certo.
Al-Ojub no Alcorão
Deus, o Altíssimo, dizia: “ Acaso, aquele cujas más ações lhe foram abrilhantadas e as vê como boas…” (35:8) Ou uma outra passagem que fala a respeito desta péssima característica que é a seguinte: “Não atribuais pois, pureza a vós mesmo, porque Ele bem conhece os tementes”. (53:32) Não são o que nós sentimos ou enxergamos que define se algo é certo ou benéfico, ou se será um mérito para nos salvar no dia do juízo final, pois este sentimento às vezes é manipulado e usado por Satã, o qual desvia-nos da senda reta e nos introduz o orgulho por meio dele, nos fazendo se sentir satisfeitos por nossas ações. Devemos ficar bem atentos e ligados quanto a isso.
Numa outra passagem Deus disse: “São aqueles cujos esforços se desvaneceram na vida terrena, não obstante crerem haver praticado o bem”. (18:104) Este versículo expõe o que estamos dizendo. E saibam que nada será consagrado senão tiver o aval e liberação de Deus, o qual tudo sabe, e sabe o que passa no coração de todas as pessoas.
Al-Ojub nas tradições
Como é de costume, toda e qualquer bela conduta é motivo de elogio e incentivo nas tradições dos Ahlul Bait (A.S.), pois eles nos traçam o caminho da felicidade, e o que eles dizem em suas palavras representa o melhor para o ser humano. Ao mesmo tempo tudo e qualquer coisa que seja reprovado e condenado por Deus é motivo de infelicidade ao homem, e o mesmo será condenado e reprovado pelos Ahlul Bait (A.S.), pois existe uma certa sintonia entre o livro de Deus e as tradições, jamais um contrariará o outro, por isso um será um complemento do outro. Ambos, como o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) dizia são as duas preciosidades, o livro de Deus e os Ahlul Bait, os quais representam o caminho da salvação.
Ignorância
O Imam Assadiq (A.S.) reprovou claramente o sentimento de engrandecimento pelas características e ações e dizia: “Não há ignorância pior que o sentimento de engrandecimento”. Ou seja, a fonte de tudo é a ignorância e falta de conhecimento, sendo assim, se soubéssemos a verdade não seguiríamos este sentimento ridículo. Isso é uma total ignorância.
Eliminação
Numa outra passagem o Imam Assadiq (A.S.) classificou o sentimento de orgulho excessivo como extinção e total eliminação da pessoa que o possui. Ele dizia: “Quem introduzir o engrandecimento em si, será arruinado”. Fiquem bem atentos, pois este sentimento leva a este fim negativo.
Tolice
Este sentimento também é classificado como tolice total numa passagem onde o Príncipe dos Fiéis (A.S.) dizia: “O sentimento de engrandecimento é uma tolice total”.
A pior das coisas
Numa outra passagem o Príncipe dos Fiéis (A.S.) classificou este sentimento como o pior de todos. Ele dizia: “A pior das coisas é se sentir engrandecido”. Ou seja, estar satisfeito achando que cumpriu o dever e fez o que deveria fazer e não falta mais nada, este é um sentimento errado e totalmente desviado.
Portanto, estas são características que devemos evitar, já que representam o caminho do desvio e erro da vida, sendo que este mal afeta a todos, especialmente os mais nobres e fiéis, e talvez foi por isso que o Imam Ali (A.S.) aconselhou seu companheiro íntimo e comandante de seu exército, Malik Al-Ashtar, a evitar isso quando o nomeou como o governante do Egito. Numa carta o Imam (A.S.) lhe dizia: “Jamais sinta-se engrandecido…”
As razões do engrandecimento
Como todo e qualquer problema este sentimento possui razões de onde surge. Sabendo quais são suas razões fica mais fácil evita-lo e elimina-lo da sociedade. Algumas razões deste mal sentimento são:
a) O elogio
Quando alguém recebe um elogio isso pode causar na pessoa elogiada um sentimento de satisfação e de engrandecimento pela característica ou ação pela qual foi elogiada. Devemos elogiar as pessoas que fazem o bem para incentivar a prática do bem na sociedade, só que dependendo da pessoa devemos ficar atentos para não causar um orgulho excessivo nela. Isso pode arruína-los. Elogiar na medida certa e jamais ser um bajulador, pois o pior de tudo são aqueles que elogiam ou bajulam sem causa e razão lógica para aquilo. Eles elogiam para ganhar algo em troca.
b) Ignorância
Não é à toa que o Islam tanto reprova esta característica, pois afinal de contas ela é a base e o início de todas as coisas ruins. A falta de conhecimento e informação leva o homem a muitos lugares e sentimentos obscuros, entre eles o sentimento de orgulho excessivo chamado engrandecimento, ou Al-Ojub, em árabe.
c) Personalidade fraca
Alguém que possui uma fraca personalidade e sem base de informação religiosa certamente será guiado para o caminho errado. Ele acaba sendo um eco para as vozes desviadas. A mídia, os amigos, a sociedade, os colegas, tudo poderá desvia-lo do caminho certo, e isso porque ele possui uma personalidade que não tem determinação. O Islam deseja que tenhamos firmeza em nossos ideais e que não sejamos desviados ou influenciados negativamente, e sim, positivamente. O Islam é defensor da ideia de mudar, mas sempre para o melhor, aperfeiçoando nossas condutas e pensamentos, e adequando-os cada dia mais de acordo com a doutrina do Islam.
d) Orgulho e arrogância
O sentimento de orgulho e de arrogância leva o ser humano a engrandecer suas ações ou práticas achando que o que fez é o bastante ou o máximo. Arrogância é um mal que se introduzido na mente do homem irá arruinar muitas coisas de sua vida, entre elas sua alma e seu espírito. Fiquemos bem atentos para ficar bem longe desta característica satânica, a qual o diabo incorporou e foi motivo de sua expulsão do paraíso quando ele recusou a cumprir a ordem de Deus e prostrar diante de Adão. Mesmo que Deus tenha dado uma ordem direta o diabo não acatou e recusou obedecer a Deus, o motivo disso era a arrogância.
e) Enxergar mais as obediências e desconsiderar os pecados
O fato de apenas ver os atos benéficos e práticos e não enxergar os pecados já é um começo para este sentimento maligno chamado Al-Ojub. Quando a pessoa só lembra das suas obediências, de suas boas práticas e de suas boas características e ao mesmo tempo esquece de lembrar dos seus pecados e de seus atos ilícitos, certamente o seu foco vai mudar. Ele começa a achar que é mais querido, mais próximo e mais amado por Deus, e este é um dos sinais de que ele está saindo do caminho.
Os graus
Como todos as demais questões, o sentimento de contentamento e satisfação em si pode ter vários degraus e tipos. Vamos começar:
a) Pela fé
Sendo que este é o pior tipo de todos. Quando a pessoa sente orgulho pela sua fé achando que agregou um esplendor a mais para a religião ou a doutrina divina, isso é o pior e mais alto tipo de sentimento de engrandecimento que pode existir. Ele acha que sua fé, sua atividade, sua conduta, sua participação ou contribuição foi a que agregou à religião mais majestade e posição. Está registrado no Alcorão Sagrado o que o profeta Abraão dizia: “ Dize: Minhas orações, minhas devoções, minha vida e minha morte pertencem a Deus, Senhor do Universo”. (6:162)
Tudo que a pessoa faz deve ser para Deus e não para outros, nem se for para sentir satisfação por aquilo. Na verdade, no fundo, quem disse que aquela oração que ele praticou ou aquela caridade que ele pagou ou aquela contribuição que deu foi acatada por Deus? Talvez tudo aquilo que o homem se sente tão orgulhoso não seja nada acatado por Deus, pois não tinha sido praticado com total sinceridade a Ele, e nós sabemos que uma das razões pelas quais nossas ações devem ser acatadas ou não são as nossas intenções, que devem ser sinceras a Deus. Este sentimento irmãos é tão perigoso que pode até classificar o homem como pecador, e não como fiel, e isto está afirmado na passagem do Imam Assadiq (A.S.) o qual certo dia deu um exemplo a seus companheiros e disse: “Dois homens entram na mesquita. Um deles é devoto e o outro um pecador. Quando saem da Mesquita o pecador sai sincero e o devoto sai com pecados. Isso porque ao entrar na Mesquita o devoto ingressa se achando o melhor com sua devoção e fé, já o pecador ingressa para pedir o perdão de Deus, e por isso seus pecados serão perdoados por Deus”.
b) Pela proximidade
O homem acha que por ser mais fiel e devoto é mais próximo de Deus, e mesmo que Deus o reprove ou jogue algum tipo de calamidade sobre ele, ele traduz aquela calamidade sobre si mesmo como um sinal de proximidade a Deus. Ou seja, se ele não fosse próximo e amado por Deus não estaria sendo castigado. Isso é o segundo grau.
c) Merecedor da recompensa
O terceiro grau é o sentimento de ser o merecedor da recompensa de Deus e de ter suas orações atendidas. Quando a pessoa se vê convencida pelas devoções que pratica e começa a sentir que deve ser atendida por Deus por suas boas ações, este é um sinal de que ela está sendo afetada por este mal e deve ficar alerta. Além de tudo, quando vê que tem pessoas menos fiéis que ela sendo agraciadas por Deus ela acha que Deus tem o dever de agracia-la e atender suas orações também. Tudo isso está errado e não é assim que funcionam as coisas. Na verdade, este sentimento nos expõe que o que ela procura em suas devoções e contribuições religiosas não é a obediência a Deus, e sim algo em troca, e se isso não vier ela se sentirá abatida.
d) Ser diferente dos demais
O último grau é quando a pessoa se sente diferente das demais. Achando que é superior no ponto de vista religioso. Ela acha que é a mais devoto, a que mais pratica o bem, a que mais reza, etc. Ele começa a ser enxergar mais perfeita do que os outros e este é um sentimento negativo. Não é porque alguém é contrário a mim em uma fé ou doutrina que isso o torne menos merecedor ou eu mais merecedor. Ou até mesmo se seguir a mesma fé, jamais devemos desmerecer os outros achando que nós somos os mais perfeitos e completos e os outros inferiores. Isso é um sentimento desviado e incorreto e deve ser abolido da vida de um fiel devoto.
A cura do problema de Al-OJUB
Há curas para este problema:
1) Louvar a Deus
Cada vez que a pessoa pratique algo que seja um motivo de orgulho para si mesmo, que louve a Deus imediatamente, e que isso seja feito tanto no seu coração quanto na sua língua. Louvar a Deus é louvar Ele por ter proporcionado a força e a condição de praticar aquilo, e se não fosse Ele e Sua vontade nada seria feito.
2) Conhecer a si mesmo
E esta é uma questão muito importante para todos, conhecer a sua verdade é um ponto de partida muito importante para evitar o orgulho e arrogância para o ser humano. Saber que nada depende dele e que ele é simplesmente um ser incapaz e que sua existência e inexistência não fariam diferença nenhuma para o universo. Que ele é um ser tão dependente de Deus que se Ele tirar sua graça sobre ele por um único instante ele se arruinará. O Imam Al-Baquir (A.S.) dizia sobre este ponto: “O obstáculo para o orgulho é conhecer a si mesmo”. O homem é um ser tão fraco, dependente, necessitado, pobre e isso tudo está no trecho do Dua Kumail onde a humildade do Imam Ali Ali (A.S.) perante Deus era tanta que ele dizia sobre si mesmo: “… Ó Senhor, então, como poderei eu, que sou um mero servo teu, fraco, humilde, insignificante e um pobre coitado à procura de amparo, fazê-lo?”. Esta é a realidade do homem e nada vale todo esse orgulho e arrogância e sentimento de exaltação ou elevação que ele sente. Tudo isso é desnecessário e não é cabível e nem compatível em sua vida.
3) Ficar entre o temor e o apelo
O servo deve sempre permanecer entre duas características:
Temer a Deus verdadeiramente é a salvação absoluta.
O apelo a Deus é um ótimo lembrete para que o homem se sinta sempre incapaz de ser absoluto e autossuficiente, e que lembre que sempre será um pobre necessitado em todas as suas coisas a Deus.
4) Auto julgamento
Cobrar a si mesmo é uma ótima iniciativa. Que a saiba sua verdadeira posição e valor, e que nada de tudo que ele sente, tanto orgulho ou arrogância, é eterno. Tudo é passageiro e nesta vida não vale a pena sermos tão ignorantes ou estúpidos. Não há nenhuma alma que reprove o bem e ao mesmo tempo nenhuma aprovará o mal. A pessoa pode aparentar o que quiser, mas internamente sente em sua essência a verdade. O auto julgamento e a cobrança de si mesmo é o que fará dar voz a nossas essências e julgar nossas ações internamente para que evitemos as más práticas e pratiquemos as boas. Auto julgamento nos indicará que o sentimento de orgulho excessivo é reprovado e desnecessário na doutrina e na vida.
5) Lembrar do julgamento do juízo final
Lembrar e recordar do dia em que cada um será ressuscitado, apenas com suas ações cujo dependerá delas para se salvar. Naquele dia em que nada te valerá, nem seus filhos, parentes, familiares e amigos, e nem sua riqueza que tanto trabalhou para conquistar. Tudo isso será em vão. Naquele dia em que todos serão julgados por Deus o todo poderoso pelo mínimo e mais minúscula que seja sua ação. Dia em que todo ser humano será exposto perante a todos que saberão sua verdadeira intenção em suas práticas. Naquele dia em que ele não poderá mais se esconder por trás de máscaras diferentes que usava aqui na Terra para disfarçar sua intenção. Ao lembrar disso tudo e muito mais coisas ligadas ao grande dia do juízo final teremos um resultado melhor, evitando o orgulho e arrogância nos sentimentos e práticas.
6) Conhecimento
O conhecimento é a chave da salvação. Especialmente conhecer a vida e as tradições dos Ahlul Bait (A.S.). Saber como viviam e como tratavam seus semelhantes? Como eram pessoas extremamente divinas e voltadas a Deus. Como suas intenções puras e sinceras a Deus refletiam em suas ações. Como agiam com os próximos, especialmente seus subordinados e pessoas mais humildes da sociedade. Este conhecimento nos fará entender como devemos agir, pois eles são nossos exemplos e se alegamos amor aos Ahlul Bait (A.S.) devemos seguir seus passos.
Uma bela lição do Profeta (S.A.A.S.)
O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) dizia para seus companheiros: “Nenhum de vocês será salvo por suas ações”. Daí os companheiros perguntaram: “Nem você, ó Mensageiro de Deus?”. Ele disse: “Sim. Nem eu. Exceto se Deus me incluir em sua misericórdia”. Ou seja, o significado deste dito é o seguinte: que as práticas de nenhum de nós são tão completas e perfeitas que por si só mereceriam o paraíso. Nenhum de nós irá ingressar no paraíso por méritos próprios e por competência de suas ações, e sim apenas se ele for incluído na misericórdia de Deus. Isso nos indica que não devemos ostentar ou nos alegrar tanto por termos cumprido os nossos deveres ou feito algumas boas práticas. O que vale mesmo em tudo isso não é a quantidade e sim a qualidade e a sinceridade ao cumprirmos os nossos deveres.
Nem os Ahlul Bait (A.S.) que eram as pessoas mais puras, perfeitas, infalíveis e completas deste mundo tratavam a si mesmos assim. Então o que nós diríamos de nós mesmos?
Louvado seja Deus, o Senhor do universo. Que a paz esteja com Mohammad e sua purificada linhagem.
Aula ministrada por: Nasser Khazraji
Data: 27/06/2020