Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

O jejum é uma devoção no Islam e possui excelentes resultados. Na verdade, o jejum é uma ação edificante e muito saudável, pois além do fortalecimento de nossa fé (efeitos espirituais) e aproximação com Deus, a alimentação torna-se mais seletiva nesta época, o que nos deixa atentos à nossa alimentação e seus benefícios (efeitos físicos). Assim, hoje iremos abordar os frutos mais importantes do jejum sobre a pessoa.

Primeiro: A paciência

Quando a pessoa evita fazer aquilo que está acostumada a fazer durante o ano inteiro, seja comer, beber, entre outros, esse esforço requererá muita paciência da pessoa e o jejum é a fonte de inspiração para o ser humano, pois sua paciência o testará. A paciência perante os prazeres, perante o ego, perante os desejos do dia a dia é requerida e conseguida por meio jejum.

Na verdade, um dos sinônimos do Jejum é a “Paciência”, como foi citado por Deus no Alcorão Sagrado: “Amparai-vos na perseverança e na oração…” (2:45). Aqui os sábios e eruditos interpretam o significado da SABR (perseverança) como Jejum. A paciência é uma belíssima virtude, a qual Deus afirma a sua importância em diversas passagens do Alcorão Sagrado, e os pacientes possuem uma grande posição, já que receberão uma abundante recompensa por Deus. Na verdade, a recompensa aos perseverantes não tem limite algum, pois Deus disse: “…. Aos perseverantes, ser-lhes-ão pagas, irrestritamente as suas recompensas!” (39:10) Numa outra passagem Deus afirma que ama os pacientes: “… Deus aprecia os perseverantes” (3:146).

Então irmãos, a paciência é uma grande virtude e inspiração para todos nós, a melhor maneira e o caminho mais curto para adquiri-la é jejuando. Fazendo o jejum fortalecemos e aumentamos nossa paciência e a perseverança. Paciência nas calamidades, paciência nas dificuldades, paciência no dia a dia, paciência no trabalho, nas relações com os outros, enfim, a melhor receita e a melhor solução para muitos problemas é simplesmente esperar e ser paciente, que tudo se resolve. Se quisermos analisar podemos até dizer que a paciência é a base de tudo, pois se não formos pacientes não iremos adiante.

A cura de uma enfermidade exige paciência, a colheita de um camponês exige paciência, o ganho de um empresário a exige também. Hoje, com esta grande pandemia que vivemos, a nossa principal arma perante o cenário atual é a paciência, com todas as medidas e cuidados médicos para que possamos sair e ultrapassar esta fase com segurança. Enfim, a paciência é tudo e é por meio dela que vem a solução e o alívio, como diz o príncipe dos Fiéis (A.S.): “A paciência é a chave do alívio”.

O jejum é uma espécie de treinamento em que o homem se prepara para as dificuldades da vida, e nada melhor que a paciência para ultrapassar essas dificuldades. É como um soldado que passa por situações extremas e se prepara para o momento em que ele passará por aquilo na vida real. O jejum também é um treinamento espiritual e físico para o ser humano e o ajuda a enfrentar as dificuldades da vida com razão e lógica. O Imam Assadiq (A.S.) dizia sobre a importância e a posição da paciência: “A paciência perante a fé é como a cabeça perante o corpo”. Todos sabemos que um corpo sem cabeça não tem vida e nem valor, e isso vale para nossa fé, sem a paciência nossa fé e religião também não tem valor.

Segundo: Ikhlas e presença divina

O jejum, fortalece o nosso sentimento perante a presença de Deus, o Altíssimo, em nossas vidas e isso é uma resolução tão óbvia e lógica para toda pessoa que até mesmo uma criança sabe disso. Estes dias perguntei a uma criança que estava jejuando pela primeira vez se ela comia escondido em seu quarto. Ela disse que não. Perguntei o porquê e ela me respondeu: “Porque Deus está olhando”. Vejam só como isso é belo. O jejum nos faz perceber que estamos sendo olhados, observados a cada momento e em todos os lugares, mesmo se formos para o quarto, fecharmos as portas e janelas, desligarmos as luzes, Deus vê tudo e não há como escapar de Seu olhar.

Por outro lado, ao sentir a presença de Deus em seu dia a dia a pessoa começa a purificar e intencionar suas ações sinceras a Deus, o Altíssimo. O que é chamado de “Ikhlas”.  Sua definição pode ser aquela prática realizada por alguém a fim de agradar e satisfazer puramente a vontade de Deus. Mas como isso funciona no jejum? O jejum é uma adoração que ninguém pode vê-la senão o próprio jejuador e Deus, o Altíssimo. Não é como a oração, caridade ou uma boa ação que ao praticá-la as pessoas podem ver, podemos até mesmo buscar um elogio ou um prestígio ao praticarmos estas ações. O jejum é uma devoção puramente voltada a Deus e só o jejuador sabe o tamanho da importância de mantê-la válida até o final do dia, pois ele não deseja que a mesma seja anulada e sim aceita e acatada por Deus ao pôr do sol. Fátima Azzahra (A.S.) dizia: “O jejum foi imposto para firmar a importância do Ikhlas (Intenção pura a Deus)”. E todos nós sabemos qual é a importância do Ikhlas e qual sua posição perante a aceitação verdadeira das nossas ações perante Deus, o Altíssimo.

Na verdade, o Ikhlas é o principal meio que pode tornar nossas ações aceitas ou anuladas perante Deus, pois em tudo o que fazemos precisamos intencionar aquela ação para a aproximação a Deus, o Altíssimo, e se esta ação não for concretizada, aquela ação será como se não tivesse sido praticada. Por isso que o Imam Ali (A.S.) dizia: “Aquele cujo o Ikhlas não acompanha sua ação, a mesma não será aceita”.

Então, queridos irmãos, o Ikhlas é tão importante quanto a própria prática. Não importa o tamanho da ação e sim a pura intenção a Deus. De nada vale uma grandiosa ação como a construção de um grande hospital ou mesquita, doações em milhões, se tudo isso não é com intenção pura a Deus e sim para ganhar fama e prestígio. De muito vale uma ação pequena e insignificante como ajudar um pobre, um idoso ou um animal se aquela intenção é pura e sincera a Deus, o Altíssimo.

O Ikhlas é a principal receita do sucesso como dizia o Príncipe de Fiéis (A.S.): “Com as puras intenções se obtém o sucesso”. Quanto mais purificarmos nossas ações para Deus, mais teremos chance de obter sucesso, e mais ainda de termos nossas ações aceitas e acatadas por Deus, o Altíssimo. Vejam só que belo exemplo dos Ahlul Bait (A.S.) quando doaram o seu único alimento para aquele pobre, órfão e prisioneiro, lhes procuraram por 3 dias consecutivos. Eles os alimentaram e não buscavam nada em troca, e esta pura intenção deles os fez serem mencionados no Alcorão Sagrado até o dia do juízo final. “Certamente vos alimentamos por amor à Deus; não vos exigimos recompensa, nem gratidão” (79:9). Dezenas e milhares de exemplos de Ikhlas podem ser citados aqui, todos praticados pelos Ahlul Bait (A.S.) e pelos virtuosos, mas nos contentaremos com este único exemplo.

Terceiro: A força de vontade

O ser humano é uma criatura composta de instintos e razão, e o que nos separa dos animais é a nossa razão e o controle dos nossos instintos. De nada vale o ser humano se ele seguir seus instintos cada vez que lhe der vontade de fazer alguma coisa. Comer ou beber quando quiser ou fazer aquilo que nos dá prazer cada vez que queremos, isso é algo que nos tornaria como animais. O que nos torna humanos é a nossa razão e o autocontrole com nossas paixões e prazeres, e isso podemos conquistar facilmente através do jejum.

Ao controlar o instinto de comer, de beber, de fazer aquilo que desejar, de falar algo ou de escutar alguma coisa, isso é realmente ativar a função da razão humana e colocar o ser humano em sua devida posição. Então, sem nenhuma dúvida podemos afirmar que o jejum é um curso de treinamento em que o ser humano fortalece sua força de vontade e ativa sua razão colocando-a em sua devida posição na vida.

O dia a dia é cheio de tentações, e se o ser humano não tiver a força de vontade necessária e controlar seus instintos será derrotado por eles. Muitas vezes uma pessoa é derrotada pelo instinto da gula, da bebida, das relações indecentes ou demais instintos que o levariam a prazeres ilícitos. O que torna o homem forte perante estas tentações é o jejum em que a principal receita é fortalecermos as nossas vontades. Então o jejum educa e fortalece a mais importante composição do homem que é a sua vontade e razão.

Estes são os principais e mais importantes frutos do jejum, e que devemos aperfeiçoá-los e buscá-los. O jejum é uma devoção que possui centenas de virtudes e consequências positivas, e devemos explorar todas, pois nada é imposto por Deus sobre o homem senão fosse para o seu bem. A cada ano, ou melhor dizendo, a cada dia que jejuamos, devemos aperfeiçoar nossas condutas, aproximando-nos mais da virtude e da perfeição para alcançar a satisfação e o agrado de Deus, que deve ser a única coisa que toda pessoa almeja verdadeiramente, pois é a verdadeira salvação que lhe dará a garantia da paz e do conforto na outra vida.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo que a paz e as bençãos de Deus estejam com todos vocês.

Aula ministrada por: Nasser Khazraji
Data: 02/05/2020