Autoria: Al-Balagha Foundation
Anseios do Filho
Eu espero que meu pai não interfira em meus assuntos. Eu quero que me dê um pouco de liberdade. Eu espero que ele discuta comigo algumas questões importantes; que não seja autoritário comigo ou pelo menos fale de maneira paternal e carinhosa.
Espero que ele se lembre de sua juventude quando estiver me questionando ou prestando atenção em mim; que ele me respeite diante de meus amigos e colegas, como eu costumo respeitá-lo na presença de seus amigos e parentes.
Eu espero que ele me compreenda e que eu tenha minha posição e autonomia, como ele tem as dele, de modo que me perdoe quando eu cometer erros involuntários. Espero que ele entenda que eu fui criado para uma época diferente da dele; e que não deve fazer de mim uma cópia dele. Espero que aja com equidade em relação a mim e meus irmãos.
Eu espero que ele cuide de mim sem interferir em meus assuntos pessoais, que decida sobre mim sem severidade… Ele deve ser um conselheiro não um ditador e não deve desconsiderar meus esforços.
Anseios do Pai
Eu espero que meu filho seja melhor do que eu sou, e não apenas a continuação de mim. Espero que realize aquilo que eu não fui capaz de realizar em minha vida, e que sua ambição seja melhor do que a minha.
Eu espero que utilize minha experiência, não caia nos erros que eu cometi, e que aceite meus conselhos.
Eu desejo que ele me considere um amigo, para que me revele alguns de seus segredos e problemas. Espero que seja sincero comigo como eu sou com ele; que entenda que minha ira com ele, quando comete algo errado, é amor, não retaliação ou tirania.
Espero que compreenda que todos os meus filhos são iguais para mim e eu amo a todos eles, e que é possível que eu não goste de alguns de seus hábitos e goste de outros.
Eu espero poder ganhar a confiança de meus filhos para que abram seus corações para mim. E que sigam minha orientação pois será para o bem e o interesse deles.
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Essas são as esperanças e aspirações de pais e filhos, na busca sincera de reconciliação, entendimento e da construção de uma relação forte, na qual os filhos amam e respeitam seus pais e os pais desejam o bem de seus filhos.
Contudo, ambos devem analisar os desejos um do outro, para alcançarem uma boa relação familiar. Essa é a chave para que o relacionamento seja bom e aceitável.
A questão é: Por que tudo isso permanece sendo esperanças? Por que os pais não tentam suprir essa deficiência? Por que os filhos não ajudam a construir a ponte para o entendimento mútuo? Por que ambas as partes não abrem a porta para o diálogo e resolver os problemas que impedem a realização dessas expectativas? O que pode ser feito se pais e filhos quiserem? Não é algum tipo de milagre, é algo perfeitamente factível. Assim, há a necessidade de que pais e filhos entendam a realidade e os sentimentos mútuos. Isso é o que discutiremos a seguir.
Sobre os erros dos pais
É possível que alguém ponha a culpa somente nos pais pelo fato de possuírem muita experiência de vida. Assim, espera-se que perdoem e tenham um melhor entendimento. Com base nisso, não perdoamos nossos filhos, quando se opõem aos conselhos, sobretudo quando não sabem o que estão a fazer.
Contudo, devido as muitas responsabilidades dos pais, atentaremos para os erros dos pais, que se forem devidamente tratados, a distância entre filhos e pais diminuirá.
Alguns pais tratam os filhos com severidade, tal como foram tratados por seus próprios pais, algo assim como uma herança. Aqui não discutiremos esse ponto mas estudaremos o efeito do relacionamento familiar de hoje no futuro. Falaremos a esses pais que gostam de tratar o problema a esse modo; Lembram do ressentimento resultante do tratamento severo de seus pais? Como pode um pai, que vivenciou a severidade, sentir-se bem ao ver seu filho na mesma situação? É bom para um pai sempre gritar com os seus filhos por qualquer pequena falta, falar com eles usando um tom de voz ameaçador, como se fosse um tipo de carrasco?
Conta-se que certa vez um governador de província visitou o Califa e encontrou-o a brincar com seu filho. A criança estava sentada nas costas do pai. O governador, surpreso, perguntou ao Califa: “Por que estás fazendo isso meu Senhor?” O Califa, sabendo que o governador não tratava seus filhos daquele modo perguntou; “Como tu tratas os teus filhos?” O governador respondeu: “Quando entro em casa, se um deles estiver de pé, senta-se e se outro estiver falando, fica em silêncio”. Então, o Califa disse: “Não és merecedor de teu cargo, pois certamente com esse modo de agir oprimes os súditos”.
Se um pai, depois de se acalmar, ver o vídeo de uma situação em que ele age de modo furioso, sentir-se-á envergonhado. Como sabemos, não devemos fazer algo do qual poderemos nos envergonhar depois. De fato, será que não podemos encontrar um meio de controlar nossos filhos sem o uso da força ou da intimidação?
Pessoas sensatas dirão: “O último recurso é a força”. Por que recorremos a força em primeiro lugar? O ato de observar com ar de desaprovação é capaz de impedir que venham a cometer os mesmos erros no futuro; o uso de boas palavras também é capaz de impedir que se excedam numa próxima oportunidade.
Por que levamos nossos filhos à ira quando falamos com eles? Por que estamos fazendo com que se tornem severos com os outros? Podemos perceber o resultado de tudo isso?
A hegemonia paterna pode levar a uma outra situação: a de absoluta desconsideração quanto à opinião familiar; quando o pai impõe sua vontade. Por exemplo, ele pode impor o seu gosto alimentar sobre os demais membros da família. Num Hadith é narrado: “É amaldiçoado aquele que alimenta sua família segundo seu apetite, sem respeitar o gosto da família”. Mesmo que não pareça no presente, futuramente tal atitude produzirá efeitos negativos.
Existem pais que ficam irritados, espancam e ofendem seus filhos quando estes perturbam seu sono ou descanso, muito embora não respeitem o descanso de seus filhos, como se fossem escravos sem direitos em sua própria casa.
Um dos maiores erros dos pais é a dualidade no que dizem e no que fazem; já que um filho procura em seu pai um orientador para a vida. Ao perceber que o pai não pratica o que ensina, o filho se verá propenso a desobedecê-lo no futuro. Como pode um pai fumante ordenar a seu filho que não fume?
Outro erro do pai é exagerar sobre as faltas de seu filho, como se fossem faltas imperdoáveis e incorrigíveis. Alguns pais chegam a dizer: “Os filhos mudaram… não mais respeitam seus pais”. É possível que tenham mudado, no entanto, a maior parte dos problemas podem ser solucionados através do amor, da sabedoria e da compreensão.
Há ainda os pais que tratam os filhos como crianças pequenas impondo sua vontade sobre eles; o que causa infelicidade e desconforto, uma vez que os jovens esperam ser respeitados ao saírem do mundo das crianças para o mundo adulto.
Mesmo nos dias atuais há alguns pais que gostam de alertar seus filhos, mesmo que já sejam adultos, por exemplo, sobre o cuidado ao dirigir. Tais conselhos são úteis para os muito jovens, não para os adultos que já sabem como cuidar de si mesmos.
Outro erro comum é tentar impor aos filhos uma determinada profissão ou trabalho que não seja do gosto deles. Se um pai agir assim, estará, na verdade, desejando uma cópia de si mesmo. Naturalmente, os pais têm o direito de discutir com seus filhos sobre suas escolhas profissionais, mas não têm o direito de obrigá-los a escolher essa ou aquela profissão.
A interferência paterna nas questões pessoais do jovem em crescimento prejudica sobremaneira as relações entre pais e filhos. Da mesma maneira, o costume de espionar as atividades dos filhos arruína as possibilidades de confiança e sinceridade dessas relações. Assim como não gostamos de ser espionados nossos filhos também não gostam.
Alguns pais interferem mesmo nas questões matrimoniais de seus filhos tentando impor um casamento.
Abu Ya’afur contou: “Certo dia falei a Abu Abdullah (o Imam Ja’far) que eu queria me casar com uma mulher, porém meus pais queriam que eu me casasse com outra. Ele disse: “Case com aquela que tu gostas…”
Outro erro dos pais é a diferenciação material ou emocional que fazem entre seus filhos ou entre os filhos e as filhas.
Um dia, o Santo Profeta (saas) viu um homem que tinha dois filhos beijando apenas um deles. Então disse: “Por que não tratas a ambos com equidade?”
Se beijar apenas um dos filhos demonstra disparidade, o que dizer dos outros favores dados a um e negados a outro? O problema se complicada mais quando se refere às meninas, em virtude de sua natureza emocional mais instável. O Santo Profeta (saas) disse: “Sejam equitativos com seus filhos. Se eu tivesse que dar preferência a um deles, eu daria preferência às filhas”.
Distinções Importantes
É importante definir o verdadeiro sentido de alguns conceitos e palavras usados no contexto familiar, para não cometermos erros ou utilizá-los de modo inapropriado.
Obediência e Bondade
Muitos pais falam sobre obediência com os filhos tratando o assunto como uma responsabilidade deles. A maneira com que abordam o assunto dá a entender que os filhos ao desobedecerem se tornam pecadores. Entretanto, Deus Onipotente deseja que os filhos obedeçam aos pais, mas somente nas coisas que não signifiquem desobediência a Ele.
Assim, a adoração e a obediência são devidas a Deus, e a bondade é devida aos pais. As boas ações nesse contexto, se relacionam mais com a boa moral e menos com a obrigatoriedade. Se os pais desejam obrigar o filho a fazer alguma coisa que seja contra a lei, então é um direito do filho não obedecê-los.
A bondade aqui diz respeito à bondade praticada pelos pais durante a infância do filho, a qual deve ser retribuída.
Alguns pais tratam da questão de modo a tentar forçar o filho a obedecê-los. É comum ouvirmos os pais dizerem: “Sacrificamos nossa juventude por ele, e é assim que nos retribui?”
A narrativa profética é clara sobre isso, ordenando a não se obedecer algo que seja contra a lei de Deus: “Não há obediência a uma criatura que desobedece a Deus”.
A ordem de se obedecer a Deus, a Seu Mensageiro e as leis do Islã não é uma ordem parental, aliás, é compulsória para pais e filhos.
Em suma, o que é requerido é a bondade para com os pais, não a obediência, que é devida somente a Deus. Os pais não são legisladores, não têm a atribuição de forçar a obediência.
Entretanto, o consentimento paterno não contradiz o consentimento de Deus. Se o relacionamento com os pais for baseado em bondade, como Deus deseja, então dará felicidade a eles, o que resultará na satisfação de Deus. Disse o Profeta (saas): “A satisfação de Deus está na satisfação dos pais; e a ira de Deus está na ira dos pais”. Satisfação ou ira aqui, têm base na obediência ou na desobediência. Mesmo se os pais forem politeístas é necessário ter uma boa relação e demonstrar bondade com eles.
Essa atitude fará os pais ficarem contentes com seus filhos e talvez venha a ser a origem da orientação deles.
Zakaryyah Ibn Ibrahim, um cristão convertido ao Islã, narrou que pediu ao Imam Jafar (as), para ficar vivendo com seus pais, que eram cristãos. O Imam (as) disse: “Não há problema nisso. Cuide de sua mãe e seja obediente a ela. Se ela falecer, cuide você mesmo dos preparativos para o seu funeral”. Zakaryyah fez exatamente como o Imam lhe disse. Um dia, sua mãe disse: “Ó meu filho! Por que tens sido tão bom para mim, melhor do que era quando tínhamos a mesma religião?” Zakaryyah contou sobre o conselho recebido do Imam (as) e ela disse: “Tua religião é a melhor religião, fale-me sobre ela”. Ele explicou os fundamentos do Islã e ela converteu-se, e naquela mesma noite veio a falecer”.
Também encontramos nos ahadith proféticos que: “A obediência está entre o que causa melhor impressão”. Em outro hadith consta: “obedeçam vosso pais e vossos filhos serão obedientes”.
Determinação e Rigor
Alguns pais são muito rigorosos e severos no modo de tratar seus filhos, ao ponto de utilizarem a força. Se alguém pergunta a necessidade disso, respondem: “é preciso que um pai seja determinado, do contrário não terá seus filhos sob seu controle”.
Concordamos que o controle não deve ser perdido e que os assuntos da família devem ser tratados de maneira sábia, mas há uma grande diferença entre rigor e determinação.
A – Diz-se que a determinação é a cuidadosa verificação sobre os filhos e o ambiente em que estão, e ainda, de sua psicologia, sob certos limites. Porém, o rigor é ignorância, e por isso não respeita limites.
B – Determinação provém da sabedoria e do intelecto, leva mais em consideração o interesse dos filhos, enquanto que o rigor provém da emoção, funciona mais a partir do sentimento de ira provocado pela possível perda do controle na situação.
C – Determinação quer dizer ajudar o jovem a melhorar seu modo de ser. É uma ferramenta que auxilia o amor verdadeiro, enquanto que o rigor significa retirar a vontade do jovem e torná-lo incapaz de melhorar-se, pois o rigor é cheio de emoção. Assim, determinação é um instrumento para o progresso e o rigor é um instrumento para a destruição.
D – Determinação é uma ajuda para que se alcance independência e virtude. O rigor não é nada mais do que servidão e ausência de responsabilidade.
Espionagem e Monitoramento
Quando um jovem alcança a puberdade, seus pais passam a vigiá-lo e monitorá-lo, nesse ponto a dúvida supera a confiança. Mas, por que é assim? Na puberdade o jovem vive um tipo de independência em relação aos pais, o que é natural, uma vez que o cuidar de si mesmo é algo encorajado pelos pais; é um sinal de sanidade pessoal. Se tal não ocorrer será um grande problema para os pais.
A independência exige que o jovem tenha atividades relacionadas com essa fase da vida. Quando descobre que seus pais estão revistando seus livros e bolsas sente tristeza e raiva, uma vez que considera essa atitude um desrespeito e um atentado a seus direitos. E o que acontece se um filho apresenta este ayat para seus pais: “Ó vós que credes, evitai a suspeição, pois muitas vezes a suspeita é um pecado, e não espioneis…” (31:12) Poderão responder que não estão espionando? Ou dirão que por serem seus pais têm o direito de revistar seus pertences, e portanto, ele não tem o direito de se irritar por isso? Uma atitude desse tipo não faria o jovem empenhar-se mais em ocultar seus assuntos e cometer coisas erradas longe da visão dos pais?
Por que fazemos com que nossos filhos se afastem e busquem outras pessoas? Espionar não é um método eficiente para afastá-los de nós e fazer com que nos temam da mesma maneira que se teme os detetives?
Alguns pais podem dizer: Como deixaremos que nossos filhos façam o que quiserem quando nada sabem da vida? Deixá-los agir como quiserem não é um modo de encorajá-los a cometer mais erros ou escolher más companhias?
De nossa parte dizemos: monitoramento é o oposto de espionagem. Alguns pais dirão que o que estão fazendo é monitoramento e não espionagem.
Monitoramento é sentir à distância e observar, não dirigir o movimento do jovem. Assim, o pai pode acompanhar e saber os lugares que o jovem frequenta e os amigos com os quais se relaciona.
Nesse ponto é necessário dizer que o excesso de liberdade pode se transformar numa situação caótica, bem como a supressão da liberdade.
Quanto melhor o monitoramento realizado melhores serão os resultados, ainda que não seja isso o que muitos pensam.
Quando os pais falam com seus filhos sobre seus amigos é preciso que o diálogo seja o mais aberto e franco possível.
De qualquer modo, uma condição que nos leve a monitorar a vida de um filho não deve criar um cerceamento para ele, a menos que saibamos que sua vida ou sua integridade moral estejam em risco em virtude de seu comportamento. Lembrem-se que um bom monitoramento não pode gerar uma situação de espionagem.
Educar os filhos tomando por base o princípio da autodisciplina tem um resultado efetivo, uma vez que, os jovens tendem a tornar-se mais responsáveis e cuidadosos.
A Proteção Paterna
Os pais são responsáveis pela proteção e educação de seu filho até que ele alcance a puberdade, mas depois disso, não têm o direito de impor sua vontade sobre a dele. Alcançada a maioridade o indivíduo responde por suas ações perante o Estado e perante Deus.
É evidente que, a autonomia dada a uma pessoa mentalmente sã a capacitará a não agir como uma pessoa insana.
A medida preventiva prescrita pelos juristas a uma jovem na época de seu casamento, ou seja, o direto dado a seu pai, avô ou tutor, de aconselhá-la na avaliação do seu futuro marido, não é suficiente para evitar que a jovem seja vítima do engano e da corrupção. De fato, não é bom abandonar a proteção paterna logo após a puberdade, uma vez que nossos pais são as pessoas mais sinceras para um filho e sua experiência será sempre de grande valia.
Os pais que respeitam seu filho jamais farão de sua “tutela” um exercício de tirania. Agirão como orientadores e auxiliarão na solução dos problemas. Há uma grande diferença entre “guardiões” e conselheiros; a tutela é necessária antes da puberdade, mas o conselho permanece necessário mesmo depois dela.
Independência e Separação
Nos países ocidentais quando um jovem alcança a puberdade, as autoridades e a sociedade permitem que ele saia da casa de seus pais e passe a viver de modo independente, tal como um fruto maduro que cai da árvore.
A relação entre o fruto e a árvore termina quando a fruta a cai, mas a de um jovem com sua família, da maneira como é preconizada no Islã, permanece ainda muito tempo depois de seu amadurecimento; na prática e na lei. De fato, o relacionamento entre o filho e seus pais permanece mesmo depois desta existência. O que é demonstrado pelo dua’a (súplica) que diz: “Ó Allah, perdoa os crentes e as crentes, os muçulmanos e as muçulmanas, vivos ou mortos. Ó Allah dá a nós e a eles de Tua bondade…”
Advogamos independência não separação no sentido admitido no Ocidente, segundo o qual filhos e pais se tornarão estranhos uns para os outros.
Um pai sensato é aquele que ajuda seu filho a tornar-se independente. Trata-se daquilo que os psicólogos chamam de “desmame emocional”, em que se constrói a auto-confiança e o relacionamento fraterno.
Independência financeira, por exemplo, é um anseio de todo jovem e faz parte de sua personalidade. De maneira que, é papel do pai orientá-lo nesse sentido. Sobre isso, disse o Profeta (saas): “O direito do filho sobre seu pai é que este lhe dê um bom nome, que o eduque e o mantenha em boa condição”. Portanto, a orientação na vida profissional é uma responsabilidade paterna. Os pais devem ajudar seu filho a construir uma boa vida financeira. Porém, não devem forçá-lo a seguir uma determinada profissão.
Psicólogos apontam diferenças entre tutela e proteção:
1 – Proteção requer auxílio, convicção e contentamento, enquanto tutela requer força e obediência.
2 – Proteção depende de certos instrumentos com base nas condições e na época. Tutela confia somente na força, já que é uma interferência direta.
3 – Proteção proporciona um desenvolvimento abrangente e requer parceria, enquanto a tutela se opõe a isso.
4 – Proteção pavimenta um caminho para confiança. A tutela reprime a personalidade e produz ansiedade. A proteção encoraja a exposição das opiniões; a tutela priva da liberdade.
Assim, a proteção garante a formação da personalidade, dando ao jovem a possibilidade de escolher seu próprio caminho.
As diferenças entre as duas gerações
Para que alcancem um entendimento comum e uma atmosfera de respeito, pais e filhos devem entender as diferenças fundamentais entre as duas gerações. Os pesquisadores mencionaram algumas dessas diferenças:
* Os jovens são sempre propensos às novidades, o que nem sempre ocorre com os mais velhos.
* Os jovens possuem um espírito revolucionário. Os mais velhos inclinam-se à imitação dos padrões, sendo mais conservadores.
* Os jovens são propensos à imaginação e aos aspectos teóricos; os mais velhos são naturalmente mais práticos.
Todas essas diferenças se apresentam na média, não podem ser generalizadas.
A compreensão dessas diferenças ajuda na redução do conflito entre filhos e pais. De modo que é um dever que os pais respeitem as escolhas e as inclinações de seus filhos, da mesma maneira, os filhos devem respeitar o modo de ser de seus pais. De fato, ambas as gerações precisam reconhecer que há pontos positivos e negativos em todos os estágios da vida.
Um educador utilizou de modo figurativo as raízes de uma árvore e seus galhos, ao se referir aos pais e aos filhos. Ressaltou inicialmente a forte adesão aos valores, inerente às raízes (os pais) e a natural dependência dos galhos (filhos) às raízes. Uma crítica comum dos galhos em relação as raízes é que estas se encontram sob a terra, enquanto os galhos estão ao ar livre. Os pais (representados pelas raízes) respondem a isso lembrando que o alimento dos filhos provém deles. Porém, os filhos (representados pelos galhos) respondem que as raízes também dependem da luz e da água captada pelos galhos.
Assim é a vida da árvore. A vida não permanece sem a contribuição das raízes e dos galhos. Se a cooperação de ambas as gerações existir, os filhos serão capazes de dar conta da maioria dos problemas relacionados a essa fase da vida, e os pais se beneficiarão também das qualidades potenciais dos filhos.
Os Pais e a Educação dos Filhos
Os pais, devido a sua preocupação com o futuro de seus filhos comumente os encorajam no sentido de se esforçarem mais em seus estudos. Entretanto, o que ocorre na maioria das famílias é a insistência, sobretudo na época dos exames. Alguns pais esquecem que por vários fatores, seja por uma indisposição, por algum motivo emocional ou simplesmente por um ambiente muito agitado (com muitas visitas na casa), os filhos não se sentem propensos a uma maior dedicação ao estudo.
É possível solucionar esse problema seguindo alguma dessas sugestões:
* Os pais podem mudar sua rotina de vida social ou mesmo restringi-la durante o período de exames.
* Recordar os resultados negativos causados pela negligência pode encorajar os filhos a se dedicarem com mais afinco.
* Os pais podem auxiliar seus filhos orientando-os numa melhor organização nas tarefas escolares ou redigir algumas explicações acerca dos tópicos em estudo.
Um problema comum desse tipo é o de uma maior atenção dada ao lazer do que ao estudo. Via de regra, os pais adotam uma posição negativa sobre as atividades de lazer, tendem a considerá-las “perda de tempo”.
Nesse caso, a sugestão é enfatizar que nas férias haverá mais tempo para o divertimento, argumentar que o lazer pode ser postergado, diferentemente das tarefas escolares. Não é recomendável uma atitude radical de proibição. Isso pode surtir um resultado ainda mais negativo, uma vez que, psicologicamente, o ser humano sente-se atraído por aquilo de que é privado.
Conselho Familiar
A sugestão de um conselho familiar para a solução dos problemas não apresenta mais dificuldades do que ocorre nas assembleias. O nobre Profeta (saas) disse: “Um jovem é um líder por sete anos, um servo é um líder por sete anos e um ministro é um líder por sete anos”. Assim, há situações na vida que um jovem pode ser conselheiro de seus pais.
Na verdade, um filho tem o direito de expor sua opinião aos pais, seja adequada ou não, e eles têm o dever de respeitá-la, elogiando quando ele estiver certo e orientando-o quando equivocar-se.
Palavras como “obedeça, não questione” ou “obedeça e não reclame” significam “ditadura”, o que faz os jovens se rebelarem.
A fonte principal de harmonia e compreensão mútua é o respeito a opinião de cada membro da família. O Santo Profeta (saas) disse: “O coração de uma pessoa se inclina para aquele que a beneficia”. E disse também: “Se reunirdes todo bem em vós, certamente sereis amados”.
Nada é mais efetivo do que a educação dos filhos, dando-lhes o direito de emitir suas opiniões e respeitando-os. Os dizeres do Profeta (saas) encorajam as atividades que fortalecem o moral dos jovens e os promovem da posição da infância para a posição da maturidade.
Podemos escolher um método conveniente para cada família. O conselho familiar visa a discussão dos assuntos. As pessoas que coordenarão a escolha desses assuntos podem ser escolhidas.
Qualquer método que seja escolhido deve promover o bem estar da família e concretizar o entendimento mútuo e a cooperação. O mais importante é saber que a pureza de coração dos filhos pode auxiliar sobremaneira a solução dos assuntos familiares. Conselhos desse gênero podem produzir resultados positivos como:
* A família deixará de ser um pequeno grupo de indivíduos para ser como um estado onde pessoas diferentes apresentam suas opiniões e experiências.
* Cria um sentimento de coletividade e responsabilidade conjunta em que o slogan de todos é “a administração e a felicidade dessa casa é uma responsabilidade de todos nós”.
* A distribuição das tarefas e responsabilidades tornar-se-á mais fácil e terá a aceitação de cada membro.
* Será uma preparação para um futuro melhor da família. Certamente, a próxima geração copiará seu modelo.
* Impedirá a desarmonia e a acusação desnecessária promovendo a cooperação e o entendimento.
Não se deve pensar que essa sugestão seja algo fácil, na verdade, requer tempo para que possa gerar bons frutos.
O pai (ou o líder da família) deverá ter as seguintes qualidades:
* Capacidade de priorizar as questões mais importantes.
* Deve estar ciente das circunstâncias da época, pois estará tratando com uma nova geração. Assim, deve ser capaz de convencê-los em assuntos que dizem respeito a eles.
* Deve conhecer a correta distinção entre o lícito e o ilícito.
* Deve ter a disposição e a boa vontade com todas as opiniões, mesmo as que possam ser consideradas incorretas, e deve debatê-las de maneira conveniente. Deve saber aconselhar e dirimir polêmicas entre os membros da família.
* Deve ter um bom relacionamento com todos, não adotando uma atitude ditatorial. Deve dar o direito de expressão a todos, manter a calma e o respeito.
Outra questão a ser considerada é a discrição do encontro. Não é lícito externar os assuntos que só dizem respeito a família. Sobretudo em questões que possam constranger um de seus integrantes se forem conhecidas por outras pessoas.
O testemunho de um pai
“Eu sou honesto com meus filhos e não busco impor minha vontade sobre eles. Sempre que vejo um erro da parte deles não os repreendo de maneira severa nem faço uso de violência. Eu desejo que tenham sua própria vida e que escolham seu próprio caminho. Não interfiro em suas escolhas. Tento educá-los com liberalidade sem exigir nada acima de suas capacidades”.
O testemunho de um filho
“Meu pai é meu amigo e orientador. Sempre que tenho um problema ele me incentiva à confiança, para que juntos possamos resolvê-lo. Ele não é autoritário, ao invés disso, facilita as coisas para que eu exercite a liberdade e faça as melhores escolhas. Porém, sempre que eu cometo algo errado ou ilícito, ele age com decisão. Não há contradição em sua ação e em sua palavra. Ele não dirige o meu futuro, antes, permite que eu faça minhas escolhas e exerça minha capacidade”.