Palavra de Seyed Sharif Seyed Al-Ameli no Encontro Islâmico no Brasil

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, que a paz e as bênçãos de Deus estejam sobre o Profeta Mohammad (S.A.A.S.), sobre seus Ahlul Bait (A.S.), seus bons companheiros e sobre todos que os seguem verdadeiramente até o dia do juízo final.

Queridos irmãos e irmãs, que a paz e as bênçãos de Deus estejam sobre todos vocês.

Primeiramente gostaria de agradecer aos organizadores deste encontro por me conceder o tempo e o uso da palavra, onde falarei sobre “o papel dos Sábios e Líderes Religiosos no enfrentamento do terrorismo”, desejando sucesso ao evento, para que possamos sair daqui com resoluções no que diz respeito ao enfrentamento do terrorismo e do radicalismo. E peço a Deus, Glorificado seja, que faça com que nossas ações sejam essencialmente puras e dedicadas a Deus, e que nos ajude a agir de acordo com seu agrado, e que Ele dê sucesso a todos os aderentes deste caminho.

Deus disse no seu livro sagrado: “(É a lei) daqueles que transmitem as Mensagens de Deus e O temem, e a ninguém temem, senão a Deus, e basta Deus para que Lhe rendam contas”. (C. 33 – V. 39)

Querido participantes;

Quando compreendermos a importância da segurança saberemos quais são os danos do terrorismo e do radicalismo, e está claro para todos nós que segurança significa o sentimento humano de estar e sentir-se seguro quanto a sua religião, vida, dignidade, raciocínio e patrimônio, o que é classificado por todas as mensagens celestiais como “As Cinco Necessidades Essenciais”, que como já disse são vistas como importantes e dignas de preservação por todas as religiões. Certamente que a segurança é uma das dádivas de Deus, com a qual agraciou Seus servos, e por isso devemos observa-la e agradecer a Deus, preservando suas bases para que prevaleça para todos, já que no Alcorão Sagrado, Deus, o Altíssimo, disse: “ … Divulga a mercê do teu Senhor, em teu discurso”. (C. 93 – V. 11)

A segurança é tão importante que Deus, Glorificado Seja, a igualou em importância com a alimentação, quando disse em seu livro sagrado: “Que adorem o Senhor desta Casa, que os provê contra a fome e os manteve seguros do temor!” (C. 10 – V. 3 e 4). Até mesmo o Profeta Abraão considerou a segurança como um dos fatores de importância em seu discurso, e isso está registrado no Alcorão Sagrado: “E quando Abraão implorou: Ó senhor meu, faze com que esta cidade seja segura, e agracia com frutos os seus habitantes…” (C. 2 – V. 126). O fator segurança é tão importante que o Profeta Abraão implorou pelo mesmo antes mesmo de mencionar a devoção e o monoteísmo. O registro do Alcorão Sagrado nos demonstra: “Ó Senhor meu, pacifica esta Metrópole e preserva a mim e aos meus filhos da adoração dos ídolos!” (C. 14 – V. 35).

É certo que em um ambiente de segurança é onde se concretiza um ambiente de irmandade, afeto e amor, com total desaparecimento do ódio e inimizade. O ser humano vive tranquilamente em segurança, onde atinge um nível de contentamento e com isso ergue a vida e sua religião da melhor forma possível. Deus, o Altíssimo disse no Alcorão Sagrado: “…recorda-vos das mercês de Deus para convosco, porquanto éreis adversários mútuos e Ele conciliou os vossos corações e, mercê de Sua graça, vos convertestes em verdadeiros irmãos…” (C. 3 – V. 103). O Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) disse: “Aquele que viver em segurança em seu ambiente, saúde em seu corpo, e ter o alimento do dia, será como se tivesse atingido o nível máximo de contentamento na vida”.

Com base nisso, perceberemos a quantidade de danos causados pelo terrorismo e quais suas consequências quando se expande e especialmente quando é praticado em nome da religião, utilizando as vestes da religião e tentando associar a mesma aos problemas desta vida. Com base nisso, o mundo islâmico enfrenta um dos maiores e mais difíceis problemas já vividos em sua existência, surgido depois que elementos imperialistas se infiltraram no corpo desta nação, e aproveitaram-se de indivíduos fracos para contaminá-los com seus interesses e ambições.

E aqui dizemos, será que é natural que estas grandes forças se empenhem o máximo que podem para criar as intrigas neste mundo e para distanciar as nações e os povos dos assuntos cruciais e importantes do seu interesse, enfraquecê-los e tirar suas fontes de riquezas? Neste encontro nós temos que dialogar e não apenas acusar ou jogar a culpa no próximo. Temos que pensar em uma solução para a cura do corpo, para que ele seja fortalecido e para que os vírus das intrigas não o contaminem novamente. Devemos buscar a segurança e a paz, buscar a cura da ignorância que domina a nossa sociedade e dos muçulmanos contra si mesmos.

Temos que solucionar os motivos da falta de comunicação entre os sábios e líderes religiosos, algo que acontece até mesmo entre os países islâmicos, e buscar saber os motivos, sejam eles básicos, sectários ou mal-entendidos, pois ao invés de nos aproximar para dialogar e solucionar os problemas, nós estamos boicotando uns aos outros. Temos que tratar os discursos islâmicos, temos que abordar e curar as razões do takfirismo (negação da fé do outro) que dia após dia encontra mais braços para abraçá-lo. O takfirismo que de uma simples ideologia veio a se tornar um movimento criminoso cruel e sangrento.

A responsabilidade recai sobre todos nós em encontrar o problema e a solução para a falha de comunicação entre todos os muçulmanos, pois Deus, o Altíssimo disse: Sabe que os fiéis são irmãos uns dos outros; reconciliai, pois, os vossos irmãos, e temei a Deus, para vos mostrar misericórdia”. (C. 49 – V. 10). Sou otimista e tenho a visão de que isso é possível por vários fatores:

1) Identificando os temas de divergência e não deixando-os crescer. Este fator requer a presença de uma frente sábia e culta que apaga os fogos da intriga e da discórdia, evitando que se expandam e tornem-se armas dos inimigos da nação. A “Frente das Boas Intenções” deve estar sempre presente, agir rápido e elevar a voz do diálogo e da paz, pois estes dois elementos possuem grandes públicos quando utilizados.

2) Sempre afirmando e reafirmando os elementos em comum que estão entre os sábios e os indivíduos cultos da nação, para que deste ponto alcancem todas as classes da sociedade.

3) Reformando a linguagem da mídia para unificá-la e unificar o seu discurso. Neste ponto a liderança religiosa suprema e os sábios possuem o importante papel de não deixar espaço para decretos falsos e criminosos.

4) Guiando o discurso islâmico para que sempre tome como ponto de partida o raciocínio a respeito dos versículos do Alcorão Sagrado: “…falai ao próximo com doçura…” (C. 2 – V. 83); “Retribui, tu, o mal da melhor forma…” (C. 23 – V. 96) e “convoca (os humanos) à senda do teu Senhor com sabedoria e uma bela exortação; dialoga com eles de maneira benevolente…” (C. 16 – V. 125).

5) Reforçando o diálogo e mantendo-o como a principal referência entre as relações dos muçulmanos, seja no nível entre países, movimentos, grupos e até mesmo no âmbito pessoal. É importante reforçar aqui a importância do incentivo aos fóruns e congressos que visam promover o diálogo em todas as comunidades, especialmente as islâmicas.

6) Agindo em prol da não existência de minorias islâmicas oprimidas em qualquer país islâmico, pois todos são muçulmanos e vivem em seus próprios países, devendo gozar de todos os seus direitos, não sendo vítimas de diferenças religiosas ou sectárias. Isso não vale apenas para as minorias islâmicas, mas sim para as minorias de outras religiosas e etnias também.

7) Esclarecendo com estudos e pesquisas as bases jurídicas, religiosas e teológicas das ideologias dos takfiri, isto para evidenciarmos que os mesmos não possuem nenhum fundamento nem base nos ensinamentos piedosos e amorosos da religião islâmica.

8) Não temos que viver temporadas de justiça em nossas práticas, de tal maneira que a justiça e suas bases devem valer para todos, em todos os momentos e em todas as nossas práticas e posições, pois o Islam e todas as religiões celestiais afirmam isto.

9) Evidenciando que as principais referências para nossos estudos e ações devem ser os manuscritos sagrados do Alcorão e a Sunnah, e com base neles qualquer tema deve ser analisado profundamente para nos eximirmos da dúvida e chegarmos ao verdadeiro conceito do assunto proposto, em seguida o absorvemos ou revogamos.

Muitos sábios e intelectuais militantes da causa da “União Islâmica” estão sem esperanças e desmotivados. Afinal de contas, eles testemunham todos os dias a elevação do tom de sectarismo, que não fica apenas no nível teórico, mas infelizmente vai a campo para ser transformado em atentados e derramamento de sangue.

Observem a quantidade de veículos de mídia que propagam intrigas no momento em que a voz da “ União Islâmica” não possui nenhum canal forte e presente para rebatê-los. Portanto, temos que tomar a iniciativa, agindo com coragem e força para que cada um de nós possa desfazer o efeito destes diabólicos veículos de mídia e desmascarar estes grupos takfiri que nada mais desejam do que o mal de todos.

E aqui perguntamos, será que temos uma referência concreta para o significado de terrorismo de acordo com nosso sistema religioso e cultural para que possamos agir com base nela? Com base em nossa leitura da realidade e observando as análises políticas, religiosas e da imprensa dizemos que infelizmente não há um significado concreto para este termo, pois cada um interpreta esta palavra com base no momento e local onde situa-se, o que podemos resumir na seguinte frase: “Aquilo que te atinge vindo do próximo você traduz como terrorismo, mas aquilo que você pratica contra os demais se enquadra em outros termos, entre tais “preservação dos interesses”, “defesa da soberania”, “luta contra o radicalismo”, etc…” Por isso vemos aqueles que condenam e repudiam o terrorismo quando este mal os atinge, mas por um outro lado justificam as mesmas políticas e ações terroristas quando são praticadas atendendo aos seus interesses políticos, religiosos e até mesmo étnicos.

Afirmo com toda infelicidade e lamentação que o principal alimento que sustenta o terrorismo é o silêncio, e principalmente o silêncio daqueles que ainda não foram atingidos por este mal. Portanto eu digo, não teremos estabilidade até que todos se revoltem contra todo e qualquer ato terrorista realizado contra todo e qualquer ser humano sobre a face da terra. Assim, temos que identificar de forma direta e detalhada o que é o terrorismo, com base na jurisprudência islâmica, que a princípio já afirma o impedimento ao derramamento de sangue quando declara: “Por isso, prescrevemos aos israelitas que quem matar uma pessoa, sem que esta tenha cometido homicídio ou semeado a corrupção na terra, será considerado como se tivesse assassinado toda a humanidade…” (C. 5 – V. 32)

Por isso dizemos que talvez nós, os sábios, por sermos líderes religiosos somos a principal esperança da sociedade para limpar este caos, afinal de contas o terrorismo utiliza as vestes da falsa religião para justificar suas práticas cruéis, e desse ponto que baseiam suas inspirações e elementos ideológicos.

No momento em que todos realizam uma convocação para rejeitar e condenar ao próximo, bem aqui deste lugar todos nós temos que abrir as janelas deste porão escuro para que a luz do Islam entre no ambiente trazendo diálogo, amor e abertura ao próximo. O Islam rejeita todo e qualquer tipo de radicalismo, até mesmo o que se realiza contra si mesmo. O Islam rejeita todo tipo de agressividade, exceto em situações extremas, pois algumas situações são como a cirurgia que é essencial para a cura e a vida do homem. O Islam teve seu primeiro estado, fundado pelo Mensageiro de Deus (S.A.A.S.), erguido sobre as bases do “Memorando de Medina”, que respeitava todas as crenças dos grupos que na época habitavam a cidade de Medina, pois não há imposição quanto à religião. Uma sociedade na qual os cidadãos não são classificados com base em suas religiões e sim com base na “taqwa – o temor a Deus” representará o bom exemplo da cidadania. O Islam defende o estado da justiça, onde todos estão inclusos até mesmo os que possuem diferenças para conosco.

Queridos irmãos e queridas irmãs, a extinção do terrorismo não será possível se os sábios, líderes religiosos, intelectuais e todas as pessoas conscientes do mundo não derem as mãos para extirpar este mal da sociedade. O problema não será solucionado se não nos livrarmos do radicalismo de dentro das nossas mentes e almas, e se não revermos com rigidez todos os escritos e tradições que estão em contradição com a verdadeira mensagem de paz do Islam.

Devemos colocar em prática o versículo do Alcorão Sagrado no qual Deus disse: O castigo, para aqueles que lutam contra Deus e contra o Seu Mensageiro e semeiam a corrupção na terra, é que sejam mortos, ou crucificados, ou lhes seja decepada a mão e o pé opostos, ou banidos. Tal será, para eles, um aviltamento nesse mundo e, no outro, sofrerão um severo castigo”. (C. 5 – V. 33)

Um indivíduo que se explode em qualquer lugar do mundo matando inocentes é um doente, portanto precisa de tratamento psicológico, e a ciência deve explicar que este comportamento é um desvio que não possui nenhum fundamento religioso. Sim, temos que resolver este problema, e não é necessário trazermos um sábio do Cairo, outro de Damasco, outro de Casablanca e outro do Iraque para dizer a todos que matar inocentes é um pecado, pois todos já sabem que isso é totalmente incompatível com a essência do ser humano. O mundo precisa de conscientização, com toda a clareza e evidências sociais, políticas, culturais, espirituais e teológicas, para a formação de um método de convivência direta e harmoniosa.

Estamos certos que toda esta mobilização para combater o terrorismo no mundo não está alcançando os devidos resultados quando o combate é de forma militar, e na verdade só está fazendo com que o mesmo se espalhe mais. Precisamos de uma mobilização mental, educacional, moral, social, cultural e espiritual para apagar todas as razões da existência do terrorismo. Temos que entender que o radicalismo e a injustiça em um lugar fazem nascer o radicalismo e o terrorismo em outro. A consequência disso é o ódio e a desestabilização em todo lugar. Portanto, se quisermos enfrentar o terrorismo devemos estabelecer um estado de justiça, cidadania e liberdade ao mesmo tempo que agimos para acalmar os ambientes. Devemos aprender e ensinar como nos encontrarmos mesmo se tivermos diferenças, e temos como base a vida e os ensinamentos do Príncipe dos Fiéis, Imam Ali Ibn Abu Taleb (A.S.), que mesmo com os percalços da sua época observou os interesses da nação islâmica abrindo mão dos seus direitos pessoais, sendo assim considerado o pioneiro na questão da união islâmica. E dessa forma nos unimos para combater o terrorismo, pois de forma contrária o mesmo colocará em risco nossas vidas, valores, união, futuro e o futuro dos nossos filhos e do mundo inteiro.

O terrorismo distorce a imagem do Islam, que foi revelado como misericórdia para toda a humanidade. Nestes tempos há a grande necessidade de observamos a preocupação de colocar em prática o dito do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) quando menciona: “O exemplo dos fiéis e do afeto entre eles é igual ao corpo, quando um órgão adoece todos os demais trabalham continuamente para a cura do adoecido”. Como também há um versículo no Alcorão Sagrado que diz: “Mohammad é o Mensageiro de Deus, e aqueles que estão com ele são severos para com os incrédulos, porém compassivos entre si …” (C. 48 – V. 29).

Em outra passagem o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) reforça a importância da orientação, realizando uma comparação entre dois grupos alocados em duas partes de um barco. O grupo da parte inferior tenta furar o casco da embarcação alegando que tal área está sob sua responsabilidade e por isso podem fazer o que lhes bem entender. O grupo de cima, que encoraja o bem e proíbe o mal, torna-se responsável, através da sua orientação, por garantir o bem-estar e a segurança de ambos os grupos, intervindo para modificar a escolha insensata do outro grupo que coloca todo o barco em risco.

Por fim, abordamos a importância do fortalecimento da linguagem do diálogo entre todas as classes e categorias, especialmente em todos os campos religiosos ativos. E que a base deste cenário seja este Encontro, o qual desejamos que seja modelo para nossas relações. Um encontro que visa o cuidado para a preservação da imagem do Islam, a estabilidade para erguer em nossa pátria elementos que são fundamentais para a solução de muitos problemas.

Deus disse no Alcorão Sagrado: “Dize-lhes: Agi, pois Deus terá ciência da vossa ação; o mesmo farão o Seu Mensageiro e os fiéis. Logo retornareis ao Conhecedor do cognoscível e do incognoscível, que vos inteirará de tudo quanto fizestes” (C. 9 – V. 105). Deus diz a verdade.

Por fim, louvamos a Deus, o Senhor do Universo, que a paz e as bênçãos de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.a.S.) e seus purificados Ahlul Bait (A.S.).

E que a paz e as bênçãos de Deus estejam com todos vocês.

Sua Eminência Seyed Sharif Seyed Al-Ameli – Diretor do Instituto Cultural Al-Huda
Encontro Islâmico no Brasil – São Paulo, 29 de julho de 2017.

 

 

«
»