Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso!
A missão das Mesquitas e Centros ao enfrentar o radicalismo e o terrorismo.
Quando falamos sobre o Islam e acerca de uma de suas missões mais nobres, o combate e o enfrentamento ao mal social, refletido, cotidianamente, no radicalismo e no terror, faz-se necessária uma reflexão fundamentada no esclarecimento dos princípios do Din para os não muçulmanos, fazendo-os conhecer através do diálogo as bases e os métodos nos quais o Islam impede que a coerção e a violência se propaguem.
Portanto, dentre os Centros islâmicos, husseynias ou Mesquitas xiitas espalhadas pelo território brasileiro, vamos contextualizar esta reflexão em uma análise concreta, inserindo dados estatísticos e análises factuais. Logo, abordaremos a comunidade xiita no Brasil, demograficamente expressiva, especificamente na cidade do Rio de Janeiro onde o Centro Cultural Imam Hussein (A.S) desenvolve ações objetivas para a garantia dos direitos fundamentais de seus membros e pela publicização da mensagem islâmica universal de paz.
Para que essas ações sejam impregnadas de um espírito islâmico, devemos observar o que dizem os sábios. O Ayatullah Fadlullah fala acerca do diálogo como o primeiro aspecto importante à época dos profetas e aos problemas que eles enfrentaram. O Islam na sua fonte mais primária incentiva este diálogo de maneira que ele possa se conduzir a alguma finalidade proveitosa, sem se afastar do seu principal propósito, a honestidade intelectual que nos afasta de descontroles emocionais. A resposta do profeta Mohammad (S.A.A.S) quando convidado ao diálogo sempre foi de acordo com a compreensão islâmica geral que reconhece a ação de adquirir conhecimento, seja em qualquer campo, como um direito inalienável, natural de todo ser humano. Com isso, a função da religião seria, portanto, a de prover as janelas de conhecimento com função libertadora, confirmando o diálogo como método para chegar à verdade através da operação lógica do raciocínio e da proteção à liberdade do interlocutor, quando este apresenta sua ideia particular. O diálogo e o raciocínio estão intimamente relacionados no Islam e podem ser encontrados como indissociáveis nas atividades de Ijtihad quanto como um pressuposto metodológico do Tafseer que alude à sensibilidade fraterna como um critério para a aproximação com o próximo.
Raciocinar, comunicar e sensibilizar são aspectos inerentes à história islâmica com excelentes exemplos de tolerância em relação às adversidades. Imam Já’far Al-Sadeq (702-765 d.C.), 6º Imam da linhagem dos Ahlul Bayt, grande sábio e jurisprudente islâmico, dialogou sobre temas sensíveis e controversos à comunidade local, de maioria pagã. Seus sermões e diálogos davam-se ao lado da Sagrada Kaaba na cidade de Meca, Arábia Saudita, templo maior do Monoteísmo e símbolo material diametralmente oposto ao instituído pela sociedade local. Sendo assim, a partir do diálogo e através dele, seja em ambientes naturalmente islâmicos ou em espaços inter-religiosos, em contato direto e permanente com grupos étnicos e religiosamente diversos, os muçulmanos representam a eterna e ilibada bandeira do Imam Hussein (A.S) contra a tirania e a opressão, dando continuidade a uma Revolução que nunca teve seu fim declarado, iniciada no campo de Batalha em 681 d. C em Karbala e que até hoje reverbera nas relações humanas como um modelo social a ser implementado, no qual a tentativa de se alcançar acordos, aproximações e o compartilhamento de valores nobres se dá, inicialmente, pela transmissão da mensagem islâmica nos diversos lugares ou trajetos pelos quais a comunidade xiita e seus líderes percorram.
A partir do Relatório da Agência Pew Research Center, o panorama estimativo da vertente islâmica xiita diz que no mundo de hoje há de 154 a 200 milhões de xiitas, o que corresponde a apenas de 10% a 13% do total de muçulmanos, configurando uma minoria religiosa, alvo de perseguições e ataques letais. Cabe a nós, enquanto vítimas em alto grau do terror e da imputação de estereótipos nocivos, desenvolver ações e estratégias, sempre pautadas na divulgação da mensagem islâmica e sua historicidade e na abertura para o diálogo democrático, construindo a possibilidade de agir e despender energias para reunir a comunidade e o mundo em torno dessa temática, ressaltando nosso posicionamento frente a um dos maiores males deste século: a impossibilidade de se ter uma identidade ou ainda ser eliminado por exercê-la.
A título de exemplo, podemos destacar que, de acordo com a Agência Shia Rights Watch, fonte fidedigna para as Nações Unidas em Washington, EUA, os números atualizados de junho de 2017 mostram um pequeno recorte nos países do Oriente Médio e Ásia em incidentes anti xiitas resultando em mortes: Arábia Saudita (3); Afeganistão (11); Paquistão (62); Irã (11); Iraque (72).
Nesse sentido, surge no Rio de Janeiro, o Observatório Xiita de Direitos Humanos (OXDIH), criado em 2016, tendo como sede o Centro Cultural Imam Hussein (A.S.). Desponta como a primeira organização independente no Brasil, dedicada a proteger o direito dos muçulmanos xiitas em território nacional e a combater o discurso de ódio, discriminatório e de incitação ao terror. Com base nessas atividades e em outras desse teor e importância, desenvolvidas pelo Centro Cultural e seus parceiros, o Observatório passa então a figurar como uma organização reconhecida pelo Comitê de Combate à Intolerância Religiosa do Estado do Rio de Janeiro (CCIR), um dos principais comitês de atuação social contra a discriminação e listado na página do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ). A principal missão proposta é a “de promover a mudança necessária através de pesquisas acadêmicas e publicações, com submissão de relatórios e artigos às esferas governamentais e organizações internacionais. Além disso, o OXDIH monitora continuamente os meios de comunicação para garantir a cobertura das violações dos direitos xiitas.
Assim, como o OXDIH, projetos de envergadura semelhante devem ser apoiados por todo aquele que se diz muçulmano, ciente de seu papel e cercado de sábios e exemplos inestimáveis em sua História, desde o medievo até a atualidade. A paz, para nós não é uma intenção, um projeto e não se encerra em uma utopia, ela é um objetivo que requer um método pautado em preceitos islâmicos de divulgação, diálogo e aproximação com a sociedade que nos cerca.
Carlos Meneses – Diretor do Centro Cultural Imam Hussein (A.S) – Rio de Janeiro
Encontro Islâmico no Brasil – São Paulo, 29 de julho de 2017.