Que a paz de Deus esteja convosco!
Senhor Sheikh Taleb al-Khazraji, senhor Ayatullah Sheikh Mohsen al-Araki e demais membros da mesa, agradeço ao convite para estar aqui, neste Encontro Islâmico no Brasil, especialmente por ter como objetivo a procura pela paz em condenação ao terrorismo e a guerra. Lhes digo que também tenho esta preocupação.
Aqui no Brasil sou autor de uma lei que será instituída gradualmente, que visa justamente a criação de um Brasil mais justo e civilizado, para que possamos ter muito menos criminalidade e violência no país. A proposta que apresentei foi aprovada por todos os partidos e sancionado pelo presidente Lula em janeiro de 2004, para instituir no país o direito a uma renda básica de cidadania, na medida do possível o suficiente para atender as necessidades vitais de cada pessoa, como um direito à cidadania, direito de participarmos todos da riqueza da nação, algo que tem seus fundamentos em todas as religiões, seja na Bíblia Sagrada, nos ensinamentos do Budismo, do Alcorão e das tradições proféticas, inclusive como registrado por Omar, que relatou que “todo aquele que deter um grande patrimônio deve destinar uma parcela para os que pouco ou nada tem”.
Mais e mais países do mundo estão caminhando na direção de se instituir uma renda básica de cidadania. Ainda que de uma maneira surpreendente, mas que causou grande impacto, o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, em sua aula inaugural na Universidade de Harvard, disse que no futuro, e em breve, teremos uma renda básica universal como um direito à cidadania em todos os países, inclusive em decorrência do progresso da automação, fazendo com que isso seja praticamente inevitável.
A lei brasileira diz que deve ser instituída gradualmente, começando pelos mais necessitados, como faz o programa Bolsa Família. E entre os países do oriente médio isto também está sendo estudado e aplicado.
Estive como senador no Irã e avaliei como muito positivo, que em meados de 2010 e 2011 houve uma lei que desejava extinguir os subsídios aos derivados de petróleo, pois os combustíveis estavam tão baratos que pessoas de países vizinhos iam até o Irã para encher os tanques de seus automóveis. Mas o governo iraniano, em uma iniciativa interessante aboliu subsídios, mas concluiu que como isto iria significar um aumento no custo de vida da população, especialmente os mais pobres, resolveu que deveria prover um dividendo igual para todos os 72 milhões de iranianos. Gostaria inclusive de saber como tal lei evoluiu, pois soube que em determinado momento o governo até mesmo indicou aos mais ricos que poderiam abrir mão deste direito que se tornou universal.
Isto está por exemplo sendo experimentado para 2 mil habitantes que foram sorteados entre a população pelo governo da Finlândia, que desde janeiro deste ano está proporcionando 550 euros mensais para cada um destes habitantes, e se o experimento der certo, em dois anos poderá ser instituída na Finlândia, para seus 5 milhões e 400 mil habitantes, a renda básica para todos.
Na cidade de Macau, ex-colônia portuguesa, desde 2008 começou a se pagar a cada ano uma quantia gradual que hoje chega a 9 mil patacas, que é a moeda local, para cada habitante permanente de Macau, que possui cerca de 700 mil habitantes, e isto está caminhando muito bem. 9 mil patacas são 1.127 dólares por ano. Se tivermos pai, mãe e três crianças teremos cerca de 6 mil dólares por ano, ou seja, mais que 1,5 mil dólares mensais para a família, algo bastante razoável.
As empresas e empresários do Vale do Silício também resolveram contribuir para um fundo que já tem mais de 24 milhões de dólares que irá proporcionar às vilas rurais do Quênia, um dos países mais pobres do mundo, uma renda de 22 dólares por mês, e isso com o compromisso de que sejam pagos pelos próximos 12 anos.
E assim as experiências vão caminhando com maior força em todos os lugares do mundo, inclusive entre os povos árabes e do oriente médio. Já fui inclusive convidado para falar no Iraque em 2008, e ali expus aos membros do parlamento e aos governantes, para que seguissem o exemplo do Alasca, onde desde o início dos anos 80 se paga um dividendo igual a todos os seus habitantes. E o Alasca em 1900 era o mais desigual dos estados norte-americanos, mas hoje junto com Utah são os dois estados mais igualitários, e constitui um suicídio político para qualquer liderança do Alasca propor o fim deste sistema tão bem acolhido.
Quero lhes dizer que estou muito de acordo com o propósito de buscar a paz e a justiça, transmitindo esta mensagem inclusive a todos que hoje participam e defendem o hoje chamado “Estado Islâmico”, que matam e causam terror, para quem sabe surja no mundo indivíduos como Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr, e todos aqueles que como o Papa Francisco nos dizem que a cada momento é de grande importância que realizemos a justiça para termos a paz verdadeira.
Meus cumprimentos a todos!
Sr. Eduardo Suplicy – Ex-Senador e atual Vereador da cidade de São Paulo.
Encontro Islâmico no Brasil – São Paulo, 29 de julho de 2017.