Porque o Islam é uma Mensagem para toda a Humanidade (Uma resposta à Ali Sina)
Por: Ahmed Ismail
Em nome de Allah o Clemente o Misericordioso.
Ali Sina, que alega ser um ex-muçulmano, nascido no Irã e que vive no Canadá, é hoje um dos mais ativos militantes na campanha anti- islam. Em um de seus textos, Ali refuta a crença de que o Islam seja uma mensagem universal.
Na realidade, custo acreditar na veracidade de sua história pessoal. Sua refutação demonstra clamorosa ignorância acerca dos fundamentos primários do Islam e da própria linguagem alcorânica, conhecimentos elementares que de modo geral qualquer muçulmano possui. Inxa’llah demonstrarei aqui a inconsistência de sua refutação, com base no próprio Alcorão.
– Sobre a racionalidade da Profecia
Em seu texto, Ali afirma: “Os muçulmanos estão promovendo o Islam incansavelmente e dizem que em breve ele irá dominar o mundo. Ao fazer assim, vão contra o Alcorão. Então é justo chamá-los de Kafir”.
Para respaldar sua opinião, cita o Alcorão:
“Para cada nação há um Mensageiro.” (C.10 – V.47)
“Nunca enviamos um Mensageiro senão com o idioma de seu povo para que possa tornar tudo claro para eles.” (C.14 – V.4)
E continua, dizendo: “Se esses versículos forem verdadeiros, então o Islam não é para os não-árabes. O Alcorão atesta que todo povo tem recebido a mensagem divina em sua própria língua, então o Alcorão é para árabes”.
Se o Sr. Ali realmente foi muçulmano algum dia, certamente nunca estudou o Alcorão. Um dos fundamentos da fé islâmica é a Profecia – e esta profecia é detalhada no Alcorão como uma corrente profética. O plano divino, no qual não há erro ou omissão, foi de enviar profetas e mensageiros aos povos antigos com uma única e mesma mensagem e religião, tal como o Alcorão afirma. Contudo, essa Mensagem Divina foi descida em estágios, segundo a época de cada revelação ou Livro Revelado – estágios que na prática foram determinados por normas temporárias e Livros (Escrituras) temporários. E nesse contexto o Alcorão afirma: “A cada (povo) dentre vós temos ditado uma lei e uma senda…” (5:48) ou seja, segundo a época de determinada revelação, um conjunto de normas e um Livro (Escritura Divina) se tornava vigente, sendo posteriormente ab-rogado por uma Nova Lei (uma nova Escritura).
Essa corrente profética e esse processo de revelação seguiu um método claro: cada profeta e mensageiro era enviado ao seu respectivo povo, no seu próprio idioma para transmitir a mensagem monoteísta de maneira a não haver dúvida ou contradição. A cada ciclo profético a Mensagem era ampliada e renovada – e esse processo foi aperfeiçoado e concluído com o advento de Mohammad (S.A.A.S.) e a revelação do Alcorão. Assim sendo, o fato de cada profeta e mensageiro ser enviado a seu povo em seu próprio idioma significa a existência de um processo lógico na profecia, Sr. Ali parece entender algo como “uma religião para cada povo”, uma espécie de babel.
O Alcorão afirma o contrário, quando nos diz: “Vossa comunidade é única, e Eu sou o vosso Senhor. Temei a Mim. Contudo, eles (os povos) dividiram sua religião, cada facção exultando com o que possuía”. (C.23 – V.53)
O Alcorão deixa evidente que trata de uma “Religião Única”, uma “Verdade Única”. E que essa “Religião Única” foi revelada em estágios e concluída com a revelação alcorânica. Por isso o Alcorão declara: “Dize: Meu Senhor conduziu-me à senda reta – a religião correta; o credo de Abraão, um monoteísta, e ele nunca foi um dos idólatras”. (C.6 – V.161)
Ele vos prescreveu a religião que havia ordenado a Noé, e que (também) te revelamos e havíamos ordenado a Abraão, a Moisés e a Jesus (dizendo): Observai a religião e não vos dividais nela…” (C.42 – V.13)
Portanto, o Sr. Ali inicia tentando confundir duas coisas distintas: os ciclos da profecia e a Mensagem Divina em si. Mas, não pode fazê-lo se mencionar realmente o que diz Alcorão.
A sua apressada conclusão de que “o Alcorão atesta que todo povo tem recebido a mensagem em sua própria língua, então o Alcorão é para os árabes” ignora o óbvio: O Alcorão se refere aos povos antigos e às escrituras anteriores ao Alcorão – mensagens dirigidas de forma específica e válidas temporariamente – e o faz apenas e tão somente como narrativas e exemplos do passado. Sabemos disso, pois o próprio Alcorão se dirige a toda humanidade de forma indubitável em pelo menos duas dezenas de versículos; e em nenhuma passagem se dirige de maneira exclusiva aos árabes. Como veremos mais adiante.
– Foi a Revelação do Alcorão realmente restrita aos árabes?
Seguindo em sua linha de raciocínio equivocada o sr. Ali argumenta que o Alcorão justifica sua revelação como “uma mensagem a um povo que não recebeu mensagem alguma”. Cita os versículos: “O Livro (o Alcorão) é a verdade vinda de teu Senhor para que advirtas um povo a quem não foi enviado admoestador algum.” “Para admoestar homens cujos pais não foram admoestados e estão por isso desatentos.” (36:6)
Tomando o sentido literal desses versículos, o Sr. Ali conclui que “a única razão para a revelação do Alcorão seria a de ser uma mensagem aos árabes, que não haviam recebido revelação alguma.” Mas, logo em seguida ele próprio arruína sua argumentação e demonstra sua profunda ignorância acerca do Alcorão, ao citar um versículo que contradiz sua refutação:
“Ó adeptos do Livro, foi-vos enviado Nosso Mensageiro para instruir-vos, num intervalo entre os Mensageiros, a fim de que não digais: “Não nos veio nem anunciador nem admoestador”. Foi-vos enviado um anunciador e um admoestador. Deus tem poder sobre tudo”. (5:19)
O versículo se dirige “aos Povos do Livro” (cristãos e judeus); ao que parece o sr. Ali ignora que a expressão “Povos do Livro” no Alcorão diz respeito aos judeus e cristãos, e não aos árabes pagãos. Sete versículos do Alcorão iniciam conclamando os cristãos e judeus (ó Povos do Livro) desmentindo seu argumento. De fato, o Alcorão não cumpre somente uma função ou finalidade, dirige-se tanto aos idólatras árabes, como aos cristãos e judeus, e não há nisso qualquer contradição como pretende o autor do texto.
Mas, o Sr. Ali prossegue na tentativa de “provar” suas conclusões. Argumenta que a complexidade do idioma árabe clássico (no qual o Alcorão foi revelado) seria uma evidência de que “foi enviado somente para os árabes”, já que os demais povos não teriam condições de compreendê-lo corretamente.
Ora, um argumento tão simplório põe em dúvida a aptidão intelectual do autor do texto. Ainda que um entendimento avançado (de especialistas do Alcorão) exija um domínio do idioma árabe, as questões fundamentais da religião são facilmente compreensíveis para os seguidores não-árabes, e não obstante as traduções do Alcorão não transmitam o conteúdo do original com absoluta precisão, nada impede que um não-árabe entenda o Islam e o pratique sem dificuldade; tal como um cristão que não domina o hebraico e o grego, esteja apto a entender o texto bíblico e praticar o cristianismo.
O Sr. Ali apresenta uma outra “evidência” de sua tese na sura 26 – V.198 e 199: “E se tivéssemos o revelado a alguns dos não-árabes, e se este o tivesse recitado a eles, não teriam acreditado nele”. Diz ele: “Do mesmo jeito que os árabes não têm motivo para crer nos livros escritos em línguas estranhas, os não árabes não têm motivo para crer em um livro escrito em Árabe…” Todavia, o que ele não suspeita, é que o Alcorão menciona esse comportamento dos árabes descrentes como uma crítica, não como uma aprovação. O que o Alcorão está a dizer é que o sentimento tribal faria com que aqueles árabes rejeitassem um orientador não-árabe. Isto é, os versículos não têm qualquer relação com o argumento do texto.
Porém, de modo insistente, o Sr. Ali imagina ter encontrado “a prova” de seu argumento no versículo 92 da surata 6: “Este é um livro abençoado que baixamos para confirmar o que havia sido revelado antes dele, e para que advirtas com ele a cidade-mãe (Meca) e os arredores”. E ele comenta: “Este verso diz que o Islam foi enviado para advertir Meca e suas proximidades. Como é que pode ser para a humanidade inteira?” Assim sua tese ganha (ao menos em sua visão) uma evidência de que “a Mensagem estava circunscrita a uma área geográfica exata para a qual Mohammad (S.A.A.S.) foi enviado”. Mas, a “prova” é negada pelo Alcorão em dezenas de versículos por uma simples razão: o versículo mencionado aponta apenas uma das muitas finalidades da revelação do Alcorão; e em nenhum ponto do versículo há qualquer indício de exclusividade. Eis algumas das finalidades da revelação do Alcorão apresentadas no texto sagrado:
“Nós te revelamos o Livro com a verdade, para que julgues entre os humanos, com aquilo que Deus revelou”. (4:105)
“O Revelamos como um Quran árabe, para que raciocineis”. (12:2)
“Um livro que revelamos para que tires os humanos das trevas para a luz, com a anuência de teu Senhor, para a senda do Poderoso, do Digno de todo louvor”. (14:1)
“E a ti revelamos a Mensagem, para que esclareças os humanos a respeito do que lhes enviamos, a fim de que reflitam”. (16:44)
“Nós te revelamos o Livro como uma explicação de todas as coisas, uma orientação, misericórdia e boa nova para os muçulmanos”. (16:89)
“Nós te revelamos o Livro para (instruíres) os humanos com a verdade. Assim, quem se encaminhar o fará em seu próprio benefício; quem se desviar, o fará em seu próprio prejuízo…” (39:41)
Essas passagens provam que a interpretação de que há no versículo 92 da surata 6 a uma restrição à propagação do Islam é “apenas a interpretação pessoal do sr. Ali Sina” – que não é respaldada nem pelo Alcorão, nem pela sunna autêntica, tampouco pelos especialistas e exegetas do Alcorão. Se bem, que o próprio Alcorão nega tal interpretação e o Alcorão é prova suficiente nessa matéria. Numa dezena de versículos o Alcorão se dirige ao gênero humano (à humanidade) de forma irrestrita, como veremos, e isso já refuta inteiramente o argumento apresentado.
Se o Alcorão apresenta tantas finalidades para sua revelação, como o autor do texto pode inferir que a única finalidade seria “advertir os árabes de Mecca e arredores?” A resposta é simples: não pode. O Sr. Ali o faz, ou por total ignorância ou indisfarçável má intenção. Da mesma maneira, a existência de tantas finalidades para a revelação alcorânica impede que o Sr. Ali sustente a conclusão de que “ou concordam com sua tese ou os versículos mencionados são falsos”.
Além disso, a alegação de que “se os muçulmanos podem citar versículos que atestem o Islam como mensagem a toda humanidade, provarão a falsidade dos versículos antes mencionados” é uma alegação risível – por pelos menos duas razões:
a) Nenhuma ordem, proibição, autorização ou disposição do Alcorão foi apresentada de forma indireta ou dúbia (que permita a dúvida) – por exemplo, quando o Alcorão proíbe o juros, ou quando determina a qibla ou estabelece a ordem do zakat, o faz de forma explícita. Se o ayat 92 da sura 6, fosse uma ordem ou uma restrição, como o crítico pretende, o ayat teria declarado tal restrição de forma clara, com termos como “somente” ou “apenas” a área de Mecca e arredores.
b) O plano divino é racional, segue diretrizes racionais. Não seria possível, pelo menos para pessoas de inteligência média, supor que o Profeta (S.A.A.S.) recebesse a ordem de levar a mensagem divina à todos os povos e em todas as terras do Mundo conhecido de seu tempo. O que implicaria, se considerarmos os recursos e as dificuldades de transporte na época em que viveu, gastar pelo menos um século em viagem. A própria razão nos leva a concordar que a missão profética deveria ser iniciada em Mecca, entre seus concidadãos. De fato, o Profeta (S.A.A.S.) iniciou a missão entre seus parentes mais próximos.
Parte Final
O Alcorão, Livro e guia para Toda a Humanidade
Em pelo menos uma dezena de versículos o Alcorão se dirige ao gênero humano (a humanidade) com a expressão “Ó Humanos” e não há em nenhuma parte do Alcorão uma conclamação exclusiva ao povo árabe ou a qualquer outro povo, salvo as exortações específicas (aos crentes, aos povos do Livro, aos idólatras). E mais, em várias passagens alcorânicas a expressão “ó Humanos” é seguida de inequívoca e explícita declaração de que Mohammad (S.A.A.S.) fora enviado como Mensageiro para a humanidade inteira.
Vejamos:
“Ó humanos, por certo que o Mensageiro vos trouxe a Verdade de vosso Senhor. Crede, pois será melhor para vós. Contudo, se fordes descrentes, sabei que a Deus pertence tudo quanto existe nos céus e na terra e que Ele é Onisciente, Prudente”. (C.4 – V.170)
“Ó humanos, vos chegou uma prova de vosso Senhor, e vos enviamos uma Luz evidente. Aqueles que creem em Deus, e a Ele se apegam, Ele os admitirá em Sua misericórdia e em Sua graça, e os encaminhará até Ele através da senda reta”. (C.4 – V.174 e 175)
“Dize: Ó humanos, sou o Mensageiro de Deus para todos vós. Seu é o reino dos céus e da terra. Não há divindade além d’Ele. É Ele que dá a vida e a morte. Crede, pois, em Deus e em Seu Mensageiro, o Profeta iletrado, que crê em Deus e em Suas palavras. Segui-o, para que sejais encaminhados”. (C.7 – V.158)
“Dize: Ó humanos, já vos chegou a verdade de vosso Senhor, e quem se encaminhar o fará em benefício de sua própria alma e quem se desviar, o fará em seu próprio prejuízo; e não cabe a mim ser o vosso guardião”. (C.10 – V.108)
“Ó humanos, certamente que vos chegou uma exortação de vosso Senhor, a qual é um bálsamo para o (mal) que há em seus corações, orientação e misericórdia para os fiéis”. (C.10 – V.157)
“Dize: Ó humanos, sou para vós apenas um admoestador evidente”. (C.22 – V.49)
A Missão de Mohammad (S.A.A.S.) e o Islam para toda a humanidade
“Foi Ele que enviou Seu Mensageiro com a Orientação e a religião da verdade, para fazê-la prevalecer sobre todas as outras, embora isso contrarie os politeístas”. (C.9 – V.33)
O Islam como religião da humanidade
“Para Deus a religião é o Islam. E os adeptos do Livro só discordaram por rivalidade, depois que a verdade lhes chegou. E quem nega os sinais de Deus, saiba que Deus é rápido no ajuste de contas”. (C.3 – V.19)
“Almejam outra religião que não a de Deus? A Ele se submetem, quer queiram ou não, os que estão nos céus e na terra, e para Ele retornarão”. (C.3 – V.83)
“E quem seguir outra religião, que não seja o Islam, nunca será aceita e, no outro, mundo, ele estará entre os desventurados”. (C.3 – V.85)
Assim, concluo que o Sr. Ali Sina não tem exatamente argumentos, mas sim sofismas que não resistem a uma análise mais atenta do que realmente o Alcorão nos diz.