Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
Louvado seja Deus, na altura de Sua majestade e como Ele merece, louvado seja o Senhor do Universo, que a paz e as bênçãos de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), sobre todos os profetas e mensageiros, sobre seus bons companheiros e seus servos virtuosos.
Deus, peço-lhe perdão por mim e por todos os fiéis, estejam vivos ou falecidos. Servos de Deus, recomendo a vocês e a mim mesmo a temência a Deus, a temência a qual por ela todos os profetas e Mensageiros se empenharam e se esforçaram. A temência a qual é a direção correta do ser humano e é ela que produz o melhor para o ser humano nesta e na outra vida.
Uma das principais referências da temência afirmada muito pela doutrina e jurisprudências da religião do Islam é a questão da bondade com os pais. O Islam fundou um caminho exemplar na relação dos filhos com seus pais. Este caminho e método jamais algum outro poderá alcança-lo em sua nobreza e riqueza. A questão da bondade com os pais de acordo com a doutrina do Islam está totalmente de acordo com a justiça divina e com aquilo que Ele quer que seja.
Deus disse no Alcorão Sagrado: “O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele; que sejais indulgentes com vossos pais, mesmo que a velhice alcance um deles ou ambos, em vossa companhia; não os reproveis, nem os rejeiteis; outrossim, dirigi-lhes palavras honrosas”. (17:23)
“O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele …” O leitor desta parte dos versículos percebe que Deus ordenou o ser humano a adorá-lo e nada mais. Mas não é só isso que Deus quer do ser humano. A questão não é apenas adorar ninguém ou nada além de Deus. Isso é muito importante para a direção correta do ser humano, mas depois deste decreto Deus fala “… e que sejais indulgentes com vossos pais”. Ou seja, Deus não falou a respeito da oração, do jejum e nem do decreto, mesmo estes sendo muito importantes na doutrina do Islam, mas ele citou logo após a adoração ao Deus único a bondade com os pais. Este é o dever do ser humano logo após a adoração ao Deus único. A pessoa deve ser bondosa com seus pais, humilde e nunca se sentir superior ou arrogante. Em seguida Deus segue dizendo: “…mesmo que a velhice alcance um deles ou ambos, em vossa companhia; não os reproveis, nem os rejeiteis; outrossim, dirigi-lhes palavras honrosas”.
Numa outra passagem Deus disse: “Adorai a Deus e não Lhe atribuais parceiros. Tratai com benevolência vossos pais e parentes, os órfãos, os necessitados, o vizinho próximo, o vizinho estranho, o companheiro, o viajante e os vossos servos, porque Deus não estima arrogante e jactancioso algum”. (4:36)
Neste versículo Deus repete o mesmo significado que citou no versículo anterior, mas em outro formato de palavras.
Numa outra passagem Deus disse: “E de quando exigimos o compromisso dos israelitas, ordenando-lhes: Não adoreis senão a Deus; tratai com benevolência vossos pais e parentes, os órfãos e os necessitados; falai ao próximo com doçura; observai a oração e pagai o zakat. Porém, vós renegastes desdenhosamente, salvo um pequeno número entre vós”. (2:83)
Então, estão aí três versículos que afirmam a importância da bondade e a reverência aos pais, citando esta questão logo após a adoração e a unicidade de Deus. Se isso significa alguma coisa é a grande importância que Deus concedeu para a questão da bondade com os pais e o direito deles sobre os filhos. É um grande alerta que deixo aqui a todos, para com que observem esta questão.
O que aprendemos com estes versículos é o seguinte:
a) A bondade e a reverência aos pais vem logo após a adoração a Deus em matéria de importância.
b) A repetição deste assunto possui um propósito divino.
Mas há um quarto versículo que se destaca em relação a sua forma e seu tom.
Deus exaltado seja disse: “E aconselhamos ao homem benevolência para com os seus pais. Sua mãe o suporta, entre dores e dores, e sua desmama é aos dois anos. (E lhe dizemos): Agradece a Mim e aos teus pais, porque o retorno será a Mim”. (31:14)
A primeira questão que aprendemos neste versículo é a forma que Deus se expressa ao ser humano. Deus diz: “aconselhamos” ou seja, Deus usa a ferramenta do conselho, da recomendação, da instrução e orientação. É como o testamento no leito da morte, quais são as questões que a pessoa aconselha nos seus últimos momentos de vida? Com certeza serão as mais relevantes e mais importantes para ela e as demais. A pessoa cita as questões mais importantes como sermos bondosos entre si ou pagar as dívidas. Aqui Deus usa o mesmo método, ele aconselha as pessoas a serem bondosas com seus pais e as obriga a isso.
Neste mesmo versículo Deus dá uma atenção especial para com a mãe. Ele diz: “… Sua mãe o suporta, entre dores e dores…”. Ou seja, a mãe por suportar as dores e as dificuldades da gravidez merece uma atenção e observação especial dos filhos.
Logo após Ele diz: “Agradece a Mim e aos teus pais, porque o retorno será a Mim.”
Como todos sabem, o agradecimento é exclusivo para Deus, pois é Ele quem agracia Seus servos e Suas criaturas. Então, como Deus exaltado seja ordena o ser humano a agradecê-lo e agradecer aos seus pais? A semelhança desta questão é a mesma quando Deus ordenou os anjos a prostrarem diante de Adão. Será que podemos adorar alguém senão a Deus? Podemos orar ou prostrar para algo que não seja Deus? É lógico que não, pois isso será considerado politeísmo e isso é uma grande injustiça, mesmo se este alguém for um profeta ou Imam. Mas na verdade a prostração dos anjos a Adão significava a obediência a Deus e a pura sincera submissão ao criador deste universo.
Neste versículo entendemos que está certo que a questão do agradecimento é algo exclusivamente voltado a Deus, mas Deus, exaltado seja, tornou obrigatório sobre o ser humano o agradecimento para seus pais, e quando isso é uma ordem o ser humano deve obedecer, pois quando estiver em agradecimento a seus pais valerá pelo agradecimento a Deus. Quando agradecer e respeitar a seus pais será como se a pessoa estivesse agradecendo e respeitando seu senhor.
Retornamos ao primeiro versículo que diz: “O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele; que sejais indulgentes com vossos pais, mesmo que a velhice alcance um deles ou ambos, em vossa companhia; não os reproveis, nem os rejeiteis; outrossim, dirigi-lhes palavras honrosas”.
Será que Deus nos ordena a reverenciar os pais apenas durante a velhice e quando estiverem numa idade avançada? Não. Deus nos ordena a reverenciar e sermos bondosos com nossos pais mesmos se forem jovens e fortes, e mesmo se eles estiverem totalmente independentes dos filhos. Esta reverência deve existir em todas as questões. É assim que Deus quer que sejamos perante os nossos pais.
Mas por que Deus mencionou a questão da velhice neste versículo? Talvez porque nesta etapa da vida os pais precisem mais da atenção e dos cuidados dos pais.
Em continuidade do versículo acima, Deus diz: “E estende sobre eles a asa da humildade, e dize: Ó Senhor meu, tem misericórdia de ambos, como eles tiveram misericórdia de mim, criando-me desde pequenino!” (17:24). Olhem só que bela expressão de Deus “Estender as asas da humildade, e diga ó Senhor meu tenha misericórdia de ambos”. Ser misericordioso com os pais com tanta delicadeza e humildade para não os machucar ou ofender em hipótese alguma. É uma das expressões mais profundas do Alcorão Sagrado sobre os pais. A pessoa deve se humilhar e estender as asas da misericórdia aos seus pais e chegar ao máximo da bondade.
Um homem chega ao Imam Assadeq (A.S.) e pergunta sobre os versículos (17:23) onde Deus ordena o ser humano a ser indulgente e bondoso com seus pais. Ele pergunta ao Imam (A.S.) como seria esta bondade? O Imam (A.S.) então o respondeu: “Ser bondoso é ser um bom companheiro e jamais fazer com que peçam algo que precisam a você, mesmo se forem autossuficientes, pois Deus disse: “Jamais alcançareis a virtude, até que façais caridade com aquilo que mais apreciardes”. Mesmo se forem duros contigo jamais os reprima mesmo se for com um gesto. Se te baterem diga: Deus vos perdoe. E nunca olhe para eles com olhar fechado ou com ira, apenas com misericórdia. Nunca levante a voz ou a mão para eles. E nunca ande na frente deles”.
Mesmo se os pais forem duros, severos e exigentes com os filhos, jamais os filhos têm o direito de insultar ou ofender os pais. Nunca, nem por um gesto. Um dos sinais da bondade é não ser desrespeitoso com eles em suas falas, olhares, gestos ou qualquer outra questão.
Uma pergunta: Um fiel que teme a Deus e possui pais que não são crentes. Como ele faz? Será que ele rompe os laços com seus pais? Jamais. Nunca deixe de ser bondoso com seus pais, mesmo se não forem religiosos, se forem seguidores de outra escola religiosa ou até mesmo até mesmo ateus. A obrigação da bondade e da reverência para com os pais sempre será mantida sobre os filhos sempre.
Numa passagem o Imam Al-Baqer (A.S.) disse: “Três questões jamais serão permitidas a serem quebradas por Deus. A primeira é devolver o que lhe foi depositado, seja a pessoa crente ou descrente; a segunda é cumprir a promessa para com o crente ou o descrente; e a terceira é a bondade com os pais, sejam eles crentes ou descrentes”.
Numa outra passagem o Imam Al-Redha (A.S.) respondeu a uma pessoa que lhe perguntou se podia orar pelos pais mesmo se eles não fossem religiosos. O Imam (A.S.) disse: “Sim, ore por eles e faça a caridade por eles se estiverem mortos. Se estiverem vivos cuide deles, pois, o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) dizia que Deus o enviou com a clemência, e não com os maus-tratos ou rompimento dos laços”.
A religião do Islam é a religião da misericórdia, do amor e da piedade.
Numa narração se diz que um homem cristão que tinha se convertido ao Islam foi para a peregrinação e se encontrou com o Imam Assadeq (A.S.). Este homem perguntou ao Imam (A.S.) como trataria os seus pais e familiares cristãos. O Imam Assadeq (A.S.) perguntou se eles comiam carne de porco e o homem respondeu que não. Então o Imam (A.S.) disse: “Cuide de sua mãe e seja bondoso com ela. Cuide dela até ela falecer”. Este homem diz que quando retornou para casa começou a cuidar de sua mãe de uma maneira que nunca tinha cuidado. Então sua mãe perguntou ao filho o que havia mudado, pois ele nunca tinha cuidado dela daquela forma, e com tanta delicadeza. Então, o filho respondeu a ela: “Um homem, filho do profeta, me ordenou a isso”. Então a mãe perguntou se este homem que ele se referia era um profeta. Seu filho respondeu: “Não, este homem não é um profeta, e sim o filho de um profeta”. O filho continuou dizendo: “Depois do nosso profeta não há mais nenhum profeta”. Então, a mãe disse ao filho que sua religião era melhor que a dela, e pediu que ele a explicasse um pouco mais sobre o Islam. O filho começou a explicar a religião para a mãe e ela se converteu ao Islam, passando a ser ensinada pelo filho. Até que na madrugada daquele dia ela faleceu e partiu desta vida. Então, o filho cuidou dos rituais fúnebres e todos os muçulmanos velaram a senhora.
Vejam só o efeito de uma bondade com os pais.
Numa outra passagem o Imam Assadeq (A.S.) foi perguntado por um homem sobre como se relacionar os pais sendo eles seguidores de outras escolas islâmicas. O Imam (A.S.) disse: “Seja bondoso com eles da mesma forma que deve ser bondoso com os demais muçulmanos”.
Alguns filhos dizem que foram bondosos com os pais e se contentam com isso. Acham que a bondade dos filhos é apenas durante a vida dos pais, mas isso é errado. A bondade com os pais é algo contínuo, e os filhos devem ser leais e bondosos com os pais até mesmo depois do falecimento deles. O Imam Al-Baqer (A.S.) dizia: “A pessoa pode ser bondosa com os pais durante a vida deles, mas quando eles morreram ela não paga suas dívidas e nem ora por eles. Com isso, será considerada maldosa com os pais. Ou pode ser o contrário, ela pode ser malfeitora durante a vida deles e quando eles morrerem ela ora e é benfeitora com eles, e aí passa a ser considerada bondosa com os pais”.
Uma pergunta: A pessoa pode pagar a dívida natural que tem com os pais? Pode cumprir com seu dever perante eles de forma integral? Jamais. Nunca os filhos poderão pagar o que devem para os pais. Tudo que acontece com a pessoa é por Deus, mas por meio dos pais. O ser humano jamais deve esquecer o sofrimento dos pais, especialmente da mãe, depois de tanta dor enquanto o carrega dentro dela, no momento do parto e durante o crescimento dos filhos.
Ao mesmo tempo a pessoa jamais deve esquecer o esforço e o trabalho do pai, que se preocupa e se esforça para erguer os filhos. O pai se arrisca para ensinar e elevar o nível dos filhos. Será que com tudo isso, e muito mais, alguém vai poder pagar algo dos diretos dos pais? Estes dois elementos tão cruciais em nossa vida. Jamais alguém pode pagar integralmente.
Há consequências da bondade com os pais e também consequências da maldade com os pais. Sejam elas boas ou ruins, podem acontecer tanto nesta vida como na outra. O Imam Assadeq (A.S.) disse: “Aquele que deseja ter menos sofrimento durante sua morte então que seja bondoso com seus pais, ele terá uma morte fácil e em sua vida jamais ficará pobre”. Ou seja, a pessoa garante a riqueza em sua vida se for bondosa com os pais, a menos que tenha cometido algum pecado pior que a maldade com os pais.
Narra-se que um jovem estava em seus últimos momentos de vida enquanto seus parentes estavam a sua volta. Um companheiro dele pedia para ele dizer La Ilaha Illa Allah (Testemunho que não há divindade além de Deus) mas ele não conseguia dizer esta frase. Daí veio o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e perguntou onde estava a mãe dele. Ela se identificou e então o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) pediu para ele perdoar o filho, pois ele era um filho ruim e havia rompido os laços com sua mãe por mais de 6 anos, sem sequer falar com ela. Então, ela perdoou aquele filho pela intercessão do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) e a partir daí o jovem conseguiu falar o testemunho e orar em suas últimas horas de vida. O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) perguntou a ele porque não conseguia dizer a frase do testemunho. Ele disse que estava vendo duas criaturas assustadoras antes de sua mãe o perdoar, mas depois ele passou a ver duas criaturas bondosas e iluminadas, e ficou mais tranquilo. Aquele jovem estava sob pressão porque não era um bom filho e tinha maltratado sua mãe.
A última questão que devemos deixar registrado aqui é a obediência aos pais, exceto se a obediência for para fazer uma desobediência a Deus.
Que a paz e a bênção de Deus estejam com todos vocês.