Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – O Imam Hussein (as) – Sheikh Wissam Issam – 18/10/2019

Primeiro sermão: “Hussein é de mim e eu sou de Hussein, Deus amará quem amar Hussein” como disse o Profeta Mohammad (S.A.A.S.)

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, na altura de Sua majestade e como Ele merece. Louvado seja o Senhor do Universo, que a paz e as bençãos de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e seus purificados, Ahlul Bait (A.S.) e sobre todos os profetas e mensageiros, seus bons companheiros e os servos virtuosos.

Deus, peço-lhe perdão por mim e todos os fiéis, estejam eles vivos ou falecidos. Servos de Deus, recomendo a vocês e a mim mesmo o temor a Deus, o temor o qual Deus determina o tamanho do crédito do ser humano nesta e na outra vida.

Servos de Deus, temam a Deus. O temor sob todos os aspectos, o qual não há espaço para as paixões e às tentações. O temor que não dá brecha para Satã, e esse temor ou respeito é saber o que Deus e Seu Mensageiro (S.A.A.S.) querem de nós. Uma das questões que literalmente se relaciona a esse temor são as palavras do Mensageiro de Deus que assim falava: “Hussein é de mim e eu sou de Hussein. Deus ama quem amar Hussein…”

Memorizar um dito ou um versículo do Alcorão Sagrado nem sempre é recomendável quando não compreendemos essas tradições e também quando não colocamos em prática seus ensinamentos. Nesse sentido, o principal objetivo na recitação dos Versículos do Alcorão Sagrado, das tradições do profeta Mohammad (S.A.A.S.) e dos Imames (A.S.) é compreendermos os sentidos que ali estão e agirmos conforme o que é pregado. Após, é que se recomenda a memorização, tanto das tradições como dos versículos alcorânicos.

Nessa abençoada tradição, o profeta Mohammad (S.A.A.S.) não quis dizer à humanidade que Hussein é seu neto. O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) não quis simplesmente informar que Hussein é da “minha descendência”, pois isso é algo óbvio para todos. Mas por que então a insistência do profeta Mohammad (S.A.A.S.) ao não querer apenas passar a informação? Se a razão em não querer simplesmente passar a informação de que Hussein era de sua descendência, então que sentido haveria na segunda parte da tradição “… e eu sou de Hussein”? Seria Profeta da descendência de Hussein? Ele, sendo neto do profeta, seria correta a frase “Hussein é de mim”, mas o que significaria a segunda parte da tradição “E eu sou de Hussein”? O profeta Mohammad (S.A.A.S.) quer chamar a nossa atenção para algo além da descendência, além do sangue e das gerações.

Normalmente, uma pessoa sábia profere palavras que fazem sentido e carregam um determinado significado, portanto não há possibilidade de o profeta não proferir palavras sábias ou que não façam sentido. Podemos dar um exemplo simples: estamos todos na mesquita e de repente uma pessoa chega e diz: vocês sabiam que estamos na mesquita? Qual seria o sentido dessa frase já que todos sabem que estão na mesquita? Seria uma fala redundante, não fazendo sentido algum naquele momento. Da mesma forma, podemos afirmar que as pessoas já sabiam que Hussein era neto do Profeta Mohammad (S.A.A.S.) então, a frase se tornaria redundante e também uma fala sem sentido. Mas por detrás de uma fala simples como essa há sim um grande sentido ou um sentido mais amplo.

O que o Profeta quis dizer com essa tradição, especialmente, quando a continuação do dito é algo essencial para o destino de toda pessoa, quando o Profeta afirma: “…. Deus amará aquele que amar Hussein”. Há um sentido maior nesse dito e devemos buscar entendê-lo, pois o amor de Deus para cada um de nós depende do nosso amor por Hussein. Essa questão merece um estudo mais aprofundado.

O que o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) quis dizer é o seguinte: “Hussein em sua proximidade a Deus é quase como a minha proximidade de Deus”. No mundo da sabedoria, da espiritualidade e da perfeição, a diferença entre Hussein e o Profeta Mohammad é mínima. O objetivo de Hussein é o mesmo do Mensageiro de Deus e vice-versa. É como se o espírito de Hussein fosse o mesmo espírito do Profeta. O objetivo é único, o movimento, a caminhada, o esforço, o empenho, o fim, a essência, é tudo igual para ambos. É como se o Profeta (S.A.A.S.) quisesse dizer para todos os muçulmanos e para toda a humanidade que Hussein é uma cópia idêntica dele (do Profeta). Essa tradição indica a posição privilegiada do Imam Al-Hussein (A.S.), e ele merece, depois do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.), ser procurado em todas as questões e assuntos.

O Alcorão Sagrado usou essa ferramenta em diversos versículos. Citaremos o versículo 33 e 34 da Surata Al Imran que diz: “Sem dúvida que Deus preferiu Adão, Noé, a família de Abraão e a de Imran, aos seus contemporâneos (33) Famílias descendentes umas das outras, porque Deus é Oniouvinte, Sapientíssimo (34)”. Essa questão da descendência citada no segundo versículo aponta a mesma ferramenta usada pelo Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) quando queria indicar a posição e a importância do Imam Hussein (A.S.) para a mensagem e para o Islam. Deus não quis simplesmente informar sobre a descendência, pois isso todos sabem, mas Ele queria dizer, que por seguirem o mesmo caminho em tudo, eles são descendentes um do outro Eis, portanto, o sentido mais amplo da mensagem e dos objetivos.

Outro exemplo é sobre o filho de Noé. Ele era filho de sangue, porém era um filho descrente, e disse ao seu pai que se refugiaria na montanha quando viesse o dilúvio. Essas palavras não apenas demonstravam a desobediência à mensagem de Deus como o fato de não seguir os passos de Noé ( A.S.). Deus o Altíssimo disse a Noé: “Respondeu-lhe: Ó Noé, em verdade ele não é da tua família, porque sua conduta é injusta;” (11:46). Ou seja, o que determina a proximidade ou descendência de alguém com o outro é o princípio da fé, da teologia e os laços de sangue. A interação teológica e a crença são mais fortes do que a ligação sanguínea.

Outro exemplo é sobre Salman Al-Farsi, o qual não tinha nenhuma proximidade ou grau de parentesco com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.). Muito pelo contrário, o Profeta era árabe e Salman, persa. Mas, o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) o escolheu dentre os demais companheiros, árabes ou não árabes, e disse a seu respeito: “Salman é de nós, um dos Ahul Bait”. O Profeta não disse simplesmente que Salman era companheiro, próximo ou fiel, e sim UM DE NÓS. Ele o preferiu sobre muitos outros companheiros. Isso porque a posição que Salman ocupou em seu grau de conhecimento e espiritualidade foi o que determinou essa proximidade com o Mensageiro de Deus. Tornou-se, assim, merecedor desse privilegio e um dos mais próximos do Profeta Mohammad (S.A.A.S.).

Com os exemplos acima, percebemos que o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) não se referiu aos aspectos genéticos quando disse que “Hussein é de mim e eu sou de Hussein”. O sentido vai muito além disso e cabe ressaltar que essa tradição é confirmada por todos os narradores, tanto Xiitas quanto Sunitas.

Afirmamos, com toda a convicção que: “Aquele que amar Hussein verdadeiramente, certamente este amor o levará ao amor e proximidade de Deus. Em outras palavras, aquele que amar a Deus de uma forma sincera e verdadeira não poderá não amar Hussein”. Imagine-se procurando um caminho para amar a Deus ou ser amado por Deus. E de acordo com essa citação será infeliz aquele que tiver um pingo de ódio contra Hussein em seu coração. É como se Hussein tivesse se transformado em uma balança ou referência para saber o grau da proximidade e do amor das pessoas a Deus (A.S.). Se a pessoa tiver no caminho de Hussein, certamente estará no caminho da orientação, e o contrário é o caminho do desvio.

A pergunta: Será que uma pessoa pode se transformar em referência para o amor de Deus mesmo que ela tenha praticado um delito?  

Resposta: Aquele que for frágil e comete um pecado jamais seu amor pode ser referência como o amor de Deus, pois ele não estaria agindo totalmente de acordo com a vontade de Deus. O amor de Deus para aqueles que amam Hussein é por ele ser uma pessoa reta, sem jamais cometer um ato de desagrado a Deus. A proximidade de Hussein a Deus e sua obediência é tão firme e forte que ele jamais pensou em algo que desagradasse a Deus e que pudesse provocar Sua insatisfação. Hussein (A.S.) é puro e ele foi um dos referidos por Deus no Alcorão Sagrado: “Deus deseja afastar de voz a abominação, ó Ahlull Bait, bem como purificar-vos integralmente” (33:33).

Portanto, a pessoa que for verdadeira em sua crença e fé e for fiel no temor a Deus deve conhecer essa simbologia divina sobre a Terra e conhecer mais sobre os Ahlul Bait (A.S.), também deve saber quais são os ensinamentos que levam-na em direção a Deus. A pessoa deve se empenhar sempre e o máximo para estar de acordo com as orientações de Hussein, pois o caminho dele representa o caminho de Deus. Temos a obrigação de amar e nos aproximar e sermos leais ao Imam Al-Hussein (A.S.). Temos que nos distanciar e repudiar os inimigos de Hussein, aqueles que o mataram e que concordaram com essa prática, seja em sua época ou depois dela.

Rogamos a Deus que nos perdoe, e que possamos nos refugiar Nele quando de sua ira. Refugiamo-nos em Deus por nossa arrogância. Ó Deus, seja misericordioso conosco e perdoa-nos. Deus nosso! Faça nos felizes como aqueles que se encontrarão contigo no dia do juízo final.

Que a paz e a benção de Deus estejam com todos.

Segundo sermão: A Conduta nos negócios – Parte 2

Peço perdão a Deus, e por todos vocês, e todos os fiéis. Servos de Deus oriento a todos e a mim mesmo o temor a Deus e a obediência a ele.

Vamos procurar falar a respeito de alguns problemas que encontramos no comércio. Problemas ligados às relações entre os muçulmanos, e apresentar algumas soluções sobre essas questões. Questões que citamos na semana passada e que iremos dar continuidade aqui.

A compra a prazo

Problema: Certas pessoas vão comprar um produto sendo que prometem o pagamento para depois, mas ela não paga. Isto e um grande pecado. Como pode alguém sustentar sua família com este tipo de comportamento. A cada instante que passa sobre sua vida e você não paga a sua dívida se configura um pecado. No dia do juízo final a pessoa pode pedir perdão e intercessão para ser perdoada, isso apenas naquilo que depender dos atos ilícitos que a pessoa cometeu em desobediência a Deus. Já o que ela pratica violando os direitos das pessoas só dependerá do perdão delas.

Solução: Formalizar tudo e seguir os termos do acordo no que diz respeito ao pagamento a prazo.

Fiador

Problema: Às vezes a pessoa precisa de um fiador, de uma pessoa para garantir ela perante o fornecedor ou uma empresa, ou seja lá o que for. A questão do fiador é uma coisa muito importante já que às vezes a solução de um problema ou de uma pendência depende disso. Então, esta pessoa procura um amigo para ser seu fiador ou garantir o seu negócio. Temos que saber que ser fiador não é apenas para assinar um documento ou firmar um negócio, e sim deve garantir e se responsabilizar pela pessoa que está garantindo. É lógico que a pessoa que precisa da fiança tem a responsabilidade total daquele caso.

Solução: Ser fiador quando realmente puder cumprir as condições da fiança.

Sociedade

Problema: Uma sociedade entre dois amigos, colegas ou irmãos, deve ter tudo escrito no papel com todos os seus detalhes. Quem irá pagar os funcionários, como será o aluguel, como serão os termos da sociedade, ou quando e como e quais condições do encerramento da sociedade. Alguns por exemplo quando começam uma sociedade e o negócio começa a andar bem começam a procurar pretextos para tirar o sócio da sociedade.

Solução: Escrever tudo detalhadamente para não ocorrerem mal-entendidos ou erros.

Investimento

Problema: Entregar um valor para alguém e exigir um rendimento fixo por mês. Isto está errado pois tem meses que talvez a empresa não ganhe, e sim possa ter prejuízo.

Solução: O rendimento deve ser em porcentagem e não fixo.

Registrar e documentar

Problema: Fazemos uma sociedade, dívida, venda a prazo, ou etc, e isto não é registrado e também não têm testemunhas.

Solução: Registrar os acordos comerciais e chamar testemunhas para que tudo seja firmado. Não é uma questão de falta de confiança. O que pode acontecer é alguém cair no esquecimento. Isto tem que ser ensinado pelos mais velhos aos novos. Não é ruim mesmo se for um parente, colega ou conhecido, isso porque Deus, o Altíssimo, quer isso. Deus, o Altíssimo, disse: “Ó fiéis, quando contrairdes uma dívida por tempo fixo, documentai-a; e que um escriba, na vossa presença, ponha-a fielmente por escrito (128); que nenhum escriba se negue a escrever, como Deus lhe ensinou…” (2:282). Mesmo se a pessoa não souber quais os textos de um documento que procure se informar, pergunte para alguém que saiba. Registrar este tipo de trabalho é de extrema importância. Alguns negócios rápidos ou pequenos ou alguém que compra e recebe e está tudo certo, não há necessidade, mas no caso de negócios um pouco maiores, a pessoa deve seguir esta regra.

Testemunhas

Problema: Uma sociedade, uma dívida ou um certo trabalho tem um de seus membros ausente ou tem um acidente e fica em coma, ou pode chegar a falecer, e ao mesmo tempo, por exemplo, o documento pode ser extraviado ou perdido.

Solução: Ter testemunhas que firmam o que está sendo feito ou acordado. Deus, o Altíssimo, disse: “… Apelai para testemunhas quando mercadejardes, e que o escriba e as testemunhas não sejam coagidos; se os coagirdes, cometereis delito…” (2:282) Este versículo nos aponta a importância e papel da testemunha, sabendo que ela não deve testemunhar em branco ou simplesmente assinar um documento porque alguém pede pra assinar. Ela deve saber se algum dia for chamada para testemunhar a ocorrência ela deve revelar a verdade e não pode nunca deixar de testemunhar e revelar, pois a justiça estará dependendo do seu testemunho. É um grande pecado não testemunhar sendo que o silêncio perante o tribunal pode causar uma injustiça contra alguém. Se ficar em silencio perante uma justiça é um grande pecado imagine então se alguém testemunhar a injúria.

A religião e a doutrina islâmica possuem determinações legais e decretos para cada tipo de negócio, e temos que procurar saber e conhecer quais são estas condições e regras para não cairmos em pecados.

Deus, o Altíssimo, sabe das necessidades do homem e por isso ele determina as leis e as condições de acordo com suas necessidades e para evitar que ele se arruíne. Que sejamos tementes a Deus em nossos acordos e relações. Rogamos a Deus a sua satisfação e o seu agrado. Pedimos a Deus o perdão e a clemência antes, durante e depois da morte.

Que a paz e a benção de Deus estejam com todos.

 

 

 

 

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