Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – Palavras sobre o conselho e os negócios – Sheikh Wissam Issa – 25/10/2019

Primeiro Sermão: Conselho, sua importância e suas definições

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, na altura de Sua majestade e como Ele merece. Louvado seja o Senhor do Universo, que a paz e as bençãos de Deus estejam com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahlul Bait (A.S.), sobre todos os profetas e mensageiros, seus bons companheiros e os servos virtuosos.

Deus, peço-lhe perdão por mim e a todos os fiéis, estejam eles vivos ou falecidos. Servos de Deus, recomendo a vocês e a mim mesmo o temor a Deus, o temor o qual Deus determina o tamanho do crédito do ser humano nesta e em outra vida.

Importância do conselho

Deus, o Altíssimo, disse: “Aqueles que atendem ao seu Senhor, observam a oração, resolvem os seus assuntos em consulta e fazem caridade daquilo com que os agraciamos;” (42:38).

Uma das características dos fiéis é a obediência total a Deus. É o atendimento a suas orientações que levam ao Seu agrado e satisfação. Em seguida, observam a oração, ou seja, praticam a oração, tanto em seu formato quanto os seus princípios e ensinamentos. Além disso, os fiéis se aconselham. Seja lá qual for o nível de estudo e de conhecimento do ser humano o mesmo sempre irá precisar de aconselhamentos e orientações dos sábios ou de pessoas mais experientes e especializadas. Isso porque o ser humano jamais poderá conhecer ou compreender todas as questões à sua volta, e por isso que o princípio do conselho e da busca pelo auxilio e opinião e orientação é uma das questões cruciais que nos levam ao sucesso.

Temos o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.), um ser infalível e conhecedor dos mistérios e das questões ocultas, além de tudo o que está em sua volta, seus fins e destinos, e mesmo sendo auxiliado por Deus, jamais dirá algo sem sentido. Ainda assim, Deus ordena e diz ao Seu mensageiro: “… Consulta-os nos assuntos (do momento). E quando te decidires, encomenda-te a Deus…” (3:159). Deus, o Altíssimo, ordena o seu Mensageiro a consultar os sábios em alguns assuntos e em seguida analisá-los para chegar à conclusão de se apoiar em Deus e seguir o caminho.

Alguns perguntam por que o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) deve pedir consulta aos sábios, já que ele é auxiliado por Deus e sabe do resultado dos fatos e de suas consequências. Há nisso várias razões:

a) A participação das pessoas nos assuntos e questões diversas.

b) Ativação do intelecto das pessoas, preparando-as para tomar as decisões corretas.

É como um professor que está com seus alunos e ao ensiná-los apresenta uma questão pedindo aos alunos um posicionamento, mesmo sabendo a resposta daquela questão. Ele conhece a resposta, no entanto, essa forma de aprendizado é para prepará-los para a ativação mental do raciocínio.

Numa passagem do Príncipe dos Fiéis (A.S.) ele dizia: “Pedir o conselho é indicar a gestão sucedida sendo que se arrisca aquele que se apoia só em sua opinião”.

Aquele que pedir conselho estará sendo orientando. A orientação tem dois sentidos:

1) Pedindo conselho, ele está praticando o método correto antes da decisão. Assim, grande parte dos que pedem conselho são bem-sucedidos em suas decisões.

2) Mesmo quando não se alcança o sucesso naquela decisão, ele fez o que é certo. Ele não sabia de algo e pediu um conselho para aquilo.

Alguns são ignorantes, acham que pedir conselho é algo defeituoso, que indica sua deficiência. Na verdade, as pessoas que mais sabem realmente procuram mais conselhos e informações a fim de tomar as decisões acertadas.

Numa outra passagem, o Príncipe dos Fiéis (A.S.) disse: “Não há destino melhor do que o aconselhamento”. O mínimo que pode ocorrer é que se esse conselho não colocar o indivíduo no caminho certo, ele ajuda a escolher uma das opções. Se uma pessoa, por exemplo, tiver várias opções e pedir um conselho, sua escolha será mais fácil ao excluir algumas opções dentre as diversas apresentadas.

Numa passagem do Imam Ali (A.S.) ele diz: “Pedir conselho é muito indicado, pois a opinião do conselheiro é neutra, já do aconselhado não”.

Existe uma teoria que diz: “A opinião de quem está dentro dos fatos é diferente da opinião de quem está externo aos fatos”. Por exemplo: uma pessoa doente que está com muita dor e precisa tomar uma decisão. O desejo intenso pela cura e pelo conforto torna-o mais vulnerável no momento da escolha de sua decisão. Talvez se ele perguntar a alguém que não sente essa mesma dor, essa pessoa o aconselharia de uma forma mais neutra e daria uma outra versão ou outra dica. O mesmo acontece quando a pessoa vai pedir algum conselho, pois ao estar influenciado por algum desejo interno, essa pessoa será totalmente orientada a seguir sua vontade e, portanto, sua decisão pode não ser a mais racional e/ou a mais correta.

Em que tipo de situações pode se pedir o conselho?

Existem situações nas quais não se necessita de aconselhamentos e pedir conselho nesses casos é tolice ou até incorreto. Seguem alguns exemplos:

1) Situações óbvias. Uma pessoa precisa de ajuda e eu posso ajudar. Não é preciso que eu procure um conselheiro para me orientar a fazer aquilo ou não, pois se eu puder ajudar, eu assim o farei.

2) Halal e Haram. Em situações em que a doutrina islâmica nos orienta a fazer ou não fazer algo, isso também não precisa que eu peça um aconselhamento. Isso seria incorreto, pois a doutrina já escolheu por mim o que seria do meu interesse.

3) Questões contrárias a ética, imorais ou contrárias a valores sociais.

4) Regras e leis do estado.

Depois que soubemos quais são as questões que não precisam de aconselhamento, torna-se mais fácil saber quais são os assuntos em que temos que procurar conselho. São questões ligadas à nossa vida pessoal ou escolhas profissionais, financeiras, e etc.

O conselho pode ser acompanhado de um debate?

Sim, isto também é um ponto muito importante. Mesmo que o conselheiro seja um sábio e mais experiente, é valido que aquele conselho seja debatido, pois talvez esse diálogo possa aperfeiçoar o conselho dele e fazer nascer uma nova visão quanto a sua decisão, que poderá, por vezes, ser mais completa do que a do conselheiro.

Quem são os maus conselheiros?

Depois de sabermos a importância do conselho e em quais questões podemos pedir o aconselhamento dos mais sábios e experientes sobre o tema, é importante saber as características dos conselheiros. Primeiro, vamos saber quais são os maus conselheiros, aqueles que foram abominados de acordo com a doutrina do Islam, pois assim ficará fácil conhecer o conselheiro do bem.

O profeta Mohammad (S.A.A.S.) respondeu esta pergunta em uma de suas orientações a seu sucessor, o Príncipe dos Fiéis (A.S.). O profeta lhe disse: “Ó Ali, não peça conselho a um covarde, pois ele irá limitar suas opções. Não peça conselho a um avarento, pois ele o privará do seu objetivo. Não peça conselho a um ambicioso, pois ele te embelezará o mal”.

O Príncipe dos Fiéis (A.S.) disse numa passagem: “Não peça conselho ao mentiroso, pois ele é como uma miragem, te aproxima do que está distante e te distancia daquilo que está perto”.

Quais as características dos verdadeiros conselheiros?

O Imam Assadeq (A.S.) dizia: “Um verdadeiro conselho só pode ser cumprido se as quatro questões seguintes forem: o conselheiro deve ser racional, o conselheiro deve ser religioso e confiável, o conselheiro deve ser um amigo e irmão, e deve revelar-lhe seus segredos, e ao saber, o mesmo deve guardá-los”.

O racional seria o antônimo do louco, mas o significado do racional aqui seria o entendimento e experiência do conselheiro, naquilo que está aconselhando. Deve conhecer e saber os detalhes sobre aquele tema, aquela questão sobre a qual está lhe pedindo conselho.  Ser religioso e confiável é aquela pessoa que não irá te trair ao dar-lhe um conselho. Ou seja, nunca irá te prejudicar ou te aconselhar sobre algo que te prejudique. Ser amigo e irmão no sentido de pensar e estar ao seu lado. Do lado do seu interesse. Pensar em você e te aconselhar como um irmão e um amigo. É nesse sentido.

O Imamato, conselho ou definição de Deus?

Antes de finalizar o assunto, eu gostaria de fazer um acréscimo aos versículos acima mencionados. O que tenho a dizer aqui é o seguinte: Tudo que está em poder do ser humano, no sentido dele fazer as escolhas e tomar suas decisões nesses assuntos, pode-se pedir conselho e orientação para os demais. Já em assuntos que não estão sob o poder do ser humano, como por exemplo, questões ligadas à doutrina ou ao destino de nossa religião, por exemplo, a pessoa não tem o direito de pedir conselho sobre elas. Uma destas questões é o IMAMATO, ou seja, a liderança, a sucessão do profeta Mohamad (S.A.A.S.). Esta é uma questão que não é do poder do ser humano e sim de Deus, pois é Dele a escolha de quem será o sucessor e o líder após o Profeta Mohammad (S.A.A.S.), já que a mensagem foi de Sua revelação e Ele sabe qual é o interesse maior do ser humano.

O Imamato não é uma questão de domínio do Homem os dos muçulmanos para que eles possam escolher quem será o Imam e o sucessor do Profeta (S.A.A.S.). A prova disso é o versículo do Alcorão Sagrado que diz: “E quando o seu Senhor pôs à prova Abraão, com certos mandamentos, que ele observou, disse-lhe: “Designar-te-ei Imam dos homens.” (Abraão) perguntou: E também o serão os meus descendentes? Respondeu-lhe: Minha promessa não alcançará os iníquos” (2:124). Ou seja, o Imamato aqui foi definido como uma promessa e uma questão ligada totalmente a Deus, o Altíssimo.

É importante ressaltar que qualquer diferença entre qualquer muçulmano e um outro, ou na verdade, qualquer pessoa e uma outra, nos termos ou significados de uma passagem ou versículo, ou seja lá qual for o motivo da discussão, não deve ser tratada com fanatismo, mas com diálogo e debate, pois é daqui que nascem as opiniões e as ricas teorias e mensagens.

Rogamos a Deus que estejamos entre os aconselhados e entre os bons conselheiros, aqueles que aconselham no que Deus definiu e nos orienta. Rogamos a Deus o bem e a benção, o temor, o esforço e a orientação. Rogamos a Deus a Sua clemência antes da morte, durante a morte e depois da morte, e que sejamos julgados junto com o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) e seus purificados Ahlul Bait (A.S.).

Que a paz e a benção de Deus estejam com todos.

Segundo Sermão: Conduta nos negócios – parte 3

Peço perdão a Deus, a todos vocês e a todos os fiéis. Servos de Deus oriento a todos e a mim mesmo o temor a Deus e a obediência a Ele. Temência esta que deve fazer-nos observar a fonte de nossas riquezas para não sustentar nossas famílias por meios ilícitos.

Vamos dar continuidade a nosso tema anterior sobre a conduta nos negócios e quais são os possíveis problemas que podem ser evitados pelas pessoas.

O empréstimo com juros

Problema: Sou uma pessoa com boas condições financeiras e sou procurado por alguém que pede um empréstimo. Eu o empresto (por exemplo) R$ 1.000,00 e digo a ele que o mesmo deve me devolver R$ 1.100,00. Isto é classificado como RIBA, ou seja, juros, e é considerado um grande pecado no Islam. Seja lá qual for a quantia acima daquilo que a pessoa empresta é pecado e irá atrair consequências indesejáveis a ti e sua família. O preferível é não emprestar ao invés de cobrar juros, pois este ato é classificado com um dos grandes pecados no Islam. O empréstimo especialmente para aquele que precisa sair de uma situação difícil é considerado um ato muito grandioso e abençoado no Islam, e em algumas situações talvez mais recompensado do que a oração e o jejum.

Solução: Emprestar a seu irmão, se tiver condições, e sem a cobrança de juros.

Adiar o pagamento com juros

Problema: Uma pessoa pegou emprestado o valor de R$ 20.000,00 e quando chega na data de devolver o valor ao seu dono ela pede mais tempo para pagar. Ela pede mais tempo para pagar sua dívida e nisso a pessoa lhe informa que não há problema em adiar o momento da quitação, só que a cada mês de atraso deve ser pago R$ 1.000,00 acima do valor inicial. Isto também é classificado como Haram e pecado no Islam, pois o princípio é o mesmo.

Solução: Jamais cobrar juros, seja lá qual for a sua forma e condição.

Receptação de mercadorias roubadas

Problema: Aguem me oferta mercadoria com preço muito abaixo do mercado. Isso me deixa em dúvida se a fonte da mercadoria é licita ou não.

Solução: Jamais trabalhar com mercadorias roubadas ou comprar frutos de roubo.

Fraude ou falsificação

Problema: Alguém me pede uma mercadoria com uma descrição específica. Eu confirmo que tenho a mercadoria, mas na verdade estaria mentindo falsificando uma mercadoria com características iguais às solicitadas.

Solução: É Haram. Jamais trabalhar fraudando mercadorias ou falsificando produtos oferecendo-os para seus clientes e enganando-os afirmando que são o que elas não são.

Honestidade

Problema: O cliente procura uma oficina e pede manutenção para seu celular, máquina ou carro, por exemplo. O profissional não é honesto, concerta o defeito mas vai além do valor prestado, mente na quantidade de horas trabalhadas ou prende o cliente lhe pedindo para voltar daqui a dois ou três dias quando o seu produto pode ficar pronto em algumas horas. Ou troca peças cujo ele não pediu para trocar e mente no que foi trocado ou concertado.

Solução: Ser honesto, sendo direto e bem claro com o cliente fazendo aquilo que ele pediu e não transgredindo ou mentindo no serviço prestado, mesmo se houver pessoas no mercado que não praticam a conduta honesta de trabalho. Veja o que Deus quer de você e não aquilo que suas tentações te orientam.

Espalhar boatos e mentiras

Problema: Espalhar boatos dizendo que por exemplo tal loja está trazendo mercadoria falsificada ou de má qualidade quando na verdade o fornecedor daquela loja é o mesmo que o meu. Meu objetivo é distanciar os clientes dele e atraí-los para minha loja.

Solução: Isso é Haram. É pecado. O máximo que pode acontecer, se isso for verdade e se por exemplo o próximo for realmente comerciante de mercadoria ilícita, é que você deve orientá-lo e dizer diretamente a ele que ele está errado, e não espalhando notícias ou boatos, mesmo se forem verdade.

Leilão

Problema: Às vezes uma pessoa vende uma mercadoria ao próximo e o seu concorrente vende a mesma mercadoria com um preço abaixo do dele. Isso numa concorrência saudável não há problema, mas às vezes o mesmo começa a querer vender a mercadoria com um preço muito abaixo do mercado visando o domínio dele, mesmo se for ter prejuízo. Isso porque ele quer quebrar os seus concorrentes ou dominar o mercado de uma certa mercadoria ou produto. Isso é considerado Haram e imoral.

Solução: Ser o mais honesto possível dando possibilidade aos demais participantes do mercado, e não agir visando objetivos financeiros absolutos, pois é a ambição que o leva a isso.

Infelizmente as pessoas usam pretextos incorretos para alcançar seus objetivos comerciais. Pretextos estes que muitas vezes são inspirados pelas tentações e orientações de Satã. Alguns exemplos dos pretextos são: “O mercado manda assim”, ou por exemplo, “Se não fizer isso não haverá lucro”. O que eu digo é o seguinte:

Primeiro: Que a pessoa deve ter a conduta correta, independentemente se o mercado age ao contrário disso, o que pode acontecer é ele ter menos ganhos.

Segundo: Se pouco a pouco todos agissem corretamente o mercado não ficaria acostumado a agir de formas incorretas ou desonestas.

Se mesmo assim a pessoa não tiver condições de viver ou conseguir o seu sustento ou a quantidade correta, a pessoa não deve desistir, e sim, ele ainda tem uma opção. Ele pode viajar e migrar para outra região onde possa viver honestamente e alimentar e sustentar sua família com total obediência a Deus, pois é esta a base de todas as nossas ações, e não o que ganhamos e quanto ganhamos.

Que sejamos tementes a Deus em nossos acordos e relações. Rogamos a Deus a Sua satisfação e o Seu agrado. Pedimos a Deus o perdão e a clemência antes, durante e depois da morte.

Que a paz e a benção de Deus estejam com todos.

 

 

«
»