Cena nº 1: Zulaika – O Convite para a Indecência
A cortina é aberta e conta-se a história a respeito de uma mulher casada. Em seu palácio vive um jovem de quem ela cuidou desde que o seu marido o comprou. A cada dia este jovem se tornava mais simpático, belo, inteligente, carinhoso e com nobre caráter: “E quando alcançou a puberdade, agraciamo-lo com poder e sabedoria; assim recompensamos os benfeitores.” (Alcorão Sagrado, 12:22). Essas fabulosas características nos rapazes atraem as mulheres, tanto física como moralmente. Nessa cena vergonhosa, que exala o odor do desejo sexual ilícito, vemos a mulher do governador, chamada Zulaika, tentando seduzir José (AS), o belo e nobre moço, para cometer a obscenidade e o ilícito: “A mulher, em cuja casa se alojara, tentou seduzi-lo; fechou as portas e lhe disse: Agora vem!” (Alcorão Sagrado, 12:23). Ela fechou as portas para eliminar todo tipo de fuga, tentando-o e demonstrando que estava disposta a praticar a obscenidade com um moço com o qual não possuía nenhuma ligação legal, sendo casada e compromissada com outro homem.
José foge da rede de intriga que lhe foi preparada. Ela o alcança e segurando-o pela camisa, rasga-a por trás, para puxá-lo novamente para aquela rede fatídica. Ele, porém, refugiou-se em Deus e Ele o salvou.
As mulheres que frequentavam a casa da esposa do governador, entre vizinhas e amigas, e que a censuraram pelo que fez com José, foram convidadas por ela para verem-no de perto. Quando seus olhares caíram sobre ele, quase cortaram os dedos, sem perceber, pela forte atração de sua beleza: “E quando o viram, extasiaram-se diante da visão dele, chegando mesmo a ferir as próprias mãos. Disseram: Valha-nos Deus! Este não é um ser humano. Não é senão um anjo nobre!” (Alcorão Sagrado, 12:31). Elas tentaram seduzi-lo. Porém, ele preferiu o cárcere a atender às suas tentações e cometer obscenidades.
Segunda Cena: As duas filhas de Shuaib – Pudor e Castidade
A cortina é aberta, agora, sobre uma cena calma, sem o fervor dos instintos, a agitação dos sentimentos ou o despertar dos desejos. É clima claro, de serenidade espiritual, um encontro tranqüilo trocado entre duas partes, com sinais de respeito e de bom comportamento, cuidando dos valores de castidade e pudor.
Vê-se Moisés (AS), o moço forte na cidade de Madian, observando duas moças que pastoreavam ovelhas, paradas, esperando a vez de darem água para o rebanho. Ele observou que elas evitavam se misturar com os homens, aguardando a partida deles, dando-lhas a oportunidade de utilizar a aguada. O diálogo entre eles é o seguinte: “E quando chegou à aguada de Madian, achou nela um grupo de pessoas que dava de beber (ao rebanho), e viu duas moças que aguardavam, afastadas, por seu turno. Perguntou-lhes: Que vos ocorre? Responderam-lhe: Não podemos dar de beber (ao nosso rebanho), até que os pastores se tenham retirado, (e temos nós de fazer isso) porque o nosso pai é demasiado idoso. Assim, ele deu de beber ao rebanho, e logo, retirando-se para uma sombra.” (Alcorão Sagrado, 28:23-24).
Nessa cena, o diálogo ocorre com cordialidade… Moisés (AS) começa, perguntando, por ser uma pessoa zelosa, se poderia oferecer seus préstimos às moças castas. Ele, efetivamente, poderia ajudá-las imediatamente. Vemos que a sua pergunta não está fora dos limites da educação. Procura averiguar a respeito do motivo de não dar água às ovelhas. A resposta das moças não ultrapassou, também, aquele limite e revelou uma conduta casta. O motivo de sua negativa era o receio de se misturar com os homens, ato contrário às condutas das moças e à sua castidade. Por outro lado, o que as obrigou a pastorear as ovelhas e dar-lhes de beber era o fato de seu pai ser homem idoso, sem forças de cumprir a tarefa de pastoreio e dar de beber ao rebanho. Portanto, elas exerciam a tarefa por necessidade. Se o pai fosse capaz de fazê-lo, ou tivesse um filho que pudesse, não teriam saído e exercido a função, que é praticada normalmente por homens, devido ao pudor, ao senso de proteção e à castidade femininas.
Depois que Moisés (AS) deu de beber ao rebanho, terminou a relação com elas. Não se envolveu com as moças em conversas laterais para estreitar a relação, o que alguns jovens fariam normalmente: “Assim, ele deu de beber ao rebanho, e logo, retirando-se para uma sombra” (Alcorão Sagrado, 28:24). Ou seja, ele não aproveitou o favor que fez a elas para poder ficar mais próximo. Elas, por sua vez, deixaram o local, preservando o seu pudor.
Comparação entre os dois casos:
Zuleika, no primeiro caso, foi quem instigou José (AS) e o convidou a atear o fogo do desejo. Ou seja, ela foi a instigadora, que procurou induzi-lo à prática da fornicação. No segundo caso, as filhas de Shuaib não pediram a Moisés (AS) que desse de beber ao seu rebanho, o que seria motivo ou introdução para o mútuo conhecimento e a atração. Como dissemos, alguns jovens aproveitariam a oportunidade para outros objetivos. A abordagem de Moisés (AS) foi respeitosa e não expôs as moças a maldade ou a injúria.
O comportamento da jovem em relação aos jovens ou a sua maneira de abordá-los, muitas vezes, abrem as portas para situações indesejáveis. O jovem pode abordá-la ou tentar conquistá-la e seduzi-la. Porém, com a sua capacidade e determinação, ela pode fechar a porta na cara dele e não corresponder aos galanteios.
É confirmado que a jovem vestida com pudor e castidade é menos exposta ao assédio masculino. Se Deus, exaltado seja, pediu a ela para se cobrir, não mostrar as suas partes atrativas, não tornar a voz melodiosa, não se expor como na época pré-islâmica, é porque estes comportamentos constituem motivos para a instigação e a sedução. Se ela se negar a fazê-lo – e do jovem é exigido desviar o olhar – ambas as partes colaboram para a castidade.
O primeiro caso se desenrola em clima de isolamento, longe dos olhares observadores. A situação cria um ambiente de desejo e cria a cobiça naquele em cujo coração há enfermidade. Se José (AS) não soubesse que Deus o observava, teria sucumbido.
Quanto à segunda cena, desenrola-se em ambiente aberto, à vista e ao ouvido das pessoas. Não tem condições para o desenvolvimento da intriga. Desenrola-se dentro de ambiente conhecido e atende ao pressuposto natural do diálogo informal. Esse é o motivo da advertência da Nobre Tradição: deve haver um isolamento respeitoso entre ambos os sexos, para não se dar margem ao Satanás instigar o homem e a mulher.
O diálogo, no primeiro caso, é sincero, aberto e explícito, o que demonstra o baixo nível de pudor. Por isso, as palavras: “A mulher, em cuja casa se alojara, tentou seduzi-lo”, ou seja, pediu-lhe que praticasse a indecência com ela, abertamente: “… e lhe disse: Agora vem!”, ou seja, afirmou que estava pronta para ele.
Quanto ao diálogo do segundo caso, não ultrapassa os limites da educação e ética, ocorrendo como se fosse entre duas pessoas do mesmo sexo. A pergunta de Moisés (AS) foi honesta e a resposta das filhas de Shuaib também foi honesta. Não havia no diálogo acréscimos que o tirassem do círculo da castidade e do pudor. Vemos isso na cena seguinte: “E uma delas se aproximou dele, caminhando timidamente, e lhe disse: Em verdade meu pai te convida para recompensar-te por teres dado de beber” (Alcorão Sagrado, 28:25). A expressão “caminhando timidamente” demonstra que a formalidade não tinha sido suspensa entre a jovem e Moisés (AS); continuava, apesar do primeiro contato, protegida e conservada. O diálogo, da mesma forma que foi casto no início, continuou até o fim. Ela não indicou e não demonstrou qualquer interesse por ele, mas transmitiu-lhe uma sucinta e informativa mensagem: que o pai o convidava para recompensar a atitude dele.
Mesmo quando ela demonstrou a sua vontade, o fez com inteira educação e pudor, distante da maldade: “Uma delas disse, então: Ó meu pai, emprega-o, porque é o melhor dos que poderás empregar, pois é forte e leal.” (Alcorão Sagrado, 28:26). Ela não citou a sua formosura, as suas palavras agradáveis, a finura de seu sorriso, mas citou a sua virilidade e lealdade, como duas condições básicas exigidas no homem para o casamento islâmico. Quanto à lealdade, ela carrega uma expressão clara a respeito da castidade de Moisés (AS), sua modéstia e respeito à sua posição e à posição de uma jovem estranha.
Aplicações práticas:
Na nossa realidade, vemos muitas adaptações de ambos os tipos. Há quem se pareça com Zulaika, com seu comportamento desenfreado, com o manto do pudor rasgado, e há quem se pareça com as filhas de Shuaib, na sua castidade, modéstia e educação.
A moça que vive em ambiente de perversão – festas, bares, discotecas, boates, etc. – cria uma base fértil para a inflamação do desejo sexual entre os jovens com quem se reúne e conversa, com quem tem amizade e brinca, principalmente se estiver usando roupas que a expõem, enfeites que a tornam atraente. Assim, ela se parece com Zulaika.
A jovem que sai exposta, com os braços, as pernas, o peito e os cabelos descobertos, com a roupa apertada, está convidando os jovens para se aproximarem dela e abordá-la, para olharem a sua beleza e atratividade. Ela não está saindo com este aspecto chamativo a não ser para atrair os jovens e dizer a eles o que Zulaika disse a José: “Agora vem!” Ou ela está preparada para o cometimento da indecência e do ilícito, ou está se divertindo ao ver os olhares dos jovens cobiçando-a, dirigindo-lhe palavras ofensivas a esmo.
A moça que lança sorrisos inspiratórios, piscadas e faz movimentos instigadores com o corpo, que só conversa com o seu colega com voz sedutora, está convidando para a indecência, mesmo que não o faça diretamente. Seu ato instiga a intriga, mesmo que não demonstre claramente suas intenções. Isso induz os jovens a praticar o ilícito. Ela é irmã de Zulaika, mesmo que não cometa obscenidades de forma efetiva.
Aqueles que permitem que professores particulares ministrem aulas a suas filhas por trás de portas fechadas, frequentando a casa por uma ou duas horas diariamente, abrem espaço para acontecer o que é proibido.
Encontros desse tipo já causaram resultados trágicos
A freqüência de amigos da família, jovens e homens, ou o envio do empregado do pai para a casa de uma moça para buscar algo, tudo isso ajuda na abertura das portas daquelas casas para a prática do ilícito, impossível de serem fechadas posteriormente.
Em comparação a este alerta, encontramos os exemplos e imagens vivas das duas irmãs, filhas de Shuaib. Neste caso, temos a moça que se nega a encontrar-se com estranhos e a ficar sozinha com eles, que não se encontra com jovens ou homens a não ser na presença de seus pais ou de seu irmão, que conserva o pudor, protege a sua honra e veda as manobras de Satanás do visitante que é tentado a praticar o mal. Aquela que rejeita ficar sozinha com o colega na sala de aula, ou em um canto do jardim da universidade, ou no lugar de lazer da cidade, ou longe dos olhos num passeio escolar está protegendo a sua honra e a honra do rapaz, também.
A jovem que conversa com o outro sexo e não o faz com suavidade, insinuações e melindres, mas com educação e respeito, atendo-se ao que é necessário, quer por telefone, na sala da internet ou em encontros diretos, é como a filha de Shuaib, que se relaciona com pudor.
Aquela que não permite que o noivo fique perto dela, tocá-la, beijá-la, flertar com ela – mesmo que faça isso para testá-la – pois não é ainda a esposa dele, é também como a filha de Shuaib, cuja posição em relação a Moisés (AS) Deus elogiou. Ela teve contato com ele com pudor, até tornar-se sua esposa. Porém, após o contrato legal de casamento entre ambos, não há problema.