Sermão de sexta-feira da Mesquita do Brás – Os pecados e o endurecimento dos corações – Sheikh Youssef Ajurdi – 31/01/2020

Primeiro Sermão

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor do universo, que a paz e a benção de Deus estejam com o profeta Mohammad (S.A.A.S.), seus purificados Ahl el Bait (A.S.), seus bons companheiros e todos os seus profetas e mensageiros.

Deus o altíssimo disse no seu livro Sagrado: “Apesar disso os vossos corações se endurecem; são como as rochas, ou ainda mais duros. De algumas rochas brotam rios e outras se fendem e delas mana a água, e há ainda outras que desmoronam, por temor a Deus. Mas Deus não está desatento a tudo quanto fazeis”. (2:74).

Na semana passada falamos sobre a verdadeira fé e como ela deve dominar o coração, e como isso é importante para firmar a fé no coração e na alma do ser humano.

Hoje vamos falar a respeito de um problema muito sério que é “O endurecimento do coração” e quais são os motivos disso. Se o indivíduo não presta atenção em si próprio, poderá causar um grande obstáculo para a jornada rumo à perfeição e ao caminho do bem, uma vez que um dos maiores objetivos da criação do ser humano por Deus é que ele possa alcançar o mais alto nível de perfeição em sua vida e o coração endurecido é um grande obstáculo para alcançar isto.

O Alcorão Sagrado narra a seguinte história: Um homem entre o povo de Israel matou seu primo e acusou um outro primo de ter o matado. Quando as pessoas souberam do assassinato virou uma confusão, já que o acusado estava negando aquilo que lhe estava sendo associado e ele apontava outro como suspeito, sendo que o outro era inocente. Depois de muita confusão, eles decidiram ir ao profeta Moisés (A.S.) para que ele fosse o juiz mediante a este impasse. Então ele consultou à Deus e Ele o ordenou que ordenasse a seu povo que sacrificasse uma vaca e jogasse o seu sangue sobre a vítima executada inocentemente, e que ela voltaria a vida e apontaria o seu verdadeiro assassino. O povo de Israel achou que ele estivesse zombando deles, mas ele negou isso. Então o povo de Israel começou a criar obstáculos e brincar com a ordem de Deus perguntando a Moisés detalhes mais precisos de como seria a vaca que ele queria que eles sacrificassem. Moisés então consultava a Deus cada vez que eles o questionavam e assim ele apresentou a eles todas as características perguntadas. Como o povo foi questionando e ele foi respondendo o resultado desta teimosia foi que as características exigidas por Deus e informadas ao povo de Israel estavam se encaixando em uma única vaca na cidade, e eles teriam que adquirir esta vaca para sacrificar e saberem quem era o assassino. A vaca pertencia a um jovem muito bondoso que amava e cuidava de seus pais, e ele foi procurado pelo povo de Israel que veio para comprar aquela vaca. Resumindo, quando a vaca foi comprada a um preço muito caro e sacrificada, Moisés pediu que um pouco do seu sangue fosse jogado sobre o homem assassinado, pois de acordo com a promessa de Deus ele ressuscitaria e indicaria quem o tinha matado. Os israelitas fizeram isso e o jovem assassinado levantou e apontou o dedo ao seu primo, que o tinha assassinado, e com isso o assassino foi apontado.

A moral da história é que mesmo depois de tantos milagres demonstrados por Moisés ao seu povo os Israelitas não colocaram fé nos ensinamentos dele, pois eles possuíam corações endurecidos como rocha, e é isso que está sendo apontado no versículo acima. Esta história, a qual deveria fazer o povo de Israel sentir a fé em seus corações, foi prova de quanto o coração deles era insensível e duro, e dela retiramos duas consequências e conclusões;

Primeira: Qualquer um de nós é referido neste versículo e qualquer um de nós pode chegar a esta etapa.

Segunda: O coração endurecido é uma consequência. Então, houve fatores que levaram a isto?

A pergunta é: Quais são os fatores que levam os endurecimento dos corações?

Um dos mais importantes fatores que pode levar a esta consequência são “as práticas dos pecados”. Na verdade a história nos revela o quanto o povo de Israel maltratou e até mesmo executou os profetas. Matar uma única pessoa já é um grande pecado imagine então matar um profeta, um mensageiro e escolhido de Deus. Hoje em dia também existem grupos e pessoas que matam e assassinam a sangue frio. Crianças, idosos, mulheres, homens, sem que sintam nenhum tipo de remorso ou sentimento de culpa. Os israelitas matavam os profetas e os mensageiros de Deus pela alvorada e iam ao trabalho ao amanhecer como se não tivessem feito nada.

Voltando ao versículo, os corações endurecidos do povo de Israel foram comparados às duras rochas: nada há de tão duro do que rochas, e mesmo assim, Deus diz neste versículo: “… De algumas rochas brotam rios e outras se fendem e delas mana a água…”. Mesmo as rochas sendo duras delas ainda brotam a água e rios, pois quando acontece um terremoto ou algo semelhante, elas cedem e se racham para sair delas as águas. Ao mesmo tempo Deus afirma no mesmo versículo: “…e há ainda outras que desmoronam, por temor a Deus….”. A pergunta é será que a pedra sente o temor de Deus? Um grande sábio interpreta o versículo 44 do capitulo 17 que diz: “…Nada existe que não glorifique os Seus louvores!…” e afirma que não há nada neste mundo que não glorifique a Deus. Tudo e todas as coisas glorificam a Deus  neste mundo.

Todo ser humano nasce como uma página branca sem nenhuma mancha, mas ao longo de sua vida pratica pecados ou erros que poderão endurecer seu coração, e a página branca aos poucos desaparece até que a mancha domina todo o seu coração. Depois disso feito, nada mais tem jeito: Deus falou sobre esta categoria de pessoas no Alcorão Sagrado dizendo: “São surdos, mudos, cegos, e não se retraem (do erro)” (2:18).

Temos que nos apressar. O quanto antes a pessoa puder perceber e se conscientizar de seus erros será melhor. Antes que as manchas dominem todo o seu coração. Os pecados são como o câncer, se não tratar antes do tempo não haverá mais chance de tratar. Imaginem alguém procurar um médico depois do câncer te se espalhado em seu corpo. O médico lhe dirá que não terá mais jeito, pois não se pode fazer mais nada já que o mesmo dominou todos os órgãos e agora é tarde demais. Assim são os pecados. Se tivermos ainda alguns pingos brancos em nossos corações ainda teremos tempo de pedir perdão e voltar atrás e limpar nosso histórico, mas se nossos corações forem dominados pelos pecados e pelas manchas, será então tarde demais.

Os pecados são grandes alertas, sejam pequenos ou grandes. Na verdade como se narra nas tradições: são os pequenos pecados que levam aos maiores. E não é uma questão de pequeno pecado ou grande e sim de quem a pessoa estaria desobedecendo. Ao cometer um pecado a pessoa está desobedecendo ao poderoso criador do universo e isso é uma coisa muito perigosa. Portanto, não devemos minimizar os nossos pecados achando que por ser pequeno não faz diferença. Só este tipo de pensamento já cria um grande pecado. A tradição afirma: “Não veja o tamanho do seu pecado, e sim a quem tu desobedeceu”.

Na semana passada falamos sobre a importância da fé e o seu domínio em seu coração. Temos que sentir Deus em nossos corações e Sua presença em nossa alma, pois só assim a pessoa poderá dizer não aos pecados. Quando a pessoa não sentir Deus em seu coração sentirá a falta de sua presença e este vazio será tomado e dominado por Satã, que o afasta de Deus.

Por isso, queridos irmãos, temos que trabalhar nisso. Temos que fortalecer o nosso coração e mantê-lo presente com a presença de Deus. Agora a pergunta é: existem vitaminas para fortalecer a presença de Deus em nossos corações e mantê-los sensíveis? Sim, quando a pessoa promete e não pratica mais pecados, quando recita o Alcorão Sagrado, quando deixa de praticar a Ghibah ou fofoca, quando paga o Zakat e a ajuda aos próximos, quando reza, quando ora pelos outros, quando agradece e louva a Deus, tudo isso e muito mais transformará os nossos corações em transparência e sensibilidade, e os polirá para apagar as manchas de pecados sobre eles.

Louvado seja Deus, o Senhor do Universo.

Segundo Sermão

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

O ser humano deve observar o seu coração e ficar atento para não ter o seu coração dominado pelos pecados e insensibilidade. Aqui irei aproveitar e citar uma breve história sobre o nosso tema que é a história de Fudhail, o filho de Awaz.

Fudhail foi um dos companheiros do Imam Assadeq (A.S.), mas antes disso ele era um criminoso, bandido, agressor e saqueador. Ele esperava as caravanas nas estradas e as saqueava, agredia e levava seus pertences. Um dia, ele se apaixonou por uma mulher, e para chegar a ela, queria subir a parede para ultrapassar um grande muro e chegar ao quintal de sua casa. Quando ele estava quase escalando a parede, ouviu o versículo seguinte sendo recitado por alguém ali por perto: “Porventura, não chegou o momento de os fiéis humilharem os seus corações à recordação de Deus e à verdade revelada, para que não sejam como os que antes receberam o Livro? Porém, longo tempo passou, endurecendo-lhes os corações, e a sua maioria é rebelde e transgressora” (57:16). Este versículo caiu como um raio sobre o coração de Fudhail. Ele foi abalado ao ouvir este versículo e então disse: “Sim, chegou o momento”. Naquele momento ele desceu da parede, chorou e pediu perdão à Deus e prometeu que jamais iria retomar aquela vida de crimes. Em seguida ele caminhou e chegou a uma casa desabitada e entrou nela. Ali havia um grupo de pessoas discutindo entre si. Eles eram comerciantes e estavam planejado o melhor dia e horário para levarem suas mercadorias ao destino. Uns diziam vamos partir agora à noite, outros diziam que não deviam se arriscar, pois Fudhail era um homem sem misericórdia e iria atacá-los no meio da estrada. Quando Fudhail ouviu tudo isso ficou triste pela tamanha insegurança que ele tinha causado nas pessoas. Ele foi até eles e disse: “Aquele Fudhail que vocês estão falando sou eu, e eu me arrependi e pedi perdão a Deus, e jamais retornarei à vida de crimes. Sigam em segurança e ninguém vos atacará”. Fudhail orou por eles e lhes pediu perdão, e em seguida ele foi em procura do Imam Assadeq (A.S.), e após um tempo transformou-se em um dos mais leais e fieis companheiros do Imam (A.S.), e também se transformou em um narrador confiante do Imam (A.S.). Hoje muitas das tradições que chegam a nós são deste homem que era um criminoso, bandido e saqueador, e se tornou um fiel devoto, justo e confiável.

A moral da história é que jamais devemos perder nossas esperanças, seja lá a quantidade de pecados. Jamais perder a esperança e ao mesmo tempo nunca entregarmos totalmente a alma ao mal.

E antes de finalizar desejo selar meu sermão com a seguinte tradição do Imam Ali (A.S.): “As lágrimas secam quando os corações endurecem e os corações endurecem quando cometidos muitos pecados”. Ou seja, o motivo e a causa de um coração incerto são claros, ao mesmo tempo, a solução deste problema também é evidente. Conforme formos diminuindo nossos pecados, nossos corações serão mais sensíveis.

E que a paz e a benção de Deus estejam com todos vocês.

 

 

 

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