Os muçulmanos no Amazonas

Por: Anwar Assi

A vinda dos muçulmanos ao Amazonas remonta ao período de chegada das grandes levas de árabes oriundas dos mais diferentes países do Oriente Médio que aportaram no Brasil, no século XIX. Não há uma data que determine com exatidão a chegada dos primeiros muçulmanos ao Estado. Acredita-se que os pioneiros desembarcaram no final da segunda metade do século retrasado, vindos do Líbano e da Síria.

Porém, de acordo com o livro “A Colônia Árabe no Amazonas”, do escritor Gaitano Antonaccio, os primeiros muçulmanos chegaram no início do século XX, mais precisamente em 1905. Neste ano se estabeleceram no Estado os irmãos Abdon e Abdul Hauache, procedentes da Síria.

Em meados do século passado, a comunidade começou a crescer com a chegada dos primeiros muçulmanos provenientes da Palestina. Esta imigração se desenvolveu rapidamente nos últimos 30 anos.

Embora em menor escala do que a de seus irmãos, é de se notar a existência, no Amazonas, de um grupo de muçulmanos oriundos de países sul-americanos vizinhos ao Brasil, como a Guiana, a Guina Francesa e o Suriname. Estas nações contam com grandes comunidades de muçulmanos. Há também brasileiros convertidos ao Islã.

Não há um número oficial sobre a quantidade de muçulmanos e seus descendentes no Amazonas. A estimativa é de que pelo menos mil vivam em todo o Estado. Entre as famílias muçulmanas existentes no Amazonas podemos citar: Abrahim, Al-Ale, Amed, Amud (Hamud), Assi, Aziz, Awad, Ballout, Baze, Bawab, Baydoun, Chaar, Hachem, Hatoun, Hauache, Ihmud, Imwas, Hojjeij, Ismael, Jezini, Kibbe, Manasra, Muneymne, Nasser, Raad, Rahim, Saad, Said, Sakeb, Tarayra, Waked e Yacoub.

A maior parte dos muçulmanos trabalha no comércio e na indústria. Dentro da comunidade há vários profissionais liberais, que atuam como médicos, advogados, jornalistas, professores e engenheiros. É bom salientar que a comunidade muçulmana tem papel de destaque na economia do Estado, em particular no comércio.

Um dado curioso: a primeira pessoa a ter uma emissora de televisão na história do Amazonas é uma mulher árabe e muçulmana chamada Sadie Hauache, que foi proprietária da extinta TV Ajuricaba. Um dos maiores expoentes da literatura amazonense e brasileira da atualidade, reconhecido internacionalmente e ganhador do prêmio Jabuti, o escritor Milton Hatoun, faz parte desta comunidade vibrante. O lutador e empresário do Jungle Fight, Walid Ismail, também veio do seio desta nação de muçulmanos amazonenses. Estes são apenas alguns exemplos vitoriosos que enchem de orgulho os muçulmanos do Amazonas.

É comum notarmos a presença de descendentes dos muçulmanos em posições de destaque da sociedade amazonense. São pessoas que não seguem a fé islâmica, mas que têm um pai, mãe, avô ou uma avó oriundos desta comunidade religiosa. O atual vice-governador do Amazonas, Omar Aziz, é uma destas personalidades.

Atualmente, há duas entidades muçulmanas no Estado, ambas criadas há pouco tempo: o Centro Islâmico do Amazonas e a Associação Muçulmana do Amazonas. Embora os muçulmanos possuam uma história de mais de cem anos no Estado, eles jamais conseguiram construir uma mesquita ou um centro social que pudesse servir de referência para a comunidade. O máximo que conseguiram foi manter salas de orações, onde mantêm vivas as preces de sexta-feira.

Porém, recentemente, os membros da comunidade conseguiram comprar um terreno no centro de Manaus e, em breve, construirão uma mesquita que vai servir de base espiritual para os muçulmanos “barés”.

A falta de um templo nunca foi empecilho para que a comunidade desenvolvesse suas obrigações religiosas. Os muçulmanos praticam sua fé com liberdade no Amazonas. Rezam, jejuam e comemoram as datas festivas como o ‘Id Al-Adha (que marca o fim da peregrinação a Meca) e o ‘Id Al- Fitr (que marca o fim do jejum no mês do Ramadã) a exemplo de seus irmãos em outras partes do mundo, com a diferença que são abençoados com as riquezas da Amazônia.

 

 

 

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