23ª SURATA

“AL MU’MINUN”

(OS CRENTES)

Esta Surata tem o seu título, “Os Crentes”, da menção aos crentes que são elogiados por sua superioridade moral no início da Surata. Foi revelada em Makka quando a perseguição perpetrada pelos incrédulos de Makka foi aumentando. É constituída por 118 versículos. Ela trata das virtudes que são a sementeira da fé, especialmente em um ambiente em que a Verdade é negada e seus devotos são insultados e perseguidos. Mas a verdade é uma e deve prevalecer. Aqueles que praticam o mal falharão com desculpas vãs quando é muito tarde para o arrependimento.

Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso.

1. É certo que prosperarão os crentes,

2. Que são humildes em suas orações.

3. Que desdenham a vaidade,

4. Que são ativos em pagar o zakat.

5. Que observam a castidade,

6. Exceto para com os seus cônjuges ou cativas – nisso não serão reprovados.

7. Mas aqueles que se excederem nisso serão os transgressores.

8. Os que respeitarem suas obrigações e seus pactos,

9. E que observarem as suas orações,

10. Estes serão os herdeiros.

11. Herdarão o Paraíso, onde morarão eternamente.

12. Criamos o homem da essência do barro.

13. Em seguida, fizemo-lo uma gota de esperma, que inserimos em um lugar seguro.

14. Então, convertemos a gota de esperma em algo que se agarra, transformamos esse algo em feto e convertemos o feto em ossos; depois, revestimos os ossos de carne; então o desenvolvemos em outra criatura. Bendito seja Allah, Criador por excelência.

15. Então morrereis, indubitavelmente.

16. Depois sereis ressuscitados, no Dia da Ressurreição.

17. E por cima de vós criamos sete firmamentos em estratos, e não descuramos da Nossa criação.

18. E fazemos descer, proporcionalmente, água do céu e a armazenamos na terra; mas, se quiséssemos, poderíamos fazê-la desaparecer.

19. E, mediante ela, criamos, para vós, jardins de tamareiras e videiras, dos quais obtendes abundantes frutos, de que vos alimentais.

20. E vos criamos a árvore, que brota no monte Sinai, a qual propicia o azeite, que consiste num condimento para os consumidores.

21. Tendes (nas fêmeas do) gado um instrutivo exemplo: Damos-vos de beber do (leite) que contêm as suas glândulas; obtendes delas muitos benefícios e delas vos alimentais.

22. E sobre eles (os animais) sois transportados, da mesma maneira como nos navios.

23. Havíamos enviado Noé ao seu povo, ao qual disse: Ó povo meu, adorai a Allah, porque não tendes outro Allah além d’Ele! Não (O) temeis?

24. Porém, os chefes incrédulos do seu povo disseram: Esse não é mais do que um homem como vós, que quer assegurar a sua superioridade (sobre vós). Se Allah quisesse, teria enviado anjos (por mensageiros). Jamais ouvimos tal coisa de nossos antepassados!

25. Não é mais do que um homem possesso! Porém, suportai-o temporariamente.

26. Disse (Noé): Ó Senhor meu, socorre-me, pois que me desmentem!

27. Então lhe revelamos: Constrói uma arca sob a Nossa vigilância e segundo a Nossa revelação. E quando se cumprir o Nosso desígnio e a água jorrar das fontes, embarca nela um casal de cada espécie, juntamente com a tua família, exceto aquele sobre quem tenha sido pronunciada a sentença; e não intercedas junto a Mim em favor dos injustos, pois que serão afogados.

28. E quando estiveres embarcado na arca, junto àqueles que estão contigo, dize: Louvado seja Allah, que nos livrou dos injustos!

29. E dize: Ó Senhor meu, desembarca-me em lugar abençoado, porque Tu és o melhor para (nos) desembarcar.

30. Em verdade, nisto há sinais (para os homens); deveras já os temos testado.

31. Logo depois dele criamos outras gerações.

32. E lhes enviamos um mensageiro, escolhido entre eles, (que lhes disse): Adorai a Allah, porque não tereis outro Deus além d’Ele! Não (O) temeis?

33. Porém, os chefes incrédulos do seu povo, que negavam o comparecimento na Outra Vida e que agraciamos na vida terrena, disseram: Este não é senão um homem como vós; come do mesmo que comeis e bebe do mesmo que bebeis.

34. E, se obedecerdes a um homem como vós, certamente sereis desventurados.

35. Qual! Promete-vos ele que, quando morrerdes e vos tiverdes convertido em pó e ossos, sereis ressuscitados?

36. Longe, muito longe está o que vos é prometido!

37. Não há mais vida do que esta, terrena! Morremos e vivemos e jamais seremos ressuscitados!

38. Este não é mais do que um homem que forja mentiras acerca de Allah! Jamais creremos nele!

39. Disse (o profeta): Ó Senhor meu, socorre-me, pois que me desmentem!

40. Disse-lhe (Allah): Em pouco tempo se arrependerão.

41. E o estrondo os fulminou, e os reduzimos a destroços (que a torrente carregou). Que pereça o povo injusto!

42. Logo depois deles criamos outra geração.

43. Nenhum povo pode adiantar ou retardar o seu destino.

44. Então enviamos, sucessivamente, os Nossos mensageiros. Cada vez que um mensageiro chegava ao seu povo, este o desmentia. Então fizemos uns seguirem outros (no castigo), e fizemos deles exemplo (para outros povos). Que pereça o povo incrédulo!

45. Então enviamos Moisés e seu irmão com os Nossos sinais e uma evidente autoridade,

46. Ao Faraó e aos seus chefes, os quais se ensoberbeceram, mostrando-se pessoas arrogantes.

47. E disseram: Como havemos de crer em dois homens como nós, cujo povo nos está submetido?

48. E os desmentiram, contando-se, assim, entre os destruídos.

49. Concedemos a Moisés o Livro, a fim de que se encaminhassem.

50. E fizemos do filho de Maria e de sua mãe sinais, e os refugiamos em uma segura colina, provida de mananciais.

51. Ó mensageiros, desfrutai de todas as dádivas e praticai o bem, porque sou Sabedor de tudo quanto fazeis!

52. E sabei que esta vossa comunidade é única, e que Eu sou o vosso Senhor. Temei-Me, pois!

53. Porém, os povos se dividiram em diferentes seitas, e cada seita se satisfazia com a sua.

54. Deixa-os entregues a seus extravios, até certo tempo.

55. Pensam, acaso, que com os bens e filhos que lhes concedemos,

56. Aceleramos-lhes as mercês? Qual! De nada se apercebem!

57. Quanto àqueles que são reverentes, por temor ao seu Senhor;

58. Que creem nos versículos do seu Senhor;

59. Que não atribuem parceiros ao seu Senhor;

60. Que dão o que devem dar, com os corações cheios de temor, porque retornarão ao seu Senhor,

61. Estes apressam-se em praticar boas ações; tais serão os primeiros contemplados.

62. Jamais imporemos a uma alma uma carga superior às suas forças, pois possuímos o Livro, que proclama a justiça e, assim, não serão enganados.

63. Porém, com respeito a isso, seus corações estão indecisos e, ademais, continuarão a cometer outros atos, além desse.

64. (Isso) até o momento em que castiguemos os opulentos, dentre eles; então, ei-los que irão gemer!

65. Ser-lhes-á dito: Não protesteis, porque hoje não sereis socorridos por Nós,

66. Porque foram-vos recitados os Meus versículos; contudo, lhes voltastes as costas,

67. Com ensoberbecimento; passáveis noitadas difamando (o Alcorão).

68. Porventura, não refletem nas palavras, ou lhes chegou algo que não havia chegado aos seus antepassados?

69. Ou não conhecem seu Mensageiro, e por isso o negam?

70. Ou dizem que está possesso! Qual! Ele lhes trouxe a verdade, embora à maioria desgostasse a verdade.

71. E se a verdade tivesse satisfeito os seus interesses, os céus e a terra, com tudo quanto encerram, transformar-se-iam num caos. Qual! Enviamos-lhes a Mensagem e assim mesmo a desdenharam.

72. Exiges-lhes, acaso, por isso, alguma retribuição? Saibam que a retribuição do teu Senhor é preferível, porque Ele é o melhor dos agraciadores.

73. É verdade que tu procuras convocá-los à senda reta.

74. Porém, certamente, aqueles que não creem na Outra Vida desviam-se da senda.

75. Mas se Nos apiedarmos deles e os libertarmos da adversidade que os aflige, persistirão, vacilantes, na sua transgressão.

76. Castigamo-los; porém, não se submeteram ao seu Senhor, nem se humilharam,

77. Até que lhes abrimos uma porta para um severíssimo castigo; e ei-los que ficaram desesperados!

78. Ele foi Quem vos criou o ouvido, a vista e o coração. Quão pouco Lhe agradeceis!

79. Ele é Quem vos multiplica, na terra, e sereis congregados ante Ele.

80. E Ele é Quem dá a vida e a morte. Só a Ele pertence a alternação da noite e do dia; não raciocinais?

81. Ao contrário, dizem o mesmo que diziam os seus antepassados:

82. Porventura, quando morrermos e nos tivermos convertido em ossos e pó, seremos ressuscitados?

83. Havia-nos sido prometido o mesmo, tanto a nós como aos nossos antepassados; porém, isso não são mais do que fábulas dos primitivos.

84. Pergunta-lhes: A quem pertence a terra e tudo quanto nela existe? Dizei-o, se o sabeis!

85. Responderão: A Allah! Dize-lhes: Não meditais, pois?

86. Pergunta-lhes: Quem é o Senhor dos sete céus e o Senhor do Trono Supremo?

87. Responderão: Allah! Pergunta-lhes mais: Não (O) temeis, pois?

88. Pergunta-lhes, ainda: Quem tem em seu poder a soberania de todas as coisas? Que protege e de ninguém necessita proteção? (Respondei) se sabeis!

89. Responderão: Allah! Dize-lhes: Como, então, vos deixais enganar?

90. Nós trazemos-lhes a verdade; porém, sem dúvida que são farsantes!

91. Allah não teve filho algum, nem jamais nenhum outro Allah compartilhou com Ele a divindade! Porque se assim fosse, cada Allah ter-se-ia apropriado da sua criação e teriam prevalecido uns sobre os outros. Glorificado seja Allah de tudo quanto descrevem!

92. Possuidor do desconhecido e do conhecido! Exaltado seja (Allah), de tudo quanto Lhe atribuem!

93. Dize: Ó Senhor meu, se me fizeres ver (em vida) aquilo quanto ao quê são admoestados,

94. Ó Senhor meu, não me contes entre os injustos!

95. Em verdade, podemos mostrar-te o que lhes temos prometido.

96. Retribui, tu, o mal da melhor forma; Nós sabemos melhor do que ninguém o que dizem.

97. E dize: Ó Senhor meu, em Ti me amparo contra as insinuações dos demônios!

98. E em Ti me amparo, ó Senhor meu, para que não se aproximem (de mim).

99. (Quanto a eles, seguirão sendo idólatras) até que, quando a morte surpreender algum deles, este dirá: Ó Senhor meu, manda-me de volta (à terra),

100. A fim de eu praticar o bem que negligenciei! Pois sim! Tal será a frase que dirá! E ante eles haverá uma barreira, que os deterá até ao dia em que forem ressuscitados.

101. Porém, quando for soada a trombeta, nesse dia não haverá mais linhagem entre eles, nem se consultarão entre si.

102. Quanto àqueles cujas ações pesarem mais serão os bem-aventurados.

103. Em troca, aqueles cujas (boas) ações forem leves serão desventurados e permanecerão eternamente no inferno.

104. O fogo abrasará os seus rostos, e estarão com os lábios distendidos.

105. Acaso, não vos foram recitados os Meus versículos e vós os desmentistes?

106. Exclamarão: Ó Senhor nosso, nossos desejos nos dominaram, e fomos um povo extraviado!

107. Ó Senhor nosso, tira-nos daqui! E se reincidirmos, então seremos injustos!

108. Ele lhes dirá: Entrai aí e não Me dirijais a palavra.

109. Houve uma parte dos Meus servos que dizia: Ó Senhor nosso, cremos! Perdoa-nos, pois, e tem piedade de nós, porque Tu és o melhor dos misericordiosos!

110. E vós zombastes deles, a ponto de (tal zombaria) vos fazer esquecer da Minha Mensagem, posto que vos ocupáveis em rirdes deles.

111. Sabei que hoje os recompenso por sua perseverança, e eles serão os ganhadores.

112. Dirá: Quantos anos haveis permanecido na terra?

113. Responderão: Permanecemos um dia ou parte de um dia. Interrogai, pois, os encarregados dos cômputos.

114. Dirá: Não permanecestes senão muito pouco; se vós soubésseis!

115. Pensais, porventura, que vos criamos por diversão e que jamais retornareis a Nós?

116. Exaltado seja Allah, Verdadeiro, Soberano! Não há mais divindade além d’Ele, Senhor do honorável Trono!

117. Quem invocar outra divindade junto com Allah, sem prova para isso, saiba que a sua prestação de contas incumbirá só ao seu Senhor. Sabei que os incrédulos jamais prosperarão.

118. E dize (ó Mohammad): Ó Senhor meu, concede-me perdão e misericórdia, porque Tu és o melhor dos misericordiosos!

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